O documento descreve as histórias de vários casais que trocaram a vida na cidade por uma vida no interior de Portugal. Eles trocaram Lisboa por locais como Montemor-o-Novo, Castelo Rodrigo e Trancoso, atraídos pela qualidade de vida menor custo e tranquilidade que o interior pode oferecer. Alguns enfrentaram desafios de integração e falta de oportunidades econômicas, mas na maioria das vezes se adaptaram bem e apreciam a vida no campo.
Viver no interior: Os novos povoadores que trocaram a cidade pelo campo
1. 4 • Cidades • Domingo 12 Setembro 2010
a A mudança de António Manuel
Venda de Lisboa para Montemor-
o-Novo foi obra de Cupido. Foi
atrás da Catarina, que já tinha
trocado a capital pelo interior do
Alentejo. Ana Berliner e o marido,
António Monteiro, conheceram-se
em Figueira de Castelo Rodrigo, na
Guarda, e também acabaram por
ficar a viver por lá, longe de Lisboa,
onde nasceram. Trocaram as voltas
ao êxodo rural e garantem que
compensa. Interior é, para eles,
sinónimo de qualidade de vida.
O tronco da azinheira deitado
ao chão no terreno ao lado de
casa é uma das portas de ligação
de António Venda com o resto
do mundo. Só ali, em cima do
tronco, consegue apanhar rede
de telemóvel no sítio onde mora.
É de lá que o jornalista e escritor
de 42 anos combina entrevistas
e planeia negócios. A Internet
também ajuda. António dirige uma
revista em Lisboa, mas fá-lo online,
a cem quilómetros de distância do
escritório, a uma hora de caminho.
Vai lá pelo menos uma vez por
semana, sem pressas, sem horários.
É assim desde que deixou a
cidade rumo ao Alentejo, em
2003. Três anos antes, Catarina
tinha-se mudado para Montemor,
onde abriu uma livraria. A aposta
na cidade tinha tudo para dar
certo. “Está a uma hora de tudo:
da praia, de Lisboa e de Espanha.
Além disso, tem uma actividade
cultural engraçada”, explica
Catarina, de 36 anos, que antes
morava em Carcavelos e trabalhava
em publicidade. Agora trabalha
no Centro Coreográfico de Rui
Horta, o conhecido coreógrafo que
também escolheu a cidade para se
instalar.
Mais barato e mais seguro
Por causa da livraria e porque tem
raízes familiares em Montemor, o
processo de integração foi fácil para
Catarina. Com António, não foi
bem assim. “Ainda hoje, vamos na
rua e ela cumprimenta 20 pessoas,
enquanto eu cumprimento uma”,
diz o jornalista.
Mas os filhos do casal estão
perfeitamente integrados. Os três
nasceram no hospital de Évora, a
meia hora de distância. “É como
viver em Cascais e ir ter o filho a
Lisboa”, brinca Catarina. Os dois
mais velhos vão este ano para a
escola em Montemor. “O miúdo vai
para o futebol e a rapariga escolheu
cidades. “O mais velho vai agora
para o primeiro ano. Dentro de
pouco tempo já poderá ir sozinho
a pé para a biblioteca, ou para a
Oficina da Criança, onde tem várias
actividades gratuitas”, diz a mãe.
As despesas do dia-a-dia é que
nem por isso são menores. “Temos
supermercados como em Lisboa
e as mercearias praticam preços
altos. Já tivemos uma horta mas
está em stand by”.
Na vida do casal não há bem o
“antes e depois” de Lisboa. Há
mais o “antes e depois” dos filhos.
“Antes, íamos várias vezes jantar
a Lisboa, ao cinema, ao teatro.
Como vamos contra o trânsito, é
rápido. Agora, vamos menos. Mas
se estivéssemos em Lisboa também
já não saíamos tanto”, admite
Catarina.
Mesmo assim, não dispensam
algumas fugidas à capital ao fim-de-
semana, para mostrar a cidade às
crianças. “Acabamos por ver Lisboa
de outra maneira. Vivemos a cidade
como turistas”.
Admitem regressar um dia à
capital? António diz que não.
