1) O filósofo e escritor John Thackara defende soluções de design sustentável e a importância de compartilhar recursos, não dizer às pessoas como viver.
2) Thackara elogia projetos que melhoram o acesso à água potável e reduzem custos de equipamentos, mas critica o excesso de produção industrial.
3) Para Thackara, o design brasileiro deve apoiar a economia regenerativa, aproveitando os recursos naturais e habilidades locais.
1. pág. 34 Entrevista John Thackara
Design Sustentável:
a nova forma de pensar O Mundo
por Michael Eudes
Desenvolver medidas econômicas e
buscar materiais que não agridam
o meio ambiente são os principais
objetivos e valores das corporações
contemporâneas. E, no design, há
a mesma preocupação com a
preservação do Planeta. O filósofo
e escritor inglês John Thackara
é símbolo desse novo modus
operandis do setor e pioneiro em
soluções sustentáveis.
Desde a Revolução Industrial, no século XVIII, o ho-
Foto: Jan Bijl.com
mem intensificou a exploração dos recursos natu-
rais. A tecnologia trouxe benefícios – avanços signi-
ficativos aos mecanismos de produção na indústria.
Em contrapartida, a natureza ficou em segundo
plano, sendo devastada com avidez. Agora, ela
dá constantes sinais de que está no limite. Diversas orientado e conseguiu aproveitar bem cada espa-
mudanças climáticas causam fenômenos naturais ço disponível ao plantio. Resultado: em apenas um
nocivos ao homem. Por isso, mais do que nunca, é ano, foram produzidos alimentos suficientes para
chegado o momento de repensar as ferramentas sete dos 142 mil habitantes da cidade.
de produção e aliar a estas ações de desenvolvi-
mento, soluções que causem menos estragos ao O exemplo de Middlesbrough ressalta a importân-
meio ambiente. cia de atitudes sustentáveis. No entanto, John não
acredita que deve, obrigatoriamente, mudar os há-
Por falar em Revolução Industrial, coincidência ou bitos da população. “É sempre um desastre quan-
não, foi justamente onde nasceu esse movimento, do designers tentam dizer a outras pessoas como
em Middlesbrough, na Inglaterra, que surgiu outra elas devem viver. Não sou favorável à ideia de que
prática, contrária à primeira. Nessa cidade, locali- o design possa alterar o comportamento das pes-
zada ao nordeste da Inglaterra, John Thackara fez soas. O que pode ser feito, no entanto, é criar fer-
do seu trabalho vitrine para outros continentes do ramentas e plataformas que possibilitem às pessoas
mundo. Ele conseguiu, por meio de estratégias bem partilhar recursos, como: energia, tempo, matéria,
elaboradas, plantar alimentos em quantidade sufi- habilidade, softwares, espaços, ou até mesmo co-
ciente para atender a população local. O povo foi mida”, pondera o escritor.
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O profissional acredita que, para haver maior difu-
são da sustentabilidade, é necessário popularizar,
ou seja, facilitar o acesso das pessoas de várias
classes sociais ao design. “Acredito que o design
deve deixar de ser uma ferramenta disponível ape-
nas para quem pode pagar. Ele precisa estar di-
retamente relacionado a valores explícitos, como
respeito incondicional pela vida e pelas condições
que a suportam”, salienta Thackara. Para ele, o
problema está em acharmos que o atual estado
do planeta é culpa e responsabilidade de
outras pessoas.
Mesmo assim, não basta que apenas os designers
se preocupem com a preservação do mundo. As
indústrias e o comércio, motores da economia,
também precisam contribuir. De acordo com
Thackara, esses setores devem criar mecanismos
que encorajem atitudes de preservação. “Muitos
designers e líderes de negócios estão se conscien-
tizando da loucura do crescimento da economia
industrial, e começando a buscar medidas, ainda
Foto: arquivo pessoal
modestas, para o desenvolvimento de uma eco-
nomia regenerativa. É o início de um período de
transformação”, garante.
