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EMPODERAR
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação
Projeto de conclusão de curso - DESIGN
Habilitação em Design de Produto
Bauru - São Paulo | 2017
Jéssica Fateiga Câmara
Orientação de Profa. Dra. Mônica Moura
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço aos meus pais, por todo o apoio
em todos esses anos de vida. Se não fosse por eles hoje eu não
estaria aqui.
Agradeço a minha orientadora Profa. Dra. Mônica Moura,
por ter sido mais que uma professora, por ter me ajudado
desde o primeiro ano da faculdade e por ter acreditado no
meu trabalho.
Agradeço ao Gabriel Pontual, que me ajudou a ficar bem
quando eu achei que não fosse possível, por ter acreditado
em mim em todos esses anos.
Agradeço aos meus amigos de UNESP, Ani, Marina, Isis,
Minei, Gabi, Iza, Marlon, Aaron, Gui, Zá e tantos outros que
passaram pela minha vida. Todos vocês me fizeram e me
fazem muito bem e feliz, não tenho palavras suficientes para
agradecer.
Agradeço todos que por gostar do projeto doaram um
pouco de seus trabalhos, Colosio, Fernanda, Izabela, Daniela
e Isis, muito
obrigada! Vocês me
deram motivação para que eu
terminasse esse trabalho.
Agradeço ao pessoal que estava sempre na
Oficina de Madeira e no Laboratório de Design
Contemporâneo, vocês também me ajudaram
muito para que eu chegasse nesse resultado.
Agradeço as mulheres presentes em minha
banca, Miriam Mirna Korolkovas, por ser essa
pessoa tão contagiante que me inspirou no mundo
das joias. E a Profa. Dra. Ana Beatriz Andrade que
depois de tanto tempo como professora, aceitou
também fazer parte da banca.
SUMÁRIO
Resumo | Abstract
Introdução
Breve histórico do adorno e da joia no Brasil
A joia contemporânea no Brasil
O movimento feminista no Brasil
O projeto
Inspirações
		 A Princesa Guerreira
		 A Militante Transexual
		 A Escritora Censurada
		 Símbolo da Força Feminina
		 A Líder Indígena
Desenvolvimento do projeto
		 Sketches
		 Materiais
		 Produção das Peças
Peças Finais
Catálogo
Considerações finais
Bibliografia
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07
08
12
15
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18
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28
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36
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58
61
resumo
Este trabalho apresenta a criação de uma coleção
de joias contemporâneas e adornos que trazem a
lembrança de grandes mulheres e suas histórias
pessoais de lutas e significantes contribuições para
o nosso dia a dia, de forma a não esquecermos o
passado e sim de usarmos ele como motivador para
nossas lutas pessoais.
A coleção Empoderar é inspirada nas seguintes
mulheres: Aqualtune, Brenda Lee, Cassandra Rios,
Sonia Guajajara e Maria da Penha, produzidos em
madeira reaproveitada, retalhos de tecidos, fios e
arames.
Palavras chave: joias, feminismo, contemporâneo, design
abstract
The present work presents the creation of a
collection of contemporary jewels and adornments
that celebrate the memory of great women and
their personal stories of struggles and significant
contributions to our day by day, so as not to forget the
past, but to use it as a motivator to our personal fights.
The Empoderar collection is inspired by the
following women: Aqualtune, Brenda Lee, Cassandra
Rios, Sonia Guajajara and Maria da Penha, made from
re-used wood, fabrics, yarns and wires.
5
Keywords: jewelry, feminism, contemporary, design
Se a joalheria tradicional aspira à eternidade,
passando por gerações, a joalheria contemporânea
é obstinadamente ancorada no presente, como
uma criação ligada ao 19 “aqui e agora” do seu
criador. [...] joia contemporânea, um termo que
representa um balanço perfeito entre inovação,
linguagem pessoal e o reconhecimento por
estabelecidos circuitos de galerias, museus e
colecionadores.
1.
2.
3.
1. Brinco concha. Corda de polietileno oca, pérola, pino e tarracha de prata. Por Mana Bernades, 2008
2. Tiara penteado. Corda de polietileno dersamada e desfiada, pérolas, fio de silicone e pequenas uvas de plástico.
Por Mana Bernades, 2008.
3. Colar Liana. Madeira, ouro 750 e folha AU 1000. Por Miriam Mirna Korolkovas.
6
(MERCALDI, 2016, p.19)
introdução
Desde povos muito antigos a joia se encontra
presente e se transforma com o passar do tempo,
mudando junto com a sua sociedade e seus
pensamentos, a joia contemporânea, assunto que
será abordado mais adiante, desprende-se do valor
material e financeiro indo de encontro a valoriação
das questões políticas , simbólicas, emocionais,
subjetivas, culturais e da experimentação, da autoria
onde a criação e o processo projetual ganham maior
valor.
Este trabalho envolve estas questões e, também,
toma como referência o feminismo interseccional,
um movimento de mulheres que promove a
igualdade de gêneros e faz recortes nas lutas
específicas de certos grupos, como por exemplo,
as mulheres negras, indígenas ou LGBT. A relação
entre a pesquisa e o processo criativo que levou
ao desenvolvimento projetual resultou na coleção
Empoderar.
No processo de desenvolvimento deste trabalho de
conclusão de curso na área de Design, escolhi como
referência e inspiração em mulheres brasileiras que
representassem esses grupos, para que suas lutas
sejam disseminadas e sirvam como exemplos de
motivação e força para a jovem geração de mulheres,
bem como a todas as mulheres brasileiras em suas
lutas pela vida, pelo poder, pela valorização pessoal,
pela autoestima, pelo amor próprio e respeito a si
mesma criando uma corrente de empoderamento de
mulheres para mulheres.
7
breve histórico do adorno e da joia no brasil
O adorno pessoal esteve sempre
presente em todas as eras e civilizações,
tendo sido registrada desde o período
paleolítico, ou seja, o adorno corporal
expresso pela joalheria, entre outras
formas, nos acompanha há muito tempo.
No Brasil, os povos indígenas são um
grande exemplo da utilização dos adornos
no corpo, que geralmente eram símbolos
religiosos, sociais e de liderança. Segundo
Skoda (2012, p. 141) e Gola (2008, p.
78) os índios para se adornar usavam
materiais encontrados na natureza, tais
como penas, sementes, conchas, entre
outros.
O símbolo de um cocar de penas pode
ser comparado ao de uma coroa imperial
de ouro e seu valor definido conforme a
raridade das penas do pássaro naquela
região.
A joalheria foi impulsionada pela
descoberta e exploração das minas pelos
portugueses que utilizavam os escravos
inicialmente para as extrações de ouro e
depois com as pedras preciosas.
Assim o Brasil se tornou conhecido
pelas suas joias barrocas em ouro,
trazendo ourives para trabalhar aqui
no país em oficinas usando a ajuda de
escravos para a confecção. As joias da
época mostravam o status de quem
usava para a sociedade, e o principal
motivo decorativo do estilo barroco era a
natureza.
4. 5. 6.
4. Leque, arte plumária Karajá. Fonte: http://indigenasbrasileiros.blogspot.com.br/2016/02/arte-plumaria-indigena-no-brasil.html
5. Brincos, arte plumária Karajá. Fonte: http://indigenasbrasileiros.blogspot.com.br/2016/02/arte-plumaria-indigena-no-brasil.html
6. Colar Liana. Madeira, ouro 750 e folha AU 1000. Por Miriam Mirna Korolkovas.
8
Nos séculos XVII e XVIII, Portugal estava deslumbrado
pela visão de prosperidade diante das minas de ouro e
de diamantes. As mulheres ibéricas passaram a usar
colares, corações, placas, anéis e todas as formas de
joias pessoais em ouro. Essa pequena fortuna ambulante
poderia constituir o dote da menina casadoura e a
reserva da mulher casada, ou fazer frente diante de um
golpe imprevisto da vida, numa ocasião de desequilíbrio
financeiro. [...] O Brasil Barroco era o maior centro mundial
de produção de ouro na primeira metade do século XVIII.
(SKODA, 2012, p. 143)
7.
7. Relicário pingente em ouro so século XVII. Fonte: http://arlloufill.com/pages/ourivesaria-luso-brasileira-do-seculo-xviii
9
As mulheres negras vindas para o Brasil
também também exerceram sua influência
nas joias da época, já que formou-se uma
mistura de religiões trazidas do continente
africano e nos seus rituais era comum o
uso de joias, muitas vezes semipreciosas,
como por exemplo o balangandã, que é
composto por diversos pingentes, como
saquinhos de couro, dentes de animais,
figas, bolas de louça e crucifixos.
Durante a independência do Brasil, as
joias também refletiram esse momento
político, e tornou-se moda usar peças com
cores e símbolos da nova pátria e com
os materiais que a terra fornecia e com
inspiração na natureza local.
	 Durante o período da Revolução
Industrial foram criados novos métodos
de confecção, para que joias se tornassem
mais baratas e fossem produzidas em
maior quantidade. Nisso se dividiu o
mercado e o luxo ficou sendo a produção
artesanal, peças únicas.
	
O Brasil desde então seguiu os estilos
internacionais, até chegar em meados de
1960, quando alguns artistas resolveram
que era hora de quebrar esse padrão e
criar uma joalheria tipicamente brasileira.
Dentre eles destacam-se Pedro Correia
de Araújo (1930-), precursor da joia
moderna no Brasil, juntando inspirações
do romantismo barroco da sua cidade
de origem, Recife, com seus estudos de
racionalismo formal na Dinamarca e
Suíça, e Clementina Duarte (1941-), que
apesar de sua formação em arquitetura,
também estudou artes e criou algumas
peças esculturas de cunho modernista,
trazendo o diálogo entre arte e design.
Suas peças já foram usadas em desfiles por
Pierre Cardin, Hervé Leger e Oscar de la
Renta.
8. Colar escultural em ouro 18k, por Clementina Duarte.
9. Pulseira Clouds em ouro 18k, diamantes e águas marinhas, por Clementina Duarte.
8. 9.
10
A joalheria no Pós-Modernismo deixou de pertencer
apenas às classes altas do Brasil, passa-se a produzir
joias para qualquer que fosse o poder aquisitivo e
gosto pessoal. Destacam-se dois tipos principais de
design para joias; aquele que reflete a moda, joias
apenas pela estética, e aquele outro que traz uma
relação maior com o consumidor, trazendo valores
universais.
Neste momento pós-modernista do país, as
bijuterias e joias de imitação ganharam grande
destaque, criando um imenso novo mercado e
incentivando o uso de novas pedras, metais e materiais
pouco usuais na confecção.
A partir daí o design rumou para o contemporâneo,
no qual temos uma busca constante de novas estéticas,
modelos de produção e materiais. Hoje temos fatores
diferentes que são levados em conta na hora de se
adquirir uma joia, como por exemplo, os aspectos
ecológicos. Como disse Skoda (2012, p. 189) neste
contexto, o Brasil tem aproveitado seus ricos recursos
naturais, fonte de matéria prima para a joalheria.
Desenvolvendo peças com muita criatividade, a
joalheria internacional tem se rendido aos seus
encantos e o mercado interno lentamente passou a
valorizar a importância do design e do designer.
A joalheria, a moda, a escultura e a arte
performática estão em constante expansão e
os preconceitos quanto à utilização de materiais
e técnicas não convencionais estão se diluindo,
procurando-se aliar criatividade e inovação ao
design, usando novas tecnologias e bons preços.
(SKODA, 2012, p. 176 - 1773)
10. Bracelete Terra, primeiro lugar Concurso Pérolas do Tahiti - BR 2005. Imbuia, pérola do tahiti, topázio imperial, ouro
18k. Por Bettina Terepins.
10.
11
a joia contemporânea no brasil
Primeiramente precisamos definir o que é a joia
contemporânea, não se sabe ao certo quando se deu
seu surgimento, mas sabe-se que esta joia rompe
com todos os padrões até então da joalheria. A joia
contemporânea não está presa a um conjunto de
coisas, como por exemplo, colares e brincos, ela é
também objeto de arte, moda e design.
Os materiais também não ficam presos a
preciosidade, há aqui um estudo de novos materiais
até então jamais imaginados para a confecção de
joias e como símbolo, a joalheria contemporânea
traz principalmente questionamentos a respeito da
sociedade em que está inserida, inclusive não sendo
necessária a real utilização da joia. Ela pode ser feita
apenas como objeto de escultura, para apreciação.
