PADRÕES DE DIVERSIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES HUMANAS CONTEMPORÂNEAS 1
1. PADRÕES DE DIVERSIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES HUMANAS CONTEMPORÂNEAS 1 Biologia Humana 2009/10 Maria João Prata
2. Sumário Concepção clássica de raça Noção de “indivíduo-tipo” Pressupostos relativos à repartição da diversidade genética humana O primeiro corpo de resultados sobre a variabilidade genética de populações humanas contemporâneas Ausência de genes privativos Níveis de diversidade genética intra e inter populacionais Padrões de diversidade genética humana inferidos pela análise de DNA Bibliografia recomendada Jones S, Martin R, Pilbeam D. The Cambridge Encyclopedia of Human Evolution. págs: 389-401 Lewontin RC (1982) Human diversity. Págs:1-9; 111-123 Marks J (1995) Human biodiversity. Págs: 265-278 Relethford JH (2003) The Human Species. An introduction to biological Anthropology. Págs: 119-172 Jobling MA, Hurles ME, Tyler-Smith C (2004) Human Evolutionary Genetics. Págs 272-295. http://anthro.palomar.edu/ethnicity/default.htm
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4. Classificações raciais comuns até meados do século XX Características como Cor da pele Tipo de cabelo Estatura Formas corporais Utilizadas para definir categorias raciais Frequentemente, aspectos culturais como Preferências alimentares Interesses e aptidões Religião ... incorporados nos critérios de classificação
5. Classificações raciais comuns até meados do século XX Reflectem assimilação de estereótipos etnocentrismo Duas italianas parecem-nos muito mais diferentes entre si do que um chinês de Xinjiang e outro de Hunan Hunan Xinjiang
6. Classificações raciais comuns até meados do século XX Modelo subjacente conceito TIPOLÓGICO DE RAÇA Raça – grupo humano caracterizado pela presença/ausência de determinados traços (características) Encontrados os parâmetros certos de aferição, seria possível definir, conceptual e fisicamente INDIVÍDUOS-TIPO aqueles que congregavam em si as CARACTERÍSTICAS PADRÃO PUPULARAM AS TENTATIVAS DE CLASSIFICAÇÃO (SUPOSTAMENTE BIOLÓGICA) DA HUMANIDADE Pablo Picasso, "Les Demoiselles d'Avignon"
7. Homo europeus (branco) –“vivo, inventivo, e governado por leis” Homo americanus (vermelho) –“tenaz, alegre, colérico e governado pelo hábito” Homo asiaticus (amarelo) – “austero, avaro, altivo e governado por opiniões” Homo afer (negro) – “indolente, lento, fleumático e governado pelo capricho” MONSTROS E TROGLODITAS A CLASSIFICAÇÃO DE LINEU Blumenbach (1806) e Carleton S. Conn (1962) - 5 raças Vallois (1944)- 27 Deniker (1900) – 29 Von Eickstedt (1934) – 3 raças e 29 sub-raças Garn e Birdsell (1950) –30 Biasutti (1941) – 53 Dobzansky (1962) –34 CLASSIFICAÇÕES RACIAIS DIVERSAS C. Lineu 1707- 1778
8. POUCAS DAS TENTATIVAS DE CATEGORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA HUMANA DISSOCIADAS DO CONTEXTO SOCIAL E POLÍTICO RAÇA E RACISMO PERNICIOSAS IMPLICAÇÕES E APLICAÇÕES CIENTÍFICAS E SOCIAIS DO CONCEITO DE RAÇA RANKING DAS CATEGORIAS Truganini ca. 1812-1876 Antes da ocupação europeia, a Tasmânia era habitada por cerca de 8000 aborígenes. Entre 1802 e 1833, a população diminui para 300 em consequência das actividades dos europeus. Em 1876 morre Truganini, a única sobrevivente da população original. Cerca de 6 milhões de judeus morreram durante o holocausto Austrália Tasmânia
9. PORQUE FALHARAM AS TENTATIVAS DE ARRUMAR A DIVERSIDADE HUMANA EM COMPARTIMENTOS FENOTÍPICOS ESTANQUES? Inadequação das características utilizadas Cor da pele A similaridade ultrapassa a teia de relacionamento entre os grupos sudanês paquistanês australiano negrito das Filipinas
10. PORQUE FALHARAM AS TENTATIVAS DE ARRUMAR A DIVERSIDADE HUMANA EM COMPARTIMENTOS FENOTÍPICOS ESTANQUES? Pressupostos falsos quanto à repartição da variabilidade genética em populações humanas Sub-populações Sub-populações a) População total b) População total F ST = 0 F ST = 1 Ao conceito tipológico de raça estava implícito um cenário próximo de b) F ST – estatística que compara o nível de variação genética no seio de duas ou mais sub-populações relativamente à população total
11. O PRIMEIRO CORPO DE RESULTADOS SOBRE O PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO DA DIVERSIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES HUMANAS CONTEMPORÂNEAS Diagrama De Finetti representando as frequências alélicas do sistema ABO Populações: 1 - 3: africanos 4 - 7: índios americanos 8 - 13: asiáticos 14 - 15: aborígenes australianos 16 - 20: europeus O O O B B B A A A I A I A I A I B I B I B I O I O I O 13 3 16 4 5 3 1 11 9 12 10 13 20 8 6 17 16 7 14 18 15 19 2
