Carl Gustav Jung's seminal work "Man and His Symbols" explores the human unconscious and symbolism. The book examines archetypes, collective unconscious, dreams, religion and myths. Jung argues symbols reveal an interconnected collective psyche and the book aims to make his complex theories accessible to a general audience.
1. Marcel Henrique Rodrigues
Centro Universitário Salesiano
de São Paulo (Unisal)
marcel_symbols@hotmail.com
JUNG, Carl Gustav; FREEMAN, John; VON FRAZ, M. L.; HENDER-
SON, Joseph L.; JACOBI, Jalande; JAFFÉ, Àniela. Tradução de
Maria Lúcia Pinho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. 448 p.
ISBN 978-85-209-2090-9. R$ 29,90.
O
livro O homem e seus símbolos foi o último livro escrito e
organizado pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-
1961), que deixou a obra incompleta, sendo ela finaliza-
da, após sua morte, por seus colaboradores.
A presente obra é um rico trabalho que pretende levar
os principais conceitos formulados por Jung sobre símbolos e
inconsciente coletivo para o público leigo que não estava fa-
miliarizado com o autor. Tal trabalho é rico, não somente para
o campo da Psicologia, mas, sobretudo, para o campo dos
estudos das religiões comparadas, bem como para o estudo da
Antropologia e Simbologia. A obra é muito abrangente, pois,
em poucas páginas, o autor consegue sintetizar uma vida inteira
dedicada ao estudo dos temas sobre religião, símbolos e Psico-
logia. A obra foi recém-editada no Brasil, e está organizada com
novas figuras e novas notas explicativas.
A obra esta dividida em cinco capítulos mais a conclusão.
Somente o primeiro capítulo, “Chegando ao inconsciente”, é de
autoria de Jung; os demais foram escritos por seus discípulos
e supervisionados por ele. O primeiro capítulo é basicamente
uma introdução ao trabalho que o próprio Jung desenvolveu
durante toda a sua vida, ou seja, a investigação das profundezas
inconscientes da mente humana e a descoberta do amplo uso
da simbologia, sobretudo pelas religiões, por parte da humani-
dade. Assim, o referido psicanalista argumenta que o amplo uso
dos símbolos demonstra que não existe somente o inconsciente
pessoal, aquele postulado por Freud, mas, também um incons-
ciente coletivo, aquele que, por meio de seus arquétipos, cons-
trói uma cadeia de símbolos amplamente utilizada pelo homem
de modo geral.
Nas primeiras páginas da obra, Jung faz menção a seu
antigo mestre, Sigmund Freud, a quem considera um cientista,
responsável por importante progresso para a humanidade, des-
cobridor do inconsciente e da valorização dos sonhos como a via
régia para este desconhecido “local” da psique. As considera-
ções por Freud terminam quando o autor menciona que o pai da
O estudo dos símbolos por Carl Gustav Jung
2. 128 Impulso, Piracicaba • 23(56), 127-129, jan.-abr. 2013 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v23n56p127-129
Psicanálise falhou ao desconsiderar os aspec-
tos coletivos dos sonhos, entre outras coisas.
As reflexões de Jung sobre os sonhos
são muito importantes, pois os considera,
não somente uma manifestação singular do
indivíduo, mas uma manifestação coletiva
universal. Jung chegou a essa teoria a partir
dos estudos dos símbolos presentes em diver-
sas culturas, concluindo que eles são muitos
similares uns aos outros; independentemen-
te da cultura, sua simbologia está intrinse-
camente representadas nos sonhos dos su-
jeitos. Portanto, com essa descoberta, Jung
postula que o homem não é um sujeito iso-
lado, porém, é importante salientar que não
desconsidera a individualidade humana, mas
coloca este sujeito como um ser coletivo que
faz parte de um todo profundamente inter-
-relacionado, mesmo que inconscientemente.
Na continuidade, há um amplo estudo
sobre os símbolos, postulados por Jung, como
símbolos coletivos dentro das religiões e dos
mitos da humanidade. Estes símbolos estão,
por sua vez, interligados aos arquétipos, for-
mando uma grande força psicológica que per-
petua sobre a humanidade, fornecendo assim,
um caráter psicológico para a religiosidade
humana. É interessante notar que as sóbrias
ponderações de Jung, em termos teológicos,
conferem à religião um caráter antropológico,
digno de ser estudado por diversas ciências,
dentre elas a própria Psicologia. Essa valori-
zação do estudo das religiões e seus símbolos
conferiram a Jung uma série de críticas da ci-
ência positivista-empírica, sempre muito pre-
sente na humanidade, principalmente após
o Iluminismo. Portanto, o autor dá um passo
importante rumo às novas descobertas, novos
estudos e novos paradigmas para a ciência.
