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ARTIGOS
Desenvolvimento de
coleções: uma nova
visão para o
planejamento de
recursos informacionais
Waldomiro de Castro Santos
Vergueiro
Resumo
A evolução das atividades do desenvolvimento de
coleções nas bibliotecas acelera-se a partir de
necessidades advindas da "explosão
bibliográfica". Surgem propostas de modelos para
operacionalização do desenvolvimento de
coleções, bem como a necessidade de se
particularizar as abordagens segundo a tipologia
das bibliotecas. A preocupação com o
desenvolvimento de coleções também começa a
surgir no Brasil, ainda que em ritmo mais lento.
Palavras-chave
Planejamento bibliográfico; Desenvolvimento de
coleções.
INTRODUÇÃO
A expressão "desenvolvimento de cole-
ções" é bastante recente na literatura bi-
blioteconômica. Durante muito tempo, os
bibliotecários praticamente evitaram enca-
rar essa questão diretamente, talvez por-
que os motivos para tanto não se colocas-
sem em grau de suficiente importância, ou
porque ignorassem como as atividades
relacionadas com a constituição e/ou pla-
nejamento de acervos informacionais se
encontravam interligadas. Limitavam-se a
abordar essa problemática de maneira
isolada. No entanto, o desenvolvimento da
Biblioteconomia, tal como acontece com
qualquer ramo da ciência, foi aos poucos
fazendo a síntese de preocupações antes
dispersamente encontradas, gerando o
aparecimento de uma nova especialidade,
o desenvolvimento de coleções. Isto, ob-
viamente, não aconteceu por acaso, mas
acompanhou mudanças estruturais da or-
ganização do conhecimento registrado,
reflexos da modificações ocorridas em
nível mais amplo, ou seja, no da
disseminação do conhecimento humano.
EVOLUÇÃO DO
DESENVOLVIMENTO DE
COLEÇÕES
A preocupação com o desenvolvimento de
coleções em bibliotecas apresenta um níti-
do incremento a partir das últimas déca-
das, quando se tornou cada vez mais cla-
ro, para bibliotecários e administradores
em geral, que era praticamente impossível
acompanhar o ritmo alucinante de cresci-
mento dos materiais informacionais. Mais
que isto, constatou-se que tal era verda-
deiro tanto no que dizia respeito à constru-
ção de espaços físicos para acomodação
dos novos itens a serem incorporados,
como no que concernia à possibilidade de
tratamento adequado de todo este material.
Este crescimento da literatura, principal-
mente especializada, foi ocorrência ime-
diata daquilo que Solla Price, já durante a
década de 50, chamou de lei do cresci-
mento exponencial da ciência, querendo
significar que o crescimento de áreas ge-
rais ocorre exponencialmente, enquanto o
de subáreas, após uma fase inicialmente
linear, transforma-se, ele também, em ex-
ponencial.
Desta forma, a literatura científica tende a
aumentar a rapidez com que dobra de vo-
lume (o primeiro estudo de Solla Price,
realizado nas áreas de física e teoria de
determinantes e matrizes, apontava um ín-
dice situado ente 10 e 15 anos como o ne-
cessário para que a literatura nessas
áreas tivesse seu volume duplicado), sen-
do esse apenas um dos fatores daquilo
que ele, posteriormente, denominou de
"revolução científica"
1
. Esses estudos,
segundo Braga, comentando a obra do
estudioso norte-americano, deveriam fun-
cionar como um "sinal de alerta para en-
frentarmos o problema antes que seja tar-
de demais"
2
.
Não se sabe se as afirmações de Solla
Price encontraram boa acolhida entre os
profissionais responsáveis pela guarda e
recuperação da informação, ou se foram
elas ou o alerta de Bradford sobre a emer-
gência de um possível "caos documentá-
rio"
3
que fizeram os bibliotecários passa-
rem a ter uma preocupação maior com o
desenvolvimento de coleções. O certo é
que as conseqüências dos fenômenos
pesquisados pelos dois estudiosos, a
chamada explosão bibliográfica, trouxeram
preocupações extras a esses profissio-
nais, introduzindo, em sua tarefa de coleta,
elementos complicadores antes inexisten-
tes. Entre estes, pode-se destacar, por
exemplo, o fato de que boa parte da pro-
dução colocada no mercado por esta "ex-
Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais
plosão" é constituída, na realidade, de
material de pouca importância, repetindo
apenas o que outros haviam dito ou discu-
tido anteriormente a eles, sem nada acres-
centar de novo.
Isto veio a aumentar sobremaneira a ne-
cessidade de uma seleção de acervo cada
vez mais criteriosa, o controle do cresci-
mento ou desenvolvimento das coleções,
a fim de que estas não ficassem abarrota-
das de materiais com informações redun-
dantes. E esta preocupação surgiu, foi e
continua a ser predominante na área das
bibliotecas acadêmicas e universitárias –
uma das razões pelas quais a discussão
sobre o desenvolvimento de coleções tem
sido feita, na literatura especializada, enfo-
cando, principalmente, este tipo de institui-
ção bibliográfica.
A questão não era – e continua a não ser
– simplesmente financeira, originada pela
eventual falta das verbas necessárias para
garantir a aquisição dos materiais conside-
rados de interesse. Era, mais que isso,
uma questão de total impossibilidade de
acompanhar, de maneira minimamente
efetiva, o ritmo da "explosão bibliográfica".
Entre 1950 e 1965, a produção mundial de
livros produzidos no mundo inteiro, consi-
derando-se o número de títulos, chegou a
duplicar
4
, isto para não entrar em conside-
rações a respeito do aumento da produção
de outros formatos e veículos de comuni-
cação, como é o caso dos periódicos tanto
gerais como especializados, dos discos,
filmes, diapositivos etc.
A aquisição exaustiva de obras, com a
conseqüente garantia de acomodação das
mesmas, passava a ser, desde então, ta-
refa cada vez mais difícil de ser cumprida.
Basta lembrar, a título de ilustração, que o
maior crescimento de bibliotecas universi-
tárias nos Estados Unidos ocorreu no pe-
ríodo que vai de 1967 a 1974, no qual fo-
ram construídos prédios e/ou novas salas
para acomodar cerca de 163 milhões de
volumes. Enquanto isso, as coleções das
bibliotecas universitárias daquele país, de-
vido ao grande volume de verbas então
disponíveis, expandiram-se, no mesmo pe-
ríodo, por volta de 166 milhões de volu-
mes. Ou seja: um excedente de aproxima-
damente três milhões de volumes para os
quais não foi possível providenciar espaço
em termos de armazenamento
5
. E tal
aconteceu, diga-se de passagem, em uma
das épocas mais favoráveis já vivenciadas
pela biblioteconomia norte-americana,
quando as verbas para bibliotecas univer-
sitárias e especializadas eram obtidas com
relativa facilidade.
Depois disso, as verbas, tanto para a
construção de novos edifícios, como para
a própria aquisição de" recursos informa-
cionais começaram a tornar-se cada vez
mais difíceis de serem obtidas, e a neces-
sidade de planificação dos acervos pas-
sou a ser uma opinião – ou uma certeza –
a cada dia mais e mais compartilhada pe-
los bibliotecários. Ilustra bem este fato a
seguinte afirmação, expressa por James
C. Baughman:
"Os bibliotecários estão começando agora
a perceber que eles não podem continuar
a trabalhar sob a pressuposição de que
não existe limite para a quantidade de ma-
terial que pode ser adquirido, organizado e
armazenado. A taxa de produção de do-
cumentos é demasiadamente grande e
pressões fiscais demasiadamente agudas
para permitir aos bibliotecários manter seu
modus operandi. É tempo também que os
bibliotecários percebem que é possível ad-
quirir coleções básicas de qualidade sem
alcançar figuras astronômicas"
6
.
Não se entenda, no entanto, que essa
preocupação se tenha iniciado durante a
década de 60 ou inícios da de 70, quando
se pode identificar nitidamente um movi-
mento em direção ao desenvolvimento de
coleções. O fato é que, por esta época, no
mundo inteiro – o Brasil demorou um pou-
co para aderir – boa parte dos bibliotecá-
rios passou a dar maior atenção às cole-
ções sob sua responsabilidade, buscando
desenvolvê-las, selecioná-las, expurga-
las. Enfim, procurando transformá-las em
alguma coisa mais coerente.
E houve, então, como que um boom do
desenvolvimento de coleções: artigos so-
bre o assunto ou sobre suas atividades
componentes começaram a aparecer, com
frequência cada vez maior, nos periódicos
de Biblioteconomia; manuais especializa-
dos foram escritos, buscando conscienti-
zar os profissionais sobre a importância do
tema; teses e pesquisas foram realizadas
em universidades do mundo inteiro; perió-
dicos especializados exclusivamente nes-
sa área foram criados.
Como mais um exemplo desta preocupa-
ção dos bibliotecários, veja-se, ainda,
a modificação de título e enfoque de
uma das seções anuais de revisão da li-
teratura do tradicional periódico Library
Resources & Technical Services, que, em
certo momento, deixa de denominar-se
Resources
7
para passar a chamar-se
Collection Development and Preservation
8
;
pouco tempo depois, o título da seção so-
freria "nova mudança, assumindo a deno-
minação Collection Development
9
. Estava
patenteada, portanto, a existência de uma
doutrina, ainda que incipiente, sobre o de-
senvolvimento de coleções.
Ao considerar este relativamente súbito
incremento de interesse pelo desenvol-
vimento de coleções, alguém poderia ima-
ginar até que, com alguns anos de atra-
so, os bibliotecários haviam-nas desco-
berto, finalmente (este entusiasmo tem si-
do tão grande, que um bibliotecário mais
afoito chegou a afirmar que "a Biblioteco-
nomia é a arte de desenvolver uma cole-
ção de livros, não a atividade de indexá-
la"
10
, o que, muito provavelmente, é um
exagero...).
A conclusão que à primeira vista se impõe,
considerando-se a existência, a partir de
um determinado momento, de uma preo-
cupação mais acirrada com as coleções,
é a de que, anteriormente a essa preocu-
pação, teria existido um provável alhea-
mento dos profissionais em relação às
mesmas, permitindo que estas se desen-
volvessem naturalmente, obedecendo à
teoria do laissez-faire. Esta seria contudo
uma conclusão equivocada.
Na realidade, os profissionais da Bibliote-
conomia não estiveram absolutamente
apáticos no que diz respeito ao desenvol-
vimento de suas coleções, durante aque-
les anos todos que precederam o boom.
As várias atividades do processo de de-
senvolvimento de coleções sempre foram
motivo de interesse dos bibliotecários. Pa-
rece certo que, anteriormente à explosão
bibliográfica, a preocupação parecia ser
muito mais pontual, direcionada, apesar
de, antes da década de 70, alguns bibliote-
cários, principalmente na área de bibliote-
cas universitárias, já alertarem seus cole-
gas quanto à necessidade de elaboração
de políticas para a coleção ou para a aqui-
sição de materiais
11
.
Sob certos aspectos, é uma temeridade
afirmar-se que a preocupação com uma
seleção mais cuidadosa dos materiais a
serem incorporados ao acervo surgiu na
década de 60 ou 70. Esta preocupação pa-
rece sempre ter existido, mas localizava-
se muito mais no acréscimo de novos títu-
los à coleção, no sentido da "construção"
– o termo utilizado era exatamente esse –
da mesma, sem deslocar o centro de
atenção do item em si para a coleção à
qual ele estava sendo incorporado
12
.
Da mesma forma, sempre existiu o cuida-
do em otimizar os processos de aquisição,
buscando abreviar o tempo necessário pa-
ra a obtenção e colocação do material ao
alcance do usuário nele interessado. So-
bre esse assunto, especificamente, irá
manifestar-se Gail Kennedy, apontando
que "a maioria das pessoas concordaria
que a aquisição sempre esteve em ativi-
dade, enquanto o desenvolvimento de co-
leções é um termo relativamente novo, se
não uma atividade absolutamente nova"
13
.
Continuando, a autora dirá que o trabalho
de busca, identificação e aquisição de
Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais
materiais de interesse à biblioteca já era
realizado antes de 70, principalmente em
grandes bibliotecas universitárias, com a
mesma intensidade e minuciosidade que
se tornou muito mais comum depois desta
época, mas que o efetivo exercício de au-
toridade primária sobre o desenvolvimento
das coleções pelos bibliotecários só co-
meçou mais recentemente.
Por outro lado, constata-se, ainda, que o
desenvolvimento de coleções surge como
uma evolução da seleção, juntamente com
todas as atividades que lhe são correlatas.
