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Terça, 12 de agosto de 2008, 07h09  Atualizada às 07h34 

http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3040511‐EI6580,00.html 


Estudo antecipa crise do petróleo para 2010 
Arnild Van de Velde 

De Amsterdã, Holanda 

Um estudo publicado por diretores do Programa de Energia da Clingendael International (CIEP, sigla em 
inglês)  antecipa  a  anunciada  crise  do  petróleo  em  cinco  anos.  Não  em  2015,  mas  já  em  2010,  diz  o 
relatório, os primeiros efeitos de sua escassez se farão notar. A empresa holandesa é um instituto de 
relações  internacionais  com  reconhecidos  trabalhos  nas  áreas  de  pesquisa,  capacitação  e  informação. 
Nos Países Baixos, o CIEP é endossado por órgãos do governo e grupos empresariais de grande porte. 

Em  2010,  diz  o  estudo,  a  produção  mundial  soferá  uma  baixa  de  7  a  11  milhões  de  barris/dia.  A 
quantidade corresponderia a dois terços do consumo diário, só nos Estados Unidos. O estudo contesta 
também  uma  previsão  do  banco  de  investimentos  Goldman  Sachs.  Baseando‐se  em  determinadas 
condições até 2015, o banco estimou o preço do barril, já em 2009, entre US$200 e US$250. Os autores 
do  relatório  da  Clingendael  prevêem  contudo  que  o  custo  do  barril  não  deve  superar  US$110,  no 
primeiro ano da crise (segundo eles, 2010), ou seja uma queda de quase 50% em doze meses. 

Em entrevista a Terra Magazine, a diretora da CIEP, Coby van der Linde, esboça o cenário que prevê e 
comenta  a  importância  da  Rússia  ‐  um  parceiro  econômico  ainda  visto  com  alguma  reserva  pelos 
vizinhos europeus ‐ na crise. Otimistas, empresas do setor confiam no próprio empenho em pesquisa e 
extração.  Estes  investimentos,  diz  Coby  van  der  Linde,  "  são  caminhos  que,  me  parece,  o  Brasil  está 
sabendo explorar". 

Terra Magazine ‐ Em termos atuais e práticos, o representa uma queda de produção da ordem 7 a 11 
milhões de barris/dia? 

Coby van der Linde ‐ O preço do petróleo, da gasolina e do diesel seriam mais altos, mas talvez também 
o  do  gás  de  cozinha,  do  óleo  ‐  produtos  que  as  pessoas  usam.  Talvez  tivessem  que  substituir  por 
biocombustíveis, se estes estivessem disponíveis. Em alguns países, a energia elétrica ainda depende do 




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petróleo.  Para  consumidores  mais  pobres,  o  consumo  de  alguns  derivados  dependeria  do  subsídio 
governamental (no caso de seus governos estarem em condições de subsidiar). 

O  que  levou  à  antecipação,  em  cinco  anos,  do  que  os  senhores  chamam  de  "turbulências  do 
petróleo"? 

A  Agência  Internacional  de  Energia  indicou  que  o  setor  ficaria  muito  apertado,  a  partir  da  metade  da 
próxima década. Enquanto isso, vemos que o mercado já tem dificuldades de ajuste. Os preços subiram 
rápido demais e a níveis jamais vistos. Não há reservas suficientes no sistema, e a habilidade de resposta 
a calamidades (naturais, conflitos locais e de manutenção) é igualmente baixa. Ao mesmo tempo, vemos 
que países ricos em reservas de petróleo estão com dificuldades de explorá‐las, ou explorando‐as a um 
passo  incapaz  de  atender  à  demanda,  de  compensar  a  exaustão  dos  velhos  campos  petrolíferos  em 
lugares  como  o  Mar  do  Norte  e  o  Alasca,  porque  estão  inseguros  quanto  à  projeção  da  demanda  e 
temerosos  da  concorrência  representada  por  fontes  alternativas,  como  os  biocombustíveis.  Esta 
incerteza da demanda levam a evitar o investimento de risco. Porque todos estão esperando um sinal 
do mercado ‐ ou dos governos ‐, ninguém toma medidas necessárias a tempo. O que foi previsto para o 
começo da próxima da década já foi adiantado para hoje, e assim por diante. 

Por que suas análises diferem tanto daquelas do Goldman Sachs? 

Tentamos ser cuidadosos em nossa descrição, no sentido de que os preços sempre foram elaborados a 
partir  de  quatro  variáveis,  sendo  a  do  custo  marginal  do  último  barril  necessário  para  atender  a 
demanda, a mais importante. Este custo subiu (a propósito: o Brasil precisará adotar preços como os de 
hoje  em  dia  para  desenvolver  seus  campos  recém‐descobertos)  a  preços  que  são  determinados  pela 
demanda  em  tempos  de  escassez.  Goldman  Sachs  indicou  que  esta  escassez  e  a  indisponibilidade  de 
alternativas  suficientes  elevariam  os  preços.  O  que  notamos  foi  que,  a  preços  muito  altos,  alguns 
consumidores são lançados para fora do mercado. Como apresentado no estudo, os preços atuais são 
guiados  por  fatores  estruturais  que  podem  ser  explicados  sem  que  seja  necessário  recorrer  à 
especulação dos mercados ou à baixa do dólar. Se os preços estarão em torno de 200 dólares, 150 que 
seja,  dentro  de  um  ano,  as  outras  variáveis  serão  tão  ou  mais  importantes  do  que  o  custo  marginal. 
Neste caso, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) terá alcançado um velho desejo: 
o petróleo será vendido por seu valor de consumo no mundo ocidental. Essa nova modalidade de preço 
fará com que o petróleo deixe de ser tratado como commodity e seja avaliado por seu valor estratégico 
e econômico. 



