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O Gato de Schr¨odinger
Guilherme David Ara´ujo
Resumo
Neste trabalho, apresentaremos uma compila¸c˜ao das diferen¸cas epistemol´ogicas entre a mecˆanica
cl´assica e a mecˆanica quˆantica para deixar claros os pontos de discuss˜ao em rela¸c˜ao `a compreens˜ao
e interpreta¸c˜ao da realidade quˆantica evidenciados no experimento mental do gato de Schr¨odinger.
Ent˜ao apresentaremos estes pontos com a finalidade de instigar o questionamento cr´ıtico das reais
dificuldades de resolvˆe-los.
I. INTRODUC¸ ˜AO
Evitando o uso de argumentos compactados em ex-
press˜oes pr´oprias do tratamento cient´ıfico que levam o
entendimento do objeto para fora do texto, pretendemos
explicitar alguns desafios de car´ater epistemol´ogico que
acompanham o desenvolvimento da mecˆanica quˆantica.
Ou seja, desafios que remetem `as condi¸c˜oes do nosso
entendimento da realidade atrav´es de seu tratamento
pela teoria quˆantica. Especificamente, os t´opicos abor-
dados aqui dizem respeito apenas aos problemas de en-
tendimento da transi¸c˜ao entre sistemas microsc´opicos e
sistemas macrosc´opicos. Embora tenhamos em vista a
existˆencia de outros pontos igualmente instigantes que se
desenvolvem em paralelo a estes; pontos que ser˜ao bre-
vemente comentados na conclus˜ao.
II. MEC ˆANICA CL ´ASSICA
Temos a compreens˜ao de que um dos objetivos de uma
teoria cient´ıfica, e uma das medidas de sua validade e
eficiˆencia, ´e a capacidade de simular e predizer eventos e
a evolu¸c˜ao de parˆametros do sistema que ´e objeto desta
teoria. A mecˆanica cl´assica, ao tratar sistemas f´ısicos
em escala macrosc´opica, promove a nossa capacidade de
simular e predizer de forma completa os eventos ocor-
rentes nesses sistemas. Ela diz que, se realizarmos a ob-
serva¸c˜ao de um sistema f´ısico em um dado instante, pode-
mos coletar precisamente o valor de todos os parˆametros
(por exemplo, a velocidade e a posi¸c˜ao de cada compo-
nente) necess´arios para que, qualquer que seja o estado
do sistema, seja poss´ıvel determinar de forma completa
sua evolu¸c˜ao atrav´es da trajet´oria destes parˆametros ao
longo da linha do tempo. A mecˆanica cl´assica garante,
independentemente de outras observa¸c˜oes, a realidade de
todos estes parˆametros em qualquer instante de tempo.
Inclusive que a observa¸c˜ao em si n˜ao afeta a evolu¸c˜ao do
sistema.
Dentro do escopo da mecˆanica cl´assica, somos levados
a tomar a intui¸c˜ao de que o ato de observar um sistema
f´ısico ´e simplesmente o ato de coletar o valor de seus
parˆametros, inclusive sem a necessidade de entrarmos em
contato com o sistema. E temos tamb´em a intui¸c˜ao de
que, ao observarmos o sistema desta forma, utilizando as
ferramentas da teoria, constru´ımos uma correspondˆencia
completa entre os elementos da realidade objetiva e os
elementos do nosso entendimento de seu comportamento.
Entendemos que n˜ao faltam parˆametros para se descrever
essa realidade.
III. MEC ˆANICA QU ˆANTICA
A mecˆanica quˆantica se desenvolveu com o tratamento
de sistemas f´ısicos em escala microsc´opica, aonde vimos
que o formalismo cl´assico n˜ao era compat´ıvel com os
eventos observados. Ou seja, foi necess´ario o desenvolvi-
mento de outro conjunto de regras para tratarmos even-
tos em escala microsc´opica, um conjunto que a princ´ıpio
requere uma reavalia¸c˜ao de nossa compreens˜ao e intui¸c˜ao
acerca da realidade f´ısica.
Dentro do formalismo da mecˆanica quˆantica, temos
a existˆencia de um elemento matem´atico, a fun¸c˜ao de
onda, que funciona como a fonte de informa¸c˜oes sobre
parˆametros que s˜ao pass´ıveis de observa¸c˜ao (pass´ıveis da
medi¸c˜ao de seus valores). A fun¸c˜ao de onda em si n˜ao ´e
observ´avel, e a partir de sua concep¸c˜ao n˜ao a entendemos
como pertencente `a realidade f´ısica. Ela apenas cont´em
as informa¸c˜oes do sistema f´ısico que nos levam a obter
os parˆametros observ´aveis. A equa¸c˜ao de Schr¨odinger ´e
o equivalente quˆantico das leis da teoria cl´assica que si-
mulam a evolu¸c˜ao do sistema f´ısico, ou seja, seu papel a
princ´ıpio ´e evoluir os parˆametros f´ısicos no tempo. Mas
a equa¸c˜ao de Schr¨odinger evolui a fun¸c˜ao de onda no
tempo, ela afeta a evolu¸c˜ao do sistema atrav´es da mo-
difica¸c˜ao no tempo da fun¸c˜ao de onda. Como a fun¸c˜ao
de onda a princ´ıpio n˜ao existe na realidade f´ısica, temos
a condi¸c˜ao de que ao evoluir um sistema f´ısico n´os n˜ao
estamos em contato com a trajet´oria dos parˆametros ob-
serv´aveis e s´o podemos ter acesso a estes parˆametros ao
realizarmos uma medi¸c˜ao de seus valores.
