SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 11
Baixar para ler offline
GEOPOLÍTICA DO PRÉ-SAL: COESÃO NACIONAL E INSERÇÃO DO BRASIL NA
                                               ECONOMIA MUNDO



                                                                                                                         1
                                                                                Carlos William Maia de Oliveira Rapozo

                                                                                                                         2
                                                                                            Thobias Henriques Pereira




Resumo

O petróleo se tornou nas últimas décadas o motor da economia global. Dominar a tecnologia de
transformação desta matéria e ter o privilégio de possuir em seu território jazidas desse elemento
natural significa possuir uma vantagem geopolítica que confere ao país uma posição de destaque
no comércio mundial. Com o pré-sal o Brasil defronta-se com o desafio de gerir em seu território
essas oportunidades, tentando remeter lucro em qualidade de vida e progresso dos recursos
humanos.

Palavras-chave: Pré - Sal; Recursos, Desenvolvimento econômico e social




___________________________________________________________________
1 -Graduando em Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense
2- Graduando em Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense
1. INTRODUÇÃO
       As novas descobertas do óleo além do pós-sal, em águas extremamente
profundas, trazem ao Brasil grandes perspectivas de mudanças internas as quais
afetarão automaticamente na forma em que o país irá se posicionar no sistema mundo.
Porém essas mudanças podem pesar ou não para o desenvolvimento social e
econômico. Este artigo têm a proposta de expor, utilizando-se da análise de diversos
autores, quais são os agentes atuantes nesse processo e quais os desafios a serem
perseguidos pelo governo e sociedade brasileira. Além de nortear uma discussão a
respeito do petróleo enquanto elemento da natureza e sua transformação em recurso.

       O petróleo é um dos recursos mais utilizados no mundo, se não o mais. O país
que domina as jazidas desse elemento no mundo acabam obtendo uma certa posição de
vantagem na geopolítica do mundo contemporâneo. A relação dos autores que dominam
a matéria acaba sendo de destaque, haja vista que é base da economia mundial e motivo
de conflitos. Em uma perspectiva no cenário brasileiro este vem sendo descoberto e sua
utilização movimenta vários setores da economia, desde a extração até o consumo final
pelo consumidor. Porém novas estratégias devem ser pensadas para remeter os lucros
do petróleo para as camadas sociais, aumentando assim o valor do povo brasileiro, o que
é chamado por Pagotto de Demanda Social da Renda do Petróleo.

       Novas políticas industriais devem ser propostas no intuito de estabelecerem um
maior desenvolvimento multi-setorial, de forma que os recursos advindos da exploração
petrolífera não resultem em benefícios exclusivos do setor, estes devem refletir em toda
cadeia produtiva nacional e para um eficiente desenvolvimento é necessário também o
acompanhamento de diversos setores tendo como foco principal o sistema educacional.




2. PETRÓLEO: DE MATÉRIA A RECURSO

       No atual momento da sociedade brasileira e sobretudo a sociedade fluminense, o
centro dos debates é o petróleo. Este recurso é explorado no Brasil há pelo menos 50
anos, e hoje, com a descoberta de novas jazidas, é alvo de discussão para se tentar
entender como as jazidas do ouro negro podem fazer a sociedade brasileira evoluir rumo
ao mundo desenvolvido.

       Na economia mundo o papel do Brasil é fundamental pois é o país que possui as
mais profícuas reservas de petróleo e gás natural, com maior taxa de crescimento de
descobertas no mundo (PIQUET, 2012). Isso coloca o país como possível detentor da
matéria que é base energética para a economia mundial, onde praticamente todo o
mundo inserido no mercado mundial depende diretamente dessa fonte energética para
manter suas atividades.

          Enquanto matéria o petróleo então assume uma função vital para a geopolítica,
pois é valorizada no mercado mundial como de extrema importância, é uma das três
matérias - primas mais importantes da economia moderna (PAGOTTO, 2009). Nesse
sentido, Raffestein nos elucida sobre a ideia de matéria como caracterizada por
propriedades cuja valorização dependerá da relação que os homens mantiverem com
ela. É efetivamente o homem que, por seu trabalho (energia informada), inventa as
propriedades da matéria. Sendo assim, como base energética do mundo, sem a matéria
petróleo não existiriam os recursos para a movimentação das máquinas tecnológicas
atuais.

          A atividade petrolífera pode ser efeito multiplicador numa economia, ampliando
para além do campo do extrativismo as atividades econômicas de um país. Nesse
sentido, são necessárias diversas atividades de transformação do elemento natural até
que este esteja em condição de uso pela sociedade, ou seja, até que esteja nas mãos do
consumidor. Assim , como enfoca Raffestein, para produzir um recurso, o ator deve
aplicar um conjunto de técnicas sobre a matéria, de acordo com um processo
programado de forma coerente.

          Para uma matéria se transformar em recurso na economia atual, são necessárias
duas condições básicas: primeiro a sociedade deve agregar valor simbólico a ela; e
segundo são necessárias transformações até que sejam colocadas em uso. Durante a
história da humanidade vários elementos se transformaram em recurso sem que tenha
sofrido uma transformação muito complexa, por exemplo, quando um homem apanhava
um pedaço de madeira na natureza e usava para retirar algum fruto de uma árvore ou
então atacar ou se defender de algum animal. Porém, por ser um ser racional, o homem
acaba planejando muitas de suas ações, e logo, começa a polir a pedra para assim a
utilizar de forma mais concisa. Após este período, o homem passa a transformar os
metais e assim por diante com todos os elementos que ele encontra na natureza.
Contudo, quando um recurso se torna obsoleto, logo ele abandona tal e busca utilizar da
melhor forma aquilo que é atual em sua sociedade, agregando valor simbólico ao material
em uso e não valorizando mais o recurso que antes era utilizado. Assim novos recursos e
novas produções tecnológicas vão surgindo, conquanto o homem vai se tornando
dependente das tecnologias na sociedade.
Com o petróleo ocorreram então algumas fases históricas que vão desde sua
descoberta até a inserção do hidrocarboneto como alicerce da economia mundo. Pagotto
vai nos mostrar algumas dessas fases, separando em quatro momentos: a primeira fase
é caracterizada pelo uso do petróleo como fonte de energia. Nesse momento da história
ele está apenas concentrando seu valor de uso em alguns países e com preços
baixíssimos . Os dois principais consumidores nesse período foram EUA e Inglaterra.
Porém neste período vai sendo formado o cartel das Sete Irmãs, que começam a deter
em suas mãos grande parte das jazidas        petrolíferas no mundo. A segunda fase é
marcada pela era do petróleo e as guerras. A segunda Guerra mundial mostrou que o
petróleo era determinante nas estratégias de guerra, nesse sentido ganha papel
essencial para a geopolítica, pois algumas nações vão pensar na preservação para uso
em algum período de intempérie. Nesse sentido ainda destaca Pagotto:

                                   A atuação e absoluto controle dos grandes consumidores
                                   sobre os preços foram determinantes para inaugurar esta
                                   segunda fase, marcada pelos grandes movimentos de
                                   nacionalização dos recursos naturais e a consequente
                                   resposta dos grandes exportadores à ação das Sete Irmãs
                                   e ao controle dos preços. O agrupamento dos grandes
                                   países produtores foi a saída para enfrentar as poderosas
                                   empresas petroleiras, e os países consumidores fundam
                                   em 1960, em Bagdá a OPEP ( Organização dos países
                                   exportadores de petróleo, OPEC, em inglês) . (Pagotto,
                                   2009, pag. 78)

       Nesse sentido, Raffestein coloca que a posição da OPEP é de conservadorismo,
explicando as diferentes correntes de mobilização de recursos que são os
exploracionistas, os preservacionistas e os conservadoristas. Afirma que

                                   ...um   comportamento          intermediário   é   o   dos
                                   conservadoristas que tentam otimiza presente e futuro, na
                                   perspectiva das necessidades e dos objetivos de uma
                                   coletividade. É uma atitude que tende a relações
                                   simétricas e que está marcada por um forte espírito de
                                   gestão à longo prazo. O que quer que se pense, é a
                                   estratégia implícita da OPEP, que tenta atualizar os seus
                                   recursos no ritmo de seu desenvolvimento econômico.
                                   (Raffestein, 1993, pag. 236)
Ainda nessa segunda fase, os imperialistas então vão começar a investir na
indústria da guerra pois, com o aumento do barril do petróleo, muito dinheiro precisou ser
investido para a compra do barril do líquido e assim era necessária alguma estratégia
para que este investimento retomasse aos cofres dos imperialistas. Logo a grande trama
está armada pois, os grandes países com necessidade do ouro negro, também são os
principais fornecedores de armas na região da OPEP.

       A terceira fase, ainda segundo Pagotto, é o neoliberalismo, onde o Estado deveria
ser o ente mínimo deixando as empresas agindo ao seu bel prazer, sendo apenas um
regulador da economia, assim, as reservas seriam de domínio do mercado, não do
Estado.

       A quarta fase é a dos conflitos pelos recursos. é a intensificação da exploração
dos recursos naturais estratégicos, que passa pela garantia dos contratos, do mercado
aberto para suas transnacionais, aumentando controle dos preços da estabilidade política
para manter o fornecimento (PAGOTTO, 2009). Nesse sentido, Raffestein nos mostra
que o ator que controla a matéria pode então, em suas estratégias, jogar com o fator
tempo, do qual dispõe em grande medida.




3. O BRASIL E O PRÉ-SAL: COESÃO INTERNA E INSERÇÃO NA ECONOMIA MUNDO

       O Brasil hoje é um grande produtor de petróleo e com as novas descobertas pode
ser um dos grandes produtores desse recurso no mundo contemporâneo. Assim, a
necessidade de administração de toda a cadeia produtiva é muito maior nos últimos
tempos, pois assim, o Brasil pode aumentar a qualidade de vida de seus cidadãos se a
atividade for bem gerida, e se projetar no cenário internacional como uma potência
mundial, detentora das jazidas de uma das principais fontes energéticas da economia

       Quando foi descoberto o petróleo no Brasil, um novo horizonte passou a ser
vislumbrado. Entrar de fato no mercado mundial estruturando o país e diminuindo as
diferenças sociais, ou abrir o Estado para a atuação dos setores privados da exploração
deste recurso.

       A Atividade do petróleo acaba sendo uma incógnita jogada nas mãos do pais que
está abrindo a exploração deste recurso. A especialização baseada em um único setor,
sujeito as flutuações da demanda e dos preços internacionais colocando as economias
assim organizadas em uma situação de fragilidade, que pode conduzi-las facilmente a
uma situação de colapso. (PIQUET, 2012)

       Além disso, um país que não conseguisse de fato administrar a manipulação
desse recurso poderia ainda estar fadado a depender apenas deste setor da economia,
estando fracassado quando o recurso, numa situação possível, caísse em desuso, ou
simplesmente acabasse, como é o caso do petróleo.

                                    Em outras palavras, um país ou uma região seriam
                                    "abençoados" por dispor de ricas reservas minerais, ou,
                                    ao contrário, as fartas rendas provenientes da extração
                                    desses recursos produziriam uma espécie de maldição,
                                    por limitarem a capacidade expansiva de outros setores
                                    produtivos. (Piquet, 2012, pag. 85)




       Porém não é o que ocorre com o caso do petróleo ou mesmo do Brasil. O primeiro
está relacionado a grande cadeia produtiva que necessita até chegar ao consumidor final,
já o segundo no período em que foi descoberto o petróleo em seu solo, já havia, outras
atividades que aqueciam a economia, não sendo totalmente a extração a dependência
econômica do Brasil.

       Para Piquet a atividade petrolífera configura um capaz agente de gerar efeitos
multiplicadores na economia, mudando assim, até mesmo a configuração sócioterritorial,
pois mobiliza muitos setores da sociedade e polariza muitas regiões, determinando assim
uma cadeia de atividades que vão desde a extração, upstream, até o transporte, refino e
distribuição, downstream.

       Nesse contexto é necessário então transformar a cadeia produtiva em um bem
para a sociedade. O povo é a manifestação concreta da nação. A sociedade antecede o
Estado, e este deveria agir em prol daquela. Então, carrear os recursos do barril para o
povo é tarefa primeira de um Estado produtor de petróleo com o Brasil.

