O documento discute os desafios no ensino e aprendizagem da cartografia no ensino fundamental com base em uma pesquisa com professores. A pesquisa apontou que a alfabetização cartográfica dos estudantes é afetada pela formação deficiente dos professores em cartografia, criando um ciclo de má alfabetização. Os professores precisam começar com o espaço familiar dos alunos e partir do concreto para o abstrato para desenvolver as habilidades espaciais necessárias.
1. ENSINO E APRENDIZAGEM DA CARTOGRAFIA NO ENSINO
FUNDAMENTAL: DILEMAS ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA
Deuzimar da Conceição Souza/UEB
deuzimar8@hotmail.com
Ricardo Bahia Rios/UEB
brios@uneb.br
INTRODUÇÃO
O presente trabalho contempla uma discussão acerca da construção de saberes
cartográficos no Ensino Fundamental, Trata-se de análises de uma pesquisa realizada
com professores do 5° ano do Ensino Fundamental I, que exercem a docência no Centro
Integrado de Educação Professor Joselito Amorim, escola da rede pública municipal de
ensino, que está localizada na região central da cidade de Feira de Santana1
, no semi-
árido baiano. O objetivo principal dessa pesquisa foi aferir como vem sendo construído
o processo de alfabetização cartográfica destes estudantes da rede da referida
instituição.
O desejo de investigar tal questão foi conseqüência das situações formativas
vivenciadas durante o terceiro semestre nos componentes curriculares Cartografia
Temática e Prática de Ensino em Geografia do curso de Licenciatura em Geografia da
1
A cidade de Feira de Santana-Bahia também conhecida como princesa do sertão é graças a sua posição
geográfica, no limite do recôncavo com os tabuleiros semi-áridos e partindo, na confluência das zonas da
mata e do litoral distante a 109km da capital Salvador. A nova aglomeração tornou-se pouso de tropas e
dos viajantes, que provenientes do alto sertão. Feira de Santana se destaca por ser a segunda maior cidade
da Bahia, com uma população de (57.9997), segundo IBGE,2007, sendo sua economia diversificada nos
três setores, primário, secundário e terciário, mas o grande comércio que predomina na cidade com
mais(13.207) estabelecimentos segundo o SEI-BA,2005(SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS
ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA).
2. Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus XI, situada no Território de
Identidade do Sisal2
, articuladas às minhas aprendizagens na educação básica
O CONCEITO:
A cartografia como meio de comunicação, já aparece antes mesmo da invenção
da escrita, observa-se que as informações cartográficas constituem as bases sobre as
quais se tomam decisões e encontram soluções para os problemas, políticos,
econômicos e sociais. A cartografia constitui-se numa das principais ferramentas usada
pela humanidade para ampliar os espaços territoriais e organizar sua ocupação, desta
forma podemos afirmar que:
A cartografia é o conjunto de estudos e operações lógico-matemáticas,
técnicas e artísticas que, a partir de observações diretas e da
investigação de documentos e dados, intervém na construção de
mapas, cartas, plantas e outras formas de representação, bem como no
seu emprego pelo homem. Assim a cartografia é uma ciência, uma
arte e uma técnica (CASTROGIOVANNI, 2000, P.39)
Já no mundo contemporâneo a importância da cartografia é fundamental para o
ensino da geografia, sendo que a cartografia tornou-se relevante para a educação
contemporânea, tanto para o aluno atender ás necessidades do seu cotidiano quanto para
estudar o ambiente em que vive, aprendendo as características, físicas, econômicas,
sociais e humanas do ambiente, ele pode entender as transformações causadas pela ação
do homem e dos fenômenos naturais ao longo do tempo, que segundo
(CASTROGIOVANNI, 2000,P.39) “A figura cartográfica(mapa,carta ou planta) é uma
representação que, no uso cotidiano, é utilizado desde a localização de cursos d’ água,
de caças, de grutas pelo homem das cavernas a turistas em viagens e compradores/
vendedores de imóveis”
2
O Território de Identidade do Sisal, mais conhecido como Região Sisaleira, está localizado no semi-
árido da mesorregião do Nordeste Baiano, distante da capital baiana aproximadamente 180 km,
envolvendo cerca de vinte municípios, entre os quais merecem destaque Santa Luz, Conceição do Coité,
Queimadas, São Domingos e Valente, conhecida como a capital do sisal e sede do Território de
Identidade do Sisal, pois estes municípios são os que mais se destacam na produção por hectare do sisal
entre os anos de 1990 e 2006 (IBGE-SIDRA, 2008) e se tornaram referências nessa área, embora o
cultivo do sisal tenha sofrido uma queda na produção. Os municípios que formam este território são:
Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo,
Nordestina, Queimadas, Quinjingue, Retirolândia, Santa Luz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia,
Tucano e Valente.