Na realidade, podemos entender que sempre temos
acesso ao valor dos parˆametros somente quando os obser-
vamos. Mas ´e neste ponto que tomamos o entendimento
da previs˜ao desses valores enquanto apenas simulamos a
evolu¸c˜ao do sistema. A mecˆanica cl´assica permite esta
previs˜ao. Na mecˆanica quˆantica, a informa¸c˜ao contida
na fun¸c˜ao de onda ´e tal que sua evolu¸c˜ao n˜ao permite a
simula¸c˜ao da trajet´oria de valores para estes parˆametros,
mas sim a simula¸c˜ao da probabilidade dos parˆametros
possu´ırem certos valores dentro de intervalos de poss´ıveis
2
valores. Ou seja, ao simular a evolu¸c˜ao de um sistema, te-
mos o conhecimento da frequˆencia de ocorrˆencia de certos
valores ao longo da linha do tempo e n˜ao mais determina-
mos com certeza os valores dos parˆametros apenas com
a simula¸c˜ao. Para isso precisamos observar o sistema. E
n˜ao h´a nada mais contido no formalismo quˆantico que
nos permite realizar uma correspondˆencia entre todos os
elementos da realidade objetiva e os elementos do nosso
entendimento de seu comportamento enquanto apenas si-
mulamos a evolu¸c˜ao do sistema. Outro problema surge
quando levamos em conta o princ´ıpio da incerteza de
Heisenberg, que restringe o conhecimento do valor pre-
ciso de dois parˆametros em certas circunstˆancias em uma
mesma medida. Temos ent˜ao que mesmo diante de uma
observa¸c˜ao do sistema (que a princ´ıpio permite que obte-
nhamos uma correspondˆencia pontual) n˜ao podemos atri-
buir a realidade de todos os parˆametros necess´arios para
se localizar o sistema f´ısico. Aqui, sugerimos a correla¸c˜ao
entre a realidade de um parˆametro f´ısico e a possibilidade
da obten¸c˜ao de seu valor preciso, pois a pertinˆencia de
o considerarmos real ´e a condi¸c˜ao de usarmos o seu va-
lor para descrever o sistema f´ısico. Nada garante a sua
existˆencia enquanto n˜ao somos capazes de precisar o seu
valor; este argumento ´e desenvolvido por Einstein, Po-
dolsky e Rosen em seu famoso artigo.
Podemos pontuar tamb´em que a natureza dos elemen-
tos f´ısicos em escala microsc´opica, elementos observados
sempre indiretamente neste contexto, ´e diferente da na-
tureza cl´assica, j´a conquistada por nossa intui¸c˜ao. Ent˜ao,
os conceitos que utilizamos para delimitar comportamen-
tos de elementos de um sistema f´ısico, como part´ıculas e
ondas, n˜ao s˜ao mais aplic´aveis na escala microsc´opica,
onde vemos elementos rompendo as barreiras de com-
portamento entre part´ıculas e ondas. Coube a n´os os
entendermos como elementos duais, como proposto inici-
almente por De Broglie.
Somando estas considera¸c˜oes, temos ent˜ao: i) sistemas
f´ısicos cuja natureza n˜ao ´e compat´ıvel com o nosso en-
tendimento pr´evio proveniente da observa¸c˜ao cl´assica, e
tamb´em s˜ao observados indiretamente (neste caso, consi-
deramos a ideia de uma observa¸c˜ao ser direta ou indireta
mediante a possibilidade de constru¸c˜ao de uma imagem
sensorial da natureza desse sistema, e n˜ao de rastros ge-
rados pela intera¸c˜ao de outros objetos que n˜ao a nossa
pr´opria observa¸c˜ao sensorial). ii) sistemas f´ısicos cuja
realidade n˜ao corresponde completamente ao nosso en-
tendimento em simula¸c˜oes de sua evolu¸c˜ao ou at´e mesmo
pontualmente, sob uma observa¸c˜ao. Temos acesso ape-
nas `a probabilidade dos parˆametros observ´aveis tomarem
certo valor quando observados.
Sabemos tamb´em que uma observa¸c˜ao na escala mi-
crosc´opica necessariamente interage com o sistema f´ısico.
Isso porque uma observa¸c˜ao deve entrar em contato com
o sistema, pois coleta informa¸c˜ao sobre ele. E nestas es-
calas o contato com o sistema gera uma perturba¸c˜ao que
n˜ao podemos desprezar (imaginamos que em um trata-
mento cl´assico fundamentalmente interferimos no sistema
enquanto o observamos, mas esta interferˆencia ´e de uma
ordem correspondente a outros dom´ınios que se encon-
tram fora da detec¸c˜ao da mecˆanica cl´assica; por exemplo,
dom´ınios microsc´opicos).
Partindo deste ponto, vemos que, quando uma ob-
serva¸c˜ao ´e realizada, dentro do formalismo considera-
mos a ocorrˆencia de uma descontinuidade na fun¸c˜ao de
onda, para que logo ap´os a realiza¸c˜ao da medida ela ex-
presse o estado quˆantico correspondente aos valores ob-
tidos dos parˆametros que foram medidos e n˜ao mais o
estado correspondente `as probabilidades associadas aos
valores destes parˆametros (note que essa considera¸c˜ao
n˜ao sup˜oe a ocorrˆencia de uma descontinuidade na reali-
dade do sistema f´ısico, pois a fun¸c˜ao de onda por si n˜ao ´e
real, portanto temos uma descontinuidade apenas na in-
forma¸c˜ao que temos sobre o sistema f´ısico). Podemos no-
tar tamb´em que perturbamos a fun¸c˜ao de onda de formas
diferentes ao observar parˆametros diferentes, sabendo que
pelo mencionado princ´ıpio da incerteza n˜ao podemos re-
alizar uma ´unica observa¸c˜ao de todos os parˆametros.
