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BACKSTAGE
SPORTING
FUNDADO
EM
31
MARÇO
1922
•
N.º
3807
•
QUINTA-FEIRA,
18
DE
FEVEREIRO
2021
•
SPORTING.PT
•
SEMANAL
•
ANO
99
•
1€
(IVA
INCLUÍDO)
•
DIRECTOR:
ANDRÉ
BERNARDO
O
MAIS
ANTIGO
JORNAL
DE
CLUBE
DO
MUNDO
14- SPORTING 3807
Os Sócios e adeptos do
Sporting Clube de Portugal
estão habituados a ver craques
na quadra do Pavilhão João
Rocha, sejam eles do andebol,
do basquetebol, do futsal,
do hóquei em patins ou do
voleibol. No banco de suplentes
costumam estar treinadores de
excelência a nível nacional e,
em alguns casos, internacional.
São eles que, de uma maneira
ou outra, levam espectadores às
bancadas e colam Sportinguistas
às televisões. Contudo, nada
disso seria possível sem o
trabalho diário, nos treinos e
nos jogos, de três verdadeiros
Leões que não têm qualquer
tipo de protagonismo. Catarina,
Leonaldo e Miguel, três jovens
ainda na casa dos ‘vintes’,
são os técnicos de apoio às
modalidades que asseguram as
alterações necessárias para que
cada equipa possa trabalhar sem
essa preocupação.
Montar o cesto, retirar a rede,
trocar as balizas ou levantar as
tabelas são algumas das tarefas
dos três funcionários Leoninos
que prestam apoio em tudo o
que é preciso para garantir o
máximo profissionalismo das
equipas. No meio de um horário
preenchido, Catarina, Leonaldo
e Miguel conseguiram encontrar
tempo para uma conversa com
o Jornal Sporting e explicaram
o que fazem, como chegaram
ao emblema de Alvalade
e revelaram os momentos
mais curiosos que vivem no
Pavilhão João Rocha. Apesar
das histórias de vida diferentes,
os três concordam num ponto:
o Esforço, a Dedicação e a
Devoção que colocam no
trabalho imprescindível que
têm valem a pena porque são
contributos directos para a
Glória Sportinguista.
“É UM ‘MONTA’ E
‘DESMONTA’ CONSTANTE”
As tarefas a desempenhar são
semelhantes todos os dias:
duras, mas recompensadoras.
“Trabalho bastante, mas acabo
por não sentir muito cansaço
porque dá‑me gosto trabalhar
no Sporting CP. É um orgulho
e acabo por não sair cansado”.
Quem o diz é Miguel Coelho,
de 24 anos, que continuou
em conversa com o Jornal
Sporting. “Fazemos a montagem
dos treinos, a troca de jogos,
colocamos publicidades”,
explicou, de forma resumida.
“É um ‘monta’ e ‘desmonta’
constante com actividade com
os jogadores. É um dia feliz.
Vir aqui é bom”, complementou
Catarina Gregório, de 25 anos.
Para Leonaldo Santana, de 22
anos e natural de São Tomé
e Príncipe, “não fazia ideia”
de que existia este tipo de
trabalho. “Pensava que a tabela
do basquetebol, por exemplo,
ficava sempre montada. Achava
que era só chegar e treinar ou
jogar”, admitiu.
Os três são os técnicos de
apoio às modalidades que
permitem a utilização diária
do Pavilhão João Rocha por
parte das equipas de andebol,
basquetebol, futsal, hóquei
em patins e voleibol. Todos
Sportinguistas – ainda que
Catarina Gregório tenha
sido ‘puxada’ para outro lado
em criança, mas conseguiu
resistir – e todos com noção
da importância que têm para
o dia‑a‑dia de trabalho na casa
das modalidades. “Noutros
clubes há atletas a montar o
CATARINA, LEONALDO E MIGUEL SÃO OS TÉCNICOS DE APOIO ÀS MODALIDADES QUE GARANTEM O BOM
FUNCIONAMENTO DAS EQUIPAS QUE TRABALHAM TODOS OS DIAS NO PAVILHÃO JOÃO ROCHA.
CLUBE COLABORADORES
OS ESSENCIAIS NOS BASTIDORES
Texto: Luís Santos Castelo
Fotografia: Pedro Zenkl
Catarina, Miguel e Leonaldo no Pavilhão João Rocha, onde estão todos os dias
SPORTING 3807-15
próprio treino, mas nós estamos
aqui para que eles tenham o
foco sem perder tempo com
montar, desmontar e ver se
a cadeira está no sítio certo.
Isso não é o trabalho deles, é
o nosso”, começou por referir
Catarina Gregório, sendo que
todos destacam esse ponto: a
missão é ajudar. Ajudar atletas,
ajudar equipas, ajudar secções.
No fundo, ajudar o Sporting CP.
“Tenho noção da importância
do nosso trabalho. É graças
a nós que são realizadas
actividades no pavilhão.
Damos apoio. (...) Estamos
aqui para isso, para ajudar
as equipas no que elas
precisarem. Estamos cá para
ajudar”, disse, nesse sentido,
Leonaldo Santana. “A cada dia
que passa tenho mais noção
da importância que tenho
no Sporting CP. Por vezes
não temos essa percepção,
mas quando estamos na
montagem dos treinos e
dos jogos dá para perceber”,
acrescentou Miguel Coelho.
Mas falemos das tarefas mais
específicas. De uma forma
geral, os três concordam que
o basquetebol é a modalidade
mais “exigente e complicada”,
seguida do hóquei em
patins. No caso da primeira,
“o material, por vezes, não
colabora”, como explicou
Miguel Coelho. “O tempo lá
em cima [o temporizador dos
24 segundos por cima das
tabelas], como depende de
um sistema informático, às
vezes não responde aos nossos
desejos e torna‑se complicado”
No hóquei, por outro lado,
“a parte de montar as tabelas
também é mais demorada
e física”. Catarina Gregório
continuou dizendo que “para
montar as tabelas do hóquei
em patins é preciso agilizar
todo um processo para que
elas levantem automaticamente
e para que o sistema esteja
a funcionar correctamente”.
