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18- SPORTING 3853
“O SPORTING CP DEU‑ME MUITO
PARA ALÉM DAQUILO QUE VIM BUSCAR”
ENTREVISTA GUITTA
Considerado por muitos o melhor guarda‑redes do planeta, Guitta está na quarta temporada ao serviço da equipa de futsal do Sporting
Clube de Portugal, tendo já conquistado tudo o que havia para conquistar tanto a nível doméstico como europeu. No final de Dezembro,
com dois golos, ajudou os Leões a superarem o SL Benfica na luta pela Supertaça (7‑2) e, agora, concedeu uma entrevista ao Jornal
Sporting. O internacional pela selecção brasileira ‑ por quem já venceu o Campeonato do Mundo em 2012 ‑, de 34 anos, falou sobre o
passado e o presente, destacando várias vezes a forma como o emblema de Alvalade foi importante para o seu percurso. “Sinto que a
minha carreira evoluiu muito depois de vir para cá”, revelou à publicação verde e branca.
Texto: Luís Santos Castelo Fotografia: Isabel Silva, João Pedro Morais, José Lorvão
SPORTING 3853-19
A competição vai ter agora um mês menos ocupado
devido ao Campeonato da Europa de selecções. Esta
paragem chega numa fase em que a equipa está numa
excelente fase. Concorda?
Sim, mas não acho que possa trabalhar. A boa fase tam-
bém vem dos treinos e, depois da semana de ‘minifé-
rias’, voltamos ao trabalho normal. Claro que vamos ter
os jogadores nas selecções, tanto os que vão ao Europeu
como, provavelmente, eu na Copa América, mas penso
que [a paragem] não vai atrapalhar a boa fase que esta-
mos a viver porque faz parte do nosso dia‑a‑dia.
O Sporting CP venceu recentemente a Supertaça com
um triunfo sobre o SL Benfica por 7‑2. Para além de
amealhar um título e de vencer um dérbi, ainda mar-
cou dois golos. Foi uma noite perfeita?
Acho que foi perfeito por tudo isso que mencionou. Saí-
mos com um título. Estou muito feliz pela actuação e
pela superação. Vindo de lesão e a sentir ainda algum
desconforto onde me magoei, consegui ajudar com dois
golos. Deu tudo certo.
Para além desse título, que balanço faz de 2021?
É um balanço muito positivo. Conseguimos ser cam-
peões em tudo o que disputámos. A Supertaça vem
confirmar a nossa ambição por títulos. Não chega a
época perfeita que foi a passada. O pensamento de toda
a equipa é conseguirmos fazer ainda melhor.
Nesse sentido, como se medem essas expectativas de
tentar igualar e superar uma temporada brilhante?
Vamos tentando atingir objectivos individuais e colecti-
vos para chegarmos à consagração dos títulos, que são o
mais importante. Fizemos uma excelente época em to-
dos os cenários, tanto nacional como internacional. Es-
ta época também vai ser muito difícil, mas toda a gente
sabe a importância de continuar a vencer, conquistar
títulos e ter uma mente vencedora.
Saiu do Brasil já sendo um jogador feito de 31 anos
e um nome bem conhecido no futsal internacional.
Vinha de anos de sucesso no SC Corinthians. Foi a
altura certa para atravessar o Atlântico?
Sempre tive vontade de poder jogar num clube na Eu-
ropa, mas nunca me deram o devido valor que mere-
cia. Já tinha tido outras propostas para sair do Brasil,
mas não me agradavam e por isso ficava por lá. Quando
recebi a proposta do Sporting CP, foi num momento
em que eu e a minha família precisávamos de mudar
um pouco de ares pela recente perda que tínhamos
tido. Precisávamos de ver gente nova, de uma cultura
nova. A proposta calhou muito bem. Num país bom,
com uma língua fácil para nos adaptarmos e num clube
que me recebeu de braços abertos para desenvolver o
meu potencial. Aqui, não só desenvolvi o meu potencial
como também, com a ajuda de todo o staff, o melhorei.
