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Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 1
A Popularização dos Home Studios
Um velho sonho de todos os músicos já é rotina para uma boa parcela deles. Ter em casa
um estúdio de gravação, onde se possam gravar os próprios trabalhos, seja como fonte
de renda, ou pelo menos para registrar as idéias quando elas ainda estão frescas, recém-
saídas da inspiração. O antigo sonho de compositores, cantores e instrumentistas se
converteu em um mercado que movimenta milhões de dólares por todos os continentes.
Muitos músicos, pelo mundo afora, têm seu próprio estúdio, geralmente instalado em um
quarto ou sala, em casa. Alguns são bastante sofisticados, com gravação de áudio digital
em 24 pistas ou mais, mesas de som automáticas e muito poderosas, vários samplers,
sintetizadores, supercomputadores, tratamento acústico, enfim, recursos compatíveis com
os estúdios comerciais de médio ou até grande porte. Outros (a maioria) são bem mais
simples, sem tratamento acústico, com menos equipamentos, mas com alto poder de
fogo, de qualquer forma.
No Brasil dos últimos anos, com a liberalização alfandegária para a importação de
equipamentos eletrônicos, o mercado cresceu rapidamente. As lojas de instrumentos se
modernizaram e aumentaram em quantidade e qualidade. A figura do “muambeiro” de
instrumentos musicais, outrora o braço direito de
todo músico profissional, vem, passo a passo, dando
lugar a uma estabilização do setor. O músico
brasileiro se torna consumidor, com direito a garantia
e assistência técnica para seus instrumentos de
trabalho, em vez do antigo e triste papel de
receptador de material contrabandeado. Por sua vez,
a indústria nacional começa a despertar para as
novas tecnologias e custos, frente à feroz
concorrência dos produtos importados.
A gigantesca multiplicação do número de estúdios caseiros decorreu de alguns inventos,
que surgiram com a tecnologia digital, no início dos anos 80. Esses inventos evoluíram de
modelos que vinham sendo desenvolvidos nas duas décadas anteriores. O mais
conhecido é o protocolo MIDI, a interface que comunica sintetizadores a computadores.
A MIDI (ou ‘o’ MIDI, como dizem) foi definida em 1983 pelos principais fabricantes de
instrumentos musicais do mundo. Ela evoluiu de sistemas de triggers e outros
sincronizadores, que cada fábrica desenvolvia para seus instrumentos e seqüenciadores
analógicos, sem muita compatibilidade entre equipamentos de fábricas diferentes. Em 83,
a indústria resolveu criar um protocolo unificado, e aberto a inovações futuras. Surgia a
Musical Instrument Digital Interface, ou MIDI.
Mais adiante, com o grande número de usuários e produtores de MIDI files, os arquivos
no padrão MIDI para computadores já não eram mais de interesse exclusivo dos músicos.
Os jogos de computador, por exemplo, lançam mão desses recursos, e se dirigem a um
público muito maior. Foi definido então o padrão General MIDI, um conjunto definido e
limitado de timbres e outros recursos para compatibilizar diferentes equipamentos em
aplicações voltadas para o mercado da informática. As placas de som e a multimídia
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 2
tiveram aí um terreno fértil para se desenvolverem.
Outro grande responsável pela explosão dos home studios foi o chamado porta-estúdio, o
gravador cassete de quatro (ou mais) pistas, que foi aposentando os gravadores de rolo
de quatro, oito ou 16 pistas. Hoje, o porta-estúdio está sendo aos poucos substituído pela
gravação digital em hard disk ou em fita de vídeo. O custo relativamente baixo e a
facilidade de manuseio desta tecnologia foram os responsáveis pelo súbito aumento do
número de produtores independentes.
De lá pra cá, máquinas, ferramentas e software para se gravar música em casa são
lançados freneticamente em um mercado que não pára de se expandir. Nos anos 90, os
seqüenciadores por computador e a gravação de áudio pelo processo digital em oito ou
16 pistas são as tecnologias que mais se popularizam. A Internet, a rede mundial de
computadores, é uma grande parceira desses estúdios, na medida em que fornece
programas, upgrades (atualizações), gravações de músicas, arquivos MIDI, partituras e
informação musical de graça, sem que o músico precise sequer sair de casa.
O outro lado da moeda é a expansão do
próprio mercado de trabalho do músico. Por
todo canto, florescem novas produtoras de
multimídia, de vídeo e animação, agências de
publicidade, rádios comunitárias e outras
empresas que são clientes naturais das
pequenas e médias produtoras de som, caso
de muitos home studios com objetivos
comerciais. Aqui, o estúdio caseiro fornece
meio de trabalho para um ou mais músicos,
cantores, compositores e arranjadores. Por
seu baixo custo operacional, o home studio chega a competir com as grandes produtoras,
oferecendo produtos de alta qualidade aos clientes mais exigentes. Mesmo as emissoras
de TV têm preferido contratar produtores que disponham de estúdio próprio.
Para se montar e operar um home studio são necessários alguns requisitos básicos. O
primeiro que vem à mente, naturalmente, é o capital necessário; o segundo é o
equipamento a comprar. No entanto, um requisito fundamental muitas vezes é esquecido
nessa hora: planejamento. Sem ele, possivelmente o capital será mal empregado ou o
projeto não sairá do mundo das idéias. Planejar os objetivos, o mercado potencial, as
condições de trabalho, o equipamento e os recursos humanos, tudo de acordo com o
capital disponível, deve vir antes da aquisição de qualquer máquina, para que o sonho
não se torne um pesadelo. A consulta permanente ás fontes de informação (revistas,
manuais, lojas, especialistas, amigos com experiência, sites na Internet) é outro requisito
importante.
O Planejamento faz a Diferença
Para se montar um home studio é preciso equilibrar uma série de fatores. De acordo com
os objetivos, capital, espaço, clientela ou necessidades pessoais, surgem inúmeras
opções de equipamento e de projetos de tratamento acústico para quem vai “se equipar”.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 3
Nada é pior que constatar erros de planejamento depois de realizado o investimento,
como uma obra de isolamento acústico que não isola, ou a compra de aparelhos
desnecessários ou obsoletos. Antes de comprar, devem-se ponderar todas as
necessidades e possibilidades, e aí fazer uma lista de todos os itens, com modelos e
preços compatíveis.
Primeiro vêm os objetivos do empreendimento. Um estúdio caseiro de gravação pode
atender o mercado fonográfico, publicidade, TV, cinema, vídeo, ou produzir fitas demo de
um compositor, cantor ou instrumentista. Também conta o perfil de quem vai operar o
estúdio, se músico, engenheiro de som, produtor etc., e a sua experiência com o material.
Cada combinação dessas variáveis implica num set-up diferente. Um estúdio voltado para
produção de trilhas instrumentais com sintetizadores deverá ter bons teclados e módulos
de som MIDI, além de um bom computador, enquanto outro estúdio, para gravação e
mixagem de grupos vocais e/ou instrumentais, terá bons microfones, processadores e um
sistema de gravação multipista. Nos dois casos, serão necessárias uma boa mesa de
som e monitoração. Se se pretende operar simultaneamente nas áreas de áudio e MIDI,
busca-se o melhor dos dois mundos, com equilíbrio de investimentos entre eles.
O segundo item é o capital disponível. Ele deve ser levado em conta para se definir o
nível ou o padrão geral do estúdio, para que se determinem equipamentos e obras
acústicas compatíveis entre si. Por exemplo, o uso de microfones caros e muito sensíveis
num quarto de alvenaria sem qualquer tratamento acústico pode trazer resultados
decepcionantes.
Distinguem-se três níveis típicos de home studios:
Básico: pode dispor de um porta-estúdio (gravador) cassete de quatro pistas, como os
modelos da Fostex, Tascam ou Yamaha, uma mesa de som de oito ou mais canais
(Mackie), um ou dois microfones Shure ou AKG, reverberador, deck cassete, amplificador
e caixas acústicas (às vezes a solução inicial é o aparelho de som doméstico, se for de
boa qualidade). O estúdio MIDI deste nível pode ter um sintetizador multitimbral da
Roland ou da Korg com seqüenciador próprio (workstation) ou externo. Este pode ser um
programa de computador, como o Cakewalk ou o Cubase, ou um hardware sequencer da
Roland, Yamaha ou Brother. O sistema pode ser sincronizado ao gravador multipista para
expansão de canais através de uma interface para computador (MQX 32-M) ou em
hardware, da MidiMan ou da J. L. Cooper. O computador para gravar o áudio em
substituição ao porta-estudio, através de programas como Cakewalk Pro-Audio ou
Cubase Audio e placas de som Turtle Beach ou Roland, demanda uma configuração mais
avançada que para aplicações MIDI (gravação de instrumentos eletrônicos), viável até
mesmo em velhos 386 com 4 Mega de RAM rodando Windows 3.1. Os arquivos de som
podem ser mil vezes maiores que os arquivos MIDI.
Intermediário: conta com um sistema de gravação de áudio digital em oito ou 16 pistas,
em fita de vídeo (Alesis ADAT-XT ou Tascam DA-88) ou em hard disk, via computador
(Session 8, Session 16, Studio Vision) ou hardware (Roland, E-Mu). A gravação em HD é
mais cara que os gravadores de fita, trazendo contudo muitos recursos de edição. Outros
investimentos, neste nível, são módulos de som (sintetizadores e baterias eletrônicas) e
controladores MIDI, um sampler (Roland, Akai), um Pentium ou MacIntosh com interface
MIDI/Sync, uma mesa de pelo menos 16 canais com conectores Canon (Mackie, Yamaha,
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 4
Tascam), microfones para vozes e instrumentos (AKG C-3000 e Shure SM-57), direct
boxes (Furhman, Countryman) para conectar as fontes sonoras à mesa, reverberadores
(Lexicon, Yamaha, Alesis), compressores (Dbx, Alesis), noise gate, equalizador, DAT ou
Mini-Disk, amplificador e monitores de estúdio Yamaha, Alesis ou JBL. Um projeto de
isolamento e tratamento acústico viabiliza a gravação e a mixagem. Estes recursos
permitem boas gravações para CDs independentes ou publicidade e demos de boa
qualidade.
Avançado: apto a oferecer qualquer serviço de gravação profissional, adiciona uma mesa
de gravação (Mackie, Soundcraft, Tascam, Yamaha) com 32 ou mais canais de
entrada/saída e oito subgrupos, automação e patch bay, um sistema de gravação digital
(24 pistas) em fita de vídeo (ADAT, DA-88) ou computador (MacIntosh com Pro Tools),
dois sistemas de monitoração com amplificadores e caixas profissionais para gravação e
mixagem, processadores (equalizadores, compressores Dbx, reverberadores Lexicon e
Yamaha, multi-efeitos, Vocalist, Aural Exciter etc.), distribuidores para uns 10
headphones, vários microfones (Neumann U87, AKG C-414, Shure SM-57, SM-94, Audio
Technica 4049, Sennheiser MD 421U, Eletro Voice RE 20) e cabos de qualidade. O
sistema MIDI se expande com uma interface de oito portas (8 Port, Studio 5 etc.) para o
Pentium ou o Mac, teclado controlador Roland ou Kurzweil, sintetizadores Korg Trinity,
Roland JV-1080, Ensoniq TS-12, samplers (Roland, Akai, Emulator). A bateria pode ser
acústica (microfonada) e/ou trigada ao sampler.
Na terceira variável, o espaço disponível, um planejamento de obras de tratamento
acústico é vital para o seu perfeito desempenho. Quanto mais alto o nível, mais cuidado
se deve ter com tratamento e isolamento. Um arquiteto com experiência em estúdios do
porte do seu evita decepções com projetos improvisados que pioram a sonoridade de sua
sala. Reserve um espaço para a técnica e outro para os músicos, perfeitamente isolados.
Se for um estúdio pequeno ou médio, pode-se até gravar com headphones, num único
cômodo da casa.
O mais importante é se fazer um projeto com coerência, pesando as reais necessidades
de acordo com suas condições e metas. Vale a pena começar com um estúdio mais
simples, e depois ir evoluindo de acordo com a sua trajetória.
As Mesas de Som
Mesa, console ou mixer. O item central de
qualquer estúdio costuma ser negligenciado
por aqueles que estão iniciando no universo
da gravação de áudio, visto como luxo por
alguns que começam a adquirir seus
equipamentos, ou como um verdadeiro
bicho-de-sete-cabeças por outros. É
impossível se operar um estúdio sem a
mesa, e ela é que determina a qualidade do
seu som. Mesmo os mini-estúdios baseados
num único sintetizador workstation, ou só num computador com placa de som, dependem
do mixer virtual instalado neles.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 5
O porte da mesa é proporcional ao do estúdio e os fatores principais para se escolher um
bom equipamento são a adequação às necessidades, qualidade do som, recursos
auxiliares, facilidade de manuseio, versatilidade e custo. O mercado conta hoje com as
mais conceituadas marcas mundiais, como Mackie, Yamaha, Soundcraft, Behringer,
Soundtracs etc. Alguns gravadores multipista, cassete, Mini-Disk ou HD, vêm com um
pequeno mixer acoplado, que em diversos casos é suficiente.
Em um sistema de gravação com mais de uma fonte sonora (instrumento ou voz), todas
as fontes devem ser transmitidas à mesa de som através de cabos. Os sinais sonoros
entram na mesa através dos canais de entrada (inputs), são processados um a um e
finalmente misturados e enviados, pelos canais de saída (outputs), a um gravador ou um
amplificador.
Canais. O número de inputs, oito, 12, 16, 24, 32 ou mais, depende do número de fontes
sonoras (microfones, instrumentos elétricos e eletrônicos) a se gravar simultaneamente, e
a se mixar (canais de gravação, instrumentos eletrônicos seqüenciados). Além desses,
temos os inputs auxiliares, geralmente para entrada de efeitos externos, como o reverber,
ou como canais extras para mixagem de teclados ou outros sinais ‘flat’ (não processados
pela mesa).
Os canais de saída são os masters estéreo (direito e esquerdo), em pares de outputs para
monitoração e mixagem, mais as saídas individuais ou de subgrupos de canais para
gravação, além das saídas auxiliares para processamento e efeitos.
Conexões. Os conectores, na maioria das mesas, são do tipo “banana”; outras usam
plugs RCA. Os conectores “banana” podem ser balanceados (com redução do ruído nas
gravações) ou não balanceados. Prefira os plugs do formato XLR ou Canon, balanceados.
As impedâncias dos sinais de entrada são geralmente equilibradas pelos controles de
ganho (gain ou trim), ou com diferentes inputs para diferentes impedâncias
(microfone/linha, mic/line, por exemplo). Nunca use duas entradas de um mesmo canal.
Controles. Cada canal de entrada possui controles de nível (volume), timbre
(equalização), posição estereofônica (pan), e efeitos ou auxiliares. O endereçamento para
subgrupos de canais (bus ou submasters), controles solo e mute são exclusivos de mesas
de médio e grande porte. O processamento do sinal sonoro se dá através do fader,
equalizador, pan e efeitos (ou auxiliar).
O fader, um potenciômetro linear, controla o nível de entrada (volume) da fonte sonora
ligada àquele canal. É útil nivelarem-se os canais pelos controles de ganho, deixando
inicialmente os faders em 50%, para otimizar os recursos de gravação e mixagem.
O equalizador (EQ), que define o timbre de cada canal, pode ser desde um simples par de
controles de tonalidade (grave, low, e agudo, high) até um equalizador paramétrico de
várias faixas de freqüência. Mais comumente, as mesas apresentam controles de
freqüências baixas (Low: 80 ou 100 Hz), médias (Mid: 1 ou 2,5 KHz) e altas (High: 10 ou
12 KHz). As maiores têm uma ou duas faixas de paramétricos nos médios, mais agudo e
grave.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 6
O pan pot, controle do panorama estéreo, posiciona o sinal de um canal de entrada nos
canais stereo de saída, mais á esquerda ou á direita. Instrumentos estéreo, como
teclados, que utilizem dois canais da mesa, devem ter os pan ajustados, um todo para a
esquerda e o outro todo para a direita. O controle da estereofonia, neste caso, é feito com
os faders, aumentando-se ou abaixando-se
cada um para modificar a posição ‘espacial’.
Algumas mesas dispõem de canais estéreo,
que endereçam os dois sinais para esquerda e
direita. Neste caso, usa-se normalmente o
pan, e os outros controles afetam igualmente
os dois lados.
Controles auxiliares ou de efeitos determinam
quanto sinal de um canal será enviado até um
processador de som, tal como um
reverberador ou delay (eco), pelas saídas
auxiliares da mesa, de forma que um mesmo
processador possa ser usado por vários
canais em intensidades diferentes. Os sinais de diversos canais, devidamente misturados,
são enviados por um output auxiliar (mono ou stereo) até o processador, retornando á
mesa por um input auxiliar (mono ou stereo) e misturados aos sons originais (‘secos’).
Masters, ou mestres, são um ou dois faders que controlam o nível geral dos canais
masters de saída, e os controles de retorno dos auxiliares. Os subgrupos ou submasters,
encontrados nas mesas de médio e grande porte, tipo 8 bus, funcionam como canais
coletivos que gerenciam outros canais. Por exemplo, se as peças de uma bateria ou de
uma seção de instrumentos estão entrando por vários canais, pode-se equalizá-los em
separado e depois endereçá-los para um mesmo submaster, o que permite o uso de um
único fader ou um par estéreo para toda a seção ou a bateria, e gravar tudo em uma ou
duas pistas, pelas saídas dos submasters.
Automação. As mesas com automação, em geral via MIDI, podem ser controladas por um
computador. Diversos procedimentos de mixagem, difíceis de se realizarem
simultaneamente, podem ser preparados no computador e repetidos infinitas vezes
durante o processo. Vários controles da mesa são automatizados, como os faders, pan e
outros. O recurso chamado “recall” permite recuperar as posições dos controles de uma
mixagem feita antes. Algumas mesas vêm com automação interna, independente do
computador, e todo o processamento on board, isto é, com multiprocessadores de efeitos
internos. Mesas digitais transmitem e recebem o sinal dos gravadores por fibra ótica,
mantendo o som definitivamente no campo digital.
Escolha a mesa de seu estúdio de acordo com as necessidades e características do
mesmo. Observe os equalizadores, a quantidade de “mandadas” e retornos auxiliares, o
número de canais, mas principalmente a qualidade do som. Este será o seu som.
A Captação do Som
Gravar vozes, instrumentos acústicos e elétricos é a tarefa mais delicada de um estúdio.
Ainda mais, por não haver regras pré-estabelecidas sobre qual a melhor forma de se
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 7
captar o som de um instrumento. Neste artigo, vamos conhecer os procedimentos usuais
de captação e os microfones mais usados pelos estúdios mundo afora.
Se o seu home studio opera somente via MIDI, isto é, se teclados e baterias eletrônicas
são suas únicas fontes sonoras, não há muito com que se preocupar, pois os
instrumentos eletrônicos são conectados diretamente à mesa de som pelos cabos de
áudio. Porém, se o estúdio dispõe de um gravador multipista (em fita, HD ou MD) e tem o
objetivo de gravar vozes e instrumentos, é necessário conhecer alguns recursos técnicos.
Se o seu home studio é básico, com um porta-estúdio cassete de 4 pistas e sem
tratamento acústico, ainda não é o momento apropriado para se fazer uma coleção de
microfones para todas as finalidades. Neste caso, o uso de microfones dinâmicos, desses
que se usam nos palcos, como os Shure SM57 e SM58 (ou Beta 57, 58) pode ser uma
boa solução. Dinâmicos e unidirecionais (cardióides), esses modelos compensam a falta
de tratamento acústico do pequeno estúdio. Outra boa solução para o pequeno estúdio
com isolamento acústico é o modelo AKG C3000, a condensador.
Há vários tipos de microfones, para diversas finalidades. Os microfones para gravação se
dividem em dinâmicos, que são mais resistentes a ruídos de manuseio e têm uma
resposta mais dura, e os microfones a condensador, bem mais sensíveis. Estes precisam
ser alimentados por corrente elétrica. Geralmente, a mesa de som tem uma chave de
“phantom power”, que os alimenta com uma corrente de 48 V através do próprio cabo de
áudio. Quanto à área de atuação, os cardióides captam melhor o som numa área em
forma de coração, diante da cápsula e a moderada distância, sendo chamados de
unidirecionais. Os hiper-cardióides têm essa área de captação ainda mais estreita. Há
ainda os omni-direcionais ou multi-direcionais, captando áreas mais largas, e ainda em
forma de 8.
A mesa deve ter inputs do formato XLR ou Canon para uma melhor qualidade do som. Se
ela só possui entradas com plugs do tipo “banana”, verifique no manual se essas entradas
são balanceadas. Neste caso, podem-se usar plugs banana estéreo (com 3 vias) para
fazer a conexão. Note que esses plugs estéreo serão usados como “mono” (a terceira via
é usada como terra). Para gravar instrumentos em linha numa mesa com entradas Canon,
é ideal o uso de Direct Boxes, casadores de impedância que mandam o sinal para a mesa
por cabos Canon. Já os microfones são plugados diretamente à mesa.
Vejamos aqui algumas técnicas e os microfones mais usados para a captação de vozes e
dos instrumentos mais comuns:
Voz. Os microfones a condensador são os mais apropriados. Os mais usados são o
Neumann U87 e AKG C-414. O AKG C3000, de menor custo, é uma boa solução para o
home studio. O microfone deve ficar sempre no pedestal, com suspensão própria e uma
tela para filtrar o som da voz e barrar a emissão mais forte do ar, que causa o indesejável
“puf” na gravação. A distância varia de acordo com a potência vocal do cantor, geralmente
entre 20 e 70 cm, mais ou menos na altura dos olhos.
Usando-se um microfone dinâmico (no pequeno estúdio), deve-se posicioná-lo a 45 graus
da boca do cantor, a uns 5, 10 cm.
Violão. Temos aqui várias opções de captação. O violão com cordas de nylon será
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 8
captado por um microfone a condensador, como os citados para voz, a uns 20 ou 30 cm
da boca do instrumento. Usa-se ainda, nos violões eletrificados, combinar o som do
microfone com o som direto, plugando-se o violão em um segundo canal da mesa. O ideal
é se gravar em várias pistas para então dosar o nível dos sons. O violão com cordas de
aço, atuando em conjunto com outros instrumentos de harmonia, pode ser captado por
um microfone que realce as altas freqüências (agudos), como o AKG C-391 ou o Shure
SM-81.
Guitarra. Apesar da polêmica entre som direto e microfonado, é majoritária a gravação da
guitarra através de microfones dinâmicos, como o Shure SM-57, captando o alto-falante
do amplificador a uns 20 cm. O amplificador deve estar em outra sala, isolado da técnica.
Após se definir o timbre no amplificador da guitarra, busca-se reproduzi-lo nos monitores
do estúdio através dos equalizadores da mesa. Usa-se também a gravação em linha
através de um pré-amplificador.
Baixo elétrico. Pode ser gravado diretamente na mesa, microfonado, via amplificador, ou
de várias formas combinadas. Microfonado, segue os padrões da guitarra, usando Shure
SM 57, AKG D112, Eletro-Voice RE 20 ou Sennheiser 421. Em linha, com direct box, o
som é mais nítido. As cordas têm que estar novas, o instrumento regulado e, se usar
captação ativa, bateria nova. O ideal é experimentar até se alcançar a sonoridade
desejada. O custo/hora do home studio costuma ser bem menor que nos estúdios de
maior porte, o que permite uma experimentação maior.
Bateria. Usam-se vários microfones diferentes, em geral dinâmicos para as peles e
condenser para os pratos. Para a caixa, o mais comum é o Shure SM57, voltado para a
pele superior, a uns 10 cm. Para o bumbo, AKG D112 ou Eletro Voice RE 20, dentro do
bumbo. Tom tons e surdo, Sennheiser MD 421, como na caixa. Contratempo, Shure SM
94. Os pratos podem ser captados por dois microfones overall do tipo lapiseira, como o
Shure SM 81.
Nunca é demais experimentar opções de captação, já que o que realmente importa é o
resultado. A boa execução vocal ou instrumental é o fator mais importante para uma
gravação de qualidade. Não deixe para recuperar a qualidade na mixagem. As melhores
soluções são encontradas na hora de gravar.
Os Gravadores Multipista
Há poucas décadas, a gravação de um disco era feita diretamente para a fita master,
gravando-se músicos e cantores todos ao mesmo tempo. Se houvesse um erro por parte
de qualquer um deles, todo o trabalho era refeito. O lançamento dos gravadores multipista
permitiu uma grande evolução nas técnicas de gravação. Os estúdios dispõem hoje de
dois tipos de gravadores, multipista e estéreo, o primeiro para a gravação em si e o
segundo para a mixagem. Cada tipo apresenta diversos formatos, para gravação
analógica ou digital.