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O que isso trará, efetivamente, aos países da Opep? 

Os países da Opep se tornarão ainda mais importantes, quando os velhos campos de produção caírem 
em declínio e a Opep e alguns poucos países pasarem a representar os poucos detentores de reservas 
capazes de exportar. A pressão sobre a Opep já era enorme, mas a entidade demonstrou que tem seus 
interesses e que eles precisam ser relatados: uma melhor previsão da velocidade e a parte do mercado 
que embarcará nos biocombustíveis; uma idéia mais clara de como a demanda asiática se desenvolverá. 
Eles sinalizaram que não querem voltar ao ponto de dominação de grandes reservas, ao mesmo tempo 
em que têm que carregar o fardo de equilibrar o mercado. Eles querem dividir esta conta. 

Qual  é  o  significado  político  de  uma  política  amigável  com  a  Rússia,  como  a  senhora  parece  vir 
sugerindo? 

O sentido é de que a União Européia, além de defender seus próprios interesses, seja também sensível 
aos  interesses  da  Rússia.  Que  criem  um  mercado  satisfatório,  com  menos  comentários  às  políticas  de 
um e de outro. 

Haverá então dependência do petróleo russo? 

O petróleo russo será importante, assim como o de outros lugares, já que a produção interna da UE está 
em declínio. 

Qual seria o papel do México neste cenário e qual é a recomendação para o Brasil? 

O  México  poderia  aumentar  os  investimentos  e  talvez  considerar,  sob  certas  condições,  permitir  que 
investidores  estrangeiros  participem  do  risco.  O  Brasil  já  está  fazendo  isso.  O  interesse  em  investir  é 
alto, em se tratando do Brasil. 

Seu relatório chama a iminente crise do petróleo de "problema acima do solo". A quem ele pertence? 

A todos os governos e empresas. São a política e economia que criam estas dificuldades. 

Terra Magazine 




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EFEITOS DOS CUSTOS TRANSACIONAIS NA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE GOVERNO
 

