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José Luís Marques Gomes da Costa
AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E DE SAÚDE DOS
FORMADORES NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Dissertação no âmbito de Mestrado Integrado em Psicologia
2008
Universidade do Porto
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto
As condições de trabalho e de saúde dos formadores na formação
profissional
Dissertação apresentada pelo aluno José Luís Marques Gomes da Costa na
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto,
para obtenção do grau de Mestre em Psicologia, sob a orientação da Professora
Doutora Marta Zulmira Carvalho dos Santos.
Julho de 2008
II
RESUMO
Esta investigação incide sobre o trabalho dos formadores, num centro de formação
profissional, e tem como principal objectivo dar visibilidade aos efeitos do trabalho na saúde
dos mesmos. Procura-se reflectir sobre as causas que determinam os constrangimentos
sentidos pelos formadores, assim como os factores que influenciam o seu estado de saúde,
fazendo referência aos principais indicadores de problemas de saúde físicos e psicossociais.
Outro dos seus objectivos é dar pistas de pesquisa e intervenção que forneçam indicadores de
relevância para posteriores análises. Para cumprir estes objectivos foi utilizado o inquérito
INSAT que visa o estudo das consequências e condições de trabalho, actuais e passadas, ao
nível da saúde e do bem-estar. O processo desta investigação utiliza metodologias
quantitativas, constituindo-se como um estudo descritivo, procurando articular com os
momentos de pesquisa empírica e os momentos de reflexão que derivam dos resultados
alcançados.
Os resultados obtidos evidenciam uma forte incidência de factores, que constituem
indicadores preocupantes de mal-estar profissional dos formadores, o stress, sintomas de
irritabilidade, fadiga geral, problemas de sono, problemas nervosos, dores de costas, dores de
cabeça, problemas de voz e problemas digestivos, são associados ao seu trabalho, enquanto
formadores, e têm reflexos no seu estado de saúde. A forte incidência de stress e a evidência
de factores que potenciem o burnout, apresentam-se como as causas que mais afectam o
estado físico e psicológico dos formadores, com reflexos no seu desempenho profissional.
Foram encontradas diferenças significativas, de género e grupos etários, que revelam quais os
factores que mais afectam os homens e as mulheres, assim como a sua distribuição pela idade.
Mas também se encontraram resultados que não podem ser negligenciados e que relacionam o
vínculo laboral com os problemas de saúde: o estatuto precário de trabalho a que estão
sujeitos muitos formadores, interfere negativamente com a percepção do seu estado de saúde.
Os resultados, desta investigação, na sua generalidade, dão indicadores da importância de dar
a conhecer as condições em que os formadores trabalham e sugerem a necessidade de se
levarem a cabo estratégias de apoio a formadores, tanto no local de exercício da sua
actividade de trabalho, como em contextos específicos de formação no sentido de permitir
uma reflexão sobre o seu trabalho e a sua saúde, de forma a potenciar o desenvolvimento
pessoal destes trabalhadores ao mesmo tempo que se aumenta a margem de manobra para a
transformação das situações.
III
ABSTRACT
This investigation focus on the work of trainers in a centre of professional formation and its
main goal is to give visibility to the effects of work in trainer’s health. This investigation tries
to reflect about the causes that provoke the constraints demonstrated by trainers, as well as the
factors which influence their health condition, referring to the main indicators of physical
health and psychosocial problems. This investigation has also the goal of give traces of
research and intervention, in order to provide relevant indicators to future analysis. In order to
match these goals, it was used the INSAT inquiry. This inquiry analyses the consequences
and the present and past work conditions when it comes to health and well-being. The process
of this investigation uses quantitative methodologies, which gives it the shape of a descriptive
study. There is an articulation between the moments of empirical research and the moments of
reflexion, a consequence of the results of the meditation.
The obtained results show a strong importance of factors which constitute worrying indicators
of professional distress in trainers. Stress, irritability, general tiredness, sleeping disturb,
nervousness problems, back aching, headaches, voice problems and dysfunction at the
digestive system are linked to the formation activity of trainers in an obvious negative way.
The huge stress to which trainers are submitted and the evidence of factors which strengthen
the burnout, present themselves as the most influent causes in the physical and psychological
state of trainers and, therefore, their professional performance. There were found significant
differences of gender and age, which is very revealing of what is more prejudicial to man and
to women, having their age in consideration, as well. However, there are also factors that
mustn’t be neglected. These factors relate the labour contract with health problems: the
precarious working status of trainers does affect their health conditions in a very strong way.
