Este documento discute a importância de distinguir factos de opiniões e fornece definições e exemplos de cada um. Também fornece diretrizes para identificar factos e opiniões, como considerar o tom do texto e se a informação pode ser verificada.
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
Anexo atividade 15.pdf
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Facto ou Opinião?
Resposta às tarefas n.º 1 e n.º 3
piccle#15
● Por que é importante saber distinguir factos de opiniões?
Em maio de 2021, o relatório ‘Leitores do séc. XXI: desenvolver competências de leitura
num mundo digital’, elaborado a partir dos dados do PISA 2018, revelou que se situa em
50% a percentagem de alunos portugueses que consegue distinguir factos de opiniões.
Num mundo dominado pela tecnologia, onde a informação (mas também a
desinformação) não só abunda, como circula a uma velocidade estonteante,
desenvolver competências de leitura é fundamental, por várias razões: a informação
com que os/as jovens se deparam, por exemplo nas redes sociais, surge muitas vezes
descontextualizada, impedindo uma leitura correta da mesma; muita da desinformação
que circula, nomeadamente na Internet, é a expressão de crenças ou valores disfarçados
de factos; considerar facto o que não passa de uma opinião pode ter consequências
graves no dia-a-dia das pessoas e das sociedades, porquanto leva a tomadas de decisões
equivocadas, assentes em informação que não é imparcial. Cidadãos que não saibam
distinguir factos de opiniões são, portanto, mais suscetíveis de serem manipulados e
condicionados na sua forma de pensar e agir. Os estereótipos negativos, por exemplo,
ao serem percebidos como factos em vez de opiniões, estão muitas vezes na origem de
gestos discriminatórios.
● Possível definição de facto
Factos são dados objetivos, concretos; um facto é algo que existe ou que aconteceu sem
margem para dúvida; trata-se de informações que se podem verificar e comprovar,
como por exemplo uma medida, uma estatística, uma data, um nome, um
acontecimento; algo reconhecido como verdadeiro, que é claro, definido e não é
questionável.
● Possível definição de opinião
Ao contrário dos factos, as opiniões são subjetivas, podem variar de pessoa para pessoa,
já que correspondem a pontos de vista pessoais, a sensações, resultado dos
conhecimentos e experiências de cada um/a. As opiniões são muitas vezes fruto de
generalizações e crenças, julgamentos que se fazem sobre alguma coisa ou sobre
alguém. Em teoria, as opiniões deveriam ser sempre baseadas em factos, mas isso nem
sempre acontece. Além disso, os mesmos factos podem ser lidos/interpretados de
forma muito diferente por diferentes pessoas e podem, ainda, ser descontextualizados
dando lugar a diferentes narrativas.
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● Quadro1: Factos VS Opiniões
FACTOS OPINIÕES
Objetivos Subjetivas
Verificáveis Não se podem verificar
Verdadeiros Não são verdadeiras nem falsas
Percebidos por todos/as da mesma
forma
Variam de pessoa para pessoa
Não se podem alterar Podem variar
● Quadro 2: Lista de fontes de informação segundo grau de fidedignidade
MAIS FIDEDIGNAS
• Notícias de jornais de referência*
• Artigos científicos com revisão por pares**
• Fontes oficiais
• Especialistas
MENOS FIDEDIGNAS
• Conversas do dia-a-dia
• Posts, stories, partilhas ou vídeos em redes sociais
• Programas ou suplementos humorísticos
- Para poder formar corretamente uma opinião é importante conhecer os factos;
- Para conhecer os factos é preciso:
o Saber distingui-los das opiniões;
o Compreender que as opiniões podem ter a aparência de factos e,
mesmo assim, ser opiniões. Na língua inglesa fala-se em ‘factual
statements’ (declarações factuais) e ‘opinion statements’.
Reconhecer as declarações fatuais é importante pois permite não se
ser enganado/a por elas, pela forma que assumem (aparentando
tratar-se de factos), duvidar e ir pesquisar sobre a sua veracidade
(para saber mais, ver este quiz do Pew Research Center:
https://www.pewresearch.org/quiz/news-statements-quiz/);
o Saber escolher as fontes de informação;
o Saber avaliar o grau de fiabilidade das fontes de informação;
o Pesquisar a origem da informação quando ela não é mencionada ou,
se a fonte não for fidedigna, ir comprovar que a fonte indicada
corresponde de facto à fonte que é mencionada (durante a pandemia,
por exemplo, circularam mensagens com o símbolo da DGS que não
foram emitidas por este organismo);
- Conhecer várias opiniões sobre o mesmo facto pode, também, ajudar-nos a formar
a nossa própria opinião, ao permitir-nos analisar e avaliar vários pontos de vista.
