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Neylson Eustáquio Arantes
HISTÓRIA DA LOJA AVENIR MIRANZI
COM UM POUCO DE LUZ SOBRE A MAÇONARIA
1ª edição
Uberaba-MG
Edição do Autor
2021
Copyright © 2021 por Neylson Eustáquio Arantes
É proibida a reprodução deste livro ou parte dele sem a prévia autori-
zação do autor.
Revisão: Júlia Arantes Costa
Capa: Luciana Rodrigues / Saga Editora e Gráfica
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Bibliotecário responsável: José Mário C. Oliveira
Bibliotecário responsável: José Mário C. Oliveira
Todos os direitos desta edição reservados a
Neylson Eustáquio Arantes
Av. Dom Luiz Maria de Santana, 335, casa 52
38061-080 Uberaba-MG
Fone (34) 99978-1244
neylson.arantes@gmail.com
ARANTES, Neylson Eustáquio
História da Loja Avenir Miranzi com um pouco de luz sobre
a Maçonaria.
Uberaba: Editado pelo autor, 2021.
125 p., il., 14x21 cm
ISBN: 978-65-00-16827-3
1. Maçonaria. Maçonaria em Uberaba–MG.
CDD 366.1
AGRADECIMENTOS
Além da revisão bibliográfica para escrever os capí-
tulos que fornecem um pouco de luz sobre a Maçonaria, en-
trevistei muitos maçons e familiares que fizeram parte da
história da Loja Avenir Miranzi. Minha gratidão a todos eles,
a saber: Agostinho Alan Kardek de Sousa, Dílcia Carvalho,
Ilsione Ribeiro de Sousa, Ivo Ribeiro de Sousa, José Maurício
Lamego Goulart, Levy Delfino, Luciano Pousa Cartafina, Luiz
Ricardo Resende, Maria Odete de Oliveira, Nilson de Camar-
gos Roso, Paulo Roberto Batista de Carvalho, Rogério Santos
da Silva, Valdir Homem da Silva e Wagner da Cruz.
A Gilberto Machado Magnino registro o meu agrade-
cimento especial pela valiosa colaboração, disponibilizando
seu arquivo pessoal com informações que enriqueceram esta
obra.
Agradeço imensamente ao irmão José Maurício La-
mego Goulart pelo incentivo que me levou a escrever este
livro. Sou grato também a ele e ao irmão Luiz Ricardo Re-
sende pela leitura paciente e cuidadosa desta obra em pri-
meira mão, contribuindo com sugestões e correções precio-
sas, bem como pela escrita de sua apresentação.
Finalmente, externo meu reconhecimento ao irmão
Domingos Gonçalves Machado, colega e amigo desde os
tempos de infância, que prontamente se dispôs a ler anteci-
padamente este livro, fornecendo valiosa colaboração.
SUMÁRIO
Apresentação 09
1. O que é Maçonaria? 15
2. Breve relato sobre a origem da Maçonaria 19
3. Estrutura do poder na Maçonaria 29
4. Os primeiros anos da Maçonaria no Brasil 44
5. A Maçonaria em Uberaba 53
6. História da ARLS Avenir Miranzi. 72
7. Crédito das imagens 113
8. Referências Bibliográficas 115
9. Anexos 119
9
APRESENTAÇÃO
A Loja Maçônica Avenir Miranzi comemorou 40 a-
nos, com a nova denominação, em dezembro de 2019. Bem
antes disso, já havia um grande interesse entre os irmãos do
quadro em registrar os diversos acontecimentos vividos pela
Loja. Era necessário um irmão que pudesse juntar todos os
fatos anotados em atas, correspondências e documentos
para poder contar a história da Loja desde a sua fundação
até os nossos dias. Era necessário registrar o que aconteceu
antes que as memórias, ainda vivas, perdessem-se ao longo
do tempo.
Para a alegria de todos nós, o irmão Neylson Eustá-
quio Arantes, que já havia sido convidado pelo Venerável
irmão José Maurício para escrever em livro a história da Loja
Avenir Miranzi, prontificou-se e aceitou o desafio. Foi um
trabalho exaustivo consultar atas, decretos e correspondên-
cia do Grande Oriente de Minas Gerais - GOMG, entrevistar
os irmãos mais antigos do quadro de obreiros e também os
familiares daqueles que já estão no Oriente Eterno, enfim,
buscar a história na fonte, nos registros da Loja.
10
Nessa trajetória, o irmão Neylson percebeu que a
história da Loja Avenir Miranzi estava diretamente relacio-
nada à história da Maçonaria de Uberaba e, então, não teve
dúvida: escreveu um capítulo à parte sobre as Lojas da cida-
de. O livro traz ainda informações sobre a Maçonaria Uni-
versal e a Maçonaria no Brasil. O autor, propositalmente,
conseguiu não só perpetuar a história da Loja, como tam-
bém disponibilizar uma publicação útil a leitores não ma-
çons que desejam ter algum conhecimento sobre a Maçona-
ria. É por essa razão que o título contém “um pouco de luz
sobre a Maçonaria”.
Por ser uma instituição milenar e cercada de misté-
rios, na ótica de quem a conhece apenas superficialmente, a
Maçonaria atrai muitos candidatos, alguns por curiosidade,
outros por intenções interesseiras sabendo tratar-se de uma
Ordem de auxílio mútuo. Há ainda uma significativa quanti-
dade de postulantes que são convidados por maçons que
identificam neles características desejáveis aos praticantes
da Ordem. As primeiras informações que chegam a estes
candidatos quase sempre são fornecidas pelos proponentes,
mas, via de regra, são informações superficiais que não
permitem ao candidato fazer um juízo de valor sobre o in-
gresso ou não na Ordem.
O desconhecimento sobre a Maçonaria, a frustração
de candidatos que buscam interesses escusos e outras cau-
sas menores levam muitos iniciados a terem uma baixa fre-
11
quência ou mesmo a abandonarem a Ordem. Com o propósi-
to de minimizar esses problemas, esta obra destina-se tam-
bém à leitura de futuros postulantes ao ingresso na Loja
Avenir Miranzi.
Para que o leitor conheça um pouco sobre a Maço-
naria, este livro traz um breve histórico sobre a sua origem,
os primeiros tempos da Ordem no Brasil e a estrutura do
poder maçônico. Tais abordagens são feitas sem detalha-
mentos e com a preocupação de mostrar os fatos de forma
imparcial, especialmente nos assuntos mais polêmicos que
são muitos, como, por exemplo, as razões que levaram às
várias cisões dentro do poder maçônico. Tudo isso redigido
de forma simples, com escasso uso de terminologia maçôni-
ca para trazer um pouco de luz aos leitores, especialmente
aos não praticantes.
Sobre a origem da Maçonaria, o leitor verá que ainda
pairam dúvidas a respeito de muitos fatos. Em grande parte
isso se deve à escassez de literatura, visto que a instituição
foi severamente perseguida no passado, com destruição de
vários templos e suas bibliotecas. Há casos, também, de
queima de documentos pelos próprios maçons, preocupados
em preservar algum sigilo, além da grande publicação de
obras que contêm informações fantasiosas sobre a institui-
ção por autores entusiasmados em engrandecer a Ordem.
A obra aborda ainda como funciona o poder na Ma-
çonaria. Ao contrário de outras instituições, como, por e-
12
xemplo, a Igreja Católica, que tem na figura do Papa seu
mandatário maior, na Maçonaria não há um líder único de
onde emanam as decisões. Os poderes foram pulverizados,
especialmente por cisões, e movimentos dentro da Ordem
têm trabalhado para aglutiná-los. Alguns avanços foram al-
cançados.
O capítulo sobre os primórdios da Maçonaria no
Brasil narra que a primeira Loja regular, intitulada Loja Ma-
çônica Reunião, foi fundada no Rio de Janeiro, em 1801, e
regulamentada e instalada sob o reconhecimento do Oriente
da Ilha da França, pois naquela época ainda não havia uma
potência maçônica no país. A primeira obediência maçônica
em terras brasileiras foi criada também no Rio de Janeiro,
em 17 de junho de 1822, e recebeu o nome de Grande Ori-
ente Brasílico.
Sobre a Maçonaria em Uberaba, o livro relata com
mais detalhes o período inicial das primeiras Lojas da cida-
de, ainda durante o Império, e também as motivações que
levaram as suas fundações. Apresenta, ainda, a relação das
Lojas maçônicas em atividades no ano 2020.
Por fim, como o objetivo maior desta obra é contar
a história da Loja Avenir Miranzi, é natural que o capítulo
que contempla esse assunto seja o mais longo e detalhado.
Também mereceu um pouco mais de profundidade a criação
do Grande Oriente de Minas Gerais, a quem a referida Loja
está jurisdicionada.
13
É muito fácil falar do Irmão Neylson. De inteligência
ímpar brinda-nos com essa obra que certamente será mode-
lo para maçons e possíveis candidatos pretendentes ao in-
gresso na Ordem maçônica.
Convidamos os leitores a empreenderem conosco
essa viagem. Boa leitura!
Uberaba, março de 2021.
José Maurício Lamego Goulart.
Luiz Ricardo Resende.
Ex-Veneráveis Mestres da Loja Avenir Miranzi.
14
15
Capítulo um
O QUE É MAÇONARIA?
Como este livro destina-se também a leitores não
maçons, comecemos com o significado do que é Maçonaria.
Há várias definições e todas elas convergem para o sentido
de a Ordem ser uma associação de homens que se conside-
ram irmãos entre si, ligados por laços de recíproca estima,
confiança e amizade, com o objetivo maior de viver em per-
feita igualdade, incentivando-se uns aos outros na prática
das virtudes. Ao ingressar na Ordem o maçom é estimulado
a dominar as vaidades pessoais, o egoísmo e o orgulho, a
reprimir os maus impulsos, a praticar a solidariedade e a
caridade, enfim, a buscar um crescimento pessoal como
membro útil à sociedade.
É oportuno acrescentar que a Maçonaria, também
chamada Franco-Maçonaria, do inglês freemason, contração
do termo técnico freestone mason (pedreiro talhador de pe-
dras), não é uma sociedade secreta e sim uma sociedade que
tem segredos o que é muito diferente. Outro esclarecimento
importante aos leitores é que ela não é uma religião e sim
16
uma organização que recebe adeptos e fiéis de todas as reli-
giões. Pelo seu aspecto espiritual, a Maçonaria é uma institu-
ição que se aproxima muito do Cristianismo, que baseia seu
fundamento na crença de um Ente Superior. Os maçons a-
creditam em um Deus único, neutro, chamado Grande Ar-
quiteto do Universo (G.A.D.U.), representado de formas dife-
rentes em cada religião.
Existem sim controvérsias em torno do que é a Ma-
çonaria e talvez a maior delas esteja ligada à religião. Como
a Igreja Católica se considerava detentora das verdades uni-
versais, acabou por propalar falsas informações vinculando
a Maçonaria às práticas demoníacas, criando assim uma i-
magem negativa da instituição. Os maçons eram chamados
de bodes, em alusão aos mamíferos com suas patas e chifres
que lembram o diabo. Atualmente, dentro da irmandade,
esse estigma negativo foi adotado e os maçons se orgulham
de serem chamados bodes.
Como a Maçonaria sempre pregou a liberdade, a i-
gualdade e a fraternidade, ela esteve envolvida em movi-
mentos libertários, como a independência dos Estados Uni-
dos, do Brasil e de muitos países da América Latina, além de
atuar fortemente nos movimentos abolicionistas. Em Ubera-
ba, por exemplo, a primeira Loja maçônica, Amparo da Vir-
tude, criada em 1859, nasceu pela iniciativa de vários ma-
çons, vindos de outras cidades, imbuídos do propósito de
trabalhar para a alforria dos escravizados.
17
Ao longo de sua história, a Maçonaria foi usada co-
mo espaço seguro para discussão de ideias e para defesa de
alguns princípios. Foi o caso, por exemplo, do iluminismo na
Europa, que sofria sérias restrições por parte dos governos
absolutistas. Assim, muitos intelectuais iluministas encon-
traram na Maçonaria um lugar seguro e neutro para discutir
os seus conceitos. No Brasil, defensores da independência
ingressaram nas Lojas maçônicas filiadas ao Grande Oriente
do Brasil, que defendia de forma categórica o desligamento
de Portugal. Em outro exemplo mais próximo, as primeiras
Lojas maçônicas de Uberaba, criadas ainda na época do Im-
pério, tiveram como motivação a defesa de alguns ideais,
como abolição da escravatura, o amparo das famílias dos
voluntários da Guerra do Paraguai e a conclusão da Santa
Casa de Misericórdia, cuja obra se arrastava por anos, sem
desfecho adequado.
Podemos citar muitos maçons com atuações extra-
ordinárias que marcaram a história dos povos. Com atuação
fora do Brasil listamos Descartes, Rousseau, Montesquieu,
George Washington, Thomas Jefferson, Franklin Roosevelt,
Abraham Lincoln, Simón Bolívar, Bernardo O’Higgins e mui-
tos outros. No Brasil destacamos José Bonifácio, Giusepe
Garibaldi, Ruy Barbosa, Deodoro da Fonseca, Prudente de
Morais, Duque de Caxias, Castro Alves e outros.
Há muito ainda a dizer sobre a Maçonaria. Ela esti-
mula a filantropia, com atos de beneficência sempre em si-
18
lêncio, é apartidária e não permite discussão religiosa, sectá-
ria ou político-partidária em seus templos. Existem muitas
crenças e lendas sobre a Maçonaria que não possuem qual-
quer fundamento. Por se tratar de uma instituição muito
combatida pela Igreja Católica e por poderes absolutistas e
antidemocráticos, invenções falaciosas foram propaladas
para manchar a Ordem.
Na Europa, havia quem acreditasse que o trono do
Venerável Mestre tinha um buraco para acomodar o rabo do
diabo que ali se assentava. Perdura, até os dias atuais, a
crença de que há bodes nas dependências dos templos ma-
çônicos. Há algum tempo, o irmão da minha esposa, que é
médico em uma cidade do interior de Minas Gerais, inaugu-
rou uma clínica próxima a um templo maçônico que ele
próprio frequentava. No dia seguinte à inauguração, ainda
bem cedo, encontrou-se com o guarda noturno que fazia
ronda na região e de forma bem humorada lhe disse:
— Bom dia! Dormiu bem esta noite?
— De jeito nenhum, Doutor. Nem que eu quisesse! —
e apontando para a Loja Maçônica concluiu: — Ali tem um
bode que berra a noite toda!
19
Capítulo dois
BREVE RELATO SOBRE A
ORIGEM DA MAÇONARIA
Escrever sobre a história da Maçonaria, desde seus
primórdios, é uma tarefa difícil. Há uma grande carência de
documentos e registros fidedignos, bem como de evidências
documentais seguras, que são naturalmente a ferramenta
utilizada pelos verdadeiros historiadores. A perseguição
sofrida pela Maçonaria, especialmente em países que adota-
ram políticas totalitárias como a Alemanha nazista, a Itália
fascista, a Espanha franquista, Portugal salazarista, a União
Soviética e a China, levou à destruição de documentos e bi-
bliotecas inteiras. Ao chegar ao poder, Adolf Hitler dissolveu
as dez grandes Lojas da Alemanha e mandou seus líderes
para os campos de concentração. Quando a França foi inva-
dida pelos nazistas, as Lojas Maçônicas foram saqueadas e o
que sobrou foi leiloado em praça pública. Não bastasse tudo
20
isso, Armando Righetto afirma que “muitos documentos de
valor históricos inestimável foram queimados em 1720 por
maçons excessivamente escrupulosos, com receio que eles
pudessem cair em mãos profanas”1
.
É inegável também que houve falhas na preservação
de documentos históricos sobre a Maçonaria. José Castellani
afirma que, em decorrência dessas falhas, surgiram “mistifi-
cadores da História Maçônica, os quais lançam mão de sub-
terfúgios e engodos, sob a aparência de pesquisa, para exte-
riorizar sua parcialidade, suas tendências e sua ignorância
da metodologia da pesquisa histórica”2
.
Outro fato é que adversários da Maçonaria, motiva-
dos especialmente pela Igreja Católica, consideravam-na
uma seita anticatólica e excomungada e acabaram publican-
do notícias falsas e caluniosas, levando muitos autores a
reproduzi-las sem o menor cuidado de checar as fontes das
informações.
Além disso, muitos escritores, no afã de engrande-
cer a Ordem, passaram a frente informações fantasiosas,
sem distinguir o lendário do histórico. Autores não com-
prometidos com uma literatura séria e de qualidade que,
1
RIGUETTO, Armando. Maçonaria, Ontem e Hoje. Londrina: Editora A
Trolha Ltda, 1994, p. 101.
2
CASTELLANI, José. Fragmentos da Pedra Bruta. Londrina: Editora A
Trolha Ltda, 1999, p. 142.
21
baseados tão somente na imaginação fértil, inventaram fatos
convenientes para engrandecer a Maçonaria do passado.
Para ficar apenas em dois exemplos: hoje se questiona muito
a suntuosidade atribuída ao Templo de Salomão, sobre o
qual a ciência não encontrou nenhum vestígio arqueológico,
ademais de não haver qualquer prova documental sobre a
Inconfidência Mineira ter recebido a chancela da Maçonaria e
Tiradentes ter sido maçom.
O INÍCIO DA MAÇONARIA
Bibliotecas maçônicas estão repletas de publicações
que levam os leitores a concluírem que a Maçonaria existia
na época de Cristo e até mesmo de Noé, com sua arca, ou
Adão, considerado pela Bíblia como o primeiro homem. En-
tretanto, essas afirmações não são evidenciadas em nenhum
fato documentado, instrumento essencial de uma pesquisa
séria. Sobre a sua origem, Heinz Jakobi3
cita uma revisão
feita por Charles Bernardin, maçom atuante na França. Em
206 publicações criteriosamente recenseadas por ele, 28
afirmam que a Maçonaria foi fundada por pedreiros constru-
tores afirmam que a Maçonaria foi fundada por pedreiros
3
JAKOBI, Heinz Roland. Graus-Simbólicos Compêndio Maçônico V1.
Londrina: Editora A Trolha Ltda, 2007, p. 25.
22
de catedrais, 18 ligam sua origem ao Egito e 12 afirmam que
ela se originou com os Templários. São dezenas de possíveis
origens citadas por diversos autores, sendo algumas bem
curiosas: três delas afirmam que a Maçonaria foi criada pe-
los sobreviventes de um dilúvio e uma diz que ela já existia
antes mesmo da criação do mundo.
Excluindo o que alguns escritores pensam sobre a
Maçonaria praticada antes da Idade Média que a cada publi-
cação mais acurada fica apenas no mundo imaginário, a
maioria dos autores a divide em duas fases: Operativa e Es-
peculativa. Segundo Ambrósio Peters, com o intuito de en-
grandecer suas origens, a Maçonaria Operativa as atribuía
“aos povos da antiguidade, dizendo-se também construtores
herdeiros em linha reta da arte real dos obreiros do Templo
de Salomão. Na verdade tudo isso não tem confirmação his-
tórica”4
.
Sobre isso, Raimundo Rodrigues afirma que “o mais
antigo documento que se conhece da chamada Maçonaria
Antiga, ou Operativa, ou de Ofício é o Poema Régio, que é de
1390, século XIV. Tudo que se disser anterior a essa data
não passa de pressuposições”5
. Até mesmo a afirmação de
que a Maçonaria moderna, chamada Especulativa, deriva da
4
PETERS, Ambrósio. Antologia Maçônica. Londrina: Editora A Trolha
Ltda, 1996, p. 139.
5
RODRIGUES, Raimundo. Sobre os Primórdios da Maçonaria. In: Ca-
derno de Pesquisas 19. Londrina: Editora A Trolha Ltda, 2001, p.120.
23
Maçonaria Operativa, praticada na Idade Média, é questiona
da por muitos autores. Estes defendem que as Lojas nasci-
das na Inglaterra, no século XVI, “poderiam ser associações
políticas e religiosas lutando contra o absolutismo estatal”6
.
Ao escrever sobre a história da Maçonaria inglesa, Hamil
afirma que há possibilidade de que “os originadores da Ma-
çonaria Especulativa se disfarçassem na aparência de uma
organização operativa, a fim de encobrir atividades e ideais
que, na época, se tornava impossível praticar abertamente”7
.
É natural que os leitores estejam confusos com tan-
tas informações conflitantes. Volto aqui ao primeiro pará-
grafo deste capítulo, que menciona a escassez de documen-
tos fidedignos. Com a pretensão de não ser o dono da ver-
dade e muito menos uma autoridade no assunto, mas tão
somente como pesquisador das publicações que hoje são
consideradas mais confiáveis, ficamos com a afirmação de
que a Maçonaria pode ser dividida em duas fases.
A primeira, chamada Operativa ou Maçonaria de O-
fício, foi inicialmente formada por profissionais ligados à
arte de construção civil, os pedreiros e os arquitetos da épo-
6
COSTA, Frederico Guilherme. A Maçonaria Dissecada. Londrina: Edito-
ra A Trolha Ltda, 1995, p. 139.
7
HAMIL, Johns. The Craft. A History of English Freemasonary, In:
MARQUES, A. H. de Oliveira. História da maçonaria em Portugal, 1990,
p. 17.
24
ca. Eram eles operários medievais responsáveis pelas cons-
truções das Catedrais, das Abadias, das Igrejas, dos palácios
e fortes. Reunidos em guildas (tipo de associação muito co-
mum na época medieval), em confraria de mútuo socorro,
ou mesmo em um tipo de sindicato, aqueles operários espe-
cializados buscavam principalmente a melhoria dos salários
de seus associados. Posteriormente, passaram a admitir ou-
tros membros das mais variadas profissões. Essa organiza-
ção, que perdurou desde a Idade Média até a Renascença, é
que serviu de base à Maçonaria Moderna, também chamada
Especulativa ou Maçonaria dos Aceitos.
A MAÇONARIA MODERNA OU ESPECULATIVA
A Maçonaria Especulativa teve início em 24 de junho
de 1717 com o surgimento da primeira Obediência Maçôni-
ca: a Grande Loja de Londres. Segundo relato de Anderson,
citado por Aslan8
, quatro Lojas Operativas de Londres se
reuniram na sede de uma delas (a da Taberna da Macieira),
criaram uma Grande Loja e elegeram seu primeiro Grão-
8
ASLAN, Nicola. Maçonaria Operativa. Londrina: Editora A Trolha Ltda,
2008, p. 346.
25
Mestre. As outras três Lojas eram a da Cervejaria do Ganso e
da Grelha, a da Cervejaria da Coroa e a da Taberna da Taça
e das Uvas.
Como não havia locais específicos para as reuniões,
elas se davam nos adros das igrejas, nas cervejarias, nas
estalarias ou nas tabernas. Assim, as lojas recebiam o nome
do local onde aconteciam esses encontros. Na Europa, prin-
cipalmente na Inglaterra, as tabernas e hospedarias não ti-
nham as funções que conhecemos hoje. Eram locais desti-
nados a reuniões de grupos corporativistas.
Com a transformação da Maçonaria Operativa em
Maçonaria Especulativa, houve uma mudança radical em
seus objetivos. Enquanto os maçons operativos tinham por
finalidade a construção de catedrais, de igrejas e de outras
obras que demandavam o conhecimento dos talhadores de
pedra, os maçons modernos pertencem às mais variadas
profissões e buscam a transformação do homem, tornando-
o mais sábio, justo e humano.
O TEMPLO MAÇÔNICO
O primeiro templo maçônico, com a arquitetura que
conhecemos hoje, foi edificado pela Grande Loja de Londres
e inaugurado em 23 de maio de 1776 na Inglaterra, aproxi-
madamente um ano após o início de sua construção.
26
O modelo arquitetônico dos templos maçônicos foi
inspirado no templo de Jerusalém edificado pelo rei Salo-
mão, que anteriormente havia servido de modelo para as
igrejas. Outras influências, especialmente das antigas civili-
zações e do misticismo medieval, são bastante perceptíveis
em suas decorações. A contribuição hebraica, por exemplo,
está evidente nas colunas vestibulares Booz e Jachin, no Al-
tar dos Perfumes, no Candelabro de Sete Braços, na Estrela
de Seis Pontas, entre outros.
Como o primeiro templo surgiu na Inglaterra, ele
sofreu grande influência também do parlamento inglês. Na
disposição dos assentos, o trono do Venerável-Mestre asse-
melha-se muito a Great Chair do primeiro ministro — am-
bos centralizados —, e as cadeiras dos obreiros dispostas
frente a frente seguem o modelo das cadeiras dos parlamen-
tares. Além disso, o espaço de acesso ao templo, intitulado
Sala dos Passos Perdidos, também fora inspirado em um a-
nexo análogo ao existente no edifício governamental inglês.
Na construção dos templos maçônicos há um mode-
lo padrão que deve ser seguido por qualquer loja, indepen-
dente do rito adotado. Há, porém, algumas diferenças, espe-
cialmente na decoração, decorrentes dos ritos, sendo uns
mais simples e outros mais complexos. Castellani sintetizou
muito bem tudo isso: “independente de ritos, qualquer ma-
çom, em qualquer parte do mundo, reconhece um templo
27
maçônico pelas colunas do pórtico, pela orientação, pela
divisão e pelos símbolos presentes na decoração”.9
OS DIFERENTES RITOS
Chamamos de Rito o conjunto de normas que rege o
funcionamento de uma Loja Maçônica. No início da Maçona-
ria Moderna havia um ritual bem simples, com apenas o
Grau de Aprendiz. Posteriormente, foram criados o Grau de
Companheiro e, bem mais tarde, o de Mestre. Esses são con-
siderados os três graus fundamentais da Maçonaria.
Hoje há vários Ritos Maçônicos em uso nas Lojas
Básicas. No Brasil, segundo Nicola Aslan, os mais “conheci-
dos são o Rito Moderno ou Francês, com 7 Graus, o Rito A-
donhiramita, com 13 Graus e o Rito Escocês Antigo e Aceito,
com 33 Graus”.10
Outros também são adotados, como o Rito
de York (mais usado na Maçonaria Universal), Rito de
Schröder (muito utilizado na Alemanha) e alguns de adoção
exclusiva em seus respectivos países, como os Ritos Brasilei-
ro, Argentino, Sueco, Mexicano e outros.
9
CASTELLANI, José. Templo Maçônico. Londrina: Editora A Trolha Ltda,
ano XX, n. 45, 1990, p. 51.