Catarina não tem nada contra,
mas prefere o sossego do monte
alentejano. “O que me aflige mais
em Lisboa”, explica, “é sair de
casa sem respirar ar puro. Saímos
de casa para a garagem, vamos
no carro com o ar condicionado,
entramos no parque de
estacionamento e subimos para o
escritório. Nem dá para perceber se
está frio ou calor”.
Mas admite ter saudades
dos restaurantes japoneses ou
indianos, que ainda não chegaram
a Montemor. Onde também não se
pode encomendar uma pizza. “Não
há take away, ou quando há tem de
ser bem pago”.
Seduzida pela paisagem
A morar a 380 quilómetros de
Lisboa, Ana Berliner sabe que nem
todos estão dispostos a pagar o
preço da interioridade. “Tem que
haver uma grande motivação”, diz.
Ainda assim, conhece pelo menos
seis pessoas que se lançaram numa
aventura semelhante à sua.
Na aldeia histórica de Castelo
Rodrigo (uma das 12 do país), onde
mora com António e as duas filhas,
não há mais do que dois cafés,
uma loja de artesanato, uma igreja
e um palácio em ruínas, o Palácio
Cristóvão de Moura. “Mas é tudo
tão bonito”, diz, apontando para a
Viver no interior não é
uma missão impossível
Povoadores
Não se assustam com o fecho de escolas, centros de saúde e fábricas. Os
casais que trocaram o apartamento na cidade por uma casa no campo
têm outros trunfos: são qualificados, empreendedores e não dispensam
as novas tecnologias. Lamentam a falta de transportes mas agradecem as
estradas sem trânsito. Fomos saber o que os levou a remar contra a maré.
Marisa Soares (texto) e Adriano Miranda e Miriam Lago (foto)
As famílias que
queiram mudar
com apoio dos
Novos Povoadores
têm um ano para
conhecer o local
António
Vendatrocou
Lisboapelo
Alentejo
MIRIAM LAGO
equitação, em vez do ballet”, diz o
pai. Não faltam distracções para as
crianças no concelho. “Pagamos só
três euros por mês pela ginástica”,
conta Catarina.
Ambos concordam que é mais
barato viver em Montemor,
sobretudo para criar os filhos. E há
mais segurança do que nas grandes
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paisagem imensa e verde que vê da
janela da sala.
A sede do concelho, Figueira de
Castelo Rodrigo, fica a três minutos
de carro. “Lá temos todos os
serviços básicos: centro de saúde,
escolas, bancos, biblioteca, centros
desportivos, supermercados”,
conta. Este ano fecharam três
escolas no concelho, mas isso ainda
não a preocupa. “Figueira está
ao ritmo do país, nem mais nem
menos”.
“Aqui tenho qualidade de vida”,
garante a bióloga. Ana e António
Monteiro, também biólogo,
chegaram em 1995 à região do
Baixo Côa, onde estagiaram.
“Foi essa a nossa sorte. Éramos
estudantes, não tínhamos emprego
em Lisboa, só o encontrámos
aqui”, conta Ana. Na altura, estava
a ser criado o Parque Natural do
Douro Internacional. António
acabou por integrar a equipa do
parque como biólogo do Instituto
de Conservação da Natureza e
Biodiversidade, actividade que
mantém.
Foram ficando, ajudaram a
fundar a Associação Transumância
e Natureza, com trabalho de relevo
na criação e alargamento do
primeiro parque natural privado
do país, a Reserva da Faia Brava,
em Figueira. Ambos têm familiares
distantes no distrito da Guarda,
mas não foi isso que pesou na
decisão. “Foi a zona que nos
seduziu, e o trabalho”, garante
Ana. Quando decidiram comprar
casa, Castelo Rodrigo estava na lista
dos locais preferidos. Porquê? Pela
paisagem, pela tranquilidade e pela
história que ainda se respira dentro
dos muros da aldeia, requalificada
com o apoio da União Europeia, no
final da década de 90.
“Soubemos que estava uma
casa à venda e viemos”. Deitaram
mãos à obra e reconstruíram
a casa e a zona envolvente.
Apostaram depois no turismo
rural, através da Casa da Cisterna.