No Brasil, era um atleta experiente e o Sporting CP per-
mitiu que eu desenvolvesse as minhas habilidades em
vez de ficar acomodado.
De que forma é que o Sporting CP o ajudou a ser um
atleta melhor?
Depois de construir a minha carreira no Brasil, po-
dia fazer qualquer coisa que as pessoas já sabiam o
meu potencial, já tinha demonstrado muito. Aqui, no
Sporting CP, tive de provar tudo do zero. Deram‑me
as oportunidades, as orientações, as cobranças e uma
mentalidade diferente da que tinha no Brasil. Princi-
palmente nos jogos, entre aspas, “mais fáceis”, em que
por vezes facilitamos. Aqui, aprendi a competir contra
mim mesmo para que me possa apresentar melhor co-
mo atleta em vez de me comparar aos outros jogado-
res, seja num desses jogos “mais fáceis”, num dérbi ou
numa Champions.
Está hoje, então, mais guarda‑redes e mais atleta do
que quando chegou ao Sporting CP em 2018?
Sim, muito mais atleta, muito mais confiante. Com um
compromisso maior. Sinto que a minha carreira evoluiu
muito depois de vir para cá.
Um dos seus pontos fortes é o jogo de pés e os guar-
da‑redes de futsal têm cada vez mais essa tendên-
cia. Sente‑se uma referência internacional enquanto
guarda‑redes moderno de futsal?
Desde o início da minha carreira que gosto de jogar
com os pés, o que trazia visibilidade porque eram visí-
veis as oportunidades criadas. Não só eu como também
o [Léo] Higuita ou o [Diego] Roncaglio, que faziam e
fazem muito isso. Tornou‑se um requisito obrigatório
para um guarda‑redes ser completo. Jogar bem com os
pés faz com que os restantes jogadores tenham muito
mais opções. Muitas vezes, eu jogo com os pés não só
para atacar a baliza, mas também para criar oportuni-
dades para o resto da equipa. Toda a gente já percebeu
que é muito importante [jogar bem com os pés]. O jogo
vai evoluindo. Há algum tempo eram só dois ou três a
fazer isso e hoje já são muitos. Até em Espanha, que tem
uma escola em que o guarda‑redes fica dentro da baliza,
algumas equipas já têm guarda‑redes que jogam muito
com os pés.
Por muito bom que seja entre os postes, um guarda-
‑redes moderno tem de saber jogar com os pés para
ser considerado de topo, então?
Tem de, no mínimo, saber fazer um passe e fazer uma
leitura do jogo para ajudar a equipa. É um requisito
obrigatório.
Marca muitos golos e, normalmente, golos especta-
culares fruto de remates fortes de longe. Qual é a sen-
sação de marcar um desses golos?
Não consigo descrever. Marcar um golo é uma expe-
riência muito prazerosa. Tenho muito prazer em defen-
der, mas ajudar com golos é indescritível. Ainda para
mais se for num dérbi ou num jogo importante em que
o golo faz a diferença. É algo maravilhoso, o que se pas-
sa naqueles segundos.
“Tenho muito prazer em defender, mas ajudar com golos é indescritível”, garantiu Guitta
“O pensamento de toda a equipa é
conseguirmos fazer ainda melhor [do
que 2020/2021]”
“OCluberecebeu‑medebraçosabertospara
desenvolveromeupotencial[em2018]”
“[Nuno Dias] não se cansa de
melhorar, de procurar a melhor
estratégia. Isso incentiva‑nos”
20- SPORTING 3853
Os seus colegas de posição são Gonçalo Portugal e
Bernardo Paçó. Gosta de trabalhar com eles?
É muito fácil trabalhar com eles. São duas pessoas ma-
ravilhosas para além de dois guarda‑redes muito bons.
Evoluíram muito desde que os conheço e é muito mais
fácil trabalhar com pessoas boas em quem podemos
confiar. O Gonçalo é um pouco mais jovem do que
eu, mas a experiência que tem fala por si só. Já decidiu
títulos para o Sporting CP e ajuda muito. O Bernardo
já está connosco há alguns anos e é um ‘puto’ que tem
um futuro brilhante. Tem muita facilidade em jogar
com os pés e também gosta de se aventurar na frente,
rematar à baliza e fazer golos. É um prazer conviver
com os dois.