       Um dos focos a esta discussão deveria ser o destino social da renda proposto por
Pagotto. Nessa perspectiva, ele defende a criação de um Fundo Soberano que seria
usado para reverter a renda do petróleo para a área social.

                                    Esse fundo seria administrado de maneira conjunta entre
                                    ministérios e área social e seu orçamento direcionado para
                                    fins específicos que, na opinião da maioria dos setores
populares, deve ser a reforma agrária, saúde , habitação
                                     popular, geração de renda e postos de trabalho,
                                     investimento na pesquisa de energias limpas e no controle
                                     ao impacto ambiental da atividade petroleira, assim como
                                     educação pública e gratuita em todos os níveis.
                                     (Pagotto, 2009, pag. 92) (grifo nosso)




Assim,    conforme estudo recente       de Piquet,      um    dos principais entraves ao
estabelecimento de competitividade dos fornecedores brasileiros está no fato da mão de
obra qualificada estar em escassez. Ela aponta que 55% dos entraves está nesse
quesito, sendo este um dos principais gargalos a serem resolvidos pelo Estado na
efetivação da atividade petroleira para atender as crescentes demandas da economia.




4. POLÍTICAS INDUSTRIAIS E ALOCAÇÃO DE INVESTIMENTOS

         O Brasil passa a ter, após a descoberta do petróleo do pré-sal, a oportunidade de
realizar alterações significativas em seus quadros sociais e industriais. Ao que vemos ao
longo da história muitas decisões tomadas tendo como base, o caráter lucrativo e com
intuito de atender os interesses de uma classe específica, não foram tão benéficas à
sociedade e/ou à natureza. Existe um grande debate quanto à alocação dos recursos já
advindos da exploração do petróleo pós-sal, assim como o petróleo pré-sal, o que torna
mais complexa a tarefa de chegar-se a decisões coerentes.

         Em todo o mundo a atual discussão a respeito do papel da política industrial está
voltada para a questão do desenvolvimento econômico, para o qual é necessário uma
integração das cadeias produtivas e uma inovação constante da base tecnológica. O
cenário internacional vêm, portanto dar uma contribuição aos países com recursos
naturais comerciáveis, visto que a demanda por tais evolui exponencialmente com o
crescimento das economias populosas da Ásia (BARBI, 2008). A chance é a de inserção
no sistema mundo de uma forma expressiva, aliada a chance de desenvolvimento
econômico e social. Portanto o Brasil depara-se com o seguinte questionamento: exportar
petróleo bruto ou alavancar um novo ciclo de desenvolvimento industrial com produtos de
valor agregado como a gasolina? Tecnicamente já seria viável, visto que já existe uma
infraestrutura tecnológica para refino de óleo do tipo “leve” nas refinarias, o mesmo tipo
de óleo encontrado no pré-sal. Outra chance para o Brasil vinculada ao desenvolvimento
industrial seria avançar em políticas de desenvolvimento econômico, minimizando
desigualdades regionais além de investir em desenvolvimento de tecnologias para o
segmento petrolífero, que posteriormente possam externar-se para outros segmentos,
gerando um desenvolvimento industrial multisetorizado.

       Pesa no entanto, sobre a industria nacional, ainda os déficits deixados pelo
passado recente da década de 1990, onde ocorreu uma grande abertura comercial e
financeira segundo o modelo neoliberal, o que resultou em privatizações de
infraestruturas e industrias (BARBI, 2008). Vale atentar-se que não se simplifica à
simples venda de empresas, trata-se de uma mudança geral no comportamento do
Estado, onde o mesmo passou de “indutor” do desenvolvimento industrial para regulador
do mercado. Em virtude de tais processos, passou a existir também um elemento
desagregador entre as unidades federativas, a “guerra fiscal” pelos investimentos
privados.

       Ao lidar com a realidade atual deve-se estar ciente de alguns riscos tais como a
“maldição do petróleo”, que se configura com o caráter exclusivo de exportador de
matéria primária que alguns países assumem, caracterizam-se pela baixa industrialização
e alta desigualdade de renda. Um segundo risco seria a apreciação de câmbio, um
superávit na balança comercial permanente de recursos naturais, aprecia o câmbio, o
que inviabiliza exportações de manufaturados, enfraquecendo a diversidade industrial.
Uma forma preventiva seria a observação de exemplos de outros países, tal como a
Noruega, esta tinha uma fraca economia, mas passou a investir no desenvolvimento de
conhecimento local, uma forma de “espalhamento tecnológico”, foram criados centros de
pesquisa para formação na área de petróleo, canalizaram recursos para educação básica
e como política industrial, deram ênfase ao progresso técnico e manutenção da
diversidade de exportações.

       Uma nova política industrial pode estar perto de emergir no Brasil, já se tem
exemplos de sucesso como a Embraer, criada para dar autonomia ao semento militar e
aeronáutico, foi capitaneada por ministérios militares, deu-se através de um política
industrial tradicional, mas com uma forma inovadora. Em 1950 passou a patrocinar o ITA
(Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e posteriormente associou-se à empresa italiana
Aermaschi no projeto de propulsão à jato. Hose a empresa domina expressivos
segmentos no mercado mundial (BARBI, 2008).
Desta maneira, podemos vislumbrar alguns itens para que esta nova política
ocorra. A princípio é necessário dar maior importância ao processo de gestão de
conhecimento, pondo em primeiro plano o capital humano, afinal o desenvolvimento
econômico advém do emprego de pessoas e capital. Outro ponto a ser notado é que o
Brasil não possui um sistema padronizado de inovação tecnológica, como existe nos
países asiáticos. O que há são inciativas pontuais com parcerias de universidades tais
como o Cenpes com a UFRJ e o Cepetro com a Unicamp.