10
ASLAN, Nicola. Uma Radiografia da Maçonaria. Londrina: Editora A
Trolha Ltda, 2013, p. 160.
28
MAÇONS REGULARES NO BRASIL E NO MUNDO
Da forma que conhecemos hoje, a Maçonaria come-
çou na Inglaterra, em 1717, e espalhou-se rapidamente pelo
mundo. Estima-se que, em 2016, havia cerca de 3,6 milhões
de maçons distribuídos por diversos continentes11
. Esse con-
tingente já foi maior e a redução mais significativa se deu
nos EUA. Segundo a MSA (Masonic Service Association of
North America), em 1950 havia pouco mais de quatro mi-
lhões de maçons no país, contra um milhão e meio em
201012
.
Os cinco países com número maior de maçons, em
valores aproximados, são: Estados Unidos, com 1,5 milhões;
Reino Unido, com 250 mil; Brasil, com 190 mil; Canadá, com
87 mil e França, com 45 mil. Entre os países comunistas, o
maior número de maçons está em Cuba (29 mil), que tem
uma média de um maçom para cada 385 cubanos. Na mes-
ma época, a relação no Brasil era de um maçom para 1.079
brasileiros13
.
11
Simbologia maçônica dos painéis. Disponível em:
https://www.facebook.com/simbologiamaconica.dospaineis/posts/16
52116491770842/. Acesso em 12/06/2020.
12
Masonic Statistics - Graphs, Maps, Charts. Disponível em:
http://bessel.org/masstats.htm. Acesso em 21/05/2020.
13
Maçonaria brasileira em números. Disponível em:
https://www.noesquadro.com.br/conceitos/maconaria-brasileira-em-
numeros/. Acesso em 10/06/2020.
29
Capítulo três
ESTRUTURA DO PODER NA MAÇONARIA
Assim como a família é considerada a célula mater
da sociedade, a Loja individual, que denominamos Loja Sim-
bólica, é o elemento básico da Maçonaria. A característica
universal dessa organização é sua divisão em três graus:
Aprendiz, Companheiro e Mestre. Após seu ingresso na Or-
dem, o obreiro passa a adquirir conhecimentos que permi-
tem seu progresso, atingindo o grau de Companheiro até
chegar à plenitude maçônica, quando se torna Mestre-
Maçom.
A Loja base ou simbólica é a mesma na universali-
dade maçônica. Entretanto, cada uma pode adotar um con-
junto diferente de procedimentos ritualísticos para realizar
as cerimônias e ministrar os ensinamentos. Esses procedi-
mentos diferentes, chamados ritos, levam a diferenças em
suas práticas e normas. A título de exemplo, nas Lojas que
30
adotam o Rito Escocês Antigo e Aceito, que é amplamente
utilizado no Brasil, há graus que vão do 4º ao 33º.
A Maçonaria Moderna surgiu na Inglaterra, em 1717,
quando três Lojas se uniram sob a tutela de uma organiza-
ção que recebeu o nome de Grande Loja Unida da Inglaterra.
A partir daí, convencionou-se que toda Loja Maçônica regu-
lar deve estar submetida a um órgão superior que a legitima.
Estabeleceu-se ainda que qualquer instituição maçônica é
considerada fidedigna se reconhecida pela Grande Loja Uni-
da da Inglaterra. Posteriormente, face à grandeza da Maço-
naria nos Estados Unidos, passou-se a considerar como legí-
timas as instituições reconhecidas pelas principais Grandes
Lojas Norte-Americanas.
Aqui no Brasil as obediências maçônicas que conhe-
cemos hoje são representadas por três modelos administra-
tivos: os Grandes Orientes Estaduais federados ao Grande
Oriente do Brasil (GOB), as Grandes Lojas Estaduais associa-
das à Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil
(CMSB) e os Grandes Orientes Estaduais associados à Confe-
deração Maçônica do Brasil (COMAB). Essas obediências são
entidades autônomas, regulares e soberanas que agrupam as
Lojas Simbólicas.
A autoridade das obediências maçônicas se dá ape-
nas nos três primeiros graus (Loja base), enquanto os graus
filosóficos — 4 ou superior — são administrados por conse-
31
lhos moderadores. Na Loja base a autoridade máxima é inti-
tulada Grão-Mestre, e no supremo conselho o mandatário
maior é denominado Soberano Grande Comendador.
Cada obediência maçônica está estruturada em um
regime de tripartição de poderes: executivo, sob a liderança
do Grão-Mestre, legislativo, formado por deputados eleitos
pelas Lojas Maçônicas, e o poder judiciário, representado
pelo Supremo Tribunal Maçônico, que julga em instância
final todos os processos e recursos.
O PODER NOS GRAUS FILOSÓFICOS
Os conselhos moderadores são intitulados Supre-
mos Conselhos. É o caso do Rito Escocês Antigo e Aceito, que
ao ser criado nos Estados Unidos, em 31 de maio de 1801,
previa a existência de um único conselho em cada país. Em
face de conflitos de interesse, essa convenção não foi man-
tida e os EUA possuem dois conselhos, já consolidados e
aceitos.
No Brasil também há dois conselhos, porém eles a-
inda disputam a legitimidade. Não bastasse esses dois, outra
cisão, ocorrida em 1973, fez surgir os Supremos Conselhos
Estaduais, que, na opinião de José Castellani, “não têm a
32
mínima chance de qualquer reconhecimento por Supremos
Conselhos considerados regulares e legítimos”1
.
Em 2014, no livro intitulado O Líder Maçom, Kennyo
Ismail afirmou que “a maçonaria está presente nos cinco
continentes por meio de quase 200 Grandes Lojas interna-
cionalmente reconhecidas, consideradas independentes, au-
tônomas e soberanas entre si”2
. Não há, portanto, um poder
ou uma liderança mundial que rege a Maçonaria. Cada Gran-
de Oriente ou Grande Loja tem poder apenas sobre sua ju-
risdição.
AS OBEDIÊNCIAS MAÇÔNICAS NO BRASIL
Quando as primeiras Lojas maçônicas foram criadas
no Brasil, ainda não existia uma Obediência Maçônica no
país, e por isso elas eram filiadas ao Grande Oriente da
França ou de Portugal. Como havia um anseio generalizado,
no meio maçônico, de se obter a independência do Brasil, a
Coroa Portuguesa, percebendo esta agitação, publicou em 30
de março de 1918 o Alvará Real que proibia o funcionamen-
1
CASTELLANI, José. Consultório Maçônico VII. Londrina: Editora A Tro-
lha Ltda, 2000, p. 54.
2
ISMAIL, Kennyo. O Líder Maçom. Londrina: Editora A Trolha Ltda,
2014, p. 23.
33
to das Lojas maçônicas em território brasileiro. Assim, no
Rio de Janeiro, a Arte Real continuou a ser praticada de for-
ma discreta, em reuniões que aconteciam nas próprias casas
dos maçons, e o anseio de consolidar a Maçonaria no Brasil
foi postergada.
Com o arrefecimento da resistência da Corte à Ma-
çonaria em face de diversos acontecimentos, a Loja Comér-
cio e Artes do Rio de Janeiro reergueu suas colunas em 24 de
junho de 1821. No meio maçônico brasileiro já havia um
movimento muito sólido pela emancipação política do Brasil
quando em 17 de junho de 1822 foi criada a primeira Obe-
diência Maçônica que recebeu o nome de Grande Oriente
Brasílico. O fato se deu no Rio de Janeiro, onde na época
existia uma única Loja regular intitulada Loja Maçônica Co-
mércio e Artes. Para a concretização do projeto, essa Loja foi
dividida em três: ela própria, a Loja União e Tranquilidade e
a Loja Esperança de Niterói. O primeiro Grão-Mestre, eleito
por aclamação, foi José Bonifácio de Andrada e Silva.
Pouco mais de quatro meses após sua criação, em
25 de outubro de 1822, o Grande Oriente Brasílico foi fecha-
do por ordem de Dom Pedro I, que havia sido alçado ao pos-
to de Grão-Mestre, numa escalada de Aprendiz ao posto má-
ximo, em tempo recorde. As razões que levaram Dom Pedro
I a este ato foram as divergências entre dois grandes expo-
entes da Maçonaria na época: José Bonifácio e Gonçalves
Lêdo.
34
A Maçonaria brasileira, que ficou sem uma Obediên-
cia Maçônica por quase dez anos, teve novo alento em 07 de
abril de 1831, com a abdicação de Dom Pedro I e seu retorno
a Portugal. Dois meses depois, em 24 de junho de 1931, um
grupo de maçons que vivia no Rio de Janeiro criou o Grande
Oriente Brasileiro, elegendo o Senador Vergueiro como o
primeiro Grão-Mestre. Neste grupo não constavam os ma-
çons que pertenciam à cúpula do Grande Oriente do Brasil,
extinto por Dom Pedro I.
Assim, alguns líderes maçons que ficaram à margem
da nova Obediência reagiram rapidamente criando o Grande
Oriente do Brasil como sucessor do Grande Oriente Brasílico,
em 23 de novembro de 1831. Estava criada uma divisão no
poder da Maçonaria que somente foi solucionada 52 anos
depois, em 18 de janeiro de 1883, quando as duas Obediên-
cias se fundiram após forte pressão da Maçonaria de Portu-
gal.
No livro O Mito Maçônico, Jay Kinney diz que “a ma-
çonaria especulativa moderna pode ter começado oficial-
mente em 1717 com ideais claramente definidos de frater-
nidade universal, mas o apego humano a posição, prestigio,
honra e poder se afirmou quase que imediatamente, compli-
cando imensamente o assunto” 3
. No trabalho intitulado Por
3
KINNEY, Jay. O Mito Maçônico. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010,
p. 147.
35
que três potências no Brasil, os maçons Zapchau, Grando e
Reyes concluíram que “as cisões ocorridas têm como fun-
damento ambições pessoais, que geraram forças discordan-
tes na ordem, sem que esses grupos tenham conseguido
concordar e permanecerem unidos”4
CISÃO DE 1927 E CRIAÇÃO DAS
GRANDES LOJAS ESTADUAIS
A ganância de alguns poucos líderes maçônicos ao
poder, que contaminava a Maçonaria brasileira como se viu
nos parágrafos anteriores, acabou provocando mais uma
cisão. A insatisfação do grupo dissidente vinha desde 1921,
quando houve eleição para Grão-Mestre do Grande Oriente
do Brasil. Os seguidores de Mário Behring, um dos candida-
tos, alegaram manipulação dos votos que deram vitória ao
seu opositor, General Moreira Guimarães.
O desfecho final foi desencadeado pela insatisfação
com o fato de o Grande Oriente do Brasil e o Supremo Con-
selho para os Graus Escoceses estarem sob a tutela de um
único dirigente, o que contrariava o que fora preconizado no
4
ZAPCHAU, Elton Luiz; GRANDO, Neilor José; REYES, Paulo Cezar Car-
rasco. Por que três potências no Brasil. In: A Trolha, n 271. Londrina:
Editora A Trolha Ltda, 2009.
36
Congresso de Lausanne, na Suíça. Finalmente, em 17 de ju-
nho de 1927, no Rio de Janeiro, Mario Behring e seus segui-
dores declararam a separação do Grande Oriente do Brasil e
a criação das Grandes Lojas Estaduais. A primeira a ser ins-
tituída foi a da Bahia, em 22 de maio de 1927, antes mesmo
da reunião relatada anteriormente. Depois vieram a do Rio
de Janeiro e a de São Paulo. Em Minas Gerais, a criação da
Grande Loja Maçônica se deu em 26 de setembro de 1927.
MAIS UM PODER: GRANDES ORIENTES ESTADUAIS
Outra cisão ocorreu em 27 de maio de 1973, resul-
tando na criação dos Grandes Orientes Estaduais associados
à Confederação Maçônica do Brasil (COMAB). O GOB era
formado por 14 Grandes Orientes Estaduais e algumas Dele-
gacias. Em dez estados brasileiros, o que antes era apenas
um apêndice do GOB passou a ser uma nova potência maçô-
nica com autonomia e independência — Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Distrito Fe-
deral, Mato Grosso, Espírito Santo, Ceará e Rio Grande do
Norte. . Em 2020, havia 23 potências estaduais vinculadas à
Confederação Maçônica Brasileira (COMAB).
A eleição do Grão-Mestre Geral do GOB, realizada em
1973, foi o motivo da discórdia. O Grão-Mestre de Minas
Gerais, Athos Vieira de Andrade, lançou-se como candidato
37
da oposição, com amplo apoio especialmente em Minas Ge-
rais e São Paulo, onde estava o maior contingente eleitoral.
Iniciada a apuração, os opositores denunciaram falta de li-
sura, especialmente na anulação de votos, favorecendo sem-
pre o candidato da situação. Após muita protelação, o resul-
tado oficial divulgado pelo GOB informava a vitória do can-
didato da situação, Osmane, com 2.129 votos contra 1.107
votos para Athos.
O maçom Jorge Lasmar, que pertencia ao grupo opo-
sitor, descreveu assim o desfecho da apuração paralela: “ao
se proceder a contagem, confirmaram-se os prognósticos.
Athos Vieira de Andrade recebeu 7.175 votos e a Osmane
Vieira de Resende coube o restantes de votos, 3.820”.5
A im-
prensa brasileira deu ampla cobertura aos fatos, com acusa-
ções e denúncias tanto da oposição como da situação.
Sobre o ocorrido, Castellani e Carvalho escreveram:
“no Tribunal (Eleitoral) mais de 6 mil votos de Athos foram
anulados, enquanto Osmane perdeu menos de 2 mil, tendo,
isso, acontecido sob alegação de débitos com o poder cen-
tral e preenchimento irregular das atas das eleições”. Eles
também afirmaram que “todo o processo ocorreu num am-
biente bastante agitado, já que os representantes da chapa
5
LASMAR, Jorge. História do Grande Oriente de Minas Gerais e Outras
Histórias. Belo Horizonte: Lithera Maciel Editora Gráfica Ltda, 1999, pp.
19, 52, 91, 148.
38
oposicionista, na apuração, alegavam fraudes na anulação
das atas eleitorais, com parcialidade do tribunal, em favor
dos candidatos oficiais”.6
Ainda esses autores, que sempre
pertenceram aos quadros do GOB, declararam que “ambos
os lados apresentaram os seus motivos para o rompimento
que viria; eles pretendiam ter razão, embora a análise desa-
paixonada dos fatos mostra que, de ambos os lados, houve
erros e acertos, com radicalização de posições e as conse-
quências que a história registra”.
GRANDE ORIENTE DE MINAS GERAIS
Bem antes da cisão de 1973, em Minas Gerais havia
ocorrido um incidente que levou à criação do Grande Orien-
te de Minas Gerais (GOMG). Isso se deu em 12 de setembro
de 1944, em resposta à insatisfação dos obreiros de duas
Lojas Maçônicas sediadas em Belo Horizonte e filiadas ao
GOB. Um boletim publicado pela Loja Caridade e Justiça traz
o relato do Irmão Verdi Marra7
, que vivenciou todos os mo-
mentos que antecederam à criação do GOMG. Ele narra que,
6
CASTELLANI, José; CARVALHO, William Almeida de. História do
Grande Oriente do Brasil: A Maçonaria na História do Brasil. São Paulo:
Madras, 2009, pp. 264-265.
7
MARRA, Verdi. O Encontro Ano II, nº23, Suplemento. Belo Horizonte:
1976, pp. 1-4.
39
em 14 de fevereiro de 1944, quando os maçons da Loja Gon-
çalves Ledo chegaram para a reunião semanal, depararam-se
com um memorando afixado na entrada do Templo infor-
mando que aquela oficina estava fechada até segunda or-
dem. O memorando havia sido assinado pelo Capitão Antô-
nio Diniz, interventor indicado naquela oficina pelo Sobera-
no Grão Mestre Joaquim Rodrigues Neves.
Indignados com tal atitude, os obreiros bateram à
porta da Loja Deus, Humanidade e Luz, também filiada ao
GOB, que se reunia em sala vizinha, no mesmo dia e horário.
Ao tomarem conhecimento de que o motivo provável da in-
terdição teria sido a adoção do Rito Brasileiro, recém criado,
os membros daquela loja ofereceram apoio irrestrito. O pas-
so seguinte foi retirar o memorial afixado e redigir uma ata
de protesto a ser encaminhada ao GOB.
A atitude do Soberano Grão-Mestre, ao tomar co-
nhecimento do manifesto, foi expulsar todos os dezoito
membros da Loja Gonçalves Ledo e também fechar a Loja
Deus, Humanidade e Luz por ter dado apoio aos maçons da
co-irmã sem dar uma justificativa plausível pelas medidas
radicais. No entendimento dos maçons atingidos, sua reação
foi uma represália à adoção, pela Loja Gonçalves Ledo, do
Rito Brasileiro. Esse rito havia sido criado recentemente pelo
Grão-Mestre Adjunto do GOB, Dr. Álvaro Pereira. Constata-
se, portanto, que faltava harmonia, consenso e mesmo pru-
dência no seio do corpo diretor do GOB.
40
Os 126 maçons das duas oficinas afetadas pelas
medidas do GOB se reuniram por diversas vezes para deba-
ter o assunto e acabaram decidindo pela criação de uma no-
va Obediência Maçônica. Para isso, a Loja Deus, Humanidade
e Luz se desligou do GOB, declarando-se independente. Essa
Loja, a primeira criada em Belo Horizonte, seria subdividida,
segundo Jorge Lasmar8
, em 1º de junho de 1896, formando
mais cinco lojas. Assim, as seis Lojas, cada uma com 21
membros, fundariam o GOMG.
Posteriormente, informado de que os maçons atin-
gidos por aquelas medidas pretendiam criar uma nova Obe-
diência Maçônica, o Grão-Mestre do GOB determinou ao seu
Delegado que criasse o Grande Oriente de Minas Gerais, fiel
ao GOB, numa manobra para dificultar as ações dos maçons
considerados rebeldes. No dia 13 de setembro de 1944, às
13 horas, alguns representantes das seis Lojas chegaram a
um cartório de Belo Horizonte para registrar a nova Obedi-
ência Maçônica. Por pouco, suas ações teriam sido frustra-
das. Dois minutos depois, chegava ao mesmo cartório o De-
legado do GOB com toda papelada que impediria o uso do
nome Grande Oriente de Minas Gerais.
Na ata de fundação do GOMG, reproduzida em obra
publicada por Jorge Lasmar6
, consta que a sessão fora presi-
dida por José Persival, Tenente Coronel da Polícia Militar de
Minas Gerais, que se tornou o primeiro Soberano Grão-
41
Mestre da nova Obediência. Persival, que era o Venerável
Mestre da Loja Deus, Humanidade e Luz, quando se deu a
intervenção, já havia atingido o Grau 33 dentro da Ordem.
Também consta na mesma ata o nome das Lojas que forma-
riam o GOMG: Deus, Humanidade e Luz, Major João Pereira,
“Vinte e hum de Fevereiro, Hiram, Caridade e Justiça e Doze
de Setembro.
Os primeiros anos de funcionamento do GOMG fo-
ram muito difíceis, a começar pela falta de uma sede pró-
pria. Em 1950, já com sete Lojas filiadas, iniciou-se um mo-
vimento para construção da sede em terreno doado pela
Prefeitura de Belo Horizonte. Seis anos após a sua criação,
em 12 de setembro de 1950, ocorreu a sagração do Templo,
sediado na Avenida Barbacena, nº 40.
Minas Gerais foi palco ainda de mais duas potências
maçônicas: O Grande Oriente Estadual Tiradentes de Minas
Gerais, subordinado ao GOB, criado em 17 de maio de 1953
e o Grande Oriente Estadual Tiradentes Independente,
criado em 1958, que, segundo Jorge Lamar, “desapareceu
por volta de 1959”5
.
Em 1957, o GOB e o GOMG assinaram um Tratado
de Fraternal Amizade, que resultou, em 1970, na fusão do
GOMG e o Grande Oriente Estadual Tiradentes de Minas Ge-
rais, ficando a nova potência com a denominação de GOMG.
Esse tratado, que tinha por objetivo pacificar a Maçonaria,
vinha dando bons frutos até 1973, quando ocorreram as
42
eleições que levaram a mais uma cisão. Os dirigentes do
GOMG reavaliaram a chamada incorporação, interpretando
que havia ocorrido uma fusão de sociedades que formava
uma nova pessoa jurídica, embasada em novos estatutos.
Com essa interpretação, o GOMG se declarou independente
do GOB. Assim, duas entidades alegavam representar o
Grande Oriente de Minas Gerais.
A reação do GOB resultou num Decreto de Interven-
ção datado de 28 de maio de 1973. Iniciava-se uma batalha
judicial, de longa duração, pelos direitos sobre o GOMG, in-
cluindo seus bens. Em 1991, os dirigentes do GOB implan-
taram uma política de boas relações não apenas com as
demais potências existentes no Brasil, mas também com
potências estrangeiras. Em junho daquele ano, o seu Grão-
Mestre Geral do GOB sancionou a lei que dava anistia plena
e geral a Grandes Orientes Estaduais, Lojas, Triângulos e
maçons que sofreram sanções em decorrência da crise de-
sencadeada pelas eleições de 1973.
Selando as boas relações e pacificando as duas po-
tências, o GOB e o GOMG assinaram, em 16 de março de
2019, um Tratado de Mútuo Reconhecimento e Amizade.
Iniciativa semelhante ocorreu em outros Grandes Orientes
Estaduais, numa demonstração clara de fortalecer as rela-
ções e manter os ideais maçônicos de liberdade, igualdade e
fraternidade. Foi dado, assim, um imenso passo na concreti-
43
zação do sonho de se estreitar as relações fraternas entre as
três potências brasileira.
Em janeiro de 2020, pouco mais de 75 anos após
sua fundação, o GOMG foi reconhecido internacionalmente
como uma Potência Maçônica. Com seis Lojas filiadas no ato
de criação, chegou a 225 Lojas quando saiu o reconhecimen-
to internacional. Na publicação List of Lodges Masonic, a ser
editada no ano de 2021 em Massachusetts (EUA), serão in-
cluídas as lojas filiadas ao GOMG.
44
Capítulo quatro
OS PRIMEIROS ANOS DA MAÇONARIA NO BRASIL
Não há consenso sobre qual foi a primeira Loja Ma-
çônica instalada no Brasil, e, portanto, sobre quando a Arte
Real passou a ser praticada em nosso país. Muitas publica-
ções consideram ser o Areópago de Itambé, fundado em
Pernambuco no ano de 1796, como a primeira Loja em terri-
tório brasileiro. Outros autores, em publicações mais recen-
tes, discordam dessa afirmação. Entre eles, Marcos Santiago
alega que o Areópago foi “uma sociedade política secreta,
que objetivava fazer de Pernambuco uma república, e da
qual faziam parte maçons e padres da Igreja Católica”1
. José
Castellani, historiador maçônico de grande prestígio, afir-
SANTIAGO, Marcos. Maçonaria, História e Atualidade. Londrina: Edito-
ra A Trolha, 1992, p. 147.
45
mou que “o Areópago, embora considerado o marco inicial
das organizações maçônicas no Brasil, não era uma verda-
deira Loja, tanto que o Padre João Ribeiro, que pertencia a
ele, teve que ser iniciado em Lisboa, o que, evidentemente,
leva a crer que, na época, não existia Loja regular naquela
região.”2
Algumas publicações recentes reconhecem o Areó-
pago de Itambé como um marco importante e precursor da
Maçonaria brasileira. Porém, afirmam que a primeira Loja
Maçônica fundada no Brasil foi a Cavaleiros da Luz. A fraga-
ta francesa La Preneuse, comandada pelo Capitão Larcher,
estava na costa brasileira e passou a receber visitas de mo-
radores das cercanias. Influenciados pelo Capitão, maçom
iniciado na França, os frequentadores da fragata fundeada
no litoral baiano, próximo ao Povoado da Barra, decidiram
criar a Loja Maçônica Cavaleiros da Luz, fato que ocorreu,
segundo relatos, no dia 14 de julho de 1797. Porém, também
não há consenso sobre a existência dessa Loja. O maçom,
professor e historiador da Universidade de São Paulo Ricar-
do Mário Gonçalves, citado por Raimundo Rodrigues3
, afirma
que a fragata La Preneuse jamais estivera no Brasil.
2
CASTELLANI, José. Do Pó dos Arquivos. Londrina: Editora A Trolha,
1995, p. 93.
3
RODRIGUES, Raimundo. A Filosofia da Maçonaria Simbólica. Londrina:
Editora A Trolha, 1999, p. 108.
46
AS PRIMEIRAS LOJAS MAÇÔNICAS NO BRASIL
Até que novas fontes possam elucidar toda a polê-
mica envolvendo os fatos narrados nos dois parágrafos an-
teriores, documentos mais robustos afirmam que a primeira
Loja Maçônica do Brasil foi criada no Rio de Janeiro em 1801
com o nome de Loja Maçônica Reunião. Sobre este assunto,
Frederico Guilherme da Costa afirma que “em 1801 a Loja
Reunião foi regulamentada e instalada sob o reconhecimen-
to do Oriente da Ilha da França”. O mesmo autor ainda diz:
“Se a Cavaleiros da Luz foi a primeira Loja Maçônica do Bra-
sil e o Areópago o primeiro núcleo secreto revolucionário, a
Loja Reunião, à luz dos documentos, respeitadas as leis e
tradições maçônicas, foi a primeira Loja Maçônica regular do
Brasil”4
.
Mario Verçosa, citado também por Raimundo Rodri-
gues, relaciona as seguintes lojas criadas no Brasil após a
Loja Reunião: Virtude e Razão, em Salvador (BA), em 1802;
Constância, Filantrópica, Emancipação e Beneficência, todas
no Rio de Janeiro (RJ), em 1803; Distintiva, em Niterói (RJ),
em 1812; Comércio e Artes, no Rio de Janeiro (RJ), em 1815;
Pernambuco Oriente e Pernambuco Ocidente, ambas em Re-
cife (PE), em 1815.
4
COSTA, Frederico Guilherme. Maçonaria Dissecada . Londrina: Editora
A Trolha, 1995, p. 93.
47
Em Minas Gerais, a primeira Loja maçônica foi criada
em Vila Rica, hoje Ouro Preto, que era a capital da província.