E com a restante equipa? A imagem que passa é a de
um balneário muito saudável.
Todos nos damos bem. Tem de ser assim e todos o
entendem. Tudo o que é feito é em prol do sucesso da
equipa e nunca do sucesso individual. Com isso, torna-
‑se tudo mais fácil porque todos entendem o seu papel.
Nos últimos anos, cada vez mais jovens da formação
têm trabalhado com a equipa sénior. Como vê esta
estratégia que tantos frutos tem dado?
É muito satisfatório. Aprendo muito com eles e tento
passar o máximo de aprendizagem para os mais jovens,
assim como trocar experiência com os mais experien-
tes. No Mundial, claro que gostaria de ter estado na-
quela final contra Portugal, mas quando [os colegas de
equipa] foram campeões fiquei super feliz, de coração.
São atletas excelentes e pessoas também excelentes de
quem gosto muito. Fiquei muito feliz, também, pelo
Campeonato do Mundo que o Pany [Varela] fez. Com
o dos outros também, mas o Pany é um atleta que fez
tudo a pensar neste Mundial e colheu os frutos.
Já ganhou tudo e vários títulos até mais do que uma
vez, assim como a grande maioria dos seus compa-
nheiros de balneário, mas a equipa parece ter sem-
pre grande fome de títulos. Esse espírito está incu-
tido no grupo?
Passa muito pela competição interna de querermos
ser melhor do que aquilo que fomos no passado. O
Nuno Dias percebe muito disso e a ambição dele
transborda para toda a gente. Quando ganhamos
um título, esse título já passou para a história e já
estamos a pensar no próximo. Ele tem uma men-
talidade vencedora, é um treinador vencedor. Não
se cansa de melhorar, de procurar a melhor estra-
tégia. Isso incentiva‑nos. Quando cheguei, não ti-
nha tanto essa mentalidade e os jogadores que já
cá estavam tinham muito mais. Toda a gente pensa
da mesma forma, remamos para o mesmo lado. No
início, demorei um bocado a entender essa menta-
lidade porque estava a pensar muito na minha tare-
fa aqui, que era ganhar a UEFA [Futsal Champions
League]. Depois de ganharmos a UEFA, perdemos
o campeonato e parecia que o campeonato tinha
mais valor do que a UEFA. Com o passar dos anos,
fui percebendo que não é um título ou outro que
tem mais importância, é sempre o próximo que vai
ser jogado que é o mais importante. Demorei um
pouco a entender, mas hoje até já tenho essa meta
para mim mesmo. Quero ser melhor do que no úl-
timo treino, jogo ou competição.
Falou da final da UEFA Futsal Champions League
de 2018/2019, no Cazaquistão, contra o AFC Kairat,
tendo o Sporting CP vencido por 2‑1. O Guitta fez
uma exibição monstruosa e foi eleito o melhor em
campo. Foi o momento mais emocionante ao serviço
do Sporting CP?
Penso que sim. Foi a minha primeira Champions e
estava muito ansioso. Ainda não tinha sentido a fi-
nal de uma UEFA, foi tudo muito novo. Fiquei muito
feliz pelo resultado, por ter ajudado muito e por ter
desempenhado o meu papel muito bem. Foi o sufi-
ciente para concretizar o principal objectivo da mi-
nha vinda para o Sporting CP. O Sporting CP tinha
ido a várias finais e, quando vim para cá, vim com
esse pensamento. Era uma chance para eu conquistar
esse título, mas com a obrigação de ajudar o Sporting
CP a conquistá‑lo também.
Considera que a temporada 2020/2021 provou que o
Sporting CP é, neste momento, a melhor equipa do
Mundo?
A temporada foi impecável. Ganhámos tudo o que po-
díamos ganhar e penso que mais nenhuma equipa o
fez em 2020/2021. Este ano, continuamos com a mes-
ma mentalidade. Temos uma equipa completa com
bons valores em todas as posições. Por muitas equipas
boas que existam no Mundo, como conjunto a nossa
é a melhor.