       Gobetti nos apresenta uma análise a respeito de uma política balanceada de
exploração do recurso natural onde

                                     ... a estabilidade macroeconômica e fiscal e a adoção de
                                     regras de suavização dos gastos diante da volatilidade das
                                     receitas do petróleo podem ser vistas como condição para
                                     sustentar esse plano de investimentos, evitando tanto o
                                     crescimento de     despesas     de   baixa qualidade      nos
                                     momentos de boom no preço de petróleo, quanto cortes
                                     de verbas e interrupção de projetos durante as fases de
                                     queda na cotação internacional.          Por outro lado, a
                                     elevação do patamar de investimentos públicos e em
                                     capital humano, incluídos aí os gastos em saúde e
                                     educação,     pode     melhorar      a    produtividade     e
                                     complementaridade do setor público com o privado,
                                     impulsionar   o   crescimento   do   setor   não-petrolífero,
                                     melhorar as condições para a sustentabilidade fiscal de
                                     longo-prazo, bem como a renda das gerações futuras.
                                     (Gobetti, 2009. p. 11-12)

       O pré-sal é uma realidade, mas os caminhos a serem percorridos e as decisões
atuais e futuras a serem tomadas continuam sendo incertas, embora a tendência seja
realmente um crescimento econômico real e consistente de forma a atingir diversos
setores da sociedade. Volta-se portanto ao questionamento inicial, torna-se um
exportador de matéria-prima ou referência no segmento e exemplo de aplicação eficiente
de recursos.
5. CONCLUSÃO

       O petróleo é um dos elementos naturais mais valiosos do mundo, onde o domínio
das jazidas se tornou algo estratégico do ponto de vista geopolítico na mundo e na
economia do mundo atual. Toda a cadeia produtiva desse recurso está relacionada com
a produção de bens para a maioria das sociedades.

       No Brasil este recurso foi descoberto num contexto que foi positivo pois não
deixou a economia totalmente dependente deste recurso e nem fez com que a economia
girasse apenas em torno dele.

       Porém é necessário que se faça um correto planejamento na utilização deste
recurso, desde a extração até a produção e consumo final, pois só assim o país poderá
se inserir de fato no mundo com um país que sabe gerir sua economia transformando o
lucro de suas potencialidades naturais em resultados concretos para o progresso do
material humano, ou seja, a evolução de sua sociedade rumo a uma sociedade mais
justa e sem diferenças.
REFERÊNCIAS

BARBI, F. C. ; PINTO DA SILVA, Maria Lucia . O petróleo do pré-sal: os desafios e as
possibilidades   de   uma    nova     política   industrial   no   Brasil.    Disponível     em:
<www.pucsp.br/pos/ecopol/downloads/pesquisa.../08_17_08_def.pdf              >.   Pesquisa    &
Debate (Online), v. 19, p. 255-271, 2008

GOBETTI, Sérgio W.. Política Fiscal e Pré - Sal: Como gerir as rendas do Petróleo e
sustentar o equilíbrio macroeconômico do Brasil.XIV prêmio do Tesouro Nacional 1.1
Equilíbrio Fiscal e política macro-econômica. 2009

PAGOTTO, R. T. Brasil e o Petróleo: neocolonialismo e uma festa para poucos. In
Empresas transnacionais brasileiras na América Latina: Um debate necessário /
organização: Instituto Rosa Luxumburg Stiftung et at. – 1 ed. – São Paulo Expressão
Popular, 2009. pags 76 – 101

PIQUET, R. P. S.. Os efeitos Multiplicadores da Indústria Brasileira do Petróleo. In,
Revista Paranaense de Desenvolvimento. Curitiba, n 123. p. 81-97. 20102.

RAFFESTEIN, Claude. Os recursos e o poder. In, Por uma geografia do Poder. São
Paulo. Ática, 1993. (pag. 223-265).

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados (6)

Geografia agrária v
Geografia agrária vGeografia agrária v
Geografia agrária v
 
Primeira lista exercicios_globaliz_satrte_2020
Primeira lista exercicios_globaliz_satrte_2020Primeira lista exercicios_globaliz_satrte_2020
Primeira lista exercicios_globaliz_satrte_2020
 
Lista II unidade_industria_sartre_frente_1
Lista II unidade_industria_sartre_frente_1Lista II unidade_industria_sartre_frente_1
Lista II unidade_industria_sartre_frente_1
 
Geo 8o homem_espaco_cap1_site
Geo 8o homem_espaco_cap1_siteGeo 8o homem_espaco_cap1_site
Geo 8o homem_espaco_cap1_site
 
Conlutas finalizado
Conlutas finalizadoConlutas finalizado
Conlutas finalizado
 
Conlutas
ConlutasConlutas
Conlutas
 

Semelhante a Geopolítica: Brasil e recursos

Etanol e Bioeletricidade (UNICA)
Etanol e Bioeletricidade (UNICA)Etanol e Bioeletricidade (UNICA)
Etanol e Bioeletricidade (UNICA)
António Oliveira
 
World Economic Forum on Latin America
World Economic Forum on Latin AmericaWorld Economic Forum on Latin America
World Economic Forum on Latin America
Patricia Moore
 
O Capital Natural e os Limites da Economia
O Capital Natural e os Limites da EconomiaO Capital Natural e os Limites da Economia
O Capital Natural e os Limites da Economia
Beto Strumpf
 
Globalização e identidade cultural
Globalização e identidade culturalGlobalização e identidade cultural
Globalização e identidade cultural
Fernando Alcoforado
 
OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA PESQUISA AGROPECUÁRIA E A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS: A...
OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA PESQUISA AGROPECUÁRIA E A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS: A...OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA PESQUISA AGROPECUÁRIA E A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS: A...
OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA PESQUISA AGROPECUÁRIA E A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS: A...
Thiago Netto
 
Rio +20 e economia verde
Rio +20 e economia verdeRio +20 e economia verde
Rio +20 e economia verde
UFPB
 
RECURSOS NATURAIS, NACIONALISMO E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
RECURSOS NATURAIS, NACIONALISMO E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTORECURSOS NATURAIS, NACIONALISMO E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
RECURSOS NATURAIS, NACIONALISMO E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
Grupo de Economia Política IE-UFRJ
 
Artigo: Pré-sal riqueza nacional
Artigo: Pré-sal riqueza nacionalArtigo: Pré-sal riqueza nacional
Artigo: Pré-sal riqueza nacional
Gleisi Hoffmann
 

Semelhante a Geopolítica: Brasil e recursos (20)