Às vésperas da visita do Príncipe Dom Pedro I, em 24 de
novembro de 1821, alguns maçons que viviam em Vila Rica,
liderados pelo francês Guido Thomás Marlièri, criaram a
Loja Mineiros Reunidos. O objetivo imediato era acolher e
apoiar o Príncipe Regente, que pouco antes havia tomado a
decisão de permanecer no Brasil, mesmo contra a vontade
da Corte Portuguesa que o queria de volta para depois re-
tornar o Brasil a condição de colônia. Essa loja teve vida
muito curta.
A segunda Loja maçônica criada em Minas Gerais se
deu em Uberaba, no ano de 1859. Os maçons que viviam na
cidade, motivados pelo desejo de se organizarem em defesa
da abolição da escravatura fundaram a Loja Amparo da Vir-
tude em 01 de junho de 1859, com registro no Grande Ori-
ente do Brasil (GOB) sob o número 129. Essa Loja permane-
ceu ativa por 11 anos e fechou quando a cidade passou por
um recesso econômico, forçando muitos membros daquela
oficina a voltarem aos seus Orientes.
A Loja maçônica em atividade mais antiga de Minas
Gerais, e em atividade, é a Fidelidade Mineira, que labora na
cidade de Juiz de Fora desde 1870. Inicialmente filiada ao
GOB, hoje está vinculada ao GOMG. Um fato histórico mar-
cante no Brasil se deu na Loja Juiz-Forana, onde foi acesa a
48
primeira lâmpada com energia elétrica da América do Sul. A
Usina de Marmelos, inaugurada em 1889, escolhera a sede
da Loja para mostrar aos brasileiros o invento de Thomas
Edison, feito dez anos antes.
No estado de São Paulo, onde está o maior número
de Lojas maçônicas do Brasil, a Maçonaria começou com a
fundação da Loja Intelligencia, em Porto Feliz, no ano de
1831. Entre os maçons ilustres iniciados naquela loja está o
Padre Diogo Antônio Feijó, Senador e Regente do Império.
Um ano depois, em 1832, era criada a segunda loja no Esta-
do do estado, a Loja Amizade. Os maçons Criscuolo e Nicá-
cio afirmam que “por ser a primeira da capital paulistana e
também por ter em seu seio, desde a fundação, membros
ligados à Faculdade do Largo São Francisco, (...) passou a ser
o centro da Maçonaria da Província, (...) com poderes de
fundar outras oficinas, que foram surgindo nos principais
municípios”.5
Nessa Loja foram iniciados Joaquim Nabuco e
Ruy Barbosa, dois grandes nomes do abolicionismo brasilei-
ro. Um fato curioso é que a Loja Amizade chegou a ter mais
de trinta padres em seu quadro de obreiros.
5
CRISCUOLO, Rodrigo A.; NICÁCIO, Hayran. A Fundação da Loja Ami-
zade “A Pioneira”. 2012, p. 6. Disponível em
http://www.lojaamizade.com.br/. Acesso em 14.12.2020.
49
ATUAÇÃO DA MAÇONARIA BRASILEIRA NA
INDEPENDÊNCIA E NA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA
Quando se fala nos primeiros anos da Maçonaria no
Brasil, não se pode deixar de mencionar a sua relação com
dois fatos históricos e relevantes para o país: a independên-
cia e a abolição da escravatura. Entre os articuladores da
independência, estavam os maçons José Bonifácio de An-
drada e Silva, Gonçalves Ledo e José Clemente. No movimen-
to abolicionista, destacam-se os maçons José do Patrocínio,
Barão do Rio Branco, Euzébio de Queiroz, Luis Gama, Joa-
quim Nabuco, Visconde de Rio Branco, Quintino Bocaiúva,
Saldanha Marinho, Ruy Barbosa, Barão de Mauá e outros.
Em 1822, com José Bonifácio como líder maior, a
Maçonaria brasileira articulava a entrada do Príncipe Regen-
te em seus quadros com o propósito de se fazer a indepen-
dência sem traumas e conflitos. Sendo assim, Dom Pedro I
foi iniciado em 02 de agosto de 1822 e, três dias depois,
numa ascensão rápida como nunca se viu, foi eleito Venerá-
vel Mestre, ocupando o cargo de Grão-Mestre logo em segui-
da, substituindo José Bonifácio. O maçom José Castellani
definiu muito bem esse momento histórico quando escreveu
que “a independência do Brasil era a meta dos fundadores
do Grande Oriente e logo todos eles dedicaram-se a conse-
gui-la, embora o processo de emancipação, nos meios maçô-
50
nicos, já tivesse sido iniciado antes de 17 de junho de
1822”.6
Além disso, a Maçonaria brasileira havia tomado pa-
ra si a bandeira da abolição. Este movimento vinha aconte-
cendo desde o início do século 19 e ganhou expressão inter-
nacional em 1825, quando um manifesto do maçom José
Bonifácio de Andrade e Silva foi revisto durante o seu exílio
em Bordéus e publicado em Paris no mesmo ano.7
Foi a pri-
meira manifestação de um homem público, com a notorie-
dade de José Bonifácio, a favor da abolição da escravatura.
A defesa abolicionista ganhou força entre os ma-
çons, culminando com o lançamento de uma campanha pela
emancipação dos escravos no Brasil lançada em 1865 por
Saldanha Marinho — na época Presidente da Província de
Minas Gerais —, que era o Grão-Mestre do Grande Oriente do
Brasil. Marinho escreveu: “Declara-se extinta a escravidão. É
o único caminho... Nenhum brasileiro que ame a sua pátria
pode deixar de ser pela abolição absoluta. Só a inépcia e a
improbidade administrativa podem sustentá-la”.8
6
CASTELLANI, José. Os Maçons na Independência do Brasil. Londrina:
Editora A Trolha, 1993, p. 45.
7
SILVA, Ana Rosa Cloclet da. De Império a Nação. In: Revista História
da Biblioteca Nacional. n. 24, 2007, p. 33.
8
MONTEIRO, Elson Luiz Rocha. A Maçonaria e a Campanha Abolicio-
nista no Pará: 1870-1888. Dissertação (Mestrado em História) - Univer-
sidade Federal do Pará. Belém, 2009, p. 41.
51
Em o todo país, a proposta da abolição lenta e gra-
dual foi abraçada pelos maçons, que, através das Lojas ou
mesmo de iniciativas próprias, atuavam junto ao governo
imperial na tentativa de contrapor aos interesses dos lati-
fundiários. Muitas ações, Brasil afora, passaram a ser im-
plementadas nas Lojas. Em 1870, Ruy Barbosa, que havia
entrado na Ordem há um ano, propôs um projeto que torna-
va obrigatório que “todas as lojas maçônicas brasileiras re-
servassem um quinto de suas receitas para alforriamento de
crianças escravas”.9
Percebe-se. Pois, que as principais leis que levaram à
abolição gradativa da escravidão no Brasil tiveram participa-
ção marcante de maçons. Alguns por assumirem postos-
chave no governo Imperial e outros, por suas atividades co-
mo escritores e jornalistas influentes, introduziram ideais
libertários dentro da sociedade civil. Desse modo, a proibi-
ção do tráfico de escravos, por lei promulgada em 1870, foi
elaborada pelo então Ministro da Justiça Eusébio de Queirós.
Já a Lei do Ventre Livre (1871), de Pimenta Bueno, foi defen-
dida no parlamento por Joaquim Nabuco e apresentada por
Visconde do Rio Branco. Finalmente, a Lei Áurea, que extin-
guiu a escravidão no Brasil, promulgada pela Princesa Isabel,
em 13 de maio de 1888, foi elaborada por Antônio Ferreira
9
COLUSSI, Eliana Lúcia. A Maçonaria Brasileira no Século XIX. São Pau-
lo: Editora Saraiva, 2002, p. 36.
52
Viana, que era Ministro da Justiça, e apresentada por Rodri-
go Augusto da Silva, então Ministro da Agricultura e Depu-
tado do estado de São Paulo. Na defesa do projeto de lei,
Rodrigo Silva contou com a intervenção providencial de Joa-
quim Nabuco na árdua tarefa de convencer os parlamenta-
res. Todos eles eram maçons.
53
Capítulo cinco
A MAÇONARIA EM UBERABA
Em meados do século XIX, Uberaba já era uma cida-
de bem desenvolvida e com uma vida cultural diferenciada.
No ano de 1868, sua população contava 7.681 habitantes,
sendo 21,3% escravizados.1
No município, a proporção de
negros, índios e mulatos em relação aos brancos era bem
menor que a existente no país. No Brasil, em 1877, numa
população de aproximadamente 10 milhões de pessoas,
mais de 6 milhões eram negros , índios e mestiços2
.
1
SAMPAIO, 2001. Citado por GOMES, Alessandra Caetano. Os Pretos
forros do Sertão da Farinha Podre: Um caso de equilíbrio entre os sexos
dos libertos de Uberaba-MG. 1840-1888. XIV Encontro Nacional de Es-
tudos Populacionais, ABEP, Caxambú-MG, Unesp Campus de Franca.
2004, p. 313.
2
GOMES, Laurentino. Escravidão. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2019. V.
1, p. 30.
54
O Arraial da Farinha Podre, primeiro nome dado à cidade de
Uberaba, tornou-se freguesia em 1820, vila em 1836 com a
denominação de Vila de Santo Antônio e de São Sebastião do
Uberaba e cidade em 1856. Ao se emancipar, o município já
tinha uma pecuária, um comércio e uma indústria conside-
rados desenvolvidos para os padrões da época, atraindo
muitos imigrantes. Entre os forasteiros, havia alguns ma-
çons que logo se identificaram com os mesmos ideais, liga-
dos especialmente em defesa das minorias. Assim, no ano
de 1859, maçons vindos de diferentes partes do Brasil, mo-
tivados especialmente pela necessidade de se organizarem
em benefício de objetivos comuns — sendo o mais relevante
deles a abolição da escravatura —, fundaram a primeira Loja
maçônica da cidade.
É oportuno lembrar que a Maçonaria, da forma que
conhecemos hoje, surgiu na Inglaterra após um longo perío-
do de conflitos religiosos em toda Europa, decorrentes da
Reforma Protestante. Isso explica o engajamento da Ordem
às causas humanitárias, como foi o caso da defesa ferrenha
ao fim da escravização.
PRIMEIRAS LOJAS MAÇÔNICAS EM UBERABA
Inicialmente, é relevante lembrar ao leitor que,
quando se fala da história da Maçonaria em Uberaba, Inácio
55
Ferreira é apresentado como referência indispensável. Em
1962 ele publicou Histórico da Maçonaria em Uberaba-MG 3
,
que retrata a fase áurea da instituição na cidade, especial-
mente no período entre 1859 e 1917. Seguem abaixo as suas
primeiras Lojas.
1- Loja Maçônica Amparo da Virtude
Sua fundação se deu em 01 de junho de 1859, com
registro no Grande Oriente do Brasil (GOB) sob o número
129. Segundo Inácio Ferreira, essa Loja se tornou capitular
em 01 de outubro de 1860 e benemérita em 10 de outubro
de 1867. Ela funcionava no Largo da Matriz, hoje Praça Rui
Barbosa, em um prédio que posteriormente abrigou o Cine
São Luiz.
No livro História da Maçonaria no Triângulo Minei-
ro, Antônio Pereira da Silva defende que em Minas Gerais a
Maçonaria começou efetivamente com a criação dessa Loja.
Ele argumenta que a Loja Mineiros Reunidos, criada em 1821
na capital da Província (Vila Rica), teve duração tão breve
que “seria pretensioso dizer-se que a maçonaria mineira
começou em Vila Rica”.4
3
FERREIRA, Inácio. Histórico da Maçonaria em Uberaba-MG. Uberaba:
Vetha Editora e Gráfica, 1987. pp. 15, 17-19, 22.
4
SILVA, Antônio Pereira da. História da Maçonaria no Triângulo Minei-
ro. Uberlândia: Ed. do Autor, 2015. pp. 11, 17.
56
01 – Cine teatro São Luiz, ano 1900, onde funcionava a Loja Amparo
da Virtude.
Além das ações em defesa da liberdade dos escravi-
zados, a partir do ano de 1865 a Loja Amparo da Virtude
abraçou outra causa humanitária, relacionada aos familiares
dos voluntários que serviram na Guerra do Paraguai. Em
1864, o Presidente do Paraguai Solano Lopes ordenou a a-
preensão do Vapor brasileiro Marquês de Olinda, e logo de-
pois seu exército invadiu a Província do Mato Grosso, inici-
57
ando um conflito que perdurou até 1870. Uberaba era o
ponto de convergência das tropas federais e de voluntários
que partiram com destino a Mato Grosso, resultando na de-
sastrada operação que ficou conhecida como Retirada da
Laguna. A força expedicionária reunida em Uberaba contava
com 1.575 soldados, a grande maioria de voluntários que
partiram deixando suas famílias na cidade. Ferreira (1987)
relatou que os maçons da Loja Amparo da Virtude incluíram
entre suas ações, “o amparo moral e financeiro às famílias
daqueles que eram convocados para a Guerra do Paraguai,
procurando visitá-las e tudo fazendo para que nada lhes
faltasse durante e após o conflito bélico”.
No mesmo livro, o maçom Inácio Ferreira, médico
psiquiatra com atuação destacada em ações humanitárias,
narra o encerramento das atividades da Loja Amparo da
Virtude: “Com o término da Guerra do Paraguai e com as
dificuldades de reajuste do País à vida normal, mormente
devido ao desgaste financeiro, a concentração de maçons em
Uberaba foi, aos poucos, diminuindo, pois os seus elementos
dispersaram-se voltando uns para suas cidades e retomando
outros os seus negócios, os quais, na época, geralmente o-
brigavam a viagens longínquas e demoradas. Foi assim que,
penosamente, a Loja Maçônica Amparo da Virtude acabou
encerrando suas atividades no ano de 1870”.
58
2- Loja Maçônica Amparo da Virtude II
Logo após a breve recessão causada pela Guerra do
Paraguai, Uberaba continuou em franco desenvolvimento, e
sua população em 1872 já era composta por 19.978 habitan-
tes, sendo 16,5% deles ainda escravizados.5
Os ideais aboli-
cionistas continuavam na mente dos integrantes da extinta
Amparo da Virtude e de outros maçons que haviam chegado
à cidade após o seu fechamento. Foi então que esse grupo
decidiu fundar aquela que seria a segunda Loja maçônica de
Uberaba. Intitulada Loja Amparo da Virtude II, sua fundação
se deu em 16 de maio de 1872, sendo elevada à Capitular
em 1874, com registro no Grande Oriente do Brasil sob o
número 221. Antônio Pereira da Silva, que fez uma ampla
pesquisa sobre a Maçonaria no Triângulo Mineiro, afirma
que “tudo foi registrado como que fosse uma nova loja, en-
tretanto, todos os indícios indicam que houve um renasci-
mento da velha Loja. Tanto que seu nome permaneceu”.4
5
Catálogo Histórico. Ano I, n.6, Uberaba, 1987. Citado por GOMES,
Alessandra Caetano. Os Pretos forros do Sertão da Farinha Podre: Um
caso de equilíbrio entre os sexos dos libertos de Uberaba-MG. 1840-
1888. XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, Caxam-
bú-MG, Unesp Campus de Franca. 2004, p. 3.
59
Para servir de templo à Amparo da Virtude II, seus
obreiros compraram uma casa no Beco da Dona Luísa, que
passou a ser chamado de Beco da Maçonaria, hoje Rua Major
Eustáquio. O livro Histórico da Maçonaria em Uberaba traz a
relação de vinte maçons que pertenceram a essa Loja.
A segunda Loja maçônica de Uberaba funcionou de
1872 a 1890. Ferreira relata que seu esfacelamento se deu
“pelas pressões junto até às famílias dos próprios maçons.
Essas pressões medonhas foram reforçadas pelas campa-
nhas de ódio e vingança dos poderosos que haviam perdido
o braço escravo e viam os seus campos abandonados, mes-
mo porque os libertos, na euforia do fim do cativeiro, temi-
am voltar aos trabalhos rurais, ante a possível represália dos
seus antigos senhores, ao tê-los de novo em suas mãos...”
Um pouco de conhecimento sobre a história da o-
cupação das terras na região de Uberaba ajuda a entender a
pressão exercida sobre a Maçonaria naquela época. Com o
esgotamento do ouro na região, houve um crescimento mui-
to grande no interesse por sesmarias, já que as terras eram
planas e parte delas férteis especialmente as que ficavam às
margens dos rios. Rezende (1983), citada por Fonseca6
, a-
firma que “as terras eram quase sempre doadas ou vendidas
6
FONSECA, André Azevedo da. Uma História Social de Uberaba. Histó-
ria Revista. Goiânia, v. 19. n. 1. 2014. p. 201.
60
por um preço irrisório e não eram oneradas com impostos”.
Para André Fonseca, “isso fez com que alguns poucos patri-
arcas de prestígio se tornassem proprietários de fazendas
muito extensas, firmando assim um domínio territorial atra-
vés de clãs familiares. A ascendência da pecuária consolidou
o poder dos fazendeiros que, mais tarde, monopolizariam
também as atividades comerciais”.6
Esses clãs familiares usavam mão de obra escrava, e,
portanto, não somente eram contra a abolição da escravatu-
ra, como também empregavam quaisquer meios para elimi-
nar os seus defensores. Assim, a Maçonaria, que amparava a
população escravizada, era vista como inimiga dessa classe
influente. Por razões óbvias, nas publicações que trazem as
relações dos maçons integrantes das primeiras Lojas de U-
beraba, não se encontram nomes de famílias tradicionais
que pertenciam a esses clãs.
3- Loja Maçônica União Fraternal
Seis anos após o encerramento das atividades da
Amparo da Virtude II, com os ânimos mais arrefecidos na
sociedade uberabense, surge a terceira Loja maçônica na
cidade, intitulada Loja União Fraternal, fundada em 01 de
fevereiro de 1896, com registro no GOB sob o número 496.
A motivação que levou os maçons dispersos em Ube-
raba a reerguerem a Maçonaria local foi a continuidade da
61
grandiosa obra iniciada pelo Frei Eugênio Maria de Gênova,
imigrante italiano. No ano de 1858, constatando a precarie-
dade do atendimento médico, especialmente à classe mais
humilde, Frei Eugênio fundou a Santa Casa de Misericórdia.
Treze anos depois, o religioso, que pertencia à Ordem dos
Capuchinhos, faleceu sem concluir a obra. Passados 25 anos
do seu falecimento, o hospital continuava sem conclusão,
sendo parte dele utilizada pelo Colégio Nossa Senhora das
Dores, e a área no seu entorno, cerca de 70 ha, por uma
congregação ligada à Igreja Católica.
Então, a Loja União Fraternal passou a defender aber-
tamente a necessidade de concluir a obra e de colocá-la em
funcionamento. Para arrecadar os vultuosos recursos neces-
sários, os maçons participaram ativamente das campanhas
para arrecadação de fundos como quermesses, festas, preca-
tórias e subscrições. Em 1896, uma nova mesa diretora foi
eleita, tendo Luis Soares Pinheiro Júnior como Provedor. Luis
Soares era o Venerável Mestre da Loja União Fraternal e con-
tou com o apoio irrestrito dos irmãos maçons. Assim, no dia
14 de junho de 1898, Uberaba estava em festa com a inau-
guração da Santa Casa, uma obra grandiosa, com 2.555 m2
.
A Maçonaria Universal vicejava, mesmo com a oposi-
ção de Igreja Católica e dos conservadores contrários aos
ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Em Uberaba
não era diferente. Entretanto, “o que a pressão e a força do
inimigo não conseguiram, conseguiu-o... o fogo!”. Nessa fra-
62
se, Inácio Ferreira (1987) se refere ao incêndio que destruiu
o templo que havia abrigado as Lojas Amparo de Virtude II e
União Fraternal, bem como todos os arquivos das três pri-
meiras Lojas que existiram em Uberaba.
Sobre o fogo, o historiador uberabense José Mendon-
ça (apud FERREIRA, 1987) conta que o bêbado e morador de
rua apelidado de “Pedro Peru” ateara fogo no prédio da Ma-
çonaria, à Rua Senador Pena (na verdade, a Loja ficava na
rua Major Eustáquio). No entanto, ainda pairam dúvidas so-
bre a autoria do crime.
Em 1906, a União Fraternal, que fora uma Loja atuan-
te e com grande número de obreiros, encerrou suas ativida-
des, enfraquecida por um fato lamentável que o leitor toma-
rá conhecimento no parágrafo seguinte.
4- Loja Maçônica Pátria Universal
A tolerância pregada no âmbito da Maçonaria não foi
capaz de sobrepujar a querela entre dois maçons da União
Fraternal: em 10 de junho de 1897, por motivos políticos,
Artur Lobo assassinou Antônio Pereira de Artiaga. O crime
se deu nas dependências da Escola Normal, que funcionava
no prédio da União Fraternal.
O homicídio levou mais de uma centena de maçons a
fundarem uma nova Loja intitulada Pátria Universal, a qual
funcionou um período na Rua Artur Machado, nº 86, num
63
sobrado pertencente a Pascoal Toti. Sua fundação se deu em
1º de maio de 1898 e a elevação à Capitular, em 1899, com
registro no Grande Oriente do Brasil sob o número 590. As-
sim, pela primeira vez, Uberaba tinha duas Lojas maçônicas
em atividade.
Nessa fase áurea da Maçonaria uberabense, muitos de
seus membros eram imigrantes que chegaram à cidade atra-
ídos pelo desenvolvimento pujante da região. Entre eles es-
tava Felipe Aché, um médico carioca que se tornou o Vene-
rável Mestre da Loja em 1899 e, em 1908, foi eleito o primei-
ro Prefeito de Uberaba pertencente à Ordem maçônica.
Não se sabe ao certo quando essa Loja encerrou suas
atividades e nem mesmo o motivo que levou a isso. Inácio
Ferreira (1987) relata uma iniciação ocorrida lá em 1906, o
que nos leva a concluir que ela funcionou pelo menos até
esse ano.
LOJAS MAÇÔNICAS ATIVAS EM UBERABA
Enquanto esta obra estava sendo escrita, no ano de
2020, havia 16 Lojas maçônicas em atividade no município
de Uberaba. Oito delas são jurisdicionadas à Grande Loja
Maçônica de Minas Gerais, quatro, ao Grande Oriente de Mi-
nas Gerais e as outras quatro, ao Grande Oriente do Brasil.
Todas elas são associadas sob a liderança da União de Lojas
Maçônicas de Uberaba e Região, que apoia e promove ações
64
de integração entre as Lojas através de sessões conjuntas,
comemorações e outros eventos que reafirmam os laços de
união fraternal entre os maçons.
1. Loja Maçônica Estrela Uberabense
É a Loja maçônica de Uberaba com o período mais
longo de atividades, passando já de um século de funciona-
mento. Foi instalada em 17 de janeiro de 1918 e regulariza-
da em 25 de julho do mesmo ano, com registro no Grande
Oriente do Brasil (GOB) sob o número 941.
02 – Loja Estrela Uberabense, a mais antiga de Uberaba, em atividade.
65
Os fatos que levaram à sua fundação se deram no
final de 1917. Na cidade havia muitos maçons egressos das
Lojas União Fraternal e Pátria Universal, bem como outros
que vieram de diferentes cidades. Reunidos no dia 29 de
dezembro de 1917, fundaram a Loja Maçônica Caridade e
União. Porém, 19 dias depois, eles decidiram anular as atas e
as decisões anteriores e fundaram outra Loja — a Estrela
Uberabense.
Sediada na Praça Comendador Quintino, nº 272, suas
reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem na 1ª, 2ª
e 3ª terças-feiras do mês, às 20 horas.
2. Loja Maçônica Estrela do Triângulo
Por 45 anos havia apenas a Loja Estrela Uberabense
em atividade regular no Oriente de Uberaba, até o momento
em que alguns maçons daquela oficina decidiram fundar a
ARLS Estrela do Triângulo, de nº 27, sob a jurisdição do
Grande Oriente de Minas Gerais (GOMG). Isso se deu em 17
de junho de 1963.
Com sede à Rua Ituiutaba, nº 180/166, suas reuniões,
no Rito Moderno, ocorrem nas segundas-feiras, às 20 horas.
66
3. Loja Maçônica Avenir Miranzi
Fundada em 13 de dezembro de 1973, com a deno-
minação Loja Estrela Uberabense Livre. Somente em 13 de
dezembro de 1979, passa a ser designada pelo título distin-
tivo Augusta e Respeitável Loja Simbólica Avenir Miranzi, nº
113. No capítulo seguinte, a história dessa Loja, filiada ao
GOMG, é apresentada com maior detalhamento.
03 – Loja Avenir Miranzi, que nasceu como Estrela Uberabense Livre.
Com sede à Rua Cel. Joaquim de Oliveira Prata, nº
1489, suas reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocor-
rem nas terças-feiras, às 20 horas.
67
4. Loja Maçônica Vinte de Agosto Uberabense
Fundada em 20 de agosto de 1977, sob a jurisdição
das Grandes Lojas do Estado de Minas Gerais, filiou-se pos-
teriormente ao Grande Oriente de Minas Gerais (GOMG), re-
cebendo o número de registro 179.
Sediada na Av. Santos Dumont, nº 2650, suas reuni-
ões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas segundas-
feiras, às 20 horas.
5. Loja Maçônica Irmãos do Triângulo
Essa Loja foi fundada em 08 de agosto de 1980, sob a
jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o
número de registro 095.
Sediada na Av. da Saudade, nº 1085, suas reuniões,
no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas segundas-
feiras, às 20 horas.
6. Loja Maçônica Obreiros do Bem
Sua fundação se deu em 08 de janeiro de 1982, sob a
jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o
número de registro 120.
Sediada na Av. da Saudade, nº 1085, suas reuniões,
no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas sextas-feiras,
às 20 horas.
68
7. Loja Maçônica Quatro de Junho Uberabense
Fundada em 04 de junho de 1983, sob a jurisdição da
Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o número de
registro 158.
Com sede à Av. da Saudade, nº 1085, suas reuniões,
no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas quintas-feiras,
às 20 horas.
8. Loja Maçônica Sete Colinas
Fundada em 12 de junho de 1985, sob a jurisdição da
Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o número de
registro 201.
Com sede à Av. Santos Dumont, nº 2650, suas reuni
ões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas terças-
feiras, às 20 horas.