Em 2018/2019, época de estreia no Sporting CP, Guitta foi eleito o melhor jogador da final da UEFA Futsal Champions League conquistada em casa do AFC
Kairat, no Cazaquistão
“Temos uma equipa completa com
bons valores em todas as posições.
Por muitas equipas boas que
existam no Mundo, como conjunto a
nossa é a melhor”
“Gostei de vir para cá no início e
aprendi a gostar mais ainda à medida
que fui vivendo aqui”
“Percebi que não é um título ou outro
que tem mais importância, é sempre
o próximo que vai ser jogado que é o
mais importante”
Guitta com o troféu da Liga 2020/2021
SPORTING 3853-21
Renovou a sua ligação ao Sporting CP em Maio
do ano passado, o que deixou os Sócios e adeptos
muito satisfeitos. O que o fez continuar de Leão ao
peito?
Gostei de vir para cá no início e aprendi a gostar
mais ainda à medida que fui vivendo aqui. O Spor-
ting CP deu‑me muito para além daquilo que vim
buscar, tanto a nível profissional como pessoal. Sin-
to‑me bem aqui, bem tratado. Tanto os adeptos como
o staff e os jogadores têm um sentimento de carinho
comigo e com a minha família. Neste momento, o
melhor para mim e para a minha família é ficar aqui.
Os adeptos ficaram felizes, mas eu também. Foi a
melhor decisão que podia ter tomado na minha vida
de atleta e na minha vida pessoal.
É um dos atletas das modalidades mais acarinhados
no universo verde e branco. Que mensagem tem para
os Sportinguistas?
Gostava de retribuir muito mais o carinho que eles têm
tido comigo. É muito difícil transmitir isso com todos os
adeptos que gostam de mim. Queria apenas que ficasse
registado que o carinho que eles têm por mim é recíproco.
Guitta com os colegas de posição Bernardo Paçó (esquerda) e Gonçalo Portugal (direita). “É muito fácil trabalhar com eles”, garantiu
“[Renovar] foi a melhor decisão que podia
ter tomado na minha vida de atleta e na
minha vida pessoal”
O guardião renovou a ligação ao Sporting CP em 2021

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  • 1. 18- SPORTING 3853 “O SPORTING CP DEU‑ME MUITO PARA ALÉM DAQUILO QUE VIM BUSCAR” ENTREVISTA GUITTA Considerado por muitos o melhor guarda‑redes do planeta, Guitta está na quarta temporada ao serviço da equipa de futsal do Sporting Clube de Portugal, tendo já conquistado tudo o que havia para conquistar tanto a nível doméstico como europeu. No final de Dezembro, com dois golos, ajudou os Leões a superarem o SL Benfica na luta pela Supertaça (7‑2) e, agora, concedeu uma entrevista ao Jornal Sporting. O internacional pela selecção brasileira ‑ por quem já venceu o Campeonato do Mundo em 2012 ‑, de 34 anos, falou sobre o passado e o presente, destacando várias vezes a forma como o emblema de Alvalade foi importante para o seu percurso. “Sinto que a minha carreira evoluiu muito depois de vir para cá”, revelou à publicação verde e branca. Texto: Luís Santos Castelo Fotografia: Isabel Silva, João Pedro Morais, José Lorvão
  • 2. SPORTING 3853-19 A competição vai ter agora um mês menos ocupado devido ao Campeonato da Europa de selecções. Esta paragem chega numa fase em que a equipa está numa excelente fase. Concorda? Sim, mas não acho que possa trabalhar. A boa fase tam- bém vem dos treinos e, depois da semana de ‘minifé- rias’, voltamos ao trabalho normal. Claro que vamos ter os jogadores nas selecções, tanto os que vão ao Europeu como, provavelmente, eu na Copa América, mas penso que [a paragem] não vai atrapalhar a boa fase que esta- mos a viver porque faz parte do nosso dia‑a‑dia. O Sporting CP venceu recentemente a Supertaça com um triunfo sobre o SL Benfica por 7‑2. Para além de amealhar um título e de vencer um dérbi, ainda mar- cou dois golos. Foi uma noite perfeita? Acho que foi perfeito por tudo