Já nos anos 60, pode-se notar uma preo-
cupação maior com os orçamentos dispo-
níveis para recursos informacionais, pro-
curando utilizar-se de fórmulas que propi-
ciassem uma alocação mais inteligente
dos mesmos, aplicadas principalmente em
bibliotecas universitárias.
Inovação foi, talvez, o reconhecimento de
que o desenvolvimento de coleções deve
ser uma divisão funcional da biblioteca, da
mesma forma como o são a catalogação, a
referência, a aquisição e os departamentos
de circulação, em uma clara manifestação
de que as complexidades dessa atividade
haviam ampliado bastante. De qualquer
forma, parece bastante claro para Gail
Kennedy que, "sob uma variedade de ní-
veis de reconhecimento, a maioria das bi-
bliotecas públicas e acadêmicas deram
atenção ao desenvolvimento de coleções
durante os anos 70"
13
. (É claro que a autora
está falando da realidade norte-americana,
ou melhor, dos países mais desen-
volvidos...).
A grande contribuição da conscientização
sobre a explosão bibliográfica parece, to-
davia, ter sido muito mais no sentido de
obrigar os bibliotecários a uma mudança
radical de atitude em relação ao armaze-
namento e coleta de materiais informacio-
nais. Ficou mais claro, a partir de então,
que, se pretendiam manter as bibliotecas,
pelas quais eram responsáveis, organis-
mos vivos e atuantes, deveriam necessa-
riamente mudar a ênfase de seu trabalho,
abandonando a acumulação pura e sim-
ples do material em benefício da possibili-
dade de acesso ao mesmo, tornando a
coleção "consistente com as metas e ob-
jetivos da instituição a que serve"
14
. É a
evolução das instituições em um mundo de
constantes mudanças que, por meio dos
modernos sistemas de comunicação, tor-
nou as coleções acessíveis em nível mun-
dial.
O limite para uso dos acervos, utilizando-
se do compartilhamento de recursos in-
formacionais – que, praticamente, não co-
nhece fronteiras –, é o próprio limite do co-
nhecimento recuperável. Como pensar,
diante disto, em armazenar documentos
apenas para si? Ficou bem claro, a partir
desta mudança de atitude, que nenhuma
biblioteca poderia ser auto-suficiente, atre-
vendo-se a procurar dar-se ao luxo de. su-
prir todas as necessidades informacionais
de seus usuários com recursos próprios.
Esta passou a ser, na realidade, uma aspi-
ração humanamente impossível de ser
realizada.
Sem dúvida, esta foi uma mudança bas-
tante radical, ocorrida com uma rapidez até
surpreendente, quando considerados os
longos anos do desenvolvimento da Bi-
blioteconomia. Ela chegou a pegar muitos
profissionais de surpresa. E talvez toda
esta surpresa e resistências colocadas
por alguns bibliotecários em relação ao
desenvolvimento de coleções deva-se, em
realidade, ao fato de que essa foi uma mu-
dança que implicou – e continua a implicar
– uma transformação de mentalidade, ou
seja, o abandono de práticas e/ou visões
de mundo tradicionalmente assimiladas,
mas raras as vezes questionadas. Trata-
se do abandono de uma postura tradicio-
nal, enfim, que não conseguia ver, no de-
senvolvimento de coleções, nada mais que
a pura ou simples aquisição de materiais
informacionais. É que, também, mostrou-
se, muitas vezes, pouco permeável a
novas atribuições, principalmente aque-
las relacionadas com o planejamento do
acervo.
Este, como diz Bruer, é um "sinal dos
tempos", que exigiu uma distinção clara
entre os procedimentos de aquisição,
muitas vezes puramente operacionais, e o
desenvolvimento de coleções, entendido,
este último, de forma a incluir, também, a
pesquisa sobre práticas de doação e per-
muta, reavaliação das aquisições efetua-
das e a análise das práticas de seleção e
aquisição cooperativa, sem, contudo, limi-
tar-se apenas a elas. Ou seja: cada um
desses itens poderia ser denominado co-
mo "uma subseção do problema maior do
desenvolvimento de coleções em geral"
15
.
MODELOS TEÓRICOS
Hendrik Edelman sugeriu a existência de
uma hierarquia entre os termos desenvol-
vimento de coleções, seleção e aquisição.
No primeiro nível, estaria o desenvolvi-
mento de coleções entendido de maneira
ativa, como uma função de planejamento:
a existência de um plano ou política de de-
senvolvimento da coleção que descreva
"os objetivos a curto e longo prazo da bi-
blioteca para suas coleções"
16
, levando-as
em consideração e correlacionando-as
com aspectos do meio ambiente, como a
demanda do usuário, sua necessidade e
expectativa, o mundo da informação, os
planos fiscais e a história das coleções.
No segundo nível, estaria a seleção como
função direta do desenvolvimento de cole-
ções, isto é, o processo de tomada de de-
cisões relacionadas com a implementação
dos objetivos anteriormente estabelecidos.
Neste aspecto, os critérios e metodologia
para identificação e seleção dos materiais
informacionais deveriam ser necessaria-
mente vistos separadamente da política
para desenvolvimento da coleção.
No terceiro nível desta hierarquia, estaria a
aquisição, entendida, agora, como a im-
plementação das decisões de seleção.
É o processo que, na prática, torna reali-
dade palpável decisões tomadas na sele-
ção. O autor, apesar de hierarquizar os
itens componentes do desenvolvimento de
coleções, reconhece que os mesmos es-
tão em constante interação e sobreposi-
ção
16
.
John Ryland parece concordar com Edel-
man, quando lembra aos bibliotecários
presentes em uma conferência sobre
aquisição de livros e periódicos realizada
em Charleston que, na realidade, "o de-
senvolvimento e a administração de cole-
ções é muito mais que a seleção"
17
. Para
ele, o desenvolvimento de coleções irá
abranger variadas tarefas, como a deter-
minação da política da coleção, a alocação
de recursos, a avaliação de coleções, seja
para descarte, como para armazenagem
em depósitos.
Nesta mesma linha de raciocínio, cami-
nham, também, Rose Mary Magrill e Do-
ralyn J. Hickey, quando afirmam que:
"De uma maneira geral, o desenvolvimento
de coleções irá incluir a avaliação das ne-
cessidades dos usuários, a avaliação da
coleção atual, a determinação da política
de seleção, a coordenação da seleção de
itens, o "desbastamento" e armazenagem
de partes da coleção e o planejamento pa-
ra compartilhamento de recursos. Entre-
tanto, de uma maneira ainda mais geral, o
desenvolvimento de coleções não é ape-
nas uma simples atividade ou um grupo de
atividades: é um processo de planeja-
mento e de tomada de decisão"
18
.
Já James C. Baughman entende que o de-
senvolvimento de coleções precisa ser
enfocado sob um ponto de vista estrutura-
lista, querendo, com isto, significar "a pro-
cura de um padrão de relacionamento"
6
entre as partes envolvidas nesta atividade
bibliotecária. Com esta abordagem, o de-
senvolvimento de coleções é entendido
como composto por vários componentes:
a) uso: grupo de demandas;
b) conhecimento: grupo de disciplinas,
assuntos, tópicos e áreas de estudo;
Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais
c) biblioteconomia: grupo de relações en-
tre as literaturas dos diversos assun-
tos.
Para Baughman, são exatamente as rela-
ções entre esses três componentes que
irão gerar o desenvolvimento de coleções,
o qual está no centro mesmo deste rela-
cionamento, conforme pode ser visualiza-
do pela figura idealizada por esse autor (fi-
gura 1). O desenvolvimento de coleções
irá constituir-se, então, no entrecruza-
mento de planejamento, implementação e
avaliação de coleções, que serão assim
definidos:
a) planejamento da coleção – é um projeto
para a acumulação de documentos
afins, da maneira determinada pelas
necessidades, propósitos, objetivos e
prioridades da biblioteca;
b) implementação da coleção – trata do
processo de tornar os documentos
acessíveis para uso;
c) avaliação da coleção – envolve
seu
exame e julgamento em relação aos
objetivos e propósitos estipulados.
Desta forma, Baughman afirma que o de-
senvolvimento de coleções é um plano
passível de implementação, podendo ser
representado da seguinte forma:
PLANEJAMENTO + IMPLEMENTAÇÃO
+ AVALIAÇÃO = DESENVOLVIMENTO
DE COLEÇÕES
Concluindo seu raciocínio, o autor afirma
que "o enlaçamento destes conceitos em
uma política para desenvolvimento de co-
leções leva a um sistema que é comple-
mentado, cíclico e auto-aperfeiçoável
6
.
Com uma maneira ligeiramente diferente
de pensar, G. Edward Evans irá enfocar o
desenvolvimento de coleções sob um
ponto de vista sistêmico, definindo-o como
o "processo de identificação dos pontos
fortes e fracos de uma coleção de mate-
riais de biblioteca em termos de necessi-
dades dos usuários e recursos da comu-
nidade e tentando corrigir as fraquezas
existentes, quando constatadas", o que vai
requerer "constantes exame e avaliação
dos recursos da biblioteca e constante
estudo tanto das necessidades do usuá-
rios, como de mudanças na comunidade a
ser servida
19
.
Desta forma, considerado como um
processo, o desenvolvimento de coleções
terá necessariamente um enfoque sistêmi-
co, e sua ênfase irá variar, para cada um
de seus componentes, de acordo com o ti-
po de biblioteca em que estiver ocorrendo.
Mas este processo pode ser, de uma ma-
neira geral, considerado comum para to-
das as bibliotecas. Além disso, esta con-
cepção é muito importante, por concentrar
em si a noção de continuidade, a qual,
abordada sob a perspectiva sistêmica,
transmite a idéia de que as atividades li-
gadas à coleção não podem ser encara-
das isoladamente, mas têm de ser vistas
como componentes – ou subsistemas –
de um todo.
Figura 1 - Desenvolvimento de coleções. Abordagem estruturalista
(Baughman, 19796
)
Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais
O modelo do processo, elaborado por
Evans
19
, é, aliás, bastante elucidador a
este respeito, pois enfatiza o caráter cícli-
co do desenvolvimento de coleções, sem
que uma etapa chegue a distinguir-se ou
sobrepor-se às demais. Estão todas em pé
de igualdade, girando, teoricamente, em
torno de um pequeno círculo em que estão
situados os profissionais responsáveis
pelo trabalho de desenvolvimento da cole-
ção. Ao redor desses componentes, ser-
vindo como subsídios a todos eles – ex-
ceção única a da etapa de aquisição -,
encontra-se a comunidade a ser servida.
Desta forma, o modelo cobre o processo
inteiramente, não caindo no erro de con-
fundi-lo com uma ou outra de suas par-
tes componentes – erro bastante comum
de acontecer no dia a dia das bibliotecas.
A figura é bastante esclarecedora, além do
mais, por deixar claro que este é um pro-
cesso ininterrupto, tendo necessariamente
de transformar-se em atividade rotineira
das bibliotecas, garantia única de sua efe-
tividade (figura 2).
Também Charles B. Osborn irá salientar
exaustivamente essa característica sistê-
mica do desenvolvimento de coleções, de-
finindo-o como "um sistema de serviço ao
público, efetuado mediante um processo
de tomada de decisões que leva a uma
determinação da aquisição e retenção dos
materiais"
20
. Para ele, os conceitos de
"serviço ao público", "sistema" e 'proces-
so de tomada de decisões" são conceitos-
chave para entendimento global dos objeti-
vos e propósitos do desenvolvimento de
coleções.
Posteriormente a Evans e Osborn, Bonita
Bryant debruçou-se sobre a questão do
desenvolvimento de coleções, procurando
distinguir as diversas estruturas organiza-
cionais que são utilizadas para desempe-
nho dessas atividades
21
. Aponta que é
possível identificar a existência de três
posturas neste aspecto:
a) postura de aquisição – caracterizada
pela confiança na seleção de novos
materiais, realizada externamente à bi-
blioteca, é, praticamente, uma postura
em que os bibliotecários exercem pou-
quíssimo controle sobre a coleção, pelo
menos no sentido de direcioná-la para
um determinado objetivo. Existe ape
nas, como indício da existência do
mesmo, no máximo um perfil para
aprovação do material, estabelecido em
bases bastante amplas.
b) postura de seleção – procura concen-
trar nos bibliotecários a responsabilida-
de pelo desenvolvimento da coleção,
apesar de seleções realizadas exter-
namente à biblioteca poderem ser
aceitas, ou, mesmo, eventualmente so-
licitadas. Existe um tipo de ligação
entre usuários e bibliotecários respon-
sáveis pela seleção. Isto, geralmente,
facilita o estabelecimento de uma políti-
ca para o desenvolvimento da coleção,
embora se possa afirmar que as ati-
vidades rotineiras de seleção tendem
a deixar aos bibliotecários pouco tem-
po disponível para participação do
desbastamento sistemático ou outros
projetos.
c) costura de administração e desenvol-
vimento de coleções – caracteriza-se
pela distribuição das tarefas e respon-
sabilidades envolvidas neste objetivo
entre os bibliotecários com formação
acadêmica em áreas de assunto espe-
cíficas. Existe, nesta última postura,
uma articulação quase que completa,
por um lado, entre a política e o des-
bastamento sistemático e, por outro, a
análise do orçamento, alocação e con-
trole de recursos financeiros e informa-
cionais.