IV. A INTERPRETAC¸ ˜AO DE COPENHAGEN
Com tudo isso, abrimos a possibilidade da existˆencia
de diversas interpreta¸c˜oes da mecˆanica quˆantica, na
tentativa de conectar esta, a princ´ıpio, falta de in-
forma¸c˜ao sobre sistemas `a nossa compreens˜ao da rea-
lidade f´ısica. A interpreta¸c˜ao mais comumente consi-
derada na comunidade cient´ıfica desde a formula¸c˜ao da
mecˆanica quˆantica, chamada de interpreta¸c˜ao de Cope-
nhagen, inspira-se na sugest˜ao matem´atica da forma da
fun¸c˜ao de onda para postular que, enquanto n˜ao deter-
minados por uma observa¸c˜ao a assumir um ´unico estado,
os sistemas quˆanticos encontram-se em uma superposi¸c˜ao
dos poss´ıveis estados. Esta superposi¸c˜ao ´e matemati-
camente ponderada pelas respectivas probabilidades de
se encontrar o sistema em cada estado. Nesta inter-
preta¸c˜ao consideramos tamb´em que da descontinuidade
da fun¸c˜ao de onda, na observa¸c˜ao, decorre um colapso
do sistema f´ısico que se caracteriza pelo posicionamento
de parˆametros para que o sistema seja medido em um
espec´ıfico estado.
Devemos lembrar que a princ´ıpio n˜ao h´a raz˜ao ci-
ent´ıfica para considerar como reais as hip´oteses contidas
em qualquer interpreta¸c˜ao da mecˆanica quˆantica. Para
isso devemos submetˆe-las a alguma forma de verifica¸c˜ao
experimental. Para contrastar com o posicionamento da
interpreta¸c˜ao de Copenhagen, apresentamos brevemente
a alternativa para as mesmas descri¸c˜oes apresentada pela
interpreta¸c˜ao realista da mecˆanica quˆantica. Nesta inter-
preta¸c˜ao, ´e considerado que o sistema est´a sempre posi-
cionado em um estado f´ısico determinado, com os valores
dos parˆametros especificados na simula¸c˜ao da evolu¸c˜ao
do sistema. Consequentemente n˜ao h´a superposi¸c˜ao real
de estados quˆanticos nem o colapso do sistema sob uma
observa¸c˜ao, levando a uma compreens˜ao semelhante `a da
mecˆanica cl´assica. Deste modo, esta interpreta¸c˜ao imp˜oe
a caracter´ıstica de que a mecˆanica quˆantica ´e uma teoria
3
incompleta, pois postula que a fun¸c˜ao de onda n˜ao for-
nece toda a informa¸c˜ao dispon´ıvel a respeito do sistema,
e ´e preciso se encontrar vari´aveis ocultas que carregam
esta informa¸c˜ao n˜ao dispon´ıvel. (Esta interpreta¸c˜ao foi
investigada nas consequˆencias do teorema de Bell, j´a veri-
ficado experimentalmente, e com isso atualmente ´e con-
siderada incompat´ıvel com a localidade de transmiss˜ao
de processos f´ısicos; o teorema de Bell afirma que n˜ao
existem vari´aveis ocultas locais compat´ıveis com a teoria
quˆantica).
V. O GATO DE SCHR¨ODINGER
Uma propriedade exigida para a teoria quˆantica, o cha-
mado princ´ıpio da correspondˆencia, diz que a descri¸c˜ao
quˆantica da realidade microsc´opica deve corresponder `a
descri¸c˜ao cl´assica quando levamos o sistema para o li-
mite com a escala macrosc´opica. De certa forma deve-
mos esperar que o produto de um tratamento de m´edia
da mecˆanica quˆantica leve exatamente `as leis contidas na
mecˆanica cl´assica, que sabemos serem capazes de reger o
mundo macrosc´opico. O formalismo matem´atico da te-
oria quˆantica satisfaz o princ´ıpio da correspondˆencia (a
prop´osito, em paralelo a todas as dificuldades interpre-
tativas da realidade quˆantica, o sucesso do formalismo ´e
aparentemente inabal´avel; e isso na verdade torna ainda
mais urgentes essas dificuldades). Mas ao pensar nas
diferen¸cas de compreens˜ao da realidade quˆantica e suas
interpreta¸c˜oes, o que devemos esperar de sua adequa¸c˜ao
ao princ´ıpio da correspondˆencia?
Em resposta `a interpreta¸c˜ao de Copenhagen, Erwin
Schr¨odinger elaborou um experimento mental que aca-
bou se tornando famoso na comunidade cient´ıfica e fora
dela (impressionantemente o car´ater excˆentrico do ex-
perimento foi excessivamente explorado pela m´ıdia n˜ao
cient´ıfica desde sua proposta). Falamos do experimento
mental do gato de Schr¨odinger.
Em essˆencia, o experimento considera uma montagem
que envolve um gato isolado em uma caixa, sem contato
com o exterior. Dentro da caixa h´a um sistema quˆantico
que evolui em uma superposi¸c˜ao de dois estados, um deles
ativa um detector que desencadeia um processo que mata
o gato, o outro estado n˜ao ativa o detector. A pergunta
feita ´e: Uma vez que o processo que mata o gato est´a
conectado `a evolu¸c˜ao do sistema quˆantico superposto, o
pr´oprio gato estaria em uma superposi¸c˜ao dos estados
vivo e morto enquanto a caixa n˜ao fosse aberta?