O gravador multitrack, multipista ou multicanais, registra os sinais sonoros de fontes
acústicas, elétricas e eletrônicas na primeira fase de uma gravação. Há modelos
analógicos, de fita magnética cassete ou de rolo, e os digitais, de fita de vídeo, disco
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 9
rígido ou Mini-Disk, com quantidade variada de pistas de gravação ("tracks").
Gravadores analógicos. Os gravadores de rolo são o padrão original da gravação
multipista. Utilizam fitas de 1/4, 1/2, 1 ou 2 polegadas, em 4, 8, 16, ou 24 pistas. Os rolos
de 8 pistas com fita de 1/4, das marcas Fostex e Tascam eram muito encontrados em
home studios até o lançamento dos gravadores digitais em fita de vídeo. Gravadores
cassete de 4, 6 ou 8 pistas, os porta-estúdios, da Tascam, Fostex e Yamaha, estão entre
as causas da súbita popularização dos estúdios pessoais em quase todo o planeta. Vêm
com uma pequena mesa de som e um filtro de ruídos, e custam em torno de 500 dólares.
Gravadores digitais utilizam fitas de vídeo em 8 pistas, expansíveis até 128, como o Alesis
ADAT-XT (fita S-VHS) e os Tascam DA-88 e DA-38 (fita Hi-8), Mini-Disk (MD) em 4 pistas
(Tascam, Yamaha e Sony) ou disco rígido (HD), em hardware (Roland, E-Mu) ou via
computador. Enquanto a fita permite o livre trânsito do material gravado entre vários
estúdios, a gravação em HD ou MD ganha poderosos recursos de edição. Os programas
de computador (para Mac e PC) controlam sistemas de quatro ou oito pistas, em geral,
utilizando hard disks de mais de um gigabyte de memória. Os mais usados são o Pro-
Tools, da Digidesign (que inclui os periféricos‚ como interface de áudio etc.), o Sonic
Solutions , ambos para o MacIntosh, e o Session 8 (Digidesign) para o PC (Windows).
Recentemente, os seqüenciadores MIDI vêm implementando a gravação de áudio em HD
através das placas ou interfaces de som. Os mais comuns são o Cakewalk Pro Audio
(PC), o Studio Vision, o Digital Performer (Mac), o Cubase Audio e o Logic Audio (para as
2 plataformas).
Pistas e canais são termos usados de forma genérica e confusa para gravadores, mesas,
MIDI e seqüenciadores. Cabe aqui uma distinção: canal ("channel") é a rota de um sinal
de entrada ou saída, seja de áudio em uma mesa de som, seja de informações MIDI
sendo transmitidas ou recebidas por um instrumento ou computador; pista ou trilha
("track") é a faixa de uma fita onde um sinal é gravado. Por exemplo, a fita cassete
estéreo é gravada em duas pistas (direita e esquerda) no lado A e mais duas no lado B.
Os seqüenciadores, inspirados nos gravadores, têm seus setores de "gravação"
igualmente denominados "pistas" .O mesmo ocorre com gravadores de HD. Nada impede,
pois, que enderecemos vários canais de uma mesa direto para uma única pista do
gravador, ou seja, que gravemos várias fontes, através de vários canais da mesa, numa
única pista.
Diferenças entre estéreo e multipista. O gravador multipista difere do estéreo nos modos
de gravação e reprodução. Comparado a um cassete multipista, o deck cassete stereo
tem quatro pistas de gravação, que correspondem aos canais esquerdo e direito de cada
lado ("A" ou "B") da fita. O cabeçote atua sobre duas pistas, os dois canais stereo daquele
lado. Virando-se a fita, gravam-se ou reproduzem-se as duas pistas do outro lado. O
gravador multipista, por seu turno, utiliza todas as pistas de uma só vez. Não há lado "A"
ou "B", mas um único lado com 4 ou 8 pistas, cada uma delas sendo gravada ou
reproduzida independentemente. Cada pista tem seu sinal enviado a um diferente canal
da mesa de som, onde só então o sinal é posicionado no campo auditivo stereo
(direito/esquerdo) via controle de pan.
Canais de entrada e de monitoração em uma gravação exigem atenção. Os gravadores
multipista têm canais de entrada (inputs) correspondentes às pistas de gravação e canais
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 10
de saída (outputs) para monitoração e mixagem. O input recebe o sinal, proveniente da
fonte sonora através da mesa de som, e o envia para o cabeçote de gravação. O output
envia o sinal, da cabeça reprodutora, de volta à mesa de som, para ser monitorado e
processado num segundo canal. Para termos maior liberdade na mixagem, o
procedimento usual é gravar o sinal seco, não tratado acusticamente nem equalizado
(timbre "flat"), nivelando-se os canais de entrada da mesa e do gravador, de modo que os
VUs ou os LEDs de ambos atinjam o pico entre zero e +3 dB (decibéis), para otimizar a
relação sinal/ruído. Nos gravadores digitais, o nível de gravação não pode ultrapassar
zero dB. Monitorando-se a "volta" (o canal da mesa onde se liga o output do gravador)
com o processamento desejado na hora de gravar, esse processamento não interfere na
gravação flat, devendo ser refeito na mixagem e sempre que se desejar. Há exceções, em
que se opta por gravar o sinal já processado, principalmente da guitarra.
Filtros. Nos gravadores analógicos, devemos usar sempre o filtro de ruídos, dbx ou Dolby,
desnecessários nos modelos digitais. Os gravadores em HD e MD, com suas
peculiaridades, serão matéria de um outro artigo.
A escolha de um gravador multipista leva em conta a qualidade do som mais a vocação e
o orçamento do estúdio.
Gravação de Áudio no Computador
Muito têm evoluído os sistemas de gravação de áudio. No princípio, gravava-se toda a
orquestra ou banda reunida, monofonicamente (em um único canal). Ou seja, gravação e
mixagem eram uma coisa só, ocorriam no mesmo momento. Havendo algum erro por
parte de um dos músicos, tudo precisava ser regravado. Depois, veio a gravação estéreo,
e daí em 4, 8, 16 e 24 pistas, nos gravadores analógicos de rolo. Surgiu aí a técnica do
playback, a gravação em separado das partes de um arranjo. Mais recentemente, com o
advento do áudio digital, entraram em cena os gravadores em fita de vídeo, com 8 pistas,
como o ADAT, e gravadores digitais de rolo. A nova tendência é o áudio gravado
diretamente para o disco rígido de um computador. Através de uma interface (placa) de
som e um programa, o micro passa a ser o próprio estúdio de gravação.
Primeiro surgiram programas dedicados exclusivamente à gravação de áudio no hard
disk, em geral com 8 pistas, como o Pro Tools, para o Mac, e o Session 8, para Windows,
ambos da Digidesign. Nos últimos anos, uma nova opção ganha cada vez mais força,
principalmente nos home studios: os programas que conjugam gravadores de som e
seqüenciadores MIDI, como o Digital Performer, o Studio Vision (Mac), o Cubase Audio, o
Logic Audio, ambos para Mac e Windows, e o mais popular de todos, o Cakewalk Pro
Audio (Windows). Com um programa como esses, em um PC multimídia, o usuário dispõe
de um estúdio de gravação com muitos recursos de edição, junto a um poderoso
seqüenciador de teclados MIDI. No Cakewalk, por exemplo, usando qualquer placa de
som, pode-se gravar, em cada track, um canal de áudio (voz, instrumento elétrico ou
acústico) ou um canal MIDI de instrumentos eletrônicos. Para isso, basta selecionar a
fonte sonora (MIDI ou áudio) com o mouse, na coluna apropriada do programa. Os dois
sistemas de gravação, de áudio e MIDI, trabalham sincronizados e unidos, como se
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 11
fossem uma única tecnologia. No entanto, são dois sistemas independentes: um
seqüencia (registra e ordena) informações sobre a performance do músico nos teclados e
baterias eletrônicas, com baixo consumo de memória, e depende de hardware externo,
como sintetizadores, samplers e bateria eletrônica; o outro é um gravador de som
multipista que usa o HD como meio, ao invés de uma fita, convertendo os sinais de áudio
em dados digitais, consumindo um grande espaço em disco.
Para o home studio de nível básico, esta revolução significa que, dispondo-se de um PC
com uma placa Soundblaster, geralmente usada para sonorizar jogos, basta instalar um
programa como o Cakewalk Pro Audio para ter um porta-estúdio digital e um
seqüenciador MIDI sem custos adicionais. O estúdio de nível intermediário pode usar uma
placa de som Turtle Beach ou Roland, que aceitam maior número de pistas de áudio e
conferem melhor qualidade sonora. O estúdio avançado usa a mesma versão do
software, com uma placa Audiomedia III, da Digidesign, e um hard disk SCSI, mais rápido
que o IDE.
Conexões e recursos de edição de áudio. Para se gravar o áudio, usa-se a entrada
Line In da placa de som. A fonte sonora é conectada à mesa de som, e endereçada até a
placa, por um cabo de áudio. Na ausência da mesa, pode-se ligar um microfone na
entrada Mic da placa de som. Através da placa e do programa, os sons são registrados no
HD. Para se reproduzir o áudio, liga-se a saída Line Out da placa às entradas da mesa,
ou se monitora diretamente nas caixas de som do kit multimídia, ligadas à saída Speaker.
O número de canais e pistas de gravação, 2, 4, ou 8, é limitado apenas pela placa de
som, não pelo programa. Cada pista de áudio possui várias ferramentas de edição, que
vão desde o recurso de cortar, copiar e colar trechos gravados, até processadores e
efeitos sonoros on board, como equalizadores e reverberadores, sejam recursos do
programa ou da placa de som. Ë possível, por exemplo, copiar a voz do refrão de uma
música e fazer repetir o trecho em outras partes dessa música.
Recursos do seqüenciador MIDI. O seqüenciador é a função original desses
programas. Embora contem hoje com recursos de gravação de áudio, edição de partituras
etc., todos eram sequencers nas suas primeiras versões. Através das conexões MIDI,
presentes nos instrumentos e na maioria das placas de som, controlam os sintetizadores,
samplers, baterias eletrônicas, e até processadores de efeitos, mesas e gravadores
automáticos. Os teclados, por exemplo, são literalmente tocados por ele, que “aprende a
música” quando o instrumentista a executa ou a escreve com o mouse. O programa
permite que se editem todas as partes da música com enorme liberdade, como repetir
trechos, mudar timbres, andamentos, tons, acrescentar ou retirar notas etc. A quantização
corrige automaticamente imprecisões no ritmo tocado pelo músico. O seqüenciador
executa ‘ao vivo’ os instrumentos eletrônicos, tornando desnecessário o registro de seu
áudio em um gravador multipista, porque os dois sistemas, seqüenciador e gravador,
trabalham sincronizados. Assim, os teclados se reúnem ao áudio gravado (voz,
instrumentos acústicos e elétricos) na mesa de som, sendo gravados, ainda em 1a
geração, somente na mixagem. O uso do seqüenciador sincronizado ao gravador
multipista expande em muito os recursos e os canais do estúdio, seja este pequeno ou
grande.
Vantagens do seqüenciador com áudio incorporado. Essas novas versões dos
programas, como o Cakewalk Pro Audio, dispensam o gravador multipista externo. Toda a
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 12
gravação e o seqüenciamento são feitos no computador. Além disso, a gravação de áudio
conta com os recursos de edição já citados, inexistentes nos gravadores de fita, como o
ADAT.
O Cakewalk Pro Audio
Embora seja fácil sincronizar qualquer gravador multipista com um seqüenciador, uma
nova tendência vem se irradiando com muita intensidade: os programas de computador
que conjugam seqüenciamento MIDI com gravação e edição de áudio digital. Um desses
programas vem se tornando um verdadeiro padrão nos estúdios: o Cakewalk Pro Audio.
Fácil de operar, o programa (para Windows) conta com inúmeros e poderosos recursos. A
versão 6.0 está em fase de lançamento.
Operar o Cakewalk é muito fácil: do lado esquerdo da tela, temos 256 tracks em linhas
horizontais, que podem servir para gravação de áudio ou MIDI. Em cada track, seleciona-
se a fonte sonora, o canal de áudio ou MIDI e outros parâmetros, de acordo com a
natureza da gravação, como volume, pan, patches de sintetizadores etc., clicando nas
colunas correspondentes. No lado direito, cada take gravado tem a forma de um clip, um
retângulo de comprimento proporcional à sua duração. Os clips MIDI são rosa e os de
áudio, vermelhos, facilitando sua identificação, já que sua edição terá importantes
diferenças.
Vejamos, primeiro, a configuração do programa e do computador. Visto que se está
trabalhando com dois sistemas diferentes ao mesmo tempo (áudio e MIDI), as placas ou
interfaces devem atender às duas necessidades. Algumas placas controlam áudio e MIDI
simultaneamente, outras não, o que, neste caso, requer o uso de mais de uma placa. A
Soundblaster controla os dois sistemas, embora não ofereça grande qualidade de som. A
placa MIDI mais usada é a MQX-32(M) da Opcode, e as placas de som preferidas pelos
home studios são as da Roland, como a RAP-10, e da Turtle Beach, como a Tahiti e a
nova Multisound Fiji. A Audiomedia III, da Digidesign, é muito elogiada, sendo bem mais
cara. O número de canais de áudio e de portas MIDI depende de cada placa, sendo
ilimitados no programa. Instalado o hardware e o software, deve-se abrir o menu Settings:
MIDI Devices, como também Settings: Audio, e assinalar as interfaces de entrada e saída
de dados.
Também se pode habilitar o programa para mudar os patches (timbres) de cada
sintetizador do seu estúdio pelos seus nomes. Isto é possível porque o Cakewalk dispõe
de uma extensa lista de teclados e outros instrumentos MIDI, com os presets de fábrica, o
que facilita muito a escolha dos timbres. Não encontrando seu teclado na lista, podem-se
digitar os seus patches. Encontre essas listas com um duplo clique do mouse na coluna
Patch da janela principal. Clique depois em Assign Instruments, Define Instruments,
Import, src.ins e o nome do seu instrumento. Depois, venha clicando OK ou Close até
voltar à janela Assign Instruments, onde se associará cada canal MIDI do lado esquerdo
com o instrumento preferido do lado direito, antes de se voltar à janela principal. Através
de seu instrumento controlador MIDI, pode-se tocar qualquer outro instrumento MIDI.
Midiados os instrumentos e plugadas as entradas e saídas de som (de preferência
através de uma mesa), a gravação é feita simplesmente acionando-se o ícone com o
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 13
botão REC. O botão REWIND (<<) volta a música ao início, e então o botão PLAY a
executa. Esses comandos servem tanto para se gravar áudio quanto MIDI, mas é
importante, antes da gravação de cada track, assinalar nas colunas Source e Port qual a
função desejada e sua interface correspondente.
Lembre-se sempre que o seqüenciador MIDI não está ‘gravando’ o som do teclado, mas
seqüenciando comandos, como note on e off, que só serão ouvidos se o teclado estiver
amplificado. Por outro lado, não é necessário se gravar o áudio do teclado, já que o
Cakewalk sincroniza automaticamente as tracks MIDI com as de áudio. Além disso, o
áudio digital consome centenas de vezes mais memória que os eventos MIDI, o que torna
contraproducente a gravação do som dos instrumentos eletrônicos. Só deve ser gravado
o áudio de vozes, instrumentos acústicos e elétricos etc., nunca dos instrumentos MIDI.
No seqüenciador, crie uma MIDI track com a harmonia (timbre de piano, violão) ou a
bateria, primeiro. Use o metrônomo, para depois poder editar o que foi executado.
Escolha um andamento confortável e, depois de gravado, modifique-o, se quiser, clicando
diretamente na caixa de Tempo (onde está escrito 100,00). A música toca em qualquer
outro andamento, sem alterar o tom. Aliás, se desejar, você também pode modificar o tom
das MIDI tracks, na coluna Key, o timbre em Patch etc.
Selecione na Track seguinte o próximo instrumento, em outro canal MIDI, e vá registrando
o arranjo, instrumento por instrumento. Observe que, cada vez que você conclui a
gravação de um take, surge um novo clip no lado direito da tela. Clicando-o, ele se torna
preto, marcado, pronto para edição. Pode-se arrastá-lo com o mouse para outro momento
da música (no sentido horizontal), para outra track (na vertical), copiá-lo quantas vezes se
quiser, com os comandos Copy e Paste, ou arrastando-o com a tecla Control
pressionada. Pode-se também dividir um clip com o comando Split. Esses comandos são
acessados clicando-se o clip com o botão direito do mouse. O Cakewalk permite que se
marque um retângulo com vários clips para edição, cópia de trechos etc. Você
reconhecerá os clips marcados pela cor preta. O menu Edit tem poderosos recursos de
edição de áudio e MIDI, como quantização, transposição, alteração dinâmica (velocity)
etc. A quantização (Edit: Quantize), por exemplo, permite ajustar o ritmo de um trecho
executado, a partir de uma resolução medida em pulsos por semínima. Os recursos de
edição de áudio não ficam atrás: EQ, fade, reverse (que toca um clip de trás para a frente)
etc.
A Edição no Cakewalk Pro Audio
A produção musical ao alcance de todos. Com os recursos de edição dos seqüenciadores
de computador, você torna a sua execução totalmente profissional, qualquer que seja o
seu nível como instrumentista. Isto porque você pode corrigir sua performance com vários
recursos automáticos, como também acrescentar, retirar e modificar notas, trechos
musicais e outros eventos MIDI com um clique do mouse. Quantização, Piano-roll, Lista
de Eventos e Staff são algumas novas palavras que farão parte de seu vocabulário, a
partir de agora.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 14
Todo seqüenciador registra o que o músico executa em seu instrumento eletrônico como
mensagens MIDI. Essas mensagens aparecem na tela com algum aspecto gráfico, sejam
notas em uma partitura, números ou outras formas. Além de serem executáveis nos
instrumentos eletrônicos, as mensagens MIDI podem ser editadas, tanto quanto as
palavras em um editor de texto. Podem-se copiar e colar trechos inteiros, por exemplo,
montando-se a música parte por parte. Os mesmos recursos do Windows, encontrados na
maioria dos programas, como selecionar um trecho arrastando o mouse sobre ele
(highlight), recortar, copiar e colar etc. são aplicáveis também aqui. Vamos, então,
conhecer os principais recursos de edição do Cakewalk.
Quantização. Se o ritmo executado não foi preciso, basta selecionar o trecho com o
mouse e acionar o menu Edit Quantize. Escolha a resolução equivalente ao menor valor
rítmico (colcheia, semicolcheia etc.) que foi tocado. Determine também se quer afetar o
início ou a duração das notas. Clique OK. Ouça o trecho. As notas que estavam
adiantadas ou atrasadas agora soarão exatamente no tempo. Fique atento: se escolher a
resolução errada ou tocar muito fora do tempo, a quantização poderá mover algumas
notas inadequadamente. Às vezes, convém tocar de novo. Alguns "Instrumentos" soam
melhor quantizados, como bateria e baixo; outros, como cordas e solos, não. A decisão
depende de cada linguagem musical.
Transposição. No menu Edit Transpose, um trecho selecionado é transposto para o
intervalo que se quer, permanecendo o resto no tom original.
Scale Velocities. O menu Edit Scale Velocities modifica a expressão (mais forte ou mais
piano) de um trecho marcado mantendo-se a expressão original do restante da música.
Edição gráfica. As telas a seguir são rapidamente acionadas com o botão direito do
mouse sobre a track (pista) a editar:
Staff. No Cakewalk, é o nome dado à edição da partitura convencional, que inclui notas no
pentagrama, letras de músicas e sinais de expressão. Acrescente, retire e modifique
notas com o mouse, diretamente na partitura, usando lápis e borracha. Depois, ouça o
resultado.
Piano-roll. Derivado dos rolos de papel perfurado das pianolas movidas a corda do séc.
XIX, visíveis nos Westerns, o Piano-roll é a tela de edição mais completa. Tem a forma de
um gráfico cartesiano "x-y", com o tempo na horizontal e a escala musical (as alturas das
notas) na vertical. Cada nota é um traço horizontal, cujo comprimento representa sua
duração, e a posição se refere à altura e ao tempo. Com o mouse, facilmente se modifica
sua duração, pitch (altura, "afinação"), velocity (intensidade do toque), bem como se pode
retirar uma nota "esbarrada" ou acrescentar outras.
Controllers. Os controladores e controles em tempo real, como volume, pan, pedal
sustain, pitch wheel, pedal de expressão, portamento e todos aqueles disponíveis nos
seus instrumentos, podem ser editados com o mouse nesta tela. Na versão atualmente
em lançamento, a 6.0, esta tela faz parte do Piano-roll.
Event List. Como nos seqüenciadores em hardware, na lista de eventos cada mensagem
MIDI é uma linha com números que a representam, indicando o tipo de evento (notas,
outros comandos), o tempo, a intensidade etc. Podem-se editar as mensagens mudando-
se os números.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 15
Faders. No menu View Faders, um mixer ou mesa de som controla tanto os
sintetizadores MIDI quanto mesas de som automáticas, permitindo-se controlar volume,
pan e outros parâmetros para mixagem, passo a passo.
Audio. O áudio gravado no Cakewalk é editável em vários parâmetros: equalizador gráfico
e paramétrico, reverse (toca o trecho de trás para a frente), fade in e fade out etc. Cada
trecho pode ser cortado com uma "tesoura" e editado em separado. Um botão de volume
em cada um desses trechos (ou clips) modifica o nível de saída do som de cada parte,
simplificando a monitoração e a mixagem. A nova versão do programa, em lançamento,
acrescenta recursos como reverber, chorus, flanger, delay e conversão de áudio
monofônico em MIDI, ou Pitch Detection. Este fascinante recurso permite que uma
melodia cantada ou tocada, e gravada como áudio, seja convertida em MIDI e executada
com qualquer timbre de um sintetizador, facilitando ainda mais o uso do programa por
aqueles que não dominam a técnica do teclado.
O número de canais de áudio e a qualidade do som gravado nesses programas
dependem das interfaces, as chamadas placas de som.
Placas de Som
Seu computador está novinho, com 32 MB de RAM e um HD grande e rápido, só
esperando ser configurado para gravação de áudio. Você até já instalou um programa de
gravação, agora só falta a placa de som. Mas, qual placa? O que ela precisa ter? Quantas
entradas e saídas? I/O digitais, ou analógicos? MIDI? Sync? Pode-se gravar áudio de
qualidade com placas multimídia?
As primeiras interfaces de áudio tinham um som muito ruim. Eram baratas, com alto ruído,
e seus conectores se limitavam a miniplugs estéreo (1/8" ou P2). Hoje, uma verdadeira
revolução acontece nesse mercado, onde os modelos evoluem muito rapidamente em
recursos e qualidade de som. A multimídia, para o mercado de consumo, tem placas
baratas com múltiplas funções, como a popular SoundBlaster. Pode-se gravar com essas
placas, embora seu som lembre o de um rádio AM. As placas para multimídia congregam
um grande número de funções, como interface MIDI, sons de sintetizador, controlador de
CD ROM e de joystick para jogos etc., mas não possuem recursos de sincronização (sync
time code) para gravadores multipista externos. Os estúdios dispõem de interfaces de
áudio internas e externas com alta qualidade de som, inúmeros recursos de
processamento digital de sinal (DSP), como reverb, delay, EQ, compressor etc., e preços
atraentes.
Entre os principais responsáveis pela qualidade do som digital, os conversores AD/DA
(analógico/digital e digital/analógico) de entrada e saída evoluíram de 16 bits para 18 e 20
bits, expandindo a dinâmica do som. Algumas interfaces têm DSP (processamento
interno) de 24 bits. A relação sinal ruído, em poucos anos, passou de 60-70 dB para 80-
100 dB. Todas as boas placas utilizam sampling rates de 44.1 KHz, a mesma resolução
de amostragem dos CDs, e de 48 KHz, usada em áudio profissional. Várias delas têm
ainda outras taxas de amostragem. O recurso de full duplex permite gravação e audição
simultâneas.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 16
As entradas e saídas de áudio aparecem em diversos formatos, tanto analógicos quanto
digitais. As interfaces externas, conectadas a algumas dessas placas, além de permitirem
maior variedade e quantidade de ins e outs, evitam o ruído gerado por componentes do
computador. Os inputs e outputs analógicos podem ser do formato XLR (Canon), 1/4"
(banana) balanceados ou não, 1/8" (P2) ou RCA. Os formatos de I/O digitais estéreo mais
comuns são o S/PDIF (encontrado na maioria dos aparelhos de som digitais, como DATs
e CDs), com cabos e conectores coaxiais (RCA) ou óticos (TOS link), e o AES/EBU (para
áudio profissional), com conectores XLR. Os formatos ADAT e TDIF (Tascam DA-88)
permitem conexão digital multicanal com os respectivos gravadores de fita. A
transferência digital do sinal de um equipamento para outro preserva a qualidade original
da gravação, sem passar pelos conversores AD/DA ou por cabos de áudio analógico.