Mais ou menos na mesma época em que
Bonita Bryant tratou da questão do desen-
volvimento de coleções, James A. Cogs-well
fez um rápido levantamento da literatura
sobre o assunto e destacou que esta
denominação parece ter-se tomado insufi-
ciente para a gama de atividades atual-
mente envolvidas com a administração e
desenvolvimento de coleções. Segundo
este autor, apesar de a "maior parte da lite-
ratura recente ainda utilizar o termo de-
senvolvimento de coleções de bibliote-
cas"
22
, vários autores, como são os casos
de Lyden
7
e Mosher
23
, apontam o apare-
cimento de uma nova nomenclatura que
visa a abarcai mais adequadamente as
atividades incorporadas a esta área do
trabalho bibliotecário.
Para reforçar sua argumentação,
Cogswell
22
cita textualmente artigo de
Mosher em que este último define o de-
senvolvimento de coleções como "a sele-
ção efetiva e oportuna dos materiais de bi-
blioteca, formando áreas de assunto ou
coleções cuidadosamente construídas, no
transcorrer do tempo, por bibliógrafos es-
pecializados". Em contraposição a esta
descrição, Mosher, ainda citado por
Cogswell, especifica as atividades envol-
vidas, segundo ele, na administração de
coleções, a qual pode ser definida como a
"administração sistemática, eficiente e
econômica dos recursos da biblioteca",
enfatizando, por um lado, a "natureza pro-
gramática" e, por outro, os papéis, agora
ampliados, dos administradores das cole-
ções
23
. Para Cogswell, entretanto, inde-
pendentemete de qual seja a terminologia
utilizada, o importante é que a administra-
ção de modernas coleções de pesquisa
não seja encarada como "uma série de ta-
refas isoladas ou estreitamente definidas,
reservadas para uns poucos bibliógrafos
especializados"
22
.
Figura 2 - O processo de desenvolvimento de coleções
(Evans, 197919
)
Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais
Continuando, Cogswell
22
apresenta sua
definição de administração de coleções
como sendo "a administração sistemática
do planejamento, composição, orçamenta-
ção, avaliação e uso das coleções de bi-
bliotecas durante grandes períodos de
tempo, a fim de atingir objetivos institucio-
nais específicos" e compreendendo, pelo
menos, as oito seguintes funções:
1) planejamento e elaboração de políticas
– processo de identificação e imple-
mentação de planos de ação em rela-
ção à coleção, incluindo, como parte
integral e central, o estabelecimento de
uma declaração formal de política para
o desenvolvimento da mesma, que não
pode, absolutamente, ser vista como
um documento interno, unicamente pa-
ra uso da biblioteca, mas, isto sim, ser
utilizada como um instrumento potencial
de comunicação com a comunidade
servida.
2) análise de coleções – avaliação dos
pontos fortes e fracos da coleção utili-
zando-se de medidas objetivas.
3) seleção de materiais – uma função im-
portantíssima devido à natureza expan-
siva da maioria das coleções de pes-
quisa, que tende a modificar-se com a
aplicação cada vez maior de progra-
mas de aquisição on approval, em que
as bibliotecas transmitem a grandes
fornecedores de materiais de infor-
mação, mediante um perfil de interesse
da biblioteca, a decisão sobre a se-
leção dos materiais, abreviando o pro-
cesso de aquisição dos mesmos.
4) manutenção da coleção – também de
nominada re-seleção, abrange os tra
balhos de decisão sobre quais mate
riais na coleção devem ser preserva
dos, descartados ou armazenados para
melhor servir às necessidades cios
usuários presentes e futuros.
5) administração fiscal – vai incluir toda a
atividade de controle de orçamento e
alocação de recursos para aquisição
de materiais.
6) contato com usuário – à medida que se
tornam cada vez mais complexas as
necessidades e exigências dos usuá
rios, faz-se necessária unia ligação
maior com ele por parte dos bibliotecá
rios responsáveis pelo desenvolvi
mento das coleções, a fim de ter co
nhecimento das mesmas e atendê-las
de maneira satisfatória. Este trabalho
terá de levar em consideração, neces
sariamente, a provisão de instrução bi
bliográfica, a busca on-line e o próprio
serviço de referência em base regular.
7) compartilhamento de recursos – não
pode mais ser visto como atividade ex-
tra à qual nem sempre correspondem
benefícios suficientemente compensa-
dores. Tornou-se, na realidade, uma
condição essencial para viabilidade de
toda e qualquer biblioteca, principal-
mente devido aos avanços no campo
da telecomunicação.
8) avaliação do programa – os planos, po-
líticas, procedimentos e pessoal envol-
vido no desenvolvimento de coleções
precisam ser periodicamente avaliados
com a finalidade de verificar sua ade-
quação à comunidade e aos objetivos
da instituição. Dados referentes à utili-
zação, ou não-utilização, empréstimo
interbibliotecário e estudos de usuário
precisam ser considerados na admi-
nistração e desenvolvimento da cole-
ção
22
.
O trabalho de Cogswell, entretanto, foi rea-
lizado tendo em vista a organização das
atividades ligadas ao desenvolvimento de
coleções em bibliotecas acadêmicas ou de
pesquisa. Toda a atividade de coleta de
dados desenvolvida por esse autor teve
como objetivo obter modelos organizacio-
nais aplicáveis nesse tipo de instituições,
deixando de questionar sua adequação a
outras tipologias de bibliotecas, como, por
exemplo, as públicas ou escolares. A ade-
quação do desenvolvimento de coleções
às características da organização bibliote-
cária em que se realiza parece ser uma
tendência quase dominante.
TIPOS DE BIBLIOTECAS E
DESENVOLVIMENTO DE
COLEÇÕES
O desenvolvimento de coleções não tem
sido discutido de maneira semelhante no
que concerne aos vários tipos de institui-
ções bibliotecárias. Pelo que se depreende
da literatura em Biblioteconomia e Docu-
mentação, a preocupação com esse as-
sunto em bibliotecas universitárias e/ou
especializadas, pelo menos no que diz
respeito ao aparecimento de artigos tra-
tando mais detalhadamente dessas insti-
tuições, tem sido muito maior do que
aquela a respeito de bibliotecas públicas
ou escolares. Talvez isto se deva, princi-
palmente, ao fato de que grande parte
dessa literatura tem sua origem nos Esta-
dos Únicos, onde se pode notar, desde
inícios da década de 60, o recrudesci-
mento de problemas devidos ao cresci-
mento das bibliotecas, principalmente as
universidades de grande porte
5
.
Desta forma, é até compreensível a pre-
ponderância de estudos sobre o desenvol-
vimento de coleções em bibliotecas uni-
versitárias, como é o case do estudo so-
bre o estado-da-arte de Magrill & East
11
,
pois estava aí – e, provavelmente, ainda
continua a estar – a maior preocupação
dos bibliotecários norte-americanos.
O fato apontado anteriormente pode ser
constatado tanto no estudo do desenvol-
vimento de coleções como um todo, en-
globando o total de suas atividades, como
no caso específico de cada uma delas.
Desta forma, por exemplo, vê-se que a
questão do empréstimo interbibliotecário,
como urna provável alternativa à compra
de materiais, apenas recentemente foi dis-
cutida, na literatura, em sua relação com
as bibliotecas públicas
24
. Por outro lado, é
também bastante provável que, de um
ponto de vista puramente pragmático, te-
nha parecido, a esses profissionais, ser
mais compensador e justificável financei-
ramente o dispêndio de mais tempo e tra-
balho na resolução dos problemas de de-
senvolvimento de coleções em bibliotecas
universitárias e especializadas que nas
demais.
Alguns dos manuais didáticos sobre de-
senvolvimento de coleções surgidos, em
anos recentes, na literatura internacional,
têm discutico a especificidade das bibliote-
cas no que tange ao desenvolvimento de
suas coleções
19, 25
, partindo da premissa
de que desenvolver a coleção de uma bi-
blioteca pública, por exemplo, não é, ab-
solutamente, a mesma coisa que desen-
volver a coleção de uma biblioteca espe-
cializada. Outros, contudo, não chegam
a fazê-lo com a mesma especificidade
11
,
entendendo, talvez, que o assunto possa
ser encarado amplamente e que o mesmo
seria, portanto, globalmente válido e
necessário em bibliotecas de qualquer ti-
po, nas quais ocorreria de maneira bas-
tante semelhante. Para esses últimos au-
tores, não haveria necessidade de parti-
cularizações.
Esta última parece ser um postura equivo-
cada, pois tudo parece indicar que o de-
senvolvimento de coleções precisa ne-
cessariamente ser tratado de maneira es-
pecífica a cada tipo de biblioteca em que
vier a ocorrer, uma vez que o processo
tende a variar de acordo com as finalida-
des das instituições em que acontece.
Considerando o modelo desenvolvido por
Evans
25
, podem ser constatadas as se-
guintes especificidades:
a) Bibliotecas públicas – Possuem uma
clientela mais dinâmica, diversificada,
que deve ser acompanhada com bas-
tante atenção devido às mudanças de
gostos e interesses. As necessidades
informacionais da comunidade a ser
atendida pela biblioteca variam, pode-
se dizer, quase que na mesma propor-
18
Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais
ção em que variam os grupos, organi-
zados ou não, presentes na mesma. O
trabalho de análise da comunidade pa-
rece ser, assim, aquele que maior ên-
fase deve receber por parte dos biblio-
tecários. Como conseqüência desse
acompanhamento da comunidade,
exatamente em virtude das flutuações
detectadas, haverá um cuidado espe-
cial com a seleção de materiais, devi-
damente alicerçada em uma política de
seleção (que, por sua vez, será basea-
da no perfil da comunidade a ser aten-
dida). Boa ênfase nas atividades de
avaliação e desbastamento do acervo
parece ser, também, outra característi-
ca do desenvolvimento de coleções em
bibliotecas públicas, principalmente
quando se procura atender à demanda
imediata dos usuários. Neste aspecto,
salienta-se que os bibliotecários res-
ponsáveis pelo desenvolvimento de
coleções em bibliotecas públicas de-
vem "primariamente desejar servir o
público, mas ainda assim manter uma
perspectiva prática, um interesse em
questões correntes, uma saudável
desconfiança do status quo, uma diver-
são em assumir riscos e uma incrível
memória para livros, mas uma falta de
reverência por eles"
27
.
b) Bibliotecas escolares – Existem – ou
pelo menos deveriam existir – para dar
suporte às atividades pedagógicas das
unidades escolares nas quais se locali-
zem. Mais que isto: devem estar inte-
gradas ao processo educacional. As
coleções das bibliotecas escolares de-
vem seguir, na realidade, os direciona-
mentos do sistema educacinal vigente,
pautando-se pelos currículos e biblio-
grafias básicas dos cursos. A ênfase
do processo de desenvolvimento de
coleções estará, portanto, muito mais
na seleção de materiais para fins didá-
tico-pedagógicos - normalmente alicer-
çada por uma política de seleção que
terá por base o currículo ou programa
escolar. Relevem-se, a respeito disso,
as grandes inovações que vêm acon-
tecendo em termos de recursos de in-
formação colocados a serviço das ins-
tituições educacionais, principalmente
em países do Primeiro Mundo e em al-
gumas regiões de países como o Bra-
sil, em que as bibliotecas escolares
transformaram-se em verdadeiras cen-
trais de multimeios cujos objetivos po-
dem ser expressos como "dar suporte
e promover o propósito formulado pela
escola ou distrito do qual são parte in-
tegrante"
28
. As etapas de avaliação e
desbastamento serão enfatizadas, nas
bibliotecas escolares, à medida que
possibilitem adequar a coleção a
eventuais mudanças nos programas
e/ou currículos.
c) Bibliotecas universitárias - Devem
atender aos objetivos da universidade,
a saber, o ensino, a pesquisa e a ex
tensão de serviços à comunidade. Isto
vai exigir, quase que necessariamente,
uma coleção com forte tendência ao
crescimento, pois atividades de pes-
quisa exigem uma variada gama de
materiais de informação que possibili-
tem ao pesquisador ter acesso a tocos
os pontos de vista importantes ou ne-
cessários para sua pesquisa. Apesar
do aparecimento de um bom número de
pesquisas que advogam uma atividade
de seleção de materiais informacionais,
em bibliotecas universitárias, que leve
prioritariamente em conta a relação
custo-benefício ou custo-efetividade do
material a ser adquirido
29, 30
, medidos
por estudos de uso da informação, esta
não parece ser a principal preocupação
do desenvolvimento de coleções em
bibliotecas universitárias. Isso é decor-
rente de que a mesma necessita ter um
volume de materiais suficientemente
significativo em termos de quantidade e
qualidade para dar suporte às ativida-
des de pesquisa realizadas tanto em
nível de graduação como de pós, assim
como às atividades normais de presta-
ção de serviços ou extensão à comuni-
dade. Da mesma forma, a clientela é
relativamente homogênea, não exigindo
avaliações de grande monta. A ênfase
maior, no caso, parece estar muito
mais no desbastamento e avaliação
constantes das coleções - medidas
necessárias para otimização do acer-
vo. Já as bibliotecas das chamadas
"instituições isoladas de ensino supe-
rior", no entanto, contrariamente às de
bibliotecas ligadas a universidades,
exatamente por não terem de prestar
suporte à pesquisa, norteiam o desen-
volvimento de suas coleções pelas exi-
gências dos programas ou currículos
dos cursos por elas oferecidos. Levam
em consideração, além disso, não só a
natureza deste currículo, como também
a composição do corpo docente, a
quantidade de recursos financeiros dis-
poníveis e a localização geográfica
31
.