9. Loja Maçônica Estrela de Damasco
Fundada em 05 de novembro de 1988, sob a jurisdi-
ção do Grande Oriente do Brasil, com o número de registro
2512.
Sediada na Praça Comendador Quintino, nº 272, suas
reuniões, no Rito Adonhiramita, ocorrem nas segundas-
feiras do mês, às 20 horas.
69
10. Loja Maçônica Fraternidade Uberabense
Sua fundação se deu em 28 de junho de 1996, sob a
jurisdição do Grande Oriente do Brasil, com o número de
registro 2958.
Sediada na Praça Comendador Quintino, nº 272, suas
reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas quin-
tas-feiras, às 20 horas.
11. Loja Maçônica Capitólio das Águias Uberabense
Sua fundação se deu em 02 de dezembro de 2002,
sob a jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais,
com o número de registro 284.
Sediada à Rua Artur Machado, nº 40, 4º andar, suas
reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas se-
gundas-feiras, às 20 horas.
12. Loja Maçônica Acadêmica União Uberabense
Fundada em 12 de maio de 2005, sob a jurisdição do
Grande Oriente do Brasil, com o número de registro 3661.
Sediada na Praça Comendador Quintino, nº 272, suas
reuniões, no Rito Brasileiro, ocorrem nos 1º e 3º sábado do
mês, às 18 horas.
70
13. Loja Maçônica Templários de Uberaba
Sua fundação se deu em 18 de fevereiro de 2009, sob
a jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com
o número de registro 324.
Sediada na Av. Santos Dumont, nº 2650, suas reuni-
ões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas terças-
feiras, às 20 horas.
14. Loja Maçônica Ricardo Misson
Sua fundação se deu em 27 de janeiro de 2011, sob a
jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o
número de registro 334.
Sediada na Rua José Eustáquio de Melo, nº 1.499, Jar-
dim Laranjeiras, suas reuniões, no Rito Escocês Antigo e
Aceito, ocorrem nas segundas-feiras, às 20 horas.
15. Loja Mineira de Estudos e Pesquisas Maçônicas
Fundada em 16 de fevereiro de 2017, sob a jurisdição
do Grande Oriente de Minas Gerais, recebeu o número de
registro 342.
Sediada na Av. Santos Dumont, nº 2650, suas reuni-
ões, no Rito de York , ocorrem nas últimas quintas-feiras do
mês, às 20 horas.
71
16. Loja Maçônica Frank Sherman Land
Sua fundação se deu em 30 de maio de 2019, sob a
jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o
número de registro 380.
Sediada na Av. Santos Dumont, nº 220, 2º andar, suas
reuniões, no Rito de York, ocorrem a cada quinze dias, nas
segundas-feiras das semanas ímpares, às 20 horas.
72
Capítulo seis
HISTÓRIA DA ARLS AVENIR MIRANZI
Em 1973 havia apenas uma Loja maçônica em Ubera-
ba — Loja Estrela Uberabense —, filiada ao Grande Oriente
do Brasil (GOB). O ano havia começado, e o assunto mais
comentado nos meios maçônicos eram as eleições gerais
para o GOB, marcadas para fevereiro daquele ano. O Grão-
Mestre Geral tinha o candidato de sua preferência e não re-
cebeu de bom grado a informação de que o Grão-Mestre de
Minas Gerais, Athos Vieira de Andrade, lançara-se como
candidato da oposição. O processo eleitoral caminhava na
normalidade, e a oposição recebia grande apoio não só em
Minas Gerais e em São Paulo, estados com maior número de
eleitores maçônicos, mas também em outros estados da fe-
deração.
Preocupados com a lisura das apurações, os oposito-
res lançaram um manifesto que, entre outros assuntos, soli-
73
citava cópias das atas das eleições. No livro A História do
Grande Oriente de Minas Gerais, o autor Jorge Lasmar des-
creve o desfecho da apuração paralela: “ao se proceder a
apuração, confirmaram-se os prognósticos. Athos Vieira de
Andrade recebeu 7.175 votos e a Osmane Vieira de Resende
coube o restantes de votos, 3.820”.1
Entretanto, o resultado
oficial divulgado pelo GOB informava a vitória de Osmane
(com 2.129 votos) sobre Athos (1.107 votos). Sobre o ocorri-
do, Castellani e Carvalho escreveram: “no Tribunal (Eleitoral)
mais de 6 mil votos de Athos foram anulados, enquanto
Osmane perdeu menos de 2 mil, tendo, isso, acontecido sob
alegação de débitos com o poder central e preenchimento
irregular das atas das eleições”. Os mesmos autores afirma-
ram ainda que “todo o processo ocorreu num ambiente bas-
tante agitado, já que os representantes da chapa oposicio-
nista, na apuração, alegavam fraudes na anulação das atas
eleitorais, com parcialidade do tribunal, em favor dos candi-
datos oficiais”.2
LASMAR, Jorge. História do Grande Oriente de Minas Gerais e Outras
Histórias. Belo Horizonte: Lithera Maciel Editora Gráfica Ltda, 1999, pp.
148-162.
2
CASTELLANI José; CARVALHO, William Almeida de. História do Gran-
de Oriente do Brasil: A Maçonaria na História do Brasil. São Paulo: Ma-
dras, 2009, p. 264.
74
Segundo Camelier (apud LASMAR, 1999), que fora ex-
pulso do GOB por se posicionar contra o resultado oficial
das eleições, “na semana que antecedeu o pleito, o GOB en-
viou para as lojas que mostravam simpatia pela candidatura
de Athos materiais não solicitados (rituais, exemplares da
constituição, etc), de forma que no dia da eleição elas esti-
vessem em débito... Assim, os votos foram sendo anula-
dos”.1
A imprensa brasileira deu grande destaque ao assun-
to. Em seu livro, Lasmar cita uma passagem da revista se-
manal O Cruzeiro publicada no dia 30.05.1973: “segundo o
processo eleitoral, os dirigentes (do GOB) teriam usado de
vários expedientes para favorecer o candidato oficial”.1
A forma com que foi conduzido o processo eleitoral
acabou por formar dois grupos com pensamentos antagôni-
cos dentro da Loja Estrela Uberabense. Um deles, liderado
pelo então Venerável Mestre Elbas Ferreira de Almeida, não
aceitava o resultado oficial, considerando-o fraudulento.
Assim, os maçons que apoiavam essa ideia — entre eles,
Inimá Baroni, Alfen Silva, Avenir Miranzi, Célio de Oliveira,
José Expedito de Oliveira e Ivo Ribeiro de Sousa — passaram
a promover várias reuniões para discutir o assunto e definir
as ações que seriam tomadas. Essas assembleias de caráter
informal se deram em diferentes locais, sendo o mais recor-
rente deles a Churrascaria El Toro, que ficava na Rua Artur
Machado. Posteriormente, outros maçons da Loja foram se
75
juntando ao grupo e, por fim, decidiram fundar uma Loja
sob a jurisdição do Grande Oriente de Minas Gerais.
Em 13 de dezembro de 1973, a ata de fundação da
Loja Estrela Uberabense Livre estava lavrada, tendo como
primeiro Venerável Alfen Silva. Filiada ao Grande Oriente de
Minas Gerais (GOMG), a nova Loja se reunia no templo da
Estrela do Triângulo, que na época era um prédio bem sim-
ples, localizado nos fundos do terreno onde foi edificado o
templo definitivo daquela Loja. Passada a exacerbação ge-
rada pela dissidência, os membros decidiram mudar o de-
nominação para Loja Maçônica Pilar de Pedras, desvinculan-
do-se do nome de origem, como sinal de que os ressenti-
mentos haviam ficado no passado.
Enquanto tramitava a documentação para mudança
de nome, ocorreu a morte precoce do irmão Avenir Miranzi,
um dos sete idealizadores da nova oficina. Em 29 de no-
vembro de 1977, apenas cinco dias após a passagem de A-
venir para o Oriente Eterno, o irmão Elbas Ferreira de Al-
meida propôs uma nova mudança no nome da Loja com o
intuito de homenagear o irmão que soube engrandecer a
Ordem maçônica. Assim, na reunião da semana seguinte, a
proposta foi discutida e aprovada, e a permissão para mu-
dança do nome pelo GOMG se deu em 12 de setembro de
1979 através do Ato 045, assinado pelo Grau-Mestre Acácio
Paulino de Paiva. Por fim, a Loja Estrela Uberabense Livre
passou a se denominar Augusta e Respeitável Loja Simbólica
76
Avenir Miranzi Número 113 somente em 13 de dezembro de
1979, data em que o Grande Oriente de Minas Gerais
(GOMG) homologou a nova nomenclatura.
Fac-símile do Ato nº 045, de 12 de setembro de 1979, aprovando a
mudança de título distintivo de Loja Maçônica Estrela Uberabense
Livre para Augusta e Respeitável Loja Simbólica Avenir M|iranzi.
77
04 – Vista interna do templo da Loja Avenir Miranzi
Para o GOMG, a data de nascimento da Loja Avenir
Miranzi é 13 de dezembro de 1979. Contudo, avaliando os
fatos com maior rigor histórico, é possível afirmar que seu
nascimento se deu seis anos antes, em 13 de dezembro de
1973, data da criação da Loja Estrela Uberabense Livre. O
próprio GOMG, no Ato reproduzido na página anterior, de-
clara que “a Loja Maçônica Estrela Uberabense Livre passa a
ser designada pelo título distintivo Augusta e Respeitável
Loja Simbólica Avenir Miranzi”.
78
O PATRONO DA LOJA
Avenir Miranzi nasceu em Uberaba no dia 22 de ja-
neiro de 1922. Descendente de imigrantes italianos, herdou
a fábrica de cerâmicas do pai e, estando bem sucedido nos
negócios, expandiu suas atividades nas áreas de refloresta-
mento e avicultura.
Mesmo com muitas atribuições profissionais, Miranzi
conseguia conciliar suas atividades, dedicando boa parte de
seu tempo em benefício aos mais necessitados. Foi um dos
fundadores do Hospital da Beneficência Portuguesa, diretor
do Instituto dos Cegos do Brasil Central e membro da dire-
toria da Associação de Amparo aos Leprosos.
05 – Avenir Miranzi
79
Foi admitido maçom na Loja Estrela Uberabense, on-
de teve atuação destacada por muitos anos, inclusive com
mandato de Venerável por três gestões. Juntou-se ao grupo
de obreiros dissidentes de sua Loja-Mãe que, em 13 de de-
zembro de 1973, fundou a Loja Estrela Uberabense Livre.
Faleceu precocemente em 24 de novembro de 1977, aos 55
anos de idade.
Na reunião da Estrela Uberabense Livre ocorrida cinco
dias após o falecimento do Avenir, o obreiro Elbas Ferreira
de Almeida propôs que a nova denominação da Loja, Pilar
de Pedras, fosse alterada para Augusta e Respeitável Loja
Simbólica Avenir Miranzi, como forma de reconhecimento
ao maçom exemplar que soube cultivar virtudes e cavar
masmorras aos vícios.
CONSTRUÇÃO DO TEMPLO
Inicialmente, as reuniões da Loja eram realizadas no
templo da Loja Estrela do Triângulo, e discussões acaloradas
sobre a construção de um santuário próprio ocorriam em
quase todas as sessões. O primeiro obstáculo era adquirir o
espaço físico para a edificação, mas os recursos em caixa
eram escassos e o anteprojeto demandava a aquisição de
três terrenos.
80
Em sessão econômica, no dia 08 de agosto de 1978, o
irmão José Expedito de Oliveira ofereceu metade de um ter-
reno que lhe pertencia, sugerindo que a Loja adquirisse o
restante de seu sócio. Na mesma reunião, eufórico pela doa-
ção que acabara de ser apalavrada, José Borges da Silva a-
nunciou que doaria todos os tijolos. Na sessão que ocorreu
quinze dias depois, o Venerável Alfen Silva comunicou que a
Loja já tinha a posse provisória de um terreno e que buscava
alternativas para adquirir os outros. Não passou muito tem-
po e mais uma vez um irmão do quadro teve um ato de al-
truísmo. Trata-se de Miguel Jorge Dib, que tinha alguns ter-
renos na avenida onde seria construída a Loja. Com poucas
palavras, ele conseguiu convencer seu irmão e sócio, Jamil
Dib, a doar os dois terrenos que faltavam para edificar o
templo.
A escritura e a posse definitiva dos terrenos só se
deram após a fundação da Fraternidade Feminina Pilar de
Pedra, em 1º maio de 1979. A Loja Avenir Miranzi havia de-
cidido que a Fraternidade seria sua mantenedora e, portan-
to, receberia os imóveis em seu nome, evitando uma possí-
vel ação do Grande Oriente do Brasil — que continuava de-
mandando as Lojas dissidentes, alegando direitos sobre os
seus bens.
Para conduzir a obra, as responsabilidades e as a-
tribuições foram definidas consensualmente: Célio de Olivei-
ra e Gilberto Machado Magnino seriam os encarregados de
81
administrar a construção; Eurípedes de Freitas, o engenheiro
responsável técnico; Oliveiro Nery da Silva iria supervisionar
os trabalhos do mestre de obras José Garcez em tempo inte-
gral e Alfen Silva se incumbiria das normas do Rito Escocês
Antigo e Aceito para decoração do templo.
Todos os profissionais de Engenharia e Arquitetura
envolvidos na obra não cobraram honorários. O projeto ar-
quitetônico foi feito por Aderlon Francisco de Assis Gomes e
o cálculo estrutural, pelo engenheiro Ari Maciel da Costa. O
desafio seguinte era levantar recursos para a construção.
Afinal, era uma obra grande, com área construída de
412,00m2
(templo com 102,50 m2
) e prevista para abrigar
até 120 pessoas. Alem do templo, o prédio tinha áreas des-
tinadas à diretoria, biblioteca, vestiário, espaço gourmet,
sanitários, almoxarifado, sala dos “passos perdidos” e sala
de reflexões.
Em 24 de junho de 1979, com as escrituras dos três
terrenos já lavradas e o projeto arquitetônico em mãos, vá-
rios maçons, sendo a maioria da Loja Avenir Miranzi, reuni-
ram-se para o lançamento da pedra fundamental.
A construção teve início logo a seguir, em ritmo mo-
derado, já que as finanças não permitiam de outra forma,
pois os recursos disponíveis tinham sido suficientes apenas
para respaldar os alicerces. O ambiente em Loja evidenciava
o desânimo e o pessimismo de alguns irmãos pelo imenso
82
desafio — a edificação de um templo com mais de 400 m2
de
área. Foi então que a liderança e o dinamismo do Venerável,
irmão Celinho, fez-se presente mais uma vez.
06 – Lançamento da pedra fundamental. José Borges da Silva (1); Ma-
noel Lopes de Oliveira (2); Sebastião Cardoso (3); Joaquim Adolfo
Palhares (4); Celso Pereira de Almeida (5); Célio de Oliveira (6); Rai-
mundo Gomide (7); José Expedito de Oliveira (8) e José Parreira de
Jesus (9).
Durante uma das sessões semanais, Celinho conduziu os
trabalhos de forma muito objetiva e, uma hora após o início,
anunciou que encerraria os trabalhos “com um simples gol-
83
pe de malhete”. Em seguida, solicitou a todos os presentes,
sem exceção, que o acompanhassem em visita ao local da
construção. Pairava no ar um sentimento de dúvida e curio-
sidade. Muitos pensaram: “Como? Visita a uma hora dessa e
no escuro?”
Passava pouco das 21 horas quando os visitantes no-
turnos caminhavam lentamente no escuro, tateando uma
pilha de tijolos e outros objetos espalhados pela obra. De
repente, o ambiente se fez claro. Os irmãos Feliciano Fantini,
Gilberto Magnino e Ayres Vieira acenderam algumas luminá-
rias pendentes, preparadas anteriormente pelo mentor da-
quela visita. Em entrevista, Gilberto Magnin relatou que,
“com os irmãos ainda admirados pela surpresa, Celinho ini-
ciou um pronunciamento tão espontâneo e sincero que e-
mocionou a todos os presentes. Muitos ainda engoliam em
seco e enxugavam as lágrimas quando foram servidos salga-
dinhos e refrigerantes”.3
Aquela visita, arquitetada pelo irmão Celinho, foi
um marco na construção do templo. Os membros da Loja,
contaminados pelo otimismo vibrante de seu líder, empe-
nhavam-se ao máximo. O irmão Paulo Roberto Batista de
Carvalho doou toda a areia, a terra e o cascalho. Já o cimen-
to fora ofertado pelo Banco Francês e Brasileiro, resultante
de uma intermediação com o diretor da instituição feita pelo
irmão Gilberto Magnino.
3
Comunicação oral com Gilberto Machado Magnino, em julho de 2020.
84
Em 04 de julho de 1980, por ocasião da concretagem
da laje dos “passos perdidos”, dez membros da Loja e ou-
tros simpatizantes da Ordem empunharam ferramentas e
latas com concreto, numa união de forças como prega o
Salmo 133.
07 – Concretagem da laje dos “passos perdidos”. Da esquerda para a
direita: operário da obra não identificado; Ayres José Vieira; José
Silvério de Almeida Filho; Gilberto Machado Magnino; Feliciano
Fantini e Célio de Oliveira
Várias campanhas foram feitas para angariar fundos,
como rifas, bingo, galinhada e festival de chope. Partiu tam-
85
bém, do irmão Gilberto, outra doação de vulto. Ele próprio
ofertou um terreno para ser rifado e cada irmão se respon-
sabilizou por 25 bilhetes. Outra rifa, de um chaveiro de ouro
doado pelo irmão José Ferreira (Quinha), rendeu, em valores
atualizados para 2020, cerca de 25 mil reais. As telhas fo-
ram doadas pela família de Avenir Miranzi. Donativos em
dinheiro e materiais foram feitos por vários irmãos, inclusi-
ve de outras Lojas. Alguns doadores preferiram permanecer
no anonimato, como dois irmãos da Loja que doaram uma
carga de um caminhão de cimento usado na edificação.
O ano de 1982 já estava pelo meio quando, em reuni-
ão da Loja, o Venerável Célio de Oliveira empunhou o malhe-
te, bateu-o com força acima do normal, e disse:
— Pasmem os irmãos! — Ele empregava muito essa
expressão quando estava eufórico — O templo, que ao ser
iniciado previa a conclusão para depois do ano 2000, está
nos retoques finais.
Em seguida, Celinho nomeou uma comissão para pla-
nejar e organizar os festejos de sagração do templo. A sole-
nidade, que se deu no dia 21 de agosto de 1982, foi tão con-
corrida que parte dos convidados teve que ser acomodada
na antessala. Autoridades maçônicas, entre elas o Grão-
Mestre Athenágora Café Carvalhaes, e civis, como o Prefeito
de Uberaba Silvério Cartafina Filho, prestigiaram o evento.
86
O êxito da edificação do templo deve ser atribuído a
todos os irmãos do quadro que se desdobraram ao máximo,
cada um dentro de suas possibilidades. Não obstante, justi-
ça deve ser feita à liderança do irmão Célio de Oliveira, que
soube ultrapassar todos os obstáculos ao longo daquela ma-
ratona. Em matéria intitulada Maçonaria e Construção, pu-
blicada no jornal Pilar de Pedras, o irmão Cecílio Silva escre-
veu: “Para construção do nosso templo... a fraternal união
dos irmãos e a amiga colaboração de co-irmãs, cujo senti-
mento de solidariedade maçônica jamais nos faltou, contri-
buíram de modo inequívoco para o êxito de tão admirável
campanha. E, dentre esses denodados irmãos, foi Célio de
Oliveira a célula-mater desse arrojado e audacioso empreen-
dimento”.4
Em entrevista, a cunhada Maria Odete de Oliveira5
, vi-
úva de Célio de Oliveira, disse que, por ocasião da constru-
ção do templo, a família teve que se ajustar às finanças do-
mésticas, até com algumas privações. Isso ocorreu várias
vezes porque o caixa da Loja nem sempre conseguia cumprir
os compromissos financeiros decorrentes da construção, e o
líder principal daquela empreitada tirava recursos do pró-
prio bolso para que a instituição honrasse seus compromis-
sos.
4
SILVA, Cecílio. Pilar de Pedra. Novembro, 1980, ano I, n 1, p. 2.
5
Comunicação oral com Maria Odete de Oliveira, em maio de 2020.
87
Célio de Oliveira é lembrado não só pelo grande edi-
ficador do templo, mas também como exemplo de cidadão
que estava sempre pronto a servir ao próximo. Tanto é que a
Loja Avenir Miranzi concede, a cada biênio, uma comenda
que leva o seu nome a maçons que se destacam por ações de
cidadania.
TÍTULOS E CONDECORAÇÕES
Em 20 de dezembro de 1980, reconhecendo seus re-
levantes serviços filantrópicos e assistenciais, o município
de Uberaba, através da Lei nº 3.066, fez uma declaração de
utilidade pública à Loja Avenir Miranzi. Em 29 de agosto de
1985 foi a vez de o estado de Minas Gerais fazer o mesmo
através da Lei Estadual nº 8.914.
Do Grande Oriente de Minas Gerais, a Loja recebeu
as seguintes condecorações: Medalha Tiradentes (1983), Loja
Benemérita (2007) e Loja Grande Benemérita (2012).
FRATERNIDADE FEMININA PILAR DE PEDRAS
Em 01 de maio de 1979 foi fundada a Fraternidade
Feminina Pilar de Pedras, instituição dirigida pelas esposas
dos maçons da Loja Avenir Miranzi. Trata-se de uma entida-
de filantrópica com projetos sociais voltados a comunidades
carentes de Uberaba. Como Célio de Oliveira tomaria posse
como Venerável Mestre no mês seguinte à fundação, sua
88
esposa Maria Odete de Oliveira foi escolhida como a primei-
ra presidente da entidade.
Enquanto não havia local próprio, as reuniões eram
feitas em uma sede provisória, na Rua Ituiutaba nº 10, ou
mesmo nas casas das fraternistas, em sistema de rodízio. As
primeiras iniciativas para a construção de um prédio pró-
prio começaram em 1982. Entretanto, foi somente em 1986
que o Venerável Mestre, Ivo Ribeiro de Sousa, adquiriu um
terreno anexo à Loja destinado à construção de um prédio
próprio.
O irmão Ivo, que esteve à frente da construção, lide-
rou um movimento para arrecadar recursos, e os obreiros se
cotizaram, o que permitiu o pagamento do terreno e o início
das obras. Não faltaram solidariedade e apoio dos obreiros à
nova causa. Doações mais diversas, como cimento, areia,
pedras, materiais de acabamento e até o telhado resultaram
de ações voluntárias. O engenheiro Ivo Ribeiro de Sousa Fi-
lho foi o responsável técnico da obra, sem qualquer remune-
ração. O irmão Olivério Neri da Silva, que pertencia aos qua-
dros da Loja e era mestre de obras, doou o seu trabalho à
construção com o mesmo entusiasmo de quem constrói sua
própria moradia.
Em fevereiro de 1989, a sede própria já estava sendo
usada em atividades das fraternistas e em ocasiões sociais.
89
GRAUS FILOSÓFICOS NA LOJA AVENIR MIRANZI
Para dar sequência aos estudos nos graus superiores
previsto no Rito Escocês Antigo e Aceito, a Loja Avenir Mi-
ranzi sedia as seguintes Lojas de graus filosóficos:
- Loja de Perfeição nº 04, graus 04 a 14, fundada em 31 de
março de 1992;
- Capítulo Rosa Cruz nº 10, graus 15 a 18, fundado em 25 de
agosto de 1979;
- Conselho de Kadosh nº 02, graus 19 a 30, fundado em 23
de agosto de 1985; e
- Consistório Príncipe Real Segredo do Triângulo Mineiro,
graus 31 a 33, fundado em 17 de junho de 2000.
ORDEM DEMOLAY E FILHAS DE JÓ
A Loja Avenir Miranzi patrocina e sedia o Convento
Humildade e Caridade da Ordem DeMolay e também a Or-
dem Internacional das Filhas de Jó. São duas organizações
paramaçônicas destinadas ao aperfeiçoamento moral e espi-
ritual de jovens, que são estimulados a praticarem virtudes
como o amor filial e familiar, o companheirismo, o respeito
às leis, o patriotismo e a deferência a Deus e às Sagradas
Escrituras.
90
A Ordem DeMolay é formada por jovens do sexo
masculino, com idade entre 13 e 21 anos, podendo ou não
serem filhos de maçons. Ela surgiu nos EUA, em 18 de mar-
ço de 1919, e o nome foi uma homenagem ao último Grão-
Mestre da Ordem dos Templários, queimado durante a In-
quisição por fidelidade aos seus companheiros.
A Ordem Internacional das Filhas de Jó também foi
criada nos EUA um ano após a fundação da Ordem DeMolay.
O nome foi inspirado no Livro de Jó, que valoriza a inocên-
cia, a piedade, a modéstia, a retidão, a honestidade e outras
virtudes. É uma organização para jovens do sexo feminino,
que tenham herança maçônica e idade entre 11 e 20 anos.
OS VENERÁVEIS MESTRES
Desde 13 de dezembro de 1973, quando foi fundada
a Loja Estrela Uberabense Livre, antecessora da Loja Avenir
Miranzi, até 2019, dezoito maçons assumiram a direção da
Loja. Os mandatos são para dois anos, porém alguns foram
reconduzidos ao cargo.
Alfen Silva
Na reunião que homologou a criação da Loja Estrela
Uberabense Livre, ocorrida em 13 de dezembro de 1973,
Alfen Silva foi eleito seu primeiro Venerável Mestre, sendo
91
reconduzido a mandatos subseqüentes e permanecendo no
cargo até maio de 1979.
08- Alfen Silva
Foi iniciado na Loja Estrela Uberabense, em 06 de no-
vembro de 1951, e colado com o Grau 33. Grande estudioso
de assuntos maçônicos, com muita competência e ótima
didática, compartilhava seus conhecimentos com os irmãos,
Sua administração foi marcada pela criação e estruturação
da Loja Estrela Uberabense Livre.
Nasceu em Conceição da Alagoas (MG), no dia 14 de
novembro de 1912. Era cirurgião-dentista, com atuação
sempre em Uberaba. Nunca se casou e nem deixou filhos.
Faleceu em 22 de julho de 1995, aos 83 anos de idade.
92
Célio de Oliveira
09 – Célio de Oliveira
Foi o segundo Venerável Mestre da Loja Avenir Mi-
ranzi, com dois mandatos subsequentes, no período de ju-
nho de 1979 a maio de 1983.