3. A importância da cartográfica, a cada dia vem tendo uma contribuição, também
em outras ciências, pois serve de domínio e controle do território. Segundo os
(Parâmetros Curriculares Nacionais De Geografia, 1998) define Cartografia como um
conhecimento que vem se desenvolvendo desde a Pré-História até os dias de hoje e que,
por intermédio da Linguagem Cartográfica, se torna possível sintetizar informações,
expressar conhecimentos, estudar situações, entre outras coisas – sempre envolvendo a
idéia de produção do espaço, sua organização e distribuição. São ainda os Parâmetros
Curriculares Nacionais de geografia que reafirmam a importância da Cartografia, ao
colocarem como um dos objetivos do estudo de Geografia no Ensino Fundamental. A
utilização da linguagem cartográfica, para obter informações e representar a
espacialidade dos fenômenos geográficos, sugerindo blocos temáticos, onde elencam
conteúdos, como a leitura e a compreensão das informações, que são expressas em
linguagem cartográfica, sendo que a cartografia sempre esteve ligada aos
conhecimentos geográficos, pois desde o seu surgimento, tem contribuído, para
descobertas e conquistas do espaço pelo homem, quanto para compreensão,
representação do conhecimento do objeto de estudo da geografia que é o espaço
geográfico, tendo a cartografia como papel de integrar o conhecimento geográfico, pois
a mesma contribui para a construção e a representação das relações sociais, com o
espaço habitado pelo homem, segundo (JOLY, 2004, P.9) “Dentro dos limites das
restrições de um contexto, o mapa descreve uma porção do espaço geográfico com suas
características qualitativas e/ ou quantitativas”
O ensino nos níveis de ensino fundamental, e médio, é sumariamente importante
para despertar a percepção espacial, proporcionando a criança, o entendimento sobre o
espaço, físico que habita, sendo papel do professor de geografia, criar situações que
estimule a criança a compreender, o contexto em que vive, sendo para isso, é
fundamental trabalhar na perspectiva do próprio aluno, sendo que os livros didáticos de
geografia são insuficientes para a compreensão, e interpretação do espaço em que vive,
pois construir um mapa para ilustrar, ruas para traçar melhor o caminho são ações que
fazem parte do cotidiano de grande parte da sociedade. Porém, muitas vezes estas
tarefas tornam árduas, exigindo uma maior desenvoltura que envolve uma série de
conhecimentos que só adquiridos num processo de alfabetização cartográfica, que
começa no ambiente escolar em que e compreensão do mapa, permite ao aluno atingir
uma nova organização estrutural de sua atividade prática e de concepção do espaço,
4. segundo (ALMEIDA,2001,P.13)”Os mapas expressam ideias sobre o mundo”Ainda
afirma (PASSINI,2002,P.15) “O mapa é uma representação codificada de um
determinado espaço real”.
Ensinar os conceitos cartográficos na sala de aula, nessa modalidade de ensino
deve-se primeiro, trabalhar o espaço concreto do aluno, onde
Os espaços não devem ser vistos de forma estanque, quer a nível do
município, bairro, estado ou país, pois são espaços que dependem
entre si e interagem. A interligação a e integração surgem quando
realiza a leitura do espaço humanizado e organizado pelo homem.