Estudo antecipa crise do petróleo para 2010

  • 1. IDB Terça, 12 de agosto de 2008, 07h09  Atualizada às 07h34  http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3040511‐EI6580,00.html  Estudo antecipa crise do petróleo para 2010  Arnild Van de Velde  De Amsterdã, Holanda  Um estudo publicado por diretores do Programa de Energia da Clingendael International (CIEP, sigla em  inglês)  antecipa  a  anunciada  crise  do  petróleo  em  cinco  anos.  Não  em  2015,  mas  já  em  2010,  diz  o  relatório, os primeiros efeitos de sua escassez se farão notar. A empresa holandesa é um instituto de  relações  internacionais  com  reconhecidos  trabalhos  nas  áreas  de  pesquisa,  capacitação  e  informação.  Nos Países Baixos, o CIEP é endossado por órgãos do governo e grupos empresariais de grande porte.  Em  2010,  diz  o  estudo,  a  produção  mundial  soferá  uma  baixa  de  7  a  11  milhões  de  barris/dia.  A  quantidade corresponderia a dois terços do consumo diário, só nos Estados Unidos. O estudo contesta  também  uma  previsão  do  banco  de  investimentos  Goldman  Sachs.  Baseando‐se  em  determinadas  condições até 2015, o banco estimou o preço do barril, já em 2009, entre US$200 e US$250. Os autores  do  relatório  da  Clingendael  prevêem  contudo  que  o  custo  do  barril  não  deve  superar  US$110,  no  primeiro ano da crise (segundo eles, 2010), ou seja uma queda de quase 50% em doze meses.  Em entrevista a Terra Magazine, a diretora da CIEP, Coby van der Linde, esboça o cenário que prevê e  comenta  a  importância  da  Rússia  ‐  um  parceiro  econômico  ainda  visto  com  alguma  reserva  pelos  vizinhos europeus ‐ na crise. Otimistas, empresas do setor confiam no próprio empenho em pesquisa e  extração.  Estes  investimentos,  diz  Coby  van  der  Linde,  "  são  caminhos  que,  me  parece,  o  Brasil  está  sabendo explorar".  Terra Magazine ‐ Em termos atuais e práticos, o representa uma queda de produção da ordem 7 a 11  milhões de barris/dia?  Coby van der Linde ‐ O preço do petróleo, da gasolina e do diesel seriam mais altos, mas talvez também  o  do  gás  de  cozinha,  do  óleo  ‐  produtos  que  as  pessoas  usam.  Talvez  tivessem  que  substituir  por  biocombustíveis, se estes estivessem disponíveis. Em alguns países, a energia elétrica ainda depende do  1
  • 2. IDB petróleo.  Para  consumidores  mais  pobres,  o  consumo  de  alguns  derivados  dependeria  do  subsídio  governamental (no caso de seus governos estarem em condições de subsidiar).  O  que  levou  à  antecipação,  em  cinco  anos,  do  que  os  senhores  chamam  de  "turbulências  do  petróleo"?  A  Agência  Internacional  de  Energia  indicou  que  o  setor  ficaria  muito  apertado,  a  partir  da  metade  da  próxima década. Enquanto isso, vemos que o mercado já tem dificuldades de ajuste. Os preços subiram  rápido demais e a níveis jamais vistos. Não há reservas suficientes no sistema, e a habilidade de resposta  a calamidades (naturais, conflitos locais e de manutenção) é igualmente baixa. Ao mesmo tempo, vemos  que países ricos em reservas de petróleo estão com dificuldades de explorá‐las, ou explorando‐as a um  passo  incapaz  de  atender  à  demanda,  de  compensar  a  exaustão  dos  velhos  campos  petrolíferos  em  lugares  como  o  Mar  do  Norte  e  o  Alasca,  porque  estão  inseguros  quanto  à  projeção  da  demanda  e  temerosos  da  concorrência  representada  por  fontes  alternativas,  como  os  biocombustíveis.  Esta  incerteza da demanda levam a evitar o investimento de risco. Porque todos estão esperando um sinal  do mercado ‐ ou dos governos ‐, ninguém toma medidas necessárias a tempo. O que foi previsto para o  começo da próxima da década já foi adiantado para hoje, e assim por diante.  Por que suas análises diferem tanto daquelas do Goldman Sachs?  Tentamos ser cuidadosos em nossa descrição, no sentido de que os preços sempre foram elaborados a  partir  de  quatro  variáveis,  sendo  a  do  custo  marginal  do  último  barril  necessário  para  atender  a  demanda, a mais importante. Este custo subiu (a propósito: o Brasil precisará adotar preços como os de  hoje  em  dia  para  desenvolver  seus  campos  recém‐descobertos)  a  preços  que  são  determinados  pela  demanda  em  tempos  de  escassez.  Goldman  Sachs  indicou  que  esta  escassez  e  a  indisponibilidade  de  alternativas  suficientes  elevariam  os  preços.  O  que  notamos  foi  que,  a  preços  muito  altos,  alguns  consumidores são lançados para fora do mercado. Como apresentado no estudo, os preços atuais são  guiados  por  fatores  estruturais  que  podem  ser  explicados  sem  que  seja  necessário  recorrer  à  especulação dos mercados ou à baixa do dólar. Se os preços estarão em torno de 200 dólares, 150 que  seja,  dentro  de  um  ano,  as  outras  variáveis  serão  tão  ou  mais  importantes  do  que  o  custo  marginal.  Neste caso, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) terá alcançado um velho desejo:  o petróleo será vendido por seu valor de consumo no mundo ocidental. Essa nova modalidade de preço  fará com que o petróleo deixe de ser tratado como commodity e seja avaliado por seu valor estratégico  e econômico.  2
  • 3. IDB O que isso trará, efetivamente, aos países da Opep?  Os países da Opep se tornarão ainda mais importantes, quando os velhos campos de produção caírem  em declínio e a Opep e alguns poucos países pasarem a representar os poucos detentores de reservas  capazes de exportar. A pressão sobre a Opep já era enorme, mas a entidade demonstrou que tem seus  interesses e que eles precisam ser relatados: uma melhor previsão da velocidade e a parte do mercado  que embarcará nos biocombustíveis; uma idéia mais clara de como a demanda asiática se desenvolverá.  Eles sinalizaram que não querem voltar ao ponto de dominação de grandes reservas, ao mesmo tempo  em que têm que carregar o fardo de equilibrar o mercado. Eles querem dividir esta conta.  Qual  é  o  significado  político  de  uma  política  amigável  com  a  Rússia,  como  a  senhora  parece  vir  sugerindo?  O sentido é de que a União Européia, além de defender seus próprios interesses, seja também sensível  aos  interesses  da  Rússia.  Que  criem  um  mercado  satisfatório,  com  menos  comentários  às  políticas  de  um e de outro.  Haverá então dependência do petróleo russo?  O petróleo russo será importante, assim como o de outros lugares, já que a produção interna da UE está  em declínio.  Qual seria o papel do México neste cenário e qual é a recomendação para o Brasil?  O  México  poderia  aumentar  os  investimentos  e  talvez  considerar,  sob  certas  condições,  permitir  que  investidores  estrangeiros  participem  do  risco.  O  Brasil  já  está  fazendo  isso.  O  interesse  em  investir  é  alto, em se tratando do Brasil.  Seu relatório chama a iminente crise do petróleo de "problema acima do solo". A quem ele pertence?  A todos os governos e empresas. São a política e economia que criam estas dificuldades.  Terra Magazine  3