1. Conflitos do popular sobre ser negro
Identidades, narrativas e processos
ANA CLARA GOMES COSTA (anaclagc@hotmail.com)
Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ)
2. Relações raciais no Brasil
Intersecções históricas entre estrutura social, relações de poder e
construção de sentido sobre o corpo negro
O que é ser negro no Brasil?
Identidades sociais, impostas, pertencimento e identificações
Marca locais de conflito que o popular habita enquanto experiências
vividas
Inter-relações de submissões e resistências (RINCON, 2016)
Identidades permeadas por processos culturais
Está relacionado a jogos de poder e exclusão, discursos e narrativas
que marcam lugares sociais fixos para a pessoa negra
Ser negro tem relação com o racismo e a forma de lidar com ele
3. O popular e seus conflitos
O popular é o lugar dos conflitos, das experiências cotidianas, das
histórias
O popular permite múltiplas formas de percepção do mundo
É no âmbito do popular que se pode assumir a identidade negra
ou negá-la por processos de branqueamento discursivos ou físicos
O popular é uma experiência bastarda das culturas híbridas
É nele que reconhecemos que não somos nem essências, nem
pureza, mas sim constituídos por experiências, narrativas e
discursos coletivos na cena popular.
Ele está nas interações, nas trocas e compartilhamentos de
sentidos
O popular e seus conflitos nos levam às nossas identificações e
identidades (HALL, 2011)
4. Corpo e narrativas corporais
O corpo vivencia a cultura e sua condição corporal bastarda
Vivemos narrativas urbanas construídas sobre o corpo e a partir dele
O corpo negro pode ser narrado e pode narrar
Ele pode estar no mundo pelas narrativas que estigmatizam
(mainstream e representações espetacularizadas) ou estar com o
mundo na condição de sujeito histórico protagonista (resulta em
novas representações sociais sobre o negro)
Segundo Pereira e Gomes (2001, p. 20), “a mídia continua a reforçar
imagens estereotipadas, que, veiculadas pela figura do negro serviçal, do
fora-da-lei, do atleta, ou do objeto erótico, em nada alteram o quadro de
referências” da pessoa negra imobilizada em imagens.
5. Narrativas sobre o corpo negro
1) Narrativas opressoras
Corpo negro associado ao discurso de transigência da mestiçagem
favorece a aceitação social e comercial dele
O Brasil exporta midiaticamente a figura da mulata sensual como
símbolo consumível da brasilidade => fixação de um lugar social pro
corpo negro feminino
O erótico como poder menor relacionado ao desejo colonizador
do homem branco
Exemplo: Globeleza associada ao período carnavalesco
brasileiro
6.
7. 2) Narrativas desmistificadoras
Podem ser construídas em busca de emancipação e transformação social
Protagonismo negro associado à consciência sociohistórica e política, que
proporcione representatividade à pessoa negra
Contestam verdades impostas pela lógica dominante da branquitude
Exemplo: Videoclipe da música “Mão da limpeza”, de Gilberto Gil, de 1984
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=tzFxd4gxbpQ>
8. Gil afirma que compôs Mão da limpeza para responder, no mesmo tom
desaforado, o ditado “negro, quando não suja na entrada, suja na saída”. Gil
afirma que, “no fundo, o provérbio tem uma conotação nitidamente moral,
além de física; o que se tenta considerar como sujo no negro é sua existência,
sua pessoa, sua condição humana”.
A prática de se fantasiar de pessoa negra de forma exotizada, mais
conhecida como blackface, é utilizada no videoclipe em uma proposta contra-
hegemônica em que o negro se fantasia de branco por uma whiteface
O videoclipe e a música anulam a relação do negro à sujidade e ratifica
simbolicamente a relação do branco com a sujeira (que são as práticas
racistas da sociedade)
Há vários tipos de narrativas desmistificadoras => basta estar conectado às
redes sociais, reconhecer-se negro para estar com o mundo e disseminar
narrativas desmistificadoras sobre o corpo negro.
9. REFERÊNCIAS
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2003.
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Tadeu da (ORG.); HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn, Identidade e diferença: a perspectiva
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