Este documento apresenta os resultados de um estudo que estimou as biomassas relativas de dinossauros predadores e presas no Barremiano (130-125 milhões de anos) do Algarve, Portugal, usando dados de pegadas fósseis. As proporções estimadas são semelhantes às de comunidades modernas de mamíferos endotérmicos, sugerindo que a endotermia era comum entre dinossauros.
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
Censo biomassa dinossáurios Cretácico Algarve
1. CENSOS DE BIOMASSA DE
VERTEBRADOS PARA O
CRETÁCICO INFERIOR DO
ALGARVE – INFERÊNCIAS SOBRE
A DINÂMICA DAS COMUNIDADES
E ESTATUTO METABÓLICO
Carolina Barata – 10ºano
Daniela Tinoco – 10ºano
Eduardo Barros – 9ºano
Irma Pimenta – 10ºano
Jorge Ledesma – 9ºano
E.B.I. Dr. Joaquim de Barros – Paço de Arcos
– Grupo de Paleontologia
2. O estatuto metabólico dos animais extintos, especialmente o dos
dinossáurios Mesozóicos, é um assunto que continua em aberto.
A sua fisiologia é importante para conhecermos melhor a sua
ecologia, comportamentos, história de vida.
A endotermia e a ectotermia representam os dois extremos da
termoregulação.
3. Por exemplo, os animais endotérmicos são capazes de
frequentarem / habitarem regiões com grande espectro de
climas, conseguem manter níveis de actividade superiores aos
ectotérmicos, apresentam mais frequentemente
comportamentos sociais e gregários (mamíferos e aves actuais
versus répteis e anfíbios modernos).
4. São várias as aproximações para
inferências sobre o seu estatuto
metabólico, incluindo a anatomia
dos órgãos respiratórios, a
reconstrução da postura, a
presença de estruturas
integumentares semelhantes a
penas, a histologia dos ossos e
as taxas de crescimento
resultantes deste tipo de análise.
Mais recentemente, a
investigação centrou-se na
estimativa das capacidades
aeróbias de dinossáurios
bípedes extintos, quando estes
animais se deslocam em
«corrida lenta», a partir de dados
obtidos de pistas fósseis.
5. Os endotérmicos
modernos necessitam de
consumir mais energia
do que os ectotérmicos
de dimensões
comparáveis – um leão
de 150 kg consome
muito mais e muito mais
frequentemente do que
um crocodilo com o
mesmo peso.
Assim, a razão entre o
número de predadores e o
número de potenciais presas
para uma dada região e
extensão temporal deve
variar, conforme os carnívoros
sejam endo ou ectotérmicos.
6. Neste trabalho estimamos
inicialmente o número de
produtores individuais de
pegadas / pistas de
vertebrados presentes em
vários níveis de um intervalo
de tempo limitado –
Barremiano (130 M.a. – 125
M.a.), do Barlavento do
Algarve – em que não se
conhece um único osso.
7. Utilizamos estes dados porque mais de 90% destas pegadas
encontradas foram descobertas por alunos do nosso Grupo,
desde 1996 até Janeiro de 2011.
Salema oriente – 9 pegadas
de teropodes de pequenas
dimensões, representando no
mínimo três bípedes
predadores distintos.
8. Pista de ornitopode de dimensões médias
descoberta na praia da Salema, região ocidental.
13. Pegada de ornitopode
gigantesco (comprimento de
79cm, da praia Santa, zona
oriental).
Pegada de teropode,
descoberta em 2008, da praia
da Salema, região oriental.
14. Tendo em conta a grande variação de dimensões de pegadas que se
observam em muitas jazidas, a maioria das pistas representa indivíduos
diferentes e por isso a explicação mais simples é a de assumirmos que
uma pista representa a passagem de um indivíduo.
Note-se que esta amostra inclui animais que deixaram
pistas / pegadas em vários níveis distintos, numa sequência
estratigráfica distinta.
Mapa das pegadas
do nível 1 da praia
Santa, região
oriental.
15. Classe de dimensões das pegadas de ornitopodes (comprimento em
cm), encontradas no nível inferior da praia Santa, região oriental.
Terão passado no mínimo 8 animais distintos.
Pegada de ornitopode
com 10 cm de
comprimento.
Pegada de teropode
com 14 cm de
comprimento.
(Amostras descobertas em 2010)
16. Animais deixando pistas paralelas, com a mesma direcção e sentido, sem
sobreposição e com interespaçamento regular, embora possam estar
representados por pegadas de dimensões idênticas, devem ter sido
diferentes – comportamento gregário, social de grupo. O que implica que
cada pista, mesmo que seja formada por pegadas de dimensão idêntica,
corresponde a um animal distinto.
17. Produzimos assim um censo icnológico em termos de abundância
relativa do número de produtores de pegadas que podem ser distribuídos
por herbívoros e por carnívoros (vertebrados e apenas dinossáurios).
Os icnotaxa podem, com relativa segurança, ser atribuídos a
dinossáurios carnívoros (ou melhor, teropodes) e herbívoros
(no caso presente, ornitopodes e sauropodes).
A pista de crocodiliano descoberta é atribuída a um animal
carnívoro (regime alimentar proposto para a maioria dos
crocodilianos Mesozóicos).
18. Mas podemos ir mais longe – modificar estes gráficos circulares para
reflectirem estimativas de biomassa, ou seja, o número total de material
vivo representado pela população em questão.
Ou seja, convertemos números de pegadas / pistas em estimativas de
biomassa.
19. Utilizamos alguns procedimentos standard:
. altura de anca igual a 4 x o comprimento da pegada
. estimativa da massa corporal deduzida a partir desta dimensão
. não tivemos em conta a presença de sacos aéreos em sauropodes e
teropodes, que terá influência no peso total destes animais
. deduzimos que os teropodes tinham todos hábitos alimentares
carnívoros, tal como o único crocodiliano
20. A razão predador / presa e as
biomassas de predadores para as suas
potenciais presas, devem ser
diferentes, conforme os predadores
sejam endotérmicos ou ectotérmicos.
21. Comparando a biomassa predadores / presas:
. se os predadores forem ectotérmicos, então a percentagem de
predadores é elevada
. se os predadores forem endotérmicos, então a percentagem de
predadores é muito baixa (é o caso das comunidades de grandes
mamíferos actuais de África)
22. Os dados obtidos para o Barremiano do Algarve sugerem razões de
biomassa de dinossáurios predadores / presas muito semelhantes aos
que ocorrem com as grandes populações de mamíferos (endotérmicos)
modernos e muito distintos das que se baseiam em comunidades de
répteis (ectotérmicos) actuais.
Estes resultados estão de acordo com as mais recentes análises
publicadas, que sugerem que a endotermia estava amplamente
desenvolvida nos dinossáurios.
Note-se que para este intervalo de tempo e para todo o Algarve não
temos um único osso de vertebrado!