Algumas placas vêm com interface MIDI, sincronização a outros equipamentos, efeitos
digitais, capacidade de expansão de entradas e saídas e um gerador de sons, recursos
que interessarão aos usuários, dependendo de suas necessidades. Na ausência de
certos recursos, como MIDI, sync ou mais canais de áudio, pode-se usar mais de uma
placa, em geral, para suprir estas necessidades.
No quadro (Anexo), são comparados vários recursos das placas mais conhecidas do
mercado. Não são citados, por limitação de espaço, os sistemas integrados, pacotes com
placa/interface/software, nem as placas para multimídia, embora ambos também sejam
utilizados para gravação de áudio em HD. Os preços em dólares se devem à dificuldade
de compararmos todos os preços em reais.
Você pode gravar o áudio em seu HD através de uma ou mais dessas placas, com um
programa gravador de áudio multipista ou estéreo, como o Cakewalk Pro Audio, o Cubase
Audio, o Logic Audio, o Session, o Saw Plus ou o Sound Forge, para citar os mais
usados. É importante verificar a compatibilidade entre a placa e o programa, pois nem
todos trabalham em conjunto ou utilizam todos os recursos. Outra boa opção, geralmente
mais cara, são os sistemas integrados (kits) com placas, interfaces externas e programas
num só produto, como o Pro Tools, o Session 8 ou o Yamaha CBX-D5, entre outros, o
assunto de nosso próxim artigo. Veremos, também, os recursos das placas multimídia,
como a SoundBlaster AWE 64, e suas possibilidades de utilização no estúdio.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 17
Placas de Som – Comparativo (Anexo I)
Marca/Modelo PC/Mac Configuração
Recomendada
Ins/Outs Analógicos I/O
Digital
Sample
Rates
Full
Duplex
MIDI Sync Extras Preço
(US$)
ADB
Multi!Wav Pro
18
PC
486
ISA 16 bits
2 Outs
DAC 18 bits
24 bits
S/PDIF
AES/EBU
Até 96
KHz
Sim Não
Via
S/PDIF
DSP24bits 699,00
Antex
StudioCard
PC
Pentium
16 MB, PCI
4 Ins / 4 Outs
XLR
AES/EBU
S/PDIF
6.25 a
50 KHz
Sim
1 In
1 Out
MIDI,
LTC/VI
TC
Efeitos
Opcionais
1595,00
AVM
Apex
PC * * * * * * *
Synth
Kurzweil
Efeitos
349,00
CreamWare
Master Port
PC
486/66 16 MB
ISA 16 bits
2 Ins / 2 Outs
4 I/O
S/PDIF
* Sim
1 In
1 Out
MTC
MIDI
EQ em
tempo real
Efeitos
998,00
Digidesign
AudioMedia III
Mac
PC
PowerMac/
Pentium,16MB,
PCI
2 Ins / 2 Outs
RCA
S/PDIF
11.025
a
48 KHz
Sim Não Não EQ 795,00
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 18
Marca/Modelo PC/Mac Configuração
Recomendada
Ins/Outs Analógicos I/O
Digital
Sample
Rates
Full
Duplex
MIDI Sync Extras Preço
(US$)
Digital Audio
Labs
CardDplus
PC
486, 4 MB,
ISA 16 bits
2 Ins / 2 Outs
RCA
Não, só
via
Dig. Only
CardD
11.025
a
48 KHz
Sim Não Não - 795,00
Digital Audio
Labs
Digital Only
CardD
PC
486, 4 MB,
ISA 16 bits
Não, só via
CardDplus
S/PDIF
32, 44.1
e
48 KHz
Sim Não Não - 495,00
Emagic
Audiowerk8
Mac
PC
PowerMac/
Pentium,16MB,
PCI
2 Ins / 8 Outs
RCA
AD/DA 18 bits
S/PDIF
38.5 a
50 KHz
Sim Não
MTC
via
S/PDIF
VMR 799,00
Event
Electronics
Layla
Mac
PC
PowerMac/
Pentium,16MB,
PCI
8 Ins / 10 Outs
Balanceados
1/4" 20 bits
24 bits
S/PDIF
Qualqu
er
Sim
1 In
1
Out
1
Thru
SMPTE
/
MTC
MIDI
Interface
externa
DSP24bits
999,00
Event
Electronics
Gina
Mac
PC
PowerMac/
Pentium,16MB,
PCI
2 Ins / 8 Outs
1/4", AD/DA de 20 bits
24 bits
S/PDIF
11 a
48 KHz
Sim Não Não
Interface
externa
DSP24bits
499,00
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 19
Marca/Modelo PC/Mac Configuração
Recomendada
Ins/Outs Analógicos I/O
Digital
Sample
Rates
Full
Duplex
MIDI Sync Extras Preço
(US$)
Event
Electronics
Darla
Mac
PC
PowerMac/
Pentium,16MB,
PCI
2 Ins / 8 Outs
RCA, AD/DA
de 20 bits
Não
11 a
48 KHz
Sim Não Não DSP24bits 349,00
Frontier
Designs
WaveCenter
PC
486
ISA 16 bits
Não
8 ADAT
I/O
S/PDIF
39 a
51 KHz
Sim
1 In
3
Outs
* DSP24bits 825,00
Gadget Labs
Wave/4
PC
Pentium, 8 MB,
ISA 16 bits
4 Ins / 4 Outs
1/8"
Não
22.05 a
48 KHz
Sim
1 In
1 Out
MIDI - 499,00
Korg
1212 I/O
Mac
PowerMac
8 MB, PCI
2 Ins / 2 Outs
1/4"
S/PDIF
ADAT
ótica
44.1 e
48 KHz
Sim Não
WordCl
ck
ADAT
- 1250,00
Lucid
Technology
PCI24
Mac
PC
PowerMac/
Pentium, PCI
Não
AES/EBU
S/PDIF
* * Não * * 499,00
Lucid
Technology
NB24
Mac
PowerMac
NuBus
Não S/PDIF * * Não * DSP24bits 399,00
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 20
Marca/Modelo PC/Mac Configuração
Recomendada
Ins/Outs Analógicos I/O
Digital
Sample
Rates
Full
Duplex
MIDI Sync Extras Preço
(US$)
MIDIMAN
DMAN
PC
486, 8 MB,
ISA 16 bits
2 Ins / 2 Outs
1/8", Mic In
Não * Sim
1 In
1 Out
MIDI - 249,95
Turtle Beach
MultiSound Fiji
PC
486, 8 MB,
ISA 16 bits
2 Ins / 2 Outs
1/8", Mic In
S/PDIF
opcional
5 a
48 KHz
Sim
1 In
1 Out
MIDI
20bits
AD/DA
299,00
Turtle Beach
MultiSound
Pinnacle
PC
486, 8 MB,
ISA 16 bits
2 Ins / 2 Outs
1/8", Mic In
S/PDIF
opcional
5 a
48 KHz
Sim
1 In
1 Out
MIDI
Synth
Kurzweil
429,00
(*) dados não disponíveis
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 21
Sistemas de Gravação de Áudio em HD; Placas Multimídia
Home studios existem em diferentes níveis, do mais básico ao mais sofisticado, e o
mercado oferece interfaces de áudio para todos os gostos (e gastos). Os estúdios entry
level podem praticar até mesmo com as baratíssimas e versáteis placas para multimídia.
No terreno do áudio digital, o estado-da-arte são os sistemas integrados para gravação
em hard disk, compostos de placas, interfaces externas com conectores, conversores etc.
e o software que gerencia a gravação. As placas de som, para estúdios de nível
intermediário, foram objeto de nossa última edição.
Essa grande variedade de modelos de interfaces de áudio traz uma enorme gama de
opções: conectores analógicos e digitais de diversos formatos, várias taxas de
amostragem (sampling rates), tipos de sync time code, número de pistas de gravação,
recursos de edição e processamento etc. Às vezes, uma consulta a um profissional mais
experiente evita despesas inúteis com recursos que não serão usados e otimiza as
escolhas.
O estúdio básico, que conta com o possível para realizar suas gravações, pode fazer de
seu kit multimídia um verdadeiro "porta-estúdio", gravando o áudio e seqüenciando pistas
MIDI de teclados, com uma versão com áudio de qualquer software seqüenciador, como o
Cakewalk Pro Audio. O áudio é gravado no HD de seu computador através de uma placa
de som como a SoundBlaster 16, AWE 32 ou 64, ou compatível, tudo controlado pelo
programa. Você contará com recursos de edição, processamento acústico (reverber,
compressor...), mixagem e muito mais, em várias pistas de áudio. Se seu estúdio tem
uma mesa de som, ligue primeiro o microfone ou instrumento na mesa, e envie o sinal
dela para a entrada de linha (line in) da placa de som. Para monitorar, ligue a saída de
linha (line out) da placa a 2 entradas da mesa. Caso não possua a mesa, ligue o
microfone direto à entrada mic in da placa, controle o nível de sinal de entrada/saída via
software e ouça o resultado nas caixinhas do kit multimídia ou outro par de caixas plugado
à saída speaker out da placa.
Não se deve subestimar nem superestimar o poder das placas multimídia. De um lado,
são baratíssimas (SoundBlaster 16: R$89; AWE 64, ótima, menos de R$300),
extremamente versáteis (controlam CD, joystick, MIDI, gravam/reproduzem áudio, e têm
um pequeno sintetizador MIDI) e práticas, mas, em contrapartida, apresentam qualidade
sonora inferior à das placas para estúdios, apesar da maciça propaganda. Isto se deve à
economia de custos proporcionada pela escolha de conversores AD/DA de baixa
qualidade, entre outros fatores.
Típicos de estúdios de nível profissional, os sistemas de gravação, edição, mixagem e
masterização de áudio em hard disk são, além da última palavra da tecnologia musical,
fortes concorrentes dos gravadores analógicos de rolo em 2 polegadas, ainda hoje o
padrão mundial de gravação. Liderados pelo famoso kit Pro Tools III, esses sistemas têm
como principal vantagem, além do menor preço, os recursos de edição e processamento
do material gravado. As desvantagens surgem na dificuldade de transferência do material
gravado (backup), e no altíssimo consumo de memória do computador. A maior vantagem
sobre as placas de som é a interface externa, que mantém conectores e conversores de
áudio suficientemente distantes dos componentes elétricos do computador, verdadeiras
usinas de ruído.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 22
Vários sistemas permitem gravação em um Jaz Drive, um disco removível de um
Gigabyte, a preço de 150 reais, já que o áudio profissional gasta cerca de 5 Mb por
minuto por canal. O custo oriundo do tempo despendido em copiar e deletar esses
arquivos do HD justifica a opção da gravação em um Jaz Drive. O uso de gravadores
digitais de fita, como o DA-88 e o ADAT, para se fazer backup dos arquivos de áudio do
HD para a fita digital, determina a escolha da interface que disponha dos recursos
necessários, tanto para transferência de sinal analógico ou digital, quanto para se
sincronizar os 2 sistemas durante essa transferência. Usando-se os 2 sistemas durante a
mixagem na mesa de som, tem-se boa expansão do número de pistas de gravação e dos
canais de saída.
Cada estúdio tem suas peculiaridades, e, com tantas opções, pode-se encontrar os
sistemas que satisfaçam às mais variadas exigências. Escolha o seu de acordo com as
suas reais necessidades. Procure contar com a opinião e orientação de quem já tem
experiência com alguns desses kits de áudio.
A dificuldade de se encontrar a maioria desses produtos no mercado brasileiro nos levou
à escolha pelos preços dos EUA, para garantir a comparação entre os produtos. A tabela
anexa apresenta, quando disponíveis, os 2 preços, o do mercado americano e brasileiro.
As diferenças se devem principalmente aos custos de transporte e aos altos impostos,
taxando produtos que não possuem similar nacional.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 23
Placas Multimídia – Comparativo (Anexo II)
Marca/
Modelo
Config.
Mínima
Pistas de
Grav/Repr
Ins/Outs
Analógicos
I/O Digital
Sample
Rates
Sync Preço (US$)
EUA/BR
CreamWare
tripleDAT
Pentium
90
16Mb
4/8-25 (256
virtuais)
2/ 2 RCA
S/PDIF
coax./ót.;
AES/EBU
32, 44.1,
48 KHz
MTC, MIDI,
word, LTC
1798,/*
1998,/*
(c/AES)
Digidesign
Session 8
(mais
interfaces
888,882,882-S)
486
DX2/66
16Mb
HD SCSI
8/8
888: 8/8 XLR
882: 8/8 1/4"
882-S: 4 XLR+
10 1/4"/8 1/4"
888:S/PDIF
coax., 8
AES/EBU
882 e 882-S:
S/PDIF coax
44.1 e
48 KHz
MTC, MIDI,
word, LTC,
ADAT
Kit:
1995,/2300,
888: */3500,
882: */1250,
882-S: */*
Digidesign
Pro Tools
Project
PowerMac
16 Mb
8/8
888: 8/8 XLR
882: 8/8 1/4"
882-S: 4 XLR+
10 1/4"/8 1/4"
Conforme a
interface
44.1 e
48 KHz
MTC, MIDI,
word, LTC,
ADAT
2495,/3000,
Digidesign
Pro Tools III
PowerMac
16 Mb
8-48/
16-48
888: 8/8 XLR
882: 8/8 ¼"
Conforme a
interface
44.1 e
48 KHz
MTC, MIDI,
word, LTC,
ADAT
NuBus:
6995,/8250,
PCI: 7995,/9300,
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 24
Marca/
Modelo
Config.
Mínima
Pistas de
Grav/Repr
Ins/Outs
Analógicos
I/O Digital
Sample
Rates
Sync Preço (US$)
EUA/BR
DoReMi
Labs
Dawn-II
PowerMac
16 Mb
8/8 8/8 XLR 4 AES/EBU
32, 44.1 e
48 KHz
MTC, LTC,
word,
RS-422, BB
14445,/*
Korg
1212 I/O
PowerMac
16 Mb
2-12/16-30 2/2 1/4"
S/PDIF,
ADAT
11.025,
22.05, 44.1 e
48KHz
MMC/MTC,
word, ADAT
1250,/*
Merging
Pyramix V. S.
Pentium
150, 16 Mb
4-8/4-8 *
S/PDIF
coax./ót.;
ADAT
32, 44.1,
48 KHz
LTC, word,
RS-422, BB,
ADAT
5000,/* (4
canais)
7000,/* (8
canais)
11600,/* (c/PC)
Metalithic
Digital Wings
for Audio
Pentium
90,
16 Mb,
Win 95
2/128
2/1 (P2 stereo)
breakout:4/4XLR
2/2 1/4"stereo
Breakout:
S/PDIF,
AES/EBU
11.025,
22.05,
29.4,
44.1 KHz
MIDI
1695,/*
c/breakout:1995,/*
MicroSound
Crystal 2400
Pentium
90,
16 Mb
4-8/64 stereo 1/1 1/4" stereo
S/PDIF,
AES/EBU
8, 11.025, 16,
22.05, 24,
44.1, 48 KHz
MTC, MIDI,
word, LTC,
BB
2999,/*
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 25
Marca/ Modelo Config.
Mínima
Pistas de
Grav/Repr
Ins/Outs
Analógicos
I/O Digital
Sample
Rates
Sync Preço (US$)
EUA/BR
MicroSound
MicroSound
Pentium
90,
16 Mb
4/64 stereo 4/4 XLR
S/PDIF,
AES/EBU
8, 9.45, 10,
11.025, 12,
16, 18.9, 20,
22.05, 24, 32,
37.8, 44.1,
48KHz
MTC, LTC,
BB
4895/*
SonicSolutions
SonicStudio
16*24
PowerMac,
24 Mb
16/24 8/8 XLR Opcionais 44.1, 48 KHz
MTC, word,
LTC, RS-
422, BB
7999,/*
Soundscape
SSHDR1
486/50
8 Mb
2/8 2/4 RCA
S/PDIF 1
In/2 Outs
22.05, 32,
44.1, 48 KHz
MMC, MTC,
LTC,
RS-422
3250,/*
Spectral
Prisma
486/66
16 Mb
2-8/12 (96 virtuais)
Interfaces
opcionais
Interfaces
opcionais
30-50 KHz
MMC, MTC,
MIDI, LTC,
word, RS-
422, BB,
ADAT
3390,-3890,/*
Spectral
AudioEngine
486/66
16 Mb
2-16/16
Interfaces
opcionais
Interfaces
opcionais
30-50 KHz
MMC, MTC,
MIDI, LTC,
word, RS-
422, BB,
ADAT
4540,-6810,/*
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 26
Marca/ Modelo Config.
Mínima
Pistas de
Grav/Repr
Ins/Outs
Analógicos
I/O Digital
Sample
Rates
Sync Preço (US$)
EUA/BR
Studer Editech
Dyaxis II
PowerMac,
16 Mb
4-16/8-32 4/4 XLR
S/PDIF,
AES/EBU,
SDIF, Y2
32, 44.1,
48 KHz
MMC, MTC,
LTC, word,
RS-422, BB
10000,/*
Studio A & V
Sadie
Pentium
75
8 Mb
2/10
2/4 XLR
2 outs RCA
S/PDIF,
AES/EBU
1In/2Outs
22.05, 32,
44.1, 48 KHz
MTC, LTC
7995,/*
10995,/* c/PC
Yamaha
CBX-D3
Depende do
software
2/4 4/4 1/4" S/PDIF out
22.05, 32,
44.1, 48 KHz
Depende do
software
995,/*
Yamaha
CBX-D5
Depende do
software
2/4 2/4 XLR
S/PDIF, Y2,
AES/EBU
1In/2Outs
22.05, 32,
44.1, 48 KHz
Depende do
software
1995,/*
(*) dados não disponíveis
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 27
Sync Time Code - O Pulo do Gato
Como pode um estúdio caseiro, com um gravador cassete de 4 pistas, um computador
comum e um sintetizador, soar parecido com uma gravadora profissional? Onde está o
segredo que permite a gravação e mixagem de dezenas de canais com alta qualidade de
som num equipamento tão simples? A chave do mistério se chama SYNC, nome dado
aos vários recursos de sincronização entre os equipamentos do estúdio.
Através dos formatos de sync time code fazemos os diversos meios de gravação de áudio
e seqüenciamento MIDI trabalharem em conjunto. Dessa forma, por exemplo, não
precisamos gravar os teclados seqüenciados na fita, economizando canais: o
seqüenciador trabalhará sincronizado ao gravador multipista (porta-estúdio, ADAT etc.).
Isto quer dizer que os instrumentos eletrônicos MIDI (sintetizadores, samplers, baterias
etc.) estarão funcionando ao vivo no momento da mixagem, tocados diretamente pelo
seqüenciador. O som desses instrumentos será mixado ao som das pistas de áudio
gravadas, todos ligados à mesa de som. Assim, na fita multipista só são gravados
instrumentos acústicos/elétricos e vozes, consumindo-se poucos canais, evitando-se as
reduções e outros procedimentos que degradam a qualidade do som. Os teclados não
ocupam canais dessa fita, e só serão gravados na fita mixada.
Os formatos mais típicos de sync são o MIDI Clock, o FSK e o SMPTE/MTC. Cada um é
usado entre diferentes meios de gravação/seqüenciamento.
MIDI Clock. Também chamado “MIDI sync”, atua entre 2 seqüenciadores MIDI, com
precisão de 24 pulsos por semínima. Serve para se copiar uma seqüência de um
hardware para outro (de um teclado workstation para o Cakewalk, p/ ex.), ou para se
executar um seqüenciador e uma bateria eletrônica ao mesmo tempo. Comandos MIDI,
como “Start/Stop/Continue” e “Song Position Pointer” (que indica o ponto exato da
música) são enviados pela conexão MIDI Out do seqüenciador “mestre” (master) para o
MIDI In do “escravo” (slave). Primeiro se ajusta o “escravo” para receber MIDI clock; em
seguida é dado o comando “Play” ou “Record”. O “escravo”, em compasso de espera, fica
pronto para trabalhar em conjunto com o “mestre”. Este é ajustado para transmitir os
mesmos comandos. Quando se der o comando “Play” ou “Record”, como também “Stop”,
no mestre, ambos atuarão juntos, no andamento deste. Quando terminar, não esqueça de
tirar o “escravo” do modo sync.
FSK. Frequency Shift Key é um sinal que muda de tom rápida e constantemente, de
acordo com o andamento de uma música seqüenciada. Sincroniza um seqüenciador MIDI
a um gravador multipista. Vários seqüenciadores em hardware e baterias eletrônicas têm
entradas e saídas “tape” ou “sync”, que são conversores MIDI/FSK e FSK/MIDI. O FSK
age como um metrônomo: gerado pelo seqüenciador e gravado na fita, ele permite que o
gravador (mestre) acione o seqüenciador (escravo) de acordo com o(s) andamento(s) da
música previamente determinado(s), bem como o ponto inicial e final. Assim, não são
possíveis alterações nesses parâmetros (andamento e duração), a não ser que se refaça
todo o processo desde a gravação do sync na fita, inclusive regravando as pistas de
áudio. É útil quando o estúdio não dispõe de um computador, apesar de geralmente o
FSK só sincronizar corretamente os aparelhos quando a música é executada desde o
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 28
início (nada confortável quando se precisa regravar várias vezes um vocal no meio da
música).
SMPTE/MTC. Derivado de padrões de sincronização de vídeo, é um sinal analógico de
áudio (SMPTE) que também pode ser convertido em sinal MIDI (MIDI Time Code – MTC).
É gerado pela interface MIDI/sync do computador, como a Opcode MQX-32(M), e gravado
numa pista da fita de áudio ou de vídeo. Quando o gravador multipista ou o videocassete
(mestre) é acionado (“Play”), envia este mesmo sinal de volta à entrada de sync da
interface do computador (escravo), através de um cabo de áudio e plugs banana ou RCA.
O seqüenciador entra em funcionamento. Funciona como um relógio: o SMPTE contém
informações de tempo cronológico: horas, minutos, segundos e frames (quadros por
segundo), que indicam o tempo decorrido da fita. O contador de tempo do software
seqüenciador faz o cálculo, relacionando o tempo cronológico do SMPTE aos compassos
e tempos da música. Por exemplo, aos 2 minutos, no andamento de 120 bpm e em 4/4,
estamos no compasso 60. Qualquer que seja o ponto onde a fita comece a tocar, em um
segundo o seqüenciador estará tocando, perfeitamente sincronizado. Não há problemas
em se mudar o andamento nem a duração da música, após gravado o time code na fita.
Pode-se gravá-lo logo ao adquirir a fita (os usuários do ADAT costumam ‘syncar’ a fita
durante sua formatação, já que as 2 operações tomam o mesmo tempo, o tempo total da
fita). Alguns gravadores e conversores transformam o sinal do SMPTE ou de seus
próprios contadores de tempo em mensagens MIDI, o MTC, gerado automaticamente.
Poupando uma pista de áudio e o tempo de gravar o time code na fita, o MTC é enviado
ao computador por um cabo MIDI, conectado do MIDI Out do gravador ao MIDI In da
interface.
O sinal de áudio do sync time code é sempre um sinal de altas freqüências, não devendo
jamais passar por filtros de nenhuma espécie. Conecte o seqüenciador ou interface
diretamente ao gravador, sem passar pela mesa etc. Vários porta-estúdios têm uma
chave e conectores “sync”. É porque eles trabalham usando filtros de ruído dbx ou Dolby,
que prejudicam o sincronismo. A chave sync desliga o filtro na última pista de gravação,
permitindo gravar o time code sem o filtro, ao contrário das demais pistas.
Sincronizados, gravador multipista e seqüenciador MIDI trabalham lado a lado, cada um
com suas pistas. Aos teclados, mixados ao vivo (e, portanto, gravados ainda em 1a
geração), é permitido mudar seu timbre, tonalidade, expressão etc., até o momento da
mixagem final, enquanto as pistas de áudio, só com vozes e instrumentos tradicionais,
ganham em nitidez e presença. Podemos considerar a sincronização como o verdadeiro
“pulo-do-gato” do home studio, pois ela multiplica várias vezes os recursos, os canais e a
qualidade do som de qualquer estúdio, do mais simples ao mais sofisticado. Para
sonorizar um vídeo, o sync permite que o compositor toque os teclados enquanto assiste
às imagens, criando sua trilha em tempo real, desde já sincronizadas, além de permitir a
edição dos eventos MIDI e do áudio em HD, e checar seu sincronismo com as imagens
imediatamente.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 29
Técnicas de Gravação de Áudio I
O Endereçamento do Sinal
Hoje, os estúdios têm muitas opções de equipamentos para gravação de áudio. Os
procedimentos descritos a seguir são as técnicas mais usuais. Devido ao espaço, este
assunto será dividido em várias edições. Nesta, vamos nos ater ao endereçamento do
sinal de áudio.