John destaca o trabalho de profissionais que se
preocupam com a sustentabilidade: “É fantástico
perceber que os designers estão sendo envolvi- é mais sobre mensagens, e sim, sobre atitudes e
dos em projetos que melhoram o acesso à água ações. Não tenho dúvida, a escolha é muito clara!
potável. É inspirador ver engenheiros descobrindo Se você não for a favor da biosfera, você é contra
maneiras de reduzir o custo de equipamentos mé- ela, não tem meio termo” alerta.
dicos ou agrícolas. E o design de comunicação,
aumentando a conscientização sobre questões A necessidade imediata de mudança da qual se
sociais urgentes, desempenha um papel genuina- refere o britânico encontra um grande obstáculo:
mente crítico da vida em desenvolvimento”. o excesso de produção industrial. John é enfáti-
co ao descrever os exageros: “No ano passado,
O futuro é, de fato, uma das bases de trabalho da um novo produto foi lançado em algum lugar do
política de sustentabilidade. Por isso, despertar o mundo, a cada três minutos. A maioria dessas mer-
interesse dos jovens para essa questão também é cadorias envolveu a utilização de energia, água
um fator imprescindível. Segundo Thackara, muitos e recursos naturais. Cada produto, assim, contri-
estudantes e jovens designers estão em busca de buiu para os 70 milhões de toneladas de C02 que
uma nova direção. Porém, em muitas escolas, as é emitido para a atmosfera terrestre, a cada 24
ações estão restritas apenas a cartazes sobre o horas, como resultado da atividade humana. Nós
assunto. “A transição para a sustentabilidade não não precisamos de mais produtos!”.
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Design no Brasil 04
Confira um bate papo
rápido sobre o olhar do inglês
Foto: arquivo pessoal
em relação ao Brasil:
Você conhece algum projeto no Brasil que está
caminhando de acordo com o que você acredita
ser o correto? Pode nos dizer qual?
01 02 e 03 04
Eu fui ao Brasil apenas algumas vezes, então não Fazendas de Zurique Empresa de Visitei uma
sou um expert no mundo do design brasileiro. Mas, que distribuem seus Zurique que com fazenda inspiradora,
como uma reação instantânea, eu diria que todos produtos através de apenas 02 Akur, onde
os projetos que podem levar o país em direção à suas próprias lojas. entregadores Thordur Halldorsson e
forma antiga de industrialização - a produção de Vinte novos projetos fornece produtos Karolina Gunnarsdo
carros particulares, agronegócio, supermercados, foram lançados, no orgânicos a ttir passaram
grandes hotéis, são uma forma ruim de oeste da Suíça só nos bares da cidade, os últimos 20 anos
desenvolvimento, do ponto de vista dos últimos tempos. Um com 40 diferentes criando o
desses é o de Orto- tipos de sopa, protótipo de um
interesses da biosfera.
loco (abaixo) é uma tudo sem aditivos, mercado
fazenda auto-gerida completamente auto-suficiente.
Há alguma figura da área de design, em especial, cooperativa com 200 orgânico. (John Thackara)
que você admira no país? membros ativos. (John Thackara)
(John Thackara)
O que mantém meus olhos atentos, e que sempre
apoio, são exemplos de profissionais que ajudam
02 a desenvolver novas possibilidades para atender
às necessidades da vida diária. Uma inspiração
recente, em minha opinião, é o novo livro de
Adélia Borges “Design + Artesanato: O Caminho
Brasileiro”. Ela reúne uma série gloriosa de artefatos
coletadas em cada região brasileira. Algo impor-
tante que o livro traz são os artesãos, o papel deles
Foto: arquivo pessoal
como especialistas em técnicas e administradores
das possibilidades agrícolas e artesanais de
suas regiões.
Como o design pode contribuir no caso do Brasil?
03 Uma das possibilidades importantes é poder cola-
borar com a economia regenerativa, que é agora
emergente, é descobrir quais os bens e recursos
já estão lá, no seu território. Os recursos naturais,
como o vento, o sol, com potencial para gerar
energias limpas, materiais diversos, e as habilidades
necessárias para usá-los se tornam matéria-prima
Foto: arquivo pessoal
do design para uma nova economia.