Catarina, Miguel e Leonaldo são técnicos de apoio às modalidades do Sporting CP que garantem o bom funcionamento dos treinos e jogos no Pavilhão João Rocha. Suas tarefas incluem montar e desmontar equipamentos para andebol, basquetebol, futsal, hóquei em patins e voleibol. Apesar de trabalhosos, eles se orgulham de contribuir para o sucesso do clube.
2. 14- SPORTING 3807
Os Sócios e adeptos do
Sporting Clube de Portugal
estão habituados a ver craques
na quadra do Pavilhão João
Rocha, sejam eles do andebol,
do basquetebol, do futsal,
do hóquei em patins ou do
voleibol. No banco de suplentes
costumam estar treinadores de
excelência a nível nacional e,
em alguns casos, internacional.
São eles que, de uma maneira
ou outra, levam espectadores às
bancadas e colam Sportinguistas
às televisões. Contudo, nada
disso seria possível sem o
trabalho diário, nos treinos e
nos jogos, de três verdadeiros
Leões que não têm qualquer
tipo de protagonismo. Catarina,
Leonaldo e Miguel, três jovens
ainda na casa dos ‘vintes’,
são os técnicos de apoio às
modalidades que asseguram as
alterações necessárias para que
cada equipa possa trabalhar sem
essa preocupação.
Montar o cesto, retirar a rede,
trocar as balizas ou levantar as
tabelas são algumas das tarefas
dos três funcionários Leoninos
que prestam apoio em tudo o
que é preciso para garantir o
máximo profissionalismo das
equipas. No meio de um horário
preenchido, Catarina, Leonaldo
e Miguel conseguiram encontrar
tempo para uma conversa com
o Jornal Sporting e explicaram
o que fazem, como chegaram
ao emblema de Alvalade
e revelaram os momentos
mais curiosos que vivem no
Pavilhão João Rocha. Apesar
das histórias de vida diferentes,
os três concordam num ponto:
o Esforço, a Dedicação e a
Devoção que colocam no
trabalho imprescindível que
têm valem a pena porque são
contributos directos para a
Glória Sportinguista.
“É UM ‘MONTA’ E
‘DESMONTA’ CONSTANTE”
As tarefas a desempenhar são
semelhantes todos os dias:
duras, mas recompensadoras.
“Trabalho bastante, mas acabo
por não sentir muito cansaço
porque dá‑me gosto trabalhar
no Sporting CP. É um orgulho
e acabo por não sair cansado”.
Quem o diz é Miguel Coelho,
de 24 anos, que continuou
em conversa com o Jornal
Sporting. “Fazemos a montagem
dos treinos, a troca de jogos,
colocamos publicidades”,
explicou, de forma resumida.
“É um ‘monta’ e ‘desmonta’
constante com actividade com
os jogadores. É um dia feliz.
Vir aqui é bom”, complementou
Catarina Gregório, de 25 anos.
Para Leonaldo Santana, de 22
anos e natural de São Tomé
e Príncipe, “não fazia ideia”
de que existia este tipo de
trabalho. “Pensava que a tabela
do basquetebol, por exemplo,
ficava sempre montada. Achava
que era só chegar e treinar ou
jogar”, admitiu.
Os três são os técnicos de
apoio às modalidades que
permitem a utilização diária
do Pavilhão João Rocha por
parte das equipas de andebol,
basquetebol, futsal, hóquei
em patins e voleibol. Todos
Sportinguistas – ainda que
Catarina Gregório tenha
sido ‘puxada’ para outro lado
em criança, mas conseguiu
resistir – e todos com noção
da importância que têm para
o dia‑a‑dia de trabalho na casa
das modalidades. “Noutros
clubes há atletas a montar o
CATARINA, LEONALDO E MIGUEL SÃO OS TÉCNICOS DE APOIO ÀS MODALIDADES QUE GARANTEM O BOM
FUNCIONAMENTO DAS EQUIPAS QUE TRABALHAM TODOS OS DIAS NO PAVILHÃO JOÃO ROCHA.