isso que mencionou. Saí- mos com um título. Estou muito feliz pela actuação e pela superação. Vindo de lesão e a sentir ainda algum desconforto onde me magoei, consegui ajudar com dois golos. Deu tudo certo. Para além desse título, que balanço faz de 2021? É um balanço muito positivo. Conseguimos ser cam- peões em tudo o que disputámos. A Supertaça vem confirmar a nossa ambição por títulos. Não chega a época perfeita que foi a passada. O pensamento de toda a equipa é conseguirmos fazer ainda melhor. Nesse sentido, como se medem essas expectativas de tentar igualar e superar uma temporada brilhante? Vamos tentando atingir objectivos individuais e colecti- vos para chegarmos à consagração dos títulos, que são o mais importante. Fizemos uma excelente época em to- dos os cenários, tanto nacional como internacional. Es- ta época também vai ser muito difícil, mas toda a gente sabe a importância de continuar a vencer, conquistar títulos e ter uma mente vencedora. Saiu do Brasil já sendo um jogador feito de 31 anos e um nome bem conhecido no futsal internacional. Vinha de anos de sucesso no SC Corinthians. Foi a altura certa para atravessar o Atlântico? Sempre tive vontade de poder jogar num clube na Eu- ropa, mas nunca me deram o devido valor que mere- cia. Já tinha tido outras propostas para sair do Brasil, mas não me agradavam e por isso ficava por lá. Quando recebi a proposta do Sporting CP, foi num momento em que eu e a minha família precisávamos de mudar um pouco de ares pela recente perda que tínhamos tido. Precisávamos de ver gente nova, de uma cultura nova. A proposta calhou muito bem. Num país bom, com uma língua fácil para nos adaptarmos e num clube que me recebeu de braços abertos para desenvolver o meu potencial. Aqui, não só desenvolvi o meu potencial como também, com a ajuda de todo o staff, o melhorei. No Brasil, era um atleta experiente e o Sporting CP per- mitiu que eu desenvolvesse as minhas habilidades em vez de ficar acomodado. De que forma é que o Sporting CP o ajudou a ser um atleta melhor? Depois de construir a minha carreira no Brasil, po- dia fazer qualquer coisa que as pessoas já sabiam o meu potencial, já tinha demonstrado muito. Aqui, no Sporting CP, tive de provar tudo do zero. Deram‑me as oportunidades, as orientações, as cobranças e uma mentalidade diferente da que tinha no Brasil. Princi- palmente nos jogos, entre aspas, “mais fáceis”, em que por vezes facilitamos. Aqui, aprendi a competir contra mim mesmo para que me possa apresentar melhor co- mo atleta em vez de me comparar aos outros jogado- res, seja num desses jogos “mais fáceis”, num dérbi ou numa Champions. Está hoje, então, mais guarda‑redes e mais atleta do que quando chegou ao Sporting CP em 2018? Sim, muito mais atleta, muito mais confiante. Com um compromisso maior. Sinto que a minha carreira evoluiu muito depois de vir para cá. Um dos seus pontos fortes é o jogo de pés e os guar- da‑redes de futsal têm cada vez mais essa tendên- cia. Sente‑se uma referência internacional enquanto guarda‑redes moderno de futsal? Desde o início da minha carreira que gosto de jogar com os pés, o que trazia visibilidade porque eram visí- veis as oportunidades criadas. Não só eu como também o [Léo] Higuita ou o [Diego] Roncaglio, que faziam e fazem muito isso. Tornou‑se um requisito obrigatório para um guarda‑redes ser completo. Jogar bem com os pés faz com que os restantes jogadores tenham muito mais opções. Muitas vezes, eu jogo com os pés não só para atacar a baliza, mas também para criar oportuni- dades para o resto da equipa. Toda a gente já percebeu que é muito importante [jogar bem com os pés]. O jogo vai evoluindo. Há algum tempo eram só dois ou três a fazer isso