Celinho, como era carinhosamente chamado por to-
dos, foi iniciado na Loja Estrela Uberabense em 20 de março
de 1962, e colado com o Grau 33. Grande apaixonado pela
Maçonaria, dedicava-se em tempo integral a ações de solida-
riedade e humanismo tanto que a Loja Avenir Miranzi criou
a Comenda Célio de Oliveira para condecorar irmãos e pro-
fanos que se destacam em ações de cidadania. Sua adminis-
tração foi marcada pela construção do templo.
93
Nasceu em Delfinópolis (MG), no dia 28 de agosto de
1937. Na vida profana, era industrial do ramo calçadista.
Deixou a viúva Maria Odete de Oliveira, com quem teve três
filhas: Célia Regina, Selma, Alessandra Márcia e Taciana Bea-
triz. Faleceu em 20 de agosto de 1996, uma semana antes de
completar 59 anos de idade.
Waldemar Vieira Júnior
10 - Waldemar Vieira Júnior
Foi o terceiro Venerável Mestre da Loja Avenir Miran-
zi, com mandato no período de junho de 1983 a março de
1984. Como se transferiu para Cuiabá (MT), não concluiu seu
mandato, sendo substituído pelo então Primeiro Vigilante
Inimá Baroni. Conforme atesta seu Quit-Placet, em 07 de
junho de 1985, demitiu-se, a pedido, em pleno gozo de seus
direitos maçônicos.
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  • 1.
  • 2.
  • 3. Neylson Eustáquio Arantes HISTÓRIA DA LOJA AVENIR MIRANZI COM UM POUCO DE LUZ SOBRE A MAÇONARIA 1ª edição Uberaba-MG Edição do Autor 2021
  • 4. Copyright © 2021 por Neylson Eustáquio Arantes É proibida a reprodução deste livro ou parte dele sem a prévia autori- zação do autor. Revisão: Júlia Arantes Costa Capa: Luciana Rodrigues / Saga Editora e Gráfica Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecário responsável: José Mário C. Oliveira Bibliotecário responsável: José Mário C. Oliveira Todos os direitos desta edição reservados a Neylson Eustáquio Arantes Av. Dom Luiz Maria de Santana, 335, casa 52 38061-080 Uberaba-MG Fone (34) 99978-1244 neylson.arantes@gmail.com ARANTES, Neylson Eustáquio História da Loja Avenir Miranzi com um pouco de luz sobre a Maçonaria. Uberaba: Editado pelo autor, 2021. 125 p., il., 14x21 cm ISBN: 978-65-00-16827-3 1. Maçonaria. Maçonaria em Uberaba–MG. CDD 366.1
  • 5. AGRADECIMENTOS Além da revisão bibliográfica para escrever os capí- tulos que fornecem um pouco de luz sobre a Maçonaria, en- trevistei muitos maçons e familiares que fizeram parte da história da Loja Avenir Miranzi. Minha gratidão a todos eles, a saber: Agostinho Alan Kardek de Sousa, Dílcia Carvalho, Ilsione Ribeiro de Sousa, Ivo Ribeiro de Sousa, José Maurício Lamego Goulart, Levy Delfino, Luciano Pousa Cartafina, Luiz Ricardo Resende, Maria Odete de Oliveira, Nilson de Camar- gos Roso, Paulo Roberto Batista de Carvalho, Rogério Santos da Silva, Valdir Homem da Silva e Wagner da Cruz. A Gilberto Machado Magnino registro o meu agrade- cimento especial pela valiosa colaboração, disponibilizando seu arquivo pessoal com informações que enriqueceram esta obra. Agradeço imensamente ao irmão José Maurício La- mego Goulart pelo incentivo que me levou a escrever este livro. Sou grato também a ele e ao irmão Luiz Ricardo Re- sende pela leitura paciente e cuidadosa desta obra em pri-
  • 6. meira mão, contribuindo com sugestões e correções precio- sas, bem como pela escrita de sua apresentação. Finalmente, externo meu reconhecimento ao irmão Domingos Gonçalves Machado, colega e amigo desde os tempos de infância, que prontamente se dispôs a ler anteci- padamente este livro, fornecendo valiosa colaboração.
  • 7. SUMÁRIO Apresentação 09 1. O que é Maçonaria? 15 2. Breve relato sobre a origem da Maçonaria 19 3. Estrutura do poder na Maçonaria 29 4. Os primeiros anos da Maçonaria no Brasil 44 5. A Maçonaria em Uberaba 53 6. História da ARLS Avenir Miranzi. 72 7. Crédito das imagens 113 8. Referências Bibliográficas 115 9. Anexos 119
  • 8.
  • 9.
  • 10. 9 APRESENTAÇÃO A Loja Maçônica Avenir Miranzi comemorou 40 a- nos, com a nova denominação, em dezembro de 2019. Bem antes disso, já havia um grande interesse entre os irmãos do quadro em registrar os diversos acontecimentos vividos pela Loja. Era necessário um irmão que pudesse juntar todos os fatos anotados em atas, correspondências e documentos para poder contar a história da Loja desde a sua fundação até os nossos dias. Era necessário registrar o que aconteceu antes que as memórias, ainda vivas, perdessem-se ao longo do tempo. Para a alegria de todos nós, o irmão Neylson Eustá- quio Arantes, que já havia sido convidado pelo Venerável irmão José Maurício para escrever em livro a história da Loja Avenir Miranzi, prontificou-se e aceitou o desafio. Foi um trabalho exaustivo consultar atas, decretos e correspondên- cia do Grande Oriente de Minas Gerais - GOMG, entrevistar os irmãos mais antigos do quadro de obreiros e também os familiares daqueles que já estão no Oriente Eterno, enfim, buscar a história na fonte, nos registros da Loja.
  • 11. 10 Nessa trajetória, o irmão Neylson percebeu que a história da Loja Avenir Miranzi estava diretamente relacio- nada à história da Maçonaria de Uberaba e, então, não teve dúvida: escreveu um capítulo à parte sobre as Lojas da cida- de. O livro traz ainda informações sobre a Maçonaria Uni- versal e a Maçonaria no Brasil. O autor, propositalmente, conseguiu não só perpetuar a história da Loja, como tam- bém disponibilizar uma publicação útil a leitores não ma- çons que desejam ter algum conhecimento sobre a Maçona- ria. É por essa razão que o título contém “um pouco de luz sobre a Maçonaria”. Por ser uma instituição milenar e cercada de misté- rios, na ótica de quem a conhece apenas superficialmente, a Maçonaria atrai muitos candidatos, alguns por curiosidade, outros por intenções interesseiras sabendo tratar-se de uma Ordem de auxílio mútuo. Há ainda uma significativa quanti- dade de postulantes que são convidados por maçons que identificam neles características desejáveis aos praticantes da Ordem. As primeiras informações que chegam a estes candidatos quase sempre são fornecidas pelos proponentes, mas, via de regra, são informações superficiais que não permitem ao candidato fazer um juízo de valor sobre o in- gresso ou não na Ordem. O desconhecimento sobre a Maçonaria, a frustração de candidatos que buscam interesses escusos e outras cau- sas menores levam muitos iniciados a terem uma baixa fre-
  • 12. 11 quência ou mesmo a abandonarem a Ordem. Com o propósi- to de minimizar esses problemas, esta obra destina-se tam- bém à leitura de futuros postulantes ao ingresso na Loja Avenir Miranzi. Para que o leitor conheça um pouco sobre a Maço- naria, este livro traz um breve histórico sobre a sua origem, os primeiros tempos da Ordem no Brasil e a estrutura do poder maçônico. Tais abordagens são feitas sem detalha- mentos e com a preocupação de mostrar os fatos de forma imparcial, especialmente nos assuntos mais polêmicos que são muitos, como, por exemplo, as razões que levaram às várias cisões dentro do poder maçônico. Tudo isso redigido de forma simples, com escasso uso de terminologia maçôni- ca para trazer um pouco de luz aos leitores, especialmente aos não praticantes. Sobre a origem da Maçonaria, o leitor verá que ainda pairam dúvidas a respeito de muitos fatos. Em grande parte isso se deve à escassez de literatura, visto que a instituição foi severamente perseguida no passado, com destruição de vários templos e suas bibliotecas. Há casos, também, de queima de documentos pelos próprios maçons, preocupados em preservar algum sigilo, além da grande publicação de obras que contêm informações fantasiosas sobre a institui- ção por autores entusiasmados em engrandecer a Ordem. A obra aborda ainda como funciona o poder na Ma- çonaria. Ao contrário de outras instituições, como, por e-
  • 13. 12 xemplo, a Igreja Católica, que tem na figura do Papa seu mandatário maior, na Maçonaria não há um líder único de onde emanam as decisões. Os poderes foram pulverizados, especialmente por cisões, e movimentos dentro da Ordem têm trabalhado para aglutiná-los. Alguns avanços foram al- cançados. O capítulo sobre os primórdios da Maçonaria no Brasil narra que a primeira Loja regular, intitulada Loja Ma- çônica Reunião, foi fundada no Rio de Janeiro, em 1801, e regulamentada e instalada sob o reconhecimento do Oriente da Ilha da França, pois naquela época ainda não havia uma potência maçônica no país. A primeira obediência maçônica em terras brasileiras foi criada também no Rio de Janeiro, em 17 de junho de 1822, e recebeu o nome de Grande Ori- ente Brasílico. Sobre a Maçonaria em Uberaba, o livro relata com mais detalhes o período inicial das primeiras Lojas da cida- de, ainda durante o Império, e também as motivações que levaram as suas fundações. Apresenta, ainda, a relação das Lojas maçônicas em atividades no ano 2020. Por fim, como o objetivo maior desta obra é contar a história da Loja Avenir Miranzi, é natural que o capítulo que contempla esse assunto seja o mais longo e detalhado. Também mereceu um pouco mais de profundidade a criação do Grande Oriente de Minas Gerais, a quem a referida Loja está jurisdicionada.
  • 14. 13 É muito fácil falar do Irmão Neylson. De inteligência ímpar brinda-nos com essa obra que certamente será mode- lo para maçons e possíveis candidatos pretendentes ao in- gresso na Ordem maçônica. Convidamos os leitores a empreenderem conosco essa viagem. Boa leitura! Uberaba, março de 2021. José Maurício Lamego Goulart. Luiz Ricardo Resende. Ex-Veneráveis Mestres da Loja Avenir Miranzi.
  • 15. 14
  • 16. 15 Capítulo um O QUE É MAÇONARIA? Como este livro destina-se também a leitores não maçons, comecemos com o significado do que é Maçonaria. Há várias definições e todas elas convergem para o sentido de a Ordem ser uma associação de homens que se conside- ram irmãos entre si, ligados por laços de recíproca estima, confiança e amizade, com o objetivo maior de viver em per- feita igualdade, incentivando-se uns aos outros na prática das virtudes. Ao ingressar na Ordem o maçom é estimulado a dominar as vaidades pessoais, o egoísmo e o orgulho, a reprimir os maus impulsos, a praticar a solidariedade e a caridade, enfim, a buscar um crescimento pessoal como membro útil à sociedade. É oportuno acrescentar que a Maçonaria, também chamada Franco-Maçonaria, do inglês freemason, contração do termo técnico freestone mason (pedreiro talhador de pe- dras), não é uma sociedade secreta e sim uma sociedade que tem segredos o que é muito diferente. Outro esclarecimento importante aos leitores é que ela não é uma religião e sim
  • 17. 16 uma organização que recebe adeptos e fiéis de todas as reli- giões. Pelo seu aspecto espiritual, a Maçonaria é uma institu- ição que se aproxima muito do Cristianismo, que baseia seu fundamento na crença de um Ente Superior. Os maçons a- creditam em um Deus único, neutro, chamado Grande Ar- quiteto do Universo (G.A.D.U.), representado de formas dife- rentes em cada religião. Existem sim controvérsias em torno do que é a Ma- çonaria e talvez a maior delas esteja ligada à religião. Como a Igreja Católica se considerava detentora das verdades uni- versais, acabou por propalar falsas informações vinculando a Maçonaria às práticas demoníacas, criando assim uma i- magem negativa da instituição. Os maçons eram chamados de bodes, em alusão aos mamíferos com suas patas e chifres que lembram o diabo. Atualmente, dentro da irmandade, esse estigma negativo foi adotado e os maçons se orgulham de serem chamados bodes. Como a Maçonaria sempre pregou a liberdade, a i- gualdade e a fraternidade, ela esteve envolvida em movi- mentos libertários, como a independência dos Estados Uni- dos, do Brasil e de muitos países da América Latina, além de atuar fortemente nos movimentos abolicionistas. Em Ubera- ba, por exemplo, a primeira Loja maçônica, Amparo da Vir- tude, criada em 1859, nasceu pela iniciativa de vários ma- çons, vindos de outras cidades, imbuídos do propósito de trabalhar para a alforria dos escravizados.
  • 18. 17 Ao longo de sua história, a Maçonaria foi usada co- mo espaço seguro para discussão de ideias e para defesa de alguns princípios. Foi o caso, por exemplo, do iluminismo na Europa, que sofria sérias restrições por parte dos governos absolutistas. Assim, muitos intelectuais iluministas encon- traram na Maçonaria um lugar seguro e neutro para discutir os seus conceitos. No Brasil, defensores da independência ingressaram nas Lojas maçônicas filiadas ao Grande Oriente do Brasil, que defendia de forma categórica o desligamento de Portugal. Em outro exemplo mais próximo, as primeiras Lojas maçônicas de Uberaba, criadas ainda na época do Im- pério, tiveram como motivação a defesa de alguns ideais, como abolição da escravatura, o amparo das famílias dos voluntários da Guerra do Paraguai e a conclusão da Santa Casa de Misericórdia, cuja obra se arrastava por anos, sem desfecho adequado. Podemos citar muitos maçons com atuações extra- ordinárias que marcaram a história dos povos. Com atuação fora do Brasil listamos Descartes, Rousseau, Montesquieu, George Washington, Thomas Jefferson, Franklin Roosevelt, Abraham Lincoln, Simón Bolívar, Bernardo O’Higgins e mui- tos outros. No Brasil destacamos José Bonifácio, Giusepe Garibaldi, Ruy Barbosa, Deodoro da Fonseca, Prudente de Morais, Duque de Caxias, Castro Alves e outros. Há muito ainda a dizer sobre a Maçonaria. Ela esti- mula a filantropia, com atos de beneficência sempre em si-
  • 19. 18 lêncio, é apartidária e não permite discussão religiosa, sectá- ria ou político-partidária em seus templos. Existem muitas crenças e lendas sobre a Maçonaria que não possuem qual- quer fundamento. Por se tratar de uma instituição muito combatida pela Igreja Católica e por poderes absolutistas e antidemocráticos, invenções falaciosas foram propaladas para manchar a Ordem. Na Europa, havia quem acreditasse que o trono do Venerável Mestre tinha um buraco para acomodar o rabo do diabo que ali se assentava. Perdura, até os dias atuais, a crença de que há bodes nas dependências dos templos ma- çônicos. Há algum tempo, o irmão da minha esposa, que é médico em uma cidade do interior de Minas Gerais, inaugu- rou uma clínica próxima a um templo maçônico que ele próprio frequentava. No dia seguinte à inauguração, ainda bem cedo, encontrou-se com o guarda noturno que fazia ronda na região e de forma bem humorada lhe disse: — Bom dia! Dormiu bem esta noite? — De jeito nenhum, Doutor. Nem que eu quisesse! — e apontando para a Loja Maçônica concluiu: — Ali tem um bode que berra a noite toda!
  • 20. 19 Capítulo dois BREVE RELATO SOBRE A ORIGEM DA MAÇONARIA Escrever sobre a história da Maçonaria, desde seus primórdios, é uma tarefa difícil. Há uma grande carência de documentos e registros fidedignos, bem como de evidências documentais seguras, que são naturalmente a ferramenta utilizada pelos verdadeiros historiadores. A perseguição sofrida pela Maçonaria, especialmente em países que adota- ram políticas totalitárias como a Alemanha nazista, a Itália fascista, a Espanha franquista, Portugal salazarista, a União Soviética e a China, levou à destruição de documentos e bi- bliotecas inteiras. Ao chegar ao poder, Adolf Hitler dissolveu as dez grandes Lojas da Alemanha e mandou seus líderes para os campos de concentração. Quando a França foi inva- dida pelos nazistas, as Lojas Maçônicas foram saqueadas e o que sobrou foi leiloado em praça pública. Não bastasse tudo
  • 21. 20 isso, Armando Righetto afirma que “muitos documentos de valor históricos inestimável foram queimados em 1720 por maçons excessivamente escrupulosos, com receio que eles pudessem cair em mãos profanas”1 . É inegável também que houve falhas na preservação de documentos históricos sobre a Maçonaria. José Castellani afirma que, em decorrência dessas falhas, surgiram “mistifi- cadores da História Maçônica, os quais lançam mão de sub- terfúgios e engodos, sob a aparência de pesquisa, para exte- riorizar sua parcialidade, suas tendências e sua ignorância da metodologia da pesquisa histórica”2 . Outro fato é que adversários da Maçonaria, motiva- dos especialmente pela Igreja Católica, consideravam-na uma seita anticatólica e excomungada e acabaram publican- do notícias falsas e caluniosas, levando muitos autores a reproduzi-las sem o menor cuidado de checar as fontes das informações. Além disso, muitos escritores, no afã de engrande- cer a Ordem, passaram a frente informações fantasiosas, sem distinguir o lendário do histórico. Autores não com- prometidos com uma literatura séria e de qualidade que, 1 RIGUETTO, Armando. Maçonaria, Ontem e Hoje. Londrina: Editora A Trolha Ltda, 1994, p. 101. 2 CASTELLANI, José. Fragmentos da Pedra Bruta. Londrina: Editora A Trolha Ltda, 1999, p. 142.
  • 22. 21 baseados tão somente na imaginação fértil, inventaram fatos convenientes para engrandecer a Maçonaria do passado. Para ficar apenas em dois exemplos: hoje se questiona muito a suntuosidade atribuída ao Templo de Salomão, sobre o qual a ciência não encontrou nenhum vestígio arqueológico, ademais de não haver qualquer prova documental sobre a Inconfidência Mineira ter recebido a chancela da Maçonaria e Tiradentes ter sido maçom. O INÍCIO DA MAÇONARIA Bibliotecas maçônicas estão repletas de publicações que levam os leitores a concluírem que a Maçonaria existia na época de Cristo e até mesmo de Noé, com sua arca, ou Adão, considerado pela Bíblia como o primeiro homem. En- tretanto, essas afirmações não são evidenciadas em nenhum fato documentado, instrumento essencial de uma pesquisa séria. Sobre a sua origem, Heinz Jakobi3 cita uma revisão feita por Charles Bernardin, maçom atuante na França. Em 206 publicações criteriosamente recenseadas por ele, 28 afirmam que a Maçonaria foi fundada por pedreiros constru- tores afirmam que a Maçonaria foi fundada por pedreiros 3 JAKOBI, Heinz Roland. Graus-Simbólicos Compêndio Maçônico V1. Londrina: Editora A Trolha Ltda, 2007, p. 25.
  • 23. 22 de catedrais, 18 ligam sua origem ao Egito e 12 afirmam que ela se originou com os Templários. São dezenas de possíveis origens citadas por diversos autores, sendo algumas bem curiosas: três delas afirmam que a Maçonaria foi criada pe- los sobreviventes de um dilúvio e uma diz que ela já existia antes mesmo da criação do mundo. Excluindo o que alguns escritores pensam sobre a Maçonaria praticada antes da Idade Média que a cada publi- cação mais acurada fica apenas no mundo imaginário, a maioria dos autores a divide em duas fases: Operativa e Es- peculativa. Segundo Ambrósio Peters, com o intuito de en- grandecer suas origens, a Maçonaria Operativa as atribuía “aos povos da antiguidade, dizendo-se também construtores herdeiros em linha reta da arte real dos obreiros do Templo de Salomão. Na verdade tudo isso não tem confirmação his- tórica”4 . Sobre isso, Raimundo Rodrigues afirma que “o mais antigo documento que se conhece da chamada Maçonaria Antiga, ou Operativa, ou de Ofício é o Poema Régio, que é de 1390, século XIV. Tudo que se disser anterior a essa data não passa de pressuposições”5 . Até mesmo a afirmação de que a Maçonaria moderna, chamada Especulativa, deriva da 4 PETERS, Ambrósio. Antologia Maçônica. Londrina: Editora A Trolha Ltda, 1996, p. 139. 5 RODRIGUES, Raimundo. Sobre os Primórdios da Maçonaria. In: Ca- derno de Pesquisas 19. Londrina: Editora A Trolha Ltda, 2001, p.120.
  • 24. 23 Maçonaria Operativa, praticada na Idade Média, é questiona da por muitos autores. Estes defendem que as Lojas nasci- das na Inglaterra, no século XVI, “poderiam ser associações políticas e religiosas lutando contra o absolutismo estatal”6 . Ao escrever sobre a história da Maçonaria inglesa, Hamil afirma que há possibilidade de que “os originadores da Ma- çonaria Especulativa se disfarçassem na aparência de uma organização operativa, a fim de encobrir atividades e ideais que, na época, se tornava impossível praticar abertamente”7 . É natural que os leitores estejam confusos com tan- tas informações conflitantes. Volto aqui ao primeiro pará- grafo deste capítulo, que menciona a escassez de documen- tos fidedignos. Com a pretensão de não ser o dono da ver- dade e muito menos uma autoridade no assunto, mas tão somente como pesquisador das publicações que hoje são consideradas mais confiáveis, ficamos com a afirmação de que a Maçonaria pode ser dividida em duas fases. A primeira, chamada Operativa ou Maçonaria de O- fício, foi inicialmente formada por profissionais ligados à arte de construção civil, os pedreiros e os arquitetos da épo- 6 COSTA, Frederico Guilherme. A Maçonaria Dissecada. Londrina: Edito- ra A Trolha Ltda, 1995, p. 139. 7 HAMIL, Johns. The Craft. A History of English Freemasonary, In: MARQUES, A. H. de Oliveira. História da maçonaria em Portugal, 1990, p. 17.
  • 25. 24 ca. Eram eles operários medievais responsáveis pelas cons- truções das Catedrais, das Abadias, das Igrejas, dos palácios e fortes. Reunidos em guildas (tipo de associação muito co- mum na época medieval), em confraria de mútuo socorro, ou mesmo em um tipo de sindicato, aqueles operários espe- cializados buscavam principalmente a melhoria dos salários de seus associados. Posteriormente, passaram a admitir ou- tros membros das mais variadas profissões. Essa organiza- ção, que perdurou desde a Idade Média até a Renascença, é que serviu de base à Maçonaria Moderna, também chamada Especulativa ou Maçonaria dos Aceitos. A MAÇONARIA MODERNA OU ESPECULATIVA A Maçonaria Especulativa teve início em 24 de junho de 1717 com o surgimento da primeira Obediência Maçôni- ca: a Grande Loja de Londres. Segundo relato de Anderson, citado por Aslan8 , quatro Lojas Operativas de Londres se reuniram na sede de uma delas (a da Taberna da Macieira), criaram uma Grande Loja e elegeram seu primeiro Grão- 8 ASLAN, Nicola. Maçonaria Operativa. Londrina: Editora A Trolha Ltda, 2008, p. 346.
  • 26. 25 Mestre. As outras três Lojas eram a da Cervejaria do Ganso e da Grelha, a da Cervejaria da Coroa e a da Taberna da Taça e das Uvas. Como não havia locais específicos para as reuniões, elas se davam nos adros das igrejas, nas cervejarias, nas estalarias ou nas tabernas. Assim, as lojas recebiam o nome do local onde aconteciam esses encontros. Na Europa, prin- cipalmente na Inglaterra, as tabernas e hospedarias não ti- nham as funções que conhecemos hoje. Eram locais desti- nados a reuniões de grupos corporativistas. Com a transformação da Maçonaria Operativa em Maçonaria Especulativa, houve uma mudança radical em seus objetivos. Enquanto os maçons operativos tinham por finalidade a construção de catedrais, de igrejas e de outras obras que demandavam o conhecimento dos talhadores de pedra, os maçons modernos pertencem às mais variadas profissões e buscam a transformação do homem, tornando- o mais sábio, justo e humano. O TEMPLO MAÇÔNICO O primeiro templo maçônico, com a arquitetura que conhecemos hoje, foi edificado pela Grande Loja de Londres e inaugurado em 23 de maio de 1776 na Inglaterra, aproxi- madamente um ano após o início de sua construção.
  • 27. 26 O modelo arquitetônico dos templos maçônicos foi inspirado no templo de Jerusalém edificado pelo rei Salo- mão, que anteriormente havia servido de modelo para as igrejas. Outras influências, especialmente das antigas civili- zações e do misticismo medieval, são bastante perceptíveis em suas decorações. A contribuição hebraica, por exemplo, está evidente nas colunas vestibulares Booz e Jachin, no Al- tar dos Perfumes, no Candelabro de Sete Braços, na Estrela de Seis Pontas, entre outros. Como o primeiro templo surgiu na Inglaterra, ele sofreu grande influência também do parlamento inglês. Na disposição dos assentos, o trono do Venerável-Mestre asse- melha-se muito a Great Chair do primeiro ministro — am- bos centralizados —, e as cadeiras dos obreiros dispostas frente a frente seguem o modelo das cadeiras dos parlamen- tares. Além disso, o espaço de acesso ao templo, intitulado Sala dos Passos Perdidos, também fora inspirado em um a- nexo análogo ao existente no edifício governamental inglês. Na construção dos templos maçônicos há um mode- lo padrão que deve ser seguido por qualquer loja, indepen- dente do rito adotado. Há, porém, algumas diferenças, espe- cialmente na decoração, decorrentes dos ritos, sendo uns mais simples e outros mais complexos. Castellani sintetizou muito bem tudo isso: “independente de ritos, qualquer ma- çom, em qualquer parte do mundo, reconhece um templo
  • 28. 27 maçônico pelas colunas do pórtico, pela orientação, pela divisão e pelos símbolos presentes na decoração”.9 OS DIFERENTES RITOS Chamamos de Rito o conjunto de normas que rege o funcionamento de uma Loja Maçônica. No início da Maçona- ria Moderna havia um ritual bem simples, com apenas o Grau de Aprendiz. Posteriormente, foram criados o Grau de Companheiro e, bem mais tarde, o de Mestre. Esses são con- siderados os três graus fundamentais da Maçonaria. Hoje há vários Ritos Maçônicos em uso nas Lojas Básicas. No Brasil, segundo Nicola Aslan, os mais “conheci- dos são o Rito Moderno ou Francês, com 7 Graus, o Rito A- donhiramita, com 13 Graus e o Rito Escocês Antigo e Aceito, com 33 Graus”.10 Outros também são adotados, como o Rito de York (mais usado na Maçonaria Universal), Rito de Schröder (muito utilizado na Alemanha) e alguns de adoção exclusiva em seus respectivos países, como os Ritos Brasilei- ro, Argentino, Sueco, Mexicano e outros. 9 CASTELLANI, José. Templo Maçônico. Londrina: Editora A Trolha Ltda, ano XX, n. 45, 1990, p. 51. 10 ASLAN, Nicola. Uma Radiografia da Maçonaria. Londrina: Editora A Trolha Ltda, 2013, p. 160.