A princ´ıpio n˜ao nos parece aceit´avel acreditar em um
objeto macrosc´opico estando em uma superposi¸c˜ao de
estados. Uma justificativa imediata dentro da inter-
preta¸c˜ao ´e a de que a observa¸c˜ao do sistema quˆantico
ocorre no momento em que o sinal ´e ativado no de-
tector, existindo assim um mecanismo que separa o es-
tado cl´assico do gato (e de todos os componentes ma-
crosc´opicos) e o estado quˆantico do sistema que evolui em
superposi¸c˜ao. Mas a partir disso surgem outras quest˜oes.
Qual o limite que diferencia um objeto capaz de atuar
como um observador quˆantico de um objeto quˆantico por
si (restrito `a condi¸c˜ao de observado)? De que precisa-
mente constitui a medida? Estas perguntas s˜ao muito
dif´ıceis de serem respondidas com clareza de forma a n˜ao
gerarem outras indefini¸c˜oes de compreens˜ao. Autores in-
vestigam extensamente sobre estes temas e alguns dizem
que quest˜oes como estas somente poder˜ao ser respondidas
mediante o avan¸co da experimenta¸c˜ao cient´ıfica e nossa
compreens˜ao de outros pontos da teoria.
Inclusive, sabemos que a realidade macrosc´opica ´e uma
grande composi¸c˜ao da realidade microsc´opica. At´e pode-
mos entender como a indetermina¸c˜ao de parˆametros, ob-
servada na escala cl´assica, mesmo sendo completamente
indetect´avel, ainda existe. Possivelmente temos fun¸c˜oes
de onda ditando evolu¸c˜oes probabil´ısticas distribu´ıdas so-
bre um intervalo de valores indistingu´ıvel classicamente.
Mas porque isto faz com que o sistema cl´assico possa se
comportar como observador, colapsando outros sistemas?
Indo al´em, imaginamos como um sistema pode interagir
com outro e detectar seus parˆametros de alguma forma
para si e com isso talvez venhamos a concluir que os
sistemas se colapsam mutuamente, mas n˜ao nos damos
conta de colapsos nos sistemas macrosc´opicos utilizados
para realizar medidas quˆanticas. Tamb´em, a princ´ıpio
n˜ao ser´ıamos capazes de captar a medi¸c˜ao realizada por
um objeto delimitado microscopicamente (aqui diferenci-
amos o tratamento de um objeto como microsc´opico ou
macrosc´opico por nossa pr´opria capacidade de delimit´a-
lo dentro destas escalas).
Em complemento, outro ponto muito debatido ´e a pos-
sibilidade de a observa¸c˜ao quˆantica depender da presen¸ca
de um observador consciente, colocando em evidˆencia as-
pectos do car´ater subjetivo da compreens˜ao da realidade
pelo ser humano como grupo ou mesmo pelo indiv´ıduo
humano como ser consciente (em quest˜oes que se tor-
nam pertinentes ao nos darmos conta de que mesmo a
consciˆencia de outros objetos da realidade ´e t˜ao ques-
tion´avel quanto qualquer instˆancia dessa realidade exte-
rior; algu´em poderia se perguntar se qualquer sistema
quˆantico ´e pass´ıvel de colapsar sem que esta pr´opria pes-
soa tenha realizado uma medida). Neste ponto as dis-
cuss˜oes podem perder o contato com a pertinˆencia ci-
ent´ıfica, mas devemos considerar que a hip´otese est´a con-
tida na elabora¸c˜ao do experimento do gato de Schr¨odin-
ger. Que diferen¸ca deveria fazer algu´em ter que abrir a
caixa uma vez que j´a temos sistemas quˆanticos intera-
gindo com sistemas suficientemente macrosc´opicos (por
exemplo, um gato)? A partir de questionamentos desta
natureza, surgiu uma variante do experimento chamada
amigo de Wigner, proposta pelo f´ısico Eugene Wigner.
Na variante, ao inv´es de um gato estar acoplado a um
sistema quˆantico desta forma, h´a um ser humano.
VI. CONCLUS ˜AO
Por fim, terminamos com a ideia de que ainda h´a muito
a ser investigado acerca da compreens˜ao da mecˆanica
4
quˆantica para que a teoria soe minimamente confort´avel
a nossas mentes, em concordˆancia com o que disseram
muitos f´ısicos que proporcionaram grandes avan¸cos na
teoria desde a sua concep¸c˜ao.
Para complementar a lista de desafios da mecˆanica
quˆantica, poder´ıamos mencionar tamb´em as inves-
tiga¸c˜oes das consequˆencias do teorema de Bell e as ve-
rifica¸c˜oes realizadas por Alain Aspect, os efeitos de n˜ao
localidade e emaranhamento envolvidos nessa abordagem
e em outras, fenˆomenos de decoerˆencia, a compreens˜ao
da conex˜ao entre a mecˆanica quˆantica e a teoria da re-
latividade e tamb´em a considera¸c˜ao da possibilidade de
diversas outras interpreta¸c˜oes da teoria quˆantica, como a
interpreta¸c˜ao de multiversos, e tamb´em as diversas inter-
preta¸c˜oes de interpreta¸c˜oes para v´arios problemas pon-
tuais.
Experimentos j´a vˆem sendo realizados para se di-
minu´ırem as possibilidades em muitos dos questiona-
mentos colocados sobre as interpreta¸c˜oes da mecˆanica
quˆantica `a medida que a capacidade de precis˜ao experi-
mental evolui, ironicamente, com a aplica¸c˜ao da pr´opria
teoria quˆantica.
[1] Griffiths, D. J. Introduction to Quantum Mechanics. Pe-
arson, 2ed.
[2] Rae, A. I. M. Quantum physics: Illusion or reality? (Cam-
bridge University Press)
[3] Carpenter RHS, Anderson AJ (2006). ”The death of Sch-
roedinger’s cat and of consciousness-based wave-function
collapse”.