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(*) A notícia é o género jornalístico mais frequente nos jornais e consiste no relato
de um facto da forma mais objetiva e impessoal possível, através de uma linguagem
clara e concisa. Por norma, o jornalista descreve factos a que assistiu ou cuja
ocorrência/veracidade verificou. Os jornalistas têm a obrigação de verificar a
fiabilidade das informações que recolhem e, caso divulguem uma informação falsa,
têm o dever de a corrigir. O código deontológico dos/as jornalistas impede, ainda,
estes/as profissionais de expressarem as suas opiniões quando redigem as notícias.
As notícias podem conter opiniões de pessoas que o jornalista entrevista mas, neste
caso, essas pessoas devem surgir devidamente identificadas. Ao identificar as suas
fontes de informação, os jornalistas permitem que o público avalie a credibilidade
destas.
(**) O facto de os cientistas submeterem os seus trabalhos e estudos à avaliação
dos colegas é um garante da sua qualidade.
● Quiz: facto ou opinião?
1) O chinês é uma língua difícil de aprender.
2) A seleção de Portugal merecia ter chegado à final do Europeu.
3) Nova Iorque é a capital dos Estados Unidos.
4) Não há dúvida de que os espanhóis falam mais alto do que os portugueses.
5) O Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, ficou em primeiro lugar no ranking
do Ministério da Educação
6) O Colégio Nossa Senhora do Rosário é o melhor do país
7) A Sara Sampaio é a modelo portuguesa mais bonita.
8, 9 e 10) Ver documento anexo: https://bit.ly/39aRpVi
RESPOSTAS
1) Opinião. Não se pode comprovar. Pode-se discordar ou concordar.
2) Opinião. Não se pode comprovar. Pode-se discordar ou concordar.
3) Informação falsa. Apesar de estarmos perante uma afirmação factual, ela é
comprovadamente falsa, já que a capital dos EUA é Washington. Sendo falsa esta afirmação
não é um facto, mas também não é uma opinião, é uma informação errada. Há autores que
consideram que os factos podem ser verdadeiros ou falsos. Para esses autores, estaríamos
perante um facto falso.
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4) Opinião. É uma sensação, depende da maneira de sentir de cada um. Esta é uma
dificuldade das opiniões, é que refletem aspetos que para muita gente são óbvios e, como
tal, tendem a pensá-los como factos, quando se trata de opiniões.
5) Facto. Pode comprovar-se, é verdadeiro.
6) Opinião. Mesmo baseando-se num facto – esta escola ter ficado em primeiro lugar no
ranking das escolas nacionais do MEC, realizado com base nas classificações médias dos
alunos nos exames nacionais – não deixa de ser uma opinião. O ranking será uma forma
possível de aferir a qualidade, mas há outras. Para outras pessoas a melhor escola do país
pode ser uma escola onde as notas não sejam tão altas mas os alunos tenham registado
maiores progressos, por exemplo.
7) Opinião. Varia de pessoa para pessoa. Pode-se concordar ou discordar. Não é uma
questão de verdadeiro ou falso.
8) Facto. Uma notícia com dados que são comprovados.
9) Opinião. Como as aspas indiciam. Sendo uma notícia, transmite a opinião de alguém,
neste caso, o sentimento, a convicção do General Gouveia e Melo, coordenador da task
force de combate à Covid-19, de que a luta com o vírus está a ser bem-sucedida.
10) Informação falsa tentando passar por factual, devido à imagem. Trata-se da imagem
de um vídeo que circulou nas redes sociais em 2020, pouco depois de ser decretada a
pandemia do coronavírus e onde se mostravam supostas vítimas da Covid-19, caídas numa
praça chinesa. O vídeo era afinal de uma manifestação artística que aconteceu há alguns
anos na Alemanha, de homenagem a vítimas de um campo de concentração, mas ao
associar-se um texto deu-lhe um novo sentido, absolutamente falso e fabricado.
● Como escrever um artigo de opinião***?
Alguns links úteis para orientar os alunos na escrita de um artigo de opinião:
Texto de opinião (Infopedia): https://www.infopedia.pt/$texto-de-opiniao
Artigo de Opinião (Mundo Educação – Brasil):
https://mundoeducacao.uol.com.br/redacao/artigo-opiniao.htm
(***) Num artigo de opinião, como o nome indica, o autor exprime a sua perspetiva
sobre um determinado acontecimento ou assunto, normalmente de atualidade.