12. B A O Grupo sanguíneo ABO Ausência de descontinuidades populacionais marcadas Padrão de variação de tipo clinal Alelo B: Geral/ o menos comum. Pouco frequente na América e Austrália. Bolsas de freq. relativa/ altas e baixas em África. Frequências mais elevadas na Ásia Central, China, onde por vezes é mais frequente que o alelo A. Raro na Europa, especialmente entre Bascos e Lapões (Saami). Registe-se a marcada variação clinal na Eurásia: a frequência aumenta gradualmente desde a Europa Ocidental até ao limite da Ásia Central. Esta variação clinal, poderá ser o reflexo das invasões de NÓMADAS PASTORIS –mongóis – que ocorreram há 6 ou 7 milénios atrás e terão sido responsáveis pelo aumento da freq. do alelo B nas pops a Ocidente, onde outrora a sua freq. era baixa. Alelo A : Geralmente mais comum que o B (10-35% na maioria das pops.). Freq. mais elevada no Sul da Austrália e algumas regiões da Europa, nomeadamente entre os Saami da Escandinávia. Populações ameríndias das Planícies da América do N., também com valores elevados. Alelo O : Em geral mais frequente que A ou B. Rara a população com freq. inferior a 50%; Incidência mais baixa na Ásia Central; América Central e do Sul com as freq. mais elevadas ( 100%).
13. A SEGUNDA GERAÇÃO DE RESULTADOS SOBRE O PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO DA DIVERSIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES HUMANAS CAVALLI-SFORZA et al. (1994) Projecção a cores do mapa de distribuição de frequências de 120 alelos em 42 populações (marcadores sanguíneos e sistemas electroforéticos) A variação genética humana apresenta uma hierarquização geográfica, mas o padrão é marcadamente clinal . Não se observam descontinuidades.
14. REPARTIÇÃO DA VARIABILIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES HUMANAS 86% Diferenças entre indivíduos de uma mesma população 7% 7% Difer. entre populações do mesmo grupo Diferenças entre grupos de populações Diversidade genética total Fracção inter-populacional Fracção intra-populacional Baseado em frequências alélicas de polimorfismos electroforéticos ( R. C. Lewontin, 1972)
15. OS RESULTADOS DECORRENTES DA ANÁLISE DIRECTA DE DNA Baixo nível de diversidade genética no homem comparativamente a outras espécies O homem é uma espécie relativamente jovem pouco tempo para ocorrer diferenciação entre indivíduos Dois humanos escolhidos ao acaso diferem em 1 em cada 1 000 nucleótidos Dois chimpanzés escolhidos ao acaso diferem em 1 em cada 500 nucleótidos Como o genoma humano contém cerca de 3 biliões de bp, em média dois humanos escolhidos ao acaso diferem em 3 milhões de nucleótidos Em média, dois indivíduos da espécie humana compartilham ~99.6-99.8% de identidade quanto a sequências nucleotídicas
16. Repartição da variabilidade genética em populações humanas Rosenberg et al , 2002 377 microssatélites (STRs) AUTOSSÓMICOS; 4199 alelos; 1065 indivíduos 52 populações: África, Ásia Leste, Médio Oriente, Ásia Central/Sul, Oceânia, América, Europa São muito pequenas as diferenças genéticas entre populações comparativamente às diferenças no seio das populações. É a pequena fracção de diversidade inter-populacional que é usada para reconstruir a história evolutiva das populações humanas. STRs Taxas de mutação muito elevadas 93-94% da diversidade genética humana está contida dentro das populações OS RESULTADOS DECORRENTES DA ANÁLISE DIRECTA DE DNA
17. Lobo cinzento (Eurásia) Valores de F ST no homem e outros Mamíferos de grande porte Apesar da ampla dispersão geográfica, o homem apresenta um F ST próximo do antílope ou da impala, espécies confinadas a regiões geográficas limitadas. 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 Valores de F ST Antílope (Quénia) Homem Impala (Quénia) Coiote (América N.) Elefante (África) Gazela Grant (Quénia)
18. Estruturação da variabilidade genética em populações humanas Relação entre distâncias genéticas* e geográficas. Há uma forte correlação positiva entre distância genética e geográfica. Em geral, populações geograficamente próximas diferem pouco e a diferenciação genética aumenta com a distância entre populações *Distâncias genéticas entre pares de populações medidas por F STs . OS RESULTADOS DECORRENTES DA ANÁLISE DIRECTA DE DNA