Etanol e Bioeletricidade (UNICA)
Etanol e Bioeletricidade (UNICA)Etanol e Bioeletricidade (UNICA)
Etanol e Bioeletricidade (UNICA)
 
Distribuição do Petroleo
Distribuição do PetroleoDistribuição do Petroleo
Distribuição do Petroleo
 
Análise de Risco Financeiro em Projetos do Setor de Petróleo e Gás
Análise de Risco Financeiro em Projetos do Setor de Petróleo e GásAnálise de Risco Financeiro em Projetos do Setor de Petróleo e Gás
Análise de Risco Financeiro em Projetos do Setor de Petróleo e Gás
 
World Economic Forum on Latin America
World Economic Forum on Latin AmericaWorld Economic Forum on Latin America
World Economic Forum on Latin America
 
O Capital Natural e os Limites da Economia
O Capital Natural e os Limites da EconomiaO Capital Natural e os Limites da Economia
O Capital Natural e os Limites da Economia
 
Aula nº5
Aula nº5Aula nº5
Aula nº5
 
Globalização e identidade cultural
Globalização e identidade culturalGlobalização e identidade cultural
Globalização e identidade cultural
 
POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO: AS AÇÕES DO ESTADO PRÓ-IND...
POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO: AS AÇÕES DO ESTADO PRÓ-IND...POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO: AS AÇÕES DO ESTADO PRÓ-IND...
POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO: AS AÇÕES DO ESTADO PRÓ-IND...
 
O pré-sal é do povo brasileiro
O pré-sal é do povo brasileiroO pré-sal é do povo brasileiro
O pré-sal é do povo brasileiro
 
1. Novo Marco-Legal-da-Mineracao-no-Brasil-Fase
1. Novo Marco-Legal-da-Mineracao-no-Brasil-Fase1. Novo Marco-Legal-da-Mineracao-no-Brasil-Fase
1. Novo Marco-Legal-da-Mineracao-no-Brasil-Fase
 
OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA PESQUISA AGROPECUÁRIA E A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS: A...
OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA PESQUISA AGROPECUÁRIA E A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS: A...OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA PESQUISA AGROPECUÁRIA E A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS: A...
OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA PESQUISA AGROPECUÁRIA E A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS: A...
 
2013 paulo lopes
2013 paulo lopes2013 paulo lopes
2013 paulo lopes
 
Aceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnico
Aceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnicoAceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnico
Aceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnico
 
El - 2005 - reestruturação do setor petroquímico brasileiro
El - 2005 - reestruturação do setor petroquímico brasileiroEl - 2005 - reestruturação do setor petroquímico brasileiro
El - 2005 - reestruturação do setor petroquímico brasileiro
 
CENPES_Petrobras_capacitacao_tecnologica.pdf
CENPES_Petrobras_capacitacao_tecnologica.pdfCENPES_Petrobras_capacitacao_tecnologica.pdf
CENPES_Petrobras_capacitacao_tecnologica.pdf
 
Rio +20 e economia verde
Rio +20 e economia verdeRio +20 e economia verde
Rio +20 e economia verde
 
RECURSOS NATURAIS, NACIONALISMO E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
RECURSOS NATURAIS, NACIONALISMO E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTORECURSOS NATURAIS, NACIONALISMO E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
RECURSOS NATURAIS, NACIONALISMO E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
 
Trabalho de geografia
Trabalho de geografiaTrabalho de geografia
Trabalho de geografia
 
A mineração no brasil atual e sua influência na economia nacional
A mineração no brasil atual e sua influência na economia nacionalA mineração no brasil atual e sua influência na economia nacional
A mineração no brasil atual e sua influência na economia nacional
 
Artigo: Pré-sal riqueza nacional
Artigo: Pré-sal riqueza nacionalArtigo: Pré-sal riqueza nacional
Artigo: Pré-sal riqueza nacional
 