Neste aspecto, elas aproximam-se
muito das bibliotecas escolares.
d) Bibliotecas especializadas ou de em
presas – Existem para atender às ne-
cessidades das organizações a que
estão subordinadas e por isso – mais
do que qualquer uma das outras ante-
riormente citadas – têm seus objetivos
muito mais bem definidos. A diferença
maior no desenvolvimento de coleções
em bibliotecas especializadas está,
provavelmente, na maior necessidade
de especificação de normas para sele-
ção dos materiais com a finalidade de
compatibilizá-los com os objetivos da
instituição maior. Da mesma forma,
é neste tipo de biblioteca que são ne-
cessários, com maior freqüência, mate-
riais não-convencionais – relatórios,
patentes, préprints etc. – que exigem
dos bibliotecários um enorme esforço
para localização e obtenção dos itens
desejados.
Vê-se, portanto, que a questão do desen-
volvimento de coleções não é enfocada da
mesma maneira em todas as bibliotecas.
Como anteriormente citado, esta parece
ser uma conseqüência lógica da própria
diversidade das instituições, que vão
abranger características de acervo, usuá-
rio e meio ambiente onde se localizam.
DESENVOLVIMENTO DE
COLEÇÕES NO BRASIL
A questão primeira a ser levantada em re-
lação ao desenvolvimento de coleções no
país poderia ser expressa em poucas pa-
lavras, da seguinte forma: afinal, estão as
coleções sendo realmente desenvolvidas
com critérios neste país? Estão elas se-
guindo qualquer tipo de parâmetro para
seu desenvolvimento?
A resposta que a literatura biblioteconômi-
ca em língua portuguesa dá a esta per-
gunta não parece ser das mais animado-
ras. Pouco – ou quase nada – pode ser
apresentado como um dado realmente in-
questionável, passível de ser transformado
em regra geral, de que as bibliotecas bra-
sileiras têm sido objeto, digamos assim, de
um efetivo esforço em direção ao desen-
volvimento de suas coleções. Já em outra
oportunidade, fez-se referência ao "incha-
ço" das coleções – reflexo de um cresci-
mento ocorrido de maneira aleatória
32
.
Pouco se conseguiu encontrar, desde en-
tão, que pudesse colaborar decisivamente
para mudança desta opinião, e, mesmo
correndo o risco de se estar fazendo uma
avaliação excessivamente pessimista da
realidade, é necessário reforçar a afirma-
ção anteriormente feita, ou seja, a de que,
de fato, o desenvolvimento de coleções
não foi jamais encarado, entre nós, com
suficiente seriedade.
Pelo que se pode depreender da literatura,
as universitárias e especializadas até que
têm sido objeto de relativo grau de preocu-
pação com seus acervos, provavelmente
em virtude de maior exigência de sua
clientela em relação aos mesmos. Deve fi-
car claro, contudo, que esta maior atenção
dispensada a essas bibliotecas não pode
ser sequer comparada com a atenção a
elas dispensada em países mais desen-
volvidos. No caso das bibliotecas públicas,
pior ainda. De todo modo, enquanto nas
primeiras parece existir, neste país, um
Ci. Inf., Brasília. 22(1): 13-21. jan./abr. 1993. 19
Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais
evidente interesse em exercer algum tipo
de controle sobre os materiais informacio-
nais que as mesmas têm por objetivo ar-
mazenar, nas últimas não se consegue
desvendar claramente uma preocupação
similar, fato que se presencia até mesmo
em muitos sistemas de bibliotecas públi-
cas recentemente instaurados no país
(com as exceções de praxe, é claro).
Outro exemplo dessa distinção de trata-
mento ou enfoque são as iniciativas para
estabelecimento de catálogos coletivos
que visam a atender, prioritariamente, ao
usuário em busca de informação especia-
lizada, ou, ainda, ao Plano Nacional de Bi-
bliotecas Universitárias. Por outro lado, vê-
se que 3 distribuição de livros às bibliote-
cas públicas realizada pelo Instituto Na-
cional do Livro, praticamente a única ativi-
dade de âmbito nacional organizada sob
auspícios governamentais tendo como
objetivo o aparelhamento dos acervos
dessas bibliotecas, fica muito longe de ser
uma política nacional para desenvolvi-
mento de coleções em bibliotecas públi-
cas. Muito pelo contrário, só pode ser en-
carada como uma iniciativa ineficiente, não
podendo ser considerada, absolutamente,
como um efetivo esforço na área de de-
senvolvimento de coleções, à medida que
desconheceu regionalidades e jamais
permitiu uma retroalimentação adequada
do sistema de distribuição, visando a tor-
ná-lo mais interessante para todos os en-
volvidos, principalmente as bibliotecas
conveniadas.
Outro índice do desconhecimento, no Bra-
sil, da problemática das coleções e da ne-
cessidade de seu gerenciamento parece
ser o fato de que apenas em 1982 é que
se colocou no currículo mínimo para os
cursos de graduação em Biblioteconomia,
entre as chamadas matérias técnicas, a
matéria Formação e Desenvolvimento de
Coleções, que traz como ementa "princí-
pios e políticas de seleção: formas, recur-
sos, procedimentos e legislação para
aquisição; princípios e técnicas de avalia-
ção de coleções; conservação de cole-
ções; política de expansão da biblioteca".
Seus objetivos são assim delineados: ca-
pacidade de formular princípios e métodos
e empregar técnicas para formação, de-
senvolvimento e avaliação das coleções,
visando à sua adequação aos usuários, e
compreensão da necessidade de conser-
vação dos diversos suportes físicos
do conhecimento e de tratamento adequa-
dos a cada tipo, de acordo com sua na-
tureza
33
.
Antes disso, conforme se pode ver por
amplo levantamento nos cursos de gra-
duação em Biblioteconomia do país, o má-
ximo que se podia encontrar eram tópicos
específicos para seleção e seleção de
materiais especiais
34, 35
, devendo-se ima-
ginar que as demais atividades do desen-
volvimento de coleções fossem tratadas
no âmbito de disciplinas mais gerais, co-
mo, por exemplo, Organização e Adminis-
tração de Bibliotecas.
Fica claro, em vista disso, que a inovação
referida no parágrafo anterior, ou seja, a
inclusão da matéria Formação e Desen-
volvimento de Coleções, deve ser entendi-
da como um grande avanço no tratamento
do assunto, uma vez que cada escola de
Biblioteconomia do país poderá adaptar o
currículo a suas necessidades e acres-
centar o que entender mais conveniente
para as características de seu público,
desdobrando a matéria em quantas disci-
plinas precisar. A análise da ementa pro-
posta – e aprovada – pelo Conselho Fede-
ral de Educação, no entanto, parece deixar
entrever uma visão muito restrita do de-
senvolvimento de coleções, com seu en-
foque iniciando-se pela seleção e aquisi-
ção dos materiais.
É evidente que tanto uma como a outra fa-
zem, realmente, parte do processo, mas
não chegam a iniciá-lo, principalmente
quando se tem em vista as considerações
de Evans
36
. Espera-se, talvez com ex-
cessivo otimismo, que as escolas de bi-
blioteconomia preencham, em suas práti-
cas educacionais, o currículo máximo de
cada uma delas – o que faltou na ementa
da matéria, conforme esta vem definida no
currículo mínimo.
Já a literatura especializada em língua
portuguesa, ao tratar a questão do desen-
volvimento de coleções, parece prender-
se demasiadamente a uma visão pontual
do assunto, não conseguindo enxergá-lo
em profundidade. Razoável contribuição
tem sido dada à área pela professora Nice
Menezes de Figueiredo, a qual vem anali-
sando sistematicamente a vasta produção
internacional sobre o assunto e tentando
adaptá-la à realidade brasileira com maior
ou menor sucesso, dependendo do caso.
Os trabalhos desta estudiosa, sejam
aqueles a tratarem especificamente de de-
senvolvimento de coleções
37
, sejam
aqueles a tratarem de etapas ou atividades
desse processo
38, 39
, têm sido, indubita-
velmente, muito importantes para alertar os
bibliotecários sobre a necessidade de o
profissional brasileiro deixar de ter urna
atitude passiva em frente dessa literatura
internacional, em uma postura de mera
"deglutição", mas tentar, também, questio-
ná-la e adaptá-la à realidade vivida pelo
país. Nem sempre é esta a norma encon-
trada na literatura especializada em língua
portuguesa, na qual, muitas vezes, os au-
tores reproduzem meras técnicas alieníge-
nas e as aplicam à realidade brasileira,
sem quase nenhuma reflexão. Fora disso,
o normal é encontrar-se, na área de de-
senvolvimento de coleções, uma razoável
quantidade de artigos tratando de seleção
de acervo em bibliotecas universitárias
40
,
estudos de uso
41,42
, acessibilidade de do-
cumentos
43
, podendo-se até encontrar,
eventualmente, a descrição da sistemática
de desenvolvimento de uma coleção es-
pecífica
44
ou externando preocupação com
a elaboração de uma lista de obras para
um "provável" acervo básico das bibliote-
cas públicas brasileiras
45
.
Parece correto concluir-se, quando consi-
derada a literatura especializada em de-
senvolvimento de coleções publicada em
língua portuguesa, que a área ainda não se
encontra suficientemente sedimentada no
país. A inexistência de trabalhos introdutó-
rios sobre o assunto que possibilitem atin-
gir o público estudantil e bibliotecários re-
cém-formados, de modo a modificar a vi-
são existente, é quase total, a exceção de
um único texto
46
, atualmente adotado em
muitas escolas de Biblioteconomia do país.
CONCLUSÃO
O desenvolvimento de coleções continua
em constante evolução. Aos poucos, em
seu interior, começam a surgir outras es-
pecialidades, demonstrando ter a área
atingido um grau de amadurecimento con-
siderável para os poucos anos em que
está constituída, Da mesma forma, vê-se
proliferar cada vez mais a convicção da
necessidade de encarar as coleções e seu
desenvolvimento como um fator importante
da administração dos serviços de informa-
ção. Existem, neste campo, variadas ra-
zões para otimismo. Embora muito ainda
exista a ser feito, tem-se nitidamente a
consciência de que o momento atualmente
vivido não é de paralisação, mas de evolu-
ção. O melhor dessa evolução é que ela
não parece restringir-se apenas aos paí-
ses mais desenvolvidos, onde as van-
guardas tecnológicas se localizam, mas
atinge também países periféricos como o
Brasil, que, mesma em ritmo mais lento,
passam a usufruir seus benefícios e, desta
forma, capacitam-se a enfrentar os desa-
fios que virão com a virada do século.
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Collection development: a new
aspect for informational resources
planning
Abstract
The evolution of collecton development activities in
libraries was accelerated due difficulties with the
"bibliographic explosion ". Models for operation of
collection development have been developed, as
well as appeared the necessity of approaching the
subject according to the several types of libraries.
Concerns with collection development also begins
to appear in Brazil, although in a slower pace.
Key words
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40. MIRANDA, Antônio. Seleção de material bi-
bliográfico em bibliotecas universitárias bra-
sileiras: idéias para um modelo organiza-
cional. In: MIRANDA, Antônio. Estruturas de
informação e análise conjuntural. Brasília,
Thesaurus, 1980. p. 63-85.