CLUBE COLABORADORES
OS ESSENCIAIS NOS BASTIDORES
Texto: Luís Santos Castelo
Fotografia: Pedro Zenkl
Catarina, Miguel e Leonaldo no Pavilhão João Rocha, onde estão todos os dias
3. SPORTING 3807-15
próprio treino, mas nós estamos
aqui para que eles tenham o
foco sem perder tempo com
montar, desmontar e ver se
a cadeira está no sítio certo.
Isso não é o trabalho deles, é
o nosso”, começou por referir
Catarina Gregório, sendo que
todos destacam esse ponto: a
missão é ajudar. Ajudar atletas,
ajudar equipas, ajudar secções.
No fundo, ajudar o Sporting CP.
“Tenho noção da importância
do nosso trabalho. É graças
a nós que são realizadas
actividades no pavilhão.
Damos apoio. (...) Estamos
aqui para isso, para ajudar
as equipas no que elas
precisarem. Estamos cá para
ajudar”, disse, nesse sentido,
Leonaldo Santana. “A cada dia
que passa tenho mais noção
da importância que tenho
no Sporting CP. Por vezes
não temos essa percepção,
mas quando estamos na
montagem dos treinos e
dos jogos dá para perceber”,
acrescentou Miguel Coelho.
Mas falemos das tarefas mais
específicas. De uma forma
geral, os três concordam que
o basquetebol é a modalidade
mais “exigente e complicada”,
seguida do hóquei em
patins. No caso da primeira,
“o material, por vezes, não
colabora”, como explicou
Miguel Coelho. “O tempo lá
em cima [o temporizador dos
24 segundos por cima das
tabelas], como depende de
um sistema informático, às
vezes não responde aos nossos
desejos e torna‑se complicado”
No hóquei, por outro lado,
“a parte de montar as tabelas
também é mais demorada
e física”. Catarina Gregório
continuou dizendo que “para
montar as tabelas do hóquei
em patins é preciso agilizar
todo um processo para que
elas levantem automaticamente
e para que o sistema esteja
a funcionar correctamente”.
“Tudo para que não haja
nenhum problema”, proferiu
ainda. Para Leonaldo Santana,
o que está nestas funções há
menos tempo, os primeiros
tempos foram desafiantes, mas
agora já domina o trabalho.
“No início, achava difícil. Mas
agora, com o apoio dos meus
colegas, tornou‑se fácil. Já estou
à vontade e consigo fazer isto
sozinho”, revelou.
As diferenças técnicas de um dia
de treinos para um dia de jogos
acabam por não ser muitas,
mas existem outros desafios. A
pressão, os horários e as normas
federativas a seguir para cada
modalidade. Em caso de jogo
europeu tudo se acentua, pois
os organismos que gerem as
modalidades a nível continental
têm regras bem mais rígidas.
Ainda assim, para Catarina
Gregório, há dias de trabalho de
treinos que acabam por ser mais
difíceis: “O dia de treino, por
vezes, é muito mais complicado.
No dia de jogo, o mais difícil é
o espaço que temos quando os
jogos acabam. Um jogo pode
estar previsto para ter a duração
de uma hora e meia, mas pode
demorar três. Nunca sabemos
e isso é que dificulta o processo
de montagem e desmontagem”.
E, em tempos pré‑pandemia
de COVID‑19, como era lidar
com a pressão do público? “Eu
desligo completamente. Não
vejo nem ouço ninguém. Só
estou a pensar em ser rápida na
montagem do campo”, adicionou
Catarina Gregório, enquanto
Leonaldo Santana também se
mostrou intocável nesse sentido.
“Não sinto [a pressão]. Em
São Tomé estava habituado ao
público porque era jogador [de
futebol] e tinha muitos adeptos.
Não me faz diferença, estou à
vontade”, prometeu.
Talvez mais importante do
que tudo o resto para que
o trabalho corra da melhor
forma é a comunicação e a
boa relação entre os três. Isso,
garantem ao Jornal Sporting,
está de boa saúde. “Falamos
uns com os outros para que
não haja nenhuma falha. Lá
fora, temos uma relação de
amizade”, afirmou Miguel
APOIAR O SPORTING CP, ESTUDAR NO SPORTING CP
E TRABALHAR NO SPORTING CP
Catarina Gregório e Miguel Coelho são, como já foi expli-
cado nesta reportagem, adeptos e funcionários do Sporting
CP. Mas há mais: foram também estudantes no Sporting CP.