Geopolítica: Brasil e recursos

  • 1. GEOPOLÍTICA DO PRÉ-SAL: COESÃO NACIONAL E INSERÇÃO DO BRASIL NA ECONOMIA MUNDO 1 Carlos William Maia de Oliveira Rapozo 2 Thobias Henriques Pereira Resumo O petróleo se tornou nas últimas décadas o motor da economia global. Dominar a tecnologia de transformação desta matéria e ter o privilégio de possuir em seu território jazidas desse elemento natural significa possuir uma vantagem geopolítica que confere ao país uma posição de destaque no comércio mundial. Com o pré-sal o Brasil defronta-se com o desafio de gerir em seu território essas oportunidades, tentando remeter lucro em qualidade de vida e progresso dos recursos humanos. Palavras-chave: Pré - Sal; Recursos, Desenvolvimento econômico e social ___________________________________________________________________ 1 -Graduando em Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense 2- Graduando em Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense
  • 2. 1. INTRODUÇÃO As novas descobertas do óleo além do pós-sal, em águas extremamente profundas, trazem ao Brasil grandes perspectivas de mudanças internas as quais afetarão automaticamente na forma em que o país irá se posicionar no sistema mundo. Porém essas mudanças podem pesar ou não para o desenvolvimento social e econômico. Este artigo têm a proposta de expor, utilizando-se da análise de diversos autores, quais são os agentes atuantes nesse processo e quais os desafios a serem perseguidos pelo governo e sociedade brasileira. Além de nortear uma discussão a respeito do petróleo enquanto elemento da natureza e sua transformação em recurso. O petróleo é um dos recursos mais utilizados no mundo, se não o mais. O país que domina as jazidas desse elemento no mundo acabam obtendo uma certa posição de vantagem na geopolítica do mundo contemporâneo. A relação dos autores que dominam a matéria acaba sendo de destaque, haja vista que é base da economia mundial e motivo de conflitos. Em uma perspectiva no cenário brasileiro este vem sendo descoberto e sua utilização movimenta vários setores da economia, desde a extração até o consumo final pelo consumidor. Porém novas estratégias devem ser pensadas para remeter os lucros do petróleo para as camadas sociais, aumentando assim o valor do povo brasileiro, o que é chamado por Pagotto de Demanda Social da Renda do Petróleo. Novas políticas industriais devem ser propostas no intuito de estabelecerem um maior desenvolvimento multi-setorial, de forma que os recursos advindos da exploração petrolífera não resultem em benefícios exclusivos do setor, estes devem refletir em toda cadeia produtiva nacional e para um eficiente desenvolvimento é necessário também o acompanhamento de diversos setores tendo como foco principal o sistema educacional. 2. PETRÓLEO: DE MATÉRIA A RECURSO No atual momento da sociedade brasileira e sobretudo a sociedade fluminense, o centro dos debates é o petróleo. Este recurso é explorado no Brasil há pelo menos 50 anos, e hoje, com a descoberta de novas jazidas, é alvo de discussão para se tentar entender como as jazidas do ouro negro podem fazer a sociedade brasileira evoluir rumo ao mundo desenvolvido. Na economia mundo o papel do Brasil é fundamental pois é o país que possui as mais profícuas reservas de petróleo e gás natural, com maior taxa de crescimento de descobertas no mundo (PIQUET, 2012). Isso coloca o país como possível detentor da
  • 3. matéria que é base energética para a economia mundial, onde praticamente todo o mundo inserido no mercado mundial depende diretamente dessa fonte energética para manter suas atividades. Enquanto matéria o petróleo então assume uma função vital para a geopolítica, pois é valorizada no mercado mundial como de extrema importância, é uma das três matérias - primas mais importantes da economia moderna (PAGOTTO, 2009). Nesse sentido, Raffestein nos elucida sobre a ideia de matéria como caracterizada por propriedades cuja valorização dependerá da relação que os homens mantiverem com ela. É efetivamente o homem que, por seu trabalho (energia informada), inventa as propriedades da matéria. Sendo assim, como base energética do mundo, sem a matéria petróleo não existiriam os recursos para a movimentação das máquinas tecnológicas atuais. A atividade petrolífera pode ser efeito multiplicador numa economia, ampliando para além do campo do extrativismo as atividades econômicas de um país. Nesse sentido, são necessárias diversas atividades de transformação do elemento natural até que este esteja em condição de uso pela sociedade, ou seja, até que esteja nas mãos do consumidor. Assim , como enfoca Raffestein, para produzir um recurso, o ator deve aplicar um conjunto de técnicas sobre a matéria, de acordo com um processo programado de forma coerente. Para uma matéria se transformar em recurso na economia atual, são necessárias duas condições básicas: primeiro a sociedade deve agregar valor simbólico a ela; e segundo são necessárias transformações até que sejam colocadas em uso. Durante a história da humanidade vários elementos se transformaram em recurso sem que tenha sofrido uma transformação muito complexa, por exemplo, quando um homem apanhava um pedaço de madeira na natureza e usava para retirar algum fruto de uma árvore ou então atacar ou se defender de algum animal. Porém, por ser um ser racional, o homem acaba planejando muitas de suas ações, e logo, começa a polir a pedra para assim a utilizar de forma mais concisa. Após este período, o homem passa a transformar os metais e assim por diante com todos os elementos que ele encontra na natureza. Contudo, quando um recurso se torna obsoleto, logo ele abandona tal e busca utilizar da melhor forma aquilo que é atual em sua sociedade, agregando valor simbólico ao material em uso e não valorizando mais o recurso que antes era utilizado. Assim novos recursos e novas produções tecnológicas vão surgindo, conquanto o homem vai se tornando dependente das tecnologias na sociedade.
  • 4. Com o petróleo ocorreram então algumas fases históricas que vão desde sua descoberta até a inserção do hidrocarboneto como alicerce da economia mundo. Pagotto vai nos mostrar algumas dessas fases, separando em quatro momentos: a primeira fase é caracterizada pelo uso do petróleo como fonte de energia. Nesse momento da história ele está apenas concentrando seu valor de uso em alguns países e com preços baixíssimos . Os dois principais consumidores nesse período foram EUA e Inglaterra. Porém neste período vai sendo formado o cartel das Sete Irmãs, que começam a deter em suas mãos grande parte das jazidas petrolíferas no mundo. A segunda fase é marcada pela era do petróleo e as guerras. A segunda Guerra mundial mostrou que o petróleo era determinante nas estratégias de guerra, nesse sentido ganha papel essencial para a geopolítica, pois algumas nações vão pensar na preservação para uso em algum período de intempérie. Nesse sentido ainda destaca Pagotto: A atuação e absoluto controle dos grandes consumidores sobre os preços foram determinantes para inaugurar esta segunda fase, marcada pelos grandes