2. Migrante
Que resta em mim de indefinida ou suficiente
Pr ´além de uma indefinição crónica e permanente?
Apátrida, apática e (in) diferente
Tágide, em leito amazónico errante…
Amazona, em luso jardim distante…
Lá, íntima estranha. Aqui, presença sempre ausente;
Múltipla de visão e em divisão constante;
Mestiça na fala, coração e mente;
Capto o choro do samba e o riso do fado ardente
Com a alma vaga e ansiosa,
Migrante…
Maria Álvaro

3. A lágrima e a vaga
Que a saudade traga
lágrima disposta
a cair na vaga
íntima, macia
que agora me afaga.
E ainda algum dia,
buscando resposta,
ela acaricia
a doirada costa
da terra algarvia…
Maria Álvaro

4. Na sala
Orgásticos acordes de olhar,
Toques alquímicos electrizantes,
Mudos gemidos suplicantes
E o mundo na sala a nos separar
Hálitos febris arquejantes
De feras na jaula a espumar,
Perfumes franceses mascarando o ar
São gases morais e paralizantes
Eternas as vozes vazias, cortantes,
E o gelo nos copos sempre a tilintar,
Seus ecos nos cantos, nos centros distantes,
Abafam as cordas tensas, pulsantes,
Das nossas guitarras prontas p ´ra tocar
E as rosas vermelhas na jarra a murchar…
Maria Álvaro

5. O Verbo
Ou…parar…
Investir
Meditar
Explorar
Despertar se envolver
Reprimir
Explodir
´P ´ra poder
De amar!
ignorar
Viver
O mal viver
Sem oprimir
De estar
Arfar
Sem comer
de gostar
Se opor
Produzir
Não se deter
Actuar
Saber
Parecer
Questionar
Não pensar
Optar
Competir
Sem esconder
Não perder
Estender
Suportar
Dialogar
Sem querer
Ser
E deixar ser
E comprar
Mudar
Compensar
Renascer !!!
Fugir
Não sentir
Dormir
Não sonhar
Maria Álvaro
Vegetar
Morrer

6. As Minhas Netas
Dois filhos no mundo pus,
ditosa dois homens fiz,
mas sempre pedi a Jesus
querendo ser mais feliz;
-Me dá umas menininhas
que delas eu bem vou cuidar!
Do encanto farei trancinhas
do saber farei colar…
E assim o senhor quis
a minha vida enfeitar.
Me deu três lindas netinhas
boas, sensíveis, ímpar…
São fontes de águas limpinhas
Que a vida me vêm lavar…
Maria Álvaro