41. ANDRADE, Maria Teresinha Dias et alii. Ava-
liação do uso da coleção de livros em bi-
bliotecas universitárias no campo da saúde
pública. Revista Brasileira de Biblioteco-
nomia e Documentação, v. 15, n. 1/2, p.
38-53, 1982.
42. LIMA, Maria Letícia de Andrade. Uso das co-
leções na Biblioteca Central da UFPE. Re-
vista da Escola de Biblioteconomia da
UFMG, v. 11, n. 1, p. 22-37, 1982.
43. OBERHOFER, Cecília Alves. Acessibilidade
de documentos e satisfação da demanda:
um modelo de avaliação. Revista de Bi-
blioteconomia de Brasília, v. 11, n. 1, p.
19-33, 1983.
44. CARVALHO, Maria da Conceição. Uma políti-
ca de desenvolvimento de coleção para a
biblioteca do Instituto de Educação de Mi-
nas Gerais. Revista da Escola de Bibliote-
conomia da UFMG, v. 9, n. 2, p. 195-216,
set. 1980.
45. RAMOS, Maria Ester et alii. Listagem de obras
para o acervo básico de bibliotecas públi-
cas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTA-
ÇÃO, 10, Curitiba, 1979. Anais. Curitiba,
Associação de Bibliotecários do Paraná,
1979. v. 2, p. 864-905.
46. VERGUEIRO, Waldemiro C. S. Desenvolvi-
mento de Coleções, São Paulo, APB: Polis,
1989.
Artigo aceito para publicação em 29 de abril de
1993.

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Desenvolvimento de Coleções

  • 1. ARTIGOS Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais Waldomiro de Castro Santos Vergueiro Resumo A evolução das atividades do desenvolvimento de coleções nas bibliotecas acelera-se a partir de necessidades advindas da "explosão bibliográfica". Surgem propostas de modelos para operacionalização do desenvolvimento de coleções, bem como a necessidade de se particularizar as abordagens segundo a tipologia das bibliotecas. A preocupação com o desenvolvimento de coleções também começa a surgir no Brasil, ainda que em ritmo mais lento. Palavras-chave Planejamento bibliográfico; Desenvolvimento de coleções. INTRODUÇÃO A expressão "desenvolvimento de cole- ções" é bastante recente na literatura bi- blioteconômica. Durante muito tempo, os bibliotecários praticamente evitaram enca- rar essa questão diretamente, talvez por- que os motivos para tanto não se colocas- sem em grau de suficiente importância, ou porque ignorassem como as atividades relacionadas com a constituição e/ou pla- nejamento de acervos informacionais se encontravam interligadas. Limitavam-se a abordar essa problemática de maneira isolada. No entanto, o desenvolvimento da Biblioteconomia, tal como acontece com qualquer ramo da ciência, foi aos poucos fazendo a síntese de preocupações antes dispersamente encontradas, gerando o aparecimento de uma nova especialidade, o desenvolvimento de coleções. Isto, ob- viamente, não aconteceu por acaso, mas acompanhou mudanças estruturais da or- ganização do conhecimento registrado, reflexos da modificações ocorridas em nível mais amplo, ou seja, no da disseminação do conhecimento humano. EVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES A preocupação com o desenvolvimento de coleções em bibliotecas apresenta um níti- do incremento a partir das últimas déca- das, quando se tornou cada vez mais cla- ro, para bibliotecários e administradores em geral, que era praticamente impossível acompanhar o ritmo alucinante de cresci- mento dos materiais informacionais. Mais que isto, constatou-se que tal era verda- deiro tanto no que dizia respeito à constru- ção de espaços físicos para acomodação dos novos itens a serem incorporados, como no que concernia à possibilidade de tratamento adequado de todo este material. Este crescimento da literatura, principal- mente especializada, foi ocorrência ime- diata daquilo que Solla Price, já durante a década de 50, chamou de lei do cresci- mento exponencial da ciência, querendo significar que o crescimento de áreas ge- rais ocorre exponencialmente, enquanto o de subáreas, após uma fase inicialmente linear, transforma-se, ele também, em ex- ponencial. Desta forma, a literatura científica tende a aumentar a rapidez com que dobra de vo- lume (o primeiro estudo de Solla Price, realizado nas áreas de física e teoria de determinantes e matrizes, apontava um ín- dice situado ente 10 e 15 anos como o ne- cessário para que a literatura nessas áreas tivesse seu volume duplicado), sen- do esse apenas um dos fatores daquilo que ele, posteriormente, denominou de "revolução científica" 1 . Esses estudos, segundo Braga, comentando a obra do estudioso norte-americano, deveriam fun- cionar como um "sinal de alerta para en- frentarmos o problema antes que seja tar- de demais" 2 . Não se sabe se as afirmações de Solla Price encontraram boa acolhida entre os profissionais responsáveis pela guarda e recuperação da informação, ou se foram elas ou o alerta de Bradford sobre a emer- gência de um possível "caos documentá- rio" 3 que fizeram os bibliotecários passa- rem a ter uma preocupação maior com o desenvolvimento de coleções. O certo é que as conseqüências dos fenômenos pesquisados pelos dois estudiosos, a chamada explosão bibliográfica, trouxeram preocupações extras a esses profissio- nais, introduzindo, em sua tarefa de coleta, elementos complicadores antes inexisten- tes. Entre estes, pode-se destacar, por exemplo, o fato de que boa parte da pro- dução colocada no mercado por esta "ex-
  • 2. Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais plosão" é constituída, na realidade, de material de pouca importância, repetindo apenas o que outros haviam dito ou discu- tido anteriormente a eles, sem nada acres- centar de novo. Isto veio a aumentar sobremaneira a ne- cessidade de uma seleção de acervo cada vez mais criteriosa, o controle do cresci- mento ou desenvolvimento das coleções, a fim de que estas não ficassem abarrota- das de materiais com informações redun- dantes. E esta preocupação surgiu, foi e continua a ser predominante na área das bibliotecas acadêmicas e universitárias – uma das razões pelas quais a discussão sobre o desenvolvimento de coleções tem sido feita, na literatura especializada, enfo- cando, principalmente, este tipo de institui- ção bibliográfica. A questão não era – e continua a não ser – simplesmente financeira, originada pela eventual falta das verbas necessárias para garantir a aquisição dos materiais conside- rados de interesse. Era, mais que isso, uma questão de total impossibilidade de acompanhar, de maneira minimamente efetiva, o ritmo da "explosão bibliográfica". Entre 1950 e 1965, a produção mundial de livros produzidos no mundo inteiro, consi- derando-se o número de títulos, chegou a duplicar 4 , isto para não entrar em conside- rações a respeito do aumento da produção de outros formatos e veículos de comuni- cação, como é o caso dos periódicos tanto gerais como especializados, dos discos, filmes, diapositivos etc. A aquisição exaustiva de obras, com a conseqüente garantia de acomodação das mesmas, passava a ser, desde então, ta- refa cada vez mais difícil de ser cumprida. Basta lembrar, a título de ilustração, que o maior crescimento de bibliotecas universi- tárias nos Estados Unidos ocorreu no pe- ríodo que vai de 1967 a 1974, no qual fo- ram construídos prédios e/ou novas salas para acomodar cerca de 163 milhões de volumes. Enquanto isso, as coleções das bibliotecas universitárias daquele país, de- vido ao grande volume de verbas então disponíveis, expandiram-se, no mesmo pe- ríodo, por volta de 166 milhões de volu- mes. Ou seja: um excedente de aproxima- damente três milhões de volumes para os quais não foi possível providenciar espaço em termos de armazenamento 5 . E tal aconteceu, diga-se de passagem, em uma das épocas mais favoráveis já vivenciadas pela biblioteconomia norte-americana, quando as verbas para bibliotecas univer- sitárias e especializadas eram obtidas com relativa facilidade. Depois disso, as verbas, tanto para a construção de novos edifícios, como para a própria aquisição de" recursos informa- cionais começaram a tornar-se cada vez mais difíceis de serem obtidas, e a neces- sidade de planificação dos acervos pas- sou a ser uma opinião – ou uma certeza – a cada dia mais e mais compartilhada pe- los bibliotecários. Ilustra bem este fato a seguinte afirmação, expressa por James C. Baughman: "Os bibliotecários estão começando agora a perceber que eles não podem continuar a trabalhar sob a pressuposição de que não existe limite para a quantidade de ma- terial que pode ser adquirido, organizado e armazenado. A taxa de produção de do- cumentos é demasiadamente grande e pressões fiscais demasiadamente agudas para permitir aos bibliotecários manter seu modus operandi. É tempo também que os bibliotecários percebem que é possível ad- quirir coleções básicas de qualidade sem alcançar figuras astronômicas" 6 . Não se entenda, no entanto, que essa preocupação se tenha iniciado durante a década de 60 ou inícios da de 70, quando se pode identificar nitidamente um movi- mento em direção ao desenvolvimento de coleções. O fato é que, por esta época, no mundo inteiro – o Brasil demorou um pou- co para aderir – boa parte dos bibliotecá- rios passou a dar maior atenção às cole- ções sob sua responsabilidade, buscando desenvolvê-las, selecioná-las, expurga- las. Enfim, procurando transformá-las em alguma coisa mais coerente. E houve, então, como que um boom do desenvolvimento de coleções: artigos so- bre o assunto ou sobre suas atividades componentes começaram a aparecer, com frequência cada vez maior, nos periódicos de Biblioteconomia; manuais especializa- dos foram escritos, buscando conscienti- zar os profissionais sobre a importância do tema; teses e pesquisas foram realizadas em universidades do mundo inteiro; perió- dicos especializados exclusivamente nes- sa área foram criados. Como mais um exemplo desta preocupa- ção dos bibliotecários, veja-se, ainda, a modificação de título e enfoque de uma das seções anuais de revisão da li- teratura do tradicional periódico Library Resources & Technical Services, que, em certo momento, deixa de denominar-se Resources 7 para passar a chamar-se Collection Development and Preservation 8 ; pouco tempo depois, o título da seção so- freria "nova mudança, assumindo a deno- minação Collection Development 9 . Estava patenteada, portanto, a existência de uma doutrina, ainda que incipiente, sobre o de- senvolvimento de coleções. Ao considerar este relativamente súbito incremento de interesse pelo desenvol- vimento de coleções, alguém poderia ima- ginar até que, com alguns anos de atra- so, os bibliotecários haviam-nas desco- berto, finalmente (este entusiasmo tem si- do tão grande, que um bibliotecário mais afoito chegou a afirmar que "a Biblioteco- nomia é a arte de desenvolver uma cole- ção de livros, não a atividade de indexá- la" 10 , o que, muito provavelmente, é um exagero...). A conclusão que à primeira vista se impõe, considerando-se a existência, a partir de um determinado momento, de uma preo- cupação mais acirrada com as coleções, é a de que, anteriormente a essa preocu- pação, teria existido um provável alhea- mento dos profissionais em relação às mesmas, permitindo que estas se desen- volvessem naturalmente, obedecendo à teoria do laissez-faire. Esta seria contudo uma conclusão equivocada. Na realidade, os profissionais da Bibliote- conomia não estiveram absolutamente apáticos no que diz respeito ao desenvol- vimento de suas coleções, durante aque- les anos todos que precederam o boom. As várias atividades do processo de de- senvolvimento de coleções sempre foram motivo de interesse dos bibliotecários. Pa- rece certo que, anteriormente à explosão bibliográfica, a preocupação parecia ser muito mais pontual, direcionada, apesar de, antes da década de 70, alguns bibliote- cários, principalmente na área de bibliote- cas universitárias, já alertarem seus cole- gas quanto à necessidade de elaboração de políticas para a coleção ou para a aqui- sição de materiais 11 . Sob certos aspectos, é uma temeridade afirmar-se que a preocupação com uma seleção mais cuidadosa dos materiais a serem incorporados ao acervo surgiu na década de 60 ou 70. Esta preocupação pa- rece sempre ter existido, mas localizava- se muito mais no acréscimo de novos títu- los à coleção, no sentido da "construção" – o termo utilizado era exatamente esse – da mesma, sem deslocar o centro de atenção do item em si para a coleção à qual ele estava sendo incorporado 12 . Da mesma forma, sempre existiu o cuida- do em otimizar os processos de aquisição, buscando abreviar o tempo necessário pa- ra a obtenção e colocação do material ao alcance do usuário nele interessado. So- bre esse assunto, especificamente, irá manifestar-se Gail Kennedy, apontando que "a maioria das pessoas concordaria que a aquisição sempre esteve em ativi- dade, enquanto o desenvolvimento de co- leções é um termo relativamente novo, se não uma atividade absolutamente nova" 13 . Continuando, a autora dirá que o trabalho de busca, identificação e aquisição de