Existem poucos estudos a respeito da joalheria
contemporânea brasileira, mas podemos citar
alguns joalheiros conhecidos atualmente, como
por exemplo, Miriam Mirna Korolkovas, Mana
Bernades, Bettina Terapins e Alice Ursini.
11. 12.
11. Porco Espinho. Colares "do Pará". Exposição 3º Prêmio Objeto Brasileiro, realizada no período de 17 de outubro de
2012 a 19 de janeiro de 2013, em A CASA museu do objeto brasileiro. Por Miriam Andraus Pappalardo.
12. Cipó. Colares "do Pará". Exposição 3º Prêmio Objeto Brasileiro, realizada no período de 17 de outubro de 2012 a 19 de
janeiro de 2013, em A CASA museu do objeto brasileiro. Por Miriam Andraus Pappalardo.
12
A joia contemporânea compreende objetos que são
trabalhados com arte, no sentido de explorar as
potencialidades da criação e expressão. No processo e
no resultado desses objetos ou produtos ocorre a
convivência de materiais preciosos ou não preciosos
de diferentes naturezas (metais, pedras e outros não
convencionais). Esses materiais podem ser
empregados em conjunto ou separadamente.
(MOURA, 2011, p. 02)
13.
13. Brinco Frevo. Ouro 750 e Nióbio. Por Miriam Mirna Korolkovas
13
O feminismo é uma filosofia universal que
considera a existência de uma opressão
específica a todas as mulheres. Essa opressão
se manifesta tanto a nível das estruturas como
das superestruturas (ideologia, cultura e política).
Assume formas diversas conforme as classes e as
camadas sociais, nos diferentes grupos étnicos e
culturas.
(TELES, 1993, p. 10)
14
o feminismo no brasil
O feminismo no Brasil começou a
aparecer em meados do século XIX,
época em que as mulheres sequer eram
vistas como cidadãs, participar da vida
política era visto como algo desonroso
para as mulheres. Nesse período, em
meio a urbanização e industrialização,
surge o movimento sufragista nos países
europeus e com o tempo passou a fazer
parte da realidade brasileira. Em 1932
foi alcançado o objetivo, as mulheres
conquistaram o direito ao voto sob as
mesmas exigências do masculino: ser
alfabetizado. Assim podemos concluir
que foi um movimento de forte aspecto
feminista, mas com um componente de
classe bastante característico, favorecendo
aquelas membras de uma elite branca,
sendo ignoradas as mulheres negras,
indígenas e pobres ainda por muitos anos.
Com o regime ditatorial outorgado a
partir de 1964, o movimento feminista
perdeu sua força por um tempo, sendo
retomado na criação do Movimento
Feminino pela Anistia em 1975, ano que
foi considerado como Ano Internacional
da Mulher. De lá para cá há grandes
conquistas feministas a se considerar
como por exemplo a lei do divórcio e
o acesso a métodos contraceptivos e
saúde preventiva, mas ainda hoje a fila de
questões pelas quais as mulheres lutam é
significativa.
A Lei Maria da Penha, que preza pela
segurança da mulher vítima de violência
doméstica no Brasil, surge apenas no ano
de 2006. Um dispositivo legal valioso na
luta contra a violência contra a mulher,
mas não bastante diante das ameaças
constantemente sofridas pelas mulheres.
Inclusive há muitos relatos de ineficiência
e de funcionários não capacitados nas
DDMs (Delegacia Especializada de
Atendimento à Mulher), fazendo com
que muitas desistam do processo ou de
até mesmo chegar a denunciar o agressor.
Mesmo em 2015, quase dez anos após a lei
Maria da Penha, no país havia apenas 368
delegacias da mulher para servir 5,5 mil
municípios e estas não abrem aos finais
de semana e períodos noturnos, quando
geralmente ocorrem as agressões.
Nos últimos anos a internet
facilitou muito o acesso à informação
e disseminação da luta feminista,
atualmente existem várias vertentes e já
é possível ter uma luta mais abrangente
e includente devido aos vários recortes
sociais dentro do próprio movimento. Isto
surge com o conhecimento do fato de que
a luta, por exemplo, de uma mulher negra
não é a mesma que a de uma mulher
branca, já que essa última possui mais
privilégios na sociedade, muito embora a
base do movimento e suas preocupações
sejam as mesmas.
15
FEMINISMO: Movimento articulado na Europa, no
século XIX, com o intuito de conquistar a equiparação
dos direitos sociais e políticos de ambos os sexos, por
considerar que as mulheres são intrinsecamente iguais
aos homens e devem ter acesso irrestrito às mesmas
oportunidades destes. (O movimento pressupunha, já
de início, uma condição fundamental de desigualdade,
tanto em termos de dominação masculina, ou
patriarcado, quanto de desigualdade de gênero e dos
efeitos sociais decorrentes da diferença sexual.)
(Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa - Michaelis Online)
16
conceito do projeto
17
Quando se fala em feminismo nos
perguntamos como é que podemos
incluí-lo no dia-a-dia, nos nossos
projetos, conversas, hobbies. E é papel
de uma estudante e quase profissional
formada em design relacionar questões
importantes relacionadas a sociedade com
o desenvolvimento de suas pesquisas,
trabalhos e criações. Nesse sentido
relacionei a preocupação e a necessidade
de maior valorização e empoderamento
das mulheres não apenas por toda a
sociedade, mas também por elas mesmas
em seu papel de agentes sociais. A partir
destas questões é que foi desenvolvida a
coleção Empoderar.
A coleção tem como principal objetivo,
como o próprio nome já diz, empoderar
as mulheres que usarem, falarem,
pesquisarem sobre as joias e a maneira
a que se propõe alcançar esse resultado
é pelo fato da coleção ser inspirada em
cinco mulheres atuantes e referências em
alguns recortes do movimento feminista
interseccional. Ou seja, por trás de cada
peça há uma história e ela é contada ao
adquirir a peça.
As mulheres que deram vida à essa
coleção são Aqualtune, Sonia Guajajara,
Brenda Lee, Cassandra Rios e Maria da
Penha, que serão apresentadas abaixo.
EMPODERAR: Investir(-se) de
poder, a fim de promover ações
que possam provocar mudanças
positivas no grupo social.
(Fonte: Dicionário Michaelis Online)
SINÔNIMOS DE EMPODERAR:
Dar poder, autoridade, autonomia
e afirmação: dar poder, investir
de poder, conceder poder, dar
autoridade, investir de autoridade,
conceder autoridade, dar autonomia,
investir de autonomia, conceder
autonomia, habilitar, desenvolver
capacidades, promover afirmação,
promover influência.
(Fonte: sinonimos.com.br)
a princesa guerreira
Aqualtune foi, segundo a história, princesa do Congo
e a única data que temos notícia é por volta do ano
de 1665, quando liderou cerca de 10 mil guerreiros
congoleses, no que ficou conhecido como a “Batalha de
Mbwila”. Mas Aqualtune perdeu esse combate, e como
consequência seu pai foi morto e ela presa e vendida
como escrava.
Antes de vir ao Brasil ela foi catequizada e como prova
do batismo, marcaram uma flor com ferro quente acima
de seu seio esquerdo. Já no Brasil foi vendida como
escrava reprodutora mesmo estando grávida. Durante
seu sexto mês de gestação tomou conhecimento do
quilombo de Palmares e resolveu fugir junto com
outros escravos, chegou lá acompanhada de mais 200
e muitos sabiam de sua origem, fato que a tornou líder
do Reino dos Palmares. Ali, Aqualtune deu a luz a três
filhos conhecidos, Ganga Zumba, Ganga Zona e Sabina,
mãe de Zumbi.
O final da vida de Aqualtune é nebuloso, alguns
dizem que ela morreu de doenças da velhice, outras que
ela teria morrido num incêndio provocado na vila em
que vivia.
14.
14. Ilustração de Daniela Brüno Zagnoli
18
15. 16 17.
18.
19.
20.
15. Sem descrição. Fonte: p. 39, “Au Congo, comment les noirs travaillent”,
1895.
16. Jovem Manja no traje de Festival Samali. Aquarela por E. M. Heims.
Fonte: p. 8 de "From the Congo to the Niger and the Nile : an account of The
German Central African expedition of 1910-1911"
17. Amuletos e colheres, desenhos de M. Glave. Fonte: p. 144, “Sur le Haut-
Congo”, 1888.
18. Sem descrição. Fonte: p. 102, “Au Congo, comment les noirs travaillent”,
1895.
19. Colar de metal de mulher da tribo Bambuba. Algumas mulheres
poderiam ser vistas usando vários colares de tamanhos diferentes. Fonte:
“Tramps round the Mountains of the Moon and through the back gate of the
Congo State”, 1908.
20. Cinto, possivelmente por volta de 1900, África Central, República
Democrática do Congo, povo Kuba. Produzido em cordão, couro, contas de
vidro, conchas. Cleveland Museum of Art.
19
a militante transexual
Brenda Lee foi uma mulher transexual,
militante dos direitos LGBT. Nascida em
Pernambuco (1948 - 1996), inicialmente
adotou o nome de Caetana e aos 14 anos
se mudou para o bairro do Bixiga, em São
Paulo, adotando ali o nome de Brenda Lee
e para sobreviver teve que trabalhar como
prostituta na cidade. Com o dinheiro
ganho comprou uma casa no mesmo
bairro e foi ali que recebeu o primeiro
portador de HIV.
Ela tinha a intenção inicial de abrir uma
pensão, mas vendo a situação da época,
abriu as portas para pessoas portadoras
de HIV que haviam sido rejeitadas pela
família e não tinham estrutura para lidar
com a doença. Lembrando que nessa
época a informação a respeito da doença
ainda era escassa. Assim surgiu a Casa
de Apoio Brenda Lee, com o objetivo
de dar assistência médica, social, moral
e material para essas pessoas que eram
marginalizadas pela sociedade e por seus
meios familiares.
O trabalho para manter a casa não foi
fácil, ela era mantida fundamentalmente
por doações e convênios com hospitais.
Apesar das dificuldades, a Casa de Apoio
Brenda Lee tornou-se referência no apoio
a pessoas soropositivas.
A trajetória de Brenda Lee teve fim em
1996, quando foi brutalmente assassinada.
No entanto, mesmo com a sua morte,
amigos e moradores do bairro deram
continuidade ao projeto, que em 2003
recebeu o prêmio Internacional pela
Fundação Bill & Melinda Gates em
reconhecimento à resposta brasileira ao
combate e prevenção do HIV/AIDS e em
2008 foi instituído o Prêmio Brenda Lee,
concedido quinquenalmente para sete
categorias em ocasião do Dia Mundial de
Combate a AIDS.
Por todo seu trabalho e história Brenda
Lee ficou conhecida como “anjo da guarda
das travestis”. Hoje a casa se encontra
em reforma para melhor atender aos
pacientes.
21.
21. Ilustração de Daniela Brüno Zagnoli
20
22. Brenda Lee e uma foto de sua adolescência. Fonte: http://www.nlucon.com/2013/11/conheca-brenda-lee-o-anjo-da-guarda-
das.html
23. Brenda Lee e o ator Lúcio Mauro. Fonte: http://www.nlucon.com/2013/11/conheca-brenda-lee-o-anjo-da-guarda-das.html
24. Fachada da Casa de Apoio Brenda Lee. Fonte: http://dudunaweb.blogspot.com.br/2012_07_01_archive.html
25. Símbolo trans. Fonte: http://www.jornaljr.com.br/2015/03/30/o-mundo-trans-finalmente-visivel-por-outros-olhos/
26. Bandeira da comunidade trans. Fonte: http://www.nonada.com.br/2016/01/coluna-gemis-visibilidade-trans-um-dia-de-luta-
e-combate-a-transfobia/
22. 24. 25.
23.
26.
21
a escritora censurada
Cassandra Rios (1932 - 2002) é o pseudônimo de
Odete Rios, nascida em São Paulo, foi uma das mais
polêmicas escritoras brasileiras e a primeira mulher a
vender um milhão de exemplares no país, além de ser
também a mais censurada.
	 Cassandra era uma mulher lésbica e escrevia
sobre o universo feminino e erotismo, por vezes
considerado como pornográfico, principalmente
durante o auge da ditadura militar no Brasil, quando
teve 36 de seus livros censurados e diversos processos.
Ainda assim vendeu milhares de exemplares.
De acordo com Hannah Korich, diretora do
documentário brasileiro “Cassandra Rios, a safo
de Perdizes”, ela teve essa aceitação do público
por conta do seu estilo ousado e criativo, era uma
mulher escrevendo sobre o prazer com outra mulher,
apresentava um novo caminho para a vida afetiva
e amorosa, numa época em que não existia nem a
sigla LGBT e nem organizações de homossexuais.
