1. (1) Roberta Costa é aluna do Curso de Música da UFPa .
HEITOR VILLA-LOBOS: IMPORTÂNCIA E CONTRIBUIÇÕES PARA A
MÚSICA BRASILEIRA
Roberta E. Costa (1)
RESUMO
Heitor Villa-Lobos, para muitos, consolidou-se como o maior compositor
brasileiro de todos os tempos. Independentemente de preferências, ele foi,
indiscutivelmente, um ícone da música brasileira. Escreveu mais de duas mil
obras orquestrais, de câmara, instrumentais e vocais, muitas delas criadas
especificamente com propósitos pedagógicos, como, por exemplo, os dois
volumes do Canto Orfeônico, que consolidou um marco na educação musical
brasileira (SANTOS, 2010), ou ainda as Bachianas Brasileiras, onde Villa-
Lobos fundiu material folclórico brasileiro (em especial a música caipira) às
formas pré-clássicas no estilo de Johann Sebastian Bach. A qualidade e
diversidade de suas obras denotam a importância de Villa-Lobos para o Brasil,
não apenas na seara musical, mas também como educador, haja vista seu
projeto de ensinar música nas escolas. Então o propósito deste artigo é o de
retratar essa rica história, ressaltando a importância deste grande maestro para
a música e para os brasileiros, sabedores, porém, da imensidão de seu acervo,
procurou-se desenvolver um trabalho mais sucinto.
PALAVRAS CHAVES: Canto orfeônico, Educação, Música, Erudita, Caipira.
ABSTRACT
Heitor Villa-Lobos, for many, has established himself as the greatest Brazilian
composer of all times. Regardless of preferences, he was indisputably an icon
of Brazilian music. He wrote more than two thousand orchestral, chamber,
instrumental and vocal works, many of them created specifically with
educational purposes, such as the two volumes of Canto Orfeônico, which
consolidated a milestone in Brazilian musical education (SANTOS, 2010), or
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also the Bachianas Brasileiras, where Villa-Lobos fused Brazilian folk material
(especially rustic music) to pre-classical forms in the style of Johann Sebastian
Bach. The quality and diversity of his works show the importance of Villa-Lobos
for Brazil, not only in the musical field, but also as an educator, given his project
of teaching music in schools. So the purpose of this article is to portray this rich
history, highlighting the importance of this great conductor for music and for
Brazilians, aware, however, of the immensity of his collection, sought to develop
a more succinct work.
INTRODUÇÃO
Heitor Villa-Lobos foi indiscutivelmente o maior expoente da musica moderna
no Brasil e um dos grandes brasileiros de todos os tempos, homenageado
tanto no território brasileiro quanto no estrangeiro, como se pode comprovar em
Paris, na elegante Rua Jean Goujon, onde há um edifício com o seu nome, ou
no Boulevard Saint Michel, também em Paris, onde há uma placa em um
prédio onde ele residiu (MARIZ, 2011). Além de compositor, foi regente,
violoncelista, violonista e um estudioso da música erudita e também da popular.
Suas obras são até hoje estudadas por musicólogos e interpretadas por
diversos segmentos musicais, como orquestras filarmônicas/sinfônicas ou de
câmara, corais ou até mesmo por artistas solos.
1. Música de berço
Nascido no bairro de Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro, no dia 5 de março
de 1887, filho de Raul Villa-Lobos e da dona de casa Noêmia Monteiro, Villa-
Lobos teve em seu pai o primeiro incentivador na sua trajetória musical. Seu
pai era diretor da Biblioteca do Senado, autor de vários livros didáticos e de
história, além de tradutor de livros técnicos nas áreas de história e botânica.