Uma gravação pode ser feita em fita analógica ou digital, em disco rígido ou mini-disk,
mas sempre se gravam os instrumentos em diversas pistas ou ‘tracks’. Depois de tudo
gravado, todas essas pistas são mixadas para um gravador estéreo. Pode-se gravar em
várias pistas simultaneamente, ou em uma de cada vez, como também gravar só um ou
vários instrumentos (ou vozes) em cada pista. Tudo depende dos recursos do
equipamento e das características de cada trabalho. Para isso, necessitamos de um mixer
(mesa de som). Os porta-estúdios, que gravam em cassete, MD ou HD, vêm com a mesa
acoplada, endereçando-se os sinais internamente. Sistemas de gravação em computador
têm uma “mesa virtual” para controlar e mixar os sinais, embora continuem a precisar do
mixer externo, “real”, para vários procedimentos.
As mesas de som servem tanto para endereçar os instrumentos para o gravador quanto
para se ouvir os sons gravados. Para se monitorar o gravador, liga-se cada pista dele
(output) em um canal da mesa. Temos, assim, na mesa, um controle separado para cada
pista do gravador.
Para se gravar um instrumento em uma pista, ele é conectado a um canal da mesa,
diretamente ou por microfone. Podemos endereçar o sinal da mesa até o gravador pela
saída direta (“direct out”) desse canal.. Porém, para se gravar vários sinais (vários canais,
portanto) em uma mesma pista, utiliza-se o “submaster”. Ele agrupa esses canais e os
envia de uma só vez, por uma única saída, até uma entrada do gravador (input). Há vários
submasters, cada um ligado a uma dessas entradas. O endereçamento é feito a um par
estéreo de submasters. Em cada canal da mesa, há um botão para cada par (“1-2”, “3-4”
etc.). Por exemplo, para enviar o sinal do canal 7 para o submaster “1-2”, aperta-se no
canal 7 o botão “1-2”. Se virarmos o pan do canal todo para a esquerda, o sinal irá
somente para o submaster 1. Virando todo para a direita, irá só para o submaster 2. No
centro, o sinal irá para os dois submasters. Assim, podemos endereçar vários canais para
um par de submasters e criar um efeito estéreo, como, por exemplo, para gravar
percussão, ou enviar um único canal para uma pista do gravador, como, por exemplo,
para gravar voz ou guitarra. Enquanto cada canal controla o seu próprio volume, o
submaster controla o nível geral.
O som gravado retorna à mesa, para ser monitorado e mixado, de cada canal de saída
(output) do gravador para os canais da mesa, como já vimos. Isto significa que são
usados, ao todo, dois canais da mesa para cada instrumento, um de entrada, por onde
entra o sinal do instrumento para gravação, e outro de retorno, onde entra o áudio já
gravado, para monitoração. Na mixagem, esses canais de retorno são endereçados à
seção master da mesa, através dos botões “L-R”, e dali para o gravador estéreo, como
também para o amplificador, pelas saídas master estéreo.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 30
As diferenças entre porta-estúdios e sistemas com gravador e mesa separados, quanto
ao endereçamento do sinal na gravação, são duas. A primeira é óbvia: não há cabos, a
transmissão é interna. A segunda é a maneira de se fazer o endereçamento do sinal. Há
dois modos: o individual e o coletivo. No individual, para gravar um instrumento na pista 1,
ele é plugado no canal 1 e liga-se a chave de gravação na posição “1”. Dessa maneira,
somente o instrumento que está ligado no canal 1 será gravado na pista 1, e os outros
canais serão ignorados. No modo coletivo, para gravarmos vários instrumentos na pista 1,
liga-se a chave na posição “L”, que quer dizer Left, esquerda. Ligamos cada instrumento
em um canal e viramos o pan de cada canal a gravar para a esquerda. Os canais que não
quisermos gravar, viramos o pan para a direita. Para gravar nas pistas pares (2 ou 4),
ligamos a chave na posição “R” (Right, direita) e viramos o pan para a direita, dos canais
que queremos gravar, e para a esquerda, dos canais que não queremos.
Na monitoração, os porta-estúdios têm em cada canal uma chave “line/tape”, que nos
permite usar o mesmo canal, tanto para entrada (“line”) quanto para monitoração do som
gravado (“tape”), de acordo com a necessidade.
Nos estúdios, os sons recebem um tratamento todo especial. Em busca de qualidade,
nitidez, presença, peso e coerência com o estilo, usam-se variados processadores de
sinal. Por exemplo, a voz gravada dentro do estúdio não deve conter as reflexões sonoras
(reverberação) da sala de gravação. Caso contrário, toda música gravada nesse estúdio
teria o mesmo tipo de reverberação, fosse uma bossa nova, que combina com pequenos
ambientes, ou um heavy metal, típico de grandes clubes e estádios. Por isso, o
tratamento acústico das salas abafa as reflexões o suficiente para deixar o som natural,
porém seco. Artificialmente, aplica-se a reverberação. Conhecer os tipos de
processadores, seus usos e as formas de conectá-los aos demais equipamentos é
fundamental para se gravar bem.
Processamento “fantasma”. O som de uma voz ou instrumento pode ser gravado
já processado, com reverberação e equalização, por exemplo. Ou pode-se gravá-lo seco,
e ele ser processado somente para a monitoração, durante a gravação dos outros sons, e
para a mixagem, quando os sons recebem o tratamento definitivo. Desta forma, ouve-se o
efeito “fantasma”, mas ele não é gravado. Grava-se o som seco, mas ele é ouvido com os
efeitos. Exemplo: o cantor ouve sua voz reverberada no fone de ouvido, mas o reverber
não está sendo gravado, só a voz. Assim, na primeira fase da gravação, o operador se
preocupa apenas com a captação do som. Se ele gravasse o som com excesso de
efeitos, não poderia corrigir o problema, a não ser gravando novamente. Na mixagem,
quando se regrava em outra fita estéreo tudo o que foi gravado na fita multipista, o
operador se concentrará no processamento definitivo de cada sinal.
Isto é possível porque dois canais da mesa são usados para cada som gravado: um para
a entrada (input) do sinal - que vem do microfone ou instrumento e vai para a fita (ou HD
etc.) - e outro para a monitoração (audição) e posterior mixagem do som gravado, que
retorna à mesa. (Fig. 1) As ligações são: microfone > canal de entrada da mesa > saída
submaster > input do gravador e output do gravador > canal de monitoração da mesa (ou
“volta do gravador”). Como o canal de entrada fica antes do gravador e o canal de
monitoração fica depois, basta deixar o som entrar flat (seco, não tratado) na fita e ouvi-lo
com os efeitos, equalizadores etc. no canal de retorno. O som vai seco para a fita e é
tratado na volta.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 31
Para se gravar o som já processado, usam-se os efeitos, EQ etc. do canal de entrada da
mesa, antes do gravador. Assim, o processamento é gravado na pista do gravador, junto
com o sinal da voz ou instrumento. No canal de monitoração (“volta”) da mesa, pode-se
deixar o som flat ou processá-lo novamente, se necessário.
Processadores se dividem em dois grupos, pelo seu uso individual ou coletivo e pela
maneira de serem plugados à mesa. Os efeitos (“FX”), como o reverber, o delay ou eco, o
chorus e outros, podem ser usados por vários canais ao mesmo tempo, em diferentes
intensidades, como um mesmo reverber, que pode ser regulado mais forte no canal da
voz e mais discreto no violão. Nos controles auxiliares dos canais da mesa, dosam-se as
intensidades do efeito para cada canal. O outro grupo é o dos processadores individuais,
que modificam inteiramente um sinal, não se controlando a intensidade, e que são usados
cada um por um único canal. É o caso dos equalizadores, noise gates e compressores.
Conexões. Efeitos e processadores individuais são conectados à mesa de formas
totalmente diferentes.
Os efeitos são conectados às saídas (“aux send”) e entradas (“aux return”) auxiliares da
mesa, também conhecidas como “mandadas” e “voltas” dos efeitos. (Fig. 2) As ligações
são: Aux Send (“mandada do efeito”) da mesa > input do efeito e output do efeito > Aux
Return (“volta do efeito”) da mesa. A mandada pode ser mono ou estéreo, usando-se um
ou dois cabos de ¼”, ou banana. Na mesa, em cada canal, controla-se a intensidade do
efeito para aquele canal. A volta costuma ser estéreo, com dois cabos de ¼”. A
intensidade de saída do efeito fica no máximo, e é controlada por um botão do tipo “aux
return” na seção master da mesa. Já o nível de entrada no efeito é controlado no próprio
efeito, num botão do tipo “input level”.
Os processadores individuais são plugados na mesa ao “insert” do canal. O “insert” é um
conector do canal da mesa que usa um único plug (banana estéreo) para o sinal sair, ser
processado e voltar pelo mesmo lugar. (Fig. 3) O som do canal sai e volta pelo mesmo
plug do “insert”, que tem um cabo em “Y”, com as outras duas pontas (banana mono) do
cabo entrando e saindo do processador. A ponta do cabo que tem o plug estéreo não é
para som estéreo: as duas vias de sinal são usadas, uma para saída da mesa e outra
para entrada (retorno). Os cabos de “insert” não são facilmente encontrados no mercado,
você terá de fazê-los. Quando se quer gravar o som já processado, usa-se o “insert” do
canal de entrada. Quando se prefere deixar o processamento para a mixagem, usa-se o
“insert” do canal de monitoração. Outras formas de se conectarem processadores
individuais, quando não há inserts na mesa: entre a saída da mesa e a entrada do
gravador (grava-se o som processado), ou entre a saída do gravador e a entrada da mesa
(o processamento é apenas monitorado, podendo ser modificado na mixagem). Estas
ligações trazem os mesmo resultados que o uso dos inserts. O som vem da saída direta
(“direct out”) do canal ou do submaster da mesa, passa pelo processador e vai para o
gravador. Ou então, grava-se o som flat e ele sai do gravador, passa pelo processador e
vai para o canal de monitoração da mesa.
Certos instrumentos devem ser gravados já processados em definitivo, outros podem ser
melhor tratados na mixagem. A guitarra e o baixo elétrico costumam ser gravados com os
timbres já equalizados, embora ainda se possam ajustá-los de novo na mixagem. Certos
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 32
efeitos da guitarra são gravados junto com ela, como o distorcedor, o chorus, o flanger e
outros. Já a reverberação e o eco podem ser equilibrados na mixagem, para se ambientar
os diversos instrumentos e vozes, todos na mesma hora. Grava-se, geralmente, a voz ou
instrumento com eco ou reverber “fantasma”, isto é, apenas no canal de monitoração. É
comum, com bons microfones, deixar-se o timbre da voz intocado, sem usar
equalizadores, mesmo na mixagem. Os teclados muitas vezes também são gravados e
mixados sem nenhum processamento adicional.
Não exagere ao usar processadores. Às vezes, o excesso de efeitos pode ser fatal para
uma gravação. Da mesma forma, um som muito seco ou sem brilho parecerá artificial. Ao
gravar e mixar, imagine o ambiente desejado para os sons e regule os efeitos para criar
esse ambiente. Ouça outras músicas, de vários CDs. Depois, ouça de novo sua mixagem.
Mexa nos processadores e nas mandadas auxiliares quanto for preciso, sempre ouvindo o
resultado. Aproveite a disponibilidade de tempo, que seu próprio estúdio proporciona,
para experimentar. Quando tudo estiver bom, grave esta mixagem na fita estéreo. Tire
cópias: é o seu produto final.
Os Processadores de Efeitos
O famoso som de estúdio. Afinal, o que faz com que aquela voz pequenina soe tão
exuberante na gravação? Usam-se nos estúdios muitos tipos de processadores. Há
processadores de efeitos, que abordaremos aqui, e processadores de sinal, de que
falaremos na próxima edição. São vários aparelhos que modificam os sons originais dos
instrumentos, dando-lhes novo colorido, ambientando-o ou adaptando o som para ser
gravado em um determinado meio. Os mais usados em home studios são o reverberador
ou reverber, o delay, o compressor, filtros de ruído, o "chorus", o "flanger" e outros mais
específicos, como os distorcedores.
Os processadores podem se apresentar em forma de "rack", dedicados (um só tipo de
efeito) ou multi-efeitos Os multiprocessadores vêm com vários recursos diferentes, como
se fosse uma pedaleira de guitarra, com os efeitos em série e controles de todos eles.
Alguns têm o processamento totalmente independente à esquerda e à direita (em
paralelo), se conectados pelas mandadas estéreo de efeitos da mesa. Podem vir como
recursos próprios de mesas de som e de certos teclados, as "workstations". Ou, ainda,
podem aparecer como recursos adicionais, os “plug ins”, para programas de gravação em
HD. Todos os formatos são úteis e podem soar muito bem, se bem escolhidos e dosados.
Enquanto os plug ins são um novo front na revolução do áudio gravado, pela imensa
versatilidade, os efeitos em rack dão mais estabilidade e, em geral, agilidade ao trabalho
de processamento de sinais e efeitos.
Os processadores com MIDI podem ter seus controles modificados em temo real na
mixagem, pelo mesmo seqüenciador onde se ‘gravam’ os sintetizadores. Escolhe-se um
canal MIDI só para ele e opera-se pelas funções “control change” e “patch change”.
Efeitos. Esses processadores são de uso coletivo. Em cada canal se controla a
intensidade de cada efeito ligado à mesa. Há muitos tipos de efeitos. Deles, o reverber é
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 33
um item obrigatório no estúdio, por permitir a correta ambientação de vozes e
instrumentos. As marcas mais usadas são Lexicon, Yamaha e Alesis, com modelos dos
mais simples aos mais complexos.
O reverberador reproduz os ambientes acústicos, de acordo com os timbres dos
instrumentos e vozes e com as peculiaridades de cada música. Ao som seco e impessoal
de estúdio, acrescenta vida e profundidade, valorizando, dando profundidade e definindo
os diversos sons.
Quando estamos num lugar amplo, diante de um paredão ou uma montanha, podemos
experimentar o efeito do eco. O eco é o reflexo do som, como uma imagem no espelho, a
onda sonora que volta ao ouvido do emissor, após bater numa superfície reflexiva. O som
viaja a 340 metros por segundo. Se você estivesse a 340 metros da montanha e pudesse
gritar alto o suficiente, você ouviria o eco exatos dois segundos após o grito. Um segundo
para a sua voz chegar na montanha, e outro para o eco vir até você.
O som se propaga em todas as direções. Ao atingir uma superfície reflexiva, reverbera
(ecoa) num ângulo simétrico. Exatamente como a imagem de um espelho. Dentro de uma
sala, com paredes, piso e teto mais ou menos reflexivos, múltiplas reflexões do som
causam a reverberação. De acordo com os materiais usados e o tamanho das salas, as
ondas sonoras se refletem com características variadas.
Os estúdios têm suas salas de gravação revestidas de materiais absorventes para “secar”
o som. Isto nos permite gravar o som seco e aplicar a reverberação artificialmente. Do
contrário, todos os sons gravados teriam a mesma reverberação, e todas as músicas
ficariam com o mesmo “clima”, gravadas no mesmo ambiente.
Quando emitimos um som dentro de uma sala, primeiro ouvimos o som seco, direto da
fonte. É o estágio do reverber conhecido como “pre delay”. Um instante (mili-segundos)
depois, ouvimos as primeiras reflexões (“early reflections”), e depois ouvimos as reflexões
se cruzando pelas paredes, até o som perder força e cessar.
Os parâmetros de um reverberador variam desde o tipo e tamanho de salas, quartos,
estádios, catedrais, “plates” (antigos reverberadores de metal), “gates’ etc., passando pela
intensidade do efeito, até o timbre (graves e agudos) da reverberação, o tempo de
decaimento (decay), o pre-delay, que é o atraso do efeito sobre o som seco, usado para
definir o ataque do som e dar maior nitidez, e outros.
Alguns reverberadores mais simples e baratos, porém com qualidade profissional, trazem
apenas um seletor de “salas” e controle de intensidade, o que é suficiente para bem
sonorizar o home studio de nível básico.
Delay e Eco. O eco é um efeito usado para dar maior profundidade a instrumentos
solistas. O recurso mais usado para criar este efeito é o digital delay. Delay significa
atraso. Ele reproduz uma ou várias cópias digitais do som com atrasos pré-determinados,
criando um “eco”.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 34
Seus controles mais comuns são “level”, que dosa o volume do eco, “delay time”, o tempo
ou o ritmo das repetições, “intensity”, que determina o número de repetições e outros, em
geral referentes ao uso em estéreo, com diferentes delays à esquerda e à direita.
O delay digital substituiu as antigas câmaras de eco (que consistiam numa fita magnética
girando em torno de cabeçotes de gravação com distâncias variáveis) por "samples"
(amostras do som gravados digitalmente). É necessário ao estúdio para fixar a
profundidade de solos instrumentais e algumas vozes.
O chorus faz oscilar a freqüência (afinação) de um sample (amostra sonora digital) em
torno da freqüência do som original. A soma dos dois sons, o original e a amostra com
afinação oscilante, sugere um efeito como o de um coro. Pode-se regular a intensidade, a
velocidade (rate) da oscilação, o distanciamento do "pitch" (afinação) original. O flanger,
que funciona de outro jeito, tem efeito semelhante, porém mais dramático. Também há o
phaser, o rotary, derivado das caixas Leslie, que tinham falantes rotatórios motorizados, e
muitos outros efeitos.
Os Processadores de Sinal
Um processador de sinal afeta por completo o som de um canal. Assim, só faz sentido
conectá-lo à mesa de modo que o sinal do canal passe inteiramente através do
processador. O controle é todo feito no processador, não na mesa. Além disso, ele é feito
para ser usado por um único canal. Pelas diferenças com os processadores de efeitos,
que acrescentam efeitos aos sons em variáveis proporções e que podem ser usados por
vários canais, os processadores de sinal são conectados à mesa através dos inserts, e
não dos canais auxiliares.
Compressor. Chamamos de curva dinâmica de uma gravação à diferença entre os
picos (pontos de mais alto volume) e os vales, os pontos mais suaves. Quanto maior a
diferença entre picos e vales, maior é a curva dinâmica. Cada tipo de gravador tem uma
diferente sensibilidade para a dinâmica. Muitas vezes, uma pista que parecia bem
gravada quanto à dinâmica, soa cheia de “altos e baixos” na mixagem, ou com picos
excessivos ou, ao contrário, com trechos inaudíveis, de tão baixos.
O compressor atenua a curva dinâmica, reduzindo a distância entre picos e vales. Ao
diminuir o volume dos picos da gravação, ele permite que se aumente o volume do canal,
dando a sensação de se aumentar o volume dos vales e diminuir o dos picos,
equilibrando a dinâmica. O excesso, por outro lado, torna o sinal muito “achatado” e
artificial.
Os principais parâmetros são threshold, ratio, attack, release e output gain. Os dois
primeiros ajustam o nível dos picos e a taxa de compressão. O threshold determina um
volume de som (em dB) a partir do qual o compressor atua. Abaixo deste nível, o som sai
como entra. Acima da fronteira do threshold, o som sofre uma atenuação, de acordo com
uma certa taxa de compressão (ratio). A compressão só atua no trecho do volume que se
situa entre a linha do threshold e o volume real do pico. Se a taxa de compressão for de
2:1 (dois pra um), a diferença entre o threshold e o volume do pico será reduzida à
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 35
metade. Se a ratio for de 4:1 o pico será atenuado para a quarta parte do volume que
excede a linha de threshold. Isto significa que há volumes superiores à linha do threshold,
há uma dinâmica, só que atenuada por uma taxa de compressão. Só não haverá picos de
volume acima do threshold se a ratio for de infinito pra um. Assim, não há dinâmica, e
este efeito é conhecido como limiter.
Os controles de attack e release permitem que o compressor atue de forma mais rápida
ou lenta, tanto na entrada do efeito quanto na saída, realçando mais ou menos os sons. O
output gain, ganho de saída, serve para compensar o volume de saída que tenha sido
alterado pela compressão.
Noise gate. O noise gate tem um threshold que funciona ao contrário do threshold do
compressor: a atuação é sobre os sons com volumes abaixo da linha de threshold, que
são totalmente cortados. Se gravamos um bumbo e uma caixa em duas pistas, com dois
microfones, o som da caixa vazará para o canal do bumbo, e o som do bumbo também
vazará para o canal da caixa. Mas o bumbo e a caixa, em geral, se alternam, quase
nunca tocam ao mesmo tempo. Com dois compressores, um em cada canal, e seus
thresholds ajustados para um nível abaixo do sinal “real” e acima do sinal “vazado”, os
dois canais soam limpos de vazamentos. Quanto o som “vazado” toca abaixo do volume
do threshold do noise gate, ele é simplesmente cortado.
Os noise gates podem ter outros controles, como da velocidade de atuação, para não
cortar o som fora de hora. Usados em canais com vozes e instrumentos gravados com
ruídos de fundo, comuns nos pequenos estúdios, cortam os ruídos durante os momentos
de silêncio, mas não durante os trechos tocados ou cantados. Nestes trechos, o som
estará acima do nível de threshold, e nada será cortado pelo gate, nem o ruído.
Filtros. Existe uma variedade de filtros no mercado, que cortam freqüências específicas,
como os filtros passa-alta (high-pass filter, ou HPF), passa-baixa (low-pass filter, ou LPF),
passa-banda, corta-banda. Cada um tem controles de cutoff, ponto de corte,
determinando as freqüências a partir das quais os sons serão cortados.
Os filtros de ruído mais conhecidos para gravadores analógicos são os Dolby e Dbx.
Cortam ruídos das fitas analógicas, gravando bem mais alto as freqüências das mesmas
faixa do ruído de fundo, e depois reproduzindo essas freqüências proporcionalmente mais
baixo. Os sons são novamente nivelados, mas os ruídos são reproduzidos muito abaixo
do resto. Sempre que você gravar uma fita com um desses filtros, obrigatoriamente
reproduza-a também com o filtro.
Os Equalizadores
Para obtermos resultados satisfatórios numa gravação ou mixagem, é preciso que o
timbre das fontes sonoras seja muito bem ajustado. O instrumento deve soar como soa ao
vivo, em seus melhores momentos. Ou ainda, soar conforme o desejo dos artistas e
produtores, mesmo que isso implique num som artificial. Tudo depende do estilo e da
linguagem musical. Ajustam-se os timbres com o equalizador (EQ), que pode ser gráfico,
paramétrico, semi-paramétrico, ou simples controles de tonalidades graves e agudas.
Sérgio Izecksohn
Teoria Básica para Home Studio 36
Ondas sonoras, freqüências e timbre. O ouvido humano interpreta como som as
vibrações do ar emitidas entre as freqüências de 16 ciclos por segundo (16 Hertz ou 16
Hz) até cerca de 20 mil ciclos (20 KHz, ou 20 K). Cada instrumento ou voz musical tem
seu próprio espectro de freqüências, a faixa de freqüências onde o instrumento atua. A
faixa de freqüências varia de acordo com a extensão ou a escala do instrumento e a
riqueza do seu timbre.
O som tem quatro parâmetros principais: altura, intensidade, timbre e duração. As alturas
são as afinações (pitch) dos sons e notas musicais, como do, re, mi, medidas em ciclos
por segundo (Hz). Quanto mais “aguda’ (alta) uma nota, mais ciclos de onda vibram por
segundo. Diz-se que são freqüências altas, enquanto as “graves” são as baixas
freqüências.
A intensidade é o volume do som. No gráfico da curva da onda sonora, quanto maior a
intensidade do som, maior a amplitude da onda. Ela se distancia mais do centro, vibra
com mais energia. Nesse gráfico, a linha reta ao centro indica silêncio, ausência de
energia sonora.
Uma onda tem ciclos, que se dividem em morros e vales, alternando-se e variando seu
comportamento ao longo do tempo. Durante um ciclo da onda, a amplitude pode variar,
determinando a forma da onda. É a forma da onda que define o timbre. A forma da onda é
derivada da superposição das parciais do som.