A sociedade era extremamente patriarcal e o único
papel da mulher nele era a maternidade.
27.
27. Ilustração de Daniela Brüno Zagnoli
22
28. Triângulo preto invertido usado como símbolo do movimento lésbico.
29. Capa do ivro "Tessa, a gata" de Cassandra Rios.
30. Interligação feminina usada como símbolo do movimento lésbico.
31. Anel erótico de Betony Vernon. Produzido com penas de ganso. (Fonte: http://pinupepper.blogspot.com.br/2015/01/ja-ouviu-falar-em-joias-
eroticas.html
32. Labrys usada como símbolo do movimento lésbico.
33. Joias eróticas de Carol Teixeira. Fonte: http://www.vilamulher.com.br/sexo/linha-de-joias-eroticas-para-dar-de-presente-m1214-694717.html
34. Colagem "A pessoas estão incomodadas com a sexualidade que não é para o consumo marsculino". Fonte: http://wine-loving-vagabond.tumblr.
com/post/54011460658
35. Capa do livro "Um escorpião na balança" de Cassandra Rios.
36. Capa do livro "Carne em delírio" de Cassandra Rios.
28. 29. 34. 35.
30. 31.
32. 33.
36.
23
símbolo da força feminina
Maria da Penha, (1945 - ), é um símbolo
recente da luta sobre a violência contra
a mulher. Casou-se com um homem
com quem o casamento transcorreu
normalmente até o nascimento da sua
segunda filha, quando ele começa a
apresentar comportamentos agressivos.
Em 1983 Maria da Penha acordou com
um tiro. Seu marido a havia baleado
nas costas. De início o marido disse
que o tiro foi resultado de um assalto
na casa, fato que seria descoberto como
inverídico meses depois. Ela passou meses
no hospital por conta do tiro e ficou em
uma cadeira de rodas. Após voltar para
casa, sofreu outra tentativa de homicídio
quando o marido tentou, sem sucesso,
eletrocutá-la durante o banho.
Após esses episódios, Maria da Penha
conseguiu proteção judicial para sair de
casa sem que isso significasse abandono
do lar ou perda da guarda de suas três
filhas.
Ela então começou sua batalha na
justiça. A primeira condenação de Viveros
veio somente 8 anos após o crime, em
1991, mas ele conseguiu a liberdade.
Inconformada, Penha escreveu sua
história no livro “Sobrevivi...posso contar”
(1994) e por meio do livro conseguiu que
em 2001 a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos (OAE) condenasse
o Brasil por negligência, omissão
e tolerância em relação a violência
doméstica contra as mulheres.
Esse foi o primeiro passo para que em
2006, o presidente Lula sancionasse a
lei 11.340, conhecida como Lei Maria
da Penha, que cria meios para coibir a
violência familiar contra a mulher e prisão
preventiva decretada para os agressores,
além de aumentar a pena máxima de um
para três anos de detenção e acabar com o
pagamento de cestas básicas como pena.
O caso foi incluído pela ONU mulheres
entre os dez que foram capazes de mudar
a vida das mulheres no mundo.
Maria da Penha hoje ainda continua na
luta, para que cada vez mais a lei funcione
melhor em todos os lugares do país e que
as pessoas se conscientizem da causa.
38.
38. Ilustração de Daniela Brüno Zagnoli
24
39. Pintura de Peter Pauls Rubens, 1620. Fonte: https://pvmarques.wordpress.com/2012/11/15/
joana-darc-herege-salvadora/
40. Campanha do serviço 180. Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/
enem/2016/08/05/noticia-especial-enem,791342/10-anos-da-lei-maria-da-penha.shtml
41. Campanha do serviço 180 para denúncias de agressão. Fonte: http://www.
compromissoeatitude.org.br/campanha-eu-ligo-180-sera-lancada-no-congresso-procuradoria-
da-mulher-do-senado-02062014/
42. Fonte: http://delas.ig.com.br/comportamento/2016-08-05/violencia-contra-a-mulher.html
43. Campanha contra agressão. Fonte: http://ceudeborboletas.com.br/mudancas-na-lei-maria-
da-penha/
39. 42.
43.41.
40.
25
a líder indígena
Sônia Bone Guajajara é uma líder indígena,
nascida do povo Guajajara do estado do Maranhão
em 1974. Atualmente é coordenadora executiva da
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)
e da Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira (Coiab). Além de ter recebido em
2015 a Ordem do Mérito Cultural e ser formada em
Letras e Enfermagem. Ela é uma das principais vozes
do movimento indígena nacional, e já o representou
em diversos eventos internacionais.
Sônia tem sido inspiração para os povos e
principalmente para as mulheres indígenas. Segundo
a ONU Mulheres, as indígenas são fundamentais em
diversas economias, trabalhando por segurança e
soberania alimentar, além do bem-estar das famílias
e comunidades. Infelizmente fazem parte de um
grupo que pouco ouvimos falar inclusive dentro do
feminismo, pois além do cotidiano indígena estar
longe da maioria, ainda é um grupo que sofre com
enormes desrespeitos de etnia e que infelizmente
ainda precisam lutar pelo direito a terras e territórios a
que lhes pertenciam antes do início das colonizações.
44.
44. Ilustração de Daniela Brüno Zagnoli
26
45. Criança Guajajara Foto de Júnior Reis.
46. Índios Guajajara Foto de Júnior Reis.
47. Fruta Canapu. Fonte: http://revistaestilobb.com.br/gastronomia/frutas-exoticas/
48. Índios Guajajara. Fonte: http://guiaviajarmelhor.com.br/as-maiores-tribos-
indigenas-brasileiras/
49. Pintura em mulher Guajajara. Fonte: http://guajajaradonosdococar.blogspot.com.
br/2012_05_01_archive.html
50. Artesanato Guajajara. Fonte: http://guajajaradonosdococar.blogspot.com.
br/2012_05_01_archive.html
51. Índios realizam ato na Avenida Paulista para marcar os 20 anos do Dia
Intenacional dos Povos Indígenas. Fonte: http://noticias.band.uol.com.br/cidades/
noticia/100000766534/indios-realizam-ato-na-avenida-paulista.html
52. Criança Guajajara Foto de Júnior Reis.
53. Modelo indígena Zahy Guajajara. Fonte: http://www.barradocorda.com/noticias-
barra/indigena-zahy-guajajara-estara-nas-telinhas-da-globo-ainda-neste-ano-
conheca-seu-trabalho/comment-page-1/
52.46.
48.
53.
47.
45.
50.
49.
51.
27
desenvolvimento do
projeto
28
O desenvolvimento do projeto aconteceu em
duas cidades; Maringá e Bauru. Por uma questão
de indisponibilidade e limitação de recursos
produtivos locais em Maringá, a primeira solução
foi desenhar as peças pensando em corte a laser
no acrílico, serviço possível de ser encomendado
e mais presente na maioria dos centros urbanos.
Conforme a pesquisa sobre a joia contemporânea
se desenvolveu, chegou-se a conclusão que o
material deveria ser menos usual ou que fosse
algum material reaproveitado, tais como descartes e
refugos de produções de construção e marcenaria.
Assim nasceu a ideia de fazer as peças em madeira
de demolição, uma vez que a maioria das joias
seriam relativamente pequenas e então não
seriam necessárias grandes chapas de material
virgem ou novos cortes de tecidos, uma vez que
a disponibilidade de retalhos de tecido vindo de
fábricas de roupas existentes na região de Maringá é
ampla.
Com os materiais definidos, a coleção foi
redesenhada e o desenvolvimento deu início
em Bauru na oficina de madeiras da UNESP.
Em conjunto com a orientadora Mônica Moura,
chegamos a conclusão que deveriam ser escolhidos
alguns tipos específicos de joias para integrar toda
a coleção, e assim foram definidos 5 colares e 5
braceletes, por serem peças maiores que poderiam
passar mais a mensagem de cada uma das mulheres
que foram inspiração.
29
desenvolvimento do projeto
sketches
30
31
32
33
34
materiais
Na joalheria contemporânea,
entretanto, considera como fator decisivo
para agregar valor o projeto do adorno,
seu estudo por trás do desenho, os
materiais empregados e seu significado.
Na esteira deste conceito de produção
de joias, aliado ao estudo de referências
da luta feminista brasileira, optou-se por
utilizar em sua maioria produtos que
são descartados na confecção de outros
objetos como mesas, portas e roupas.
A base principal das joias são madeiras
de descarte diversas, um item que
geralmente produz muitas sobras
pequenas em marcenarias e construções
e que dificilmente são aproveitadas em
projetos futuros, trazendo assim uma
segunda vida para o material que já foi
retirado da natureza, minimizando o
consumo deste recurso.
Para o acabamento e detalhes foi
utilizado cordão preto comprado em
armarinhos, tinta branca e preta fosca,
stain impregnante nas áreas de madeira
crua para destacar sua cor e seus veios,
cera de carnaúba nas áreas onde o stain
foi aplicado, retalhos de tecidos vendidos
por uma fábrica de confecção de roupas
e chapas de metal para unir e segurar os
cordões.
35
Produção das peças
	 Finalizados os sketches, percebeu-se
que seria mais interessante produzi-las
de modo artesanal para trazer a ideia de
uma joalheria contemporânea e única,
produzida a mão por uma mulher,
tornando-as mais pessoais.
Mesmo as máquinas empregadas na
produção das peças foram limitadas
àquelas que necessitem de uma
habilidade manual da pessoa que a
maneja e que não conferissem às peças
um aspecto de precisão industrial,
foram máquinas encontradas na oficina
de madeira da Unesp Bauru como por
exemplo a serra de fita, lixadeira circular,
furadeira de bancada e mini retifica. Cada
peça é única, mesmo que outras sejam
feitas com o mesmo desenho, cada uma
trará detalhes próprios, desde o tipo de
madeira, até recortes e acabamentos.
Sabendo que diversos tipos de madeiras
com as quais nunca havia trabalhado
seriam utilizadas e que o material base
não tinha uniformidade em dimensões e
características, ao terminar os desenhos
das peças defini que o dimensionamento,
assim como acabamentos e espessuras,
estaria em “aberto”, ou seja, seriam
definidas ao longo do processo artesanal
de produção, à medida que o material
requeresse ou determinasse, já que o
material de origem não tinha tamanhos
ou características uniformes, sendo
necessário adaptar constantemente o
projeto (mas não proposta) ao insumo.
	 Com as peças recortadas se tornou
possível escolher melhor quais áreas e
cores seriam pintadas para um melhor
acabamento visual e logo após deu-
se início à montagem, realizada no
Laboratório de Design Contemporâneo
da UNESP, na qual também alterei alguns
detalhes nas peças e defini o tipo de
cordão e tecidos a serem utilizados.
36
37
peças
finais
38
aqualtune
Colar com inspiração nas pétalas de Lírios típicos da região do Congo, de onde veio Aqualtune e bracelete com formas geométricas básicas presentes nos
motivos artesanais das tribos africanas.
O bracelete pode ser usado também como colar, gargantilha e headband. 39
brenda lee
O colar apoia-se no pescoço e tem pendentes apoiados nas costas, trazendo a ideia de asas, fazendo referência a lembrança de Brenda como o Anjo da Guarda
das travestis, já o bracelete brinca com os símbolos de masculino e feminino, fazendo referência a transsexualidade.
40
cassandra rios
O colar traz em suas formas o erótico e feminino, podendo ser usando de vários modos. A gargantilha sozinha ou com o colar de três madeiras encaixado nela,
com ou sem os cordões pendurados ao meio, ou ainda as três madeiras encaixadas no fio simples. O bracelete, no seu contorno, traz frases eróticas presentes nos
livros de Cassandra. 41
maria da penha
O maxicolar com as aplicações de madeiras na frente remete a ideia de armadura, segurança. O bracelete, por sua vez, remete a ideia de espinhos. Criando então
a sensação tanto de força quanto de segurança.
42
sônia guajajara
O colar Guajajara é longo, sem necessidade de fecho e traz símbolos presentes em pinturas e artesanatos indígenas. O bracelete faz referência a fruta Canapu,
presente nas regiões em que habitam os índios Guajajara no estado do Maranhão e que, na crença da tribo, os antepassados se alimentavam dela antes da
agricultura ser ensinada para o povo. 43
EMPODERAR
catálogo
44
EMPODERAR
Investir(-se) de poder, a fim de
promover ações que possam
provocar mudanças positivas no
grupo social.