The results of this investigation give indicators of the importance of showing the labour
conditions of these workers and they suggest the necessity of develop strategies in order to
support trainers both at the place where they exercise their profession and in specific contexts
of formation, in order to allow a meditation about their professional activity and their health,
so they can improve their personal development, while doors are open to the transformation of
situations.
IV
RÉSUMÉ
Cette recherche concerne le travail des formateurs, dans un centre de formation
professionnelle, et a comme principal objectif donner visibilité aux effets du travail dans la
santé des mêmes. On a comme but réfléchir sur les causes qui déterminent les contraintes
éprouvées par les formateurs, ainsi que les facteurs qui influencent leur état de santé, en
faisant référence aux principaux indicateurs de problèmes de santé physiques et psico-
sociaux. En outre, on prétend donner des voies de recherche et d´intervention qui fournissent
des indicateurs importants pour des analyses postérieures. Pour accomplir ces objectifs on a
utilisé l'enquête INSAT qui vise l'étude des conséquences et des conditions de travail,
actuelles et passées, au niveau de la santé et du bien-être. Le processus de cette recherche
utilise des méthodologies quantitatives, en se constituant comme une étude descriptive, en
cherchant à articuler avec les moments de recherche empirique et les moments de réflexion
qui dérivent des résultats atteints.
Les résultats obtenus prouvent une forte incidence de facteurs, qui constituent des indicateurs
préoccupants de malaise professionnel des formateurs, le stress, des symptômes d'irritabilité,
de fatigue générale, des problèmes de sommeil, des problèmes nerveux, du mal au dos, du
mal à la tête, des problèmes de voix et des problèmes digestifs, sont associés à leur travail tant
que formateurs, et ont des réflexes dans leur état de santé. La forte incidence de stress et
l'évidence de facteurs qui exploitent le burnout, se présentent comme les causes qui affectent
le plus l'état physique et psychologique des formateurs, avec des réflexes dans leur
performance professionnelle. On a trouvé des différences significatives, de type et de groupes
d´âge, qui révèlent les facteurs qui affectent le plus les hommes et les femmes, ainsi que leur
distribution par l âge. Mais on a trouvé aussi des résultats qui ne peuvent pas être négligés et
qui mettent en rapport le lien de travail avec les problèmes de santé: le statut précaire de
travail auquel beaucoup de formateurs sont sujets, interfère négativement sur la perception de
leur état de santé.
Les résultats de cette recherche, dans leur généralité, donnent des indicateurs de l'importance
de faire connaître les conditions où les formateurs travaillent et suggèrent la nécessité de
mettre en marche des stratégies d’aide vis-à-vis des formateurs, non seulement dans le lieu de
travail, mais aussi dans des contextes spécifiques de formation dans le but de permettre une
réflexion sur leur travail et leur santé, de manière à exploiter le développement personnel de
ces travailleurs, au même temps qu´on augmente la marge de manoeuvre pour la
transformation des situations.
V
AGRADECIMENTOS
A todos os formadores do FOR-MAR, pelo profissionalismo, paciência, simpatia e pela forma
como partilharam os seus saberes. Com eles foi possível reflectir sobre o seu trabalho e
adquirir conhecimentos úteis.
À Professora Doutora Marta Santos pela orientação, sugestões, disponibilidade, confiança que
soube transmitir e apoio dado, que se revelou de extrema importância para a realização desta
tese.
À Maria João e ao Filipe pela preciosa ajuda nas traduções.
À Juliana que estando longe, sempre me apoiou, a quem devo motivação, força de vontade e
muito carinho.
Aos amigos, Carlos, Irene, Joana, Lucília e em especial à Helena por me apoiarem sempre que
foi necessário, mas também aos outros por se revelarem compreensivos.
À Piá porque foi a companhia de muitas e muitas horas, sempre esteve comigo e ajudou-me a
tornar tudo mais simples. Deixou muitas saudades, mas ficará para sempre na minha
memória.