[4] Can Quantum-Mechanical Description of Physical Reality
Be Considered Complete? A. Einstein, B. Podolsky, and
N. Rosen, Phys. Rev. 47, 777 (1935).
[5] N. David Mermin. ‘Is the moon there when nobody looks?’
(Physics Today, April 1985).

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Gato de Schrödinger

  • 1. O Gato de Schr¨odinger Guilherme David Ara´ujo Resumo Neste trabalho, apresentaremos uma compila¸c˜ao das diferen¸cas epistemol´ogicas entre a mecˆanica cl´assica e a mecˆanica quˆantica para deixar claros os pontos de discuss˜ao em rela¸c˜ao `a compreens˜ao e interpreta¸c˜ao da realidade quˆantica evidenciados no experimento mental do gato de Schr¨odinger. Ent˜ao apresentaremos estes pontos com a finalidade de instigar o questionamento cr´ıtico das reais dificuldades de resolvˆe-los. I. INTRODUC¸ ˜AO Evitando o uso de argumentos compactados em ex- press˜oes pr´oprias do tratamento cient´ıfico que levam o entendimento do objeto para fora do texto, pretendemos explicitar alguns desafios de car´ater epistemol´ogico que acompanham o desenvolvimento da mecˆanica quˆantica. Ou seja, desafios que remetem `as condi¸c˜oes do nosso entendimento da realidade atrav´es de seu tratamento pela teoria quˆantica. Especificamente, os t´opicos abor- dados aqui dizem respeito apenas aos problemas de en- tendimento da transi¸c˜ao entre sistemas microsc´opicos e sistemas macrosc´opicos. Embora tenhamos em vista a existˆencia de outros pontos igualmente instigantes que se desenvolvem em paralelo a estes; pontos que ser˜ao bre- vemente comentados na conclus˜ao. II. MEC ˆANICA CL ´ASSICA Temos a compreens˜ao de que um dos objetivos de uma teoria cient´ıfica, e uma das medidas de sua validade e eficiˆencia, ´e a capacidade de simular e predizer eventos e a evolu¸c˜ao de parˆametros do sistema que ´e objeto desta teoria. A mecˆanica cl´assica, ao tratar sistemas f´ısicos em escala macrosc´opica, promove a nossa capacidade de simular e predizer de forma completa os eventos ocor- rentes nesses sistemas. Ela diz que, se realizarmos a ob- serva¸c˜ao de um sistema f´ısico em um dado instante, pode- mos coletar precisamente o valor de todos os parˆametros (por exemplo, a velocidade e a posi¸c˜ao de cada compo- nente) necess´arios para que, qualquer que seja o estado do sistema, seja poss´ıvel determinar de forma completa sua evolu¸c˜ao atrav´es da trajet´oria destes parˆametros ao longo da linha do tempo. A mecˆanica cl´assica garante, independentemente de outras observa¸c˜oes, a realidade de todos estes parˆametros em qualquer instante de tempo. Inclusive que a observa¸c˜ao em si n˜ao afeta a evolu¸c˜ao do sistema. Dentro do escopo da mecˆanica cl´assica, somos levados a tomar a intui¸c˜ao de que o ato de observar um sistema f´ısico ´e simplesmente o ato de coletar o valor de seus parˆametros, inclusive sem a necessidade de entrarmos em contato com o sistema. E temos tamb´em a intui¸c˜ao de que, ao observarmos o sistema desta forma, utilizando as ferramentas da teoria, constru´ımos uma correspondˆencia completa entre os elementos da realidade objetiva e os elementos do nosso entendimento de seu comportamento. Entendemos que n˜ao faltam parˆametros para se descrever essa realidade. III. MEC ˆANICA QU ˆANTICA A mecˆanica quˆantica se desenvolveu com o tratamento de sistemas f´ısicos em escala microsc´opica, aonde vimos que o formalismo cl´assico n˜ao era compat´ıvel com os eventos observados. Ou seja, foi necess´ario o desenvolvi- mento de outro conjunto de regras para tratarmos even- tos em escala microsc´opica, um conjunto que a princ´ıpio requere uma reavalia¸c˜ao de nossa compreens˜ao e intui¸c˜ao acerca da realidade f´ısica. Dentro do formalismo da mecˆanica quˆantica, temos a existˆencia de um elemento matem´atico, a fun¸c˜ao de onda, que funciona como a fonte de informa¸c˜oes sobre parˆametros que s˜ao pass´ıveis de observa¸c˜ao (pass´ıveis da medi¸c˜ao de seus valores). A fun¸c˜ao de onda em si n˜ao ´e observ´avel, e a partir de sua concep¸c˜ao n˜ao a entendemos como pertencente `a realidade f´ısica. Ela apenas cont´em as informa¸c˜oes do sistema f´ısico que nos levam a obter os parˆametros observ´aveis. A equa¸c˜ao de Schr¨odinger ´e o equivalente quˆantico das leis da teoria cl´assica que si- mulam a evolu¸c˜ao do sistema f´ısico, ou seja, seu papel a princ´ıpio ´e evoluir os parˆametros f´ısicos no tempo. Mas a equa¸c˜ao de Schr¨odinger evolui a fun¸c˜ao de onda no tempo, ela afeta a evolu¸c˜ao do sistema atrav´es da mo- difica¸c˜ao no tempo da fun¸c˜ao de onda. Como a fun¸c˜ao de onda a princ´ıpio n˜ao existe na realidade f´ısica, temos a condi¸c˜ao de que ao evoluir um sistema f´ısico n´os n˜ao estamos em contato com a trajet´oria dos parˆametros ob- serv´aveis e s´o podemos ter acesso a estes parˆametros ao realizarmos uma medi¸c˜ao de seus valores. Na realidade, podemos entender que sempre temos acesso ao valor dos parˆametros somente quando os obser- vamos. Mas ´e neste ponto que tomamos o entendimento da previs˜ao desses valores enquanto apenas simulamos a evolu¸c˜ao do sistema. A mecˆanica cl´assica permite esta previs˜ao. Na mecˆanica quˆantica, a informa¸c˜ao contida na fun¸c˜ao de onda ´e tal que sua evolu¸c˜ao n˜ao permite a simula¸c˜ao da trajet´oria de valores para estes parˆametros, mas sim a simula¸c˜ao da probabilidade dos parˆametros possu´ırem certos valores dentro de intervalos de poss´ıveis