(Fonte: Dicionário Michaelis Online)
45
Aqualtune
Antiga Princesa do Congo, ao perder uma luta em seu país foi trazida
ao Brasil como escrava. Aqui ficou sabendo da existência do quilombo de
Palmares e resolveu fugir para lá. Chegou ao quilombo acompanha de mais
200 escravos e, por saberem de sua origem, foi feita líder no Reino dos
Palmares. Ali, Aqualtune deu a luz três filhos conhecidos, Ganga Zumba,
Ganga Zona e Sabina, mãe de Zumbi.
O final da vida de Aqualtune é nebuloso, o fato é que em vida Aqualtune
foi exemplo de força feminina e negra.
46
47
brenda lee
Anjo da Guarda das Travestis, como era chamada, foi uma mulher
transexual que viveu São Paulo e que apesar das dificuldades, abriu as portas
de sua casa para pessoas portadoras de HIV que haviam sido rejeitadas pela
família. Assim surgiu a Casa de Apoio Brenda Lee, com o objetivo de dar
assistência médica, social, moral e material para essas pessoas que eram
marginalizadas pela sociedade e por seus meios familiares.
Brenda, infelizmente, foi assassinada em 1996. Porém amigos e vizinhos
se uniram para que a casa continuasse funcionando e sua memória não fosse
esquecida.
48
49
cassandra rios
Pseudônimo de Odete Rios, foi uma das mais polêmicas escritoras
brasileiras e a primeira mulher a vender um milhão de exemplares no país,
além de ser também a mais censurada.
Cassandra era uma mulher lésbica e escrevia sobre o universo feminino
e erotismo, por vezes considerado como pornográfico, escrevia sobre o
prazer com outra mulher, apresentava um novo caminho para a vida afetiva
e amorosa. Durante o auge da ditadura militar no Brasil ela teve 36 de seus
livros censurados e diversos processos.
50
51
maria da penha
Mulher casada, com filhos, uma vida comum até começar a sofrer agressões de
seu marido. Ele tentou assassiná-la duas vezes, sem sucesso, apesar de uma delas
a ter deixado paraplégica. Maria da Penha teve que lutar muito na justiça para
que ele fosse punido, e ainda assim ele passou apenas dois anos preso e foi solto.
Inconformada, ela escreveu o livro "Sobrevivi...posso contar" e por meio
dele, em 2006, foi sancionada a Lei Maria da Penha, que cria meios para coibir
a violência familiar contra a mulher e prisão preventiva decretada para os
agressores, além de aumentar a pena máxima de um para três anos de detenção e
acabar com o pagamento de cestas básicas como pena.
52
53
Sônia Guajajara
Líder indígena do povo Guajajara, atualmente é coordenadora executiva
da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação das
Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Ela é uma das
principais vozes do movimento indígena nacional, e já o representou em
diversos eventos internacionais.
Sônia tem sido inspiração para os povos e principalmente para as
mulheres indígenas, que sofrem muitas vezes não só dentro das tribos como
fora também, já que muitas pessoas ainda têm preconceitos com os índios.
54
55
56
EMPODERAR
créditos
Peças:
Jéssica Fateiga Câmara
Fotografia:
Fernanda Luz
Guilherme Colosio
Modelos:
Maria Eduarda Castro
Izabela Ambiel
ilustrações:
Daniela Brüno Zagnoli
57
considerações
finais
58
considerações finais
Minha relação com o estudo e
desenvolvimentos de joias começou por
acaso durante meu intercâmbio realizado
na Itália. Foi no Politécnico de Milão que
tive aulas pela primeira vez sobre joalheria
e onde me identifiquei com o tema pela
primeira vez. Comecei a me interessar
cada vez mais pelo ramo e então ao
retornar à UNESP decidi que o trabalho
de conclusão seria uma coleção de joias.
O primeiro entrave se revelou com
os custos de tudo relativo ao que se
entende por joalheria, uma vez que
a concepção mais difundida ainda é
pouco contemporânea: metais preciosos
e gemas. Desde o produto final até o
conhecimento para o desenvolvimento de
joias em metais fundidos tem altos custos
de material e ferramentaria específica
dificilmente encontrada em qualquer
lugar. O estudo do significado da joalheria
contemporânea permitiu o entendimento
de que essa barreira poderia ser superada
através do design, que munido de um
projeto bem fundamentado e um conceito
forte, mesmo sobras de construção e
indústrias podem se tornar objetos
únicos que contam uma história, de alto
valor agregado sem no entanto serem
inacessíveis. Que esta linguagem pode ser
acessada e consumida por mais mulheres.
	 Todos os outros estudos relacionados
neste trabalho vieram sem grandes
dificuldades, sempre tive o interesse de
tornar o meu trabalho de conclusão de
curso algo pessoal, que me representasse
como pessoa, e por isso nada foi mais
natural do que a união com o feminismo,
movimento social que aprendi ano após
ano enquanto frequentava a faculdade.
O momento de ser mulher na sociedade
contemporânea brasileira e mesmo
mundial, mostra que a segurança da
mulher, a isonomia de direitos em relação
aos homens e os direitos sobre seu corpo
não estão em plenitude de garantia e que
o feminismo é um debate necessário e
urgente.
Pesquisa da Faculdade Latino
Americana de Ciências Sociais a pedido
da ONU, em 2015, aponta que dentre 83
pesquisados o Brasil é o quinto país do
mundo em violência contra mulheres.
Ainda de acordo com esta pesquisa,
o salário médio dos homens é 30%
maior que o das mulheres. A taxa de
feminicídio dobrou de 1980 para 2011,
hoje uma mulher é assassinada no Brasil
a cada duas horas, em sua maioria por
homens com quem tem relações íntimas,
fazendo do Brasil o sétimo do mundo em
feminicídio. Em 2015 foram registrados
mais de 45000 estupros no Brasil,
segundo o Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, e que estima-se que esse número
corresponda a apenas 10% do total de
59
casos reais. Todas estas são questões caras
ao feminismo, próprias do debate feito
atualmente e com o qual tive contato ao
longo de minha vida. Utilizar a joalheria
contemporânea, uma estética que na
atualidade pertence majoritariamente
às mulheres, para lembrar da biografia
de mulheres importantes e celebrar suas
lutas, se mostrou uma forma sensível de
dialogar e promover o empoderamento
e um debate essencial ao ser mulher no
Brasil contemporâneo.
Durante os desenhos e confecção
do trabalho, várias características das
peças foram alteradas conforme maior
estudo conceitual e viabilidade de
produção, fazendo inclusive uma ponte
entre design e arte já que a criação
foi realizada considerando os fatores
particulares de cada madeira, cordão,
tintas e tecidos disponíveis. O uso da
madeira de demolição como parte
principal da coleção trouxe não só a ideia
de sustentabilidade, mas também uma
identidade única que foi destacada com
o uso do stain e das tintas foscas, além
de agregar valor a outros materiais que
não são vistos como nobres, ou como
possíveis de serem utilizados em projetos
de joalheria, como o cordão, restos de
tecidos e a placa de metal, lembrando
aqui o conceito aprendido de joalheria
contemporânea.
Sendo assim, acredito que o resultado
final da coleção foi bastante satisfatório,
atingindo os objetivos iniciais da criação
de joias contemporâneas com o intuito de
empoderamento de mulheres.
60
Acervo O Globo. Nos anos 70, ninguém foi
mais censurado no Brasil do que Cassandra Rios.
Disponível em: <http://acervo.oglobo.globo.com/
em-destaque/nos-anos-70-ninguem-foi-mais-
censurado-no-brasil-do-que-cassandra-rios-
10425009#ixzz4NM6XlBAu>. Acesso em: 17 out.
2016.
Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2016.
Disponível em: <http://www.forumseguranca.org.br/
storage/10_anuario_site_18-11-2016-retificado.pdf>.
Acesso em: 14 jan. 2017.
BENUTTI, M. Antônia; ZUGLIANI, G. Mara.
Arte & joia: uma análise entre joias como objeto
de arte e arte contemporânea. World Congress on
Communication and Arts. São Paulo, 2011.
BLUME, Bruno. Tudo sobre a Lei Maria da Penha.
Disponível em: <http://www.politize.com.br/lei-
maria-da-penha-tudo-sobre/>. Acesso em: 17 out.
2016.
CARDOSO, Bia. Dia Internacional da
Mulher Indígena. Disponível em: <http://
blogueirasfeministas.com/2013/09/dia-
internacional-da-mulher-indigena/>. Acesso em: 13
out. 2016.
Casa Brenda Lee. Disponível em: <https://www.
casabrendalee.org.br/sobre-nos>. Acesso em: 17 out.
2016.
COLAÇO, Rita. Brenda Lee e o seu "Palácio das
Princesas". Disponível em: <https://memoriamhb.
blogspot.com.br/2009/11/brenda-lee-e-o-seu-
bibliografia
61
palacio-das.html>. Acesso em: 17 out. 2016.
Empoderar. Dicionário de Sinônimos online.
Disponível em: <https://www.sinonimos.com.br/
empoderar/>. Acesso em: 04 out. 2016.
Empoderar. Michaelis, Dicionário da Língua
Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.
com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=empoderar>.
Acesso em: 04 out. 2016.
FACTUM, A. B. Simon. Joalheria escrava baiana:
a construção histórica do design de jóias brasileiro.
Tese de Doutorado - Área de Concentração: Design
e Arquitetura) - FAUUSP. São Paulo, 2009.
FAHS, A. C. S. Movimento Feminista. Disponível
em: <http://www.politize.com.br/movimento-
feminista-historia-no-brasil/>. Acesso em: 05 out.
2016.
Feminismo. Michaelis, Dicionário da Língua
Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.
com.br/busca?id=ZBWx>. Acesso em: 04 out. 2016.
FLACSO, ONU Mulheres, OPAS/OM e a SPM
divulgam novo Mapa da Violência 2015: Homicídio
de Mulheres no Brasil. Disponível em: < http://
www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/wp-
content/uploads/2015/11/MapadaViolencia2015_
release09112015.docx>. Acesso em 14 jan. 2017.
Geledés. Seis mulheres indígenas que vale a pena
seguir nas redes. Disponível em: <http://www.
geledes.org.br/seis-mulheres-indigenas-que-vale-
pena-seguir-nas-redes/#gs.null>. Acesso em: 13 out.
2016.
GOLA, Eliana. A Jóia - História e Design. São
Paulo: Editora Senac, 2008
HAHNER, June. E. Emancipação do sexo feminino
- A luta pelos direitos das mulheres no Brasil 1850 -
1940. Florianópolis: Editora Mulheres, 2003.
Instituto Maria da Penha. Disponível em: <http://
www.institutomariadapenha.org.br/2016/>. Acesso
em: 17 out. 2016.
Instituto Socioambiental. Sonia Guajajara: "A gente
enfrenta o preconceito duas vezes, por ser indígena e
62
por ser mulher.". Acesso em 18 out. 2016.
LEITE, Lettícia. Cassandra Rios: a Safo de
Perdizes – Entrevista com Hanna Korich. Disponível
em: <http://blogueirasfeministas.com/2014/04/
cassandra-rios-a-safo-de-perdizes-entrevista-com-
hanna-korich/>. Acesso em: 17 out. 2016.
LUCON, Neto. Conheça Brenda Lee: o anjo da
guarda das travestis e transexuais sem abrigo e
soropositivos. Disponível em: <http://www.nlucon.
com/2013/11/conheca-brenda-lee-o-anjo-da-
guarda-das.html>. Acesso em: 17 out. 2016.
MAGTAZ, Mariana. Joalheria Brasileira - Do
descobrimento ao século XX. Editora Mariana
Magtaz, 2008.
MENDONÇA, Renata. Violência doméstica: 5
obstáculos que mulheres enfrentam para denunciar.
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violencia_mulher_rm>. Acesso em: 07 fev. 2017.
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entre o adorno e o corpo. Dissertação de Mestrado
em Design da Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita”. Bauru, 2016.
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objeto em diálogo com o corpo e com a moda. CIPED
- VI Congresso Internacional de Pesquisa em
Design. São Paulo, 2011.
PAIVA, M. R. Literatura de Cassandra Rios educou
uma geração. Disponível em: <http://www1.folha.
uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u22181.shtml>.
Acesso em: 17 out. 2016.
PIOVEZAN, Adriane. Sou uma lésbica!. Disponível
em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/
leituras/sou-uma-lesbica>. Acesso em: 17 out. 2016.