19. Estruturação da variabilidade genética em populações humanas Valores de F ST entre pares de populações podem ser representados através de uma árvore Populações humanas tendem a agrupar-se por região geográfica: África Europa/Médio Oriente Ásia de Leste Oceânia América Mas… populações de regiões geográficas intermédias, ocupam posições intermédias na árvore. P.ex: Khanty (Ásia Central) Etiópia (África NE) O grau de isolamento (e diferenciação genética) entre populações humanas depende muito da distância geográfica Árvore de 37 populações baseada em 80 marcadores de DNA independentes. Tishkoff et al , 2004 OS RESULTADOS DECORRENTES DA ANÁLISE DIRECTA DE DNA
20. INFERÊNCIA DE ANCESTRALIDADE GEOGRÁFICA COM BASE EM MARCADORES DE DNA Utilizando muitos marcadores genéticos, é muito elevada a probabilidade de alocar correctamente um indivíduo na região geográfica de origem, sem recorrer a informação prévia sobre a proveniência da amostra. Os genótipos contêm informação significativa sobre a origem geográfica. Rosenberg et al , 2002 377 microssatélites (STRs) AUTOSSÓMICOS; 4199 alelos; 1065 indivíduos 52 populações: África, Ásia Leste, Médio Oriente, Ásia Central/Sul, Oceânia, América, Europa Programa STRUCTURE – permite identificar sub-grupos de populações “anónimas/inferidas” que diferem quanto a frequências alélicas Até que ponto a obtenção de sub-grupos de diversidade, que tendem a corresponder geograficamente aos continentes, é influenciada pelos critérios amostrais?
21. INFERÊNCIA DE PROPORÇÃO DE ANCESTRALIDADE GEOGRÁFICA COM BASE EM 100 POLIMORFISMOS ALU Bamshad et al , 2004 sub-sarianos - 107 asiáticos orientais - 67 europeus ocidentais - 81 A distância entre um círculo e cada lado do triângulo é proporcional à fracção de ancestralidade de um indivíduo compartilhada com africanos, europeus e asiáticos. Elevados coeficientes de ancestralidade com uma das 3 populações inferidas Africanos Asiáticos Europeus Indianos do Sul Africanos Europeus Asiáticos sub-sarianos - 107 asiáticos orientais - 67 europeus ocidentais - 81 sul indianos -263 Africanos Europeus Asiáticos Em indivíduos do Sul da Índia, a proporção de ancestralidade compartilhada com europeus e asiáticos varia muito.
22. PROPORÇÃO DE ANCESTRALIDADE GEOGRÁFICA EM INDIVÍDUOS QUE SE AUTO-IDENTIFICAM COMO AFRO-AMERICANOS, EURO-AMERICANOS E ASIATICO-AMERICANOS ( 500 SNPs, Bamshad et al , 2004) Os círculos estão mais dispersos porque varia muito a proporção de ancestralidade entre indivíduos. P ex: o indivíduo assinalado com seta compartilha 60% de ancestralidade com outros afro-americanos e 40% com euro-americanos. Os afro-americanos têm grau de mistura muito variável com grupos originários de outras regiões geográficas. Network representativa do relacionamento entre indivíduos. O tamanho dos braços é proporcional à distância genética. A distância entre quaisquer 2 círculos da mesma cor (linhas sólidas) é grande e é pequena a distância entre grupos de círculos (linhas tracejadas). Afro-americanos Asiatico-americanos Euro-americanos Afro-americanos Euro-americanos Asiatico-americanos
23. Serre e P ääbo, 2004 Amostragem “ population-based ” Amostragem “ geography-based ” Quando se consideram duas populações, a maioria dos indivíduos (83%) em A é alocada numa das 2 populações com elevados coeficientes de ancestralidade (100-85%). Uma das populações contem indivíduos africanos e a outra não-africanos. Em B, todos os indivíduos têm 40-50% de mistura entre as 2 populações e não se detecta diferença qualitativa entre africanos e não-africanos. 89 indivíduos de15 populações 90 indivíduos de 52 populações 0-0.05 0.1-0.15 0.2-0.25 0.3-0.35 0.4-0.45 0.7-0.75 0.5-0.55 0.6-0.65 0.8-0.85 0.9-0.95 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 # indivíduos % de ancestralidade na população 1 África Ásia Europa África América Europa Oceania Ásia # indivíduos 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 0-0.05 0.1-0.15 0.2-0.25 0.3-0.35 0.4-0.45 0.7-0.75 0.5-0.55 0.6-0.65 0.8-0.85 0.9-0.95 % de ancestralidade na população 1
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25. Representação geográfica da proporção de ancestralidade na população B (o extremo asiático/oceânico do gradiente eurasiático) Cada ponto definido pela latitude, longitude e coeficiente de ancestralidade na pop. B Não se detectam grupos discretos de ancestralidade