  • 2. 2 valores. Ou seja, ao simular a evolu¸c˜ao de um sistema, te- mos o conhecimento da frequˆencia de ocorrˆencia de certos valores ao longo da linha do tempo e n˜ao mais determina- mos com certeza os valores dos parˆametros apenas com a simula¸c˜ao. Para isso precisamos observar o sistema. E n˜ao h´a nada mais contido no formalismo quˆantico que nos permite realizar uma correspondˆencia entre todos os elementos da realidade objetiva e os elementos do nosso entendimento de seu comportamento enquanto apenas si- mulamos a evolu¸c˜ao do sistema. Outro problema surge quando levamos em conta o princ´ıpio da incerteza de Heisenberg, que restringe o conhecimento do valor pre- ciso de dois parˆametros em certas circunstˆancias em uma mesma medida. Temos ent˜ao que mesmo diante de uma observa¸c˜ao do sistema (que a princ´ıpio permite que obte- nhamos uma correspondˆencia pontual) n˜ao podemos atri- buir a realidade de todos os parˆametros necess´arios para se localizar o sistema f´ısico. Aqui, sugerimos a correla¸c˜ao entre a realidade de um parˆametro f´ısico e a possibilidade da obten¸c˜ao de seu valor preciso, pois a pertinˆencia de o considerarmos real ´e a condi¸c˜ao de usarmos o seu va- lor para descrever o sistema f´ısico. Nada garante a sua existˆencia enquanto n˜ao somos capazes de precisar o seu valor; este argumento ´e desenvolvido por Einstein, Po- dolsky e Rosen em seu famoso artigo. Podemos pontuar tamb´em que a natureza dos elemen- tos f´ısicos em escala microsc´opica, elementos observados sempre indiretamente neste contexto, ´e diferente da na- tureza cl´assica, j´a conquistada por nossa intui¸c˜ao. Ent˜ao, os conceitos que utilizamos para delimitar comportamen- tos de elementos de um sistema f´ısico, como part´ıculas e ondas, n˜ao s˜ao mais aplic´aveis na escala microsc´opica, onde vemos elementos rompendo as barreiras de com- portamento entre part´ıculas e ondas. Coube a n´os os entendermos como elementos duais, como proposto inici- almente por De Broglie. Somando estas considera¸c˜oes, temos ent˜ao: i) sistemas f´ısicos cuja natureza n˜ao ´e compat´ıvel com o nosso en- tendimento pr´evio proveniente da observa¸c˜ao cl´assica, e tamb´em s˜ao observados indiretamente (neste caso, consi- deramos a ideia de uma observa¸c˜ao ser direta ou indireta mediante a possibilidade de constru¸c˜ao de uma imagem sensorial da natureza desse sistema, e n˜ao de rastros ge- rados pela intera¸c˜ao de outros objetos que n˜ao a nossa pr´opria observa¸c˜ao sensorial). ii) sistemas f´ısicos cuja realidade n˜ao corresponde completamente ao nosso en- tendimento em simula¸c˜oes de sua evolu¸c˜ao ou at´e mesmo pontualmente, sob uma observa¸c˜ao. Temos acesso ape- nas `a probabilidade dos parˆametros observ´aveis tomarem certo valor quando observados. Sabemos tamb´em que uma observa¸c˜ao na escala mi- crosc´opica necessariamente interage com o sistema f´ısico. Isso porque uma observa¸c˜ao deve entrar em contato com o sistema, pois coleta informa¸c˜ao sobre ele. E nestas es- calas o contato com o sistema gera uma perturba¸c˜ao que n˜ao podemos desprezar (imaginamos que em um trata- mento cl´assico fundamentalmente interferimos no sistema enquanto o observamos, mas esta interferˆencia ´e de uma ordem correspondente a outros dom´ınios que se encon- tram fora da detec¸c˜ao da mecˆanica cl´assica; por exemplo, dom´ınios microsc´opicos). Partindo deste ponto, vemos que, quando uma ob- serva¸c˜ao ´e realizada, dentro do formalismo considera- mos a ocorrˆencia de uma descontinuidade na fun¸c˜ao de onda, para que logo ap´os a realiza¸c˜ao da medida ela ex- presse o estado quˆantico correspondente aos valores ob- tidos dos parˆametros que foram medidos e n˜ao mais o estado correspondente `as probabilidades associadas aos valores destes parˆametros (note que essa considera¸c˜ao n˜ao sup˜oe a ocorrˆencia de uma descontinuidade na reali- dade do sistema f´ısico, pois a fun¸c˜ao de onda por si n˜ao ´e real, portanto temos uma descontinuidade apenas na in- forma¸c˜ao que temos sobre o sistema f´ısico). Podemos no- tar tamb´em que perturbamos a fun¸c˜ao de onda de formas diferentes ao observar parˆametros diferentes, sabendo que pelo mencionado princ´ıpio da incerteza n˜ao podemos re- alizar uma ´unica observa¸c˜ao