SANTOS, Minnie. Negras notáveis - Aqualtune.
Disponível em: <http://blogueirasnegras.
org/2013/05/28/negras-notaveis-aqualtune-2/>.
Acesso em: 10 out. 2016.
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joalheria e a tendência da joia contemporânea
63
Brasileira. Dissertação de Mestrado em Estética e
História da Arte. Universidade de São Paulo. São
Paulo, 2012.
SOUZA, Ana Paula. Brenda Lee: o anjo da
guarda dos travestis. Disponível em: <http://www.
siteladom.com.br/brenda-lee-o-anjo-da-guarda-dos-
travestis/>. Acesso em: 17 out. 2016.
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feminismo no Brasil. Editora Brasiliense, 1993.
VIERIA, Kayra Maria Almeida. Cassandra Rios:
entre a vida que continua pulsando e a morte
anunciada. <http://periodicos.ufpb.br/index.php/
srh/article/view/305>. Acesso em 17 out. 2016.
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Empoderar

  • 2. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Projeto de conclusão de curso - DESIGN Habilitação em Design de Produto Bauru - São Paulo | 2017 Jéssica Fateiga Câmara Orientação de Profa. Dra. Mônica Moura
  • 3. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço aos meus pais, por todo o apoio em todos esses anos de vida. Se não fosse por eles hoje eu não estaria aqui. Agradeço a minha orientadora Profa. Dra. Mônica Moura, por ter sido mais que uma professora, por ter me ajudado desde o primeiro ano da faculdade e por ter acreditado no meu trabalho. Agradeço ao Gabriel Pontual, que me ajudou a ficar bem quando eu achei que não fosse possível, por ter acreditado em mim em todos esses anos. Agradeço aos meus amigos de UNESP, Ani, Marina, Isis, Minei, Gabi, Iza, Marlon, Aaron, Gui, Zá e tantos outros que passaram pela minha vida. Todos vocês me fizeram e me fazem muito bem e feliz, não tenho palavras suficientes para agradecer. Agradeço todos que por gostar do projeto doaram um pouco de seus trabalhos, Colosio, Fernanda, Izabela, Daniela e Isis, muito obrigada! Vocês me deram motivação para que eu terminasse esse trabalho. Agradeço ao pessoal que estava sempre na Oficina de Madeira e no Laboratório de Design Contemporâneo, vocês também me ajudaram muito para que eu chegasse nesse resultado. Agradeço as mulheres presentes em minha banca, Miriam Mirna Korolkovas, por ser essa pessoa tão contagiante que me inspirou no mundo das joias. E a Profa. Dra. Ana Beatriz Andrade que depois de tanto tempo como professora, aceitou também fazer parte da banca.
  • 4. SUMÁRIO Resumo | Abstract Introdução Breve histórico do adorno e da joia no Brasil A joia contemporânea no Brasil O movimento feminista no Brasil O projeto Inspirações A Princesa Guerreira A Militante Transexual A Escritora Censurada Símbolo da Força Feminina A Líder Indígena Desenvolvimento do projeto Sketches Materiais Produção das Peças Peças Finais Catálogo Considerações finais Bibliografia 05 07 08 12 15 17 18 20 22 24 26 28 30 35 36 38 44 58 61
  • 5. resumo Este trabalho apresenta a criação de uma coleção de joias contemporâneas e adornos que trazem a lembrança de grandes mulheres e suas histórias pessoais de lutas e significantes contribuições para o nosso dia a dia, de forma a não esquecermos o passado e sim de usarmos ele como motivador para nossas lutas pessoais. A coleção Empoderar é inspirada nas seguintes mulheres: Aqualtune, Brenda Lee, Cassandra Rios, Sonia Guajajara e Maria da Penha, produzidos em madeira reaproveitada, retalhos de tecidos, fios e arames. Palavras chave: joias, feminismo, contemporâneo, design abstract The present work presents the creation of a collection of contemporary jewels and adornments that celebrate the memory of great women and their personal stories of struggles and significant contributions to our day by day, so as not to forget the past, but to use it as a motivator to our personal fights. The Empoderar collection is inspired by the following women: Aqualtune, Brenda Lee, Cassandra Rios, Sonia Guajajara and Maria da Penha, made from re-used wood, fabrics, yarns and wires. 5 Keywords: jewelry, feminism, contemporary, design
  • 6. Se a joalheria tradicional aspira à eternidade, passando por gerações, a joalheria contemporânea é obstinadamente ancorada no presente, como uma criação ligada ao 19 “aqui e agora” do seu criador. [...] joia contemporânea, um termo que representa um balanço perfeito entre inovação, linguagem pessoal e o reconhecimento por estabelecidos circuitos de galerias, museus e colecionadores. 1. 2. 3. 1. Brinco concha. Corda de polietileno oca, pérola, pino e tarracha de prata. Por Mana Bernades, 2008 2. Tiara penteado. Corda de polietileno dersamada e desfiada, pérolas, fio de silicone e pequenas uvas de plástico. Por Mana Bernades, 2008. 3. Colar Liana. Madeira, ouro 750 e folha AU 1000. Por Miriam Mirna Korolkovas. 6 (MERCALDI, 2016, p.19)
  • 7. introdução Desde povos muito antigos a joia se encontra presente e se transforma com o passar do tempo, mudando junto com a sua sociedade e seus pensamentos, a joia contemporânea, assunto que será abordado mais adiante, desprende-se do valor material e financeiro indo de encontro a valoriação das questões políticas , simbólicas, emocionais, subjetivas, culturais e da experimentação, da autoria onde a criação e o processo projetual ganham maior valor. Este trabalho envolve estas questões e, também, toma como referência o feminismo interseccional, um movimento de mulheres que promove a igualdade de gêneros e faz recortes nas lutas específicas de certos grupos, como por exemplo, as mulheres negras, indígenas ou LGBT. A relação entre a pesquisa e o processo criativo que levou ao desenvolvimento projetual resultou na coleção Empoderar. No processo de desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso na área de Design, escolhi como referência e inspiração em mulheres brasileiras que representassem esses grupos, para que suas lutas sejam disseminadas e sirvam como exemplos de motivação e força para a jovem geração de mulheres, bem como a todas as mulheres brasileiras em suas lutas pela vida, pelo poder, pela valorização pessoal, pela autoestima, pelo amor próprio e respeito a si mesma criando uma corrente de empoderamento de mulheres para mulheres. 7
  • 8. breve histórico do adorno e da joia no brasil O adorno pessoal esteve sempre presente em todas as eras e civilizações, tendo sido registrada desde o período paleolítico, ou seja, o adorno corporal expresso pela joalheria, entre outras formas, nos acompanha há muito tempo. No Brasil, os povos indígenas são um grande exemplo da utilização dos adornos no corpo, que geralmente eram símbolos religiosos, sociais e de liderança. Segundo Skoda (2012, p. 141) e Gola (2008, p. 78) os índios para se adornar usavam materiais encontrados na natureza, tais como penas, sementes, conchas, entre outros. O símbolo de um cocar de penas pode ser comparado ao de uma coroa imperial de ouro e seu valor definido conforme a raridade das penas do pássaro naquela região. A joalheria foi impulsionada pela descoberta e exploração das minas pelos portugueses que utilizavam os escravos inicialmente para as extrações de ouro e depois com as pedras preciosas. Assim o Brasil se tornou conhecido pelas suas joias barrocas em ouro, trazendo ourives para trabalhar aqui no país em oficinas usando a ajuda de escravos para a confecção. As joias da época mostravam o status de quem usava para a sociedade, e o principal motivo decorativo do estilo barroco era a natureza. 4. 5. 6. 4. Leque, arte plumária Karajá. Fonte: http://indigenasbrasileiros.blogspot.com.br/2016/02/arte-plumaria-indigena-no-brasil.html 5. Brincos, arte plumária Karajá. Fonte: http://indigenasbrasileiros.blogspot.com.br/2016/02/arte-plumaria-indigena-no-brasil.html 6. Colar Liana. Madeira, ouro 750 e folha AU 1000. Por Miriam Mirna Korolkovas. 8
  • 9. Nos séculos XVII e XVIII, Portugal estava deslumbrado pela visão de prosperidade diante das minas de ouro e de diamantes. As mulheres ibéricas passaram a usar colares, corações, placas, anéis e todas as formas de joias pessoais em ouro. Essa pequena fortuna ambulante poderia constituir o dote da menina casadoura e a reserva da mulher casada, ou fazer frente diante de um golpe imprevisto da vida, numa ocasião de desequilíbrio financeiro. [...] O Brasil Barroco era o maior centro mundial de produção de ouro na primeira metade do século XVIII. (SKODA, 2012, p. 143) 7. 7. Relicário pingente em ouro so século XVII. Fonte: http://arlloufill.com/pages/ourivesaria-luso-brasileira-do-seculo-xviii 9
  • 10. As mulheres negras vindas para o Brasil também também exerceram sua influência nas joias da época, já que formou-se uma mistura de religiões trazidas do continente africano e nos seus rituais era comum o uso de joias, muitas vezes semipreciosas, como por exemplo o balangandã, que é composto por diversos pingentes, como saquinhos de couro, dentes de animais, figas, bolas de louça e crucifixos. Durante a independência do Brasil, as joias também refletiram esse momento político, e tornou-se moda usar peças com cores e símbolos da nova pátria e com os materiais que a terra fornecia e com inspiração na natureza local. Durante o período da Revolução Industrial foram criados novos métodos de confecção, para que joias se tornassem mais baratas e fossem produzidas em maior quantidade. Nisso se dividiu o mercado e o luxo ficou sendo a produção artesanal, peças únicas. O Brasil desde então seguiu os estilos internacionais, até chegar em meados de 1960, quando alguns artistas resolveram que era hora de quebrar esse padrão e criar uma joalheria tipicamente brasileira. Dentre eles destacam-se Pedro Correia de Araújo (1930-), precursor da joia moderna no Brasil, juntando inspirações do romantismo barroco da sua cidade de origem, Recife, com seus estudos de racionalismo formal na Dinamarca e Suíça, e Clementina Duarte (1941-), que apesar de sua formação em arquitetura, também estudou artes e criou algumas peças esculturas de cunho modernista, trazendo o diálogo entre arte e design. Suas peças já foram usadas em desfiles por Pierre Cardin, Hervé Leger e Oscar de la Renta. 8. Colar escultural em ouro 18k, por Clementina Duarte. 9. Pulseira Clouds em ouro 18k, diamantes e águas marinhas, por Clementina Duarte. 8. 9. 10
  • 11. A joalheria no Pós-Modernismo deixou de pertencer apenas às classes altas do Brasil, passa-se a produzir joias para qualquer que fosse o poder aquisitivo e gosto pessoal. Destacam-se dois tipos principais de design para joias; aquele que reflete a moda, joias apenas pela estética, e aquele outro que traz uma relação maior com o consumidor, trazendo valores universais. Neste momento pós-modernista do país, as bijuterias e joias de imitação ganharam grande destaque, criando um imenso novo mercado e incentivando o uso de novas pedras, metais e materiais pouco usuais na confecção. A partir daí o design rumou para o contemporâneo, no qual temos uma busca constante de novas estéticas, modelos de produção e materiais. Hoje temos fatores diferentes que são levados em conta na hora de se adquirir uma joia, como por exemplo, os aspectos ecológicos. Como disse Skoda (2012, p. 189) neste contexto, o Brasil tem aproveitado seus ricos recursos naturais, fonte de matéria prima para a joalheria. Desenvolvendo peças com muita criatividade, a joalheria internacional tem se rendido aos seus encantos e o mercado interno lentamente passou a valorizar a importância do design e do designer. A joalheria, a moda, a escultura e a arte performática estão em constante expansão e os preconceitos quanto à utilização de materiais e técnicas não convencionais estão se diluindo, procurando-se aliar criatividade e inovação ao design, usando novas tecnologias e bons preços. (SKODA, 2012, p. 176 - 1773) 10. Bracelete Terra, primeiro lugar Concurso Pérolas do Tahiti - BR 2005. Imbuia, pérola do tahiti, topázio imperial, ouro 18k. Por Bettina Terepins. 10. 11