  • 29. 28 MAÇONS REGULARES NO BRASIL E NO MUNDO Da forma que conhecemos hoje, a Maçonaria come- çou na Inglaterra, em 1717, e espalhou-se rapidamente pelo mundo. Estima-se que, em 2016, havia cerca de 3,6 milhões de maçons distribuídos por diversos continentes11 . Esse con- tingente já foi maior e a redução mais significativa se deu nos EUA. Segundo a MSA (Masonic Service Association of North America), em 1950 havia pouco mais de quatro mi- lhões de maçons no país, contra um milhão e meio em 201012 . Os cinco países com número maior de maçons, em valores aproximados, são: Estados Unidos, com 1,5 milhões; Reino Unido, com 250 mil; Brasil, com 190 mil; Canadá, com 87 mil e França, com 45 mil. Entre os países comunistas, o maior número de maçons está em Cuba (29 mil), que tem uma média de um maçom para cada 385 cubanos. Na mes- ma época, a relação no Brasil era de um maçom para 1.079 brasileiros13 . 11 Simbologia maçônica dos painéis. Disponível em: https://www.facebook.com/simbologiamaconica.dospaineis/posts/16 52116491770842/. Acesso em 12/06/2020. 12 Masonic Statistics - Graphs, Maps, Charts. Disponível em: http://bessel.org/masstats.htm. Acesso em 21/05/2020. 13 Maçonaria brasileira em números. Disponível em: https://www.noesquadro.com.br/conceitos/maconaria-brasileira-em- numeros/. Acesso em 10/06/2020.
  • 30. 29 Capítulo três ESTRUTURA DO PODER NA MAÇONARIA Assim como a família é considerada a célula mater da sociedade, a Loja individual, que denominamos Loja Sim- bólica, é o elemento básico da Maçonaria. A característica universal dessa organização é sua divisão em três graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Após seu ingresso na Or- dem, o obreiro passa a adquirir conhecimentos que permi- tem seu progresso, atingindo o grau de Companheiro até chegar à plenitude maçônica, quando se torna Mestre- Maçom. A Loja base ou simbólica é a mesma na universali- dade maçônica. Entretanto, cada uma pode adotar um con- junto diferente de procedimentos ritualísticos para realizar as cerimônias e ministrar os ensinamentos. Esses procedi- mentos diferentes, chamados ritos, levam a diferenças em suas práticas e normas. A título de exemplo, nas Lojas que
  • 31. 30 adotam o Rito Escocês Antigo e Aceito, que é amplamente utilizado no Brasil, há graus que vão do 4º ao 33º. A Maçonaria Moderna surgiu na Inglaterra, em 1717, quando três Lojas se uniram sob a tutela de uma organiza- ção que recebeu o nome de Grande Loja Unida da Inglaterra. A partir daí, convencionou-se que toda Loja Maçônica regu- lar deve estar submetida a um órgão superior que a legitima. Estabeleceu-se ainda que qualquer instituição maçônica é considerada fidedigna se reconhecida pela Grande Loja Uni- da da Inglaterra. Posteriormente, face à grandeza da Maço- naria nos Estados Unidos, passou-se a considerar como legí- timas as instituições reconhecidas pelas principais Grandes Lojas Norte-Americanas. Aqui no Brasil as obediências maçônicas que conhe- cemos hoje são representadas por três modelos administra- tivos: os Grandes Orientes Estaduais federados ao Grande Oriente do Brasil (GOB), as Grandes Lojas Estaduais associa- das à Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil (CMSB) e os Grandes Orientes Estaduais associados à Confe- deração Maçônica do Brasil (COMAB). Essas obediências são entidades autônomas, regulares e soberanas que agrupam as Lojas Simbólicas. A autoridade das obediências maçônicas se dá ape- nas nos três primeiros graus (Loja base), enquanto os graus filosóficos — 4 ou superior — são administrados por conse-
  • 32. 31 lhos moderadores. Na Loja base a autoridade máxima é inti- tulada Grão-Mestre, e no supremo conselho o mandatário maior é denominado Soberano Grande Comendador. Cada obediência maçônica está estruturada em um regime de tripartição de poderes: executivo, sob a liderança do Grão-Mestre, legislativo, formado por deputados eleitos pelas Lojas Maçônicas, e o poder judiciário, representado pelo Supremo Tribunal Maçônico, que julga em instância final todos os processos e recursos. O PODER NOS GRAUS FILOSÓFICOS Os conselhos moderadores são intitulados Supre- mos Conselhos. É o caso do Rito Escocês Antigo e Aceito, que ao ser criado nos Estados Unidos, em 31 de maio de 1801, previa a existência de um único conselho em cada país. Em face de conflitos de interesse, essa convenção não foi man- tida e os EUA possuem dois conselhos, já consolidados e aceitos. No Brasil também há dois conselhos, porém eles a- inda disputam a legitimidade. Não bastasse esses dois, outra cisão, ocorrida em 1973, fez surgir os Supremos Conselhos Estaduais, que, na opinião de José Castellani, “não têm a
  • 33. 32 mínima chance de qualquer reconhecimento por Supremos Conselhos considerados regulares e legítimos”1 . Em 2014, no livro intitulado O Líder Maçom, Kennyo Ismail afirmou que “a maçonaria está presente nos cinco continentes por meio de quase 200 Grandes Lojas interna- cionalmente reconhecidas, consideradas independentes, au- tônomas e soberanas entre si”2 . Não há, portanto, um poder ou uma liderança mundial que rege a Maçonaria. Cada Gran- de Oriente ou Grande Loja tem poder apenas sobre sua ju- risdição. AS OBEDIÊNCIAS MAÇÔNICAS NO BRASIL Quando as primeiras Lojas maçônicas foram criadas no Brasil, ainda não existia uma Obediência Maçônica no país, e por isso elas eram filiadas ao Grande Oriente da França ou de Portugal. Como havia um anseio generalizado, no meio maçônico, de se obter a independência do Brasil, a Coroa Portuguesa, percebendo esta agitação, publicou em 30 de março de 1918 o Alvará Real que proibia o funcionamen- 1 CASTELLANI, José. Consultório Maçônico VII. Londrina: Editora A Tro- lha Ltda, 2000, p. 54. 2 ISMAIL, Kennyo. O Líder Maçom. Londrina: Editora A Trolha Ltda, 2014, p. 23.
  • 34. 33 to das Lojas maçônicas em território brasileiro. Assim, no Rio de Janeiro, a Arte Real continuou a ser praticada de for- ma discreta, em reuniões que aconteciam nas próprias casas dos maçons, e o anseio de consolidar a Maçonaria no Brasil foi postergada. Com o arrefecimento da resistência da Corte à Ma- çonaria em face de diversos acontecimentos, a Loja Comér- cio e Artes do Rio de Janeiro reergueu suas colunas em 24 de junho de 1821. No meio maçônico brasileiro já havia um movimento muito sólido pela emancipação política do Brasil quando em 17 de junho de 1822 foi criada a primeira Obe- diência Maçônica que recebeu o nome de Grande Oriente Brasílico. O fato se deu no Rio de Janeiro, onde na época existia uma única Loja regular intitulada Loja Maçônica Co- mércio e Artes. Para a concretização do projeto, essa Loja foi dividida em três: ela própria, a Loja União e Tranquilidade e a Loja Esperança de Niterói. O primeiro Grão-Mestre, eleito por aclamação, foi José Bonifácio de Andrada e Silva. Pouco mais de quatro meses após sua criação, em 25 de outubro de 1822, o Grande Oriente Brasílico foi fecha- do por ordem de Dom Pedro I, que havia sido alçado ao pos- to de Grão-Mestre, numa escalada de Aprendiz ao posto má- ximo, em tempo recorde. As razões que levaram Dom Pedro I a este ato foram as divergências entre dois grandes expo- entes da Maçonaria na época: José Bonifácio e Gonçalves Lêdo.
  • 35. 34 A Maçonaria brasileira, que ficou sem uma Obediên- cia Maçônica por quase dez anos, teve novo alento em 07 de abril de 1831, com a abdicação de Dom Pedro I e seu retorno a Portugal. Dois meses depois, em 24 de junho de 1931, um grupo de maçons que vivia no Rio de Janeiro criou o Grande Oriente Brasileiro, elegendo o Senador Vergueiro como o primeiro Grão-Mestre. Neste grupo não constavam os ma- çons que pertenciam à cúpula do Grande Oriente do Brasil, extinto por Dom Pedro I. Assim, alguns líderes maçons que ficaram à margem da nova Obediência reagiram rapidamente criando o Grande Oriente do Brasil como sucessor do Grande Oriente Brasílico, em 23 de novembro de 1831. Estava criada uma divisão no poder da Maçonaria que somente foi solucionada 52 anos depois, em 18 de janeiro de 1883, quando as duas Obediên- cias se fundiram após forte pressão da Maçonaria de Portu- gal. No livro O Mito Maçônico, Jay Kinney diz que “a ma- çonaria especulativa moderna pode ter começado oficial- mente em 1717 com ideais claramente definidos de frater- nidade universal, mas o apego humano a posição, prestigio, honra e poder se afirmou quase que imediatamente, compli- cando imensamente o assunto” 3 . No trabalho intitulado Por 3 KINNEY, Jay. O Mito Maçônico. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010, p. 147.
  • 36. 35 que três potências no Brasil, os maçons Zapchau, Grando e Reyes concluíram que “as cisões ocorridas têm como fun- damento ambições pessoais, que geraram forças discordan- tes na ordem, sem que esses grupos tenham conseguido concordar e permanecerem unidos”4 CISÃO DE 1927 E CRIAÇÃO DAS GRANDES LOJAS ESTADUAIS A ganância de alguns poucos líderes maçônicos ao poder, que contaminava a Maçonaria brasileira como se viu nos parágrafos anteriores, acabou provocando mais uma cisão. A insatisfação do grupo dissidente vinha desde 1921, quando houve eleição para Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil. Os seguidores de Mário Behring, um dos candida- tos, alegaram manipulação dos votos que deram vitória ao seu opositor, General Moreira Guimarães. O desfecho final foi desencadeado pela insatisfação com o fato de o Grande Oriente do Brasil e o Supremo Con- selho para os Graus Escoceses estarem sob a tutela de um único dirigente, o que contrariava o que fora preconizado no 4 ZAPCHAU, Elton Luiz; GRANDO, Neilor José; REYES, Paulo Cezar Car- rasco. Por que três potências no Brasil. In: A Trolha, n 271. Londrina: Editora A Trolha Ltda, 2009.
  • 37. 36 Congresso de Lausanne, na Suíça. Finalmente, em 17 de ju- nho de 1927, no Rio de Janeiro, Mario Behring e seus segui- dores declararam a separação do Grande Oriente do Brasil e a criação das Grandes Lojas Estaduais. A primeira a ser ins- tituída foi a da Bahia, em 22 de maio de 1927, antes mesmo da reunião relatada anteriormente. Depois vieram a do Rio de Janeiro e a de São Paulo. Em Minas Gerais, a criação da Grande Loja Maçônica se deu em 26 de setembro de 1927. MAIS UM PODER: GRANDES ORIENTES ESTADUAIS Outra cisão ocorreu em 27 de maio de 1973, resul- tando na criação dos Grandes Orientes Estaduais associados à Confederação Maçônica do Brasil (COMAB). O GOB era formado por 14 Grandes Orientes Estaduais e algumas Dele- gacias. Em dez estados brasileiros, o que antes era apenas um apêndice do GOB passou a ser uma nova potência maçô- nica com autonomia e independência — Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Distrito Fe- deral, Mato Grosso, Espírito Santo, Ceará e Rio Grande do Norte. . Em 2020, havia 23 potências estaduais vinculadas à Confederação Maçônica Brasileira (COMAB). A eleição do Grão-Mestre Geral do GOB, realizada em 1973, foi o motivo da discórdia. O Grão-Mestre de Minas Gerais, Athos Vieira de Andrade, lançou-se como candidato
  • 38. 37 da oposição, com amplo apoio especialmente em Minas Ge- rais e São Paulo, onde estava o maior contingente eleitoral. Iniciada a apuração, os opositores denunciaram falta de li- sura, especialmente na anulação de votos, favorecendo sem- pre o candidato da situação. Após muita protelação, o resul- tado oficial divulgado pelo GOB informava a vitória do can- didato da situação, Osmane, com 2.129 votos contra 1.107 votos para Athos. O maçom Jorge Lasmar, que pertencia ao grupo opo- sitor, descreveu assim o desfecho da apuração paralela: “ao se proceder a contagem, confirmaram-se os prognósticos. Athos Vieira de Andrade recebeu 7.175 votos e a Osmane Vieira de Resende coube o restantes de votos, 3.820”.5 A im- prensa brasileira deu ampla cobertura aos fatos, com acusa- ções e denúncias tanto da oposição como da situação. Sobre o ocorrido, Castellani e Carvalho escreveram: “no Tribunal (Eleitoral) mais de 6 mil votos de Athos foram anulados, enquanto Osmane perdeu menos de 2 mil, tendo, isso, acontecido sob alegação de débitos com o poder cen- tral e preenchimento irregular das atas das eleições”. Eles também afirmaram que “todo o processo ocorreu num am- biente bastante agitado, já que os representantes da chapa 5 LASMAR, Jorge. História do Grande Oriente de Minas Gerais e Outras Histórias. Belo Horizonte: Lithera Maciel Editora Gráfica Ltda, 1999, pp. 19, 52, 91, 148.
  • 39. 38 oposicionista, na apuração, alegavam fraudes na anulação das atas eleitorais, com parcialidade do tribunal, em favor dos candidatos oficiais”.6 Ainda esses autores, que sempre pertenceram aos quadros do GOB, declararam que “ambos os lados apresentaram os seus motivos para o rompimento que viria; eles pretendiam ter razão, embora a análise desa- paixonada dos fatos mostra que, de ambos os lados, houve erros e acertos, com radicalização de posições e as conse- quências que a história registra”. GRANDE ORIENTE DE MINAS GERAIS Bem antes da cisão de 1973, em Minas Gerais havia ocorrido um incidente que levou à criação do Grande Orien- te de Minas Gerais (GOMG). Isso se deu em 12 de setembro de 1944, em resposta à insatisfação dos obreiros de duas Lojas Maçônicas sediadas em Belo Horizonte e filiadas ao GOB. Um boletim publicado pela Loja Caridade e Justiça traz o relato do Irmão Verdi Marra7 , que vivenciou todos os mo- mentos que antecederam à criação do GOMG. Ele narra que, 6 CASTELLANI, José; CARVALHO, William Almeida de. História do Grande Oriente do Brasil: A Maçonaria na História do Brasil. São Paulo: Madras, 2009, pp. 264-265. 7 MARRA, Verdi. O Encontro Ano II, nº23, Suplemento. Belo Horizonte: 1976, pp. 1-4.
  • 40. 39 em 14 de fevereiro de 1944, quando os maçons da Loja Gon- çalves Ledo chegaram para a reunião semanal, depararam-se com um memorando afixado na entrada do Templo infor- mando que aquela oficina estava fechada até segunda or- dem. O memorando havia sido assinado pelo Capitão Antô- nio Diniz, interventor indicado naquela oficina pelo Sobera- no Grão Mestre Joaquim Rodrigues Neves. Indignados com tal atitude, os obreiros bateram à porta da Loja Deus, Humanidade e Luz, também filiada ao GOB, que se reunia em sala vizinha, no mesmo dia e horário. Ao tomarem conhecimento de que o motivo provável da in- terdição teria sido a adoção do Rito Brasileiro, recém criado, os membros daquela loja ofereceram apoio irrestrito. O pas- so seguinte foi retirar o memorial afixado e redigir uma ata de protesto a ser encaminhada ao GOB. A atitude do Soberano Grão-Mestre, ao tomar co- nhecimento do manifesto, foi expulsar todos os dezoito membros da Loja Gonçalves Ledo e também fechar a Loja Deus, Humanidade e Luz por ter dado apoio aos maçons da co-irmã sem dar uma justificativa plausível pelas medidas radicais. No entendimento dos maçons atingidos, sua reação foi uma represália à adoção, pela Loja Gonçalves Ledo, do Rito Brasileiro. Esse rito havia sido criado recentemente pelo Grão-Mestre Adjunto do GOB, Dr. Álvaro Pereira. Constata- se, portanto, que faltava harmonia, consenso e mesmo pru- dência no seio do corpo diretor do GOB.
  • 41. 40 Os 126 maçons das duas oficinas afetadas pelas medidas do GOB se reuniram por diversas vezes para deba- ter o assunto e acabaram decidindo pela criação de uma no- va Obediência Maçônica. Para isso, a Loja Deus, Humanidade e Luz se desligou do GOB, declarando-se independente. Essa Loja, a primeira criada em Belo Horizonte, seria subdividida, segundo Jorge Lasmar8 , em 1º de junho de 1896, formando mais cinco lojas. Assim, as seis Lojas, cada uma com 21 membros, fundariam o GOMG. Posteriormente, informado de que os maçons atin- gidos por aquelas medidas pretendiam criar uma nova Obe- diência Maçônica, o Grão-Mestre do GOB determinou ao seu Delegado que criasse o Grande Oriente de Minas Gerais, fiel ao GOB, numa manobra para dificultar as ações dos maçons considerados rebeldes. No dia 13 de setembro de 1944, às 13 horas, alguns representantes das seis Lojas chegaram a um cartório de Belo Horizonte para registrar a nova Obedi- ência Maçônica. Por pouco, suas ações teriam sido frustra- das. Dois minutos depois, chegava ao mesmo cartório o De- legado do GOB com toda papelada que impediria o uso do nome Grande Oriente de Minas Gerais. Na ata de fundação do GOMG, reproduzida em obra publicada por Jorge Lasmar6 , consta que a sessão fora presi- dida por José Persival, Tenente Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais, que se tornou o primeiro Soberano Grão-
  • 42. 41 Mestre da nova Obediência. Persival, que era o Venerável Mestre da Loja Deus, Humanidade e Luz, quando se deu a intervenção, já havia atingido o Grau 33 dentro da Ordem. Também consta na mesma ata o nome das Lojas que forma- riam o GOMG: Deus, Humanidade e Luz, Major João Pereira, “Vinte e hum de Fevereiro, Hiram, Caridade e Justiça e Doze de Setembro. Os primeiros anos de funcionamento do GOMG fo- ram muito difíceis, a começar pela falta de uma sede pró- pria. Em 1950, já com sete Lojas filiadas, iniciou-se um mo- vimento para construção da sede em terreno doado pela Prefeitura de Belo Horizonte. Seis anos após a sua criação, em 12 de setembro de 1950, ocorreu a sagração do Templo, sediado na Avenida Barbacena, nº 40. Minas Gerais foi palco ainda de mais duas potências maçônicas: O Grande Oriente Estadual Tiradentes de Minas Gerais, subordinado ao GOB, criado em 17 de maio de 1953 e o Grande Oriente Estadual Tiradentes Independente, criado em 1958, que, segundo Jorge Lamar, “desapareceu por volta de 1959”5 . Em 1957, o GOB e o GOMG assinaram um Tratado de Fraternal Amizade, que resultou, em 1970, na fusão do GOMG e o Grande Oriente Estadual Tiradentes de Minas Ge- rais, ficando a nova potência com a denominação de GOMG. Esse tratado, que tinha por objetivo pacificar a Maçonaria, vinha dando bons frutos até 1973, quando ocorreram as
  • 43. 42 eleições que levaram a mais uma cisão. Os dirigentes do GOMG reavaliaram a chamada incorporação, interpretando que havia ocorrido uma fusão de sociedades que formava uma nova pessoa jurídica, embasada em novos estatutos. Com essa interpretação, o GOMG se declarou independente do GOB. Assim, duas entidades alegavam representar o Grande Oriente de Minas Gerais. A reação do GOB resultou num Decreto de Interven- ção datado de 28 de maio de 1973. Iniciava-se uma batalha judicial, de longa duração, pelos direitos sobre o GOMG, in- cluindo seus bens. Em 1991, os dirigentes do GOB implan- taram uma política de boas relações não apenas com as demais potências existentes no Brasil, mas também com potências estrangeiras. Em junho daquele ano, o seu Grão- Mestre Geral do GOB sancionou a lei que dava anistia plena e geral a Grandes Orientes Estaduais, Lojas, Triângulos e maçons que sofreram sanções em decorrência da crise de- sencadeada pelas eleições de 1973. Selando as boas relações e pacificando as duas po- tências, o GOB e o GOMG assinaram, em 16 de março de 2019, um Tratado de Mútuo Reconhecimento e Amizade. Iniciativa semelhante ocorreu em outros Grandes Orientes Estaduais, numa demonstração clara de fortalecer as rela- ções e manter os ideais maçônicos de liberdade, igualdade e fraternidade. Foi dado, assim, um imenso passo na concreti-
  • 44. 43 zação do sonho de se estreitar as relações fraternas entre as três potências brasileira. Em janeiro de 2020, pouco mais de 75 anos após sua fundação, o GOMG foi reconhecido internacionalmente como uma Potência Maçônica. Com seis Lojas filiadas no ato de criação, chegou a 225 Lojas quando saiu o reconhecimen- to internacional. Na publicação List of Lodges Masonic, a ser editada no ano de 2021 em Massachusetts (EUA), serão in- cluídas as lojas filiadas ao GOMG.
  • 45. 44 Capítulo quatro OS PRIMEIROS ANOS DA MAÇONARIA NO BRASIL Não há consenso sobre qual foi a primeira Loja Ma- çônica instalada no Brasil, e, portanto, sobre quando a Arte Real passou a ser praticada em nosso país. Muitas publica- ções consideram ser o Areópago de Itambé, fundado em Pernambuco no ano de 1796, como a primeira Loja em terri- tório brasileiro. Outros autores, em publicações mais recen- tes, discordam dessa afirmação. Entre eles, Marcos Santiago alega que o Areópago foi “uma sociedade política secreta, que objetivava fazer de Pernambuco uma república, e da qual faziam parte maçons e padres da Igreja Católica”1 . José Castellani, historiador maçônico de grande prestígio, afir- SANTIAGO, Marcos. Maçonaria, História e Atualidade. Londrina: Edito- ra A Trolha, 1992, p. 147.
  • 46. 45 mou que “o Areópago, embora considerado o marco inicial das organizações maçônicas no Brasil, não era uma verda- deira Loja, tanto que o Padre João Ribeiro, que pertencia a ele, teve que ser iniciado em Lisboa, o que, evidentemente, leva a crer que, na época, não existia Loja regular naquela região.”2 Algumas publicações recentes reconhecem o Areó- pago de Itambé como um marco importante e precursor da Maçonaria brasileira. Porém, afirmam que a primeira Loja Maçônica fundada no Brasil foi a Cavaleiros da Luz. A fraga- ta francesa La Preneuse, comandada pelo Capitão Larcher, estava na costa brasileira e passou a receber visitas de mo- radores das cercanias. Influenciados pelo Capitão, maçom iniciado na França, os frequentadores da fragata fundeada no litoral baiano, próximo ao Povoado da Barra, decidiram criar a Loja Maçônica Cavaleiros da Luz, fato que ocorreu, segundo relatos, no dia 14 de julho de 1797. Porém, também não há consenso sobre a existência dessa Loja. O maçom, professor e historiador da Universidade de São Paulo Ricar- do Mário Gonçalves, citado por Raimundo Rodrigues3 , afirma que a fragata La Preneuse jamais estivera no Brasil. 2 CASTELLANI, José. Do Pó dos Arquivos. Londrina: Editora A Trolha, 1995, p. 93. 3 RODRIGUES, Raimundo. A Filosofia da Maçonaria Simbólica. Londrina: Editora A Trolha, 1999, p. 108.
  • 47. 46 AS PRIMEIRAS LOJAS MAÇÔNICAS NO BRASIL Até que novas fontes possam elucidar toda a polê- mica envolvendo os fatos narrados nos dois parágrafos an- teriores, documentos mais robustos afirmam que a primeira Loja Maçônica do Brasil foi criada no Rio de Janeiro em 1801 com o nome de Loja Maçônica Reunião. Sobre este assunto, Frederico Guilherme da Costa afirma que “em 1801 a Loja Reunião foi regulamentada e instalada sob o reconhecimen- to do Oriente da Ilha da França”. O mesmo autor ainda diz: “Se a Cavaleiros da Luz foi a primeira Loja Maçônica do Bra- sil e o Areópago o primeiro núcleo secreto revolucionário, a Loja Reunião, à luz dos documentos, respeitadas as leis e tradições maçônicas, foi a primeira Loja Maçônica regular do Brasil”4 . Mario Verçosa, citado também por Raimundo Rodri- gues, relaciona as seguintes lojas criadas no Brasil após a Loja Reunião: Virtude e Razão, em Salvador (BA), em 1802; Constância, Filantrópica, Emancipação e Beneficência, todas no Rio de Janeiro (RJ), em 1803; Distintiva, em Niterói (RJ), em 1812; Comércio e Artes, no Rio de Janeiro (RJ), em 1815; Pernambuco Oriente e Pernambuco Ocidente, ambas em Re- cife (PE), em 1815. 4 COSTA, Frederico Guilherme. Maçonaria Dissecada . Londrina: Editora A Trolha, 1995, p. 93.