Um som da natureza nunca é totalmente puro. Ele é composto de parciais, sons que se
agregam ao som principal. É como se uma nota musical nunca fosse uma só nota, mas
sempre fosse um acorde com muitos sons. E é isso mesmo o som. Ouvimos a nota
principal, chamada fundamental, porque ela tem uma intensidade muito maior que as
outras, em geral. Mas são as outras parciais (chamadas sons harmônicos) que dão a
principal característica do som, o timbre. Uma mesma nota, com a mesma altura e
intensidade, cantada por duas pessoas, soa com diferentes timbres. Os harmônicos
presentes numa voz e na outra, que são os mesmos, estão com intensidades diferentes
de uma voz para a outra, como se fossem duas diferentes mixagens dos harmônicos
sobre a fundamental. O resultado são dois timbres diferentes.
A onda sonora pura, sem harmônicos, que pode ser produzida artificialmente para
experimentos, é totalmente arredondada. É a onda senóide ou senoidal. Cada harmônico
é também uma onda senóide. Superpostos, fundamental e seus harmônicos resultam
numa outra forma de onda, de acordo com as amplitudes de todas as ondas superpostas.
Na superposição de ondas sonoras, dois movimentos iguais se somam, aumentando a
amplitude da onda resultante. Dois movimentos opostos, simétricos, como um morro e um
vale ao mesmo tempo, se anulam, tirando amplitude (volume) do som.
Um som estridente tem os harmônicos de altas freqüências com mais intensidade que um
som mais abafado. A onda sonora do primeiro é mais pontuda, e a do segundo som, mais
arredondada.
O equalizador atua tanto sobre a intensidade das fundamentais quanto dos harmônicos,
de acordo com as freqüências que se operam, moldando o timbre do instrumento.
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A popularizacao dos_home_studios

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  • 2. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 1 A Popularização dos Home Studios Um velho sonho de todos os músicos já é rotina para uma boa parcela deles. Ter em casa um estúdio de gravação, onde se possam gravar os próprios trabalhos, seja como fonte de renda, ou pelo menos para registrar as idéias quando elas ainda estão frescas, recém- saídas da inspiração. O antigo sonho de compositores, cantores e instrumentistas se converteu em um mercado que movimenta milhões de dólares por todos os continentes. Muitos músicos, pelo mundo afora, têm seu próprio estúdio, geralmente instalado em um quarto ou sala, em casa. Alguns são bastante sofisticados, com gravação de áudio digital em 24 pistas ou mais, mesas de som automáticas e muito poderosas, vários samplers, sintetizadores, supercomputadores, tratamento acústico, enfim, recursos compatíveis com os estúdios comerciais de médio ou até grande porte. Outros (a maioria) são bem mais simples, sem tratamento acústico, com menos equipamentos, mas com alto poder de fogo, de qualquer forma. No Brasil dos últimos anos, com a liberalização alfandegária para a importação de equipamentos eletrônicos, o mercado cresceu rapidamente. As lojas de instrumentos se modernizaram e aumentaram em quantidade e qualidade. A figura do “muambeiro” de instrumentos musicais, outrora o braço direito de todo músico profissional, vem, passo a passo, dando lugar a uma estabilização do setor. O músico brasileiro se torna consumidor, com direito a garantia e assistência técnica para seus instrumentos de trabalho, em vez do antigo e triste papel de receptador de material contrabandeado. Por sua vez, a indústria nacional começa a despertar para as novas tecnologias e custos, frente à feroz concorrência dos produtos importados. A gigantesca multiplicação do número de estúdios caseiros decorreu de alguns inventos, que surgiram com a tecnologia digital, no início dos anos 80. Esses inventos evoluíram de modelos que vinham sendo desenvolvidos nas duas décadas anteriores. O mais conhecido é o protocolo MIDI, a interface que comunica sintetizadores a computadores. A MIDI (ou ‘o’ MIDI, como dizem) foi definida em 1983 pelos principais fabricantes de instrumentos musicais do mundo. Ela evoluiu de sistemas de triggers e outros sincronizadores, que cada fábrica desenvolvia para seus instrumentos e seqüenciadores analógicos, sem muita compatibilidade entre equipamentos de fábricas diferentes. Em 83, a indústria resolveu criar um protocolo unificado, e aberto a inovações futuras. Surgia a Musical Instrument Digital Interface, ou MIDI. Mais adiante, com o grande número de usuários e produtores de MIDI files, os arquivos no padrão MIDI para computadores já não eram mais de interesse exclusivo dos músicos. Os jogos de computador, por exemplo, lançam mão desses recursos, e se dirigem a um público muito maior. Foi definido então o padrão General MIDI, um conjunto definido e limitado de timbres e outros recursos para compatibilizar diferentes equipamentos em aplicações voltadas para o mercado da informática. As placas de som e a multimídia
  • 3. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 2 tiveram aí um terreno fértil para se desenvolverem. Outro grande responsável pela explosão dos home studios foi o chamado porta-estúdio, o gravador cassete de quatro (ou mais) pistas, que foi aposentando os gravadores de rolo de quatro, oito ou 16 pistas. Hoje, o porta-estúdio está sendo aos poucos substituído pela gravação digital em hard disk ou em fita de vídeo. O custo relativamente baixo e a facilidade de manuseio desta tecnologia foram os responsáveis pelo súbito aumento do número de produtores independentes. De lá pra cá, máquinas, ferramentas e software para se gravar música em casa são lançados freneticamente em um mercado que não pára de se expandir. Nos anos 90, os seqüenciadores por computador e a gravação de áudio pelo processo digital em oito ou 16 pistas são as tecnologias que mais se popularizam. A Internet, a rede mundial de computadores, é uma grande parceira desses estúdios, na medida em que fornece programas, upgrades (atualizações), gravações de músicas, arquivos MIDI, partituras e informação musical de graça, sem que o músico precise sequer sair de casa. O outro lado da moeda é a expansão do próprio mercado de trabalho do músico. Por todo canto, florescem novas produtoras de multimídia, de vídeo e animação, agências de publicidade, rádios comunitárias e outras empresas que são clientes naturais das pequenas e médias produtoras de som, caso de muitos home studios com objetivos comerciais. Aqui, o estúdio caseiro fornece meio de trabalho para um ou mais músicos, cantores, compositores e arranjadores. Por seu baixo custo operacional, o home studio chega a competir com as grandes produtoras, oferecendo produtos de alta qualidade aos clientes mais exigentes. Mesmo as emissoras de TV têm preferido contratar produtores que disponham de estúdio próprio. Para se montar e operar um home studio são necessários alguns requisitos básicos. O primeiro que vem à mente, naturalmente, é o capital necessário; o segundo é o equipamento a comprar. No entanto, um requisito fundamental muitas vezes é esquecido nessa hora: planejamento. Sem ele, possivelmente o capital será mal empregado ou o projeto não sairá do mundo das idéias. Planejar os objetivos, o mercado potencial, as condições de trabalho, o equipamento e os recursos humanos, tudo de acordo com o capital disponível, deve vir antes da aquisição de qualquer máquina, para que o sonho não se torne um pesadelo. A consulta permanente ás fontes de informação (revistas, manuais, lojas, especialistas, amigos com experiência, sites na Internet) é outro requisito importante. O Planejamento faz a Diferença Para se montar um home studio é preciso equilibrar uma série de fatores. De acordo com os objetivos, capital, espaço, clientela ou necessidades pessoais, surgem inúmeras opções de equipamento e de projetos de tratamento acústico para quem vai “se equipar”.
  • 4. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 3 Nada é pior que constatar erros de planejamento depois de realizado o investimento, como uma obra de isolamento acústico que não isola, ou a compra de aparelhos desnecessários ou obsoletos. Antes de comprar, devem-se ponderar todas as necessidades e possibilidades, e aí fazer uma lista de todos os itens, com modelos e preços compatíveis. Primeiro vêm os objetivos do empreendimento. Um estúdio caseiro de gravação pode atender o mercado fonográfico, publicidade, TV, cinema, vídeo, ou produzir fitas demo de um compositor, cantor ou instrumentista. Também conta o perfil de quem vai operar o estúdio, se músico, engenheiro de som, produtor etc., e a sua experiência com o material. Cada combinação dessas variáveis implica num set-up diferente. Um estúdio voltado para produção de trilhas instrumentais com sintetizadores deverá ter bons teclados e módulos de som MIDI, além de um bom computador, enquanto outro estúdio, para gravação e mixagem de grupos vocais e/ou instrumentais, terá bons microfones, processadores e um sistema de gravação multipista. Nos dois casos, serão necessárias uma boa mesa de som e monitoração. Se se pretende operar simultaneamente nas áreas de áudio e MIDI, busca-se o melhor dos dois mundos, com equilíbrio de investimentos entre eles. O segundo item é o capital disponível. Ele deve ser levado em conta para se definir o nível ou o padrão geral do estúdio, para que se determinem equipamentos e obras acústicas compatíveis entre si. Por exemplo, o uso de microfones caros e muito sensíveis num quarto de alvenaria sem qualquer tratamento acústico pode trazer resultados decepcionantes. Distinguem-se três níveis típicos de home studios: Básico: pode dispor de um porta-estúdio (gravador) cassete de quatro pistas, como os modelos da Fostex, Tascam ou Yamaha, uma mesa de som de oito ou mais canais (Mackie), um ou dois microfones Shure ou AKG, reverberador, deck cassete, amplificador e caixas acústicas (às vezes a solução inicial é o aparelho de som doméstico, se for de boa qualidade). O estúdio MIDI deste nível pode ter um sintetizador multitimbral da Roland ou da Korg com seqüenciador próprio (workstation) ou externo. Este pode ser um programa de computador, como o Cakewalk ou o Cubase, ou um hardware sequencer da Roland, Yamaha ou Brother. O sistema pode ser sincronizado ao gravador multipista para expansão de canais através de uma interface para computador (MQX 32-M) ou em hardware, da MidiMan ou da J. L. Cooper. O computador para gravar o áudio em substituição ao porta-estudio, através de programas como Cakewalk Pro-Audio ou Cubase Audio e placas de som Turtle Beach ou Roland, demanda uma configuração mais avançada que para aplicações MIDI (gravação de instrumentos eletrônicos), viável até mesmo em velhos 386 com 4 Mega de RAM rodando Windows 3.1. Os arquivos de som podem ser mil vezes maiores que os arquivos MIDI. Intermediário: conta com um sistema de gravação de áudio digital em oito ou 16 pistas, em fita de vídeo (Alesis ADAT-XT ou Tascam DA-88) ou em hard disk, via computador (Session 8, Session 16, Studio Vision) ou hardware (Roland, E-Mu). A gravação em HD é mais cara que os gravadores de fita, trazendo contudo muitos recursos de edição. Outros investimentos, neste nível, são módulos de som (sintetizadores e baterias eletrônicas) e controladores MIDI, um sampler (Roland, Akai), um Pentium ou MacIntosh com interface MIDI/Sync, uma mesa de pelo menos 16 canais com conectores Canon (Mackie, Yamaha,
  • 5. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 4 Tascam), microfones para vozes e instrumentos (AKG C-3000 e Shure SM-57), direct boxes (Furhman, Countryman) para conectar as fontes sonoras à mesa, reverberadores (Lexicon, Yamaha, Alesis), compressores (Dbx, Alesis), noise gate, equalizador, DAT ou Mini-Disk, amplificador e monitores de estúdio Yamaha, Alesis ou JBL. Um projeto de isolamento e tratamento acústico viabiliza a gravação e a mixagem. Estes recursos permitem boas gravações para CDs independentes ou publicidade e demos de boa qualidade. Avançado: apto a oferecer qualquer serviço de gravação profissional, adiciona uma mesa de gravação (Mackie, Soundcraft, Tascam, Yamaha) com 32 ou mais canais de entrada/saída e oito subgrupos, automação e patch bay, um sistema de gravação digital (24 pistas) em fita de vídeo (ADAT, DA-88) ou computador (MacIntosh com Pro Tools), dois sistemas de monitoração com amplificadores e caixas profissionais para gravação e mixagem, processadores (equalizadores, compressores Dbx, reverberadores Lexicon e Yamaha, multi-efeitos, Vocalist, Aural Exciter etc.), distribuidores para uns 10 headphones, vários microfones (Neumann U87, AKG C-414, Shure SM-57, SM-94, Audio Technica 4049, Sennheiser MD 421U, Eletro Voice RE 20) e cabos de qualidade. O sistema MIDI se expande com uma interface de oito portas (8 Port, Studio 5 etc.) para o Pentium ou o Mac, teclado controlador Roland ou Kurzweil, sintetizadores Korg Trinity, Roland JV-1080, Ensoniq TS-12, samplers (Roland, Akai, Emulator). A bateria pode ser acústica (microfonada) e/ou trigada ao sampler. Na terceira variável, o espaço disponível, um planejamento de obras de tratamento acústico é vital para o seu perfeito desempenho. Quanto mais alto o nível, mais cuidado se deve ter com tratamento e isolamento. Um arquiteto com experiência em estúdios do porte do seu evita decepções com projetos improvisados que pioram a sonoridade de sua sala. Reserve um espaço para a técnica e outro para os músicos, perfeitamente isolados. Se for um estúdio pequeno ou médio, pode-se até gravar com headphones, num único cômodo da casa. O mais importante é se fazer um projeto com coerência, pesando as reais necessidades de acordo com suas condições e metas. Vale a pena começar com um estúdio mais simples, e depois ir evoluindo de acordo com a sua trajetória. As Mesas de Som Mesa, console ou mixer. O item central de qualquer estúdio costuma ser negligenciado por aqueles que estão iniciando no universo da gravação de áudio, visto como luxo por alguns que começam a adquirir seus equipamentos, ou como um verdadeiro bicho-de-sete-cabeças por outros. É impossível se operar um estúdio sem a mesa, e ela é que determina a qualidade do seu som. Mesmo os mini-estúdios baseados num único sintetizador workstation, ou só num computador com placa de som, dependem do mixer virtual instalado neles.
  • 6. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 5 O porte da mesa é proporcional ao do estúdio e os fatores principais para se escolher um bom equipamento são a adequação às necessidades, qualidade do som, recursos auxiliares, facilidade de manuseio, versatilidade e custo. O mercado conta hoje com as mais conceituadas marcas mundiais, como Mackie, Yamaha, Soundcraft, Behringer, Soundtracs etc. Alguns gravadores multipista, cassete, Mini-Disk ou HD, vêm com um pequeno mixer acoplado, que em diversos casos é suficiente. Em um sistema de gravação com mais de uma fonte sonora (instrumento ou voz), todas as fontes devem ser transmitidas à mesa de som através de cabos. Os sinais sonoros entram na mesa através dos canais de entrada (inputs), são processados um a um e finalmente misturados e enviados, pelos canais de saída (outputs), a um gravador ou um amplificador. Canais. O número de inputs, oito, 12, 16, 24, 32 ou mais, depende do número de fontes sonoras (microfones, instrumentos elétricos e eletrônicos) a se gravar simultaneamente, e a se mixar (canais de gravação, instrumentos eletrônicos seqüenciados). Além desses, temos os inputs auxiliares, geralmente para entrada de efeitos externos, como o reverber, ou como canais extras para mixagem de teclados ou outros sinais ‘flat’ (não processados pela mesa). Os canais de saída são os masters estéreo (direito e esquerdo), em pares de outputs para monitoração e mixagem, mais as saídas individuais ou de subgrupos de canais para gravação, além das saídas auxiliares para processamento e efeitos. Conexões. Os conectores, na maioria das mesas, são do tipo “banana”; outras usam plugs RCA. Os conectores “banana” podem ser balanceados (com redução do ruído nas gravações) ou não balanceados. Prefira os plugs do formato XLR ou Canon, balanceados. As impedâncias dos sinais de entrada são geralmente equilibradas pelos controles de ganho (gain ou trim), ou com diferentes inputs para diferentes impedâncias (microfone/linha, mic/line, por exemplo). Nunca use duas entradas de um mesmo canal. Controles. Cada canal de entrada possui controles de nível (volume), timbre (equalização), posição estereofônica (pan), e efeitos ou auxiliares. O endereçamento para subgrupos de canais (bus ou submasters), controles solo e mute são exclusivos de mesas de médio e grande porte. O processamento do sinal sonoro se dá através do fader, equalizador, pan e efeitos (ou auxiliar). O fader, um potenciômetro linear, controla o nível de entrada (volume) da fonte sonora ligada àquele canal. É útil nivelarem-se os canais pelos controles de ganho, deixando inicialmente os faders em 50%, para otimizar os recursos de gravação e mixagem. O equalizador (EQ), que define o timbre de cada canal, pode ser desde um simples par de controles de tonalidade (grave, low, e agudo, high) até um equalizador paramétrico de várias faixas de freqüência. Mais comumente, as mesas apresentam controles de freqüências baixas (Low: 80 ou 100 Hz), médias (Mid: 1 ou 2,5 KHz) e altas (High: 10 ou 12 KHz). As maiores têm uma ou duas faixas de paramétricos nos médios, mais agudo e grave.
  • 7. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 6 O pan pot, controle do panorama estéreo, posiciona o sinal de um canal de entrada nos canais stereo de saída, mais á esquerda ou á direita. Instrumentos estéreo, como teclados, que utilizem dois canais da mesa, devem ter os pan ajustados, um todo para a esquerda e o outro todo para a direita. O controle da estereofonia, neste caso, é feito com os faders, aumentando-se ou abaixando-se cada um para modificar a posição ‘espacial’. Algumas mesas dispõem de canais estéreo, que endereçam os dois sinais para esquerda e direita. Neste caso, usa-se normalmente o pan, e os outros controles afetam igualmente os dois lados. Controles auxiliares ou de efeitos determinam quanto sinal de um canal será enviado até um processador de som, tal como um reverberador ou delay (eco), pelas saídas auxiliares da mesa, de forma que um mesmo processador possa ser usado por vários canais em intensidades diferentes. Os sinais de diversos canais, devidamente misturados, são enviados por um output auxiliar (mono ou stereo) até o processador, retornando á mesa por um input auxiliar (mono ou stereo) e misturados aos sons originais (‘secos’). Masters, ou mestres, são um ou dois faders que controlam o nível geral dos canais masters de saída, e os controles de retorno dos auxiliares. Os subgrupos ou submasters, encontrados nas mesas de médio e grande porte, tipo 8 bus, funcionam como canais coletivos que gerenciam outros canais. Por exemplo, se as peças de uma bateria ou de uma seção de instrumentos estão entrando por vários canais, pode-se equalizá-los em separado e depois endereçá-los para um mesmo submaster, o que permite o uso de um único fader ou um par estéreo para toda a seção ou a bateria, e gravar tudo em uma ou duas pistas, pelas saídas dos submasters. Automação. As mesas com automação, em geral via MIDI, podem ser controladas por um computador. Diversos procedimentos de mixagem, difíceis de se realizarem simultaneamente, podem ser preparados no computador e repetidos infinitas vezes durante o processo. Vários controles da mesa são automatizados, como os faders, pan e outros. O recurso chamado “recall” permite recuperar as posições dos controles de uma mixagem feita antes. Algumas mesas vêm com automação interna, independente do computador, e todo o processamento on board, isto é, com multiprocessadores de efeitos internos. Mesas digitais transmitem e recebem o sinal dos gravadores por fibra ótica, mantendo o som definitivamente no campo digital. Escolha a mesa de seu estúdio de acordo com as necessidades e características do mesmo. Observe os equalizadores, a quantidade de “mandadas” e retornos auxiliares, o número de canais, mas principalmente a qualidade do som. Este será o seu som. A Captação do Som Gravar vozes, instrumentos acústicos e elétricos é a tarefa mais delicada de um estúdio. Ainda mais, por não haver regras pré-estabelecidas sobre qual a melhor forma de se
  • 8. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 7 captar o som de um instrumento. Neste artigo, vamos conhecer os procedimentos usuais de captação e os microfones mais usados pelos estúdios mundo afora. Se o seu home studio opera somente via MIDI, isto é, se teclados e baterias eletrônicas são suas únicas fontes sonoras, não há muito com que se preocupar, pois os instrumentos eletrônicos são conectados diretamente à mesa de som pelos cabos de áudio. Porém, se o estúdio dispõe de um gravador multipista (em fita, HD ou MD) e tem o objetivo de gravar vozes e instrumentos, é necessário conhecer alguns recursos técnicos. Se o seu home studio é básico, com um porta-estúdio cassete de 4 pistas e sem tratamento acústico, ainda não é o momento apropriado para se fazer uma coleção de microfones para todas as finalidades. Neste caso, o uso de microfones dinâmicos, desses que se usam nos palcos, como os Shure SM57 e SM58 (ou Beta 57, 58) pode ser uma boa solução. Dinâmicos e unidirecionais (cardióides), esses modelos compensam a falta de tratamento acústico do pequeno estúdio. Outra boa solução para o pequeno estúdio com isolamento acústico é o modelo AKG C3000, a condensador. Há vários tipos de microfones, para diversas finalidades. Os microfones para gravação se dividem em dinâmicos, que são mais resistentes a ruídos de manuseio e têm uma resposta mais dura, e os microfones a condensador, bem mais sensíveis. Estes precisam ser alimentados por corrente elétrica. Geralmente, a mesa de som tem uma chave de “phantom power”, que os alimenta com uma corrente de 48 V através do próprio cabo de áudio. Quanto à área de atuação, os cardióides captam melhor o som numa área em forma de coração, diante da cápsula e a moderada distância, sendo chamados de unidirecionais. Os hiper-cardióides têm essa área de captação ainda mais estreita. Há ainda os omni-direcionais ou multi-direcionais, captando áreas mais largas, e ainda em forma de 8. A mesa deve ter inputs do formato XLR ou Canon para uma melhor qualidade do som. Se ela só possui entradas com plugs do tipo “banana”, verifique no manual se essas entradas são balanceadas. Neste caso, podem-se usar plugs banana estéreo (com 3 vias) para fazer a conexão. Note que esses plugs estéreo serão usados como “mono” (a terceira via é usada como terra). Para gravar instrumentos em linha numa mesa com entradas Canon, é ideal o uso de Direct Boxes, casadores de impedância que mandam o sinal para a mesa por cabos Canon. Já os microfones são plugados diretamente à mesa. Vejamos aqui algumas técnicas e os microfones mais usados para a captação de vozes e dos instrumentos mais comuns: Voz. Os microfones a condensador são os mais apropriados. Os mais usados são o Neumann U87 e AKG C-414. O AKG C3000, de menor custo, é uma boa solução para o home studio. O microfone deve ficar sempre no pedestal, com suspensão própria e uma tela para filtrar o som da voz e barrar a emissão mais forte do ar, que causa o indesejável “puf” na gravação. A distância varia de acordo com a potência vocal do cantor, geralmente entre 20 e 70 cm, mais ou menos na altura dos olhos. Usando-se um microfone dinâmico (no pequeno estúdio), deve-se posicioná-lo a 45 graus da boca do cantor, a uns 5, 10 cm. Violão. Temos aqui várias opções de captação. O violão com cordas de nylon será