  • 12. a joia contemporânea no brasil Primeiramente precisamos definir o que é a joia contemporânea, não se sabe ao certo quando se deu seu surgimento, mas sabe-se que esta joia rompe com todos os padrões até então da joalheria. A joia contemporânea não está presa a um conjunto de coisas, como por exemplo, colares e brincos, ela é também objeto de arte, moda e design. Os materiais também não ficam presos a preciosidade, há aqui um estudo de novos materiais até então jamais imaginados para a confecção de joias e como símbolo, a joalheria contemporânea traz principalmente questionamentos a respeito da sociedade em que está inserida, inclusive não sendo necessária a real utilização da joia. Ela pode ser feita apenas como objeto de escultura, para apreciação. Existem poucos estudos a respeito da joalheria contemporânea brasileira, mas podemos citar alguns joalheiros conhecidos atualmente, como por exemplo, Miriam Mirna Korolkovas, Mana Bernades, Bettina Terapins e Alice Ursini. 11. 12. 11. Porco Espinho. Colares "do Pará". Exposição 3º Prêmio Objeto Brasileiro, realizada no período de 17 de outubro de 2012 a 19 de janeiro de 2013, em A CASA museu do objeto brasileiro. Por Miriam Andraus Pappalardo. 12. Cipó. Colares "do Pará". Exposição 3º Prêmio Objeto Brasileiro, realizada no período de 17 de outubro de 2012 a 19 de janeiro de 2013, em A CASA museu do objeto brasileiro. Por Miriam Andraus Pappalardo. 12
  • 13. A joia contemporânea compreende objetos que são trabalhados com arte, no sentido de explorar as potencialidades da criação e expressão. No processo e no resultado desses objetos ou produtos ocorre a convivência de materiais preciosos ou não preciosos de diferentes naturezas (metais, pedras e outros não convencionais). Esses materiais podem ser empregados em conjunto ou separadamente. (MOURA, 2011, p. 02) 13. 13. Brinco Frevo. Ouro 750 e Nióbio. Por Miriam Mirna Korolkovas 13
  • 14. O feminismo é uma filosofia universal que considera a existência de uma opressão específica a todas as mulheres. Essa opressão se manifesta tanto a nível das estruturas como das superestruturas (ideologia, cultura e política). Assume formas diversas conforme as classes e as camadas sociais, nos diferentes grupos étnicos e culturas. (TELES, 1993, p. 10) 14
  • 15. o feminismo no brasil O feminismo no Brasil começou a aparecer em meados do século XIX, época em que as mulheres sequer eram vistas como cidadãs, participar da vida política era visto como algo desonroso para as mulheres. Nesse período, em meio a urbanização e industrialização, surge o movimento sufragista nos países europeus e com o tempo passou a fazer parte da realidade brasileira. Em 1932 foi alcançado o objetivo, as mulheres conquistaram o direito ao voto sob as mesmas exigências do masculino: ser alfabetizado. Assim podemos concluir que foi um movimento de forte aspecto feminista, mas com um componente de classe bastante característico, favorecendo aquelas membras de uma elite branca, sendo ignoradas as mulheres negras, indígenas e pobres ainda por muitos anos. Com o regime ditatorial outorgado a partir de 1964, o movimento feminista perdeu sua força por um tempo, sendo retomado na criação do Movimento Feminino pela Anistia em 1975, ano que foi considerado como Ano Internacional da Mulher. De lá para cá há grandes conquistas feministas a se considerar como por exemplo a lei do divórcio e o acesso a métodos contraceptivos e saúde preventiva, mas ainda hoje a fila de questões pelas quais as mulheres lutam é significativa. A Lei Maria da Penha, que preza pela segurança da mulher vítima de violência doméstica no Brasil, surge apenas no ano de 2006. Um dispositivo legal valioso na luta contra a violência contra a mulher, mas não bastante diante das ameaças constantemente sofridas pelas mulheres. Inclusive há muitos relatos de ineficiência e de funcionários não capacitados nas DDMs (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), fazendo com que muitas desistam do processo ou de até mesmo chegar a denunciar o agressor. Mesmo em 2015, quase dez anos após a lei Maria da Penha, no país havia apenas 368 delegacias da mulher para servir 5,5 mil municípios e estas não abrem aos finais de semana e períodos noturnos, quando geralmente ocorrem as agressões. Nos últimos anos a internet facilitou muito o acesso à informação e disseminação da luta feminista, atualmente existem várias vertentes e já é possível ter uma luta mais abrangente e includente devido aos vários recortes sociais dentro do próprio movimento. Isto surge com o conhecimento do fato de que a luta, por exemplo, de uma mulher negra não é a mesma que a de uma mulher branca, já que essa última possui mais privilégios na sociedade, muito embora a base do movimento e suas preocupações sejam as mesmas. 15
  • 16. FEMINISMO: Movimento articulado na Europa, no século XIX, com o intuito de conquistar a equiparação dos direitos sociais e políticos de ambos os sexos, por considerar que as mulheres são intrinsecamente iguais aos homens e devem ter acesso irrestrito às mesmas oportunidades destes. (O movimento pressupunha, já de início, uma condição fundamental de desigualdade, tanto em termos de dominação masculina, ou patriarcado, quanto de desigualdade de gênero e dos efeitos sociais decorrentes da diferença sexual.) (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa - Michaelis Online) 16
  • 17. conceito do projeto 17 Quando se fala em feminismo nos perguntamos como é que podemos incluí-lo no dia-a-dia, nos nossos projetos, conversas, hobbies. E é papel de uma estudante e quase profissional formada em design relacionar questões importantes relacionadas a sociedade com o desenvolvimento de suas pesquisas, trabalhos e criações. Nesse sentido relacionei a preocupação e a necessidade de maior valorização e empoderamento das mulheres não apenas por toda a sociedade, mas também por elas mesmas em seu papel de agentes sociais. A partir destas questões é que foi desenvolvida a coleção Empoderar. A coleção tem como principal objetivo, como o próprio nome já diz, empoderar as mulheres que usarem, falarem, pesquisarem sobre as joias e a maneira a que se propõe alcançar esse resultado é pelo fato da coleção ser inspirada em cinco mulheres atuantes e referências em alguns recortes do movimento feminista interseccional. Ou seja, por trás de cada peça há uma história e ela é contada ao adquirir a peça. As mulheres que deram vida à essa coleção são Aqualtune, Sonia Guajajara, Brenda Lee, Cassandra Rios e Maria da Penha, que serão apresentadas abaixo. EMPODERAR: Investir(-se) de poder, a fim de promover ações que possam provocar mudanças positivas no grupo social. (Fonte: Dicionário Michaelis Online) SINÔNIMOS DE EMPODERAR: Dar poder, autoridade, autonomia e afirmação: dar poder, investir de poder, conceder poder, dar autoridade, investir de autoridade, conceder autoridade, dar autonomia, investir de autonomia, conceder autonomia, habilitar, desenvolver capacidades, promover afirmação, promover influência. (Fonte: sinonimos.com.br)
  • 18. a princesa guerreira Aqualtune foi, segundo a história, princesa do Congo e a única data que temos notícia é por volta do ano de 1665, quando liderou cerca de 10 mil guerreiros congoleses, no que ficou conhecido como a “Batalha de Mbwila”. Mas Aqualtune perdeu esse combate, e como consequência seu pai foi morto e ela presa e vendida como escrava. Antes de vir ao Brasil ela foi catequizada e como prova do batismo, marcaram uma flor com ferro quente acima de seu seio esquerdo. Já no Brasil foi vendida como escrava reprodutora mesmo estando grávida. Durante seu sexto mês de gestação tomou conhecimento do quilombo de Palmares e resolveu fugir junto com outros escravos, chegou lá acompanhada de mais 200 e muitos sabiam de sua origem, fato que a tornou líder do Reino dos Palmares. Ali, Aqualtune deu a luz a três filhos conhecidos, Ganga Zumba, Ganga Zona e Sabina, mãe de Zumbi. O final da vida de Aqualtune é nebuloso, alguns dizem que ela morreu de doenças da velhice, outras que ela teria morrido num incêndio provocado na vila em que vivia. 14. 14. Ilustração de Daniela Brüno Zagnoli 18
  • 19. 15. 16 17. 18. 19. 20. 15. Sem descrição. Fonte: p. 39, “Au Congo, comment les noirs travaillent”, 1895. 16. Jovem Manja no traje de Festival Samali. Aquarela por E. M. Heims. Fonte: p. 8 de "From the Congo to the Niger and the Nile : an account of The German Central African expedition of 1910-1911" 17. Amuletos e colheres, desenhos de M. Glave. Fonte: p. 144, “Sur le Haut- Congo”, 1888. 18. Sem descrição. Fonte: p. 102, “Au Congo, comment les noirs travaillent”, 1895. 19. Colar de metal de mulher da tribo Bambuba. Algumas mulheres poderiam ser vistas usando vários colares de tamanhos diferentes. Fonte: “Tramps round the Mountains of the Moon and through the back gate of the Congo State”, 1908. 20. Cinto, possivelmente por volta de 1900, África Central, República Democrática do Congo, povo Kuba. Produzido em cordão, couro, contas de vidro, conchas. Cleveland Museum of Art. 19
  • 20. a militante transexual Brenda Lee foi uma mulher transexual, militante dos direitos LGBT. Nascida em Pernambuco (1948 - 1996), inicialmente adotou o nome de Caetana e aos 14 anos se mudou para o bairro do Bixiga, em São Paulo, adotando ali o nome de Brenda Lee e para sobreviver teve que trabalhar como prostituta na cidade. Com o dinheiro ganho comprou uma casa no mesmo bairro e foi ali que recebeu o primeiro portador de HIV. Ela tinha a intenção inicial de abrir uma pensão, mas vendo a situação da época, abriu as portas para pessoas portadoras de HIV que haviam sido rejeitadas pela família e não tinham estrutura para lidar com a doença. Lembrando que nessa época a informação a respeito da doença ainda era escassa. Assim surgiu a Casa de Apoio Brenda Lee, com o objetivo de dar assistência médica, social, moral e material para essas pessoas que eram marginalizadas pela sociedade e por seus meios familiares. O trabalho para manter a casa não foi fácil, ela era mantida fundamentalmente por doações e convênios com hospitais. Apesar das dificuldades, a Casa de Apoio Brenda Lee tornou-se referência no apoio a pessoas soropositivas. A trajetória de Brenda Lee teve fim em 1996, quando foi brutalmente assassinada. No entanto, mesmo com a sua morte, amigos e moradores do bairro deram continuidade ao projeto, que em 2003 recebeu o prêmio Internacional pela Fundação Bill & Melinda Gates em reconhecimento à resposta brasileira ao combate e prevenção do HIV/AIDS e em 2008 foi instituído o Prêmio Brenda Lee, concedido quinquenalmente para sete categorias em ocasião do Dia Mundial de Combate a AIDS. Por todo seu trabalho e história Brenda Lee ficou conhecida como “anjo da guarda das travestis”. Hoje a casa se encontra em reforma para melhor atender aos pacientes. 21. 21. Ilustração de Daniela Brüno Zagnoli 20
  • 21. 22. Brenda Lee e uma foto de sua adolescência. Fonte: http://www.nlucon.com/2013/11/conheca-brenda-lee-o-anjo-da-guarda- das.html 23. Brenda Lee e o ator Lúcio Mauro. Fonte: http://www.nlucon.com/2013/11/conheca-brenda-lee-o-anjo-da-guarda-das.html 24. Fachada da Casa de Apoio Brenda Lee. Fonte: http://dudunaweb.blogspot.com.br/2012_07_01_archive.html 25. Símbolo trans. Fonte: http://www.jornaljr.com.br/2015/03/30/o-mundo-trans-finalmente-visivel-por-outros-olhos/ 26. Bandeira da comunidade trans. Fonte: http://www.nonada.com.br/2016/01/coluna-gemis-visibilidade-trans-um-dia-de-luta- e-combate-a-transfobia/ 22. 24. 25. 23. 26. 21
  • 22. a escritora censurada Cassandra Rios (1932 - 2002) é o pseudônimo de Odete Rios, nascida em São Paulo, foi uma das mais polêmicas escritoras brasileiras e a primeira mulher a vender um milhão de exemplares no país, além de ser também a mais censurada. Cassandra era uma mulher lésbica e escrevia sobre o universo feminino e erotismo, por vezes considerado como pornográfico, principalmente durante o auge da ditadura militar no Brasil, quando teve 36 de seus livros censurados e diversos processos. Ainda assim vendeu milhares de exemplares. De acordo com Hannah Korich, diretora do documentário brasileiro “Cassandra Rios, a safo de Perdizes”, ela teve essa aceitação do público por conta do seu estilo ousado e criativo, era uma mulher escrevendo sobre o prazer com outra mulher, apresentava um novo caminho para a vida afetiva e amorosa, numa época em que não existia nem a sigla LGBT e nem organizações de homossexuais. A sociedade era extremamente patriarcal e o único papel da mulher nele era a maternidade. 27. 27. Ilustração de Daniela Brüno Zagnoli 22