Ambos frequentaram, em conjunto, um dos cursos de técnico
de apoio à gestão desportiva que o emblema de Alvalade pro-
moveu em parceria com o Instituto do Emprego e Formação
Profissional (IEFP) e deram seguimento às suas vidas e carrei-
ras de verde e branco.
“Há cerca de seis anos comecei o meu curso no Sporting CP.
Frequentei o curso durante três anos e no final fui trabalhar
para outro sítio. Depois acabaram por me chamar para o Spor-
ting CP e estou aqui há cerca de um ano e meio, desde 2019”,
explicou Miguel Coelho, enquanto Catarina Gregório admitiu
que o objectivo foi sempre continuar no Sporting CP.
“Quando começámos o curso, em 2015, a minha intenção era
ficar no Sporting CP. Fiz o curso todo a pensar no trabalho
final que me desse tudo para ficar no Sporting CP e quando
me chamaram foi a concretização. (…) Acabei o curso, fui
para a faculdade e, passado um mês, estavam a chamar‑me
para vir para o Pavilhão João Rocha”, revelou, continuando:
“Vim ao Pavilhão João Rocha duas semanas antes de me cha-
marem, é curioso. Nunca tinha vindo porque prestava muito
mais atenção ao futebol. Jogava futebol e queria era ir para
a Academia. Depois, vim cá ver um jogo de andebol, acho,
e passado uma ou duas semanas o João [Alves, da secção de
hóquei em patins] liga‑me e diz‑me que precisa de mim. Per-
guntou‑me se podia vir e eu disse que para o Sporting CP
estava sempre disponível”.
De acordo com Miguel Coelho, “ter frequentado o curso aju-
dou bastante”. “Foi um curso muito prático, assim como o es-
tágio. Deu‑me capacidades que aproveito no meu trabalho.
O curso decorreu nas antigas instalações do Jornal Sporting e
foi uma grande oportunidade para mim. Acho que também
foi benéfico para o Sporting CP”, considerou, tendo Catarina
Gregório elogiado também o estágio. “Estivemos integrados
mesmo na estrutura Sporting CP. Todos os estágios foram fei-
tos no Clube”, afirmou.
Assim, ter feito todo este percurso em Alvalade é algo que
deixa Miguel Coelho, que até foi atleta Leonino, de coração
cheio. “É um orgulho imenso. Fui nadador do Sporting CP e
estou ligado ao Clube desde sempre. Já joguei futebol, nadei e
estudei pelo Sporting CP e estar aqui a trabalhar é um orgu-
lho enorme”, acrescentou.
Catarina Gregório, 25 anos
Miguel Coelho, 24 anos
>>
4. 16- SPORTING 3807
Coelho, tendo o apoio dos
colegas. “A nossa relação é uma
relação boa. Estamos sempre a
conversar uns com os outros e
a explicar como funcionam as
coisas. Eles explicam‑me como
funcionam as coisas que eu
não sei”, acrescentou Leonaldo
Santana, enquanto Catarina
Gregório explicou que é preciso
“boa comunicação, organização
e saber o que cada um está a
pensar para reagir como um só”.
Inevitavelmente, acabam
também por criar relação
com atletas, equipas técnicas,
dirigentes e todos aqueles
que frequentam o Pavilhão
João Rocha diariamente. Para
Leonaldo Santana, as equipas
de futsal e basquetebol são as
mais marcantes e até revelou
nomes. “Tenho uma boa relação
com quase todos os jogadores
do futsal. Estamos sempre
a brincar, a provocar um ou
outro. No basquetebol, gosto
muito do Travante [Williams],
do [James] Ellisor, do Jeremias
[Manjate], do Jorge [Embaló],
do [Francisco] Amiel, do
Diogo [Ventura]... Tenho uma
boa relação com os jogadores.