VI
ABREVIATURAS
EVREST – Évolutions et Relations en Santé au Travail
FOR-MAR – Centro de Formação Profissional das Pescas e do Mar
INSAT – Inquérito, Saúde e Trabalho
IPSSO – Instituto de Prevenção do Stress e Saúde Ocupacional
SIT – Saúde, Idade e Trabalho
SPSS – Statistical Package for the Social Sciences
SUMER – Surveillance Médicale des Risques Professionnels
1
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 4
CAPÍTULO I – DOS FORMADORES AOS PROFESSORES: PONTOS COMUNS E
DESCONTINUIDADES 7
1.1 – Principais conceitos presentes na revisão da literatura 8
1.2 – Conceito de stress, natureza transacional e os seus reflexos nos docentes 8
1.3 – O burnout nos professores 10
1.4 – Sofrimento e solidão dos professores 11
1.5 – Principais resultados dos estudos realizados em Portugal 12
1.6 – Principais resultados de estudos realizados em outros países 15
CAPÍTULO II – MÉTODO 18
2.2 – Instrumentos 20
2.3 – A composição do inquérito INSAT 20
2.4 – Procedimento 21
CAPÍTULO III – RESULTADOS 22
3.1 – A análise e tratamento dos dados 23
3.2 – Distribuição do nível de escolaridade dos formadores por grupos etários 23
3.3 – Experiência como formador 24
3.4 – Tipos, domínios e locais da formação 24
3.5 – O trabalho dos formadores 25
3.6 – Actividade de trabalho principal 25
3.7 – Situação laboral 26
3.8 – O horário de trabalho 26
3.9 – Horas de trabalho e relação com a idade 27
3.10 – Condições e características do trabalho dos formadores 27
3.11 – Ambiente e constrangimentos físicos dos formadores (sua distribuição) 28
3.12 – Constrangimentos organizacionais e relacionais dos formadores (sua distribuição) 29
3.13 – Autonomia e iniciativa (sua distribuição) 31
3.14 – Relações de trabalho (sua distribuição) 32
3.15 – Contacto com o público (sua distribuição) 33
2
3.17 – Condições de vida fora do trabalho 35
3.18 – O que consideram os formadores ser mais penoso na seu trabalho 36
3.19 – Ambiente e constrangimentos físicos no trabalho (comparações) 36
(α Cronbach =.98) 36
3.20 – Constrangimentos organizacionais e relacionais (comparações) 37
3.22 – Contacto com o público (comparações) 38
3.23 – Características do trabalho (comparações 39
3.24 – Formação e Trabalho 39
3.25 – Saúde no Trabalho 40
3.26 – Acidentes de trabalho e doenças profissionais 40
3.27 – Informação sobre riscos profissionais 41
3.28 – Saúde e trabalho 41
3.29 – Problemas de saúde 41
3.30 – Situação laboral e a relação com problemas de saúde dos formadores 44
3.31 – Problemas de saúde dos formadores e em que medida são ou foram afectados pelo seu
trabalho 45
CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES 47
4.1 – Discussão dos resultados 48
4.2 – Variações nos problemas de saúde e diferenças significativas de género 50
4.3 – Variações nos problemas de saúde e diferenças significativas entre grupos etários 51
4.4 – Conclusões 52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 57
3
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo 1 – Inquérito Saúde e Trabalho
Introdução
5
INTRODUÇÃO
O estudo que aqui apresentamos, incide sobre o trabalho dos formadores e tem como
principal objectivo, compreender a ausência de visibilidade dos efeitos do trabalho na saúde
dos mesmos, reconhecendo factores relacionados como: a identificação das competências que
estão realmente em jogo no trabalho dos formadores; identificar as estratégias individuais e
colectivas na construção dos seus saberes profissionais, assim como as condições de
aprendizagem que influenciam o seu desenvolvimento; perceber as causas que determinam os
constrangimentos sentidos pelos formadores, assim como os factores que influenciam o seu
estado de saúde, fazendo referência aos principais indicadores de problemas de saúde físicos e
psicológicos.
A total inexistência, no nosso país, de estudos relativos às condições de trabalho e os
seus efeitos sobre a saúde dos formadores, dificulta o conhecimento dos factores relacionados
com as suas condições de trabalho, e que estão relacionados com as dificuldades de inserção
profissional, desenvolvimento das suas próprias competências como formadores, pôr em
prática os conhecimentos adquiridos em termos académicos quanto à sua transferibilidade,
variabilidade dos locais de exercício profissional das actividades, status, e ainda problemas
relacionados com a fadiga, stress, etc. – e que provocam constrangimentos com repercussões
no seu próprio estado de saúde. Este facto levou-nos a fazer uma pesquisa sobre investigações
realizadas com a saúde dos professores, dado ser a profissão com mais factores convergentes
(ambas têm em comum exercer funções de educação, socialização e de criação de condições
de aprendizagem), e que ajudem a compreender o que se passa com os formadores.