  • 23. 28. Triângulo preto invertido usado como símbolo do movimento lésbico. 29. Capa do ivro "Tessa, a gata" de Cassandra Rios. 30. Interligação feminina usada como símbolo do movimento lésbico. 31. Anel erótico de Betony Vernon. Produzido com penas de ganso. (Fonte: http://pinupepper.blogspot.com.br/2015/01/ja-ouviu-falar-em-joias- eroticas.html 32. Labrys usada como símbolo do movimento lésbico. 33. Joias eróticas de Carol Teixeira. Fonte: http://www.vilamulher.com.br/sexo/linha-de-joias-eroticas-para-dar-de-presente-m1214-694717.html 34. Colagem "A pessoas estão incomodadas com a sexualidade que não é para o consumo marsculino". Fonte: http://wine-loving-vagabond.tumblr. com/post/54011460658 35. Capa do livro "Um escorpião na balança" de Cassandra Rios. 36. Capa do livro "Carne em delírio" de Cassandra Rios. 28. 29. 34. 35. 30. 31. 32. 33. 36. 23
  • 24. símbolo da força feminina Maria da Penha, (1945 - ), é um símbolo recente da luta sobre a violência contra a mulher. Casou-se com um homem com quem o casamento transcorreu normalmente até o nascimento da sua segunda filha, quando ele começa a apresentar comportamentos agressivos. Em 1983 Maria da Penha acordou com um tiro. Seu marido a havia baleado nas costas. De início o marido disse que o tiro foi resultado de um assalto na casa, fato que seria descoberto como inverídico meses depois. Ela passou meses no hospital por conta do tiro e ficou em uma cadeira de rodas. Após voltar para casa, sofreu outra tentativa de homicídio quando o marido tentou, sem sucesso, eletrocutá-la durante o banho. Após esses episódios, Maria da Penha conseguiu proteção judicial para sair de casa sem que isso significasse abandono do lar ou perda da guarda de suas três filhas. Ela então começou sua batalha na justiça. A primeira condenação de Viveros veio somente 8 anos após o crime, em 1991, mas ele conseguiu a liberdade. Inconformada, Penha escreveu sua história no livro “Sobrevivi...posso contar” (1994) e por meio do livro conseguiu que em 2001 a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OAE) condenasse o Brasil por negligência, omissão e tolerância em relação a violência doméstica contra as mulheres. Esse foi o primeiro passo para que em 2006, o presidente Lula sancionasse a lei 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, que cria meios para coibir a violência familiar contra a mulher e prisão preventiva decretada para os agressores, além de aumentar a pena máxima de um para três anos de detenção e acabar com o pagamento de cestas básicas como pena. O caso foi incluído pela ONU mulheres entre os dez que foram capazes de mudar a vida das mulheres no mundo. Maria da Penha hoje ainda continua na luta, para que cada vez mais a lei funcione melhor em todos os lugares do país e que as pessoas se conscientizem da causa. 38. 38. Ilustração de Daniela Brüno Zagnoli 24
  • 25. 39. Pintura de Peter Pauls Rubens, 1620. Fonte: https://pvmarques.wordpress.com/2012/11/15/ joana-darc-herege-salvadora/ 40. Campanha do serviço 180. Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/ enem/2016/08/05/noticia-especial-enem,791342/10-anos-da-lei-maria-da-penha.shtml 41. Campanha do serviço 180 para denúncias de agressão. Fonte: http://www. compromissoeatitude.org.br/campanha-eu-ligo-180-sera-lancada-no-congresso-procuradoria- da-mulher-do-senado-02062014/ 42. Fonte: http://delas.ig.com.br/comportamento/2016-08-05/violencia-contra-a-mulher.html 43. Campanha contra agressão. Fonte: http://ceudeborboletas.com.br/mudancas-na-lei-maria- da-penha/ 39. 42. 43.41. 40. 25
  • 26. a líder indígena Sônia Bone Guajajara é uma líder indígena, nascida do povo Guajajara do estado do Maranhão em 1974. Atualmente é coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Além de ter recebido em 2015 a Ordem do Mérito Cultural e ser formada em Letras e Enfermagem. Ela é uma das principais vozes do movimento indígena nacional, e já o representou em diversos eventos internacionais. Sônia tem sido inspiração para os povos e principalmente para as mulheres indígenas. Segundo a ONU Mulheres, as indígenas são fundamentais em diversas economias, trabalhando por segurança e soberania alimentar, além do bem-estar das famílias e comunidades. Infelizmente fazem parte de um grupo que pouco ouvimos falar inclusive dentro do feminismo, pois além do cotidiano indígena estar longe da maioria, ainda é um grupo que sofre com enormes desrespeitos de etnia e que infelizmente ainda precisam lutar pelo direito a terras e territórios a que lhes pertenciam antes do início das colonizações. 44. 44. Ilustração de Daniela Brüno Zagnoli 26
  • 27. 45. Criança Guajajara Foto de Júnior Reis. 46. Índios Guajajara Foto de Júnior Reis. 47. Fruta Canapu. Fonte: http://revistaestilobb.com.br/gastronomia/frutas-exoticas/ 48. Índios Guajajara. Fonte: http://guiaviajarmelhor.com.br/as-maiores-tribos- indigenas-brasileiras/ 49. Pintura em mulher Guajajara. Fonte: http://guajajaradonosdococar.blogspot.com. br/2012_05_01_archive.html 50. Artesanato Guajajara. Fonte: http://guajajaradonosdococar.blogspot.com. br/2012_05_01_archive.html 51. Índios realizam ato na Avenida Paulista para marcar os 20 anos do Dia Intenacional dos Povos Indígenas. Fonte: http://noticias.band.uol.com.br/cidades/ noticia/100000766534/indios-realizam-ato-na-avenida-paulista.html 52. Criança Guajajara Foto de Júnior Reis. 53. Modelo indígena Zahy Guajajara. Fonte: http://www.barradocorda.com/noticias- barra/indigena-zahy-guajajara-estara-nas-telinhas-da-globo-ainda-neste-ano- conheca-seu-trabalho/comment-page-1/ 52.46. 48. 53. 47. 45. 50. 49. 51. 27
  • 29. O desenvolvimento do projeto aconteceu em duas cidades; Maringá e Bauru. Por uma questão de indisponibilidade e limitação de recursos produtivos locais em Maringá, a primeira solução foi desenhar as peças pensando em corte a laser no acrílico, serviço possível de ser encomendado e mais presente na maioria dos centros urbanos. Conforme a pesquisa sobre a joia contemporânea se desenvolveu, chegou-se a conclusão que o material deveria ser menos usual ou que fosse algum material reaproveitado, tais como descartes e refugos de produções de construção e marcenaria. Assim nasceu a ideia de fazer as peças em madeira de demolição, uma vez que a maioria das joias seriam relativamente pequenas e então não seriam necessárias grandes chapas de material virgem ou novos cortes de tecidos, uma vez que a disponibilidade de retalhos de tecido vindo de fábricas de roupas existentes na região de Maringá é ampla. Com os materiais definidos, a coleção foi redesenhada e o desenvolvimento deu início em Bauru na oficina de madeiras da UNESP. Em conjunto com a orientadora Mônica Moura, chegamos a conclusão que deveriam ser escolhidos alguns tipos específicos de joias para integrar toda a coleção, e assim foram definidos 5 colares e 5 braceletes, por serem peças maiores que poderiam passar mais a mensagem de cada uma das mulheres que foram inspiração. 29 desenvolvimento do projeto
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  • 35. materiais Na joalheria contemporânea, entretanto, considera como fator decisivo para agregar valor o projeto do adorno, seu estudo por trás do desenho, os materiais empregados e seu significado. Na esteira deste conceito de produção de joias, aliado ao estudo de referências da luta feminista brasileira, optou-se por utilizar em sua maioria produtos que são descartados na confecção de outros objetos como mesas, portas e roupas. A base principal das joias são madeiras de descarte diversas, um item que geralmente produz muitas sobras pequenas em marcenarias e construções e que dificilmente são aproveitadas em projetos futuros, trazendo assim uma segunda vida para o material que já foi retirado da natureza, minimizando o consumo deste recurso. Para o acabamento e detalhes foi utilizado cordão preto comprado em armarinhos, tinta branca e preta fosca, stain impregnante nas áreas de madeira crua para destacar sua cor e seus veios, cera de carnaúba nas áreas onde o stain foi aplicado, retalhos de tecidos vendidos por uma fábrica de confecção de roupas e chapas de metal para unir e segurar os cordões. 35
  • 36. Produção das peças Finalizados os sketches, percebeu-se que seria mais interessante produzi-las de modo artesanal para trazer a ideia de uma joalheria contemporânea e única, produzida a mão por uma mulher, tornando-as mais pessoais. Mesmo as máquinas empregadas na produção das peças foram limitadas àquelas que necessitem de uma habilidade manual da pessoa que a maneja e que não conferissem às peças um aspecto de precisão industrial, foram máquinas encontradas na oficina de madeira da Unesp Bauru como por exemplo a serra de fita, lixadeira circular, furadeira de bancada e mini retifica. Cada peça é única, mesmo que outras sejam feitas com o mesmo desenho, cada uma trará detalhes próprios, desde o tipo de madeira, até recortes e acabamentos. Sabendo que diversos tipos de madeiras com as quais nunca havia trabalhado seriam utilizadas e que o material base não tinha uniformidade em dimensões e características, ao terminar os desenhos das peças defini que o dimensionamento, assim como acabamentos e espessuras, estaria em “aberto”, ou seja, seriam definidas ao longo do processo artesanal de produção, à medida que o material requeresse ou determinasse, já que o material de origem não tinha tamanhos ou características uniformes, sendo necessário adaptar constantemente o projeto (mas não proposta) ao insumo. Com as peças recortadas se tornou possível escolher melhor quais áreas e cores seriam pintadas para um melhor acabamento visual e logo após deu- se início à montagem, realizada no Laboratório de Design Contemporâneo da UNESP, na qual também alterei alguns detalhes nas peças e defini o tipo de cordão e tecidos a serem utilizados. 36
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  • 39. aqualtune Colar com inspiração nas pétalas de Lírios típicos da região do Congo, de onde veio Aqualtune e bracelete com formas geométricas básicas presentes nos motivos artesanais das tribos africanas. O bracelete pode ser usado também como colar, gargantilha e headband. 39
  • 40. brenda lee O colar apoia-se no pescoço e tem pendentes apoiados nas costas, trazendo a ideia de asas, fazendo referência a lembrança de Brenda como o Anjo da Guarda das travestis, já o bracelete brinca com os símbolos de masculino e feminino, fazendo referência a transsexualidade. 40
  • 41. cassandra rios O colar traz em suas formas o erótico e feminino, podendo ser usando de vários modos. A gargantilha sozinha ou com o colar de três madeiras encaixado nela, com ou sem os cordões pendurados ao meio, ou ainda as três madeiras encaixadas no fio simples. O bracelete, no seu contorno, traz frases eróticas presentes nos livros de Cassandra. 41
  • 42. maria da penha O maxicolar com as aplicações de madeiras na frente remete a ideia de armadura, segurança. O bracelete, por sua vez, remete a ideia de espinhos. Criando então a sensação tanto de força quanto de segurança. 42
  • 43. sônia guajajara O colar Guajajara é longo, sem necessidade de fecho e traz símbolos presentes em pinturas e artesanatos indígenas. O bracelete faz referência a fruta Canapu, presente nas regiões em que habitam os índios Guajajara no estado do Maranhão e que, na crença da tribo, os antepassados se alimentavam dela antes da agricultura ser ensinada para o povo. 43
  • 45. EMPODERAR Investir(-se) de poder, a fim de promover ações que possam provocar mudanças positivas no grupo social. (Fonte: Dicionário Michaelis Online) 45