  • 48. 47 Em Minas Gerais, a primeira Loja maçônica foi criada em Vila Rica, hoje Ouro Preto, que era a capital da província. Às vésperas da visita do Príncipe Dom Pedro I, em 24 de novembro de 1821, alguns maçons que viviam em Vila Rica, liderados pelo francês Guido Thomás Marlièri, criaram a Loja Mineiros Reunidos. O objetivo imediato era acolher e apoiar o Príncipe Regente, que pouco antes havia tomado a decisão de permanecer no Brasil, mesmo contra a vontade da Corte Portuguesa que o queria de volta para depois re- tornar o Brasil a condição de colônia. Essa loja teve vida muito curta. A segunda Loja maçônica criada em Minas Gerais se deu em Uberaba, no ano de 1859. Os maçons que viviam na cidade, motivados pelo desejo de se organizarem em defesa da abolição da escravatura fundaram a Loja Amparo da Vir- tude em 01 de junho de 1859, com registro no Grande Ori- ente do Brasil (GOB) sob o número 129. Essa Loja permane- ceu ativa por 11 anos e fechou quando a cidade passou por um recesso econômico, forçando muitos membros daquela oficina a voltarem aos seus Orientes. A Loja maçônica em atividade mais antiga de Minas Gerais, e em atividade, é a Fidelidade Mineira, que labora na cidade de Juiz de Fora desde 1870. Inicialmente filiada ao GOB, hoje está vinculada ao GOMG. Um fato histórico mar- cante no Brasil se deu na Loja Juiz-Forana, onde foi acesa a
  • 49. 48 primeira lâmpada com energia elétrica da América do Sul. A Usina de Marmelos, inaugurada em 1889, escolhera a sede da Loja para mostrar aos brasileiros o invento de Thomas Edison, feito dez anos antes. No estado de São Paulo, onde está o maior número de Lojas maçônicas do Brasil, a Maçonaria começou com a fundação da Loja Intelligencia, em Porto Feliz, no ano de 1831. Entre os maçons ilustres iniciados naquela loja está o Padre Diogo Antônio Feijó, Senador e Regente do Império. Um ano depois, em 1832, era criada a segunda loja no Esta- do do estado, a Loja Amizade. Os maçons Criscuolo e Nicá- cio afirmam que “por ser a primeira da capital paulistana e também por ter em seu seio, desde a fundação, membros ligados à Faculdade do Largo São Francisco, (...) passou a ser o centro da Maçonaria da Província, (...) com poderes de fundar outras oficinas, que foram surgindo nos principais municípios”.5 Nessa Loja foram iniciados Joaquim Nabuco e Ruy Barbosa, dois grandes nomes do abolicionismo brasilei- ro. Um fato curioso é que a Loja Amizade chegou a ter mais de trinta padres em seu quadro de obreiros. 5 CRISCUOLO, Rodrigo A.; NICÁCIO, Hayran. A Fundação da Loja Ami- zade “A Pioneira”. 2012, p. 6. Disponível em http://www.lojaamizade.com.br/. Acesso em 14.12.2020.
  • 50. 49 ATUAÇÃO DA MAÇONARIA BRASILEIRA NA INDEPENDÊNCIA E NA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA Quando se fala nos primeiros anos da Maçonaria no Brasil, não se pode deixar de mencionar a sua relação com dois fatos históricos e relevantes para o país: a independên- cia e a abolição da escravatura. Entre os articuladores da independência, estavam os maçons José Bonifácio de An- drada e Silva, Gonçalves Ledo e José Clemente. No movimen- to abolicionista, destacam-se os maçons José do Patrocínio, Barão do Rio Branco, Euzébio de Queiroz, Luis Gama, Joa- quim Nabuco, Visconde de Rio Branco, Quintino Bocaiúva, Saldanha Marinho, Ruy Barbosa, Barão de Mauá e outros. Em 1822, com José Bonifácio como líder maior, a Maçonaria brasileira articulava a entrada do Príncipe Regen- te em seus quadros com o propósito de se fazer a indepen- dência sem traumas e conflitos. Sendo assim, Dom Pedro I foi iniciado em 02 de agosto de 1822 e, três dias depois, numa ascensão rápida como nunca se viu, foi eleito Venerá- vel Mestre, ocupando o cargo de Grão-Mestre logo em segui- da, substituindo José Bonifácio. O maçom José Castellani definiu muito bem esse momento histórico quando escreveu que “a independência do Brasil era a meta dos fundadores do Grande Oriente e logo todos eles dedicaram-se a conse- gui-la, embora o processo de emancipação, nos meios maçô-
  • 51. 50 nicos, já tivesse sido iniciado antes de 17 de junho de 1822”.6 Além disso, a Maçonaria brasileira havia tomado pa- ra si a bandeira da abolição. Este movimento vinha aconte- cendo desde o início do século 19 e ganhou expressão inter- nacional em 1825, quando um manifesto do maçom José Bonifácio de Andrade e Silva foi revisto durante o seu exílio em Bordéus e publicado em Paris no mesmo ano.7 Foi a pri- meira manifestação de um homem público, com a notorie- dade de José Bonifácio, a favor da abolição da escravatura. A defesa abolicionista ganhou força entre os ma- çons, culminando com o lançamento de uma campanha pela emancipação dos escravos no Brasil lançada em 1865 por Saldanha Marinho — na época Presidente da Província de Minas Gerais —, que era o Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil. Marinho escreveu: “Declara-se extinta a escravidão. É o único caminho... Nenhum brasileiro que ame a sua pátria pode deixar de ser pela abolição absoluta. Só a inépcia e a improbidade administrativa podem sustentá-la”.8 6 CASTELLANI, José. Os Maçons na Independência do Brasil. Londrina: Editora A Trolha, 1993, p. 45. 7 SILVA, Ana Rosa Cloclet da. De Império a Nação. In: Revista História da Biblioteca Nacional. n. 24, 2007, p. 33. 8 MONTEIRO, Elson Luiz Rocha. A Maçonaria e a Campanha Abolicio- nista no Pará: 1870-1888. Dissertação (Mestrado em História) - Univer- sidade Federal do Pará. Belém, 2009, p. 41.
  • 52. 51 Em o todo país, a proposta da abolição lenta e gra- dual foi abraçada pelos maçons, que, através das Lojas ou mesmo de iniciativas próprias, atuavam junto ao governo imperial na tentativa de contrapor aos interesses dos lati- fundiários. Muitas ações, Brasil afora, passaram a ser im- plementadas nas Lojas. Em 1870, Ruy Barbosa, que havia entrado na Ordem há um ano, propôs um projeto que torna- va obrigatório que “todas as lojas maçônicas brasileiras re- servassem um quinto de suas receitas para alforriamento de crianças escravas”.9 Percebe-se. Pois, que as principais leis que levaram à abolição gradativa da escravidão no Brasil tiveram participa- ção marcante de maçons. Alguns por assumirem postos- chave no governo Imperial e outros, por suas atividades co- mo escritores e jornalistas influentes, introduziram ideais libertários dentro da sociedade civil. Desse modo, a proibi- ção do tráfico de escravos, por lei promulgada em 1870, foi elaborada pelo então Ministro da Justiça Eusébio de Queirós. Já a Lei do Ventre Livre (1871), de Pimenta Bueno, foi defen- dida no parlamento por Joaquim Nabuco e apresentada por Visconde do Rio Branco. Finalmente, a Lei Áurea, que extin- guiu a escravidão no Brasil, promulgada pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, foi elaborada por Antônio Ferreira 9 COLUSSI, Eliana Lúcia. A Maçonaria Brasileira no Século XIX. São Pau- lo: Editora Saraiva, 2002, p. 36.
  • 53. 52 Viana, que era Ministro da Justiça, e apresentada por Rodri- go Augusto da Silva, então Ministro da Agricultura e Depu- tado do estado de São Paulo. Na defesa do projeto de lei, Rodrigo Silva contou com a intervenção providencial de Joa- quim Nabuco na árdua tarefa de convencer os parlamenta- res. Todos eles eram maçons.
  • 54. 53 Capítulo cinco A MAÇONARIA EM UBERABA Em meados do século XIX, Uberaba já era uma cida- de bem desenvolvida e com uma vida cultural diferenciada. No ano de 1868, sua população contava 7.681 habitantes, sendo 21,3% escravizados.1 No município, a proporção de negros, índios e mulatos em relação aos brancos era bem menor que a existente no país. No Brasil, em 1877, numa população de aproximadamente 10 milhões de pessoas, mais de 6 milhões eram negros , índios e mestiços2 . 1 SAMPAIO, 2001. Citado por GOMES, Alessandra Caetano. Os Pretos forros do Sertão da Farinha Podre: Um caso de equilíbrio entre os sexos dos libertos de Uberaba-MG. 1840-1888. XIV Encontro Nacional de Es- tudos Populacionais, ABEP, Caxambú-MG, Unesp Campus de Franca. 2004, p. 313. 2 GOMES, Laurentino. Escravidão. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2019. V. 1, p. 30.
  • 55. 54 O Arraial da Farinha Podre, primeiro nome dado à cidade de Uberaba, tornou-se freguesia em 1820, vila em 1836 com a denominação de Vila de Santo Antônio e de São Sebastião do Uberaba e cidade em 1856. Ao se emancipar, o município já tinha uma pecuária, um comércio e uma indústria conside- rados desenvolvidos para os padrões da época, atraindo muitos imigrantes. Entre os forasteiros, havia alguns ma- çons que logo se identificaram com os mesmos ideais, liga- dos especialmente em defesa das minorias. Assim, no ano de 1859, maçons vindos de diferentes partes do Brasil, mo- tivados especialmente pela necessidade de se organizarem em benefício de objetivos comuns — sendo o mais relevante deles a abolição da escravatura —, fundaram a primeira Loja maçônica da cidade. É oportuno lembrar que a Maçonaria, da forma que conhecemos hoje, surgiu na Inglaterra após um longo perío- do de conflitos religiosos em toda Europa, decorrentes da Reforma Protestante. Isso explica o engajamento da Ordem às causas humanitárias, como foi o caso da defesa ferrenha ao fim da escravização. PRIMEIRAS LOJAS MAÇÔNICAS EM UBERABA Inicialmente, é relevante lembrar ao leitor que, quando se fala da história da Maçonaria em Uberaba, Inácio
  • 56. 55 Ferreira é apresentado como referência indispensável. Em 1962 ele publicou Histórico da Maçonaria em Uberaba-MG 3 , que retrata a fase áurea da instituição na cidade, especial- mente no período entre 1859 e 1917. Seguem abaixo as suas primeiras Lojas. 1- Loja Maçônica Amparo da Virtude Sua fundação se deu em 01 de junho de 1859, com registro no Grande Oriente do Brasil (GOB) sob o número 129. Segundo Inácio Ferreira, essa Loja se tornou capitular em 01 de outubro de 1860 e benemérita em 10 de outubro de 1867. Ela funcionava no Largo da Matriz, hoje Praça Rui Barbosa, em um prédio que posteriormente abrigou o Cine São Luiz. No livro História da Maçonaria no Triângulo Minei- ro, Antônio Pereira da Silva defende que em Minas Gerais a Maçonaria começou efetivamente com a criação dessa Loja. Ele argumenta que a Loja Mineiros Reunidos, criada em 1821 na capital da Província (Vila Rica), teve duração tão breve que “seria pretensioso dizer-se que a maçonaria mineira começou em Vila Rica”.4 3 FERREIRA, Inácio. Histórico da Maçonaria em Uberaba-MG. Uberaba: Vetha Editora e Gráfica, 1987. pp. 15, 17-19, 22. 4 SILVA, Antônio Pereira da. História da Maçonaria no Triângulo Minei- ro. Uberlândia: Ed. do Autor, 2015. pp. 11, 17.
  • 57. 56 01 – Cine teatro São Luiz, ano 1900, onde funcionava a Loja Amparo da Virtude. Além das ações em defesa da liberdade dos escravi- zados, a partir do ano de 1865 a Loja Amparo da Virtude abraçou outra causa humanitária, relacionada aos familiares dos voluntários que serviram na Guerra do Paraguai. Em 1864, o Presidente do Paraguai Solano Lopes ordenou a a- preensão do Vapor brasileiro Marquês de Olinda, e logo de- pois seu exército invadiu a Província do Mato Grosso, inici-
  • 58. 57 ando um conflito que perdurou até 1870. Uberaba era o ponto de convergência das tropas federais e de voluntários que partiram com destino a Mato Grosso, resultando na de- sastrada operação que ficou conhecida como Retirada da Laguna. A força expedicionária reunida em Uberaba contava com 1.575 soldados, a grande maioria de voluntários que partiram deixando suas famílias na cidade. Ferreira (1987) relatou que os maçons da Loja Amparo da Virtude incluíram entre suas ações, “o amparo moral e financeiro às famílias daqueles que eram convocados para a Guerra do Paraguai, procurando visitá-las e tudo fazendo para que nada lhes faltasse durante e após o conflito bélico”. No mesmo livro, o maçom Inácio Ferreira, médico psiquiatra com atuação destacada em ações humanitárias, narra o encerramento das atividades da Loja Amparo da Virtude: “Com o término da Guerra do Paraguai e com as dificuldades de reajuste do País à vida normal, mormente devido ao desgaste financeiro, a concentração de maçons em Uberaba foi, aos poucos, diminuindo, pois os seus elementos dispersaram-se voltando uns para suas cidades e retomando outros os seus negócios, os quais, na época, geralmente o- brigavam a viagens longínquas e demoradas. Foi assim que, penosamente, a Loja Maçônica Amparo da Virtude acabou encerrando suas atividades no ano de 1870”.
  • 59. 58 2- Loja Maçônica Amparo da Virtude II Logo após a breve recessão causada pela Guerra do Paraguai, Uberaba continuou em franco desenvolvimento, e sua população em 1872 já era composta por 19.978 habitan- tes, sendo 16,5% deles ainda escravizados.5 Os ideais aboli- cionistas continuavam na mente dos integrantes da extinta Amparo da Virtude e de outros maçons que haviam chegado à cidade após o seu fechamento. Foi então que esse grupo decidiu fundar aquela que seria a segunda Loja maçônica de Uberaba. Intitulada Loja Amparo da Virtude II, sua fundação se deu em 16 de maio de 1872, sendo elevada à Capitular em 1874, com registro no Grande Oriente do Brasil sob o número 221. Antônio Pereira da Silva, que fez uma ampla pesquisa sobre a Maçonaria no Triângulo Mineiro, afirma que “tudo foi registrado como que fosse uma nova loja, en- tretanto, todos os indícios indicam que houve um renasci- mento da velha Loja. Tanto que seu nome permaneceu”.4 5 Catálogo Histórico. Ano I, n.6, Uberaba, 1987. Citado por GOMES, Alessandra Caetano. Os Pretos forros do Sertão da Farinha Podre: Um caso de equilíbrio entre os sexos dos libertos de Uberaba-MG. 1840- 1888. XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, Caxam- bú-MG, Unesp Campus de Franca. 2004, p. 3.
  • 60. 59 Para servir de templo à Amparo da Virtude II, seus obreiros compraram uma casa no Beco da Dona Luísa, que passou a ser chamado de Beco da Maçonaria, hoje Rua Major Eustáquio. O livro Histórico da Maçonaria em Uberaba traz a relação de vinte maçons que pertenceram a essa Loja. A segunda Loja maçônica de Uberaba funcionou de 1872 a 1890. Ferreira relata que seu esfacelamento se deu “pelas pressões junto até às famílias dos próprios maçons. Essas pressões medonhas foram reforçadas pelas campa- nhas de ódio e vingança dos poderosos que haviam perdido o braço escravo e viam os seus campos abandonados, mes- mo porque os libertos, na euforia do fim do cativeiro, temi- am voltar aos trabalhos rurais, ante a possível represália dos seus antigos senhores, ao tê-los de novo em suas mãos...” Um pouco de conhecimento sobre a história da o- cupação das terras na região de Uberaba ajuda a entender a pressão exercida sobre a Maçonaria naquela época. Com o esgotamento do ouro na região, houve um crescimento mui- to grande no interesse por sesmarias, já que as terras eram planas e parte delas férteis especialmente as que ficavam às margens dos rios. Rezende (1983), citada por Fonseca6 , a- firma que “as terras eram quase sempre doadas ou vendidas 6 FONSECA, André Azevedo da. Uma História Social de Uberaba. Histó- ria Revista. Goiânia, v. 19. n. 1. 2014. p. 201.
  • 61. 60 por um preço irrisório e não eram oneradas com impostos”. Para André Fonseca, “isso fez com que alguns poucos patri- arcas de prestígio se tornassem proprietários de fazendas muito extensas, firmando assim um domínio territorial atra- vés de clãs familiares. A ascendência da pecuária consolidou o poder dos fazendeiros que, mais tarde, monopolizariam também as atividades comerciais”.6 Esses clãs familiares usavam mão de obra escrava, e, portanto, não somente eram contra a abolição da escravatu- ra, como também empregavam quaisquer meios para elimi- nar os seus defensores. Assim, a Maçonaria, que amparava a população escravizada, era vista como inimiga dessa classe influente. Por razões óbvias, nas publicações que trazem as relações dos maçons integrantes das primeiras Lojas de U- beraba, não se encontram nomes de famílias tradicionais que pertenciam a esses clãs. 3- Loja Maçônica União Fraternal Seis anos após o encerramento das atividades da Amparo da Virtude II, com os ânimos mais arrefecidos na sociedade uberabense, surge a terceira Loja maçônica na cidade, intitulada Loja União Fraternal, fundada em 01 de fevereiro de 1896, com registro no GOB sob o número 496. A motivação que levou os maçons dispersos em Ube- raba a reerguerem a Maçonaria local foi a continuidade da
  • 62. 61 grandiosa obra iniciada pelo Frei Eugênio Maria de Gênova, imigrante italiano. No ano de 1858, constatando a precarie- dade do atendimento médico, especialmente à classe mais humilde, Frei Eugênio fundou a Santa Casa de Misericórdia. Treze anos depois, o religioso, que pertencia à Ordem dos Capuchinhos, faleceu sem concluir a obra. Passados 25 anos do seu falecimento, o hospital continuava sem conclusão, sendo parte dele utilizada pelo Colégio Nossa Senhora das Dores, e a área no seu entorno, cerca de 70 ha, por uma congregação ligada à Igreja Católica. Então, a Loja União Fraternal passou a defender aber- tamente a necessidade de concluir a obra e de colocá-la em funcionamento. Para arrecadar os vultuosos recursos neces- sários, os maçons participaram ativamente das campanhas para arrecadação de fundos como quermesses, festas, preca- tórias e subscrições. Em 1896, uma nova mesa diretora foi eleita, tendo Luis Soares Pinheiro Júnior como Provedor. Luis Soares era o Venerável Mestre da Loja União Fraternal e con- tou com o apoio irrestrito dos irmãos maçons. Assim, no dia 14 de junho de 1898, Uberaba estava em festa com a inau- guração da Santa Casa, uma obra grandiosa, com 2.555 m2 . A Maçonaria Universal vicejava, mesmo com a oposi- ção de Igreja Católica e dos conservadores contrários aos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Em Uberaba não era diferente. Entretanto, “o que a pressão e a força do inimigo não conseguiram, conseguiu-o... o fogo!”. Nessa fra-
  • 63. 62 se, Inácio Ferreira (1987) se refere ao incêndio que destruiu o templo que havia abrigado as Lojas Amparo de Virtude II e União Fraternal, bem como todos os arquivos das três pri- meiras Lojas que existiram em Uberaba. Sobre o fogo, o historiador uberabense José Mendon- ça (apud FERREIRA, 1987) conta que o bêbado e morador de rua apelidado de “Pedro Peru” ateara fogo no prédio da Ma- çonaria, à Rua Senador Pena (na verdade, a Loja ficava na rua Major Eustáquio). No entanto, ainda pairam dúvidas so- bre a autoria do crime. Em 1906, a União Fraternal, que fora uma Loja atuan- te e com grande número de obreiros, encerrou suas ativida- des, enfraquecida por um fato lamentável que o leitor toma- rá conhecimento no parágrafo seguinte. 4- Loja Maçônica Pátria Universal A tolerância pregada no âmbito da Maçonaria não foi capaz de sobrepujar a querela entre dois maçons da União Fraternal: em 10 de junho de 1897, por motivos políticos, Artur Lobo assassinou Antônio Pereira de Artiaga. O crime se deu nas dependências da Escola Normal, que funcionava no prédio da União Fraternal. O homicídio levou mais de uma centena de maçons a fundarem uma nova Loja intitulada Pátria Universal, a qual funcionou um período na Rua Artur Machado, nº 86, num
  • 64. 63 sobrado pertencente a Pascoal Toti. Sua fundação se deu em 1º de maio de 1898 e a elevação à Capitular, em 1899, com registro no Grande Oriente do Brasil sob o número 590. As- sim, pela primeira vez, Uberaba tinha duas Lojas maçônicas em atividade. Nessa fase áurea da Maçonaria uberabense, muitos de seus membros eram imigrantes que chegaram à cidade atra- ídos pelo desenvolvimento pujante da região. Entre eles es- tava Felipe Aché, um médico carioca que se tornou o Vene- rável Mestre da Loja em 1899 e, em 1908, foi eleito o primei- ro Prefeito de Uberaba pertencente à Ordem maçônica. Não se sabe ao certo quando essa Loja encerrou suas atividades e nem mesmo o motivo que levou a isso. Inácio Ferreira (1987) relata uma iniciação ocorrida lá em 1906, o que nos leva a concluir que ela funcionou pelo menos até esse ano. LOJAS MAÇÔNICAS ATIVAS EM UBERABA Enquanto esta obra estava sendo escrita, no ano de 2020, havia 16 Lojas maçônicas em atividade no município de Uberaba. Oito delas são jurisdicionadas à Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, quatro, ao Grande Oriente de Mi- nas Gerais e as outras quatro, ao Grande Oriente do Brasil. Todas elas são associadas sob a liderança da União de Lojas Maçônicas de Uberaba e Região, que apoia e promove ações
  • 65. 64 de integração entre as Lojas através de sessões conjuntas, comemorações e outros eventos que reafirmam os laços de união fraternal entre os maçons. 1. Loja Maçônica Estrela Uberabense É a Loja maçônica de Uberaba com o período mais longo de atividades, passando já de um século de funciona- mento. Foi instalada em 17 de janeiro de 1918 e regulariza- da em 25 de julho do mesmo ano, com registro no Grande Oriente do Brasil (GOB) sob o número 941. 02 – Loja Estrela Uberabense, a mais antiga de Uberaba, em atividade.
  • 66. 65 Os fatos que levaram à sua fundação se deram no final de 1917. Na cidade havia muitos maçons egressos das Lojas União Fraternal e Pátria Universal, bem como outros que vieram de diferentes cidades. Reunidos no dia 29 de dezembro de 1917, fundaram a Loja Maçônica Caridade e União. Porém, 19 dias depois, eles decidiram anular as atas e as decisões anteriores e fundaram outra Loja — a Estrela Uberabense. Sediada na Praça Comendador Quintino, nº 272, suas reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem na 1ª, 2ª e 3ª terças-feiras do mês, às 20 horas. 2. Loja Maçônica Estrela do Triângulo Por 45 anos havia apenas a Loja Estrela Uberabense em atividade regular no Oriente de Uberaba, até o momento em que alguns maçons daquela oficina decidiram fundar a ARLS Estrela do Triângulo, de nº 27, sob a jurisdição do Grande Oriente de Minas Gerais (GOMG). Isso se deu em 17 de junho de 1963. Com sede à Rua Ituiutaba, nº 180/166, suas reuniões, no Rito Moderno, ocorrem nas segundas-feiras, às 20 horas.
  • 67. 66 3. Loja Maçônica Avenir Miranzi Fundada em 13 de dezembro de 1973, com a deno- minação Loja Estrela Uberabense Livre. Somente em 13 de dezembro de 1979, passa a ser designada pelo título distin- tivo Augusta e Respeitável Loja Simbólica Avenir Miranzi, nº 113. No capítulo seguinte, a história dessa Loja, filiada ao GOMG, é apresentada com maior detalhamento. 03 – Loja Avenir Miranzi, que nasceu como Estrela Uberabense Livre. Com sede à Rua Cel. Joaquim de Oliveira Prata, nº 1489, suas reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocor- rem nas terças-feiras, às 20 horas.
  • 68. 67 4. Loja Maçônica Vinte de Agosto Uberabense Fundada em 20 de agosto de 1977, sob a jurisdição das Grandes Lojas do Estado de Minas Gerais, filiou-se pos- teriormente ao Grande Oriente de Minas Gerais (GOMG), re- cebendo o número de registro 179. Sediada na Av. Santos Dumont, nº 2650, suas reuni- ões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas segundas- feiras, às 20 horas. 5. Loja Maçônica Irmãos do Triângulo Essa Loja foi fundada em 08 de agosto de 1980, sob a jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o número de registro 095. Sediada na Av. da Saudade, nº 1085, suas reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas segundas- feiras, às 20 horas. 6. Loja Maçônica Obreiros do Bem Sua fundação se deu em 08 de janeiro de 1982, sob a jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o número de registro 120. Sediada na Av. da Saudade, nº 1085, suas reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas sextas-feiras, às 20 horas.
  • 69. 68 7. Loja Maçônica Quatro de Junho Uberabense Fundada em 04 de junho de 1983, sob a jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o número de registro 158. Com sede à Av. da Saudade, nº 1085, suas reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas quintas-feiras, às 20 horas. 8. Loja Maçônica Sete Colinas Fundada em 12 de junho de 1985, sob a jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o número de registro 201. Com sede à Av. Santos Dumont, nº 2650, suas reuni ões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas terças- feiras, às 20 horas. 9. Loja Maçônica Estrela de Damasco Fundada em 05 de novembro de 1988, sob a jurisdi- ção do Grande Oriente do Brasil, com o número de registro 2512. Sediada na Praça Comendador Quintino, nº 272, suas reuniões, no Rito Adonhiramita, ocorrem nas segundas- feiras do mês, às 20 horas.
  • 70. 69 10. Loja Maçônica Fraternidade Uberabense Sua fundação se deu em 28 de junho de 1996, sob a jurisdição do Grande Oriente do Brasil, com o número de registro 2958. Sediada na Praça Comendador Quintino, nº 272, suas reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas quin- tas-feiras, às 20 horas. 11. Loja Maçônica Capitólio das Águias Uberabense Sua fundação se deu em 02 de dezembro de 2002, sob a jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o número de registro 284. Sediada à Rua Artur Machado, nº 40, 4º andar, suas reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas se- gundas-feiras, às 20 horas. 12. Loja Maçônica Acadêmica União Uberabense Fundada em 12 de maio de 2005, sob a jurisdição do Grande Oriente do Brasil, com o número de registro 3661. Sediada na Praça Comendador Quintino, nº 272, suas reuniões, no Rito Brasileiro, ocorrem nos 1º e 3º sábado do mês, às 18 horas.