“Tudo para que não haja
nenhum problema”, proferiu
ainda. Para Leonaldo Santana,
o que está nestas funções há
menos tempo, os primeiros
tempos foram desafiantes, mas
agora já domina o trabalho.
“No início, achava difícil. Mas
agora, com o apoio dos meus
colegas, tornou‑se fácil. Já estou
à vontade e consigo fazer isto
sozinho”, revelou.
As diferenças técnicas de um dia
de treinos para um dia de jogos
acabam por não ser muitas,
mas existem outros desafios. A
pressão, os horários e as normas
federativas a seguir para cada
modalidade. Em caso de jogo
europeu tudo se acentua, pois
os organismos que gerem as
modalidades a nível continental
têm regras bem mais rígidas.
Ainda assim, para Catarina
Gregório, há dias de trabalho de
treinos que acabam por ser mais
difíceis: “O dia de treino, por
vezes, é muito mais complicado.
No dia de jogo, o mais difícil é
o espaço que temos quando os
jogos acabam. Um jogo pode
estar previsto para ter a duração
de uma hora e meia, mas pode
demorar três. Nunca sabemos
e isso é que dificulta o processo
de montagem e desmontagem”.
E, em tempos pré‑pandemia
de COVID‑19, como era lidar
com a pressão do público? “Eu
desligo completamente. Não
vejo nem ouço ninguém. Só
estou a pensar em ser rápida na
montagem do campo”, adicionou
Catarina Gregório, enquanto
Leonaldo Santana também se
mostrou intocável nesse sentido.
“Não sinto [a pressão]. Em
São Tomé estava habituado ao
público porque era jogador [de
futebol] e tinha muitos adeptos.
Não me faz diferença, estou à
vontade”, prometeu.
Talvez mais importante do
que tudo o resto para que
o trabalho corra da melhor
forma é a comunicação e a
boa relação entre os três. Isso,
garantem ao Jornal Sporting,
está de boa saúde. “Falamos
uns com os outros para que
não haja nenhuma falha. Lá
fora, temos uma relação de
amizade”, afirmou Miguel
APOIAR O SPORTING CP, ESTUDAR NO SPORTING CP
E TRABALHAR NO SPORTING CP
Catarina Gregório e Miguel Coelho são, como já foi expli-
cado nesta reportagem, adeptos e funcionários do Sporting
CP. Mas há mais: foram também estudantes no Sporting CP.
Ambos frequentaram, em conjunto, um dos cursos de técnico
de apoio à gestão desportiva que o emblema de Alvalade pro-
moveu em parceria com o Instituto do Emprego e Formação
Profissional (IEFP) e deram seguimento às suas vidas e carrei-
ras de verde e branco.
“Há cerca de seis anos comecei o meu curso no Sporting CP.
Frequentei o curso durante três anos e no final fui trabalhar
para outro sítio. Depois acabaram por me chamar para o Spor-
ting CP e estou aqui há cerca de um ano e meio, desde 2019”,
explicou Miguel Coelho, enquanto Catarina Gregório admitiu
que o objectivo foi sempre continuar no Sporting CP.
“Quando começámos o curso, em 2015, a minha intenção era
ficar no Sporting CP. Fiz o curso todo a pensar no trabalho
final que me desse tudo para ficar no Sporting CP e quando
me chamaram foi a concretização. (…) Acabei o curso, fui
para a faculdade e, passado um mês, estavam a chamar‑me
para vir para o Pavilhão João Rocha”, revelou, continuando:
“Vim ao Pavilhão João Rocha duas semanas antes de me cha-
marem, é curioso. Nunca tinha vindo porque prestava muito
mais atenção ao futebol. Jogava futebol e queria era ir para
a Academia. Depois, vim cá ver um jogo de andebol, acho,
e passado uma ou duas semanas o João [Alves, da secção de
hóquei em patins] liga‑me e diz‑me que precisa de mim. Per-
guntou‑me se podia vir e eu disse que para o Sporting CP
estava sempre disponível”.
De acordo com Miguel Coelho, “ter frequentado o curso aju-
dou bastante”. “Foi um curso muito prático, assim como o es-
tágio. Deu‑me capacidades que aproveito no meu trabalho.
O curso decorreu nas antigas instalações do Jornal Sporting e
foi uma grande oportunidade para mim. Acho que também
foi benéfico para o Sporting CP”, considerou, tendo Catarina
Gregório elogiado também o estágio. “Estivemos integrados
mesmo na estrutura Sporting CP. Todos os estágios foram fei-
tos no Clube”, afirmou.
Assim, ter feito todo este percurso em Alvalade é algo que
deixa Miguel Coelho, que até foi atleta Leonino, de coração
cheio. “É um orgulho imenso. Fui nadador do Sporting CP e
estou ligado ao Clube desde sempre. Já joguei futebol, nadei e
estudei pelo Sporting CP e estar aqui a trabalhar é um orgu-
lho enorme”, acrescentou.
Catarina Gregório, 25 anos
Miguel Coelho, 24 anos
>>
16- SPORTING 3807
Coelho, tendo o apoio dos
colegas. “A nossa relação é uma
relação boa. Estamos sempre a
conversar uns com os outros e
a explicar como funcionam as
coisas. Eles explicam‑me como
funcionam as coisas que eu
não sei”, acrescentou Leonaldo
Santana, enquanto Catarina
Gregório explicou que é preciso
“boa comunicação, organização
e saber o que cada um está a
pensar para reagir como um só”.