Relativamente à profissão docente, sabemos que as múltiplas exigências do mundo
actual e as mudanças socioeducativas são factores com forte incidência na saúde e bem-estar
dos docentes, o que levou a Organização Internacional do Trabalho em 1981, a considerá-la
como uma profissão de risco físico e mental, considerando o stress profissional como uma das
principais causas de abandono desta profissão. O mal-estar dos docentes tem associado vários
factores: pessoais; relação com os alunos, colegas e encarregados de educação; processo
ensino-aprendizagem; condições de trabalho; contexto sócioeducativo; comportamentos
emocionais e cognitivos. Este fenómeno, segundo Nóvoa, Hameline, Sacristão, Esteve,
Woods e Cavaco, (1991), está relacionado com a insatisfação profissional, o stress, o
absentismo, o desejo do abandono da profissão, o baixo desempenho profissional, e que em
situações de gravidade elevada poderá traduzir-se em estados de tensão, depressão e até de
6
exaustão (burnout). Consideram-se, então, dois factores que afectam directamente os
professores no exercício da sua actividade: factores organizacionais do qual se destaca a
sobrecarga de trabalho; e factores sociais do qual destacamos o estatuto e imagem social do
professor, que no contexto actual está claramente desvalorizada. Outros autores consideram,
porém, que os problemas relacionados com o mal-estar dos professores, iniciam-se com
problemas de fadiga, evoluindo depois para perturbações do sono, modificações de
comportamento (como irritabilidade e agressividade), e da actividade intelectual, sendo que a
sua intensificação dá lugar a problemas digestivos e cardiovasculares. A combinação deste
conjunto de desequilíbrios pode reflectir-se posteriormente a nível psíquico.
Este trabalho está organizado em quatro grandes momentos: na primeira parte desta
tese recorremos a estudos sobre a saúde dos professores, e que se tornem pertinentes para a
investigação, o que levou a fazer referência aos três aspectos que são mais alvo de reflexão: o
stress profissional dos docentes, o burnout, e o sofrimento e solidão dos mesmos. Na segunda
parte apresentamos a metodologia utilizada na realização deste estudo. Na terceira parte os
resultados, procurando respeitar a disposição original do Inquérito, Saúde e Trabalho, aqui
utilizado, para melhor compreensão das consequências e condições de trabalho, actuais e
passadas, dos formadores, ao nível da saúde e do bem-estar. No final surgem as conclusões e
reflexões, e procura-se compreender as causas e os constrangimentos da actividade de
trabalho dos formadores, e que têm repercussões no seu estado de saúde.
O processo desta investigação utiliza metodologias quantitativas, constituindo-se
como um estudo descritivo, procurando articular com os momentos de pesquisa empírica e os
momentos de reflexão que derivam dos resultados alcançados.
Capítulo I – Dos formadores aos professores: pontos
comuns e descontinuidades
8
1. Dos formadores aos professores: pontos comuns e descontinuidades
A actividade de formador difere da de professor, embora se considerem existir vários
factores convergentes que se prendem com o acto de ensinar. Os constrangimentos sentidos
no exercício da actividade de trabalho têm, em ambos os casos, implicações na saúde e no seu
bem-estar profissional. Mas a inexistência de estudos científicos que se debrucem
exclusivamente sobre o trabalho dos formadores, e desta forma dar-lhes visibilidade social,
implica que analisemos o que se passa com os professores para compreendermos os
problemas que lhes estão relacionados e poder associá-los aos factores que originam a
insatisfação dos formadores.
1.1 – Principais conceitos presentes na revisão da literatura
Na revisão da literatura sobre estudos realizados com professores, que a seguir se
apresentam, o stress, o burnout e o sofrimento e solidão dos docentes, são referidas como as
causas que mais afectam o estado físico e psicológico dos docentes, com implicações no seu
bem-estar profissional, constituindo-se como os factores alvo de reflexão. Importa, por isso,
perceber a forma como são definidos nas investigações referidas.