(PASSINI, 2002, P.46)
Nas séries iniciais, os professores, devem iniciar o trabalho com o estudo do
espaço concreto do aluno, o mais próximo dele, ou seja, o espaço da sala de aula, o
espaço da escola, o espaço do bairro para somente nos dois últimos desse ciclo falar em
espaço maior como o município, o estado e o planisfério, sendo o mais importante, para
depois desenvolver a capacidade de leitura e de comunicação oral e escrita por fotos,
desenhos, maquetes e mapas e assim permitindo o aluno a percepção e o domínio do
espaço a sua volta, sendo através disso o educando consegue atribuir algumas funções
que são a de ter, visão obliqua e vertical, noção de construção de legenda, referência e
orientação, pois a criança, tendo a noção do espaço vivido para depois, partir para,
estudar, os limites do bairro, município, e por ultimo planisfério, no que diz (PASSINI,
2002, P.25)”Para chegar a um nível de interpretação mais profundo é necessário por
experiências para a construção das noções espaciais, partindo das relações elementares
no espaço cotidiano”
A cartografia hoje está voltada para além de uma técnica de representação
voltada à leitura e a explicação do espaço geográfico, onde o aluno passa a ser orientado
a desenvolver uma consciência critica em relação ao mapeamento que estará realizando
em sala de aula, sendo que o discente deixou der visto como um mapeador, mecânico
para ser um mapeador, consciente, de um leitor passivo para um leitor critico dos
mapas. A sua função, terá que possui habilidades e sensibilidade no despertar das
percepções para o trabalho dos conceitos cartográficos, segundo
(CASTROGIOVANNI, 2000, P.39) “A cartografia oferece a compreensão espacial do
fenômeno, tanto para o uso cotidiano como para o cientifico, a figura cartográfica tem a
principio, uma função prática”
5. A Prática cartográfica deve está em sintonia, com o os avanços tecnológicos, em
que o uso da multimídia, pela cartografia possibilitou uma maior interatividade pelo
usuário, com sua pesquisa e um novo olhar sobre a ciência cartográfica como um todo
(MARTINELLI, 2005,P.10) “Atualmente,a cartografia entra na era da informática”
Na atualidade, a informática faz parte do cotidiano das pessoas, sendo comum
encontrar computadores na maior parte das atividades cotidianas, em que a
informatização atingiu recentemente as escolas. A cartografia também passa por um
processo de transformação e os recursos da cartografia digital juntamente com os,
Sistemas de Informações Geográficas (SIG).
A cartografia não permaneceu alheia a esse processo de expansão da
internet. Hoje, ela é um importante meio de disseminação de
conhecimento geográfico e de material cartográfico, além de constituir
importante fonte de pesquisa, pois disponibilizam informações
quantitativas, imagens de satélite, mapas, além de extenso material
bibliográfico (Ramos, 2005, p.132)
O CONTEXTO DA PESQUISA.
A centralidade dessa pesquisa se delimitou no Centro Integrado de Educação.
Prof. Joselito Amorim, que se localiza, na Rua Coronel Alvaro Simões, sem número, na
cidade de Feira Santana- Bahia3
se trata de um colégio de grande porte, com
atendimento, 1900 alunos, do ensino fundamental I e II e EJA, Possuindo uma grande
estrutura física com uma quadra de esporte, possuindo seis turmas do 5° ano do
fundamental, sendo três ofertadas, no turno matutino e três no turno vespertino, na qual
são ministradas por três professoras em ambos os turnos.
A metodologia utilizada no desenvolvimento desse trabalho baseou-se em
diagnóstico da real situação dos professores, pertinentes aos conteúdos cartográficos,
bem como as dificuldades encontradas para o aprendizado e transmissão dos conteúdos.
Como instrumento para coleta de dados foi aplicado questionário foi elaborado com 04
perguntas as professoras das turmas do 5°ano do fundamental. A demanda de tempo
para atividade foi de aproximadamente 07 dias
3
O Estado da Bahia, com 564.692,7 km
2
e uma população de 13.070.250 habitantes, em 2000, é o maior
Estado do Nordeste do Brasil me tamanho e em população (SILVA. S, 2006,P117)
6. IMAGENS DA ESCOLA
Figura 02 foto da frente da escola
Figura 01 foto do pátio
Fonte: Pesquisa de campo, 2009 Fonte: Pesquisa de campo, 2009
Figura 03 Pátio da escola
Fonte: Pesquisa de campo, 2009
A linguagem cartográfica na escola:
A) Em relação a tempo de serviço na área, todas responderam ter mais de
10 anos de docência, sendo todas as professoras tendo graduação em
geografia
7. A questão da Alfabetização Cartográfica, muitas vezes não é compreendida
pelos professores do 5° ano, dentre outros motivos disto é a formação
acadêmica que foi ineficiente nesta área ou inexistente.