Inevitavelmente, acabam
também por criar relação
com atletas, equipas técnicas,
dirigentes e todos aqueles
que frequentam o Pavilhão
João Rocha diariamente. Para
Leonaldo Santana, as equipas
de futsal e basquetebol são as
mais marcantes e até revelou
nomes. “Tenho uma boa relação
com quase todos os jogadores
do futsal. Estamos sempre
a brincar, a provocar um ou
outro. No basquetebol, gosto
muito do Travante [Williams],
do [James] Ellisor, do Jeremias
[Manjate], do Jorge [Embaló],
do [Francisco] Amiel, do
Diogo [Ventura]... Tenho uma
boa relação com os jogadores.
Todos gostam de mim e é tudo
tranquilo”, admitiu. Miguel
Coelho considera que ter esta
proximidade com atletas de
alto nível “também torna este
trabalho diferente”. “Interagimos
com eles, que precisam da nossa
ajuda. É para isso que estamos
aqui”, lembrou, escolhendo
três jogadores como aqueles
com quem mais se dá. “O
guarda‑redes de hóquei em
patins Zé Diogo [zona de
Alenquer] é da minha terra e
temos uma interacção diferente
um com o outro. Com o James
Ellisor, do basquetebol, também.
O Travante Williams é uma
pessoa muito divertida. Mas
todos nos dão alegria”, garantiu.
Para Catarina Gregório, há duas
equipas especiais para si. “Os
que mais me marcam desde
sempre são os do hóquei. Foram
os primeiros com quem eu lidei.
Os do basquetebol também são
muito divertidos. Há momentos
engraçados”, frisou.
Questionados sobre os
momentos mais marcantes,
todos escolheram dias
diferentes. Para Catarina
Gregório, foi a vez em que
ajudou a organizar uma
final four da Liga Europeia
de hóquei em patins, em
2018/2019, mesmo estando
com problemas físico na altura.
“Fiquei de muletas antes de
uma competição europeia
muito importante para nós.
Na altura, éramos só dois e foi
muito complicado agilizar o
processo de montagem. Parecia
impossível. Eu tinha de estar
um mês e meio com o pé no ar
e em duas ou três semanas pus
o pé no chão porque naquele
dia tinha de ser. Tinha de
montar o campo e tínhamos
de levantar aquela taça da Liga
Europeia de hóquei em patins”,
contou. Miguel Coelho também
guardou na memória uma
conquista europeia de hóquei
em patins, mas desta feita
tratou‑se da Taça Continental.
“O melhor momento foi quando
ganhámos a Taça Continental
de hóquei em patins. Para mim,
foi o momento mais marcante
desde que trabalho aqui”, referiu.
Leonaldo Santana, por outro
lado, escolheu uma competição
‘caseira’: “O momento mais
alto desde que estou aqui foi
o Troféu Stromp [em 2020].
(...) Não esperava, tão cedo,
preparar jogos de torneios com
títulos. Fiquei emocionado.
Não esperava contribuir para a
organização do Troféu Stromp.
Fiquei surpreendido por me
darem essa tarefa”.
No final, o Jornal Sporting fez
a mesma pergunta aos três:
vale a pena o duro trabalho
diário, mesmo quando as
contrariedades existem? As
respostas foram rápidas e não
deixaram espaço para dúvidas.
“Vale a pena o esforço que
eu faço. É o melhor para o
Clube. (...) Estou feliz por estar
no Sporting CP. Estou grato
por estar aqui e vou sempre
fazer parte do Sporting CP. A
trabalhar ao lado dos jogadores
e das pessoas maravilhosas
que estão cá”, disse Leonaldo
Santana. “Ao fim do dia, sim,
sem dúvida”, frisou Miguel
Coelho. “Vale a pena. Quando
a taça é levantada ao ar, tudo
vale a pena”, concluiu Catarina
Gregório. Haverá melhor
representação do lema Esforço,
Dedicação, Devoção e Glória do
que esta? Achamos que não.
UM CRAQUE NA LINHA DO EQUADOR
Em São Tomé e Príncipe, de onde saiu há cerca de dois anos,
Leonaldo Santana era jogador de futebol no GD Cruz Verme-
lha, emblema da cidade são‑tomense de Almeirim. E dos bons.
“Era polivalente. Por vezes era guarda‑redes, outras era pon-
ta‑de‑lança e até médio. (...) Em 2014 fui chamado à selecção
de sub‑17 para participar num evento em Angola. Senti o
orgulho de poder representar o meu país. No regresso a São
Tomé fui chamado à equipa principal do meu clube como
guarda‑redes. Joguei três anos como guarda‑redes e depois
decidi jogar a ponta‑de‑lança. Acreditei em mim e consegui.
Era o segundo melhor marcador da minha equipa e terminei
o campeonato com sete golos, atrás do meu colega”, referiu o
funcionário Sportinguista, continuando.
“Era o mais novo do campeonato. Quando íamos jogar fora,
os adversários diziam que eu era muito novo para estar na ba-
liza. Subestimavam‑me, mas quando começavam o jogo viam
que estavam enganados. Eu tinha capacidade para a minha
função”, disse.
No Sporting CP desde Julho do ano passado, Leonaldo San-
tana explicou ainda como chegou ao Pavilhão João Rocha e
a Portugal. “Esta oportunidade surgiu através da associação
CEPAC [Centro Padre Alves Correia], de apoio ao imigrante.
Precisava de apoio e eles ajudaram‑me com a formação. Esta-
giei aqui no Sporting CP durante três meses. Depois surgiu a
pandemia e, já depois de ter estado em casa [em confinamen-
to], voltaram a chamar‑me”, considerou.
“Acompanhava os jogos do Sporting CP pela televisão e não
imaginava que ia fazer parte do Clube por dentro. Não fazia
ideia de que ia chegar a este patamar. O meu objectivo era vir
para Portugal e ser jogador profissional de futebol, mas agar-
rei esta oportunidade do Sporting CP para estar mais perto
dos jogadores. Não são jogadores de futebol, mas gosto de
outras modalidades”, afirmou ainda.
Leonaldo Santana não voltou ao seu país desde que saiu para
Portugal pela primeira vez. Por isso mesmo, sente falta de ca-
sa: “Tenho saudades de São Tomé. Tenho planos para voltar lá
em visita. Estou fora do meu país há dois anos e esta é a minha
primeira vez na Europa”.