1.2 – Conceito de stress, natureza transacional e os seus reflexos nos docentes
Em praticamente todos os estudos o stress é considerado como um dos principais
factores que afectam o estado de saúde dos professores, o que leva a literatura actual, no
domínio do stress ocupacional, a chamar a atenção para a elevada prevalência deste factor nos
profissionais do ensino, dando ênfase a factores ligados à organização do trabalho, factores
físicos e psicológicos e factores ergonómicos. A profissão de docente privilegia a relação
interpessoal, e é carregada de conteúdo emocional e responsabilidade. Tem por isso, razões
intrínsecas de exposição ao stress. Truch (1980) afirma mesmo que o ensino constitui uma
actividade deveras exigente, gerando níveis de stress superiores a outras profissões. A sua
forte incidência levou a várias reflexões sobre a sua origem, a sua natureza transacional e os
seus reflexos nos docentes, sendo interpretado da seguinte forma pela literatura.
9
Segundo Mota-Cardoso e colaboradores (2002) o stress é um estado de tensão entre a
individualidade, sempre em formação, sempre incompleta, sempre em devir, de cada um e o
meio (externo e interno) que lhe está associado, e que compele o sujeito singular a novas
exigências, desafios, ameaças, sobrecargas e obstáculos, e que obrigam à sua superação. Em
relação à profissão de professor Kyriacou e Sutcliffe (1979, citados por Mota-Cardoso et al,
2002) descrevem o stress profissional dos docentes como uma sindroma de aspectos
negativos (como a raiva ou a depressão), e que está associado a mudanças fisiológicas com
potencialidades patogénicas (como o aumento do ritmo cardíaco), e que surge, quer como
resposta ao ritmo de trabalho do professor, sendo mediado pela percepção de que as
exigências com que se confronta constituem ameaça ao seu bem-estar e auto-estima; quer por
mecanismos de coping que tendem a diminuir a ameaça percepcionada. Quando o docente é
capaz de neutralizar o stress, é porque consegue lidar eficazmente com a situação, de modo a
resolvê-la física e emocionalmente, reconstruindo um novo ajustamento pessoal ao meio,
fazendo com que se enriqueça com novos comportamentos e tenha maior controlo pessoal.
Quando isto não acontece o indivíduo acusa os efeitos do stress, podendo sofrer de factores
psicofisiológicos (e.g., hipertensão, doenças cardiovasculares) e de alterações
comportamentais induzidas (e.g., problemas respiratórios provocados por problemas
tabágicos), podendo ainda ocorrer perturbações psíquicas, como a depressão e o burnout.
Uma outra consequência negativa do stress é a sua manifestação no rendimento
profissional, afectando-o de uma forma negativa. O menor rendimento está associado ao mau
estado de saúde e que é agravado, como é referido, pelo stress, e está associado ao facto do
sujeito ao percepcionar a situação de stress, optar por se envolver em comportamentos de
protecção inadequados, i.e., atinge a retracção da participação no trabalho, originando
absentismos, atrasos, desinvestimento emocional e abandono. A unanimidade dos autores
aceita que a prevenção do stress, deve ser dirigida à mudança dos factores stressantes e ao
desenvolvimento de coping dos sujeitos, daí Mota-Cardoso e colaboradores (2002. p. 16)
afirmarem que os programas de prevenção do stress devem ser construídos tendo em conta «o
conhecimento factual da(s) realidade(s) do stress que só a pesquisa científica permite. Só o
estudo in loco permite conhecer, com rigor e pertinência, a expressão real do stress num dado
contexto». Logo, perceber o stress, na profissão docente, obriga a conhecer as suas fontes, e a
expressão das suas consequências.
10
1.3 – O burnout nos professores
O burnout designa um estado de fadiga física e psicológica. Apesar de existirem
distintos conceitos sobre este fenómeno, é o modelo de Cristina Maslach (1993) o mais aceite
pela comunidade científica. A autora concebe o burnout como um fenómeno tridimensional
em que interagem sentimentos de exaustão emocional (i.e., a sensação de, em termos
emocionais, já se ter dado tudo e não haver mais nada para dar), atitudes de despersonalização
face aos alunos (atitude fria, distante e por vezes cínica), assim como uma perda de realização
profissional no trabalho dos docentes (avaliação negativa feita pelo docente sobre o seu
rendimento profissional). Este estado de fadiga física e psicológica tem efeitos muito
negativos tanto para os professores, alunos, como para as instituições onde trabalham.
