O documento descreve a história de um casal que abriu uma butique erótica chamada Apassionata em Porto Alegre. Eles planejaram o empreendimento por cinco anos, economizando dinheiro, pesquisando fornecedores e público-alvo. Após um ano de trabalho árduo, a butique finalmente começou a ter lucro no mês de agosto.

1. | 4 | Reportagem Especial > ZERO HORA > DOMINGO | 24 | FEVEREIRO | 2008
Cento e vinte e quatro novas firmas nascem por
dia na Junta Comercial estadual. Quase um quarto
dessas microempresas no país não sobrevive ao
Um ano de escalada foram escolhidas aleatoriamente, preenchendo
o único critério de ter aberto as portas
entre janeiro e março de 2007. O grupo – e
primeiro ano, aponta pesquisa do Sebrae. familiares ou pessoas próximas – concordou
ALEXANDRE DE SANTI e ISABEL MARCHEZAN
Despreparo dos empreendedores, burocracia, em receber a reportagem dezenas de vezes para
falta de financiamento adequado, entre outros contar seus erros e acertos, como tomaram
fatores, tornam a experiência vivida por micro e desvendando os motivos que levaram os 10 empreendedores decisões e enfrentaram os obstáculos ao longo
pequenos empresários uma aventura. Levantamento do a fundá-las, às vezes colocando em risco a economia de desse caminho. Dois empreendedores já desistiram, mas
Banco Mundial sobre a facilidade de fazer negócios mostra uma vida – a sua e a de outros. As empresas – a butique nenhuma das empresas fechou. De hoje a quinta-feira,
que o Brasil é apenas o 122º colocado entre 178 nações. erótica Apassionata, a academia de ginástica Boa Forma, Zero Hora mostra esta escalada.
Nesse ambiente hostil, Zero Hora acompanhou a o bar Boteco Fiel, a criadora de softwares Dice e a
formação de cinco microempresas nos últimos 13 meses, revendedora de linhas telefônicas e de internet NewLine – ➧ alexandre.santi@zerohora.com.br e isabel.marchezan@zerohora.com.br
Empresa: Apassionata
MAURO VIEIRA
Proprietários: Elisabeth Felix da Silva,
37 anos, e Arnon Aydos, 32 anos
Ramo: comércio
Motivação: a vocação para o comércio e
Silvio Sibemberg, diretor-presidente
a história do casal, que se conheceu
da Gang, começou com uma butique
numa butique erótica
em 1976. Hoje, dirige rede de 27 lojas:
“A bonita história do casal demonstra
acima de tudo ousadia, determinação e
uma boa dose de sensibilidade. O esforço
com que planejaram ao longo do tempo a
realização do sonho os faz merecedores de
sucesso. Encaram o negócio com determi-
nação, e o feeling fez com que acertassem
o target (alvo) da loja.”
acordo que lhe garantiu uma poupança extra.
Fantasia Com o salário que ganhava na seguradora onde
era executivo de contas, Arnon podia sustentar
a casa enquanto a mulher fazia levantamento
de possíveis fornecedores, público-alvo e a lo-
que virou calização ideal da loja com a qual sonhavam.
Não seria uma sex shop comum. O conceito
de butique erótica começava pela localização,
realidade em bairro nobre. Os fornecedores tinham de ter
produtos de qualidade – no design e nos mate-
riais. A idéia era não intimidar as pessoas com
ambiente e produtos de apelo unicamente se-
ma fantasia de colegial levou o ca- xual, mas sim criar uma atmosfera romântica.
sal Elisabeth Felix da Silva e Arnon Depois de planejar por No final de 2006, as economias do casal so-
Aydos a se conhecerem e, mais tar- cinco anos, Elisabeth mavam R$ 80 mil. Alugaram uma sala na Ave-
de, virarem sócios em uma butique mento em Campinas. Arnon trabalhava no es- nida Nilo Peçanha, contrataram uma arquiteta
erótica da Capital. O começo foi em tabelecimento da irmã, e Elisa, como vendedo- e Arnon abriram uma e começaram a reforma. Arnon elaborou e apli-
Campinas (SP), onde ele, de Porto ra em uma loja de sapatos de grife. Eles faziam butique erótica. O primeiro cou, entre pessoas consideradas o público-alvo
Alegre, e ela, de Itu (SP), moravam em 1999. planos de abrir uma loja de roupas e acessórios do negócio, uma pesquisa para escolher o no-
Apaixonada por lingeries, Elisa, a Elisabeth, de ginástica. Mas Arnon queria voltar para a balanço azul veio sete me da loja. O mais votado foi Apassionata.
não resistiu quando deparou-se com uma sex faculdade de Administração de Empresas em meses após a inauguração A loja completou um ano na Quarta-feira de
shop recém-aberta ao lado de uma imobiliá- Porto Alegre, de onde tinha saído para ajudar na Cinzas. Lá, Elisa e Arnon trabalham em tempo
ria onde pagava seu aluguel todo mês. Entrou empreitada da irmã. Em 2001, retornou ao Esta- integral – demitido da seguradora em maio, ele
na loja, mas saiu sem o objeto de cobiça. Sem do. Elisa deixou o emprego para segui-lo e con- optou por se dedicar à administração do negó-
cartão de crédito, teve de voltar mais tarde, na- seguiu emprego em uma joalheria no Shopping Arnon que deu foco à vocação varejista dos cio. O ano foi de sacrifícios. Não trocaram de
quela noite mesmo, quando quem atendia era Iguatemi, onde trabalhou por cinco anos. dois. Ao escrever a respeito de produtos tabu, carro ou de casa como gostariam, não freqüen-
Arnon, irmão da dona da sexshop. O sotaque – O começo foi horrível, as outras vendedoras Arnon percebeu aquilo que sua irmã Tânia ti- tam mais cinema e teatro como antes. Tomam
gaúcho chamou a atenção da paulista e foi tinham clientes cativos, ganhavam um monte de nha visto anos antes, ao trocar de cidade com café, almoçam e, às vezes, jantam no subsolo da
pretexto para um começo de conversa. Antes comissão, e eu lá, remando. Mas é assim que se o marido para abrir uma franquia de sex shop: loja. Agosto foi o primeiro mês no azul.
de deixar a loja, Elisa não só levou o que que- aprende – relembra Elisa, que atua no comércio era um bom negócio. Privação alguma, por enquanto, esmorece
ria, como encomendou outra lingerie e deu o desde os 13 anos. – Começamos a economizar tudo o que po- o ânimo deles, que planejam para este ano a
telefone para avisar quando a peça chegasse. Coube a ela começar a pesquisa do varejo da díamos para montar uma butique erótica em ampliação da loja. O casal prevê obter ganhar
Mas não ficou só nisso. Capital, atrás de uma chance para realizar o so- Porto Alegre. A monografia nos deu mais con- dinheiro com a Apassionata apenas em 2009,
– Tu sabes, papo vai, papo vem, e é gol do nho do casal. Quando não estava trabalhando, fiança – lembra Arnon. mas relatam satisfação com o trabalho.
Grêmio – resume Arnon. pesquisava pontos-de-venda e preços de aluguel. Venderam o Gol 97 no começo de 2006. Eli- – As pessoas vêm em busca de felicidade. A
Dois anos depois, o casal dividia um aparta- Foi, porém, o trabalho de conclusão de curso de sa deixou o emprego na joalheria, onde obteve gente proporciona isso a elas – crê Elisa.

2. Data Publicação : 24/02/2008
Título : A aventura de empreender (1)
Assunto :
A aventura de empreender (1) (série), Empresa, Faturamento, Empreendedor, Empreendimento.
Negócio Próprio