Todos gostam de mim e é tudo
tranquilo”, admitiu. Miguel
Coelho considera que ter esta
proximidade com atletas de
alto nível “também torna este
trabalho diferente”. “Interagimos
com eles, que precisam da nossa
ajuda. É para isso que estamos
aqui”, lembrou, escolhendo
três jogadores como aqueles
com quem mais se dá. “O
guarda‑redes de hóquei em
patins Zé Diogo [zona de
Alenquer] é da minha terra e
temos uma interacção diferente
um com o outro. Com o James
Ellisor, do basquetebol, também.
O Travante Williams é uma
pessoa muito divertida. Mas
todos nos dão alegria”, garantiu.
Para Catarina Gregório, há duas
equipas especiais para si. “Os
que mais me marcam desde
sempre são os do hóquei. Foram
os primeiros com quem eu lidei.
Os do basquetebol também são
muito divertidos. Há momentos
engraçados”, frisou.
Questionados sobre os
momentos mais marcantes,
todos escolheram dias
diferentes. Para Catarina
Gregório, foi a vez em que
ajudou a organizar uma
final four da Liga Europeia
de hóquei em patins, em
2018/2019, mesmo estando
com problemas físico na altura.
“Fiquei de muletas antes de
uma competição europeia
muito importante para nós.
Na altura, éramos só dois e foi
muito complicado agilizar o
processo de montagem. Parecia
impossível. Eu tinha de estar
um mês e meio com o pé no ar
e em duas ou três semanas pus
o pé no chão porque naquele
dia tinha de ser. Tinha de
montar o campo e tínhamos
de levantar aquela taça da Liga
Europeia de hóquei em patins”,
contou. Miguel Coelho também
guardou na memória uma
conquista europeia de hóquei
em patins, mas desta feita
tratou‑se da Taça Continental.
“O melhor momento foi quando
ganhámos a Taça Continental
de hóquei em patins. Para mim,
foi o momento mais marcante
desde que trabalho aqui”, referiu.
Leonaldo Santana, por outro
lado, escolheu uma competição
‘caseira’: “O momento mais
alto desde que estou aqui foi
o Troféu Stromp [em 2020].
(...) Não esperava, tão cedo,
preparar jogos de torneios com
títulos. Fiquei emocionado.
Não esperava contribuir para a
organização do Troféu Stromp.
Fiquei surpreendido por me
darem essa tarefa”.
No final, o Jornal Sporting fez
a mesma pergunta aos três:
vale a pena o duro trabalho
diário, mesmo quando as
contrariedades existem? As
respostas foram rápidas e não
deixaram espaço para dúvidas.
“Vale a pena o esforço que
eu faço. É o melhor para o
Clube. (...) Estou feliz por estar
no Sporting CP. Estou grato
por estar aqui e vou sempre
fazer parte do Sporting CP. A
trabalhar ao lado dos jogadores
e das pessoas maravilhosas
que estão cá”, disse Leonaldo
Santana. “Ao fim do dia, sim,
sem dúvida”, frisou Miguel
Coelho. “Vale a pena. Quando
a taça é levantada ao ar, tudo
vale a pena”, concluiu Catarina
Gregório. Haverá melhor
representação do lema Esforço,
Dedicação, Devoção e Glória do
que esta? Achamos que não.
UM CRAQUE NA LINHA DO EQUADOR
Em São Tomé e Príncipe, de onde saiu há cerca de dois anos,
Leonaldo Santana era jogador de futebol no GD Cruz Verme-
lha, emblema da cidade são‑tomense de Almeirim. E dos bons.
“Era polivalente. Por vezes era guarda‑redes, outras era pon-
ta‑de‑lança e até médio. (...) Em 2014 fui chamado à selecção
de sub‑17 para participar num evento em Angola. Senti o
orgulho de poder representar o meu país. No regresso a São
Tomé fui chamado à equipa principal do meu clube como
guarda‑redes. Joguei três anos como guarda‑redes e depois
decidi jogar a ponta‑de‑lança. Acreditei em mim e consegui.
Era o segundo melhor marcador da minha equipa e terminei
o campeonato com sete golos, atrás do meu colega”, referiu o
funcionário Sportinguista, continuando.
