Intrépida Trupe celebra 25 anos de arte circense e experimental na Lagoa
1. A artista Daisy Xavier expõe a partir de hoje no MAM No Perfil, o cantor e compositor Dani Black, que
SEGUNDO CADERNO
suas esculturas que desafiam a gravidade • 3 lança seu primeiro CD colhendo elogios na MPB • 4
SÁBADO, 3 DE DEZEMBRO DE 2011 Leonardo Aversa
BETH MARTINS
e Vanda Jacques
(de cabeça para
baixo), no palco
à beira da
Lagoa: elas
encenam “Uma
onda no ar”,
às 19h, com
convidados
que marcaram
a trajetória da
Intrépida Trupe
Imagem e ação
Intrépida Trupe festeja 25 anos a partir de hoje, na Lagoa, com espetáculos, biografia e documentário
Fotos de divulgação
Luiz Felipe Reis “PRECIOSA
É
luiz.reis@oglobo.com.br IDADE”
como se a lona azul e (2009) será
branca do lendário
Circo Voador dos apresentado
anos 1980 tivesse si- nos dias 11
do levada pelos ven-
tos do Arpoador e e 18, às 10h:
pousado, 25 anos depois, na Lagoa em cena,
Rodrigo de Freitas, em frente ao
Parque da Catacumba. Sentadas 12 artistas
sob ela, na última quarta-feira, surgidos
Vanda Jacques e Beth Martins cru- “1000 TEMPOS” (2001): montado nos 15 anos
zavam as duas épocas, contextua- nas oficinas
lizando a formação da Intrépida comandadas
Trupe à beira-mar e a conectando
ao palco montado à beira da La- pelo grupo
goa onde acontecem os espetácu-
los “Uma onda no ar”, a partir de
hoje, às 19h, e “Preciosa idade”
(nos dias 11 e 18, às 10h), além de
oficinas e uma série de números e
performances que celebram uma
trajetória iniciada pela dupla em
1986. “Uma onda no ar”, aos sába- das duas sócias-fundadoras se até hoje reinventa a relação entre “estilingues humanos”, além do iní-
dos e domingos (até dia 18), une mantém. Únicas remanescentes circo, teatro e dança. cio da aplicação de técnicas de
integrantes da Intrépida a convida- do grupo original, elas dizem que a — O nome reafirma a coragem contrarregragem à cena, pesquisa
dos que marcaram a trajetória do linguagem da Trupe — de ontem e de brincar com os limites, que que se intensificou em “Sonhos de “SONHOS DE EINSTEIN” (2003): física no palco
grupo, como João Carlos Ramos, de hoje — é resultado do cruza- desafia a gravidade, que inventa Einstein”, onde movimentos de al-
Paulo Manzoni e Jorge Henrique, mento das vertentes artísticas que alguma coisa e não trepida, faz. to risco de pêndulos, trapézios e
que apresentam a coreografia “Fi- marcaram o Circo daquela época. E assim levamos mais de 1,5 mil elástico trouxeram a equipe técni-
bra”, inspirada na canção de Paulo — A nossa trajetória se confun- pessoas para os jardins do Palá- ca para dentro da cena.
Moura, e Carol Cony, que mostra de com a história do circo, do Cir- cio do Catete — diz Beth. Os momentos marcantes na
“Tarja-preta”. co Voador e da cidade — diz Van- história do grupo passaram, ain-
— A cada fim de semana, tere- da. — Tudo nasceu no Circo, foi Do palácio para o Teatro Ipanema da, por “Metegol”, de 2006, que
mos apresentações de convidados ali que nos encontramos e come- Na época ainda sem sede — ho- tinha o futebol como tema prin-
e números inéditos — conta Beth. çamos a experimentar. Agora, vol- je eles ensaiam e comandam ofici- cipal, e por “Projeto coleções”,
Em março, o grupo estreia um tamos a interferir e a atuar ao ar nas num espaço próprio, na Fun- de 2009, que incluía interações
novo espetáculo (ainda sem no- livre, isso é importante, porque é dição Progresso —, mas com dese- com obras de artistas plásticos.
me). Beth prepara o lançamento na rua que a cidade se encontra. jo de estar em cena, elas apresen- Uma trajetória que será resumi-
do livro de memórias “Intrépida Beth complementa: taram “Intrépida Trupe”, no Teatro da em “Preciosa idade”, espetá-
Trupe, uma aventura” e do docu- — Ali no Circo não tínhamos Ipanema, que serviu “para mostrar culo que revisa o passado e
mentário “Intrépida Trupe — Se- compromisso, mas um desejo a cara” do grupo, como lembra Be- aponta para o futuro, já que é to- “METEGOL” (2006): interação com o futebol
rá que o tempo realmente pas- enorme de realização e experi- th. Logo adiante, a tradição circen- do encenado por 12 artistas sur-
sou?”, que dirige ao lado do ci- mentação. Percebemos que o se e a vivência em terras mexica- gidos nas oficinas comandadas
neasta Roberto Berliner. nosso trabalho era muito imagé- nas inspiraram os super-heróis pela trupe.
— Sempre registrei os espetácu- tico, comunicava-se com todo ti- voadores e mascarados que se va- — Eles são a continuidade e o
los da companhia, até perceber po de público e ampliava as di- liam de técnicas de alpinismo para futuro da Intrépida. Ao longo dos
que tínhamos mais de 50 horas — mensões cênicas. guiar os movimentos de “ARN” e anos, a Trupe abriu muitos cami-
diz Beth. — Criamos um filme com A Intrépida Trupe ganhou seu “ARN II”. Em seguida veio “Kro- nhos, tanto para efeitos visuais
a participação de pessoas que vi- nome durante uma missão cultu- nos”, e com ele a ampliação dos quanto para a ocupação geral do
veram a história de dentro e de fãs. ral brasileira enviada à Copa do voos, dos movimentos em grandes espaço cênico, no chão, no ar... —
Livro e filme têm muitas imagens. Mundo do México, em 1986. As- alturas e do comprometimento diz Vanda. — Aos poucos fui com-
Queria que elas falassem, porque a sim que retornaram, criaram uma com a segurança frente ao fogo. Na preendendo que toda a trajetória
Intrépida é imagem e ação. intervenção no Palácio do Catete, sequência, “Flap”, em que um tra- da Trupe, para mim, é a possibi-
O tempo pode ter passado, mas que serviu como ato inaugural do balho de peso e contrapeso inves- lidade de resgatar a liberdade da
o espírito vanguardista e inquieto grupo e de uma linguagem que tigava a elasticidade através de minha infância. ■ “PROJETO COLEÇÕES” (2009): o circo e a arte