Escrevia para jornais artigos, fábulas ou lendas indígenas, sob o pseudônimo
Epaminondas Villalba. Nas horas vagas ainda era músico amador – tocava
clarineta e violoncelo – instrumentos que acabou ensinado para Heitor quando
ainda era criança. As idas habituais a ensaios, concertos e óperas,
proporcionadas por Raul, fez com que Heitor Villa-Lobos adquirisse ainda
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jovem a disciplina para ouvir música de câmara. Sua tia, Leopoldina Villa-Lobos
do Amaral, também contribuiu para sua formação musical. Pianista amadora,
conforme o biógrafo e amigo particular de Villa-Lobos, Vasco Mariz, divulgou
em vários de seus textos, apresentou- lhe as composições do regente Johann
Sebastian Bach (1685-1750). A obra do compositor alemão foi muito
importante para o trabalho de Villa-Lobos e serviu de inspiração para sua
carreira de modo geral (HEITOR, 2021). Um exemplo é a concepção das nove
peças "Bachianas Brasileiras", uma de suas mais importantes composições e
que faz alusão à combinação de elementos étnicos brasileiros com a técnica
composicional de Bach.
2. Trajetória.
Ainda muito jovem Villa-Lobos foi atraído pela cultura popular e regional
brasileira, em parte por conviver com a música sertaneja no interior de Minas
Gerais, onde sua família morou temporariamente, em parte adquiridos nos
saraus frequentados por ele e o pai na casa do amigo Alberto Brandão, onde
se reuniam vários artista da época, músicos e poetas do nordeste brasileiro,
além de intelectuais ilustres como Silvio Romero, Barbosa Rodrigues e Melo
Morais, fato que possibilitou Villa-Lobos ter contato com conhecedores das
raízes da música brasileira (ALMEIDA, 2014).
Assim, dissociar essa brasilidade das obras eruditas de Villa-Lobos é
impraticável. Esta forma eclética de ver a música foi-se moldando em sua vida
desde sua infância, como ressaltado anteriormente. Com a morte prematura de
seu pai, em 18 de julho de 1899, aos 39 anos, o Jovem Villa-Lobos enveredou
de vez por outros caminhos musicais até então impensados para as “boas
famílias” da época. Ele passou a se interessar pelo violão, fato que não teve a
aprovação de sua mãe, que não via com bons olhos o envolvimento do filho
com músicos populares, como José Rebelo (mais tarde conhecido por Zé
Cavaquinho), igualmente o interesse do filho pelo violão, por se tratar de um
instrumento associado a malandros (ALMEIDA, 2014). Por essa época Villa-
Lobos é seduzido pelos chorões cariocas, o que resultou posteriormente em
uma série de 14 obras, os “Choros” para instrumentos variados. Villa-Lobos foi
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um artista que desde cedo aprendeu o valor dos recursos naturais de nosso
país, como nossas montanhas, rios, nossos índios, os afrodescendentes, o
som dos pássaros, do vento, a brasilidade do artista, enfim, e transformou
estes em elementos fundamentais para a composição de suas obras musicais
(ROSÁRIO, 2014).
O amadurecimento musical de Villa-Lobos começou por uma série de viagens
ao interior do Brasil, a partir de 1905. O percurso incluiu o Espírito Santo, Bahia
e Pernambuco e quatro anos depois, Paranaguá no interior paranaense, onde
tocou violoncelo e violão (DIANA, 2019). Posteriormente, entre os anos de
1911 e 1912, Villa-Lobos conheceu cidades do interior do Norte e Nordeste.
Essa experiência influenciou diretamente na produção de suas obras, e foi
crucial em seu desenvolvimento, tanto musical como pessoal, trazendo à tona
aspectos de uma música brasileira com foco nessa cultura popular e regional
(DIANA, 2019).
3. Um homem moderno
Foi convidado por Graça Aranha (1868-1931) a integrar a Semana de Arte
Moderna, evento que marcou o Modernismo no Brasil. Aconteceu em fevereiro
de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. Villa-Lobos apresentou alguns
espetáculos durante os três dias, entre eles "Danças Africanas". Sua
participação na Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922, ensejou o
conhecimento pessoal de várias sumidades intelectuais da época que o
apoiariam, sobretudo Mario de Andrade, que o encaminhou para a música
nacionalista baseada no folclore que ele anteriormente havia abordado, embora
sem exclusividade. Os primeiros frutos dessa orientação estética não tardaram
a aparecer, como as Cirandas e as Serestas, de 1926, duas séries de notáveis
peças para piano solo e canções para voz solista e piano.