  • 46. Aqualtune Antiga Princesa do Congo, ao perder uma luta em seu país foi trazida ao Brasil como escrava. Aqui ficou sabendo da existência do quilombo de Palmares e resolveu fugir para lá. Chegou ao quilombo acompanha de mais 200 escravos e, por saberem de sua origem, foi feita líder no Reino dos Palmares. Ali, Aqualtune deu a luz três filhos conhecidos, Ganga Zumba, Ganga Zona e Sabina, mãe de Zumbi. O final da vida de Aqualtune é nebuloso, o fato é que em vida Aqualtune foi exemplo de força feminina e negra. 46
  • 47. 47
  • 48. brenda lee Anjo da Guarda das Travestis, como era chamada, foi uma mulher transexual que viveu São Paulo e que apesar das dificuldades, abriu as portas de sua casa para pessoas portadoras de HIV que haviam sido rejeitadas pela família. Assim surgiu a Casa de Apoio Brenda Lee, com o objetivo de dar assistência médica, social, moral e material para essas pessoas que eram marginalizadas pela sociedade e por seus meios familiares. Brenda, infelizmente, foi assassinada em 1996. Porém amigos e vizinhos se uniram para que a casa continuasse funcionando e sua memória não fosse esquecida. 48
  • 49. 49
  • 50. cassandra rios Pseudônimo de Odete Rios, foi uma das mais polêmicas escritoras brasileiras e a primeira mulher a vender um milhão de exemplares no país, além de ser também a mais censurada. Cassandra era uma mulher lésbica e escrevia sobre o universo feminino e erotismo, por vezes considerado como pornográfico, escrevia sobre o prazer com outra mulher, apresentava um novo caminho para a vida afetiva e amorosa. Durante o auge da ditadura militar no Brasil ela teve 36 de seus livros censurados e diversos processos. 50
  • 51. 51
  • 52. maria da penha Mulher casada, com filhos, uma vida comum até começar a sofrer agressões de seu marido. Ele tentou assassiná-la duas vezes, sem sucesso, apesar de uma delas a ter deixado paraplégica. Maria da Penha teve que lutar muito na justiça para que ele fosse punido, e ainda assim ele passou apenas dois anos preso e foi solto. Inconformada, ela escreveu o livro "Sobrevivi...posso contar" e por meio dele, em 2006, foi sancionada a Lei Maria da Penha, que cria meios para coibir a violência familiar contra a mulher e prisão preventiva decretada para os agressores, além de aumentar a pena máxima de um para três anos de detenção e acabar com o pagamento de cestas básicas como pena. 52
  • 53. 53
  • 54. Sônia Guajajara Líder indígena do povo Guajajara, atualmente é coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Ela é uma das principais vozes do movimento indígena nacional, e já o representou em diversos eventos internacionais. Sônia tem sido inspiração para os povos e principalmente para as mulheres indígenas, que sofrem muitas vezes não só dentro das tribos como fora também, já que muitas pessoas ainda têm preconceitos com os índios. 54
  • 55. 55
  • 56. 56
  • 57. EMPODERAR créditos Peças: Jéssica Fateiga Câmara Fotografia: Fernanda Luz Guilherme Colosio Modelos: Maria Eduarda Castro Izabela Ambiel ilustrações: Daniela Brüno Zagnoli 57
  • 59. considerações finais Minha relação com o estudo e desenvolvimentos de joias começou por acaso durante meu intercâmbio realizado na Itália. Foi no Politécnico de Milão que tive aulas pela primeira vez sobre joalheria e onde me identifiquei com o tema pela primeira vez. Comecei a me interessar cada vez mais pelo ramo e então ao retornar à UNESP decidi que o trabalho de conclusão seria uma coleção de joias. O primeiro entrave se revelou com os custos de tudo relativo ao que se entende por joalheria, uma vez que a concepção mais difundida ainda é pouco contemporânea: metais preciosos e gemas. Desde o produto final até o conhecimento para o desenvolvimento de joias em metais fundidos tem altos custos de material e ferramentaria específica dificilmente encontrada em qualquer lugar. O estudo do significado da joalheria contemporânea permitiu o entendimento de que essa barreira poderia ser superada através do design, que munido de um projeto bem fundamentado e um conceito forte, mesmo sobras de construção e indústrias podem se tornar objetos únicos que contam uma história, de alto valor agregado sem no entanto serem inacessíveis. Que esta linguagem pode ser acessada e consumida por mais mulheres. Todos os outros estudos relacionados neste trabalho vieram sem grandes dificuldades, sempre tive o interesse de tornar o meu trabalho de conclusão de curso algo pessoal, que me representasse como pessoa, e por isso nada foi mais natural do que a união com o feminismo, movimento social que aprendi ano após ano enquanto frequentava a faculdade. O momento de ser mulher na sociedade contemporânea brasileira e mesmo mundial, mostra que a segurança da mulher, a isonomia de direitos em relação aos homens e os direitos sobre seu corpo não estão em plenitude de garantia e que o feminismo é um debate necessário e urgente. Pesquisa da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais a pedido da ONU, em 2015, aponta que dentre 83 pesquisados o Brasil é o quinto país do mundo em violência contra mulheres. Ainda de acordo com esta pesquisa, o salário médio dos homens é 30% maior que o das mulheres. A taxa de feminicídio dobrou de 1980 para 2011, hoje uma mulher é assassinada no Brasil a cada duas horas, em sua maioria por homens com quem tem relações íntimas, fazendo do Brasil o sétimo do mundo em feminicídio. Em 2015 foram registrados mais de 45000 estupros no Brasil, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e que estima-se que esse número corresponda a apenas 10% do total de 59
  • 60. casos reais. Todas estas são questões caras ao feminismo, próprias do debate feito atualmente e com o qual tive contato ao longo de minha vida. Utilizar a joalheria contemporânea, uma estética que na atualidade pertence majoritariamente às mulheres, para lembrar da biografia de mulheres importantes e celebrar suas lutas, se mostrou uma forma sensível de dialogar e promover o empoderamento e um debate essencial ao ser mulher no Brasil contemporâneo. Durante os desenhos e confecção do trabalho, várias características das peças foram alteradas conforme maior estudo conceitual e viabilidade de produção, fazendo inclusive uma ponte entre design e arte já que a criação foi realizada considerando os fatores particulares de cada madeira, cordão, tintas e tecidos disponíveis. O uso da madeira de demolição como parte principal da coleção trouxe não só a ideia de sustentabilidade, mas também uma identidade única que foi destacada com o uso do stain e das tintas foscas, além de agregar valor a outros materiais que não são vistos como nobres, ou como possíveis de serem utilizados em projetos de joalheria, como o cordão, restos de tecidos e a placa de metal, lembrando aqui o conceito aprendido de joalheria contemporânea. Sendo assim, acredito que o resultado final da coleção foi bastante satisfatório, atingindo os objetivos iniciais da criação de joias contemporâneas com o intuito de empoderamento de mulheres. 60
  • 61. Acervo O Globo. Nos anos 70, ninguém foi mais censurado no Brasil do que Cassandra Rios. Disponível em: <http://acervo.oglobo.globo.com/ em-destaque/nos-anos-70-ninguem-foi-mais- censurado-no-brasil-do-que-cassandra-rios- 10425009#ixzz4NM6XlBAu>. Acesso em: 17 out. 2016. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2016. Disponível em: <http://www.forumseguranca.org.br/ storage/10_anuario_site_18-11-2016-retificado.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2017. BENUTTI, M. Antônia; ZUGLIANI, G. Mara. Arte & joia: uma análise entre joias como objeto de arte e arte contemporânea. World Congress on Communication and Arts. São Paulo, 2011. BLUME, Bruno. Tudo sobre a Lei Maria da Penha. Disponível em: <http://www.politize.com.br/lei- maria-da-penha-tudo-sobre/>. Acesso em: 17 out. 2016. CARDOSO, Bia. Dia Internacional da Mulher Indígena. Disponível em: <http:// blogueirasfeministas.com/2013/09/dia- internacional-da-mulher-indigena/>. Acesso em: 13 out. 2016. Casa Brenda Lee. Disponível em: <https://www. casabrendalee.org.br/sobre-nos>. Acesso em: 17 out. 2016. COLAÇO, Rita. Brenda Lee e o seu "Palácio das Princesas". Disponível em: <https://memoriamhb. blogspot.com.br/2009/11/brenda-lee-e-o-seu- bibliografia 61
  • 62. palacio-das.html>. Acesso em: 17 out. 2016. Empoderar. Dicionário de Sinônimos online. Disponível em: <https://www.sinonimos.com.br/ empoderar/>. Acesso em: 04 out. 2016. Empoderar. Michaelis, Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol. com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=empoderar>. Acesso em: 04 out. 2016. FACTUM, A. B. Simon. Joalheria escrava baiana: a construção histórica do design de jóias brasileiro. Tese de Doutorado - Área de Concentração: Design e Arquitetura) - FAUUSP. São Paulo, 2009. FAHS, A. C. S. Movimento Feminista. Disponível em: <http://www.politize.com.br/movimento- feminista-historia-no-brasil/>. Acesso em: 05 out. 2016. Feminismo. Michaelis, Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol. com.br/busca?id=ZBWx>. Acesso em: 04 out. 2016. FLACSO, ONU Mulheres, OPAS/OM e a SPM divulgam novo Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil. Disponível em: < http:// www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/wp- content/uploads/2015/11/MapadaViolencia2015_ release09112015.docx>. Acesso em 14 jan. 2017. Geledés. Seis mulheres indígenas que vale a pena seguir nas redes. Disponível em: <http://www. geledes.org.br/seis-mulheres-indigenas-que-vale- pena-seguir-nas-redes/#gs.null>. Acesso em: 13 out. 2016. GOLA, Eliana. A Jóia - História e Design. São Paulo: Editora Senac, 2008 HAHNER, June. E. Emancipação do sexo feminino - A luta pelos direitos das mulheres no Brasil 1850 - 1940. Florianópolis: Editora Mulheres, 2003. Instituto Maria da Penha. Disponível em: <http:// www.institutomariadapenha.org.br/2016/>. Acesso em: 17 out. 2016. Instituto Socioambiental. Sonia Guajajara: "A gente enfrenta o preconceito duas vezes, por ser indígena e 62
  • 63. por ser mulher.". Acesso em 18 out. 2016. LEITE, Lettícia. Cassandra Rios: a Safo de Perdizes – Entrevista com Hanna Korich. Disponível em: <http://blogueirasfeministas.com/2014/04/ cassandra-rios-a-safo-de-perdizes-entrevista-com- hanna-korich/>. Acesso em: 17 out. 2016. LUCON, Neto. Conheça Brenda Lee: o anjo da guarda das travestis e transexuais sem abrigo e soropositivos. Disponível em: <http://www.nlucon. com/2013/11/conheca-brenda-lee-o-anjo-da- guarda-das.html>. Acesso em: 17 out. 2016. MAGTAZ, Mariana. Joalheria Brasileira - Do descobrimento ao século XX. Editora Mariana Magtaz, 2008. MENDONÇA, Renata. Violência doméstica: 5 obstáculos que mulheres enfrentam para denunciar. BBC Brasil. Disponível em: <http://www.bbc.com/ portuguese/noticias/2015/12/151209_obstaculos_ violencia_mulher_rm>. Acesso em: 07 fev. 2017. MERCALDI, M. A. Joia contemporânea: relações entre o adorno e o corpo. Dissertação de Mestrado em Design da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita”. Bauru, 2016. MOURA, Mônica. Joia contemporânea brasileira: objeto em diálogo com o corpo e com a moda. CIPED - VI Congresso Internacional de Pesquisa em Design. São Paulo, 2011. PAIVA, M. R. Literatura de Cassandra Rios educou uma geração. Disponível em: <http://www1.folha. uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u22181.shtml>. Acesso em: 17 out. 2016. PIOVEZAN, Adriane. Sou uma lésbica!. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/ leituras/sou-uma-lesbica>. Acesso em: 17 out. 2016. SANTOS, Minnie. Negras notáveis - Aqualtune. Disponível em: <http://blogueirasnegras. org/2013/05/28/negras-notaveis-aqualtune-2/>. Acesso em: 10 out. 2016. SKODA, S. M. de O. G. Evolução da arte da joalheria e a tendência da joia contemporânea 63
  • 64. Brasileira. Dissertação de Mestrado em Estética e História da Arte. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012. SOUZA, Ana Paula. Brenda Lee: o anjo da guarda dos travestis. Disponível em: <http://www. siteladom.com.br/brenda-lee-o-anjo-da-guarda-dos- travestis/>. Acesso em: 17 out. 2016. TELES, Maria Amélia de. A Breve história do feminismo no Brasil. Editora Brasiliense, 1993. VIERIA, Kayra Maria Almeida. Cassandra Rios: entre a vida que continua pulsando e a morte anunciada. <http://periodicos.ufpb.br/index.php/ srh/article/view/305>. Acesso em 17 out. 2016. 64