“Era o mais novo do campeonato. Quando íamos jogar fora,
os adversários diziam que eu era muito novo para estar na ba-
liza. Subestimavam‑me, mas quando começavam o jogo viam
que estavam enganados. Eu tinha capacidade para a minha
função”, disse.
No Sporting CP desde Julho do ano passado, Leonaldo San-
tana explicou ainda como chegou ao Pavilhão João Rocha e
a Portugal. “Esta oportunidade surgiu através da associação
CEPAC [Centro Padre Alves Correia], de apoio ao imigrante.
Precisava de apoio e eles ajudaram‑me com a formação. Esta-
giei aqui no Sporting CP durante três meses. Depois surgiu a
pandemia e, já depois de ter estado em casa [em confinamen-
to], voltaram a chamar‑me”, considerou.
“Acompanhava os jogos do Sporting CP pela televisão e não
imaginava que ia fazer parte do Clube por dentro. Não fazia
ideia de que ia chegar a este patamar. O meu objectivo era vir
para Portugal e ser jogador profissional de futebol, mas agar-
rei esta oportunidade do Sporting CP para estar mais perto
dos jogadores. Não são jogadores de futebol, mas gosto de
outras modalidades”, afirmou ainda.
Leonaldo Santana não voltou ao seu país desde que saiu para
Portugal pela primeira vez. Por isso mesmo, sente falta de ca-
sa: “Tenho saudades de São Tomé. Tenho planos para voltar lá
em visita. Estou fora do meu país há dois anos e esta é a minha
primeira vez na Europa”.
Leonaldo Santana, 22 anos
Trabalho não pára: todos os dias, os três funcionários mudam balizas, redes, tabelas, linhas e muito mais
>>
5. SPORTING 3807-17
A frase do título é de
Helena Santos, conhecida
carinhosamente por ‘Lena’.
Aos 46 anos, é funcionária da
lavandaria do Sporting Clube
de Portugal. Por ela passam,
todos os dias, os equipamentos
de treino e de jogo dos atletas
profissionais das modalidades.
Helena Santos é também
uma Sportinguista ferrenha,
assim como o marido, Nuno
Silva. Com 43 anos, está
também ele todos os dias em
Alvalade, tanto na secção da
manutenção como da limpeza.
O casal de Leões é mais uma
das partes que faz andar o
emblema verde e branco, ainda
que não aos olhos de todos.
Anteriormente na limpeza,
Helena Santos ‘mudou‑se’ para
a lavandaria no início de 2020.
Ao Jornal Sporting, descreveu
o seu trabalho. “Todos os
dias recebemos as roupas
das modalidades e tentamos
conciliar com os treinos. Temos
os mapas [de treinos] e vamos
organizando as coisas de forma
a que todos tenham roupa a
tempo e horas”, disse, contando
ainda que costuma entrar para
o trabalho às 6h30 da manhã.
“A partir das 7h00 ou 7h30
começam a entrar os roupeiros
das modalidades para nos
deixarem a roupa”, explicou.
Já Nuno Silva, que tanto faz
limpeza como manutenção e
que está no Sporting CP há
cerca de dois anos, revelou que
é um ‘faz‑tudo’. “Tudo o que se
estraga, estou lá para arranjar.
Sempre a ajudar quem precisa.
(…) Faço tudo. Era um
trabalho que eu queria. Gosto
muito de obras. Tudo o que
meta manutenção e arranjos,
gosto”, admitiu, continuando:
“O dia normal de trabalho
começa às 8h00 e recebo a
folha de serviço com o que
é preciso fazer. Começamos
pelo mais urgente e depois
vamos gerindo o trabalho
diário. Arranjar cadeiras,
arranjar portas, molas, no
Pavilhão, no Multidesportivo,
nas piscinas… Fazemos tudo
e andamos por todo o lado”. À
hora de almoço, Helena Santos
e Nuno Silva aproveitam para
passar algum tempo juntos,
juntando‑se a outros colegas.
O trabalho, claro, tem alguns
desafios e ‘Lena’ não esconde
que “é um bocadinho duro”,
mas assegurou “que se faz
bem”, até porque há muito
Sportinguismo incluído.
“Tenho noção de que o
trabalho da lavandaria é
mesmo muito importante
para as modalidades. (...)
