1. 38 Sábado, 11 de fevereiro de 2012
OGLOBO
HISTÓRIA
O início
DO ENTRUDO AO CARNAVAL CONTEMPORÂNEO
FANTASIA Muito antes das escolas de samba, o povo do Brasil colonial já tinha
Não havia, mas o contato com os desfiles fora do período do carnaval, em procissões
rosto era pintado religiosas ou cortejos reais. Com as sociedades carnavalescas esse
de branco, pelos hábito se estabelece definitivamente nos dias da folia.
escravos; e, de
da folia
preto, pelos
brancos pobres Entrudo
CHICARD Permaneceu sendo comemorado do
Era a fantasia século XVI até o fim do século XIX
importada da Europa
mais inusitada nos Séc. XVIII
bailes, embora bastante
frequente
Elmo de
Arte e texto de Alvim e Renato Carvalho metal
1830/1840
O festejo que hoje é chamado de carnaval Penacho Bailes
surgiu na Europa no século XI e era A burguesia tenta “civilizar”
Jaqueta
caracterizado pelo hábito de celebrar a o entrudo e importa o
chegada da Quaresma. Em cada país carnaval de Paris, trazendo
europeu isso acontecia de uma forma. Em os bailes de máscaras
Passeio
Portugal, o costume era de pregar peças e a Para irem ao baile os
brincadeira recebia o nome de entrudo LÍQUIDOS USADOS PÓS USADOS senhores tinham de passar
(que significa “início”). A comemoração O que estivesse à Podia ser o alvaiade pelo entrudo das ruas.
mão, como água, (pó branco usado na Surgiu o hábito de desfilar
chega ao Brasil por intermédio de colonos lama e até pintura de paredes), com fantasias em
portugueses. Há um registro, de 1553, do excrementos pó de sapato (pó preto carruagens
Engenho Camarajibe, perto de Olinda (PE), usado na composição
de uma "terça-feira de entrudo", antes da da graxa) ou o
quarta-feira de cinzas. No Rio de Janeiro, as vermelhão (sulfato de
mercúrio utilizado na
brincadeiras de rua eram descontroladas, composição de tintas) 1855
chegando a assustar os viajantes, que Grandes sociedades
consideravam o evento "selvagem". Mas carnavalescas
havia duas formas de brincar: além da mais O Congresso das
popular, das ruas; o entrudo familiar, Sapato Bota Summidades
engraxado longa Carnavalescas resolveu
dentro das casas fazer um desfile
ZUAVO (chamado na época de
O ENTRUDO DAS RUAS Uma das principais passeio) com roteiro
pré-determinado,
Até o século XIX, as vias públicas eram ocupadas sociedades da época, a
Tenentes do Diabo, divulgado nos jornais.
pelas classes subalternas, dentre elas os escravos, As fantasias eram
que tinham permissão para brincar o carnaval. usava, por inspiração
europeia, fantasias de variadas e mantinham
A brincadeira consistia em jogar qualquer líquido o padrão dos bailes
ou pó uns nos outros. O entrudo nas ruas era mais soldado francês argelino
agressivo e espontâneo que o familiar
Gorro
Jaqueta
bordada
A água não era encanada As seringas de água foram
e o escravo aguadeiro usadas no século XIX.
tinha de levá-la das Eram feitas de laminado
fontes até as residências. de ferro e aço
Por ser acessível, eles a 1885
usavam nas brincadeiras Calça tipo Além dos passeios, as
bombacha grandes sociedades
realizam bailes em
suas sedes
Os escravos chamados de Alguns escravos Fim do século XIX
tigres transportavam fezes ganhavam dinheiro Folcloristas e os
e urinas das casas dos vendendo limões de 1904
jornais classificam
senhores. Por causa desses cheiro em tabuleiros Corso o carnaval em dois
dejetos eles eram temidos de porta em porta Pessoas com (grande e pequeno)
fantasias, em
automóveis Grande carnaval
abertos, jogavam Faziam parte os
ENTRUDO FAMILIAR flores ou confetes bailes e as grandes
sociedades. Era
umas nas outras
Acontecia no interior das residências. Após almoços
nterio pós Como as casas coloniais tido como moderno
ou jantares, as pessoas lançavam limões de cheiro davam para a rua, os e organizado
umas nas outras. Essas bolas de cera continham moradores jogavam Anos 20 Pequeno carnaval
água ou líquido perfumado no seu interior limões de cheiro e água Eram as
nos transeuntes Valoriza
Valorização da cultura
negra. Surge o samba manifestações mais
batucado no Estácio, simples, de rua,
na Man
Mangueira e nos como Zé Pereiras,
subúrb
subúrbios congadas, ranchos,
blocos e cordões
Anos 1932
Na Praça XI, ocorre o
Pra ZÉ PEREIRA
primeiro concurso de Blocos muitos
Escolas de Samba animados e
semi-organizados.
Anos 40 Desfilavam com
Desfile segue para a tambores de
Av. Rio Branco origem
portuguesa
Os patriarcas
patriarcas
atri
riar Anos 50
A roupa era para
roup era
upa
roupa
recebiam poucas
um jantar, não
anta
an r,
jantar, O desfile vai para a
desfil
investidas de limões.
invest
stidas de limões
st mões
es. Tambor
havi fa
havia fantasia
via Av. Presidente Vargas
Pres
Após o jantar, fumavam
ós Zé Pereira
em uma área reservada no final da década.
Os carnavalescos
carna
Arlindo Rodrigues e
Fernando Pamplona
tratam os desfiles das
escolas de samba
como u espetáculo
um
Os atores dessa festa
atores dess festa
tore dessa festa
res ssa Os escravos eram
caseira eram os mais
caseira eram os ma
seir
caseira alvos dos limões,
jovens. mulheres faziam
jovens. As mulheres faziam
vens
jovens. ulhe s faziam
here mas nunca a
com antecedênci
com antecedência os limões
tece cia imõe
antecedência limõesões revidava
re dava
revidavam
vam Anos 70
de cheiro e guardavam nos
cheiro guardava nos
heir guardavam
iro ardavam As escolas entram na
escol
guarda-roupa
guarda-roupas
arda-roupas
guarda-roupas era do luxo e da
grandiosidade
grandios
Anos 80
As grandes
1984 sociedades terminam
COMO ERAM FEITOS OS LIMÕES DE CHEIRO
Marquês de Sapucaí
Eram preparados semanas antes, especialmente pelas mulheres. Eram chamados de O Sambódromo é
limões de cheiro, quando esverdeados; ou de laranjas de cheiro, quando amarelados inaugurado
Até os dias
de hoje
1 A cera era derretida em uma
panela de barro chamada 2 O limão era espetado com
um palito de madeira. 3 O limão era retirado e
esperava-se a cobertura de 4 O corte era retocado com cera
morna. A bolinha era enchida O desfile das escolas Os blocos mantém a Os bailes
caburé. Em seguida, era Depois, era untado em óleo cera esfriar. Era feito um corte de líquido através de um internacionaliza-se e diversidade e tomam as ensaiam
adicionado algum corante. Para e mergulhado na panela delicado com canivete e o pequeno funil. No orifício ganha um caráter ruas em versão atualizada uma
a cor esverdeada era usado o com a cera morna, limão era tirado de dentro, deixado pelo funil era posta uma empresarial e modernizada retomada
verdete ou o acetato de cobre previamente retirada do fogo ficando uma bola de cera oca folha metálica, as vezes de ouro
FONTE: Felipe Ferreira, professor de Arte e Antropologia no Iarte-Uerj e coordenador do Centro de Referência do Carnaval- Uerj