Esta participação na Semana de Arte Moderna proporcionou ao compositor
mais uma ida ao continente europeu, dentre algumas que já tinha feito por
conta própria. Em 1923 o maestro brasileiro chegou a capital francesa em
busca de ampliar seu conhecimento e atuação musical, com apoio financeiro
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da Câmara dos Deputados. Na cidade, é influenciado diretamente pela obra do
russo Ígor Stravinsky (1882-1971). Em Paris, Villa-Lobos recebeu apoio de
artistas brasileiros, como Tarsila do Amaral (1886-1973). Em 1924, retornou
ao Brasil (DIANA, 2019).
4. Projeto educacional.
Em 1927 surgiu a oportunidade para nova visita a Paris e lá permaneceu cerca
de dois anos, extremamente úteis à sua carreira, pois conseguiu firmar-se
como compositor internacional. Regressou ao Brasil em 1929 para concertos e
acabou ficando na capital paulista, seduzido pelo convite para organizar as
atividades musicais e o ensino da música em São Paulo e depois no Brasil
inteiro. Voltaria à Europa esporadicamente, mas já no Rio de Janeiro colaborou
com o presidente Getúlio Vargas organizando as grandes concentrações corais
de milhares de jovens no início dos anos quarenta, que marcaram época no
país. Villa-Lobos não teve, porém, nenhuma participação política com Vargas,
com quem nunca chegou a ter intimidade. A atuação de Villa-Lobos no âmbito
do governo federal resultou na criação do Conservatório Nacional do Canto
Orfeónico (MARIZ, 2011). O Canto Orfeônico foi um dos primeiros projetos de
educação musical no Brasil. Devido seu alcance e complexidade, sua prática
foi estudadas por vários pesquisadores, tornando-se tema de artigos, livros,
dissertações de mestrado e teses de doutorado em todo o país. Esse estilo de
ensino musical se estabeleceu no país por mais de uma década e promoveu o
ensino de música em várias escolas públicas em nível nacional.
CONCLUSÃO
A vida de Heitor Villa-Lobos foi tão rica em detalhes e ao mesmo tempo,
cheia de nuances, de experiências, de histórias e interações, de aprendizados
teóricos e práticos, que alguns poderiam achar que discorrer sobre ele seria
tarefa simples. Contudo, quando se tem um acervo muito grande sobre um
determinado tema ou pessoa, produzir um texto pode não ser tão fácil assim. O
compositor brasileiro mais conhecido, mais homenageado e certamente um
dos mais interpretados no mundo realmente não cabe em um artigo. Sua
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importância para a música brasileira, culta e popular, foi enorme e duradoura,
bastando-se comprovar pelo contingente de músicos e pesquisadores que se
utilizar de sua obra e pela luta de vida que travou para que a boa música
chegasse para todos, independente de classe social, cor ou credo, fazendo-se
inclusive, parte obrigatória da educação infantil. Desta feita, espera-se que este
artigo tenha atingido seu principal objetivo, o de contar um pouco da história de
vida desse grande brasileiro, e sua contribuição para a construção e
consolidação da nossa música como cultura popular brasileira, e mais além,
como patrimônio mundial.
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Washington Luiz Sieleman. Heitor Villa-Lobos: um músico em
formação nos primeiros anos da República Velha. Dissertação (Mestrado
em Ciências Sociais) – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de
Ciências Humanas e Naturais. Espírito Santo, 2014. 211 p.: il.
DIANA, Daniela. Heitor Villa-Lobos: biografia e resumo das principais obras.
Toda Matéria, 2019. Disponível em: < https://www.todamateria.com.br/heitor-
villa-lobos/ > Acesso em: 07 jun. 2021.
HEITOR Villa-Lobos. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura
Brasileiras. São Paulo. Itaú Cultural, 2021. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa11902/heitor-villa-lobos >.
MARIZ, Vasco. Vida musical: IV / [organização:]. Rio de Janeiro: Academia
Brasileira de Música, 2011. 156 p. : il.
ROSÁRIO, Ana Cláudia Trevisan. Refletindo Sobre as Cartas Sem Resposta
de Villa-Lobos – Semiótica e Filosofia na Criação Villa-Lobiana.
Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. São Paulo, 2014. 107 p.
SANTOS, Marco A. C.. Heitor Villa-Lobos, Recife: Editora Massangana, 2010.
152 p.: il. – (Coleção educadores). ISBN 978-85-7019-521-0