e hoje já são muitos. Até em Espanha, que tem uma escola em que o guarda‑redes fica dentro da baliza, algumas equipas já têm guarda‑redes que jogam muito com os pés. Por muito bom que seja entre os postes, um guarda- ‑redes moderno tem de saber jogar com os pés para ser considerado de topo, então? Tem de, no mínimo, saber fazer um passe e fazer uma leitura do jogo para ajudar a equipa. É um requisito obrigatório. Marca muitos golos e, normalmente, golos especta- culares fruto de remates fortes de longe. Qual é a sen- sação de marcar um desses golos? Não consigo descrever. Marcar um golo é uma expe- riência muito prazerosa. Tenho muito prazer em defen- der, mas ajudar com golos é indescritível. Ainda para mais se for num dérbi ou num jogo importante em que o golo faz a diferença. É algo maravilhoso, o que se pas- sa naqueles segundos. “Tenho muito prazer em defender, mas ajudar com golos é indescritível”, garantiu Guitta “O pensamento de toda a equipa é conseguirmos fazer ainda melhor [do que 2020/2021]” “OCluberecebeu‑medebraçosabertospara desenvolveromeupotencial[em2018]” “[Nuno Dias] não se cansa de melhorar, de procurar a melhor estratégia. Isso incentiva‑nos”
  • 3. 20- SPORTING 3853 Os seus colegas de posição são Gonçalo Portugal e Bernardo Paçó. Gosta de trabalhar com eles? É muito fácil trabalhar com eles. São duas pessoas ma- ravilhosas para além de dois guarda‑redes muito bons. Evoluíram muito desde que os conheço e é muito mais fácil trabalhar com pessoas boas em quem podemos confiar. O Gonçalo é um pouco mais jovem do que eu, mas a experiência que tem fala por si só. Já decidiu títulos para o Sporting CP e ajuda muito. O Bernardo já está connosco há alguns anos e é um ‘puto’ que tem um futuro brilhante. Tem muita facilidade em jogar com os pés e também gosta de se aventurar na frente, rematar à baliza e fazer golos. É um prazer conviver com os dois. E com a restante equipa? A imagem que passa é a de um balneário muito saudável. Todos nos damos bem. Tem de ser assim e todos o entendem. Tudo o que é feito é em prol do sucesso da equipa e nunca do sucesso individual. Com isso, torna- ‑se tudo mais fácil porque todos entendem o seu papel. Nos últimos anos, cada vez mais jovens da formação têm trabalhado com a equipa sénior. Como vê esta estratégia que tantos frutos tem dado? É muito satisfatório. Aprendo muito com eles e tento passar o máximo de aprendizagem para os mais jovens, assim como trocar experiência com os mais experien- tes. No Mundial, claro que gostaria de ter estado na- quela final contra Portugal, mas quando [os colegas de equipa] foram campeões fiquei super feliz, de coração. São atletas excelentes e pessoas também excelentes de quem gosto muito. Fiquei muito feliz, também, pelo Campeonato do Mundo que o Pany [Varela] fez. Com o dos outros também, mas o Pany é um atleta que fez tudo a pensar neste Mundial e colheu os frutos. Já ganhou tudo e vários títulos até mais do que uma vez, assim como a grande maioria dos seus compa- nheiros de balneário, mas a equipa parece ter sem- pre grande fome de títulos. Esse espírito está incu- tido no grupo? Passa muito pela competição interna de querermos ser melhor do que aquilo que fomos no passado. O Nuno Dias percebe muito disso e a ambição dele transborda para toda a gente. Quando ganhamos um título, esse título já passou para a história e já estamos a pensar no próximo. Ele tem uma men- talidade vencedora, é um treinador vencedor. Não se cansa de melhorar, de procurar a melhor estra- tégia. Isso incentiva‑nos. Quando cheguei, não ti- nha tanto essa mentalidade e os jogadores que já cá estavam tinham muito mais. Toda a gente pensa da mesma forma, remamos para o mesmo lado. No