movimentos de nacionalização dos recursos naturais e a consequente resposta dos grandes exportadores à ação das Sete Irmãs e ao controle dos preços. O agrupamento dos grandes países produtores foi a saída para enfrentar as poderosas empresas petroleiras, e os países consumidores fundam em 1960, em Bagdá a OPEP ( Organização dos países exportadores de petróleo, OPEC, em inglês) . (Pagotto, 2009, pag. 78) Nesse sentido, Raffestein coloca que a posição da OPEP é de conservadorismo, explicando as diferentes correntes de mobilização de recursos que são os exploracionistas, os preservacionistas e os conservadoristas. Afirma que ...um comportamento intermediário é o dos conservadoristas que tentam otimiza presente e futuro, na perspectiva das necessidades e dos objetivos de uma coletividade. É uma atitude que tende a relações simétricas e que está marcada por um forte espírito de gestão à longo prazo. O que quer que se pense, é a estratégia implícita da OPEP, que tenta atualizar os seus recursos no ritmo de seu desenvolvimento econômico. (Raffestein, 1993, pag. 236)
  • 5. Ainda nessa segunda fase, os imperialistas então vão começar a investir na indústria da guerra pois, com o aumento do barril do petróleo, muito dinheiro precisou ser investido para a compra do barril do líquido e assim era necessária alguma estratégia para que este investimento retomasse aos cofres dos imperialistas. Logo a grande trama está armada pois, os grandes países com necessidade do ouro negro, também são os principais fornecedores de armas na região da OPEP. A terceira fase, ainda segundo Pagotto, é o neoliberalismo, onde o Estado deveria ser o ente mínimo deixando as empresas agindo ao seu bel prazer, sendo apenas um regulador da economia, assim, as reservas seriam de domínio do mercado, não do Estado. A quarta fase é a dos conflitos pelos recursos. é a intensificação da exploração dos recursos naturais estratégicos, que passa pela garantia dos contratos, do mercado aberto para suas transnacionais, aumentando controle dos preços da estabilidade política para manter o fornecimento (PAGOTTO, 2009). Nesse sentido, Raffestein nos mostra que o ator que controla a matéria pode então, em suas estratégias, jogar com o fator tempo, do qual dispõe em grande medida. 3. O BRASIL E O PRÉ-SAL: COESÃO INTERNA E INSERÇÃO NA ECONOMIA MUNDO O Brasil hoje é um grande produtor de petróleo e com as novas descobertas pode ser um dos grandes produtores desse recurso no mundo contemporâneo. Assim, a necessidade de administração de toda a cadeia produtiva é muito maior nos últimos tempos, pois assim, o Brasil pode aumentar a qualidade de vida de seus cidadãos se a atividade for bem gerida, e se projetar no cenário internacional como uma potência mundial, detentora das jazidas de uma das principais fontes energéticas da economia Quando foi descoberto o petróleo no Brasil, um novo horizonte passou a ser vislumbrado. Entrar de fato no mercado mundial estruturando o país e diminuindo as diferenças sociais, ou abrir o Estado para a atuação dos setores privados da exploração deste recurso. A Atividade do petróleo acaba sendo uma incógnita jogada nas mãos do pais que está abrindo a exploração deste recurso. A especialização baseada em um único setor, sujeito as flutuações da demanda e dos preços internacionais colocando as economias
  • 6. assim organizadas em uma situação de fragilidade, que pode conduzi-las facilmente a uma situação de colapso. (PIQUET, 2012) Além disso, um país que não conseguisse de fato administrar a manipulação desse recurso poderia ainda estar fadado a depender apenas deste setor da economia, estando fracassado quando o recurso, numa situação possível, caísse em desuso, ou simplesmente acabasse, como é o caso do petróleo. Em outras palavras, um país ou uma região seriam "abençoados" por dispor de ricas reservas minerais, ou, ao contrário, as fartas rendas provenientes da extração desses recursos produziriam uma espécie de maldição, por limitarem a capacidade expansiva de outros setores produtivos. (Piquet, 2012, pag. 85) Porém não é o que ocorre com o caso do petróleo ou mesmo do Brasil. O primeiro está relacionado a grande cadeia produtiva que necessita até chegar ao consumidor final, já o segundo no período em que foi descoberto o petróleo em seu solo, já havia, outras atividades que aqueciam a economia, não sendo totalmente a extração a dependência econômica do Brasil. Para Piquet a atividade petrolífera configura um capaz agente de gerar efeitos multiplicadores na economia, mudando assim, até mesmo a configuração sócioterritorial, pois mobiliza muitos setores da sociedade e polariza muitas regiões, determinando assim uma cadeia de atividades que vão desde a extração, upstream, até o transporte, refino e distribuição, downstream. Nesse contexto é necessário então transformar a cadeia produtiva em um bem para a sociedade. O povo é a manifestação concreta da nação. A sociedade antecede o Estado, e este deveria agir em prol daquela. Então, carrear os recursos do barril para o povo é tarefa primeira de um Estado produtor de petróleo com o Brasil. Um dos focos a esta discussão deveria ser o destino social da renda proposto por Pagotto. Nessa perspectiva, ele defende a criação de um Fundo Soberano que seria usado para reverter a renda do petróleo para a área social. Esse fundo seria administrado de maneira conjunta entre ministérios e área social e seu orçamento direcionado para fins específicos que, na opinião da maioria dos setores
  • 7. populares, deve ser a reforma agrária, saúde , habitação popular, geração de renda e postos de trabalho, investimento na pesquisa de energias limpas e no controle ao impacto ambiental da atividade petroleira, assim como educação pública e gratuita em todos os níveis. (Pagotto, 2009, pag. 92) (grifo nosso) Assim, conforme estudo recente de Piquet, um dos principais entraves ao estabelecimento de competitividade dos fornecedores brasileiros está no fato da mão de obra qualificada estar em escassez. Ela aponta que 55% dos entraves está nesse quesito, sendo este um dos principais gargalos a serem resolvidos pelo Estado na efetivação da atividade petroleira para atender as crescentes demandas da economia. 4. POLÍTICAS INDUSTRIAIS E ALOCAÇÃO DE INVESTIMENTOS O Brasil passa a ter, após a descoberta do petróleo do pré-sal, a oportunidade de realizar alterações significativas em seus quadros sociais e industriais. Ao que vemos ao longo da história muitas decisões tomadas tendo como base, o caráter lucrativo e com intuito de atender os interesses de uma classe específica, não foram tão benéficas à sociedade e/ou à natureza. Existe um grande debate quanto à alocação dos recursos já advindos da exploração do petróleo pós-sal, assim como o petróleo pré-sal, o que torna mais complexa a tarefa de chegar-se a decisões coerentes. Em todo o mundo a atual discussão a respeito do papel da política industrial está voltada para a questão do desenvolvimento econômico, para o qual é necessário uma integração das cadeias produtivas e uma inovação constante da base tecnológica. O cenário internacional vêm, portanto dar uma contribuição aos países com recursos naturais comerciáveis, visto que a demanda por tais evolui exponencialmente com o crescimento das economias populosas da Ásia (BARBI, 2008). A chance é a de inserção no sistema mundo de uma forma expressiva, aliada a chance de desenvolvimento econômico e social. Portanto o Brasil depara-se com o seguinte questionamento: exportar petróleo bruto ou alavancar um novo ciclo de desenvolvimento industrial com produtos de valor agregado como a gasolina? Tecnicamente já seria viável, visto que já existe uma infraestrutura tecnológica para refino de óleo do tipo “leve” nas refinarias, o mesmo tipo