de todos os parˆametros. IV. A INTERPRETAC¸ ˜AO DE COPENHAGEN Com tudo isso, abrimos a possibilidade da existˆencia de diversas interpreta¸c˜oes da mecˆanica quˆantica, na tentativa de conectar esta, a princ´ıpio, falta de in- forma¸c˜ao sobre sistemas `a nossa compreens˜ao da rea- lidade f´ısica. A interpreta¸c˜ao mais comumente consi- derada na comunidade cient´ıfica desde a formula¸c˜ao da mecˆanica quˆantica, chamada de interpreta¸c˜ao de Cope- nhagen, inspira-se na sugest˜ao matem´atica da forma da fun¸c˜ao de onda para postular que, enquanto n˜ao deter- minados por uma observa¸c˜ao a assumir um ´unico estado, os sistemas quˆanticos encontram-se em uma superposi¸c˜ao dos poss´ıveis estados. Esta superposi¸c˜ao ´e matemati- camente ponderada pelas respectivas probabilidades de se encontrar o sistema em cada estado. Nesta inter- preta¸c˜ao consideramos tamb´em que da descontinuidade da fun¸c˜ao de onda, na observa¸c˜ao, decorre um colapso do sistema f´ısico que se caracteriza pelo posicionamento de parˆametros para que o sistema seja medido em um espec´ıfico estado. Devemos lembrar que a princ´ıpio n˜ao h´a raz˜ao ci- ent´ıfica para considerar como reais as hip´oteses contidas em qualquer interpreta¸c˜ao da mecˆanica quˆantica. Para isso devemos submetˆe-las a alguma forma de verifica¸c˜ao experimental. Para contrastar com o posicionamento da interpreta¸c˜ao de Copenhagen, apresentamos brevemente a alternativa para as mesmas descri¸c˜oes apresentada pela interpreta¸c˜ao realista da mecˆanica quˆantica. Nesta inter- preta¸c˜ao, ´e considerado que o sistema est´a sempre posi- cionado em um estado f´ısico determinado, com os valores dos parˆametros especificados na simula¸c˜ao da evolu¸c˜ao do sistema. Consequentemente n˜ao h´a superposi¸c˜ao real de estados quˆanticos nem o colapso do sistema sob uma observa¸c˜ao, levando a uma compreens˜ao semelhante `a da mecˆanica cl´assica. Deste modo, esta interpreta¸c˜ao imp˜oe a caracter´ıstica de que a mecˆanica quˆantica ´e uma teoria
  • 3. 3 incompleta, pois postula que a fun¸c˜ao de onda n˜ao for- nece toda a informa¸c˜ao dispon´ıvel a respeito do sistema, e ´e preciso se encontrar vari´aveis ocultas que carregam esta informa¸c˜ao n˜ao dispon´ıvel. (Esta interpreta¸c˜ao foi investigada nas consequˆencias do teorema de Bell, j´a veri- ficado experimentalmente, e com isso atualmente ´e con- siderada incompat´ıvel com a localidade de transmiss˜ao de processos f´ısicos; o teorema de Bell afirma que n˜ao existem vari´aveis ocultas locais compat´ıveis com a teoria quˆantica). V. O GATO DE SCHR¨ODINGER Uma propriedade exigida para a teoria quˆantica, o cha- mado princ´ıpio da correspondˆencia, diz que a descri¸c˜ao quˆantica da realidade microsc´opica deve corresponder `a descri¸c˜ao cl´assica quando levamos o sistema para o li- mite com a escala macrosc´opica. De certa forma deve- mos esperar que o produto de um tratamento de m´edia da mecˆanica quˆantica leve exatamente `as leis contidas na mecˆanica cl´assica, que sabemos serem capazes de reger o mundo macrosc´opico. O formalismo matem´atico da te- oria quˆantica satisfaz o princ´ıpio da correspondˆencia (a prop´osito, em paralelo a todas as dificuldades interpre- tativas da realidade quˆantica, o sucesso do formalismo ´e aparentemente inabal´avel; e isso na verdade torna ainda mais urgentes essas dificuldades). Mas ao pensar nas diferen¸cas de compreens˜ao da realidade quˆantica e suas interpreta¸c˜oes, o que devemos esperar de sua adequa¸c˜ao ao princ´ıpio da correspondˆencia? Em resposta `a interpreta¸c˜ao de Copenhagen, Erwin Schr¨odinger elaborou um experimento mental que aca- bou se tornando famoso na comunidade cient´ıfica e fora dela (impressionantemente o car´ater excˆentrico do ex- perimento foi excessivamente explorado pela m´ıdia n˜ao cient´ıfica desde sua proposta). Falamos do experimento mental do gato de Schr¨odinger. Em essˆencia, o experimento considera uma montagem que envolve um gato isolado em uma caixa, sem contato com o exterior. Dentro da caixa h´a um sistema quˆantico que evolui em uma superposi¸c˜ao de dois estados, um deles ativa um detector que desencadeia um processo que mata o gato, o outro estado n˜ao ativa o detector. A pergunta feita ´e: Uma vez que o processo que mata o gato est´a conectado `a evolu¸c˜ao do sistema quˆantico superposto, o pr´oprio gato estaria em uma superposi¸c˜ao dos estados vivo e morto enquanto a caixa n˜ao fosse aberta? A princ´ıpio n˜ao nos parece aceit´avel acreditar em um objeto macrosc´opico estando em uma superposi¸c˜ao de estados. Uma justificativa imediata dentro da inter- preta¸c˜ao ´e a de que a observa¸c˜ao do sistema quˆantico ocorre no momento em que o sinal ´e ativado no de- tector, existindo assim um mecanismo que separa o es- tado cl´assico do gato (e de todos os componentes