  • 71. 70 13. Loja Maçônica Templários de Uberaba Sua fundação se deu em 18 de fevereiro de 2009, sob a jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o número de registro 324. Sediada na Av. Santos Dumont, nº 2650, suas reuni- ões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas terças- feiras, às 20 horas. 14. Loja Maçônica Ricardo Misson Sua fundação se deu em 27 de janeiro de 2011, sob a jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o número de registro 334. Sediada na Rua José Eustáquio de Melo, nº 1.499, Jar- dim Laranjeiras, suas reuniões, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ocorrem nas segundas-feiras, às 20 horas. 15. Loja Mineira de Estudos e Pesquisas Maçônicas Fundada em 16 de fevereiro de 2017, sob a jurisdição do Grande Oriente de Minas Gerais, recebeu o número de registro 342. Sediada na Av. Santos Dumont, nº 2650, suas reuni- ões, no Rito de York , ocorrem nas últimas quintas-feiras do mês, às 20 horas.
  • 72. 71 16. Loja Maçônica Frank Sherman Land Sua fundação se deu em 30 de maio de 2019, sob a jurisdição da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, com o número de registro 380. Sediada na Av. Santos Dumont, nº 220, 2º andar, suas reuniões, no Rito de York, ocorrem a cada quinze dias, nas segundas-feiras das semanas ímpares, às 20 horas.
  • 73. 72 Capítulo seis HISTÓRIA DA ARLS AVENIR MIRANZI Em 1973 havia apenas uma Loja maçônica em Ubera- ba — Loja Estrela Uberabense —, filiada ao Grande Oriente do Brasil (GOB). O ano havia começado, e o assunto mais comentado nos meios maçônicos eram as eleições gerais para o GOB, marcadas para fevereiro daquele ano. O Grão- Mestre Geral tinha o candidato de sua preferência e não re- cebeu de bom grado a informação de que o Grão-Mestre de Minas Gerais, Athos Vieira de Andrade, lançara-se como candidato da oposição. O processo eleitoral caminhava na normalidade, e a oposição recebia grande apoio não só em Minas Gerais e em São Paulo, estados com maior número de eleitores maçônicos, mas também em outros estados da fe- deração. Preocupados com a lisura das apurações, os oposito- res lançaram um manifesto que, entre outros assuntos, soli-
  • 74. 73 citava cópias das atas das eleições. No livro A História do Grande Oriente de Minas Gerais, o autor Jorge Lasmar des- creve o desfecho da apuração paralela: “ao se proceder a apuração, confirmaram-se os prognósticos. Athos Vieira de Andrade recebeu 7.175 votos e a Osmane Vieira de Resende coube o restantes de votos, 3.820”.1 Entretanto, o resultado oficial divulgado pelo GOB informava a vitória de Osmane (com 2.129 votos) sobre Athos (1.107 votos). Sobre o ocorri- do, Castellani e Carvalho escreveram: “no Tribunal (Eleitoral) mais de 6 mil votos de Athos foram anulados, enquanto Osmane perdeu menos de 2 mil, tendo, isso, acontecido sob alegação de débitos com o poder central e preenchimento irregular das atas das eleições”. Os mesmos autores afirma- ram ainda que “todo o processo ocorreu num ambiente bas- tante agitado, já que os representantes da chapa oposicio- nista, na apuração, alegavam fraudes na anulação das atas eleitorais, com parcialidade do tribunal, em favor dos candi- datos oficiais”.2 LASMAR, Jorge. História do Grande Oriente de Minas Gerais e Outras Histórias. Belo Horizonte: Lithera Maciel Editora Gráfica Ltda, 1999, pp. 148-162. 2 CASTELLANI José; CARVALHO, William Almeida de. História do Gran- de Oriente do Brasil: A Maçonaria na História do Brasil. São Paulo: Ma- dras, 2009, p. 264.
  • 75. 74 Segundo Camelier (apud LASMAR, 1999), que fora ex- pulso do GOB por se posicionar contra o resultado oficial das eleições, “na semana que antecedeu o pleito, o GOB en- viou para as lojas que mostravam simpatia pela candidatura de Athos materiais não solicitados (rituais, exemplares da constituição, etc), de forma que no dia da eleição elas esti- vessem em débito... Assim, os votos foram sendo anula- dos”.1 A imprensa brasileira deu grande destaque ao assun- to. Em seu livro, Lasmar cita uma passagem da revista se- manal O Cruzeiro publicada no dia 30.05.1973: “segundo o processo eleitoral, os dirigentes (do GOB) teriam usado de vários expedientes para favorecer o candidato oficial”.1 A forma com que foi conduzido o processo eleitoral acabou por formar dois grupos com pensamentos antagôni- cos dentro da Loja Estrela Uberabense. Um deles, liderado pelo então Venerável Mestre Elbas Ferreira de Almeida, não aceitava o resultado oficial, considerando-o fraudulento. Assim, os maçons que apoiavam essa ideia — entre eles, Inimá Baroni, Alfen Silva, Avenir Miranzi, Célio de Oliveira, José Expedito de Oliveira e Ivo Ribeiro de Sousa — passaram a promover várias reuniões para discutir o assunto e definir as ações que seriam tomadas. Essas assembleias de caráter informal se deram em diferentes locais, sendo o mais recor- rente deles a Churrascaria El Toro, que ficava na Rua Artur Machado. Posteriormente, outros maçons da Loja foram se
  • 76. 75 juntando ao grupo e, por fim, decidiram fundar uma Loja sob a jurisdição do Grande Oriente de Minas Gerais. Em 13 de dezembro de 1973, a ata de fundação da Loja Estrela Uberabense Livre estava lavrada, tendo como primeiro Venerável Alfen Silva. Filiada ao Grande Oriente de Minas Gerais (GOMG), a nova Loja se reunia no templo da Estrela do Triângulo, que na época era um prédio bem sim- ples, localizado nos fundos do terreno onde foi edificado o templo definitivo daquela Loja. Passada a exacerbação ge- rada pela dissidência, os membros decidiram mudar o de- nominação para Loja Maçônica Pilar de Pedras, desvinculan- do-se do nome de origem, como sinal de que os ressenti- mentos haviam ficado no passado. Enquanto tramitava a documentação para mudança de nome, ocorreu a morte precoce do irmão Avenir Miranzi, um dos sete idealizadores da nova oficina. Em 29 de no- vembro de 1977, apenas cinco dias após a passagem de A- venir para o Oriente Eterno, o irmão Elbas Ferreira de Al- meida propôs uma nova mudança no nome da Loja com o intuito de homenagear o irmão que soube engrandecer a Ordem maçônica. Assim, na reunião da semana seguinte, a proposta foi discutida e aprovada, e a permissão para mu- dança do nome pelo GOMG se deu em 12 de setembro de 1979 através do Ato 045, assinado pelo Grau-Mestre Acácio Paulino de Paiva. Por fim, a Loja Estrela Uberabense Livre passou a se denominar Augusta e Respeitável Loja Simbólica
  • 77. 76 Avenir Miranzi Número 113 somente em 13 de dezembro de 1979, data em que o Grande Oriente de Minas Gerais (GOMG) homologou a nova nomenclatura. Fac-símile do Ato nº 045, de 12 de setembro de 1979, aprovando a mudança de título distintivo de Loja Maçônica Estrela Uberabense Livre para Augusta e Respeitável Loja Simbólica Avenir M|iranzi.
  • 78. 77 04 – Vista interna do templo da Loja Avenir Miranzi Para o GOMG, a data de nascimento da Loja Avenir Miranzi é 13 de dezembro de 1979. Contudo, avaliando os fatos com maior rigor histórico, é possível afirmar que seu nascimento se deu seis anos antes, em 13 de dezembro de 1973, data da criação da Loja Estrela Uberabense Livre. O próprio GOMG, no Ato reproduzido na página anterior, de- clara que “a Loja Maçônica Estrela Uberabense Livre passa a ser designada pelo título distintivo Augusta e Respeitável Loja Simbólica Avenir Miranzi”.
  • 79. 78 O PATRONO DA LOJA Avenir Miranzi nasceu em Uberaba no dia 22 de ja- neiro de 1922. Descendente de imigrantes italianos, herdou a fábrica de cerâmicas do pai e, estando bem sucedido nos negócios, expandiu suas atividades nas áreas de refloresta- mento e avicultura. Mesmo com muitas atribuições profissionais, Miranzi conseguia conciliar suas atividades, dedicando boa parte de seu tempo em benefício aos mais necessitados. Foi um dos fundadores do Hospital da Beneficência Portuguesa, diretor do Instituto dos Cegos do Brasil Central e membro da dire- toria da Associação de Amparo aos Leprosos. 05 – Avenir Miranzi
  • 80. 79 Foi admitido maçom na Loja Estrela Uberabense, on- de teve atuação destacada por muitos anos, inclusive com mandato de Venerável por três gestões. Juntou-se ao grupo de obreiros dissidentes de sua Loja-Mãe que, em 13 de de- zembro de 1973, fundou a Loja Estrela Uberabense Livre. Faleceu precocemente em 24 de novembro de 1977, aos 55 anos de idade. Na reunião da Estrela Uberabense Livre ocorrida cinco dias após o falecimento do Avenir, o obreiro Elbas Ferreira de Almeida propôs que a nova denominação da Loja, Pilar de Pedras, fosse alterada para Augusta e Respeitável Loja Simbólica Avenir Miranzi, como forma de reconhecimento ao maçom exemplar que soube cultivar virtudes e cavar masmorras aos vícios. CONSTRUÇÃO DO TEMPLO Inicialmente, as reuniões da Loja eram realizadas no templo da Loja Estrela do Triângulo, e discussões acaloradas sobre a construção de um santuário próprio ocorriam em quase todas as sessões. O primeiro obstáculo era adquirir o espaço físico para a edificação, mas os recursos em caixa eram escassos e o anteprojeto demandava a aquisição de três terrenos.
  • 81. 80 Em sessão econômica, no dia 08 de agosto de 1978, o irmão José Expedito de Oliveira ofereceu metade de um ter- reno que lhe pertencia, sugerindo que a Loja adquirisse o restante de seu sócio. Na mesma reunião, eufórico pela doa- ção que acabara de ser apalavrada, José Borges da Silva a- nunciou que doaria todos os tijolos. Na sessão que ocorreu quinze dias depois, o Venerável Alfen Silva comunicou que a Loja já tinha a posse provisória de um terreno e que buscava alternativas para adquirir os outros. Não passou muito tem- po e mais uma vez um irmão do quadro teve um ato de al- truísmo. Trata-se de Miguel Jorge Dib, que tinha alguns ter- renos na avenida onde seria construída a Loja. Com poucas palavras, ele conseguiu convencer seu irmão e sócio, Jamil Dib, a doar os dois terrenos que faltavam para edificar o templo. A escritura e a posse definitiva dos terrenos só se deram após a fundação da Fraternidade Feminina Pilar de Pedra, em 1º maio de 1979. A Loja Avenir Miranzi havia de- cidido que a Fraternidade seria sua mantenedora e, portan- to, receberia os imóveis em seu nome, evitando uma possí- vel ação do Grande Oriente do Brasil — que continuava de- mandando as Lojas dissidentes, alegando direitos sobre os seus bens. Para conduzir a obra, as responsabilidades e as a- tribuições foram definidas consensualmente: Célio de Olivei- ra e Gilberto Machado Magnino seriam os encarregados de
  • 82. 81 administrar a construção; Eurípedes de Freitas, o engenheiro responsável técnico; Oliveiro Nery da Silva iria supervisionar os trabalhos do mestre de obras José Garcez em tempo inte- gral e Alfen Silva se incumbiria das normas do Rito Escocês Antigo e Aceito para decoração do templo. Todos os profissionais de Engenharia e Arquitetura envolvidos na obra não cobraram honorários. O projeto ar- quitetônico foi feito por Aderlon Francisco de Assis Gomes e o cálculo estrutural, pelo engenheiro Ari Maciel da Costa. O desafio seguinte era levantar recursos para a construção. Afinal, era uma obra grande, com área construída de 412,00m2 (templo com 102,50 m2 ) e prevista para abrigar até 120 pessoas. Alem do templo, o prédio tinha áreas des- tinadas à diretoria, biblioteca, vestiário, espaço gourmet, sanitários, almoxarifado, sala dos “passos perdidos” e sala de reflexões. Em 24 de junho de 1979, com as escrituras dos três terrenos já lavradas e o projeto arquitetônico em mãos, vá- rios maçons, sendo a maioria da Loja Avenir Miranzi, reuni- ram-se para o lançamento da pedra fundamental. A construção teve início logo a seguir, em ritmo mo- derado, já que as finanças não permitiam de outra forma, pois os recursos disponíveis tinham sido suficientes apenas para respaldar os alicerces. O ambiente em Loja evidenciava o desânimo e o pessimismo de alguns irmãos pelo imenso
  • 83. 82 desafio — a edificação de um templo com mais de 400 m2 de área. Foi então que a liderança e o dinamismo do Venerável, irmão Celinho, fez-se presente mais uma vez. 06 – Lançamento da pedra fundamental. José Borges da Silva (1); Ma- noel Lopes de Oliveira (2); Sebastião Cardoso (3); Joaquim Adolfo Palhares (4); Celso Pereira de Almeida (5); Célio de Oliveira (6); Rai- mundo Gomide (7); José Expedito de Oliveira (8) e José Parreira de Jesus (9). Durante uma das sessões semanais, Celinho conduziu os trabalhos de forma muito objetiva e, uma hora após o início, anunciou que encerraria os trabalhos “com um simples gol-
  • 84. 83 pe de malhete”. Em seguida, solicitou a todos os presentes, sem exceção, que o acompanhassem em visita ao local da construção. Pairava no ar um sentimento de dúvida e curio- sidade. Muitos pensaram: “Como? Visita a uma hora dessa e no escuro?” Passava pouco das 21 horas quando os visitantes no- turnos caminhavam lentamente no escuro, tateando uma pilha de tijolos e outros objetos espalhados pela obra. De repente, o ambiente se fez claro. Os irmãos Feliciano Fantini, Gilberto Magnino e Ayres Vieira acenderam algumas luminá- rias pendentes, preparadas anteriormente pelo mentor da- quela visita. Em entrevista, Gilberto Magnin relatou que, “com os irmãos ainda admirados pela surpresa, Celinho ini- ciou um pronunciamento tão espontâneo e sincero que e- mocionou a todos os presentes. Muitos ainda engoliam em seco e enxugavam as lágrimas quando foram servidos salga- dinhos e refrigerantes”.3 Aquela visita, arquitetada pelo irmão Celinho, foi um marco na construção do templo. Os membros da Loja, contaminados pelo otimismo vibrante de seu líder, empe- nhavam-se ao máximo. O irmão Paulo Roberto Batista de Carvalho doou toda a areia, a terra e o cascalho. Já o cimen- to fora ofertado pelo Banco Francês e Brasileiro, resultante de uma intermediação com o diretor da instituição feita pelo irmão Gilberto Magnino. 3 Comunicação oral com Gilberto Machado Magnino, em julho de 2020.
  • 85. 84 Em 04 de julho de 1980, por ocasião da concretagem da laje dos “passos perdidos”, dez membros da Loja e ou- tros simpatizantes da Ordem empunharam ferramentas e latas com concreto, numa união de forças como prega o Salmo 133. 07 – Concretagem da laje dos “passos perdidos”. Da esquerda para a direita: operário da obra não identificado; Ayres José Vieira; José Silvério de Almeida Filho; Gilberto Machado Magnino; Feliciano Fantini e Célio de Oliveira Várias campanhas foram feitas para angariar fundos, como rifas, bingo, galinhada e festival de chope. Partiu tam-
  • 86. 85 bém, do irmão Gilberto, outra doação de vulto. Ele próprio ofertou um terreno para ser rifado e cada irmão se respon- sabilizou por 25 bilhetes. Outra rifa, de um chaveiro de ouro doado pelo irmão José Ferreira (Quinha), rendeu, em valores atualizados para 2020, cerca de 25 mil reais. As telhas fo- ram doadas pela família de Avenir Miranzi. Donativos em dinheiro e materiais foram feitos por vários irmãos, inclusi- ve de outras Lojas. Alguns doadores preferiram permanecer no anonimato, como dois irmãos da Loja que doaram uma carga de um caminhão de cimento usado na edificação. O ano de 1982 já estava pelo meio quando, em reuni- ão da Loja, o Venerável Célio de Oliveira empunhou o malhe- te, bateu-o com força acima do normal, e disse: — Pasmem os irmãos! — Ele empregava muito essa expressão quando estava eufórico — O templo, que ao ser iniciado previa a conclusão para depois do ano 2000, está nos retoques finais. Em seguida, Celinho nomeou uma comissão para pla- nejar e organizar os festejos de sagração do templo. A sole- nidade, que se deu no dia 21 de agosto de 1982, foi tão con- corrida que parte dos convidados teve que ser acomodada na antessala. Autoridades maçônicas, entre elas o Grão- Mestre Athenágora Café Carvalhaes, e civis, como o Prefeito de Uberaba Silvério Cartafina Filho, prestigiaram o evento.
  • 87. 86 O êxito da edificação do templo deve ser atribuído a todos os irmãos do quadro que se desdobraram ao máximo, cada um dentro de suas possibilidades. Não obstante, justi- ça deve ser feita à liderança do irmão Célio de Oliveira, que soube ultrapassar todos os obstáculos ao longo daquela ma- ratona. Em matéria intitulada Maçonaria e Construção, pu- blicada no jornal Pilar de Pedras, o irmão Cecílio Silva escre- veu: “Para construção do nosso templo... a fraternal união dos irmãos e a amiga colaboração de co-irmãs, cujo senti- mento de solidariedade maçônica jamais nos faltou, contri- buíram de modo inequívoco para o êxito de tão admirável campanha. E, dentre esses denodados irmãos, foi Célio de Oliveira a célula-mater desse arrojado e audacioso empreen- dimento”.4 Em entrevista, a cunhada Maria Odete de Oliveira5 , vi- úva de Célio de Oliveira, disse que, por ocasião da constru- ção do templo, a família teve que se ajustar às finanças do- mésticas, até com algumas privações. Isso ocorreu várias vezes porque o caixa da Loja nem sempre conseguia cumprir os compromissos financeiros decorrentes da construção, e o líder principal daquela empreitada tirava recursos do pró- prio bolso para que a instituição honrasse seus compromis- sos. 4 SILVA, Cecílio. Pilar de Pedra. Novembro, 1980, ano I, n 1, p. 2. 5 Comunicação oral com Maria Odete de Oliveira, em maio de 2020.
  • 88. 87 Célio de Oliveira é lembrado não só pelo grande edi- ficador do templo, mas também como exemplo de cidadão que estava sempre pronto a servir ao próximo. Tanto é que a Loja Avenir Miranzi concede, a cada biênio, uma comenda que leva o seu nome a maçons que se destacam por ações de cidadania. TÍTULOS E CONDECORAÇÕES Em 20 de dezembro de 1980, reconhecendo seus re- levantes serviços filantrópicos e assistenciais, o município de Uberaba, através da Lei nº 3.066, fez uma declaração de utilidade pública à Loja Avenir Miranzi. Em 29 de agosto de 1985 foi a vez de o estado de Minas Gerais fazer o mesmo através da Lei Estadual nº 8.914. Do Grande Oriente de Minas Gerais, a Loja recebeu as seguintes condecorações: Medalha Tiradentes (1983), Loja Benemérita (2007) e Loja Grande Benemérita (2012). FRATERNIDADE FEMININA PILAR DE PEDRAS Em 01 de maio de 1979 foi fundada a Fraternidade Feminina Pilar de Pedras, instituição dirigida pelas esposas dos maçons da Loja Avenir Miranzi. Trata-se de uma entida- de filantrópica com projetos sociais voltados a comunidades carentes de Uberaba. Como Célio de Oliveira tomaria posse como Venerável Mestre no mês seguinte à fundação, sua
  • 89. 88 esposa Maria Odete de Oliveira foi escolhida como a primei- ra presidente da entidade. Enquanto não havia local próprio, as reuniões eram feitas em uma sede provisória, na Rua Ituiutaba nº 10, ou mesmo nas casas das fraternistas, em sistema de rodízio. As primeiras iniciativas para a construção de um prédio pró- prio começaram em 1982. Entretanto, foi somente em 1986 que o Venerável Mestre, Ivo Ribeiro de Sousa, adquiriu um terreno anexo à Loja destinado à construção de um prédio próprio. O irmão Ivo, que esteve à frente da construção, lide- rou um movimento para arrecadar recursos, e os obreiros se cotizaram, o que permitiu o pagamento do terreno e o início das obras. Não faltaram solidariedade e apoio dos obreiros à nova causa. Doações mais diversas, como cimento, areia, pedras, materiais de acabamento e até o telhado resultaram de ações voluntárias. O engenheiro Ivo Ribeiro de Sousa Fi- lho foi o responsável técnico da obra, sem qualquer remune- ração. O irmão Olivério Neri da Silva, que pertencia aos qua- dros da Loja e era mestre de obras, doou o seu trabalho à construção com o mesmo entusiasmo de quem constrói sua própria moradia. Em fevereiro de 1989, a sede própria já estava sendo usada em atividades das fraternistas e em ocasiões sociais.
  • 90. 89 GRAUS FILOSÓFICOS NA LOJA AVENIR MIRANZI Para dar sequência aos estudos nos graus superiores previsto no Rito Escocês Antigo e Aceito, a Loja Avenir Mi- ranzi sedia as seguintes Lojas de graus filosóficos: - Loja de Perfeição nº 04, graus 04 a 14, fundada em 31 de março de 1992; - Capítulo Rosa Cruz nº 10, graus 15 a 18, fundado em 25 de agosto de 1979; - Conselho de Kadosh nº 02, graus 19 a 30, fundado em 23 de agosto de 1985; e - Consistório Príncipe Real Segredo do Triângulo Mineiro, graus 31 a 33, fundado em 17 de junho de 2000. ORDEM DEMOLAY E FILHAS DE JÓ A Loja Avenir Miranzi patrocina e sedia o Convento Humildade e Caridade da Ordem DeMolay e também a Or- dem Internacional das Filhas de Jó. São duas organizações paramaçônicas destinadas ao aperfeiçoamento moral e espi- ritual de jovens, que são estimulados a praticarem virtudes como o amor filial e familiar, o companheirismo, o respeito às leis, o patriotismo e a deferência a Deus e às Sagradas Escrituras.
  • 91. 90 A Ordem DeMolay é formada por jovens do sexo masculino, com idade entre 13 e 21 anos, podendo ou não serem filhos de maçons. Ela surgiu nos EUA, em 18 de mar- ço de 1919, e o nome foi uma homenagem ao último Grão- Mestre da Ordem dos Templários, queimado durante a In- quisição por fidelidade aos seus companheiros. A Ordem Internacional das Filhas de Jó também foi criada nos EUA um ano após a fundação da Ordem DeMolay. O nome foi inspirado no Livro de Jó, que valoriza a inocên- cia, a piedade, a modéstia, a retidão, a honestidade e outras virtudes. É uma organização para jovens do sexo feminino, que tenham herança maçônica e idade entre 11 e 20 anos. OS VENERÁVEIS MESTRES Desde 13 de dezembro de 1973, quando foi fundada a Loja Estrela Uberabense Livre, antecessora da Loja Avenir Miranzi, até 2019, dezoito maçons assumiram a direção da Loja. Os mandatos são para dois anos, porém alguns foram reconduzidos ao cargo. Alfen Silva Na reunião que homologou a criação da Loja Estrela Uberabense Livre, ocorrida em 13 de dezembro de 1973, Alfen Silva foi eleito seu primeiro Venerável Mestre, sendo
  • 92. 91 reconduzido a mandatos subseqüentes e permanecendo no cargo até maio de 1979. 08- Alfen Silva Foi iniciado na Loja Estrela Uberabense, em 06 de no- vembro de 1951, e colado com o Grau 33. Grande estudioso de assuntos maçônicos, com muita competência e ótima didática, compartilhava seus conhecimentos com os irmãos, Sua administração foi marcada pela criação e estruturação da Loja Estrela Uberabense Livre. Nasceu em Conceição da Alagoas (MG), no dia 14 de novembro de 1912. Era cirurgião-dentista, com atuação sempre em Uberaba. Nunca se casou e nem deixou filhos. Faleceu em 22 de julho de 1995, aos 83 anos de idade.
  • 93. 92 Célio de Oliveira 09 – Célio de Oliveira Foi o segundo Venerável Mestre da Loja Avenir Mi- ranzi, com dois mandatos subsequentes, no período de ju- nho de 1979 a maio de 1983. Celinho, como era carinhosamente chamado por to- dos, foi iniciado na Loja Estrela Uberabense em 20 de março de 1962, e colado com o Grau 33. Grande apaixonado pela Maçonaria, dedicava-se em tempo integral a ações de solida- riedade e humanismo tanto que a Loja Avenir Miranzi criou a Comenda Célio de Oliveira para condecorar irmãos e pro- fanos que se destacam em ações de cidadania. Sua adminis- tração foi marcada pela construção do templo.
  • 94. 93 Nasceu em Delfinópolis (MG), no dia 28 de agosto de 1937. Na vida profana, era industrial do ramo calçadista. Deixou a viúva Maria Odete de Oliveira, com quem teve três filhas: Célia Regina, Selma, Alessandra Márcia e Taciana Bea- triz. Faleceu em 20 de agosto de 1996, uma semana antes de completar 59 anos de idade. Waldemar Vieira Júnior 10 - Waldemar Vieira Júnior Foi o terceiro Venerável Mestre da Loja Avenir Miran- zi, com mandato no período de junho de 1983 a março de 1984. Como se transferiu para Cuiabá (MT), não concluiu seu mandato, sendo substituído pelo então Primeiro Vigilante Inimá Baroni. Conforme atesta seu Quit-Placet, em 07 de junho de 1985, demitiu-se, a pedido, em pleno gozo de seus direitos maçônicos.