Nunca pensaram voltar para
Lisboa, aonde só vão para resolver
problemas. “Ia fazer o quê? Aqui
tenho tudo o que preciso”. E como
matam saudades da família que
ficou em Lisboa? “Os telemóveis
e a Internet fazem maravilhas”,
brinca. A videoconferência encurta
quilómetros.
Ter carro próprio é fundamental
para viver no interior. A zona é
servida com “bons acessos”, mas
conversa, que interrompem para
cumprimentar quem passa.
Ninguem morre de fome
“Ao contrário do que acontece em
Lisboa, aqui quem tem poucos
recursos não passa fome. Há
terrenos para cultivar e os vizinhos
ajudam”, explica. A verdade é
que “o custo de vida no interior é
muito mais baixo”, diz. Em parte,
porque “os serviços municipais
dão muito apoio”. Ao contrário do
que é hábito nas grandes cidades,
“aqui damos conta do que a câmara
faz”. A alimentação é mais barata,
mas o mesmo não se passa com a
habitação – a diferença em relação
a Lisboa “não é proporcional”,
lamenta. Mas há uma vantagem:
“Aqui não há tentações”.
O concelho de Figueira de
Castelo Rodrigo perdeu mais
de 800 pessoas nos últimos dez
anos – hoje tem perto de 6500
habitantes. Para estancar esta
perda, a autarquia decidiu investir,
à semelhança do que já fizeram
outros municípios espalhados pelo
país.
Desde o ano passado, o
município apoiou 35 casais com
montantes de 750 a mil euros por
casal. Às empresas, a autarquia
dá mil euros por cada posto de
trabalho criado no concelho e 360
euros por cada nova sociedade que
ali se instale, entre outros apoios.
Em contrapartida, a empresa tem
de manter actividade durante pelo
menos quatro anos.
Se houvesse o mesmo tipo
de apoio em Trancoso, a 50
quilómetros de Figueira de Castelo
Rodrigo, talvez o negócio de Artur
Tavares tivesse dado certo. Ou
talvez não. O fotógrafo mudou de
Lisboa para Trancoso há quatro
anos com a mulher e os quatro
gémeos, mas foi “à experiência”
porque “não podia correr riscos”.
Manteve a casa na capital e a loja
em Linda-a-Velha. Em Trancoso,
abriu duas lojas com serviços de
fotografia e clube de vídeo. “Pensei
que no interior, onde há menos
oferta cultural, o clube de vídeo
fosse uma boa aposta. Mas afinal
os jovens olhavam para a capa
dos filmes e diziam: ‘Já saquei da
Internet’.” Artur reconhece que
tinha um “preconceito” em relação
às condições de vida no interior,
que são melhores do que pensava,
o que ditou o insucesso do negócio.
“Tinha uma loja na
“O Alentejo é mais
procurado pelos
sonhadores”
Frederico Lucas, dos
Novos Povoadores
Abióloga
AnaBerliner
foiestagiar
noDouro
Internacional
eficouporlá.
EmCastelo
Rodrigo,
apostouno
turismorural.
c
ADRIANO MIRANDA
“faltam transportes públicos”,
lamenta a bióloga de 37 anos. Mas
agradece as estradas sem o trânsito
de Lisboa. Em Castelo Rodrigo
moram cerca de 50 pessoas e
uma dezena de crianças, que se
juntam ao pé do pelourinho assim
que espreita o sol. Vão com as
bicicletas e sentam-se no chão à
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Amadora, onde facturava por dia
o que em Trancoso não fazia num
mês”, conta. O problema é que “às
seis da tarde não há ninguém na
rua” e o maior fluxo de pessoas só
chega à sexta-feira, para o mercado
semanal. “Cheguei em Dezembro,
e em Fevereiro era raro não passar
a semana na loja de Lisboa e
regressar a Trancoso ao fim-de-
semana”, explica.
Ainda assim, admite que “lá
tinha mais qualidade de vida”. Os
filhos estavam inseridos na escola,
a família integrou-se. “Em termos
profissionais é que não funcionou”,
lamenta. Teve de voltar para
Lisboa, embora mantenha a casa
em Trancoso.