Leonaldo Santana, 22 anos
Trabalho não pára: todos os dias, os três funcionários mudam balizas, redes, tabelas, linhas e muito mais
>>
SPORTING 3807-17
A frase do título é de
Helena Santos, conhecida
carinhosamente por ‘Lena’.
Aos 46 anos, é funcionária da
lavandaria do Sporting Clube
de Portugal. Por ela passam,
todos os dias, os equipamentos
de treino e de jogo dos atletas
profissionais das modalidades.
Helena Santos é também
uma Sportinguista ferrenha,
assim como o marido, Nuno
Silva. Com 43 anos, está
também ele todos os dias em
Alvalade, tanto na secção da
manutenção como da limpeza.
O casal de Leões é mais uma
das partes que faz andar o
emblema verde e branco, ainda
que não aos olhos de todos.
Anteriormente na limpeza,
Helena Santos ‘mudou‑se’ para
a lavandaria no início de 2020.
Ao Jornal Sporting, descreveu
o seu trabalho. “Todos os
dias recebemos as roupas
das modalidades e tentamos
conciliar com os treinos. Temos
os mapas [de treinos] e vamos
organizando as coisas de forma
a que todos tenham roupa a
tempo e horas”, disse, contando
ainda que costuma entrar para
o trabalho às 6h30 da manhã.
“A partir das 7h00 ou 7h30
começam a entrar os roupeiros
das modalidades para nos
deixarem a roupa”, explicou.
Já Nuno Silva, que tanto faz
limpeza como manutenção e
que está no Sporting CP há
cerca de dois anos, revelou que
é um ‘faz‑tudo’. “Tudo o que se
estraga, estou lá para arranjar.
Sempre a ajudar quem precisa.
(…) Faço tudo. Era um
trabalho que eu queria. Gosto
muito de obras. Tudo o que
meta manutenção e arranjos,
gosto”, admitiu, continuando:
“O dia normal de trabalho
começa às 8h00 e recebo a
folha de serviço com o que
é preciso fazer. Começamos
pelo mais urgente e depois
vamos gerindo o trabalho
diário. Arranjar cadeiras,
arranjar portas, molas, no
Pavilhão, no Multidesportivo,
nas piscinas… Fazemos tudo
e andamos por todo o lado”. À
hora de almoço, Helena Santos
e Nuno Silva aproveitam para
passar algum tempo juntos,
juntando‑se a outros colegas.
O trabalho, claro, tem alguns
desafios e ‘Lena’ não esconde
que “é um bocadinho duro”,
mas assegurou “que se faz
bem”, até porque há muito
Sportinguismo incluído.
“Tenho noção de que o
trabalho da lavandaria é
mesmo muito importante
para as modalidades. (...)
Fazemos com gosto e acaba
sempre por correr tudo bem.
Vale a pena todo o esforço
que fazemos aqui porque eu
amo este Clube. Neste Clube,
vale sempre tudo a pena”,
afirmou Helena Santos, que
exibe ainda com orgulho,
no seu local de trabalho,
camisolas assinadas pelos
plantéis de basquetebol e de
voleibol, garantindo também
que as camisolas das restantes
modalidades estão a caminho.
O andebol acaba por ser,
para Helena Santos, a
modalidade mais trabalhosa
devido à resina utilizada
pelos jogadores nas mãos
antes dos treinos e dos
jogos. Inevitavelmente, essa
substância deixa marcas nos
equipamentos, principalmente
porque o andebol é um
desporto de contacto, e a
lavandaria tem trabalho extra
com a modalidade. “Temos de
colocar supergel a seguir para
tirar a resina. Temos cuidado
com todas as modalidades,
mas com o andebol um pouco
mais”, admitiu. Já para Nuno
Silva, o hóquei em patins é
quem merece mais atenção
na altura da limpeza do piso
do Pavilhão João Rocha. “O
hóquei é a modalidade que
exige mais limpeza do piso.
Eles andam em patins e se o
piso não estiver bem limpo
eles não conseguem patinar e
vão ter problemas”, explicou.
Desde que trabalham no
Sporting CP, tanto Helena
Santos como Nuno Silva
viveram de perto alguns
momentos icónicos que
consideram mesmo terem
sido “dos melhores dias” das
suas vidas. “Para mim, todos
os dias aqui são bons. Vivo
todos como se fossem um.
Mas lembro‑me, por exemplo,
quando o Sporting CP foi
campeão em hóquei e em
futsal. Estava lá e foram dos
melhores dias da minha vida.
(…) Amo este Clube. Sou do
Sporting CP desde que me
lembro de ser gente”, reforçou
Helena Santos, seguida de
Nuno Silva: “Desde que cá
estou já tive vários grandes
momentos. Fiz a festa
após a conquista da UEFA
Futsal Champions League, a
conquista da Liga Europeia
de hóquei em patins. É bonito
de ver, ainda para mais com
o pavilhão cheio. Quando
está cheio, são os momentos
mais bonitos”. Para o Leão, a
equipa de hóquei em patins
acaba mesmo por ser a mais
marcante. “Dou‑me bem com
todos os jogadores e com o
staff do hóquei. Lido com eles
todos os dias e tratam‑me de
igual para igual. Não é por
ser da manutenção que me
tratam de forma diferente.
Dou‑me bem com eles no
balneário, falo com eles todos.
É como se fosse uma família,
mesmo”, considerou.
Para ambos, serem
funcionários do Sporting CP
é uma felicidade tremenda.
Afinal, os corações são verdes
e brancos e, por isso, há um
orgulho adicional quando
se contribui para o dia‑a‑dia
da instituição que se ama.
“[Trabalhar no Sporting CP]
significa muito. É o meu
Clube do coração. Amo este
Clube. (…) Já frequentava
o Estádio José Alvalade
porque vinha ver os jogos”,
frisou Helena Santos, com o
companheiro a corroborar.