ma- crosc´opicos) e o estado quˆantico do sistema que evolui em superposi¸c˜ao. Mas a partir disso surgem outras quest˜oes. Qual o limite que diferencia um objeto capaz de atuar como um observador quˆantico de um objeto quˆantico por si (restrito `a condi¸c˜ao de observado)? De que precisa- mente constitui a medida? Estas perguntas s˜ao muito dif´ıceis de serem respondidas com clareza de forma a n˜ao gerarem outras indefini¸c˜oes de compreens˜ao. Autores in- vestigam extensamente sobre estes temas e alguns dizem que quest˜oes como estas somente poder˜ao ser respondidas mediante o avan¸co da experimenta¸c˜ao cient´ıfica e nossa compreens˜ao de outros pontos da teoria. Inclusive, sabemos que a realidade macrosc´opica ´e uma grande composi¸c˜ao da realidade microsc´opica. At´e pode- mos entender como a indetermina¸c˜ao de parˆametros, ob- servada na escala cl´assica, mesmo sendo completamente indetect´avel, ainda existe. Possivelmente temos fun¸c˜oes de onda ditando evolu¸c˜oes probabil´ısticas distribu´ıdas so- bre um intervalo de valores indistingu´ıvel classicamente. Mas porque isto faz com que o sistema cl´assico possa se comportar como observador, colapsando outros sistemas? Indo al´em, imaginamos como um sistema pode interagir com outro e detectar seus parˆametros de alguma forma para si e com isso talvez venhamos a concluir que os sistemas se colapsam mutuamente, mas n˜ao nos damos conta de colapsos nos sistemas macrosc´opicos utilizados para realizar medidas quˆanticas. Tamb´em, a princ´ıpio n˜ao ser´ıamos capazes de captar a medi¸c˜ao realizada por um objeto delimitado microscopicamente (aqui diferenci- amos o tratamento de um objeto como microsc´opico ou macrosc´opico por nossa pr´opria capacidade de delimit´a- lo dentro destas escalas). Em complemento, outro ponto muito debatido ´e a pos- sibilidade de a observa¸c˜ao quˆantica depender da presen¸ca de um observador consciente, colocando em evidˆencia as- pectos do car´ater subjetivo da compreens˜ao da realidade pelo ser humano como grupo ou mesmo pelo indiv´ıduo humano como ser consciente (em quest˜oes que se tor- nam pertinentes ao nos darmos conta de que mesmo a consciˆencia de outros objetos da realidade ´e t˜ao ques- tion´avel quanto qualquer instˆancia dessa realidade exte- rior; algu´em poderia se perguntar se qualquer sistema quˆantico ´e pass´ıvel de colapsar sem que esta pr´opria pes- soa tenha realizado uma medida). Neste ponto as dis- cuss˜oes podem perder o contato com a pertinˆencia ci- ent´ıfica, mas devemos considerar que a hip´otese est´a con- tida na elabora¸c˜ao do experimento do gato de Schr¨odin- ger. Que diferen¸ca deveria fazer algu´em ter que abrir a caixa uma vez que j´a temos sistemas quˆanticos intera- gindo com sistemas suficientemente macrosc´opicos (por exemplo, um gato)? A partir de questionamentos desta natureza, surgiu uma variante do experimento chamada amigo de Wigner, proposta pelo f´ısico Eugene Wigner. Na variante, ao inv´es de um gato estar acoplado a um sistema quˆantico desta forma, h´a um ser humano. VI. CONCLUS ˜AO Por fim, terminamos com a ideia de que ainda h´a muito a ser investigado acerca da compreens˜ao da mecˆanica
  • 4. 4 quˆantica para que a teoria soe minimamente confort´avel a nossas mentes, em concordˆancia com o que disseram muitos f´ısicos que proporcionaram grandes avan¸cos na teoria desde a sua concep¸c˜ao. Para complementar a lista de desafios da mecˆanica quˆantica, poder´ıamos mencionar tamb´em as inves- tiga¸c˜oes das consequˆencias do teorema de Bell e as ve- rifica¸c˜oes realizadas por Alain Aspect, os efeitos de n˜ao localidade e emaranhamento envolvidos nessa abordagem e em outras, fenˆomenos de decoerˆencia, a compreens˜ao da conex˜ao entre a mecˆanica quˆantica e a teoria da re- latividade e tamb´em a considera¸c˜ao da possibilidade de diversas outras interpreta¸c˜oes da teoria quˆantica, como a interpreta¸c˜ao de multiversos, e tamb´em as diversas inter- preta¸c˜oes de interpreta¸c˜oes para v´arios problemas pon- tuais. Experimentos j´a vˆem sendo realizados para se di- minu´ırem as possibilidades em muitos dos questiona- mentos colocados sobre as interpreta¸c˜oes da mecˆanica quˆantica `a medida que a capacidade de precis˜ao experi- mental evolui, ironicamente, com a aplica¸c˜ao da pr´opria teoria quˆantica. [1] Griffiths, D. J. Introduction to Quantum Mechanics. Pe- arson, 2ed. [2] Rae, A. I. M. Quantum physics: Illusion or reality? (Cam- bridge University Press) [3] Carpenter RHS, Anderson AJ (2006). ”The death of Sch- roedinger’s cat and of consciousness-based wave-function collapse”. [4] Can Quantum-Mechanical Description of Physical Reality Be Considered Complete? A. Einstein, B. Podolsky, and N. Rosen, Phys. Rev. 47, 777 (1935). [5] N. David Mermin. ‘Is the moon there when nobody looks?’ (Physics Today, April 1985).