  • 9. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 8 captado por um microfone a condensador, como os citados para voz, a uns 20 ou 30 cm da boca do instrumento. Usa-se ainda, nos violões eletrificados, combinar o som do microfone com o som direto, plugando-se o violão em um segundo canal da mesa. O ideal é se gravar em várias pistas para então dosar o nível dos sons. O violão com cordas de aço, atuando em conjunto com outros instrumentos de harmonia, pode ser captado por um microfone que realce as altas freqüências (agudos), como o AKG C-391 ou o Shure SM-81. Guitarra. Apesar da polêmica entre som direto e microfonado, é majoritária a gravação da guitarra através de microfones dinâmicos, como o Shure SM-57, captando o alto-falante do amplificador a uns 20 cm. O amplificador deve estar em outra sala, isolado da técnica. Após se definir o timbre no amplificador da guitarra, busca-se reproduzi-lo nos monitores do estúdio através dos equalizadores da mesa. Usa-se também a gravação em linha através de um pré-amplificador. Baixo elétrico. Pode ser gravado diretamente na mesa, microfonado, via amplificador, ou de várias formas combinadas. Microfonado, segue os padrões da guitarra, usando Shure SM 57, AKG D112, Eletro-Voice RE 20 ou Sennheiser 421. Em linha, com direct box, o som é mais nítido. As cordas têm que estar novas, o instrumento regulado e, se usar captação ativa, bateria nova. O ideal é experimentar até se alcançar a sonoridade desejada. O custo/hora do home studio costuma ser bem menor que nos estúdios de maior porte, o que permite uma experimentação maior. Bateria. Usam-se vários microfones diferentes, em geral dinâmicos para as peles e condenser para os pratos. Para a caixa, o mais comum é o Shure SM57, voltado para a pele superior, a uns 10 cm. Para o bumbo, AKG D112 ou Eletro Voice RE 20, dentro do bumbo. Tom tons e surdo, Sennheiser MD 421, como na caixa. Contratempo, Shure SM 94. Os pratos podem ser captados por dois microfones overall do tipo lapiseira, como o Shure SM 81. Nunca é demais experimentar opções de captação, já que o que realmente importa é o resultado. A boa execução vocal ou instrumental é o fator mais importante para uma gravação de qualidade. Não deixe para recuperar a qualidade na mixagem. As melhores soluções são encontradas na hora de gravar. Os Gravadores Multipista Há poucas décadas, a gravação de um disco era feita diretamente para a fita master, gravando-se músicos e cantores todos ao mesmo tempo. Se houvesse um erro por parte de qualquer um deles, todo o trabalho era refeito. O lançamento dos gravadores multipista permitiu uma grande evolução nas técnicas de gravação. Os estúdios dispõem hoje de dois tipos de gravadores, multipista e estéreo, o primeiro para a gravação em si e o segundo para a mixagem. Cada tipo apresenta diversos formatos, para gravação analógica ou digital. O gravador multitrack, multipista ou multicanais, registra os sinais sonoros de fontes acústicas, elétricas e eletrônicas na primeira fase de uma gravação. Há modelos analógicos, de fita magnética cassete ou de rolo, e os digitais, de fita de vídeo, disco
  • 10. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 9 rígido ou Mini-Disk, com quantidade variada de pistas de gravação ("tracks"). Gravadores analógicos. Os gravadores de rolo são o padrão original da gravação multipista. Utilizam fitas de 1/4, 1/2, 1 ou 2 polegadas, em 4, 8, 16, ou 24 pistas. Os rolos de 8 pistas com fita de 1/4, das marcas Fostex e Tascam eram muito encontrados em home studios até o lançamento dos gravadores digitais em fita de vídeo. Gravadores cassete de 4, 6 ou 8 pistas, os porta-estúdios, da Tascam, Fostex e Yamaha, estão entre as causas da súbita popularização dos estúdios pessoais em quase todo o planeta. Vêm com uma pequena mesa de som e um filtro de ruídos, e custam em torno de 500 dólares. Gravadores digitais utilizam fitas de vídeo em 8 pistas, expansíveis até 128, como o Alesis ADAT-XT (fita S-VHS) e os Tascam DA-88 e DA-38 (fita Hi-8), Mini-Disk (MD) em 4 pistas (Tascam, Yamaha e Sony) ou disco rígido (HD), em hardware (Roland, E-Mu) ou via computador. Enquanto a fita permite o livre trânsito do material gravado entre vários estúdios, a gravação em HD ou MD ganha poderosos recursos de edição. Os programas de computador (para Mac e PC) controlam sistemas de quatro ou oito pistas, em geral, utilizando hard disks de mais de um gigabyte de memória. Os mais usados são o Pro- Tools, da Digidesign (que inclui os periféricos‚ como interface de áudio etc.), o Sonic Solutions , ambos para o MacIntosh, e o Session 8 (Digidesign) para o PC (Windows). Recentemente, os seqüenciadores MIDI vêm implementando a gravação de áudio em HD através das placas ou interfaces de som. Os mais comuns são o Cakewalk Pro Audio (PC), o Studio Vision, o Digital Performer (Mac), o Cubase Audio e o Logic Audio (para as 2 plataformas). Pistas e canais são termos usados de forma genérica e confusa para gravadores, mesas, MIDI e seqüenciadores. Cabe aqui uma distinção: canal ("channel") é a rota de um sinal de entrada ou saída, seja de áudio em uma mesa de som, seja de informações MIDI sendo transmitidas ou recebidas por um instrumento ou computador; pista ou trilha ("track") é a faixa de uma fita onde um sinal é gravado. Por exemplo, a fita cassete estéreo é gravada em duas pistas (direita e esquerda) no lado A e mais duas no lado B. Os seqüenciadores, inspirados nos gravadores, têm seus setores de "gravação" igualmente denominados "pistas" .O mesmo ocorre com gravadores de HD. Nada impede, pois, que enderecemos vários canais de uma mesa direto para uma única pista do gravador, ou seja, que gravemos várias fontes, através de vários canais da mesa, numa única pista. Diferenças entre estéreo e multipista. O gravador multipista difere do estéreo nos modos de gravação e reprodução. Comparado a um cassete multipista, o deck cassete stereo tem quatro pistas de gravação, que correspondem aos canais esquerdo e direito de cada lado ("A" ou "B") da fita. O cabeçote atua sobre duas pistas, os dois canais stereo daquele lado. Virando-se a fita, gravam-se ou reproduzem-se as duas pistas do outro lado. O gravador multipista, por seu turno, utiliza todas as pistas de uma só vez. Não há lado "A" ou "B", mas um único lado com 4 ou 8 pistas, cada uma delas sendo gravada ou reproduzida independentemente. Cada pista tem seu sinal enviado a um diferente canal da mesa de som, onde só então o sinal é posicionado no campo auditivo stereo (direito/esquerdo) via controle de pan. Canais de entrada e de monitoração em uma gravação exigem atenção. Os gravadores multipista têm canais de entrada (inputs) correspondentes às pistas de gravação e canais
  • 11. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 10 de saída (outputs) para monitoração e mixagem. O input recebe o sinal, proveniente da fonte sonora através da mesa de som, e o envia para o cabeçote de gravação. O output envia o sinal, da cabeça reprodutora, de volta à mesa de som, para ser monitorado e processado num segundo canal. Para termos maior liberdade na mixagem, o procedimento usual é gravar o sinal seco, não tratado acusticamente nem equalizado (timbre "flat"), nivelando-se os canais de entrada da mesa e do gravador, de modo que os VUs ou os LEDs de ambos atinjam o pico entre zero e +3 dB (decibéis), para otimizar a relação sinal/ruído. Nos gravadores digitais, o nível de gravação não pode ultrapassar zero dB. Monitorando-se a "volta" (o canal da mesa onde se liga o output do gravador) com o processamento desejado na hora de gravar, esse processamento não interfere na gravação flat, devendo ser refeito na mixagem e sempre que se desejar. Há exceções, em que se opta por gravar o sinal já processado, principalmente da guitarra. Filtros. Nos gravadores analógicos, devemos usar sempre o filtro de ruídos, dbx ou Dolby, desnecessários nos modelos digitais. Os gravadores em HD e MD, com suas peculiaridades, serão matéria de um outro artigo. A escolha de um gravador multipista leva em conta a qualidade do som mais a vocação e o orçamento do estúdio. Gravação de Áudio no Computador Muito têm evoluído os sistemas de gravação de áudio. No princípio, gravava-se toda a orquestra ou banda reunida, monofonicamente (em um único canal). Ou seja, gravação e mixagem eram uma coisa só, ocorriam no mesmo momento. Havendo algum erro por parte de um dos músicos, tudo precisava ser regravado. Depois, veio a gravação estéreo, e daí em 4, 8, 16 e 24 pistas, nos gravadores analógicos de rolo. Surgiu aí a técnica do playback, a gravação em separado das partes de um arranjo. Mais recentemente, com o advento do áudio digital, entraram em cena os gravadores em fita de vídeo, com 8 pistas, como o ADAT, e gravadores digitais de rolo. A nova tendência é o áudio gravado diretamente para o disco rígido de um computador. Através de uma interface (placa) de som e um programa, o micro passa a ser o próprio estúdio de gravação. Primeiro surgiram programas dedicados exclusivamente à gravação de áudio no hard disk, em geral com 8 pistas, como o Pro Tools, para o Mac, e o Session 8, para Windows, ambos da Digidesign. Nos últimos anos, uma nova opção ganha cada vez mais força, principalmente nos home studios: os programas que conjugam gravadores de som e seqüenciadores MIDI, como o Digital Performer, o Studio Vision (Mac), o Cubase Audio, o Logic Audio, ambos para Mac e Windows, e o mais popular de todos, o Cakewalk Pro Audio (Windows). Com um programa como esses, em um PC multimídia, o usuário dispõe de um estúdio de gravação com muitos recursos de edição, junto a um poderoso seqüenciador de teclados MIDI. No Cakewalk, por exemplo, usando qualquer placa de som, pode-se gravar, em cada track, um canal de áudio (voz, instrumento elétrico ou acústico) ou um canal MIDI de instrumentos eletrônicos. Para isso, basta selecionar a fonte sonora (MIDI ou áudio) com o mouse, na coluna apropriada do programa. Os dois sistemas de gravação, de áudio e MIDI, trabalham sincronizados e unidos, como se
  • 12. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 11 fossem uma única tecnologia. No entanto, são dois sistemas independentes: um seqüencia (registra e ordena) informações sobre a performance do músico nos teclados e baterias eletrônicas, com baixo consumo de memória, e depende de hardware externo, como sintetizadores, samplers e bateria eletrônica; o outro é um gravador de som multipista que usa o HD como meio, ao invés de uma fita, convertendo os sinais de áudio em dados digitais, consumindo um grande espaço em disco. Para o home studio de nível básico, esta revolução significa que, dispondo-se de um PC com uma placa Soundblaster, geralmente usada para sonorizar jogos, basta instalar um programa como o Cakewalk Pro Audio para ter um porta-estúdio digital e um seqüenciador MIDI sem custos adicionais. O estúdio de nível intermediário pode usar uma placa de som Turtle Beach ou Roland, que aceitam maior número de pistas de áudio e conferem melhor qualidade sonora. O estúdio avançado usa a mesma versão do software, com uma placa Audiomedia III, da Digidesign, e um hard disk SCSI, mais rápido que o IDE. Conexões e recursos de edição de áudio. Para se gravar o áudio, usa-se a entrada Line In da placa de som. A fonte sonora é conectada à mesa de som, e endereçada até a placa, por um cabo de áudio. Na ausência da mesa, pode-se ligar um microfone na entrada Mic da placa de som. Através da placa e do programa, os sons são registrados no HD. Para se reproduzir o áudio, liga-se a saída Line Out da placa às entradas da mesa, ou se monitora diretamente nas caixas de som do kit multimídia, ligadas à saída Speaker. O número de canais e pistas de gravação, 2, 4, ou 8, é limitado apenas pela placa de som, não pelo programa. Cada pista de áudio possui várias ferramentas de edição, que vão desde o recurso de cortar, copiar e colar trechos gravados, até processadores e efeitos sonoros on board, como equalizadores e reverberadores, sejam recursos do programa ou da placa de som. Ë possível, por exemplo, copiar a voz do refrão de uma música e fazer repetir o trecho em outras partes dessa música. Recursos do seqüenciador MIDI. O seqüenciador é a função original desses programas. Embora contem hoje com recursos de gravação de áudio, edição de partituras etc., todos eram sequencers nas suas primeiras versões. Através das conexões MIDI, presentes nos instrumentos e na maioria das placas de som, controlam os sintetizadores, samplers, baterias eletrônicas, e até processadores de efeitos, mesas e gravadores automáticos. Os teclados, por exemplo, são literalmente tocados por ele, que “aprende a música” quando o instrumentista a executa ou a escreve com o mouse. O programa permite que se editem todas as partes da música com enorme liberdade, como repetir trechos, mudar timbres, andamentos, tons, acrescentar ou retirar notas etc. A quantização corrige automaticamente imprecisões no ritmo tocado pelo músico. O seqüenciador executa ‘ao vivo’ os instrumentos eletrônicos, tornando desnecessário o registro de seu áudio em um gravador multipista, porque os dois sistemas, seqüenciador e gravador, trabalham sincronizados. Assim, os teclados se reúnem ao áudio gravado (voz, instrumentos acústicos e elétricos) na mesa de som, sendo gravados, ainda em 1a geração, somente na mixagem. O uso do seqüenciador sincronizado ao gravador multipista expande em muito os recursos e os canais do estúdio, seja este pequeno ou grande. Vantagens do seqüenciador com áudio incorporado. Essas novas versões dos programas, como o Cakewalk Pro Audio, dispensam o gravador multipista externo. Toda a
  • 13. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 12 gravação e o seqüenciamento são feitos no computador. Além disso, a gravação de áudio conta com os recursos de edição já citados, inexistentes nos gravadores de fita, como o ADAT. O Cakewalk Pro Audio Embora seja fácil sincronizar qualquer gravador multipista com um seqüenciador, uma nova tendência vem se irradiando com muita intensidade: os programas de computador que conjugam seqüenciamento MIDI com gravação e edição de áudio digital. Um desses programas vem se tornando um verdadeiro padrão nos estúdios: o Cakewalk Pro Audio. Fácil de operar, o programa (para Windows) conta com inúmeros e poderosos recursos. A versão 6.0 está em fase de lançamento. Operar o Cakewalk é muito fácil: do lado esquerdo da tela, temos 256 tracks em linhas horizontais, que podem servir para gravação de áudio ou MIDI. Em cada track, seleciona- se a fonte sonora, o canal de áudio ou MIDI e outros parâmetros, de acordo com a natureza da gravação, como volume, pan, patches de sintetizadores etc., clicando nas colunas correspondentes. No lado direito, cada take gravado tem a forma de um clip, um retângulo de comprimento proporcional à sua duração. Os clips MIDI são rosa e os de áudio, vermelhos, facilitando sua identificação, já que sua edição terá importantes diferenças. Vejamos, primeiro, a configuração do programa e do computador. Visto que se está trabalhando com dois sistemas diferentes ao mesmo tempo (áudio e MIDI), as placas ou interfaces devem atender às duas necessidades. Algumas placas controlam áudio e MIDI simultaneamente, outras não, o que, neste caso, requer o uso de mais de uma placa. A Soundblaster controla os dois sistemas, embora não ofereça grande qualidade de som. A placa MIDI mais usada é a MQX-32(M) da Opcode, e as placas de som preferidas pelos home studios são as da Roland, como a RAP-10, e da Turtle Beach, como a Tahiti e a nova Multisound Fiji. A Audiomedia III, da Digidesign, é muito elogiada, sendo bem mais cara. O número de canais de áudio e de portas MIDI depende de cada placa, sendo ilimitados no programa. Instalado o hardware e o software, deve-se abrir o menu Settings: MIDI Devices, como também Settings: Audio, e assinalar as interfaces de entrada e saída de dados. Também se pode habilitar o programa para mudar os patches (timbres) de cada sintetizador do seu estúdio pelos seus nomes. Isto é possível porque o Cakewalk dispõe de uma extensa lista de teclados e outros instrumentos MIDI, com os presets de fábrica, o que facilita muito a escolha dos timbres. Não encontrando seu teclado na lista, podem-se digitar os seus patches. Encontre essas listas com um duplo clique do mouse na coluna Patch da janela principal. Clique depois em Assign Instruments, Define Instruments, Import, src.ins e o nome do seu instrumento. Depois, venha clicando OK ou Close até voltar à janela Assign Instruments, onde se associará cada canal MIDI do lado esquerdo com o instrumento preferido do lado direito, antes de se voltar à janela principal. Através de seu instrumento controlador MIDI, pode-se tocar qualquer outro instrumento MIDI. Midiados os instrumentos e plugadas as entradas e saídas de som (de preferência através de uma mesa), a gravação é feita simplesmente acionando-se o ícone com o
  • 14. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 13 botão REC. O botão REWIND (<<) volta a música ao início, e então o botão PLAY a executa. Esses comandos servem tanto para se gravar áudio quanto MIDI, mas é importante, antes da gravação de cada track, assinalar nas colunas Source e Port qual a função desejada e sua interface correspondente. Lembre-se sempre que o seqüenciador MIDI não está ‘gravando’ o som do teclado, mas seqüenciando comandos, como note on e off, que só serão ouvidos se o teclado estiver amplificado. Por outro lado, não é necessário se gravar o áudio do teclado, já que o Cakewalk sincroniza automaticamente as tracks MIDI com as de áudio. Além disso, o áudio digital consome centenas de vezes mais memória que os eventos MIDI, o que torna contraproducente a gravação do som dos instrumentos eletrônicos. Só deve ser gravado o áudio de vozes, instrumentos acústicos e elétricos etc., nunca dos instrumentos MIDI. No seqüenciador, crie uma MIDI track com a harmonia (timbre de piano, violão) ou a bateria, primeiro. Use o metrônomo, para depois poder editar o que foi executado. Escolha um andamento confortável e, depois de gravado, modifique-o, se quiser, clicando diretamente na caixa de Tempo (onde está escrito 100,00). A música toca em qualquer outro andamento, sem alterar o tom. Aliás, se desejar, você também pode modificar o tom das MIDI tracks, na coluna Key, o timbre em Patch etc. Selecione na Track seguinte o próximo instrumento, em outro canal MIDI, e vá registrando o arranjo, instrumento por instrumento. Observe que, cada vez que você conclui a gravação de um take, surge um novo clip no lado direito da tela. Clicando-o, ele se torna preto, marcado, pronto para edição. Pode-se arrastá-lo com o mouse para outro momento da música (no sentido horizontal), para outra track (na vertical), copiá-lo quantas vezes se quiser, com os comandos Copy e Paste, ou arrastando-o com a tecla Control pressionada. Pode-se também dividir um clip com o comando Split. Esses comandos são acessados clicando-se o clip com o botão direito do mouse. O Cakewalk permite que se marque um retângulo com vários clips para edição, cópia de trechos etc. Você reconhecerá os clips marcados pela cor preta. O menu Edit tem poderosos recursos de edição de áudio e MIDI, como quantização, transposição, alteração dinâmica (velocity) etc. A quantização (Edit: Quantize), por exemplo, permite ajustar o ritmo de um trecho executado, a partir de uma resolução medida em pulsos por semínima. Os recursos de edição de áudio não ficam atrás: EQ, fade, reverse (que toca um clip de trás para a frente) etc. A Edição no Cakewalk Pro Audio A produção musical ao alcance de todos. Com os recursos de edição dos seqüenciadores de computador, você torna a sua execução totalmente profissional, qualquer que seja o seu nível como instrumentista. Isto porque você pode corrigir sua performance com vários recursos automáticos, como também acrescentar, retirar e modificar notas, trechos musicais e outros eventos MIDI com um clique do mouse. Quantização, Piano-roll, Lista de Eventos e Staff são algumas novas palavras que farão parte de seu vocabulário, a partir de agora.
  • 15. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 14 Todo seqüenciador registra o que o músico executa em seu instrumento eletrônico como mensagens MIDI. Essas mensagens aparecem na tela com algum aspecto gráfico, sejam notas em uma partitura, números ou outras formas. Além de serem executáveis nos instrumentos eletrônicos, as mensagens MIDI podem ser editadas, tanto quanto as palavras em um editor de texto. Podem-se copiar e colar trechos inteiros, por exemplo, montando-se a música parte por parte. Os mesmos recursos do Windows, encontrados na maioria dos programas, como selecionar um trecho arrastando o mouse sobre ele (highlight), recortar, copiar e colar etc. são aplicáveis também aqui. Vamos, então, conhecer os principais recursos de edição do Cakewalk. Quantização. Se o ritmo executado não foi preciso, basta selecionar o trecho com o mouse e acionar o menu Edit Quantize. Escolha a resolução equivalente ao menor valor rítmico (colcheia, semicolcheia etc.) que foi tocado. Determine também se quer afetar o início ou a duração das notas. Clique OK. Ouça o trecho. As notas que estavam adiantadas ou atrasadas agora soarão exatamente no tempo. Fique atento: se escolher a resolução errada ou tocar muito fora do tempo, a quantização poderá mover algumas notas inadequadamente. Às vezes, convém tocar de novo. Alguns "Instrumentos" soam melhor quantizados, como bateria e baixo; outros, como cordas e solos, não. A decisão depende de cada linguagem musical. Transposição. No menu Edit Transpose, um trecho selecionado é transposto para o intervalo que se quer, permanecendo o resto no tom original. Scale Velocities. O menu Edit Scale Velocities modifica a expressão (mais forte ou mais piano) de um trecho marcado mantendo-se a expressão original do restante da música. Edição gráfica. As telas a seguir são rapidamente acionadas com o botão direito do mouse sobre a track (pista) a editar: Staff. No Cakewalk, é o nome dado à edição da partitura convencional, que inclui notas no pentagrama, letras de músicas e sinais de expressão. Acrescente, retire e modifique notas com o mouse, diretamente na partitura, usando lápis e borracha. Depois, ouça o resultado. Piano-roll. Derivado dos rolos de papel perfurado das pianolas movidas a corda do séc. XIX, visíveis nos Westerns, o Piano-roll é a tela de edição mais completa. Tem a forma de um gráfico cartesiano "x-y", com o tempo na horizontal e a escala musical (as alturas das notas) na vertical. Cada nota é um traço horizontal, cujo comprimento representa sua duração, e a posição se refere à altura e ao tempo. Com o mouse, facilmente se modifica sua duração, pitch (altura, "afinação"), velocity (intensidade do toque), bem como se pode retirar uma nota "esbarrada" ou acrescentar outras. Controllers. Os controladores e controles em tempo real, como volume, pan, pedal sustain, pitch wheel, pedal de expressão, portamento e todos aqueles disponíveis nos seus instrumentos, podem ser editados com o mouse nesta tela. Na versão atualmente em lançamento, a 6.0, esta tela faz parte do Piano-roll. Event List. Como nos seqüenciadores em hardware, na lista de eventos cada mensagem MIDI é uma linha com números que a representam, indicando o tipo de evento (notas, outros comandos), o tempo, a intensidade etc. Podem-se editar as mensagens mudando- se os números.
  • 16. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 15 Faders. No menu View Faders, um mixer ou mesa de som controla tanto os sintetizadores MIDI quanto mesas de som automáticas, permitindo-se controlar volume, pan e outros parâmetros para mixagem, passo a passo. Audio. O áudio gravado no Cakewalk é editável em vários parâmetros: equalizador gráfico e paramétrico, reverse (toca o trecho de trás para a frente), fade in e fade out etc. Cada trecho pode ser cortado com uma "tesoura" e editado em separado. Um botão de volume em cada um desses trechos (ou clips) modifica o nível de saída do som de cada parte, simplificando a monitoração e a mixagem. A nova versão do programa, em lançamento, acrescenta recursos como reverber, chorus, flanger, delay e conversão de áudio monofônico em MIDI, ou Pitch Detection. Este fascinante recurso permite que uma melodia cantada ou tocada, e gravada como áudio, seja convertida em MIDI e executada com qualquer timbre de um sintetizador, facilitando ainda mais o uso do programa por aqueles que não dominam a técnica do teclado. O número de canais de áudio e a qualidade do som gravado nesses programas dependem das interfaces, as chamadas placas de som. Placas de Som Seu computador está novinho, com 32 MB de RAM e um HD grande e rápido, só esperando ser configurado para gravação de áudio. Você até já instalou um programa de gravação, agora só falta a placa de som. Mas, qual placa? O que ela precisa ter? Quantas entradas e saídas? I/O digitais, ou analógicos? MIDI? Sync? Pode-se gravar áudio de qualidade com placas multimídia? As primeiras interfaces de áudio tinham um som muito ruim. Eram baratas, com alto ruído, e seus conectores se limitavam a miniplugs estéreo (1/8" ou P2). Hoje, uma verdadeira revolução acontece nesse mercado, onde os modelos evoluem muito rapidamente em recursos e qualidade de som. A multimídia, para o mercado de consumo, tem placas baratas com múltiplas funções, como a popular SoundBlaster. Pode-se gravar com essas placas, embora seu som lembre o de um rádio AM. As placas para multimídia congregam um grande número de funções, como interface MIDI, sons de sintetizador, controlador de CD ROM e de joystick para jogos etc., mas não possuem recursos de sincronização (sync time code) para gravadores multipista externos. Os estúdios dispõem de interfaces de áudio internas e externas com alta qualidade de som, inúmeros recursos de processamento digital de sinal (DSP), como reverb, delay, EQ, compressor etc., e preços atraentes. Entre os principais responsáveis pela qualidade do som digital, os conversores AD/DA (analógico/digital e digital/analógico) de entrada e saída evoluíram de 16 bits para 18 e 20 bits, expandindo a dinâmica do som. Algumas interfaces têm DSP (processamento interno) de 24 bits. A relação sinal ruído, em poucos anos, passou de 60-70 dB para 80- 100 dB. Todas as boas placas utilizam sampling rates de 44.1 KHz, a mesma resolução de amostragem dos CDs, e de 48 KHz, usada em áudio profissional. Várias delas têm ainda outras taxas de amostragem. O recurso de full duplex permite gravação e audição simultâneas.