Trata-se de uma opinião que apenas vincula o autor do texto, que surge sempre
assinado. Ao expressar-se, apresentar a sua posição, tecer uma série de argumentos,
o autor do artigo ou texto de opinião procura sempre fazer valer o seu ponto de
vista, conquistar leitores para a sua perspetiva. Trata-se, portanto, de um tipo de
escrita argumentativo.
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● Quadro 3: Factos e opiniões - aspetos que podem ajudar a distingui-los
FACTOS OPINIÕES
Relatados com um tom neutral,
imparcial;
Expressadas através de um discurso
persuasivo;
O autor não se inclui no texto:
predominam os pronomes pessoais na
terceira pessoa;
O autor faz-se notar e por isso os
pronomes pessoais surgem muitas
vezes na primeira pessoa;
Predomínio de vocabulário objetivo na
introdução dos factos (ex. fez, disse,
aconteceu…)
Vocabulário utilizado para introduzir as
ideias marcadamente subjetivo (ex.
penso, opino, julgo, segundo o meu
ponto de vista…);
Sendo objetivos, não é possível
discordar deles.
Podemos concordar ou discordar delas.
A questão que se coloca é se uma
informação é verdadeira ou falsa.
Sendo verdadeira é um facto.
A questão que se coloca é se é algo com
que é possível concordar ou discordar.
● Questões a colocar que podem ajudar a compreender se a informação com que
nos deparamos é um facto ou uma opinião:
─ Estou perante uma informação que é inequívoca e pode ser verificada? Se
sim, é um facto.
─ É algo com que eu possa concordar ou discordar? Se sim, é uma opinião.
─ O objetivo do autor da mensagem é informar-me imparcialmente ou
convencer-me? Se tiver um tom persuasivo é provavelmente uma opinião.
Convém, no entanto, recordar que esta questão não se põe em termos de preto e
branco, há alguns espaços cinzentos. Daí haver tantas pessoas, de todas as idades,
a terem, dificuldade em distinguir factos de opiniões e a serem apanhadas nas teias
da desinformação. Um exemplo que ilustra a dificuldade que está em causa nesta
questão é a divulgação de estatísticas. As mesmas estatísticas podem originar
conclusões muito diferentes, consoante a forma como se olha para elas.
Para um exemplo desta situação veja-se este conjunto de três notícias, em que todas estão
corretas e são verdadeiras e, no entanto, passam ideias totalmente opostas, devido ao
termo que tomam por comparação. Os artigos podem ser encontrados nos seguintes links:
https://bit.ly/2XwX8Ct (As três perspetivas diferentes acerca da mesma estatística lado a
lado)
https://bit.ly/3zp3Ibn (Perspetiva do jornal ‘Observador’)
https://bit.ly/3CdWfgN (Perspetiva do ‘Jornal de Notícias’)
https://bit.ly/2Xjp4tk (Perspetiva do jornal ‘Dinheiro Vivo’)
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Os três artigos foram publicados no mesmo dia, referem-se ao mesmo documento, mas
apresentam noções muito diferentes (opostas mesmo em dois dos casos) em relação ao
mesmo facto - o valor do défice orçamental. Nenhuma das notícias é falsa ou está errada,
o que se poderia pensar à partida quando se olha para os três títulos lado a lado. Os
jornalistas escolheram ângulos diferentes para dar a notícia e, sobretudo, estabeleceram
comparações com dados diferentes: o Dinheiro Vivo (DN) afirma que o défice sobe, o JN que
ele se mantém e o Observador noticia a queda do défice público. As abordagens são
diferentes porque os jornalistas analisaram a estatística em questão a partir de perspetivas
diferentes. E essas perspetivas resultam em leituras muito diferentes do mesmo facto. Há
uma questão importante a colocar aqui: a ideia com que o leitor fica é a mesma se ler
apenas um destes títulos/artigos? Claramente não. A notícia do JN é neutra e oferece ao
leitor as duas perspetivas (sobe face a um dado, desce em relação a outro), as outras duas
notícias criam no leitor ideias opostas, sendo que depois, num dos casos (o Observador) o
artigo não explica que há outra comparação possível daquela que é mencionada no título e
no outro (Dinheiro Vivo/DN), a comparação oposta à do título não é focada explicitamente.
Noutros casos, para saber se estamos perante um facto ou uma opinião
necessitamos de pesquisar mais sobre a informação que nos é apresentada. Há
ainda opiniões que facilmente nos induzem em erro e que assumimos como factos
(o exemplo do quis acima, da afirmação sobre a escola que está em melhor lugar no
ranking).