“É um grande orgulho e uma
oportunidade de trabalho
a longo prazo, apesar de
muita gente pensar que é
apenas uma passagem. (...)
[O esforço] vale sempre a
pena. Se não valesse não
estava cá. O amor ao Clube
vai crescendo de dia para dia
e é sempre enorme”, lembrou
Nuno Silva.
HELENA SANTOS E NUNO SILVA SÃO CASADOS E TRABALHAM AMBOS NO SPORTING CP. ELA NA LAVANDARIA E ELE NA MANUTENÇÃO E LIMPEZA,
SÃO OUTRAS DAS PARTES INVISÍVEIS, MAS ESSENCIAIS PARA O FUNCIONAMENTO DO CLUBE.
“VALEAPENAOESFORÇOPORQUEAMOESTECLUBE”
Texto: Luís Santos Castelo
Fotografia: José Lorvão, Pedro Zenkl
Helena Santos, 46 anos
Nuno Silva, 43 anos

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Os essenciais nos bastidores

  • 2. 14- SPORTING 3807 Os Sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal estão habituados a ver craques na quadra do Pavilhão João Rocha, sejam eles do andebol, do basquetebol, do futsal, do hóquei em patins ou do voleibol. No banco de suplentes costumam estar treinadores de excelência a nível nacional e, em alguns casos, internacional. São eles que, de uma maneira ou outra, levam espectadores às bancadas e colam Sportinguistas às televisões. Contudo, nada disso seria possível sem o trabalho diário, nos treinos e nos jogos, de três verdadeiros Leões que não têm qualquer tipo de protagonismo. Catarina, Leonaldo e Miguel, três jovens ainda na casa dos ‘vintes’, são os técnicos de apoio às modalidades que asseguram as alterações necessárias para que cada equipa possa trabalhar sem essa preocupação. Montar o cesto, retirar a rede, trocar as balizas ou levantar as tabelas são algumas das tarefas dos três funcionários Leoninos que prestam apoio em tudo o que é preciso para garantir o máximo profissionalismo das equipas. No meio de um horário preenchido, Catarina, Leonaldo e Miguel conseguiram encontrar tempo para uma conversa com o Jornal Sporting e explicaram o que fazem, como chegaram ao emblema de Alvalade e revelaram os momentos mais curiosos que vivem no Pavilhão João Rocha. Apesar das histórias de vida diferentes, os três concordam num ponto: o Esforço, a Dedicação e a Devoção que colocam no trabalho imprescindível que têm valem a pena porque são contributos directos para a Glória Sportinguista. “É UM ‘MONTA’ E ‘DESMONTA’ CONSTANTE” As tarefas a desempenhar são semelhantes todos os dias: duras, mas recompensadoras. “Trabalho bastante, mas acabo por não sentir muito cansaço porque dá‑me gosto trabalhar no Sporting CP. É um orgulho e acabo por não sair cansado”. Quem o diz é Miguel Coelho, de 24 anos, que continuou em conversa com o Jornal Sporting. “Fazemos a montagem dos treinos, a troca de jogos, colocamos publicidades”, explicou, de forma resumida. “É um ‘monta’ e ‘desmonta’ constante com actividade com os jogadores. É um dia feliz. Vir aqui é bom”, complementou Catarina Gregório, de 25 anos. Para Leonaldo Santana, de 22 anos e natural de São Tomé e Príncipe, “não fazia ideia” de que existia este tipo de trabalho. “Pensava que a tabela do basquetebol, por exemplo, ficava sempre montada. Achava que era só chegar e treinar ou jogar”, admitiu. Os três são os técnicos de apoio às modalidades que permitem a utilização diária do Pavilhão João Rocha por parte das equipas de andebol, basquetebol, futsal, hóquei em patins e voleibol. Todos Sportinguistas – ainda que Catarina Gregório tenha sido ‘puxada’ para outro lado em criança, mas conseguiu resistir – e todos com noção da importância que têm para o dia‑a‑dia de trabalho na casa das modalidades. “Noutros clubes há atletas a montar o CATARINA, LEONALDO E MIGUEL SÃO OS TÉCNICOS DE APOIO ÀS MODALIDADES QUE GARANTEM O BOM FUNCIONAMENTO DAS EQUIPAS QUE TRABALHAM TODOS OS DIAS NO PAVILHÃO JOÃO ROCHA. CLUBE COLABORADORES OS ESSENCIAIS NOS BASTIDORES Texto: Luís Santos Castelo Fotografia: Pedro Zenkl Catarina, Miguel e Leonaldo no Pavilhão João Rocha, onde estão todos os dias
  • 3. SPORTING 3807-15 próprio treino, mas nós estamos aqui para que eles tenham o foco sem perder tempo com montar, desmontar e ver se a cadeira está no sítio certo. Isso não é o trabalho deles, é o nosso”, começou por referir Catarina Gregório, sendo que todos destacam esse ponto: a missão é ajudar. Ajudar atletas, ajudar equipas, ajudar secções. No fundo, ajudar o Sporting CP. “Tenho noção da importância do nosso trabalho. É graças a nós que são realizadas actividades no pavilhão. Damos apoio. (...) Estamos aqui para isso, para ajudar as equipas no que elas precisarem. Estamos cá para ajudar”, disse, nesse sentido, Leonaldo Santana. “A cada dia que passa tenho mais noção da importância que tenho no Sporting CP. Por vezes não temos essa percepção, mas quando estamos na montagem dos treinos e dos jogos dá para perceber”, acrescentou Miguel Coelho. Mas falemos das tarefas mais específicas. De uma forma geral, os três concordam que o basquetebol é a modalidade mais “exigente e complicada”, seguida do hóquei em patins. No caso da primeira, “o material, por vezes, não colabora”, como explicou Miguel Coelho. “O tempo lá em cima [o temporizador dos 24 segundos por cima das tabelas], como depende de um sistema informático, às vezes não responde aos nossos desejos e torna‑se complicado” No hóquei, por outro lado, “a parte de montar as tabelas também é mais demorada e física”. Catarina Gregório continuou dizendo que “para montar as tabelas