São situações como esta que
Frederico Lucas, um dos mentores
do projecto Novos Povoadores,
quer evitar. “Estabelecemos
o prazo de um ano para
ponderação da mudança, com
visitas obrigatórias ao terreno”,
explica. A iniciativa, que já devia
ter arrancado no ano passado,
foi adiada para a Primavera de
2011, altura em que as famílias
interessadas poderão começar
a fixar-se em dez municípios do
interior norte.
As três autarquias que
inicialmente mostraram interesse
no projecto – Évora, Marvão
e Idanha-a-Nova – recuaram,
alegando falta de verbas. Por
cada conjunto de vinte famílias,
cada município teria de pagar
73 mil euros aos promotores,
que seriam responsáveis pela
selecção das famílias, pelo apoio à
deslocalização e pela formação em
empreendedorismo.
Agora, o projecto vai ganhar
novo fôlego com o apoio da
Fundação EDP, inserido nas
medidas de repovoamento
previstas nos estudos de impacto
ambiental das barragens que a
eléctrica vai construir no Sabor,
Tua e Fridão.
Alentejo para sonhadores
Em lista de espera, estão cerca de
350 agregados. Os destinos mais
desejados pelas famílias inscritas
são Évora, Castelo Branco, Beja,
Portalegre, Bragança e Vila Real.
“O Alentejo é mais procurado
pelos sonhadores. As pessoas que
procuram o interior norte têm
sobretudo motivações familiares”.
No grupo dos “sonhadores” está
Ana Pedrosa e o marido, David
Salema. Ambos são licenciados em
Engenharia do Ambiente. É daí
que vem a ligação ao campo e à
natureza, já que nenhum tem raízes
no interior e sempre viveram em
Lisboa. Ainda não sabem para onde
querem ir, só sabem que é para o
Alentejo. “Não me agrada a vida da
cidade. Estou farta do trânsito, de
não ter tempo para nada. Quero ter
qualidade de vida”, desabafa Ana
Pedrosa.
O casal, ambos com 35 anos, tem
dois filhos pequenos. “Queria criá-
los num espaço mais pequeno e
saudável”. Mesmo com as escolas a
fechar em tantos locais do interior?
“Vou escolher um sítio onde haja
escolas e centros de saúde perto”,
ressalva. Daqui por dois anos,
Ana quer estar fora da capital,
de preferência com o apoio da
iniciativa Novos Povoadores.
João Faria, que nasceu em Lisboa
há 46 anos, também sonha com o
Alentejo, mas já definiu o destino –
Évora. É lá que quer “começar de
novo” com a esposa e, quem sabe,
um segundo filho. O destino surgiu
com a ideia de abrir um negócio
na área da restauração, turismo
ou cultura. Mas o projecto está em
stand by. Actualmente, João Faria
está a desenvolver um projecto na
área do marketing digital, que pode
desenvolver em Évora. “Desde que
tenha uma boa ligação de Internet
e um escritório, hoje consegue-se
estar perto dos clientes”, sublinha.
Factores como a segurança, as
acessibilidades (a cidade fica a
1h30 de Lisboa, por auto-estrada)
e o custo de vida mais baixo foram
determinantes na escolha. As
ligações familiares e os amigos
na cidade alentejana também
prometem facilitar o processo
de mudança. E se mesmo assim
correr mal? “Nunca sabemos o que
nos espera. Mas num regresso ao
litoral só se for para fora da Grande
Lisboa”.
No projecto Novos Povoadores,
João viu “uma forma de ver o
desejo de mudança facilitado”.
Mas agora prefere acreditar
mais em apoios ao nível do
empreendedorismo, diferentes dos
que estavam pensados inicialmente
pelos promotores. “Penso que
os mentores do projecto podem
e devem investir noutras formas
de continuar a ajuda a quem quer
mudar, uma vez que não tem sido
fácil para eles levar avante o que
tinham por base no seu projecto
original”, afirma. “Quanto a nós,
com apoio ou não, a ideia de mudar
mantém-se”, garante.
João tem uma opinião formada
sobre o ordenamento do território
nacional. “O país já começa a
ter as mesmas possibilidades em
cidades e vilas do interior”, em
comparação com as do litoral,
tanto em infra-estruturas como
em acessibilidades, refere.