início, demorei um bocado a entender essa menta- lidade porque estava a pensar muito na minha tare- fa aqui, que era ganhar a UEFA [Futsal Champions League]. Depois de ganharmos a UEFA, perdemos o campeonato e parecia que o campeonato tinha mais valor do que a UEFA. Com o passar dos anos, fui percebendo que não é um título ou outro que tem mais importância, é sempre o próximo que vai ser jogado que é o mais importante. Demorei um pouco a entender, mas hoje até já tenho essa meta para mim mesmo. Quero ser melhor do que no úl- timo treino, jogo ou competição. Falou da final da UEFA Futsal Champions League de 2018/2019, no Cazaquistão, contra o AFC Kairat, tendo o Sporting CP vencido por 2‑1. O Guitta fez uma exibição monstruosa e foi eleito o melhor em campo. Foi o momento mais emocionante ao serviço do Sporting CP? Penso que sim. Foi a minha primeira Champions e estava muito ansioso. Ainda não tinha sentido a fi- nal de uma UEFA, foi tudo muito novo. Fiquei muito feliz pelo resultado, por ter ajudado muito e por ter desempenhado o meu papel muito bem. Foi o sufi- ciente para concretizar o principal objectivo da mi- nha vinda para o Sporting CP. O Sporting CP tinha ido a várias finais e, quando vim para cá, vim com esse pensamento. Era uma chance para eu conquistar esse título, mas com a obrigação de ajudar o Sporting CP a conquistá‑lo também. Considera que a temporada 2020/2021 provou que o Sporting CP é, neste momento, a melhor equipa do Mundo? A temporada foi impecável. Ganhámos tudo o que po- díamos ganhar e penso que mais nenhuma equipa o fez em 2020/2021. Este ano, continuamos com a mes- ma mentalidade. Temos uma equipa completa com bons valores em todas as posições. Por muitas equipas boas que existam no Mundo, como conjunto a nossa é a melhor. Em 2018/2019, época de estreia no Sporting CP, Guitta foi eleito o melhor jogador da final da UEFA Futsal Champions League conquistada em casa do AFC Kairat, no Cazaquistão “Temos uma equipa completa com bons valores em todas as posições. Por muitas equipas boas que existam no Mundo, como conjunto a nossa é a melhor” “Gostei de vir para cá no início e aprendi a gostar mais ainda à medida que fui vivendo aqui” “Percebi que não é um título ou outro que tem mais importância, é sempre o próximo que vai ser jogado que é o mais importante” Guitta com o troféu da Liga 2020/2021
  • 4. SPORTING 3853-21 Renovou a sua ligação ao Sporting CP em Maio do ano passado, o que deixou os Sócios e adeptos muito satisfeitos. O que o fez continuar de Leão ao peito? Gostei de vir para cá no início e aprendi a gostar mais ainda à medida que fui vivendo aqui. O Spor- ting CP deu‑me muito para além daquilo que vim buscar, tanto a nível profissional como pessoal. Sin- to‑me bem aqui, bem tratado. Tanto os adeptos como o staff e os jogadores têm um sentimento de carinho comigo e com a minha família. Neste momento, o melhor para mim e para a minha família é ficar aqui. Os adeptos ficaram felizes, mas eu também. Foi a melhor decisão que podia ter tomado na minha vida de atleta e na minha vida pessoal. É um dos atletas das modalidades mais acarinhados no universo verde e branco. Que mensagem tem para os Sportinguistas? Gostava de retribuir muito mais o carinho que eles têm tido comigo. É muito difícil transmitir isso com todos os adeptos que gostam de mim. Queria apenas que ficasse registado que o carinho que eles têm por mim é recíproco. Guitta com os colegas de posição Bernardo Paçó (esquerda) e Gonçalo Portugal (direita). “É muito fácil trabalhar com eles”, garantiu “[Renovar] foi a melhor decisão que podia ter tomado na minha vida de atleta e na minha vida pessoal” O guardião renovou a ligação ao Sporting CP em 2021