do hóquei em patins é preciso agilizar todo um processo para que elas levantem automaticamente e para que o sistema esteja a funcionar correctamente”. “Tudo para que não haja nenhum problema”, proferiu ainda. Para Leonaldo Santana, o que está nestas funções há menos tempo, os primeiros tempos foram desafiantes, mas agora já domina o trabalho. “No início, achava difícil. Mas agora, com o apoio dos meus colegas, tornou‑se fácil. Já estou à vontade e consigo fazer isto sozinho”, revelou. As diferenças técnicas de um dia de treinos para um dia de jogos acabam por não ser muitas, mas existem outros desafios. A pressão, os horários e as normas federativas a seguir para cada modalidade. Em caso de jogo europeu tudo se acentua, pois os organismos que gerem as modalidades a nível continental têm regras bem mais rígidas. Ainda assim, para Catarina Gregório, há dias de trabalho de treinos que acabam por ser mais difíceis: “O dia de treino, por vezes, é muito mais complicado. No dia de jogo, o mais difícil é o espaço que temos quando os jogos acabam. Um jogo pode estar previsto para ter a duração de uma hora e meia, mas pode demorar três. Nunca sabemos e isso é que dificulta o processo de montagem e desmontagem”. E, em tempos pré‑pandemia de COVID‑19, como era lidar com a pressão do público? “Eu desligo completamente. Não vejo nem ouço ninguém. Só estou a pensar em ser rápida na montagem do campo”, adicionou Catarina Gregório, enquanto Leonaldo Santana também se mostrou intocável nesse sentido. “Não sinto [a pressão]. Em São Tomé estava habituado ao público porque era jogador [de futebol] e tinha muitos adeptos. Não me faz diferença, estou à vontade”, prometeu. Talvez mais importante do que tudo o resto para que o trabalho corra da melhor forma é a comunicação e a boa relação entre os três. Isso, garantem ao Jornal Sporting, está de boa saúde. “Falamos uns com os outros para que não haja nenhuma falha. Lá fora, temos uma relação de amizade”, afirmou Miguel APOIAR O SPORTING CP, ESTUDAR NO SPORTING CP E TRABALHAR NO SPORTING CP Catarina Gregório e Miguel Coelho são, como já foi expli- cado nesta reportagem, adeptos e funcionários do Sporting CP. Mas há mais: foram também estudantes no Sporting CP. Ambos frequentaram, em conjunto, um dos cursos de técnico de apoio à gestão desportiva que o emblema de Alvalade pro- moveu em parceria com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e deram seguimento às suas vidas e carrei- ras de verde e branco. “Há cerca de seis anos comecei o meu curso no Sporting CP. Frequentei o curso durante três anos e no final fui trabalhar para outro sítio. Depois acabaram por me chamar para o Spor- ting CP e estou aqui há cerca de um ano e meio, desde 2019”, explicou Miguel Coelho, enquanto Catarina Gregório admitiu que o objectivo foi sempre continuar no Sporting CP. “Quando começámos o curso, em 2015, a minha intenção era ficar no Sporting CP. Fiz o curso todo a pensar no trabalho final que me desse tudo para ficar no Sporting CP e quando me chamaram foi a concretização. (…) Acabei o curso, fui para a faculdade e, passado um mês, estavam a chamar‑me para vir para o Pavilhão João Rocha”, revelou, continuando: “Vim ao Pavilhão João Rocha duas semanas antes de me cha- marem, é curioso. Nunca tinha vindo porque prestava muito mais atenção ao futebol. Jogava futebol e queria era ir para a Academia. Depois, vim cá ver um jogo de andebol, acho, e passado uma ou duas semanas o João [Alves, da secção de hóquei em patins] liga‑me e diz‑me que precisa de mim. Per- guntou‑me se podia vir e eu disse que para o Sporting CP estava sempre disponível”. De acordo com Miguel Coelho, “ter frequentado o curso aju- dou bastante”. “Foi um curso muito prático, assim como o es- tágio. Deu‑me capacidades que aproveito no meu trabalho. O curso decorreu nas antigas instalações do Jornal Sporting e foi uma grande oportunidade para mim. Acho que também foi benéfico para o Sporting CP”, considerou, tendo Catarina Gregório elogiado também o estágio. “Estivemos integrados mesmo na estrutura Sporting CP. Todos os estágios foram fei- tos no Clube”, afirmou. Assim, ter feito todo este percurso em Alvalade é algo que deixa Miguel Coelho, que até foi atleta Leonino, de coração cheio. “É um orgulho imenso. Fui nadador do Sporting CP e estou ligado ao Clube desde sempre. Já joguei futebol, nadei e estudei pelo Sporting CP e estar aqui a trabalhar é um orgu- lho enorme”, acrescentou. Catarina Gregório, 25 anos Miguel Coelho, 24 anos >>
  • 4. 16- SPORTING 3807 Coelho, tendo o apoio dos colegas. “A nossa relação é uma relação boa. Estamos sempre a conversar uns com os outros e a explicar como funcionam as coisas. Eles explicam‑me como funcionam as coisas que eu não sei”, acrescentou Leonaldo Santana, enquanto Catarina Gregório explicou que é preciso “boa comunicação, organização e saber o que cada um está a pensar para reagir como um só”. Inevitavelmente, acabam também por criar relação com atletas, equipas técnicas, dirigentes e todos aqueles que frequentam o Pavilhão João Rocha diariamente. Para Leonaldo Santana, as equipas de futsal e basquetebol são as mais marcantes e até revelou nomes. “Tenho uma boa relação com quase todos os jogadores do futsal. Estamos sempre a brincar, a provocar um ou outro. No basquetebol, gosto muito do Travante [Williams], do [James] Ellisor, do