  • 17. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 16 As entradas e saídas de áudio aparecem em diversos formatos, tanto analógicos quanto digitais. As interfaces externas, conectadas a algumas dessas placas, além de permitirem maior variedade e quantidade de ins e outs, evitam o ruído gerado por componentes do computador. Os inputs e outputs analógicos podem ser do formato XLR (Canon), 1/4" (banana) balanceados ou não, 1/8" (P2) ou RCA. Os formatos de I/O digitais estéreo mais comuns são o S/PDIF (encontrado na maioria dos aparelhos de som digitais, como DATs e CDs), com cabos e conectores coaxiais (RCA) ou óticos (TOS link), e o AES/EBU (para áudio profissional), com conectores XLR. Os formatos ADAT e TDIF (Tascam DA-88) permitem conexão digital multicanal com os respectivos gravadores de fita. A transferência digital do sinal de um equipamento para outro preserva a qualidade original da gravação, sem passar pelos conversores AD/DA ou por cabos de áudio analógico. Algumas placas vêm com interface MIDI, sincronização a outros equipamentos, efeitos digitais, capacidade de expansão de entradas e saídas e um gerador de sons, recursos que interessarão aos usuários, dependendo de suas necessidades. Na ausência de certos recursos, como MIDI, sync ou mais canais de áudio, pode-se usar mais de uma placa, em geral, para suprir estas necessidades. No quadro (Anexo), são comparados vários recursos das placas mais conhecidas do mercado. Não são citados, por limitação de espaço, os sistemas integrados, pacotes com placa/interface/software, nem as placas para multimídia, embora ambos também sejam utilizados para gravação de áudio em HD. Os preços em dólares se devem à dificuldade de compararmos todos os preços em reais. Você pode gravar o áudio em seu HD através de uma ou mais dessas placas, com um programa gravador de áudio multipista ou estéreo, como o Cakewalk Pro Audio, o Cubase Audio, o Logic Audio, o Session, o Saw Plus ou o Sound Forge, para citar os mais usados. É importante verificar a compatibilidade entre a placa e o programa, pois nem todos trabalham em conjunto ou utilizam todos os recursos. Outra boa opção, geralmente mais cara, são os sistemas integrados (kits) com placas, interfaces externas e programas num só produto, como o Pro Tools, o Session 8 ou o Yamaha CBX-D5, entre outros, o assunto de nosso próxim artigo. Veremos, também, os recursos das placas multimídia, como a SoundBlaster AWE 64, e suas possibilidades de utilização no estúdio.
  • 18. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 17 Placas de Som – Comparativo (Anexo I) Marca/Modelo PC/Mac Configuração Recomendada Ins/Outs Analógicos I/O Digital Sample Rates Full Duplex MIDI Sync Extras Preço (US$) ADB Multi!Wav Pro 18 PC 486 ISA 16 bits 2 Outs DAC 18 bits 24 bits S/PDIF AES/EBU Até 96 KHz Sim Não Via S/PDIF DSP24bits 699,00 Antex StudioCard PC Pentium 16 MB, PCI 4 Ins / 4 Outs XLR AES/EBU S/PDIF 6.25 a 50 KHz Sim 1 In 1 Out MIDI, LTC/VI TC Efeitos Opcionais 1595,00 AVM Apex PC * * * * * * * Synth Kurzweil Efeitos 349,00 CreamWare Master Port PC 486/66 16 MB ISA 16 bits 2 Ins / 2 Outs 4 I/O S/PDIF * Sim 1 In 1 Out MTC MIDI EQ em tempo real Efeitos 998,00 Digidesign AudioMedia III Mac PC PowerMac/ Pentium,16MB, PCI 2 Ins / 2 Outs RCA S/PDIF 11.025 a 48 KHz Sim Não Não EQ 795,00
  • 19. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 18 Marca/Modelo PC/Mac Configuração Recomendada Ins/Outs Analógicos I/O Digital Sample Rates Full Duplex MIDI Sync Extras Preço (US$) Digital Audio Labs CardDplus PC 486, 4 MB, ISA 16 bits 2 Ins / 2 Outs RCA Não, só via Dig. Only CardD 11.025 a 48 KHz Sim Não Não - 795,00 Digital Audio Labs Digital Only CardD PC 486, 4 MB, ISA 16 bits Não, só via CardDplus S/PDIF 32, 44.1 e 48 KHz Sim Não Não - 495,00 Emagic Audiowerk8 Mac PC PowerMac/ Pentium,16MB, PCI 2 Ins / 8 Outs RCA AD/DA 18 bits S/PDIF 38.5 a 50 KHz Sim Não MTC via S/PDIF VMR 799,00 Event Electronics Layla Mac PC PowerMac/ Pentium,16MB, PCI 8 Ins / 10 Outs Balanceados 1/4" 20 bits 24 bits S/PDIF Qualqu er Sim 1 In 1 Out 1 Thru SMPTE / MTC MIDI Interface externa DSP24bits 999,00 Event Electronics Gina Mac PC PowerMac/ Pentium,16MB, PCI 2 Ins / 8 Outs 1/4", AD/DA de 20 bits 24 bits S/PDIF 11 a 48 KHz Sim Não Não Interface externa DSP24bits 499,00
  • 20. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 19 Marca/Modelo PC/Mac Configuração Recomendada Ins/Outs Analógicos I/O Digital Sample Rates Full Duplex MIDI Sync Extras Preço (US$) Event Electronics Darla Mac PC PowerMac/ Pentium,16MB, PCI 2 Ins / 8 Outs RCA, AD/DA de 20 bits Não 11 a 48 KHz Sim Não Não DSP24bits 349,00 Frontier Designs WaveCenter PC 486 ISA 16 bits Não 8 ADAT I/O S/PDIF 39 a 51 KHz Sim 1 In 3 Outs * DSP24bits 825,00 Gadget Labs Wave/4 PC Pentium, 8 MB, ISA 16 bits 4 Ins / 4 Outs 1/8" Não 22.05 a 48 KHz Sim 1 In 1 Out MIDI - 499,00 Korg 1212 I/O Mac PowerMac 8 MB, PCI 2 Ins / 2 Outs 1/4" S/PDIF ADAT ótica 44.1 e 48 KHz Sim Não WordCl ck ADAT - 1250,00 Lucid Technology PCI24 Mac PC PowerMac/ Pentium, PCI Não AES/EBU S/PDIF * * Não * * 499,00 Lucid Technology NB24 Mac PowerMac NuBus Não S/PDIF * * Não * DSP24bits 399,00
  • 21. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 20 Marca/Modelo PC/Mac Configuração Recomendada Ins/Outs Analógicos I/O Digital Sample Rates Full Duplex MIDI Sync Extras Preço (US$) MIDIMAN DMAN PC 486, 8 MB, ISA 16 bits 2 Ins / 2 Outs 1/8", Mic In Não * Sim 1 In 1 Out MIDI - 249,95 Turtle Beach MultiSound Fiji PC 486, 8 MB, ISA 16 bits 2 Ins / 2 Outs 1/8", Mic In S/PDIF opcional 5 a 48 KHz Sim 1 In 1 Out MIDI 20bits AD/DA 299,00 Turtle Beach MultiSound Pinnacle PC 486, 8 MB, ISA 16 bits 2 Ins / 2 Outs 1/8", Mic In S/PDIF opcional 5 a 48 KHz Sim 1 In 1 Out MIDI Synth Kurzweil 429,00 (*) dados não disponíveis
  • 22. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 21 Sistemas de Gravação de Áudio em HD; Placas Multimídia Home studios existem em diferentes níveis, do mais básico ao mais sofisticado, e o mercado oferece interfaces de áudio para todos os gostos (e gastos). Os estúdios entry level podem praticar até mesmo com as baratíssimas e versáteis placas para multimídia. No terreno do áudio digital, o estado-da-arte são os sistemas integrados para gravação em hard disk, compostos de placas, interfaces externas com conectores, conversores etc. e o software que gerencia a gravação. As placas de som, para estúdios de nível intermediário, foram objeto de nossa última edição. Essa grande variedade de modelos de interfaces de áudio traz uma enorme gama de opções: conectores analógicos e digitais de diversos formatos, várias taxas de amostragem (sampling rates), tipos de sync time code, número de pistas de gravação, recursos de edição e processamento etc. Às vezes, uma consulta a um profissional mais experiente evita despesas inúteis com recursos que não serão usados e otimiza as escolhas. O estúdio básico, que conta com o possível para realizar suas gravações, pode fazer de seu kit multimídia um verdadeiro "porta-estúdio", gravando o áudio e seqüenciando pistas MIDI de teclados, com uma versão com áudio de qualquer software seqüenciador, como o Cakewalk Pro Audio. O áudio é gravado no HD de seu computador através de uma placa de som como a SoundBlaster 16, AWE 32 ou 64, ou compatível, tudo controlado pelo programa. Você contará com recursos de edição, processamento acústico (reverber, compressor...), mixagem e muito mais, em várias pistas de áudio. Se seu estúdio tem uma mesa de som, ligue primeiro o microfone ou instrumento na mesa, e envie o sinal dela para a entrada de linha (line in) da placa de som. Para monitorar, ligue a saída de linha (line out) da placa a 2 entradas da mesa. Caso não possua a mesa, ligue o microfone direto à entrada mic in da placa, controle o nível de sinal de entrada/saída via software e ouça o resultado nas caixinhas do kit multimídia ou outro par de caixas plugado à saída speaker out da placa. Não se deve subestimar nem superestimar o poder das placas multimídia. De um lado, são baratíssimas (SoundBlaster 16: R$89; AWE 64, ótima, menos de R$300), extremamente versáteis (controlam CD, joystick, MIDI, gravam/reproduzem áudio, e têm um pequeno sintetizador MIDI) e práticas, mas, em contrapartida, apresentam qualidade sonora inferior à das placas para estúdios, apesar da maciça propaganda. Isto se deve à economia de custos proporcionada pela escolha de conversores AD/DA de baixa qualidade, entre outros fatores. Típicos de estúdios de nível profissional, os sistemas de gravação, edição, mixagem e masterização de áudio em hard disk são, além da última palavra da tecnologia musical, fortes concorrentes dos gravadores analógicos de rolo em 2 polegadas, ainda hoje o padrão mundial de gravação. Liderados pelo famoso kit Pro Tools III, esses sistemas têm como principal vantagem, além do menor preço, os recursos de edição e processamento do material gravado. As desvantagens surgem na dificuldade de transferência do material gravado (backup), e no altíssimo consumo de memória do computador. A maior vantagem sobre as placas de som é a interface externa, que mantém conectores e conversores de áudio suficientemente distantes dos componentes elétricos do computador, verdadeiras usinas de ruído.
  • 23. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 22 Vários sistemas permitem gravação em um Jaz Drive, um disco removível de um Gigabyte, a preço de 150 reais, já que o áudio profissional gasta cerca de 5 Mb por minuto por canal. O custo oriundo do tempo despendido em copiar e deletar esses arquivos do HD justifica a opção da gravação em um Jaz Drive. O uso de gravadores digitais de fita, como o DA-88 e o ADAT, para se fazer backup dos arquivos de áudio do HD para a fita digital, determina a escolha da interface que disponha dos recursos necessários, tanto para transferência de sinal analógico ou digital, quanto para se sincronizar os 2 sistemas durante essa transferência. Usando-se os 2 sistemas durante a mixagem na mesa de som, tem-se boa expansão do número de pistas de gravação e dos canais de saída. Cada estúdio tem suas peculiaridades, e, com tantas opções, pode-se encontrar os sistemas que satisfaçam às mais variadas exigências. Escolha o seu de acordo com as suas reais necessidades. Procure contar com a opinião e orientação de quem já tem experiência com alguns desses kits de áudio. A dificuldade de se encontrar a maioria desses produtos no mercado brasileiro nos levou à escolha pelos preços dos EUA, para garantir a comparação entre os produtos. A tabela anexa apresenta, quando disponíveis, os 2 preços, o do mercado americano e brasileiro. As diferenças se devem principalmente aos custos de transporte e aos altos impostos, taxando produtos que não possuem similar nacional.
  • 24. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 23 Placas Multimídia – Comparativo (Anexo II) Marca/ Modelo Config. Mínima Pistas de Grav/Repr Ins/Outs Analógicos I/O Digital Sample Rates Sync Preço (US$) EUA/BR CreamWare tripleDAT Pentium 90 16Mb 4/8-25 (256 virtuais) 2/ 2 RCA S/PDIF coax./ót.; AES/EBU 32, 44.1, 48 KHz MTC, MIDI, word, LTC 1798,/* 1998,/* (c/AES) Digidesign Session 8 (mais interfaces 888,882,882-S) 486 DX2/66 16Mb HD SCSI 8/8 888: 8/8 XLR 882: 8/8 1/4" 882-S: 4 XLR+ 10 1/4"/8 1/4" 888:S/PDIF coax., 8 AES/EBU 882 e 882-S: S/PDIF coax 44.1 e 48 KHz MTC, MIDI, word, LTC, ADAT Kit: 1995,/2300, 888: */3500, 882: */1250, 882-S: */* Digidesign Pro Tools Project PowerMac 16 Mb 8/8 888: 8/8 XLR 882: 8/8 1/4" 882-S: 4 XLR+ 10 1/4"/8 1/4" Conforme a interface 44.1 e 48 KHz MTC, MIDI, word, LTC, ADAT 2495,/3000, Digidesign Pro Tools III PowerMac 16 Mb 8-48/ 16-48 888: 8/8 XLR 882: 8/8 ¼" Conforme a interface 44.1 e 48 KHz MTC, MIDI, word, LTC, ADAT NuBus: 6995,/8250, PCI: 7995,/9300,
  • 25. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 24 Marca/ Modelo Config. Mínima Pistas de Grav/Repr Ins/Outs Analógicos I/O Digital Sample Rates Sync Preço (US$) EUA/BR DoReMi Labs Dawn-II PowerMac 16 Mb 8/8 8/8 XLR 4 AES/EBU 32, 44.1 e 48 KHz MTC, LTC, word, RS-422, BB 14445,/* Korg 1212 I/O PowerMac 16 Mb 2-12/16-30 2/2 1/4" S/PDIF, ADAT 11.025, 22.05, 44.1 e 48KHz MMC/MTC, word, ADAT 1250,/* Merging Pyramix V. S. Pentium 150, 16 Mb 4-8/4-8 * S/PDIF coax./ót.; ADAT 32, 44.1, 48 KHz LTC, word, RS-422, BB, ADAT 5000,/* (4 canais) 7000,/* (8 canais) 11600,/* (c/PC) Metalithic Digital Wings for Audio Pentium 90, 16 Mb, Win 95 2/128 2/1 (P2 stereo) breakout:4/4XLR 2/2 1/4"stereo Breakout: S/PDIF, AES/EBU 11.025, 22.05, 29.4, 44.1 KHz MIDI 1695,/* c/breakout:1995,/* MicroSound Crystal 2400 Pentium 90, 16 Mb 4-8/64 stereo 1/1 1/4" stereo S/PDIF, AES/EBU 8, 11.025, 16, 22.05, 24, 44.1, 48 KHz MTC, MIDI, word, LTC, BB 2999,/*
  • 26. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 25 Marca/ Modelo Config. Mínima Pistas de Grav/Repr Ins/Outs Analógicos I/O Digital Sample Rates Sync Preço (US$) EUA/BR MicroSound MicroSound Pentium 90, 16 Mb 4/64 stereo 4/4 XLR S/PDIF, AES/EBU 8, 9.45, 10, 11.025, 12, 16, 18.9, 20, 22.05, 24, 32, 37.8, 44.1, 48KHz MTC, LTC, BB 4895/* SonicSolutions SonicStudio 16*24 PowerMac, 24 Mb 16/24 8/8 XLR Opcionais 44.1, 48 KHz MTC, word, LTC, RS- 422, BB 7999,/* Soundscape SSHDR1 486/50 8 Mb 2/8 2/4 RCA S/PDIF 1 In/2 Outs 22.05, 32, 44.1, 48 KHz MMC, MTC, LTC, RS-422 3250,/* Spectral Prisma 486/66 16 Mb 2-8/12 (96 virtuais) Interfaces opcionais Interfaces opcionais 30-50 KHz MMC, MTC, MIDI, LTC, word, RS- 422, BB, ADAT 3390,-3890,/* Spectral AudioEngine 486/66 16 Mb 2-16/16 Interfaces opcionais Interfaces opcionais 30-50 KHz MMC, MTC, MIDI, LTC, word, RS- 422, BB, ADAT 4540,-6810,/*
  • 27. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 26 Marca/ Modelo Config. Mínima Pistas de Grav/Repr Ins/Outs Analógicos I/O Digital Sample Rates Sync Preço (US$) EUA/BR Studer Editech Dyaxis II PowerMac, 16 Mb 4-16/8-32 4/4 XLR S/PDIF, AES/EBU, SDIF, Y2 32, 44.1, 48 KHz MMC, MTC, LTC, word, RS-422, BB 10000,/* Studio A & V Sadie Pentium 75 8 Mb 2/10 2/4 XLR 2 outs RCA S/PDIF, AES/EBU 1In/2Outs 22.05, 32, 44.1, 48 KHz MTC, LTC 7995,/* 10995,/* c/PC Yamaha CBX-D3 Depende do software 2/4 4/4 1/4" S/PDIF out 22.05, 32, 44.1, 48 KHz Depende do software 995,/* Yamaha CBX-D5 Depende do software 2/4 2/4 XLR S/PDIF, Y2, AES/EBU 1In/2Outs 22.05, 32, 44.1, 48 KHz Depende do software 1995,/* (*) dados não disponíveis
  • 28. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 27 Sync Time Code - O Pulo do Gato Como pode um estúdio caseiro, com um gravador cassete de 4 pistas, um computador comum e um sintetizador, soar parecido com uma gravadora profissional? Onde está o segredo que permite a gravação e mixagem de dezenas de canais com alta qualidade de som num equipamento tão simples? A chave do mistério se chama SYNC, nome dado aos vários recursos de sincronização entre os equipamentos do estúdio. Através dos formatos de sync time code fazemos os diversos meios de gravação de áudio e seqüenciamento MIDI trabalharem em conjunto. Dessa forma, por exemplo, não precisamos gravar os teclados seqüenciados na fita, economizando canais: o seqüenciador trabalhará sincronizado ao gravador multipista (porta-estúdio, ADAT etc.). Isto quer dizer que os instrumentos eletrônicos MIDI (sintetizadores, samplers, baterias etc.) estarão funcionando ao vivo no momento da mixagem, tocados diretamente pelo seqüenciador. O som desses instrumentos será mixado ao som das pistas de áudio gravadas, todos ligados à mesa de som. Assim, na fita multipista só são gravados instrumentos acústicos/elétricos e vozes, consumindo-se poucos canais, evitando-se as reduções e outros procedimentos que degradam a qualidade do som. Os teclados não ocupam canais dessa fita, e só serão gravados na fita mixada. Os formatos mais típicos de sync são o MIDI Clock, o FSK e o SMPTE/MTC. Cada um é usado entre diferentes meios de gravação/seqüenciamento. MIDI Clock. Também chamado “MIDI sync”, atua entre 2 seqüenciadores MIDI, com precisão de 24 pulsos por semínima. Serve para se copiar uma seqüência de um hardware para outro (de um teclado workstation para o Cakewalk, p/ ex.), ou para se executar um seqüenciador e uma bateria eletrônica ao mesmo tempo. Comandos MIDI, como “Start/Stop/Continue” e “Song Position Pointer” (que indica o ponto exato da música) são enviados pela conexão MIDI Out do seqüenciador “mestre” (master) para o MIDI In do “escravo” (slave). Primeiro se ajusta o “escravo” para receber MIDI clock; em seguida é dado o comando “Play” ou “Record”. O “escravo”, em compasso de espera, fica pronto para trabalhar em conjunto com o “mestre”. Este é ajustado para transmitir os mesmos comandos. Quando se der o comando “Play” ou “Record”, como também “Stop”, no mestre, ambos atuarão juntos, no andamento deste. Quando terminar, não esqueça de tirar o “escravo” do modo sync. FSK. Frequency Shift Key é um sinal que muda de tom rápida e constantemente, de acordo com o andamento de uma música seqüenciada. Sincroniza um seqüenciador MIDI a um gravador multipista. Vários seqüenciadores em hardware e baterias eletrônicas têm entradas e saídas “tape” ou “sync”, que são conversores MIDI/FSK e FSK/MIDI. O FSK age como um metrônomo: gerado pelo seqüenciador e gravado na fita, ele permite que o gravador (mestre) acione o seqüenciador (escravo) de acordo com o(s) andamento(s) da música previamente determinado(s), bem como o ponto inicial e final. Assim, não são possíveis alterações nesses parâmetros (andamento e duração), a não ser que se refaça todo o processo desde a gravação do sync na fita, inclusive regravando as pistas de áudio. É útil quando o estúdio não dispõe de um computador, apesar de geralmente o FSK só sincronizar corretamente os aparelhos quando a música é executada desde o
  • 29. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 28 início (nada confortável quando se precisa regravar várias vezes um vocal no meio da música). SMPTE/MTC. Derivado de padrões de sincronização de vídeo, é um sinal analógico de áudio (SMPTE) que também pode ser convertido em sinal MIDI (MIDI Time Code – MTC). É gerado pela interface MIDI/sync do computador, como a Opcode MQX-32(M), e gravado numa pista da fita de áudio ou de vídeo. Quando o gravador multipista ou o videocassete (mestre) é acionado (“Play”), envia este mesmo sinal de volta à entrada de sync da interface do computador (escravo), através de um cabo de áudio e plugs banana ou RCA. O seqüenciador entra em funcionamento. Funciona como um relógio: o SMPTE contém informações de tempo cronológico: horas, minutos, segundos e frames (quadros por segundo), que indicam o tempo decorrido da fita. O contador de tempo do software seqüenciador faz o cálculo, relacionando o tempo cronológico do SMPTE aos compassos e tempos da música. Por exemplo, aos 2 minutos, no andamento de 120 bpm e em 4/4, estamos no compasso 60. Qualquer que seja o ponto onde a fita comece a tocar, em um segundo o seqüenciador estará tocando, perfeitamente sincronizado. Não há problemas em se mudar o andamento nem a duração da música, após gravado o time code na fita. Pode-se gravá-lo logo ao adquirir a fita (os usuários do ADAT costumam ‘syncar’ a fita durante sua formatação, já que as 2 operações tomam o mesmo tempo, o tempo total da fita). Alguns gravadores e conversores transformam o sinal do SMPTE ou de seus próprios contadores de tempo em mensagens MIDI, o MTC, gerado automaticamente. Poupando uma pista de áudio e o tempo de gravar o time code na fita, o MTC é enviado ao computador por um cabo MIDI, conectado do MIDI Out do gravador ao MIDI In da interface. O sinal de áudio do sync time code é sempre um sinal de altas freqüências, não devendo jamais passar por filtros de nenhuma espécie. Conecte o seqüenciador ou interface diretamente ao gravador, sem passar pela mesa etc. Vários porta-estúdios têm uma chave e conectores “sync”. É porque eles trabalham usando filtros de ruído dbx ou Dolby, que prejudicam o sincronismo. A chave sync desliga o filtro na última pista de gravação, permitindo gravar o time code sem o filtro, ao contrário das demais pistas. Sincronizados, gravador multipista e seqüenciador MIDI trabalham lado a lado, cada um com suas pistas. Aos teclados, mixados ao vivo (e, portanto, gravados ainda em 1a geração), é permitido mudar seu timbre, tonalidade, expressão etc., até o momento da mixagem final, enquanto as pistas de áudio, só com vozes e instrumentos tradicionais, ganham em nitidez e presença. Podemos considerar a sincronização como o verdadeiro “pulo-do-gato” do home studio, pois ela multiplica várias vezes os recursos, os canais e a qualidade do som de qualquer estúdio, do mais simples ao mais sofisticado. Para sonorizar um vídeo, o sync permite que o compositor toque os teclados enquanto assiste às imagens, criando sua trilha em tempo real, desde já sincronizadas, além de permitir a edição dos eventos MIDI e do áudio em HD, e checar seu sincronismo com as imagens imediatamente.