Mas isso não chega. “É preciso
criar condições a quem queira
investir profissionalmente nesses
locais”, diz. Como? “Apoiando
os empreendedores com menos
burocracia, fomentando o co-
working, continuando a apostar
na evolução das tecnologias de
informação e criando sinergias
entre profissionais com elos
comuns para se poderem apoiar
mutuamente”.
a Em 2008, quase todos os
concelhos do interior perderam
população. Os dados mais
recentes do Instituto Nacional de
Estatística (INE) indicam que 195
dos 308 municípios perderam
habitantes, quase todos no interior
do país, sobretudo no Alentejo e
no Centro. Mas o pior ainda pode
estar por vir. “Só daqui por dez
anos é que a desertificação do
interior atingirá o pico”, acredita
Hélder Marques, docente de
Geografia na Universidade do
Porto (UP) que se tem dedicado
a estudar os territórios de baixa
densidade.
Os três concelhos mais
preocupantes são Pampilhosa
da Serra (menos 3,06%), Gavião
(menos 2,82%) e Almeida
(menos 2,78%), segundo o
Anuário Estatístico Regional do
INE. Por outro lado, no litoral,
sobretudo nos concelhos das
áreas metropolitanas de Lisboa
e Porto, a tendência é para um
ligeiro aumento da população.
Para já, “as perdas populacionais
são grandes, mas só quando
comparadas com o número de
residentes nos anos 50”, explica o
especialista.
Foram os emigrantes que
deixaram o país nas décadas
de 50 e 60 que deram início ao
despovoamento do interior. Depois
disso, a “sangria” nunca mais
parou, empurrada pelas baixas
taxas de natalidade e pelo aumento
da mortalidade. Nos últimos anos,
a diminuição do número de filhos
por mulher – actualmente é de
1,6, mas devia ser de 2,1, para
repor o saldo entre o número de
nascimentos e de mortes – piorou a
situação.
Ainda assim, “o esvaziamento
rural ainda não tem a dimensão
que já se verifica em outros
países”, como França, Espanha
ou Inglaterra, acrescenta José
Rio Fernandes, investigador do
Centro de Estudos de Geografia e
Ordenamento do Território (CEGOT)
e professor de Geografia da UP.
Drama ou inevitabilidade?
Pelo menos no interior norte, que
é uma das zonas afectadas pela
desertificação, Portugal é mais
povoado e menos envelhecido
do que a Galiza, do lado de lá
da fronteira. Essa é uma das
conclusões do Atlas Básico do Eixo
Atlântico, coordenado por Rio
Fernandes e Xosé Souto Gonzalez.
Por isso, o investigador do CEGOT
prefere não alimentar o “drama”
do despovoamento, que considera
“uma dupla falsidade”. Porquê?
“Hoje não existe uma verdadeira
interioridade”, já que “a distância
entre o interior e o litoral é cada
vez menor”. E, depois, o “drama”
resulta da “nostalgia” que existe
em relação à imagem tradicional
do campo, que já não faz sentido,
admite Rio Fernandes.
“É inevitável que o interior
continue a ter pouca gente”,
diz Hélder Marques, sobretudo
se o discurso “miserabilista” se
mantiver. “Não vale a pena dizer
que essas áreas vão morrer por
falta de gente”. A solução é agir
e mudar os modelos territorial e
produtivo. “Quando pensamos no
queijo da serra da Estrela, vemos
um homem com um capote e um
cajado a guardar as ovelhas no
pasto. Mas é possível produzir o
mesmo queijo de outra forma”,
exemplifica.
A aposta na inovação e em
outros mercados compatíveis com
o espaço rural – como o turismo
de natureza, o turismo ambiental
ou a agricultura biológica – pode
ser uma saída. Mas para isso
“o interior precisa de pessoas
qualificadas, jovens e produtivas”.
Será possível modernizar o
espaço rural? Fernanda Cravidão,
especialista em Geografia Humana
O interior está sem ge
Daqui por dez anos s
“Tem que haver
uma grande
motivação”, diz
Ana Berliner. Ainda
assim, conhece pelo
menos seis pessoas
que se lançaram
numa aventura
semelhante à sua