Jeremias [Manjate], do Jorge [Embaló], do [Francisco] Amiel, do Diogo [Ventura]... Tenho uma boa relação com os jogadores. Todos gostam de mim e é tudo tranquilo”, admitiu. Miguel Coelho considera que ter esta proximidade com atletas de alto nível “também torna este trabalho diferente”. “Interagimos com eles, que precisam da nossa ajuda. É para isso que estamos aqui”, lembrou, escolhendo três jogadores como aqueles com quem mais se dá. “O guarda‑redes de hóquei em patins Zé Diogo [zona de Alenquer] é da minha terra e temos uma interacção diferente um com o outro. Com o James Ellisor, do basquetebol, também. O Travante Williams é uma pessoa muito divertida. Mas todos nos dão alegria”, garantiu. Para Catarina Gregório, há duas equipas especiais para si. “Os que mais me marcam desde sempre são os do hóquei. Foram os primeiros com quem eu lidei. Os do basquetebol também são muito divertidos. Há momentos engraçados”, frisou. Questionados sobre os momentos mais marcantes, todos escolheram dias diferentes. Para Catarina Gregório, foi a vez em que ajudou a organizar uma final four da Liga Europeia de hóquei em patins, em 2018/2019, mesmo estando com problemas físico na altura. “Fiquei de muletas antes de uma competição europeia muito importante para nós. Na altura, éramos só dois e foi muito complicado agilizar o processo de montagem. Parecia impossível. Eu tinha de estar um mês e meio com o pé no ar e em duas ou três semanas pus o pé no chão porque naquele dia tinha de ser. Tinha de montar o campo e tínhamos de levantar aquela taça da Liga Europeia de hóquei em patins”, contou. Miguel Coelho também guardou na memória uma conquista europeia de hóquei em patins, mas desta feita tratou‑se da Taça Continental. “O melhor momento foi quando ganhámos a Taça Continental de hóquei em patins. Para mim, foi o momento mais marcante desde que trabalho aqui”, referiu. Leonaldo Santana, por outro lado, escolheu uma competição ‘caseira’: “O momento mais alto desde que estou aqui foi o Troféu Stromp [em 2020]. (...) Não esperava, tão cedo, preparar jogos de torneios com títulos. Fiquei emocionado. Não esperava contribuir para a organização do Troféu Stromp. Fiquei surpreendido por me darem essa tarefa”. No final, o Jornal Sporting fez a mesma pergunta aos três: vale a pena o duro trabalho diário, mesmo quando as contrariedades existem? As respostas foram rápidas e não deixaram espaço para dúvidas. “Vale a pena o esforço que eu faço. É o melhor para o Clube. (...) Estou feliz por estar no Sporting CP. Estou grato por estar aqui e vou sempre fazer parte do Sporting CP. A trabalhar ao lado dos jogadores e das pessoas maravilhosas que estão cá”, disse Leonaldo Santana. “Ao fim do dia, sim, sem dúvida”, frisou Miguel Coelho. “Vale a pena. Quando a taça é levantada ao ar, tudo vale a pena”, concluiu Catarina Gregório. Haverá melhor representação do lema Esforço, Dedicação, Devoção e Glória do que esta? Achamos que não. UM CRAQUE NA LINHA DO EQUADOR Em São Tomé e Príncipe, de onde saiu há cerca de dois anos, Leonaldo Santana era jogador de futebol no GD Cruz Verme- lha, emblema da cidade são‑tomense de Almeirim. E dos bons. “Era polivalente. Por vezes era guarda‑redes, outras era pon- ta‑de‑lança e até médio. (...) Em 2014 fui chamado à selecção de sub‑17 para participar num evento em Angola. Senti o orgulho de poder representar o meu país. No regresso a São Tomé fui chamado à equipa principal do meu clube como guarda‑redes. Joguei três anos como guarda‑redes e depois decidi jogar a ponta‑de‑lança. Acreditei em mim e consegui. Era o segundo melhor marcador da minha equipa e terminei o campeonato com sete golos, atrás do meu colega”, referiu o funcionário Sportinguista, continuando. “Era o mais novo do campeonato. Quando íamos jogar fora, os adversários diziam que eu era muito novo para estar na ba- liza. Subestimavam‑me, mas quando começavam o jogo viam que estavam enganados. Eu tinha capacidade para a minha função”, disse. No Sporting CP desde Julho do ano passado, Leonaldo San- tana explicou ainda como chegou ao Pavilhão João Rocha e a Portugal. “Esta oportunidade surgiu através da associação CEPAC [Centro Padre Alves Correia], de apoio ao imigrante. Precisava de apoio e eles ajudaram‑me com a formação. Esta- giei aqui no Sporting CP durante três meses. Depois surgiu a pandemia e, já depois de ter estado em casa [em confinamen- to], voltaram a chamar‑me”, considerou. “Acompanhava os jogos do Sporting CP pela televisão e não imaginava que ia fazer parte do Clube por dentro. Não fazia ideia de que ia chegar a este patamar. O meu objectivo era vir para Portugal e ser jogador profissional de futebol, mas agar- rei esta oportunidade do Sporting CP para estar mais perto dos jogadores. Não são jogadores de futebol, mas gosto de outras modalidades”, afirmou ainda. Leonaldo Santana não voltou ao seu país desde que saiu para Portugal pela primeira vez. Por isso mesmo, sente falta de ca- sa: “Tenho saudades de São Tomé. Tenho planos para voltar lá em visita. Estou fora do meu país há dois anos e esta é a minha primeira vez na Europa”. Leonaldo Santana, 22 anos Trabalho não pára: todos os dias, os três funcionários mudam balizas, redes, tabelas, linhas e muito mais >>