  • 8. de óleo encontrado no pré-sal. Outra chance para o Brasil vinculada ao desenvolvimento industrial seria avançar em políticas de desenvolvimento econômico, minimizando desigualdades regionais além de investir em desenvolvimento de tecnologias para o segmento petrolífero, que posteriormente possam externar-se para outros segmentos, gerando um desenvolvimento industrial multisetorizado. Pesa no entanto, sobre a industria nacional, ainda os déficits deixados pelo passado recente da década de 1990, onde ocorreu uma grande abertura comercial e financeira segundo o modelo neoliberal, o que resultou em privatizações de infraestruturas e industrias (BARBI, 2008). Vale atentar-se que não se simplifica à simples venda de empresas, trata-se de uma mudança geral no comportamento do Estado, onde o mesmo passou de “indutor” do desenvolvimento industrial para regulador do mercado. Em virtude de tais processos, passou a existir também um elemento desagregador entre as unidades federativas, a “guerra fiscal” pelos investimentos privados. Ao lidar com a realidade atual deve-se estar ciente de alguns riscos tais como a “maldição do petróleo”, que se configura com o caráter exclusivo de exportador de matéria primária que alguns países assumem, caracterizam-se pela baixa industrialização e alta desigualdade de renda. Um segundo risco seria a apreciação de câmbio, um superávit na balança comercial permanente de recursos naturais, aprecia o câmbio, o que inviabiliza exportações de manufaturados, enfraquecendo a diversidade industrial. Uma forma preventiva seria a observação de exemplos de outros países, tal como a Noruega, esta tinha uma fraca economia, mas passou a investir no desenvolvimento de conhecimento local, uma forma de “espalhamento tecnológico”, foram criados centros de pesquisa para formação na área de petróleo, canalizaram recursos para educação básica e como política industrial, deram ênfase ao progresso técnico e manutenção da diversidade de exportações. Uma nova política industrial pode estar perto de emergir no Brasil, já se tem exemplos de sucesso como a Embraer, criada para dar autonomia ao semento militar e aeronáutico, foi capitaneada por ministérios militares, deu-se através de um política industrial tradicional, mas com uma forma inovadora. Em 1950 passou a patrocinar o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e posteriormente associou-se à empresa italiana Aermaschi no projeto de propulsão à jato. Hose a empresa domina expressivos segmentos no mercado mundial (BARBI, 2008).
  • 9. Desta maneira, podemos vislumbrar alguns itens para que esta nova política ocorra. A princípio é necessário dar maior importância ao processo de gestão de conhecimento, pondo em primeiro plano o capital humano, afinal o desenvolvimento econômico advém do emprego de pessoas e capital. Outro ponto a ser notado é que o Brasil não possui um sistema padronizado de inovação tecnológica, como existe nos países asiáticos. O que há são inciativas pontuais com parcerias de universidades tais como o Cenpes com a UFRJ e o Cepetro com a Unicamp. Gobetti nos apresenta uma análise a respeito de uma política balanceada de exploração do recurso natural onde ... a estabilidade macroeconômica e fiscal e a adoção de regras de suavização dos gastos diante da volatilidade das receitas do petróleo podem ser vistas como condição para sustentar esse plano de investimentos, evitando tanto o crescimento de despesas de baixa qualidade nos momentos de boom no preço de petróleo, quanto cortes de verbas e interrupção de projetos durante as fases de queda na cotação internacional. Por outro lado, a elevação do patamar de investimentos públicos e em capital humano, incluídos aí os gastos em saúde e educação, pode melhorar a produtividade e complementaridade do setor público com o privado, impulsionar o crescimento do setor não-petrolífero, melhorar as condições para a sustentabilidade fiscal de longo-prazo, bem como a renda das gerações futuras. (Gobetti, 2009. p. 11-12) O pré-sal é uma realidade, mas os caminhos a serem percorridos e as decisões atuais e futuras a serem tomadas continuam sendo incertas, embora a tendência seja realmente um crescimento econômico real e consistente de forma a atingir diversos setores da sociedade. Volta-se portanto ao questionamento inicial, torna-se um exportador de matéria-prima ou referência no segmento e exemplo de aplicação eficiente de recursos.
  • 10. 5. CONCLUSÃO O petróleo é um dos elementos naturais mais valiosos do mundo, onde o domínio das jazidas se tornou algo estratégico do ponto de vista geopolítico na mundo e na economia do mundo atual. Toda a cadeia produtiva desse recurso está relacionada com a produção de bens para a maioria das sociedades. No Brasil este recurso foi descoberto num contexto que foi positivo pois não deixou a economia totalmente dependente deste recurso e nem fez com que a economia girasse apenas em torno dele. Porém é necessário que se faça um correto planejamento na utilização deste recurso, desde a extração até a produção e consumo final, pois só assim o país poderá se inserir de fato no mundo com um país que sabe gerir sua economia transformando o lucro de suas potencialidades naturais em resultados concretos para o progresso do material humano, ou seja, a evolução de sua sociedade rumo a uma sociedade mais justa e sem diferenças.
  • 11. REFERÊNCIAS BARBI, F. C. ; PINTO DA SILVA, Maria Lucia . O petróleo do pré-sal: os desafios e as possibilidades de uma nova política industrial no Brasil. Disponível em: <www.pucsp.br/pos/ecopol/downloads/pesquisa.../08_17_08_def.pdf >. Pesquisa & Debate (Online), v. 19, p. 255-271, 2008 GOBETTI, Sérgio W.. Política Fiscal e Pré - Sal: Como gerir as rendas do Petróleo e sustentar o equilíbrio macroeconômico do Brasil.XIV prêmio do Tesouro Nacional 1.1 Equilíbrio Fiscal e política macro-econômica. 2009 PAGOTTO, R. T. Brasil e o Petróleo: neocolonialismo e uma festa para poucos. In Empresas transnacionais brasileiras na América Latina: Um debate necessário / organização: Instituto Rosa Luxumburg Stiftung et at. – 1 ed. – São Paulo Expressão Popular, 2009. pags 76 – 101 PIQUET, R. P. S.. Os efeitos Multiplicadores da Indústria Brasileira do Petróleo. In, Revista Paranaense de Desenvolvimento. Curitiba, n 123. p. 81-97. 20102. RAFFESTEIN, Claude. Os recursos e o poder. In, Por uma geografia do Poder. São Paulo. Ática, 1993. (pag. 223-265).