  • 3. Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais materiais de interesse à biblioteca já era realizado antes de 70, principalmente em grandes bibliotecas universitárias, com a mesma intensidade e minuciosidade que se tornou muito mais comum depois desta época, mas que o efetivo exercício de au- toridade primária sobre o desenvolvimento das coleções pelos bibliotecários só co- meçou mais recentemente. Por outro lado, constata-se, ainda, que o desenvolvimento de coleções surge como uma evolução da seleção, juntamente com todas as atividades que lhe são correlatas. Já nos anos 60, pode-se notar uma preo- cupação maior com os orçamentos dispo- níveis para recursos informacionais, pro- curando utilizar-se de fórmulas que propi- ciassem uma alocação mais inteligente dos mesmos, aplicadas principalmente em bibliotecas universitárias. Inovação foi, talvez, o reconhecimento de que o desenvolvimento de coleções deve ser uma divisão funcional da biblioteca, da mesma forma como o são a catalogação, a referência, a aquisição e os departamentos de circulação, em uma clara manifestação de que as complexidades dessa atividade haviam ampliado bastante. De qualquer forma, parece bastante claro para Gail Kennedy que, "sob uma variedade de ní- veis de reconhecimento, a maioria das bi- bliotecas públicas e acadêmicas deram atenção ao desenvolvimento de coleções durante os anos 70" 13 . (É claro que a autora está falando da realidade norte-americana, ou melhor, dos países mais desen- volvidos...). A grande contribuição da conscientização sobre a explosão bibliográfica parece, to- davia, ter sido muito mais no sentido de obrigar os bibliotecários a uma mudança radical de atitude em relação ao armaze- namento e coleta de materiais informacio- nais. Ficou mais claro, a partir de então, que, se pretendiam manter as bibliotecas, pelas quais eram responsáveis, organis- mos vivos e atuantes, deveriam necessa- riamente mudar a ênfase de seu trabalho, abandonando a acumulação pura e sim- ples do material em benefício da possibili- dade de acesso ao mesmo, tornando a coleção "consistente com as metas e ob- jetivos da instituição a que serve" 14 . É a evolução das instituições em um mundo de constantes mudanças que, por meio dos modernos sistemas de comunicação, tor- nou as coleções acessíveis em nível mun- dial. O limite para uso dos acervos, utilizando- se do compartilhamento de recursos in- formacionais – que, praticamente, não co- nhece fronteiras –, é o próprio limite do co- nhecimento recuperável. Como pensar, diante disto, em armazenar documentos apenas para si? Ficou bem claro, a partir desta mudança de atitude, que nenhuma biblioteca poderia ser auto-suficiente, atre- vendo-se a procurar dar-se ao luxo de. su- prir todas as necessidades informacionais de seus usuários com recursos próprios. Esta passou a ser, na realidade, uma aspi- ração humanamente impossível de ser realizada. Sem dúvida, esta foi uma mudança bas- tante radical, ocorrida com uma rapidez até surpreendente, quando considerados os longos anos do desenvolvimento da Bi- blioteconomia. Ela chegou a pegar muitos profissionais de surpresa. E talvez toda esta surpresa e resistências colocadas por alguns bibliotecários em relação ao desenvolvimento de coleções deva-se, em realidade, ao fato de que essa foi uma mu- dança que implicou – e continua a implicar – uma transformação de mentalidade, ou seja, o abandono de práticas e/ou visões de mundo tradicionalmente assimiladas, mas raras as vezes questionadas. Trata- se do abandono de uma postura tradicio- nal, enfim, que não conseguia ver, no de- senvolvimento de coleções, nada mais que a pura ou simples aquisição de materiais informacionais. É que, também, mostrou- se, muitas vezes, pouco permeável a novas atribuições, principalmente aque- las relacionadas com o planejamento do acervo. Este, como diz Bruer, é um "sinal dos tempos", que exigiu uma distinção clara entre os procedimentos de aquisição, muitas vezes puramente operacionais, e o desenvolvimento de coleções, entendido, este último, de forma a incluir, também, a pesquisa sobre práticas de doação e per- muta, reavaliação das aquisições efetua- das e a análise das práticas de seleção e aquisição cooperativa, sem, contudo, limi- tar-se apenas a elas. Ou seja: cada um desses itens poderia ser denominado co- mo "uma subseção do problema maior do desenvolvimento de coleções em geral" 15 . MODELOS TEÓRICOS Hendrik Edelman sugeriu a existência de uma hierarquia entre os termos desenvol- vimento de coleções, seleção e aquisição. No primeiro nível, estaria o desenvolvi- mento de coleções entendido de maneira ativa, como uma função de planejamento: a existência de um plano ou política de de- senvolvimento da coleção que descreva "os objetivos a curto e longo prazo da bi- blioteca para suas coleções" 16 , levando-as em consideração e correlacionando-as com aspectos do meio ambiente, como a demanda do usuário, sua necessidade e expectativa, o mundo da informação, os planos fiscais e a história das coleções. No segundo nível, estaria a seleção como função direta do desenvolvimento de cole- ções, isto é, o processo de tomada de de- cisões relacionadas com a implementação dos objetivos anteriormente estabelecidos. Neste aspecto, os critérios e metodologia para identificação e seleção dos materiais informacionais deveriam ser necessaria- mente vistos separadamente da política para desenvolvimento da coleção. No terceiro nível desta hierarquia, estaria a aquisição, entendida, agora, como a im- plementação das decisões de seleção. É o processo que, na prática, torna reali- dade palpável decisões tomadas na sele- ção. O autor, apesar de hierarquizar os itens componentes do desenvolvimento de coleções, reconhece que os mesmos es- tão em constante interação e sobreposi- ção 16 . John Ryland parece concordar com Edel- man, quando lembra aos bibliotecários presentes em uma conferência sobre aquisição de livros e periódicos realizada em Charleston que, na realidade, "o de- senvolvimento e a administração de cole- ções é muito mais que a seleção" 17 . Para ele, o desenvolvimento de coleções irá abranger variadas tarefas, como a deter- minação da política da coleção, a alocação de recursos, a avaliação de coleções, seja para descarte, como para armazenagem em depósitos. Nesta mesma linha de raciocínio, cami- nham, também, Rose Mary Magrill e Do- ralyn J. Hickey, quando afirmam que: "De uma maneira geral, o desenvolvimento de coleções irá incluir a avaliação das ne- cessidades dos usuários, a avaliação da coleção atual, a determinação da política de seleção, a coordenação da seleção de itens, o "desbastamento" e armazenagem de partes da coleção e o planejamento pa- ra compartilhamento de recursos. Entre- tanto, de uma maneira ainda mais geral, o desenvolvimento de coleções não é ape- nas uma simples atividade ou um grupo de atividades: é um processo de planeja- mento e de tomada de decisão" 18 . Já James C. Baughman entende que o de- senvolvimento de coleções precisa ser enfocado sob um ponto de vista estrutura- lista, querendo, com isto, significar "a pro- cura de um padrão de relacionamento" 6 entre as partes envolvidas nesta atividade bibliotecária. Com esta abordagem, o de- senvolvimento de coleções é entendido como composto por vários componentes: a) uso: grupo de demandas; b) conhecimento: grupo de disciplinas, assuntos, tópicos e áreas de estudo;
  • 4. Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais c) biblioteconomia: grupo de relações en- tre as literaturas dos diversos assun- tos. Para Baughman, são exatamente as rela- ções entre esses três componentes que irão gerar o desenvolvimento de coleções, o qual está no centro mesmo deste rela- cionamento, conforme pode ser visualiza- do pela figura idealizada por esse autor (fi- gura 1). O desenvolvimento de coleções irá constituir-se, então, no entrecruza- mento de planejamento, implementação e avaliação de coleções, que serão assim definidos: a) planejamento da coleção – é um projeto para a acumulação de documentos afins, da maneira determinada pelas necessidades, propósitos, objetivos e prioridades da biblioteca; b) implementação da coleção – trata do processo de tornar os documentos acessíveis para uso; c) avaliação da coleção – envolve seu exame e julgamento em relação aos objetivos e propósitos estipulados. Desta forma, Baughman afirma que o de- senvolvimento de coleções é um plano passível de implementação, podendo ser representado da seguinte forma: PLANEJAMENTO + IMPLEMENTAÇÃO + AVALIAÇÃO = DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES Concluindo seu raciocínio, o autor afirma que "o enlaçamento destes conceitos em uma política para desenvolvimento de co- leções leva a um sistema que é comple- mentado, cíclico e auto-aperfeiçoável 6 . Com uma maneira ligeiramente diferente de pensar, G. Edward Evans irá enfocar o desenvolvimento de coleções sob um ponto de vista sistêmico, definindo-o como o "processo de identificação dos pontos fortes e fracos de uma coleção de mate- riais de biblioteca em termos de necessi- dades dos usuários e recursos da comu- nidade e tentando corrigir as fraquezas existentes, quando constatadas", o que vai requerer "constantes exame e avaliação dos recursos da biblioteca e constante estudo tanto das necessidades do usuá- rios, como de mudanças na comunidade a ser servida 19 . Desta forma, considerado como um processo, o desenvolvimento de coleções terá necessariamente um enfoque sistêmi- co, e sua ênfase irá variar, para cada um de seus componentes, de acordo com o ti- po de biblioteca em que estiver ocorrendo. Mas este processo pode ser, de uma ma- neira geral, considerado comum para to- das as bibliotecas. Além disso, esta con- cepção é muito importante, por concentrar em si a noção de continuidade, a qual, abordada sob a perspectiva sistêmica, transmite a idéia de que as atividades li- gadas à coleção não podem ser encara- das isoladamente, mas têm de ser vistas como componentes – ou subsistemas – de um todo. Figura 1 - Desenvolvimento de coleções. Abordagem estruturalista (Baughman, 19796 )
  • 5. Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais O modelo do processo, elaborado por Evans 19 , é, aliás, bastante elucidador a este respeito, pois enfatiza o caráter cícli- co do desenvolvimento de coleções, sem que uma etapa chegue a distinguir-se ou sobrepor-se às demais. Estão todas em pé de igualdade, girando, teoricamente, em torno de um pequeno círculo em que estão situados os profissionais responsáveis pelo trabalho de desenvolvimento da cole- ção. Ao redor desses componentes, ser- vindo como subsídios a todos eles – ex- ceção única a da etapa de aquisição -, encontra-se a comunidade a ser servida. Desta forma, o modelo cobre o processo inteiramente, não caindo no erro de con- fundi-lo com uma ou outra de suas par- tes componentes – erro bastante comum de acontecer no dia a dia das bibliotecas. A figura é bastante esclarecedora, além do mais, por deixar claro que este é um pro- cesso ininterrupto, tendo necessariamente de transformar-se em atividade rotineira das bibliotecas, garantia única de sua efe- tividade (figura 2). Também Charles B. Osborn irá salientar exaustivamente essa característica sistê- mica do desenvolvimento de coleções, de- finindo-o como "um sistema de serviço ao público, efetuado mediante um processo de tomada de decisões que leva a uma determinação da aquisição e retenção dos materiais" 20 . Para ele, os conceitos de "serviço ao público", "sistema" e 'proces- so de tomada de decisões" são conceitos- chave para entendimento global dos objeti- vos e propósitos do desenvolvimento de coleções. Posteriormente a Evans e Osborn, Bonita Bryant debruçou-se sobre a questão do desenvolvimento de coleções, procurando distinguir as diversas estruturas organiza- cionais que são utilizadas para desempe- nho dessas atividades 21 . Aponta que é possível identificar a existência de três posturas neste aspecto: a) postura de aquisição – caracterizada pela confiança na seleção de novos materiais, realizada externamente à bi- blioteca, é, praticamente, uma postura em que os bibliotecários exercem pou- quíssimo controle sobre a coleção, pelo menos no sentido de direcioná-la para um determinado objetivo. Existe ape nas, como indício da existência do mesmo, no máximo um perfil para aprovação do material, estabelecido em bases bastante amplas. b) postura de seleção – procura concen- trar nos bibliotecários a responsabilida- de pelo desenvolvimento da coleção, apesar de seleções realizadas exter- namente à biblioteca poderem ser aceitas, ou, mesmo, eventualmente so- licitadas. Existe um tipo de ligação entre usuários e bibliotecários respon- sáveis pela seleção. Isto, geralmente, facilita o estabelecimento de uma políti- ca para o desenvolvimento da coleção, embora se possa afirmar que as ati- vidades rotineiras de seleção tendem a deixar aos bibliotecários pouco tem- po disponível para participação do desbastamento sistemático ou outros projetos. c) costura de administração e desenvol- vimento de coleções – caracteriza-se pela distribuição das tarefas e respon- sabilidades envolvidas neste objetivo entre os bibliotecários com formação acadêmica em áreas de assunto espe- cíficas. Existe, nesta última postura, uma articulação quase que completa, por um lado, entre a política e o des- bastamento sistemático e, por outro, a análise do orçamento, alocação e con- trole de recursos financeiros e informa- cionais. Mais ou menos na mesma época em que Bonita Bryant tratou da questão do desen- volvimento de coleções, James A. Cogs-well fez um rápido levantamento da literatura sobre o assunto e destacou que esta denominação parece ter-se tomado insufi- ciente para a gama de atividades atual- mente envolvidas com a administração e desenvolvimento de coleções. Segundo este autor, apesar de a "maior parte da lite- ratura recente ainda utilizar o termo de- senvolvimento de coleções de bibliote- cas" 22 , vários autores, como são os casos de Lyden 7 e Mosher 23 , apontam o apare- cimento de uma nova nomenclatura que visa a abarcai mais adequadamente as atividades incorporadas a esta área do trabalho bibliotecário. Para reforçar sua argumentação, Cogswell 22 cita textualmente artigo de Mosher em que este último define o de- senvolvimento de coleções como "a sele- ção efetiva e oportuna dos materiais de bi- blioteca, formando áreas de assunto ou coleções cuidadosamente construídas, no transcorrer do tempo, por bibliógrafos es- pecializados". Em contraposição a esta descrição, Mosher, ainda citado por Cogswell, especifica as atividades envol- vidas, segundo ele, na administração de coleções, a qual pode ser definida como a "administração sistemática, eficiente e econômica dos recursos da biblioteca", enfatizando, por um lado, a "natureza pro- gramática" e, por outro, os papéis, agora ampliados, dos administradores das cole- ções 23 . Para Cogswell, entretanto, inde- pendentemete de qual seja a terminologia utilizada, o importante é que a administra- ção de modernas coleções de pesquisa não seja encarada como "uma série de ta- refas isoladas ou estreitamente definidas, reservadas para uns poucos bibliógrafos especializados" 22 . Figura 2 - O processo de desenvolvimento de coleções (Evans, 197919 )