  • 5. SPORTING 3807-17 A frase do título é de Helena Santos, conhecida carinhosamente por ‘Lena’. Aos 46 anos, é funcionária da lavandaria do Sporting Clube de Portugal. Por ela passam, todos os dias, os equipamentos de treino e de jogo dos atletas profissionais das modalidades. Helena Santos é também uma Sportinguista ferrenha, assim como o marido, Nuno Silva. Com 43 anos, está também ele todos os dias em Alvalade, tanto na secção da manutenção como da limpeza. O casal de Leões é mais uma das partes que faz andar o emblema verde e branco, ainda que não aos olhos de todos. Anteriormente na limpeza, Helena Santos ‘mudou‑se’ para a lavandaria no início de 2020. Ao Jornal Sporting, descreveu o seu trabalho. “Todos os dias recebemos as roupas das modalidades e tentamos conciliar com os treinos. Temos os mapas [de treinos] e vamos organizando as coisas de forma a que todos tenham roupa a tempo e horas”, disse, contando ainda que costuma entrar para o trabalho às 6h30 da manhã. “A partir das 7h00 ou 7h30 começam a entrar os roupeiros das modalidades para nos deixarem a roupa”, explicou. Já Nuno Silva, que tanto faz limpeza como manutenção e que está no Sporting CP há cerca de dois anos, revelou que é um ‘faz‑tudo’. “Tudo o que se estraga, estou lá para arranjar. Sempre a ajudar quem precisa. (…) Faço tudo. Era um trabalho que eu queria. Gosto muito de obras. Tudo o que meta manutenção e arranjos, gosto”, admitiu, continuando: “O dia normal de trabalho começa às 8h00 e recebo a folha de serviço com o que é preciso fazer. Começamos pelo mais urgente e depois vamos gerindo o trabalho diário. Arranjar cadeiras, arranjar portas, molas, no Pavilhão, no Multidesportivo, nas piscinas… Fazemos tudo e andamos por todo o lado”. À hora de almoço, Helena Santos e Nuno Silva aproveitam para passar algum tempo juntos, juntando‑se a outros colegas. O trabalho, claro, tem alguns desafios e ‘Lena’ não esconde que “é um bocadinho duro”, mas assegurou “que se faz bem”, até porque há muito Sportinguismo incluído. “Tenho noção de que o trabalho da lavandaria é mesmo muito importante para as modalidades. (...) Fazemos com gosto e acaba sempre por correr tudo bem. Vale a pena todo o esforço que fazemos aqui porque eu amo este Clube. Neste Clube, vale sempre tudo a pena”, afirmou Helena Santos, que exibe ainda com orgulho, no seu local de trabalho, camisolas assinadas pelos plantéis de basquetebol e de voleibol, garantindo também que as camisolas das restantes modalidades estão a caminho. O andebol acaba por ser, para Helena Santos, a modalidade mais trabalhosa devido à resina utilizada pelos jogadores nas mãos antes dos treinos e dos jogos. Inevitavelmente, essa substância deixa marcas nos equipamentos, principalmente porque o andebol é um desporto de contacto, e a lavandaria tem trabalho extra com a modalidade. “Temos de colocar supergel a seguir para tirar a resina. Temos cuidado com todas as modalidades, mas com o andebol um pouco mais”, admitiu. Já para Nuno Silva, o hóquei em patins é quem merece mais atenção na altura da limpeza do piso do Pavilhão João Rocha. “O hóquei é a modalidade que exige mais limpeza do piso. Eles andam em patins e se o piso não estiver bem limpo eles não conseguem patinar e vão ter problemas”, explicou. Desde que trabalham no Sporting CP, tanto Helena Santos como Nuno Silva viveram de perto alguns momentos icónicos que consideram mesmo terem sido “dos melhores dias” das suas vidas. “Para mim, todos os dias aqui são bons. Vivo todos como se fossem um. Mas lembro‑me, por exemplo, quando o Sporting CP foi campeão em hóquei e em futsal. Estava lá e foram dos melhores dias da minha vida. (…) Amo este Clube. Sou do Sporting CP desde que me lembro de ser gente”, reforçou Helena Santos, seguida de Nuno Silva: “Desde que cá estou já tive vários grandes momentos. Fiz a festa após a conquista da UEFA Futsal Champions League, a conquista da Liga Europeia de hóquei em patins. É bonito de ver, ainda para mais com o pavilhão cheio. Quando está cheio, são os momentos mais bonitos”. Para o Leão, a equipa de hóquei em patins acaba mesmo por ser a mais marcante. “Dou‑me bem com todos os jogadores e com o staff do hóquei. Lido com eles todos os dias e tratam‑me de igual para igual. Não é por ser da manutenção que me tratam de forma diferente. Dou‑me bem com eles no balneário, falo com eles todos. É como se fosse uma família, mesmo”, considerou. Para ambos, serem funcionários do Sporting CP é uma felicidade tremenda. Afinal, os corações são verdes e brancos e, por isso, há um orgulho adicional quando se contribui para o dia‑a‑dia da instituição que se ama. “[Trabalhar no Sporting CP] significa muito. É o meu Clube do coração. Amo este Clube. (…) Já frequentava o Estádio José Alvalade porque vinha ver os jogos”, frisou Helena Santos, com o companheiro a corroborar. “É um grande orgulho e uma oportunidade de trabalho a longo prazo, apesar de muita gente pensar que é apenas uma passagem. (...) [O esforço] vale sempre a pena. Se não valesse não estava cá. O amor ao Clube vai crescendo de dia para dia e é sempre enorme”, lembrou Nuno Silva. HELENA SANTOS E NUNO SILVA SÃO CASADOS E TRABALHAM AMBOS NO SPORTING CP. ELA NA LAVANDARIA E ELE NA MANUTENÇÃO E LIMPEZA, SÃO OUTRAS DAS PARTES INVISÍVEIS, MAS ESSENCIAIS PARA O FUNCIONAMENTO DO CLUBE. “VALEAPENAOESFORÇOPORQUEAMOESTECLUBE” Texto: Luís Santos Castelo Fotografia: José Lorvão, Pedro Zenkl Helena Santos, 46 anos Nuno Silva, 43 anos