Interessante também é a crítica que
o autor dirige às religiões de nossa época,
a contemporaneidade. Jung mostra que a
religião está estagnada, principalmente as
religiões ocidentais que se fecharam no dog-
matismo e se esqueceram de sua herança
simbólica. Assim, desde o início do cristianis-
mo, os cristãos foram instigados a somente
planejar a vida futura, ou seja, a vida pós-
-morte, e a desejarem um rápido fim para o
mundo. Ele enfatiza que, em nossa época,
milhares de pessoas perderam sua fé, mas
quando o sofrimento aparece em sua vida, o
sujeito é instigado a procurar e a formular o
significado de sua existência; na maioria das
vezes, mediante antigos símbolos religiosos
e antigas crenças que permeiam a humanida-
de, pois o papel destes sempre foi o de for-
necer o significado da vida para o homem.
Jung pondera que há, dentro da cultura
humana, dois tipos de símbolos: os naturais e
os culturais. Os primeiros seriam os símbolos
naturais do próprio inconsciente coletivo hu-
mano, dispostos em todas as imagens arque-
típicas essenciais. Já a segunda categoria, de-
signados símbolos culturais, são exatamente
estes que estão sendo usados para fins geral-
mente artísticos e, quase sempre, utilizados
dentro das religiões.
O segundo capítulo, “Os mitos antigos
e o homem moderno”, foi escrito por Jose-
ph Henderson. Este capítulo, assim como os
demais, está intrinsecamente interligado ao
primeiro e principal capítulo, produzido por
Jung. Aqui Henderson utiliza-se dos temas
universais encontrados nos mitos que, assim
como os símbolos, estão presentes na his-
tória da civilização. A necessidade do mito,
segundo o autor, é comprovada pelo estudo
da antropologia de diversos povos e, assim
como os símbolos, os mitos estão carregados
de imagens arquetípicas que, como já dito,
são produtos do inconsciente coletivo huma-
no. Um mito profundamente presente em
todos os povos é o do “herói”, aquela figura
que assume o poder de libertação e salvação
de uma comunidade ou nação. Esse mito está
presente nas grandes religiões, como o cris-
tianismo, nos desenhos animados, nas histó-
rias de ficção do cinema, dentre outros, e têm
como função fornecer aquela sensação de
justiça e de segurança para a grande maioria
dos sujeitos. Na sequência o autor continua
a explanar sobre os diversos símbolos, ritos
e mitos presentes na cultura coletiva do ho-
mem, como os ritos de iniciação à morte e à
ressurreição dos deuses.
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Impulso, Piracicaba • 23(56), 127-129, jan.-abr. 2013 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v23n56p127-129
O terceiro capítulo, de Von Franz, inti-
tulado “O processo de individuação”, talvez
seja o mais complexo do livro, pois trata de
concepções da própria psicologia junguiana. O
termo individuação é utilizado pela concepção
junguiana de que o homem deve ampliar sua
consciência deixando de se limitar pela exterio-
ridade da civilização e tornando-se mais cons-
ciente de si, principalmente, mais consciente
de seus próprios aspectos inconscientes. Não
é necessário explicar todo esse conceito, vis-
to que o objetivo desta resenha é, sobretudo,
mostrar como a obra de Jung é importante e
fundamental para os estudos antropológicos
e históricos da religião comparada. Von Franz
propõe que, por meio dos símbolos coletivos
é possível chegar ao caminho da individuação
(segundo o conceito junguiano, “individuar-
-se” é tornar-se uma totalidade, na qual cons-
ciente e inconsciente se encontram). Um dos
símbolos que demonstram o processo de indi-
viduação é o símbolos do self que, culturalmen-
te falando, é o símbolo da roda, da rosácea das
catedrais medievais e do mandala, todos eles
símbolos de totalidade.
O quarto e o quinto capítulo foram es-
critos por Aniela Jaffé e Jolande Jacobi, res-
pectivamente. O quarto capítulo, intitulado
“O simbolismo nas artes plásticas”, tem como
objetivo explorar os símbolos presentes em
diversas obras de arte de diversos povos em
diferentes períodos da história. Assim, a auto-
ra deseja fazer uma integração entre a teoria
do inconsciente coletivo de Jung, que é fun-
damental para os estudos em religiões e cul-
turas, com os símbolos presentes nas obras
de arte que também contêm um vasto mate-
rial arquetípico coletivo.
No quinto e último capítulo, “Símbolos
de uma análise individual”, Jolande Jacobi re-
toma todos os temas abordados nos capítulos
anteriores e propõe um estudo sobre a análi-
se terapêutica de um sujeito que demonstra
uma série de símbolos arquetípicos em seus
sonhos, sendo estes símbolos claros indícios
de um processo de individuação.
O livro ora resenhado é uma obra pri-
mordial para os estudiosos de Jung. Sua par-
ticularidade concentra-se em não ser apenas
um livro voltado para a Psicologia propria-
mente dita, mas expande-se para outras áre-
as do saber, como a Antropologia, as Ciências
da Religião, a História, entre outras. Esta poli-
valência disciplinar é o que torna as obras de
Jung singulares e indispensáveis para qual-
quer estudante da área de humanas.
Dados do autor
Marcel Henrique Rodrigues
Graduando em Psicologia pelo Centro Universitário
Salesiano de São Paulo (Unisal). Pesquisador, categoria
iniciação científica, em simbologia, psicanálise e religiões.
marcel_symbols@hotmail.com
Recebido: 24/05/2012
Aprovado: 02/05/2013