  • 30. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 29 Técnicas de Gravação de Áudio I O Endereçamento do Sinal Hoje, os estúdios têm muitas opções de equipamentos para gravação de áudio. Os procedimentos descritos a seguir são as técnicas mais usuais. Devido ao espaço, este assunto será dividido em várias edições. Nesta, vamos nos ater ao endereçamento do sinal de áudio. Uma gravação pode ser feita em fita analógica ou digital, em disco rígido ou mini-disk, mas sempre se gravam os instrumentos em diversas pistas ou ‘tracks’. Depois de tudo gravado, todas essas pistas são mixadas para um gravador estéreo. Pode-se gravar em várias pistas simultaneamente, ou em uma de cada vez, como também gravar só um ou vários instrumentos (ou vozes) em cada pista. Tudo depende dos recursos do equipamento e das características de cada trabalho. Para isso, necessitamos de um mixer (mesa de som). Os porta-estúdios, que gravam em cassete, MD ou HD, vêm com a mesa acoplada, endereçando-se os sinais internamente. Sistemas de gravação em computador têm uma “mesa virtual” para controlar e mixar os sinais, embora continuem a precisar do mixer externo, “real”, para vários procedimentos. As mesas de som servem tanto para endereçar os instrumentos para o gravador quanto para se ouvir os sons gravados. Para se monitorar o gravador, liga-se cada pista dele (output) em um canal da mesa. Temos, assim, na mesa, um controle separado para cada pista do gravador. Para se gravar um instrumento em uma pista, ele é conectado a um canal da mesa, diretamente ou por microfone. Podemos endereçar o sinal da mesa até o gravador pela saída direta (“direct out”) desse canal.. Porém, para se gravar vários sinais (vários canais, portanto) em uma mesma pista, utiliza-se o “submaster”. Ele agrupa esses canais e os envia de uma só vez, por uma única saída, até uma entrada do gravador (input). Há vários submasters, cada um ligado a uma dessas entradas. O endereçamento é feito a um par estéreo de submasters. Em cada canal da mesa, há um botão para cada par (“1-2”, “3-4” etc.). Por exemplo, para enviar o sinal do canal 7 para o submaster “1-2”, aperta-se no canal 7 o botão “1-2”. Se virarmos o pan do canal todo para a esquerda, o sinal irá somente para o submaster 1. Virando todo para a direita, irá só para o submaster 2. No centro, o sinal irá para os dois submasters. Assim, podemos endereçar vários canais para um par de submasters e criar um efeito estéreo, como, por exemplo, para gravar percussão, ou enviar um único canal para uma pista do gravador, como, por exemplo, para gravar voz ou guitarra. Enquanto cada canal controla o seu próprio volume, o submaster controla o nível geral. O som gravado retorna à mesa, para ser monitorado e mixado, de cada canal de saída (output) do gravador para os canais da mesa, como já vimos. Isto significa que são usados, ao todo, dois canais da mesa para cada instrumento, um de entrada, por onde entra o sinal do instrumento para gravação, e outro de retorno, onde entra o áudio já gravado, para monitoração. Na mixagem, esses canais de retorno são endereçados à seção master da mesa, através dos botões “L-R”, e dali para o gravador estéreo, como também para o amplificador, pelas saídas master estéreo.
  • 31. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 30 As diferenças entre porta-estúdios e sistemas com gravador e mesa separados, quanto ao endereçamento do sinal na gravação, são duas. A primeira é óbvia: não há cabos, a transmissão é interna. A segunda é a maneira de se fazer o endereçamento do sinal. Há dois modos: o individual e o coletivo. No individual, para gravar um instrumento na pista 1, ele é plugado no canal 1 e liga-se a chave de gravação na posição “1”. Dessa maneira, somente o instrumento que está ligado no canal 1 será gravado na pista 1, e os outros canais serão ignorados. No modo coletivo, para gravarmos vários instrumentos na pista 1, liga-se a chave na posição “L”, que quer dizer Left, esquerda. Ligamos cada instrumento em um canal e viramos o pan de cada canal a gravar para a esquerda. Os canais que não quisermos gravar, viramos o pan para a direita. Para gravar nas pistas pares (2 ou 4), ligamos a chave na posição “R” (Right, direita) e viramos o pan para a direita, dos canais que queremos gravar, e para a esquerda, dos canais que não queremos. Na monitoração, os porta-estúdios têm em cada canal uma chave “line/tape”, que nos permite usar o mesmo canal, tanto para entrada (“line”) quanto para monitoração do som gravado (“tape”), de acordo com a necessidade. Nos estúdios, os sons recebem um tratamento todo especial. Em busca de qualidade, nitidez, presença, peso e coerência com o estilo, usam-se variados processadores de sinal. Por exemplo, a voz gravada dentro do estúdio não deve conter as reflexões sonoras (reverberação) da sala de gravação. Caso contrário, toda música gravada nesse estúdio teria o mesmo tipo de reverberação, fosse uma bossa nova, que combina com pequenos ambientes, ou um heavy metal, típico de grandes clubes e estádios. Por isso, o tratamento acústico das salas abafa as reflexões o suficiente para deixar o som natural, porém seco. Artificialmente, aplica-se a reverberação. Conhecer os tipos de processadores, seus usos e as formas de conectá-los aos demais equipamentos é fundamental para se gravar bem. Processamento “fantasma”. O som de uma voz ou instrumento pode ser gravado já processado, com reverberação e equalização, por exemplo. Ou pode-se gravá-lo seco, e ele ser processado somente para a monitoração, durante a gravação dos outros sons, e para a mixagem, quando os sons recebem o tratamento definitivo. Desta forma, ouve-se o efeito “fantasma”, mas ele não é gravado. Grava-se o som seco, mas ele é ouvido com os efeitos. Exemplo: o cantor ouve sua voz reverberada no fone de ouvido, mas o reverber não está sendo gravado, só a voz. Assim, na primeira fase da gravação, o operador se preocupa apenas com a captação do som. Se ele gravasse o som com excesso de efeitos, não poderia corrigir o problema, a não ser gravando novamente. Na mixagem, quando se regrava em outra fita estéreo tudo o que foi gravado na fita multipista, o operador se concentrará no processamento definitivo de cada sinal. Isto é possível porque dois canais da mesa são usados para cada som gravado: um para a entrada (input) do sinal - que vem do microfone ou instrumento e vai para a fita (ou HD etc.) - e outro para a monitoração (audição) e posterior mixagem do som gravado, que retorna à mesa. (Fig. 1) As ligações são: microfone > canal de entrada da mesa > saída submaster > input do gravador e output do gravador > canal de monitoração da mesa (ou “volta do gravador”). Como o canal de entrada fica antes do gravador e o canal de monitoração fica depois, basta deixar o som entrar flat (seco, não tratado) na fita e ouvi-lo com os efeitos, equalizadores etc. no canal de retorno. O som vai seco para a fita e é tratado na volta.
  • 32. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 31 Para se gravar o som já processado, usam-se os efeitos, EQ etc. do canal de entrada da mesa, antes do gravador. Assim, o processamento é gravado na pista do gravador, junto com o sinal da voz ou instrumento. No canal de monitoração (“volta”) da mesa, pode-se deixar o som flat ou processá-lo novamente, se necessário. Processadores se dividem em dois grupos, pelo seu uso individual ou coletivo e pela maneira de serem plugados à mesa. Os efeitos (“FX”), como o reverber, o delay ou eco, o chorus e outros, podem ser usados por vários canais ao mesmo tempo, em diferentes intensidades, como um mesmo reverber, que pode ser regulado mais forte no canal da voz e mais discreto no violão. Nos controles auxiliares dos canais da mesa, dosam-se as intensidades do efeito para cada canal. O outro grupo é o dos processadores individuais, que modificam inteiramente um sinal, não se controlando a intensidade, e que são usados cada um por um único canal. É o caso dos equalizadores, noise gates e compressores. Conexões. Efeitos e processadores individuais são conectados à mesa de formas totalmente diferentes. Os efeitos são conectados às saídas (“aux send”) e entradas (“aux return”) auxiliares da mesa, também conhecidas como “mandadas” e “voltas” dos efeitos. (Fig. 2) As ligações são: Aux Send (“mandada do efeito”) da mesa > input do efeito e output do efeito > Aux Return (“volta do efeito”) da mesa. A mandada pode ser mono ou estéreo, usando-se um ou dois cabos de ¼”, ou banana. Na mesa, em cada canal, controla-se a intensidade do efeito para aquele canal. A volta costuma ser estéreo, com dois cabos de ¼”. A intensidade de saída do efeito fica no máximo, e é controlada por um botão do tipo “aux return” na seção master da mesa. Já o nível de entrada no efeito é controlado no próprio efeito, num botão do tipo “input level”. Os processadores individuais são plugados na mesa ao “insert” do canal. O “insert” é um conector do canal da mesa que usa um único plug (banana estéreo) para o sinal sair, ser processado e voltar pelo mesmo lugar. (Fig. 3) O som do canal sai e volta pelo mesmo plug do “insert”, que tem um cabo em “Y”, com as outras duas pontas (banana mono) do cabo entrando e saindo do processador. A ponta do cabo que tem o plug estéreo não é para som estéreo: as duas vias de sinal são usadas, uma para saída da mesa e outra para entrada (retorno). Os cabos de “insert” não são facilmente encontrados no mercado, você terá de fazê-los. Quando se quer gravar o som já processado, usa-se o “insert” do canal de entrada. Quando se prefere deixar o processamento para a mixagem, usa-se o “insert” do canal de monitoração. Outras formas de se conectarem processadores individuais, quando não há inserts na mesa: entre a saída da mesa e a entrada do gravador (grava-se o som processado), ou entre a saída do gravador e a entrada da mesa (o processamento é apenas monitorado, podendo ser modificado na mixagem). Estas ligações trazem os mesmo resultados que o uso dos inserts. O som vem da saída direta (“direct out”) do canal ou do submaster da mesa, passa pelo processador e vai para o gravador. Ou então, grava-se o som flat e ele sai do gravador, passa pelo processador e vai para o canal de monitoração da mesa. Certos instrumentos devem ser gravados já processados em definitivo, outros podem ser melhor tratados na mixagem. A guitarra e o baixo elétrico costumam ser gravados com os timbres já equalizados, embora ainda se possam ajustá-los de novo na mixagem. Certos
  • 33. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 32 efeitos da guitarra são gravados junto com ela, como o distorcedor, o chorus, o flanger e outros. Já a reverberação e o eco podem ser equilibrados na mixagem, para se ambientar os diversos instrumentos e vozes, todos na mesma hora. Grava-se, geralmente, a voz ou instrumento com eco ou reverber “fantasma”, isto é, apenas no canal de monitoração. É comum, com bons microfones, deixar-se o timbre da voz intocado, sem usar equalizadores, mesmo na mixagem. Os teclados muitas vezes também são gravados e mixados sem nenhum processamento adicional. Não exagere ao usar processadores. Às vezes, o excesso de efeitos pode ser fatal para uma gravação. Da mesma forma, um som muito seco ou sem brilho parecerá artificial. Ao gravar e mixar, imagine o ambiente desejado para os sons e regule os efeitos para criar esse ambiente. Ouça outras músicas, de vários CDs. Depois, ouça de novo sua mixagem. Mexa nos processadores e nas mandadas auxiliares quanto for preciso, sempre ouvindo o resultado. Aproveite a disponibilidade de tempo, que seu próprio estúdio proporciona, para experimentar. Quando tudo estiver bom, grave esta mixagem na fita estéreo. Tire cópias: é o seu produto final. Os Processadores de Efeitos O famoso som de estúdio. Afinal, o que faz com que aquela voz pequenina soe tão exuberante na gravação? Usam-se nos estúdios muitos tipos de processadores. Há processadores de efeitos, que abordaremos aqui, e processadores de sinal, de que falaremos na próxima edição. São vários aparelhos que modificam os sons originais dos instrumentos, dando-lhes novo colorido, ambientando-o ou adaptando o som para ser gravado em um determinado meio. Os mais usados em home studios são o reverberador ou reverber, o delay, o compressor, filtros de ruído, o "chorus", o "flanger" e outros mais específicos, como os distorcedores. Os processadores podem se apresentar em forma de "rack", dedicados (um só tipo de efeito) ou multi-efeitos Os multiprocessadores vêm com vários recursos diferentes, como se fosse uma pedaleira de guitarra, com os efeitos em série e controles de todos eles. Alguns têm o processamento totalmente independente à esquerda e à direita (em paralelo), se conectados pelas mandadas estéreo de efeitos da mesa. Podem vir como recursos próprios de mesas de som e de certos teclados, as "workstations". Ou, ainda, podem aparecer como recursos adicionais, os “plug ins”, para programas de gravação em HD. Todos os formatos são úteis e podem soar muito bem, se bem escolhidos e dosados. Enquanto os plug ins são um novo front na revolução do áudio gravado, pela imensa versatilidade, os efeitos em rack dão mais estabilidade e, em geral, agilidade ao trabalho de processamento de sinais e efeitos. Os processadores com MIDI podem ter seus controles modificados em temo real na mixagem, pelo mesmo seqüenciador onde se ‘gravam’ os sintetizadores. Escolhe-se um canal MIDI só para ele e opera-se pelas funções “control change” e “patch change”. Efeitos. Esses processadores são de uso coletivo. Em cada canal se controla a intensidade de cada efeito ligado à mesa. Há muitos tipos de efeitos. Deles, o reverber é
  • 34. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 33 um item obrigatório no estúdio, por permitir a correta ambientação de vozes e instrumentos. As marcas mais usadas são Lexicon, Yamaha e Alesis, com modelos dos mais simples aos mais complexos. O reverberador reproduz os ambientes acústicos, de acordo com os timbres dos instrumentos e vozes e com as peculiaridades de cada música. Ao som seco e impessoal de estúdio, acrescenta vida e profundidade, valorizando, dando profundidade e definindo os diversos sons. Quando estamos num lugar amplo, diante de um paredão ou uma montanha, podemos experimentar o efeito do eco. O eco é o reflexo do som, como uma imagem no espelho, a onda sonora que volta ao ouvido do emissor, após bater numa superfície reflexiva. O som viaja a 340 metros por segundo. Se você estivesse a 340 metros da montanha e pudesse gritar alto o suficiente, você ouviria o eco exatos dois segundos após o grito. Um segundo para a sua voz chegar na montanha, e outro para o eco vir até você. O som se propaga em todas as direções. Ao atingir uma superfície reflexiva, reverbera (ecoa) num ângulo simétrico. Exatamente como a imagem de um espelho. Dentro de uma sala, com paredes, piso e teto mais ou menos reflexivos, múltiplas reflexões do som causam a reverberação. De acordo com os materiais usados e o tamanho das salas, as ondas sonoras se refletem com características variadas. Os estúdios têm suas salas de gravação revestidas de materiais absorventes para “secar” o som. Isto nos permite gravar o som seco e aplicar a reverberação artificialmente. Do contrário, todos os sons gravados teriam a mesma reverberação, e todas as músicas ficariam com o mesmo “clima”, gravadas no mesmo ambiente. Quando emitimos um som dentro de uma sala, primeiro ouvimos o som seco, direto da fonte. É o estágio do reverber conhecido como “pre delay”. Um instante (mili-segundos) depois, ouvimos as primeiras reflexões (“early reflections”), e depois ouvimos as reflexões se cruzando pelas paredes, até o som perder força e cessar. Os parâmetros de um reverberador variam desde o tipo e tamanho de salas, quartos, estádios, catedrais, “plates” (antigos reverberadores de metal), “gates’ etc., passando pela intensidade do efeito, até o timbre (graves e agudos) da reverberação, o tempo de decaimento (decay), o pre-delay, que é o atraso do efeito sobre o som seco, usado para definir o ataque do som e dar maior nitidez, e outros. Alguns reverberadores mais simples e baratos, porém com qualidade profissional, trazem apenas um seletor de “salas” e controle de intensidade, o que é suficiente para bem sonorizar o home studio de nível básico. Delay e Eco. O eco é um efeito usado para dar maior profundidade a instrumentos solistas. O recurso mais usado para criar este efeito é o digital delay. Delay significa atraso. Ele reproduz uma ou várias cópias digitais do som com atrasos pré-determinados, criando um “eco”.
  • 35. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 34 Seus controles mais comuns são “level”, que dosa o volume do eco, “delay time”, o tempo ou o ritmo das repetições, “intensity”, que determina o número de repetições e outros, em geral referentes ao uso em estéreo, com diferentes delays à esquerda e à direita. O delay digital substituiu as antigas câmaras de eco (que consistiam numa fita magnética girando em torno de cabeçotes de gravação com distâncias variáveis) por "samples" (amostras do som gravados digitalmente). É necessário ao estúdio para fixar a profundidade de solos instrumentais e algumas vozes. O chorus faz oscilar a freqüência (afinação) de um sample (amostra sonora digital) em torno da freqüência do som original. A soma dos dois sons, o original e a amostra com afinação oscilante, sugere um efeito como o de um coro. Pode-se regular a intensidade, a velocidade (rate) da oscilação, o distanciamento do "pitch" (afinação) original. O flanger, que funciona de outro jeito, tem efeito semelhante, porém mais dramático. Também há o phaser, o rotary, derivado das caixas Leslie, que tinham falantes rotatórios motorizados, e muitos outros efeitos. Os Processadores de Sinal Um processador de sinal afeta por completo o som de um canal. Assim, só faz sentido conectá-lo à mesa de modo que o sinal do canal passe inteiramente através do processador. O controle é todo feito no processador, não na mesa. Além disso, ele é feito para ser usado por um único canal. Pelas diferenças com os processadores de efeitos, que acrescentam efeitos aos sons em variáveis proporções e que podem ser usados por vários canais, os processadores de sinal são conectados à mesa através dos inserts, e não dos canais auxiliares. Compressor. Chamamos de curva dinâmica de uma gravação à diferença entre os picos (pontos de mais alto volume) e os vales, os pontos mais suaves. Quanto maior a diferença entre picos e vales, maior é a curva dinâmica. Cada tipo de gravador tem uma diferente sensibilidade para a dinâmica. Muitas vezes, uma pista que parecia bem gravada quanto à dinâmica, soa cheia de “altos e baixos” na mixagem, ou com picos excessivos ou, ao contrário, com trechos inaudíveis, de tão baixos. O compressor atenua a curva dinâmica, reduzindo a distância entre picos e vales. Ao diminuir o volume dos picos da gravação, ele permite que se aumente o volume do canal, dando a sensação de se aumentar o volume dos vales e diminuir o dos picos, equilibrando a dinâmica. O excesso, por outro lado, torna o sinal muito “achatado” e artificial. Os principais parâmetros são threshold, ratio, attack, release e output gain. Os dois primeiros ajustam o nível dos picos e a taxa de compressão. O threshold determina um volume de som (em dB) a partir do qual o compressor atua. Abaixo deste nível, o som sai como entra. Acima da fronteira do threshold, o som sofre uma atenuação, de acordo com uma certa taxa de compressão (ratio). A compressão só atua no trecho do volume que se situa entre a linha do threshold e o volume real do pico. Se a taxa de compressão for de 2:1 (dois pra um), a diferença entre o threshold e o volume do pico será reduzida à
  • 36. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 35 metade. Se a ratio for de 4:1 o pico será atenuado para a quarta parte do volume que excede a linha de threshold. Isto significa que há volumes superiores à linha do threshold, há uma dinâmica, só que atenuada por uma taxa de compressão. Só não haverá picos de volume acima do threshold se a ratio for de infinito pra um. Assim, não há dinâmica, e este efeito é conhecido como limiter. Os controles de attack e release permitem que o compressor atue de forma mais rápida ou lenta, tanto na entrada do efeito quanto na saída, realçando mais ou menos os sons. O output gain, ganho de saída, serve para compensar o volume de saída que tenha sido alterado pela compressão. Noise gate. O noise gate tem um threshold que funciona ao contrário do threshold do compressor: a atuação é sobre os sons com volumes abaixo da linha de threshold, que são totalmente cortados. Se gravamos um bumbo e uma caixa em duas pistas, com dois microfones, o som da caixa vazará para o canal do bumbo, e o som do bumbo também vazará para o canal da caixa. Mas o bumbo e a caixa, em geral, se alternam, quase nunca tocam ao mesmo tempo. Com dois compressores, um em cada canal, e seus thresholds ajustados para um nível abaixo do sinal “real” e acima do sinal “vazado”, os dois canais soam limpos de vazamentos. Quanto o som “vazado” toca abaixo do volume do threshold do noise gate, ele é simplesmente cortado. Os noise gates podem ter outros controles, como da velocidade de atuação, para não cortar o som fora de hora. Usados em canais com vozes e instrumentos gravados com ruídos de fundo, comuns nos pequenos estúdios, cortam os ruídos durante os momentos de silêncio, mas não durante os trechos tocados ou cantados. Nestes trechos, o som estará acima do nível de threshold, e nada será cortado pelo gate, nem o ruído. Filtros. Existe uma variedade de filtros no mercado, que cortam freqüências específicas, como os filtros passa-alta (high-pass filter, ou HPF), passa-baixa (low-pass filter, ou LPF), passa-banda, corta-banda. Cada um tem controles de cutoff, ponto de corte, determinando as freqüências a partir das quais os sons serão cortados. Os filtros de ruído mais conhecidos para gravadores analógicos são os Dolby e Dbx. Cortam ruídos das fitas analógicas, gravando bem mais alto as freqüências das mesmas faixa do ruído de fundo, e depois reproduzindo essas freqüências proporcionalmente mais baixo. Os sons são novamente nivelados, mas os ruídos são reproduzidos muito abaixo do resto. Sempre que você gravar uma fita com um desses filtros, obrigatoriamente reproduza-a também com o filtro. Os Equalizadores Para obtermos resultados satisfatórios numa gravação ou mixagem, é preciso que o timbre das fontes sonoras seja muito bem ajustado. O instrumento deve soar como soa ao vivo, em seus melhores momentos. Ou ainda, soar conforme o desejo dos artistas e produtores, mesmo que isso implique num som artificial. Tudo depende do estilo e da linguagem musical. Ajustam-se os timbres com o equalizador (EQ), que pode ser gráfico, paramétrico, semi-paramétrico, ou simples controles de tonalidades graves e agudas.
  • 37. Sérgio Izecksohn Teoria Básica para Home Studio 36 Ondas sonoras, freqüências e timbre. O ouvido humano interpreta como som as vibrações do ar emitidas entre as freqüências de 16 ciclos por segundo (16 Hertz ou 16 Hz) até cerca de 20 mil ciclos (20 KHz, ou 20 K). Cada instrumento ou voz musical tem seu próprio espectro de freqüências, a faixa de freqüências onde o instrumento atua. A faixa de freqüências varia de acordo com a extensão ou a escala do instrumento e a riqueza do seu timbre. O som tem quatro parâmetros principais: altura, intensidade, timbre e duração. As alturas são as afinações (pitch) dos sons e notas musicais, como do, re, mi, medidas em ciclos por segundo (Hz). Quanto mais “aguda’ (alta) uma nota, mais ciclos de onda vibram por segundo. Diz-se que são freqüências altas, enquanto as “graves” são as baixas freqüências. A intensidade é o volume do som. No gráfico da curva da onda sonora, quanto maior a intensidade do som, maior a amplitude da onda. Ela se distancia mais do centro, vibra com mais energia. Nesse gráfico, a linha reta ao centro indica silêncio, ausência de energia sonora. Uma onda tem ciclos, que se dividem em morros e vales, alternando-se e variando seu comportamento ao longo do tempo. Durante um ciclo da onda, a amplitude pode variar, determinando a forma da onda. É a forma da onda que define o timbre. A forma da onda é derivada da superposição das parciais do som. Um som da natureza nunca é totalmente puro. Ele é composto de parciais, sons que se agregam ao som principal. É como se uma nota musical nunca fosse uma só nota, mas sempre fosse um acorde com muitos sons. E é isso mesmo o som. Ouvimos a nota principal, chamada fundamental, porque ela tem uma intensidade muito maior que as outras, em geral. Mas são as outras parciais (chamadas sons harmônicos) que dão a principal característica do som, o timbre. Uma mesma nota, com a mesma altura e intensidade, cantada por duas pessoas, soa com diferentes timbres. Os harmônicos presentes numa voz e na outra, que são os mesmos, estão com intensidades diferentes de uma voz para a outra, como se fossem duas diferentes mixagens dos harmônicos sobre a fundamental. O resultado são dois timbres diferentes. A onda sonora pura, sem harmônicos, que pode ser produzida artificialmente para experimentos, é totalmente arredondada. É a onda senóide ou senoidal. Cada harmônico é também uma onda senóide. Superpostos, fundamental e seus harmônicos resultam numa outra forma de onda, de acordo com as amplitudes de todas as ondas superpostas. Na superposição de ondas sonoras, dois movimentos iguais se somam, aumentando a amplitude da onda resultante. Dois movimentos opostos, simétricos, como um morro e um vale ao mesmo tempo, se anulam, tirando amplitude (volume) do som. Um som estridente tem os harmônicos de altas freqüências com mais intensidade que um som mais abafado. A onda sonora do primeiro é mais pontuda, e a do segundo som, mais arredondada. O equalizador atua tanto sobre a intensidade das fundamentais quanto dos harmônicos, de acordo com as freqüências que se operam, moldando o timbre do instrumento.