  • 6. Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais Continuando, Cogswell 22 apresenta sua definição de administração de coleções como sendo "a administração sistemática do planejamento, composição, orçamenta- ção, avaliação e uso das coleções de bi- bliotecas durante grandes períodos de tempo, a fim de atingir objetivos institucio- nais específicos" e compreendendo, pelo menos, as oito seguintes funções: 1) planejamento e elaboração de políticas – processo de identificação e imple- mentação de planos de ação em rela- ção à coleção, incluindo, como parte integral e central, o estabelecimento de uma declaração formal de política para o desenvolvimento da mesma, que não pode, absolutamente, ser vista como um documento interno, unicamente pa- ra uso da biblioteca, mas, isto sim, ser utilizada como um instrumento potencial de comunicação com a comunidade servida. 2) análise de coleções – avaliação dos pontos fortes e fracos da coleção utili- zando-se de medidas objetivas. 3) seleção de materiais – uma função im- portantíssima devido à natureza expan- siva da maioria das coleções de pes- quisa, que tende a modificar-se com a aplicação cada vez maior de progra- mas de aquisição on approval, em que as bibliotecas transmitem a grandes fornecedores de materiais de infor- mação, mediante um perfil de interesse da biblioteca, a decisão sobre a se- leção dos materiais, abreviando o pro- cesso de aquisição dos mesmos. 4) manutenção da coleção – também de nominada re-seleção, abrange os tra balhos de decisão sobre quais mate riais na coleção devem ser preserva dos, descartados ou armazenados para melhor servir às necessidades cios usuários presentes e futuros. 5) administração fiscal – vai incluir toda a atividade de controle de orçamento e alocação de recursos para aquisição de materiais. 6) contato com usuário – à medida que se tornam cada vez mais complexas as necessidades e exigências dos usuá rios, faz-se necessária unia ligação maior com ele por parte dos bibliotecá rios responsáveis pelo desenvolvi mento das coleções, a fim de ter co nhecimento das mesmas e atendê-las de maneira satisfatória. Este trabalho terá de levar em consideração, neces sariamente, a provisão de instrução bi bliográfica, a busca on-line e o próprio serviço de referência em base regular. 7) compartilhamento de recursos – não pode mais ser visto como atividade ex- tra à qual nem sempre correspondem benefícios suficientemente compensa- dores. Tornou-se, na realidade, uma condição essencial para viabilidade de toda e qualquer biblioteca, principal- mente devido aos avanços no campo da telecomunicação. 8) avaliação do programa – os planos, po- líticas, procedimentos e pessoal envol- vido no desenvolvimento de coleções precisam ser periodicamente avaliados com a finalidade de verificar sua ade- quação à comunidade e aos objetivos da instituição. Dados referentes à utili- zação, ou não-utilização, empréstimo interbibliotecário e estudos de usuário precisam ser considerados na admi- nistração e desenvolvimento da cole- ção 22 . O trabalho de Cogswell, entretanto, foi rea- lizado tendo em vista a organização das atividades ligadas ao desenvolvimento de coleções em bibliotecas acadêmicas ou de pesquisa. Toda a atividade de coleta de dados desenvolvida por esse autor teve como objetivo obter modelos organizacio- nais aplicáveis nesse tipo de instituições, deixando de questionar sua adequação a outras tipologias de bibliotecas, como, por exemplo, as públicas ou escolares. A ade- quação do desenvolvimento de coleções às características da organização bibliote- cária em que se realiza parece ser uma tendência quase dominante. TIPOS DE BIBLIOTECAS E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES O desenvolvimento de coleções não tem sido discutido de maneira semelhante no que concerne aos vários tipos de institui- ções bibliotecárias. Pelo que se depreende da literatura em Biblioteconomia e Docu- mentação, a preocupação com esse as- sunto em bibliotecas universitárias e/ou especializadas, pelo menos no que diz respeito ao aparecimento de artigos tra- tando mais detalhadamente dessas insti- tuições, tem sido muito maior do que aquela a respeito de bibliotecas públicas ou escolares. Talvez isto se deva, princi- palmente, ao fato de que grande parte dessa literatura tem sua origem nos Esta- dos Únicos, onde se pode notar, desde inícios da década de 60, o recrudesci- mento de problemas devidos ao cresci- mento das bibliotecas, principalmente as universidades de grande porte 5 . Desta forma, é até compreensível a pre- ponderância de estudos sobre o desenvol- vimento de coleções em bibliotecas uni- versitárias, como é o case do estudo so- bre o estado-da-arte de Magrill & East 11 , pois estava aí – e, provavelmente, ainda continua a estar – a maior preocupação dos bibliotecários norte-americanos. O fato apontado anteriormente pode ser constatado tanto no estudo do desenvol- vimento de coleções como um todo, en- globando o total de suas atividades, como no caso específico de cada uma delas. Desta forma, por exemplo, vê-se que a questão do empréstimo interbibliotecário, como urna provável alternativa à compra de materiais, apenas recentemente foi dis- cutida, na literatura, em sua relação com as bibliotecas públicas 24 . Por outro lado, é também bastante provável que, de um ponto de vista puramente pragmático, te- nha parecido, a esses profissionais, ser mais compensador e justificável financei- ramente o dispêndio de mais tempo e tra- balho na resolução dos problemas de de- senvolvimento de coleções em bibliotecas universitárias e especializadas que nas demais. Alguns dos manuais didáticos sobre de- senvolvimento de coleções surgidos, em anos recentes, na literatura internacional, têm discutico a especificidade das bibliote- cas no que tange ao desenvolvimento de suas coleções 19, 25 , partindo da premissa de que desenvolver a coleção de uma bi- blioteca pública, por exemplo, não é, ab- solutamente, a mesma coisa que desen- volver a coleção de uma biblioteca espe- cializada. Outros, contudo, não chegam a fazê-lo com a mesma especificidade 11 , entendendo, talvez, que o assunto possa ser encarado amplamente e que o mesmo seria, portanto, globalmente válido e necessário em bibliotecas de qualquer ti- po, nas quais ocorreria de maneira bas- tante semelhante. Para esses últimos au- tores, não haveria necessidade de parti- cularizações. Esta última parece ser um postura equivo- cada, pois tudo parece indicar que o de- senvolvimento de coleções precisa ne- cessariamente ser tratado de maneira es- pecífica a cada tipo de biblioteca em que vier a ocorrer, uma vez que o processo tende a variar de acordo com as finalida- des das instituições em que acontece. Considerando o modelo desenvolvido por Evans 25 , podem ser constatadas as se- guintes especificidades: a) Bibliotecas públicas – Possuem uma clientela mais dinâmica, diversificada, que deve ser acompanhada com bas- tante atenção devido às mudanças de gostos e interesses. As necessidades informacionais da comunidade a ser atendida pela biblioteca variam, pode- se dizer, quase que na mesma propor- 18
  • 7. Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais ção em que variam os grupos, organi- zados ou não, presentes na mesma. O trabalho de análise da comunidade pa- rece ser, assim, aquele que maior ên- fase deve receber por parte dos biblio- tecários. Como conseqüência desse acompanhamento da comunidade, exatamente em virtude das flutuações detectadas, haverá um cuidado espe- cial com a seleção de materiais, devi- damente alicerçada em uma política de seleção (que, por sua vez, será basea- da no perfil da comunidade a ser aten- dida). Boa ênfase nas atividades de avaliação e desbastamento do acervo parece ser, também, outra característi- ca do desenvolvimento de coleções em bibliotecas públicas, principalmente quando se procura atender à demanda imediata dos usuários. Neste aspecto, salienta-se que os bibliotecários res- ponsáveis pelo desenvolvimento de coleções em bibliotecas públicas de- vem "primariamente desejar servir o público, mas ainda assim manter uma perspectiva prática, um interesse em questões correntes, uma saudável desconfiança do status quo, uma diver- são em assumir riscos e uma incrível memória para livros, mas uma falta de reverência por eles" 27 . b) Bibliotecas escolares – Existem – ou pelo menos deveriam existir – para dar suporte às atividades pedagógicas das unidades escolares nas quais se locali- zem. Mais que isto: devem estar inte- gradas ao processo educacional. As coleções das bibliotecas escolares de- vem seguir, na realidade, os direciona- mentos do sistema educacinal vigente, pautando-se pelos currículos e biblio- grafias básicas dos cursos. A ênfase do processo de desenvolvimento de coleções estará, portanto, muito mais na seleção de materiais para fins didá- tico-pedagógicos - normalmente alicer- çada por uma política de seleção que terá por base o currículo ou programa escolar. Relevem-se, a respeito disso, as grandes inovações que vêm acon- tecendo em termos de recursos de in- formação colocados a serviço das ins- tituições educacionais, principalmente em países do Primeiro Mundo e em al- gumas regiões de países como o Bra- sil, em que as bibliotecas escolares transformaram-se em verdadeiras cen- trais de multimeios cujos objetivos po- dem ser expressos como "dar suporte e promover o propósito formulado pela escola ou distrito do qual são parte in- tegrante" 28 . As etapas de avaliação e desbastamento serão enfatizadas, nas bibliotecas escolares, à medida que possibilitem adequar a coleção a eventuais mudanças nos programas e/ou currículos. c) Bibliotecas universitárias - Devem atender aos objetivos da universidade, a saber, o ensino, a pesquisa e a ex tensão de serviços à comunidade. Isto vai exigir, quase que necessariamente, uma coleção com forte tendência ao crescimento, pois atividades de pes- quisa exigem uma variada gama de materiais de informação que possibili- tem ao pesquisador ter acesso a tocos os pontos de vista importantes ou ne- cessários para sua pesquisa. Apesar do aparecimento de um bom número de pesquisas que advogam uma atividade de seleção de materiais informacionais, em bibliotecas universitárias, que leve prioritariamente em conta a relação custo-benefício ou custo-efetividade do material a ser adquirido 29, 30 , medidos por estudos de uso da informação, esta não parece ser a principal preocupação do desenvolvimento de coleções em bibliotecas universitárias. Isso é decor- rente de que a mesma necessita ter um volume de materiais suficientemente significativo em termos de quantidade e qualidade para dar suporte às ativida- des de pesquisa realizadas tanto em nível de graduação como de pós, assim como às atividades normais de presta- ção de serviços ou extensão à comuni- dade. Da mesma forma, a clientela é relativamente homogênea, não exigindo avaliações de grande monta. A ênfase maior, no caso, parece estar muito mais no desbastamento e avaliação constantes das coleções - medidas necessárias para otimização do acer- vo. Já as bibliotecas das chamadas "instituições isoladas de ensino supe- rior", no entanto, contrariamente às de bibliotecas ligadas a universidades, exatamente por não terem de prestar suporte à pesquisa, norteiam o