Fazemos com gosto e acaba
sempre por correr tudo bem.
Vale a pena todo o esforço
que fazemos aqui porque eu
amo este Clube. Neste Clube,
vale sempre tudo a pena”,
afirmou Helena Santos, que
exibe ainda com orgulho,
no seu local de trabalho,
camisolas assinadas pelos
plantéis de basquetebol e de
voleibol, garantindo também
que as camisolas das restantes
modalidades estão a caminho.
O andebol acaba por ser,
para Helena Santos, a
modalidade mais trabalhosa
devido à resina utilizada
pelos jogadores nas mãos
antes dos treinos e dos
jogos. Inevitavelmente, essa
substância deixa marcas nos
equipamentos, principalmente
porque o andebol é um
desporto de contacto, e a
lavandaria tem trabalho extra
com a modalidade. “Temos de
colocar supergel a seguir para
tirar a resina. Temos cuidado
com todas as modalidades,
mas com o andebol um pouco
mais”, admitiu. Já para Nuno
Silva, o hóquei em patins é
quem merece mais atenção
na altura da limpeza do piso
do Pavilhão João Rocha. “O
hóquei é a modalidade que
exige mais limpeza do piso.
Eles andam em patins e se o
piso não estiver bem limpo
eles não conseguem patinar e
vão ter problemas”, explicou.
Desde que trabalham no
Sporting CP, tanto Helena
Santos como Nuno Silva
viveram de perto alguns
momentos icónicos que
consideram mesmo terem
sido “dos melhores dias” das
suas vidas. “Para mim, todos
os dias aqui são bons. Vivo
todos como se fossem um.
Mas lembro‑me, por exemplo,
quando o Sporting CP foi
campeão em hóquei e em
futsal. Estava lá e foram dos
melhores dias da minha vida.
(…) Amo este Clube. Sou do
Sporting CP desde que me
lembro de ser gente”, reforçou
Helena Santos, seguida de
Nuno Silva: “Desde que cá
estou já tive vários grandes
momentos. Fiz a festa
após a conquista da UEFA
Futsal Champions League, a
conquista da Liga Europeia
de hóquei em patins. É bonito
de ver, ainda para mais com
o pavilhão cheio. Quando
está cheio, são os momentos
mais bonitos”. Para o Leão, a
equipa de hóquei em patins
acaba mesmo por ser a mais
marcante. “Dou‑me bem com
todos os jogadores e com o
staff do hóquei. Lido com eles
todos os dias e tratam‑me de
igual para igual. Não é por
ser da manutenção que me
tratam de forma diferente.
Dou‑me bem com eles no
balneário, falo com eles todos.
É como se fosse uma família,
mesmo”, considerou.
Para ambos, serem
funcionários do Sporting CP
é uma felicidade tremenda.
Afinal, os corações são verdes
e brancos e, por isso, há um
orgulho adicional quando
se contribui para o dia‑a‑dia
da instituição que se ama.
“[Trabalhar no Sporting CP]
significa muito. É o meu
Clube do coração. Amo este
Clube. (…) Já frequentava
o Estádio José Alvalade
porque vinha ver os jogos”,
frisou Helena Santos, com o
companheiro a corroborar.
“É um grande orgulho e uma
oportunidade de trabalho
a longo prazo, apesar de
muita gente pensar que é
apenas uma passagem. (...)
[O esforço] vale sempre a
pena. Se não valesse não
estava cá. O amor ao Clube
vai crescendo de dia para dia
e é sempre enorme”, lembrou
Nuno Silva.
HELENA SANTOS E NUNO SILVA SÃO CASADOS E TRABALHAM AMBOS NO SPORTING CP. ELA NA LAVANDARIA E ELE NA MANUTENÇÃO E LIMPEZA,
SÃO OUTRAS DAS PARTES INVISÍVEIS, MAS ESSENCIAIS PARA O FUNCIONAMENTO DO CLUBE.
“VALEAPENAOESFORÇOPORQUEAMOESTECLUBE”
Texto: Luís Santos Castelo
Fotografia: José Lorvão, Pedro Zenkl
Helena Santos, 46 anos
Nuno Silva, 43 anos