Figura 04 ciclo da má alfabetização cartográfica
Fonte: Pesquisa de campo, 2009
A figura resume o processo da má alfabetização cartográfica, com
surgimento de um ciclo, sendo o primeiro passo está na função aluno na
escola/professor. Na qual o aluno não aprende conteúdos cartográficos, por
conta de algumas fragilidades na formação do professor, logo depois esse
aluno entra na universidade no curso de formação de professores de
geografia, e novamente esses conteúdos não são repassados de forma que
possa transpor a realidade do aluno. Então, futuramente ele após licenciado,
vai lecionar em uma escola; Ou em uma universidade, após um curso de pós-
graduação, disseminando a má alfabetização cartográfica. Diante disso foram
perguntadas as professoras
B) O que é alfabetização cartográfica? Uma professora se destacou
dizendo “Ler mapas significa, trabalhar a espacialidade do individuo e
sua percepção”
C) Foi perguntado se é utilizado algumas práticas pedagógicas voltadas
à alfabetização cartográfica, todas as professoras, responderam que
ESCOLA
PROFESSOR/ALUNO
UNIVERSIDADE
PROFESSOR/ALUNO
ESCOLA
ALUNO/PROFESSOR
UNIVERSIDADE
ALUNO/PROFESSOR
8. utilizam apenas a confecção de mapas, leituras através de imagens de
livros
D) Todas responderam que seus alunos têm dificuldades de entender os
conceitos cartográficos, sendo uns dos motivos é a falta de recurso que
a escola não dispõe
Sobre a importância da cartografia, percebe-se que os docentes, aferidos, não,
tem definido a verdadeira função do mapa sendo identificado pelo descritivismo de um
espaço considerado externo, fora do contexto do mundo social (CARLOS, 2003, P.76)
“A cartografia pode apreender e representar o objeto da geografia, que é o espaço que é
o espaço produzido, essencialmente humano”
Nesse questionário, os professores aferidos, não utilizam de muitos recursos para, os
discentes compreender e entender, ler um mapa, em que para tanto o professor deve estimular o
aluno a desenvolver do aluno a lateralidade, a orientação, o sentido de referência em relação a si
próprio e em relação aos outros, o significado de tamanho e de distâncias, o professor deve pedir
para o aluno desenhar trajetos que são percorridos no dia-a-dia, construir legendas e confrontá-
las com as legendas formais, estimulando o raciocínio cognitivo do aluno
Muitas dessas habilidades podem ser desencadeadas nas séries iniciais
do ensino fundamental, no entanto, é muito comum que, a partir da 5°
série, os professores reclamam que os alunos não tem o conhecimento
e nem as habilidades necessárias para trabalhar com mapas. Não resta
dúvida de que, se os alunos não apresentam ainda o domínio dessas
habilidades, básicas, o professor terá que desenvolver, mesmo nas
séries mais avançadas, atividades nesse sentido (CASTOGIOVANNI,
2000,P.106)
CONCLUSÃO:
O objetivo desse trabalho de campo não é de trazer conclusões fechadas a
respeito da educação cartográfica e sim uma pequena contribuição da real situação da
má alfabetização cartografia, tão comum em nossas escolas. Mediante a essa realidade,
essa proposta de aprendizagem trazendo algumas sugestões que envolvem o domínio
cognitivo da representação do espaço, onde possa ampliar os conhecimentos
cartográficos dos professores das séries iniciais, com intenção que eles possam oferecer
9. aulas de geografia voltada para a cartografia mais interessante, dando um enfoque
construtivista de ensino. Sendo que a alfabetização cartográfica é tão importante quanto
a aprendizagem da escrita e da matemática, pois a mesma constitui em subsídios básicos
para que os alunos possam ter definida e fundamentada a representação de espaço em
que vive, pois é através do espaço cotidiano e da reflexão que a criança poderá entender
um pouco da dinâmica que é o espaço organizado fora do ambiente escolar.
REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, Rosângela, Doin de. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica
na escola. São Paulo: Contexto, 2001
10. CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (ORG). Ensino de geografia: Práticas e
textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000
CARLOS, AnaFani,Alessandri.A geografia na sala de aula. 5ed. São Paulo:
Contexto, 2003
CASTELLAR, Sonia. Educação geográfica: teorias e práticas docentes. São
Paulo: Contexto, 2005, v.5
DUARTE, Paulo, Araujo: Fundamentos de cartografia. Florianópolis: Ed da
UFSC, 2008
ELZA, Yasuko Passini. O espaço geográfico: Ensino e representação.
12ed. São Paulo: Contexto, 2002
ELZA, Yasuko,Passini(ORG).Prática de ensino de geografia e estágio
supervisionado.São Paul:Contexto,2007
JOLY,Fernand.A cartografia. Campinas,São Paulo:Papirus,1990
MARTINELLI, Marcelo. Mapas de geografia e cartografia temática. São
Paulo: Contexto, 2005.2.ed
PARÂMETROSCURRICULARES NACIONAIS. 2. GEOGRAFIA/ MEC/SEF,
1998
RAMOS, Cristhiane da Silva. Visualização cartográfica e cartografia
multimídia: Conceitos e tecnologias. São Paulo: Editora UNESP, 2005
SILVA, Sylvio, Bandeira de Mello; Sliva,Barbara-
Cristine,Nentwig,Silva.Estudos Sobre Globalização,território e
Bahia.Salvador.2.ed.UFBA,2006
WWW.Sei.ba.gov.br<acesso 31de maio de 2009>