desen- volvimento de suas coleções pelas exi- gências dos programas ou currículos dos cursos por elas oferecidos. Levam em consideração, além disso, não só a natureza deste currículo, como também a composição do corpo docente, a quantidade de recursos financeiros dis- poníveis e a localização geográfica 31 . Neste aspecto, elas aproximam-se muito das bibliotecas escolares. d) Bibliotecas especializadas ou de em presas – Existem para atender às ne- cessidades das organizações a que estão subordinadas e por isso – mais do que qualquer uma das outras ante- riormente citadas – têm seus objetivos muito mais bem definidos. A diferença maior no desenvolvimento de coleções em bibliotecas especializadas está, provavelmente, na maior necessidade de especificação de normas para sele- ção dos materiais com a finalidade de compatibilizá-los com os objetivos da instituição maior. Da mesma forma, é neste tipo de biblioteca que são ne- cessários, com maior freqüência, mate- riais não-convencionais – relatórios, patentes, préprints etc. – que exigem dos bibliotecários um enorme esforço para localização e obtenção dos itens desejados. Vê-se, portanto, que a questão do desen- volvimento de coleções não é enfocada da mesma maneira em todas as bibliotecas. Como anteriormente citado, esta parece ser uma conseqüência lógica da própria diversidade das instituições, que vão abranger características de acervo, usuá- rio e meio ambiente onde se localizam. DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES NO BRASIL A questão primeira a ser levantada em re- lação ao desenvolvimento de coleções no país poderia ser expressa em poucas pa- lavras, da seguinte forma: afinal, estão as coleções sendo realmente desenvolvidas com critérios neste país? Estão elas se- guindo qualquer tipo de parâmetro para seu desenvolvimento? A resposta que a literatura biblioteconômi- ca em língua portuguesa dá a esta per- gunta não parece ser das mais animado- ras. Pouco – ou quase nada – pode ser apresentado como um dado realmente in- questionável, passível de ser transformado em regra geral, de que as bibliotecas bra- sileiras têm sido objeto, digamos assim, de um efetivo esforço em direção ao desen- volvimento de suas coleções. Já em outra oportunidade, fez-se referência ao "incha- ço" das coleções – reflexo de um cresci- mento ocorrido de maneira aleatória 32 . Pouco se conseguiu encontrar, desde en- tão, que pudesse colaborar decisivamente para mudança desta opinião, e, mesmo correndo o risco de se estar fazendo uma avaliação excessivamente pessimista da realidade, é necessário reforçar a afirma- ção anteriormente feita, ou seja, a de que, de fato, o desenvolvimento de coleções não foi jamais encarado, entre nós, com suficiente seriedade. Pelo que se pode depreender da literatura, as universitárias e especializadas até que têm sido objeto de relativo grau de preocu- pação com seus acervos, provavelmente em virtude de maior exigência de sua clientela em relação aos mesmos. Deve fi- car claro, contudo, que esta maior atenção dispensada a essas bibliotecas não pode ser sequer comparada com a atenção a elas dispensada em países mais desen- volvidos. No caso das bibliotecas públicas, pior ainda. De todo modo, enquanto nas primeiras parece existir, neste país, um Ci. Inf., Brasília. 22(1): 13-21. jan./abr. 1993. 19
  • 8. Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais evidente interesse em exercer algum tipo de controle sobre os materiais informacio- nais que as mesmas têm por objetivo ar- mazenar, nas últimas não se consegue desvendar claramente uma preocupação similar, fato que se presencia até mesmo em muitos sistemas de bibliotecas públi- cas recentemente instaurados no país (com as exceções de praxe, é claro). Outro exemplo dessa distinção de trata- mento ou enfoque são as iniciativas para estabelecimento de catálogos coletivos que visam a atender, prioritariamente, ao usuário em busca de informação especia- lizada, ou, ainda, ao Plano Nacional de Bi- bliotecas Universitárias. Por outro lado, vê- se que 3 distribuição de livros às bibliote- cas públicas realizada pelo Instituto Na- cional do Livro, praticamente a única ativi- dade de âmbito nacional organizada sob auspícios governamentais tendo como objetivo o aparelhamento dos acervos dessas bibliotecas, fica muito longe de ser uma política nacional para desenvolvi- mento de coleções em bibliotecas públi- cas. Muito pelo contrário, só pode ser en- carada como uma iniciativa ineficiente, não podendo ser considerada, absolutamente, como um efetivo esforço na área de de- senvolvimento de coleções, à medida que desconheceu regionalidades e jamais permitiu uma retroalimentação adequada do sistema de distribuição, visando a tor- ná-lo mais interessante para todos os en- volvidos, principalmente as bibliotecas conveniadas. Outro índice do desconhecimento, no Bra- sil, da problemática das coleções e da ne- cessidade de seu gerenciamento parece ser o fato de que apenas em 1982 é que se colocou no currículo mínimo para os cursos de graduação em Biblioteconomia, entre as chamadas matérias técnicas, a matéria Formação e Desenvolvimento de Coleções, que traz como ementa "princí- pios e políticas de seleção: formas, recur- sos, procedimentos e legislação para aquisição; princípios e técnicas de avalia- ção de coleções; conservação de cole- ções; política de expansão da biblioteca". Seus objetivos são assim delineados: ca- pacidade de formular princípios e métodos e empregar técnicas para formação, de- senvolvimento e avaliação das coleções, visando à sua adequação aos usuários, e compreensão da necessidade de conser- vação dos diversos suportes físicos do conhecimento e de tratamento adequa- dos a cada tipo, de acordo com sua na- tureza 33 . Antes disso, conforme se pode ver por amplo levantamento nos cursos de gra- duação em Biblioteconomia do país, o má- ximo que se podia encontrar eram tópicos específicos para seleção e seleção de materiais especiais 34, 35 , devendo-se ima- ginar que as demais atividades do desen- volvimento de coleções fossem tratadas no âmbito de disciplinas mais gerais, co- mo, por exemplo, Organização e Adminis- tração de Bibliotecas. Fica claro, em vista disso, que a inovação referida no parágrafo anterior, ou seja, a inclusão da matéria Formação e Desen- volvimento de Coleções, deve ser entendi- da como um grande avanço no tratamento do assunto, uma vez que cada escola de Biblioteconomia do país poderá adaptar o currículo a suas necessidades e acres- centar o que entender mais conveniente para as características de seu público, desdobrando a matéria em quantas disci- plinas precisar. A análise da ementa pro- posta – e aprovada – pelo Conselho Fede- ral de Educação, no entanto, parece deixar entrever uma visão muito restrita do de- senvolvimento de coleções, com seu en- foque iniciando-se pela seleção e aquisi- ção dos materiais. É evidente que tanto uma como a outra fa- zem, realmente, parte do processo, mas não chegam a iniciá-lo, principalmente quando se tem em vista as considerações de Evans 36 . Espera-se, talvez com ex- cessivo otimismo, que as escolas de bi- blioteconomia preencham, em suas práti- cas educacionais, o currículo máximo de cada uma delas – o que faltou na ementa da matéria, conforme esta vem definida no currículo mínimo. Já a literatura especializada em língua portuguesa, ao tratar a questão do desen- volvimento de coleções, parece prender- se demasiadamente a uma visão pontual do assunto, não conseguindo enxergá-lo em profundidade. Razoável contribuição tem sido dada à área pela professora Nice Menezes de Figueiredo, a qual vem anali- sando sistematicamente a vasta produção internacional sobre o assunto e tentando adaptá-la à realidade brasileira com maior ou menor sucesso, dependendo do caso. Os trabalhos desta estudiosa, sejam aqueles a tratarem especificamente de de- senvolvimento de coleções 37 , sejam aqueles a tratarem de etapas ou atividades desse processo 38, 39 , têm sido, indubita- velmente, muito importantes para alertar os bibliotecários sobre a necessidade de o profissional brasileiro deixar de ter urna atitude passiva em frente dessa literatura internacional, em uma postura de mera "deglutição", mas tentar, também, questio- ná-la e adaptá-la à realidade vivida pelo país. Nem sempre é esta a norma encon- trada na literatura especializada em língua portuguesa, na qual, muitas vezes, os au- tores reproduzem meras técnicas alieníge- nas e as aplicam à realidade brasileira, sem quase nenhuma reflexão. Fora disso, o normal é encontrar-se, na área de de- senvolvimento de coleções, uma razoável quantidade de artigos tratando de seleção de acervo em bibliotecas universitárias 40 , estudos de uso 41,42 , acessibilidade de do- cumentos 43 , podendo-se até encontrar, eventualmente, a descrição da sistemática de desenvolvimento de uma coleção es- pecífica 44 ou externando preocupação com a elaboração de uma lista de obras para um "provável" acervo básico das bibliote- cas públicas brasileiras 45 . Parece correto concluir-se, quando consi- derada a literatura especializada em de- senvolvimento de coleções publicada em língua portuguesa, que a área ainda não se encontra suficientemente sedimentada no país. A inexistência de trabalhos introdutó- rios sobre o assunto que possibilitem atin- gir o público estudantil e bibliotecários re- cém-formados, de modo a modificar a vi- são existente, é quase total, a exceção de um único texto 46 , atualmente adotado em muitas escolas de Biblioteconomia do país. CONCLUSÃO O desenvolvimento de coleções continua em constante evolução. Aos poucos, em seu interior, começam a surgir outras es- pecialidades, demonstrando ter a área atingido um grau de amadurecimento con- siderável para os poucos anos em que está constituída, Da mesma forma, vê-se proliferar cada vez mais a convicção da necessidade de encarar as coleções e seu desenvolvimento como um fator importante da administração dos serviços de informa- ção. Existem, neste campo, variadas ra- zões para otimismo. Embora muito ainda exista a ser feito, tem-se nitidamente a consciência de que o momento atualmente vivido não é de paralisação, mas de evolu- ção. O melhor dessa evolução é que ela não parece restringir-se apenas aos paí- ses mais desenvolvidos, onde as van- guardas tecnológicas se localizam, mas atinge também países periféricos como o Brasil, que, mesma em ritmo mais lento, passam a usufruir seus benefícios e, desta forma, capacitam-se a enfrentar os desa- fios que virão com a virada do século. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. SOLLA PRICE, Derek de. Society needs in scientific and technical Information. Ciência da Informação, v. 3, n. 2, p. 97,1974. 2. BRAGA, Gilda Maria. Informação, ciência, política científica: o pensamento de Derek de Solla Price. Ciência da Informação, v. 3, n. 2, p. 157, 1974. 3. BRADFORD, S. C. O caos documentário. In: ---------. Documentação. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1961. p. 196-216. 4. ESCARPIT, Robert. A revolução do livro. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas; Instituto Nacional do Livro, 1976. p. 39. 20
  • 9. Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais 5. SCHORRIG, Cláudia. Sizing up the space problems in academic libraries. In: GORE, Daniel, ed. Farewell to Alexandria: solutions to space, growth and performance problems in libraries. Westport, Greenwood Press, 1977. p. 6. 6. BAUGHMAN, James C. Toward a structural approach to collection development. College & Research Libraries, v. 38, n. 3, p. 241, p. 242, 1979. 7. LYNDEN, Frederick C. Resources in 1978. Library Resources & Technical Services, v. 23, n. 3, p. 213-45, 1979. 8. MAGRILL, Rose Mary. Collection development and preservation in 1979. Library Resources & Technical Services, v. 24, n. 3, p. 247-73, 1980. 9. MAGRILL, Rose Mary. Collection development em 1981. Library Resources & Tecnical Services, v. 26, n. 3, p. 240-53, 1982. 10. MANLEY, Will. Facing the public. Wilson Library Bulletin, v. 63, n. 8, p. 81, 1989. 11. MAGRILL, Rose Mary, EAST, Mona. 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Collection development: a new aspect for informational resources planning Abstract The evolution of collecton development activities in libraries was accelerated due difficulties with the "bibliographic explosion ". Models for operation of collection development have been developed, as well as appeared the necessity of approaching the subject according to the several types of libraries. Concerns with collection development also begins to appear in Brazil, although in a slower pace. Key words Bibliographic planning; Collection development. 16. EDELMAN, Hendrik. Selection methodology in academic libraries. Library Resources & Technical Services, v. 23, n. 1, p. 33, p. 38, 1979. 17. RYLAN, John. Collection development and selection: who should do it? Library Acquisitions: Practice & Theory, v. 6, n. 1,p. 13, 1982. 18. MAGRILL, Rose Mary, HICKEY, Doralyn. Acquisitions management and collection development in libraries, Chicago, American Library Association, 1984. p. 4. 19. 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