A investigação já demonstrou que o burnout dos professores é um conceito estável em
distintos países e que afecta os docentes de todos os níveis de ensino. Burke e Greenglass
(1993, citados por Mota-Cardoso et al, 2002) e Russel e colaboradores (1987), demonstraram
a existência de uma associação significativa entre stress e burnout, configurando-se este como
uma reacção extrema ao stress prolongado, afectando o bem-estar físico e psicológico dos
docentes, constituindo-se como uma influência negativa na relação com os alunos e a
qualidade do ensino, associando-se, muitas vezes, a fenómenos como o absentismo e o
abandono da profissão. Os resultados de vários estudos de Burke e colaboradores (1989a,
1996, Idem) sugeriram que o stress e o burnout eram tanto maiores quanto inferiores fossem
as posições hierárquicas dos docentes na escola, i.e., o director apresentava níveis de burnout
inferiores à de um professor cuja única responsabilidade era leccionar. Os autores adiantaram
explicações possíveis: os directores disporiam de melhores recursos de coping, que seriam
adquiridos e desenvolvidos ao longo da sua maior experiência profissional; estes contactavam
menos com os alunos e, participavam mais na tomada de decisões. Estes e outros estudos
permitiram caracterizar os docentes mais propensos ao burnout, referidos da seguinte forma
por Mota-Cardoso e colaboradores (2002): apresentam níveis mais elevados de stress
associado ao papel profissional; avaliam a sobrecarga de trabalho de uma forma mais
negativa; utilizam preferencialmente estratégias de evitamento e fuga para lidar com o stress,
ou outras estratégias regressivas (a negação ou a minimização); têm menos suporte social (ou
11
então recorrem menos a ele); apresentam o traço de hardiness1
pouco desenvolvido; são
menos autoconfiantes; são mais idealistas; visualizam a profissão como uma possibilidade de
mudança social; acreditam que os alunos deveriam ser controlados pela escola como se
estivessem sob custódia; têm uma amplitude limitada de contactos interpessoais; o seu
trabalho não os estimula suficientemente e, tiveram uma má orientação na preparação para o
seu trabalho.
1.4 – Sofrimento e solidão dos professores
Os docentes estão sujeitos a conflitos que se prendem com factores que derivam do
seu trabalho, o que os obriga a desenvolverem sistemas cognitivos, mais ou menos
complexos, que lhes permitem fazer a gestão dos mesmos. Apesar de não garantirem a
superação dos conflitos, os sistemas cognitivos adoptados, desempenham um papel central na
gestão, embora não estável, dos conflitos pessoais, mas estes mesmos conflitos são geradores
de sofrimentos e solidões profissionais, que são característicos de novos “individualismos
profissionais”, que se desenvolvem numa situação de insegurança generalizada, constituindo-
se como um dos efeitos mais visíveis da crise dos mecanismos de delegação de poder nos
professores. Mas este individualismo não se apresenta como adaptado à missão profissional,
ao invés, é imposto e “disfuncional” no que concerne às missões atribuídas à profissão, o que
contribui para a produção, reprodução e reforço do sofrimento dos docentes (Correia &
Matos, 2001), e como tal geradora de mal-estar. O estudo destes autores, baseado em
entrevistas a professores, evidencia o sofrimento ético e organizacional dos docentes, que
atribuem muita da culpa à profissão, que não disponibiliza “espaços de comunicação”
susceptíveis de assegurar uma regulação saudável, o que leva a vários factores ansiogénicos.
Chamam, ainda, a atenção para a ocultação dos conflitos profissionais, por parte dos
principais actores institucionais, que provocam nos professores constrangimentos de vária
ordem, com reflexos evidentes no seu estado de saúde, revelados por vários estudos (stress,
burnout, depressão, irritabilidade, problemas nervosos, etc.), levando muitas vezes ao
silenciamento dos problemas e das práticas profissionais, contrastando com o reforço das
tendências para a exposição pública dos discursos privados da profissão de docente.
1
O hardiness define traços disposicionais da personalidade: comprometimento (interesse e curiosidade pela
vida), controlo (acreditar nas próprias capacidades para influenciar os acontecimentos) e desafio (aceitação da
mudança enquanto factor de crescimento pessoal (Kobasa, 1979, citado por Mota-Cardoso et al , 2002).
12
Outros indicadores são, ainda, evidenciados e reforçam o sentimento de solidão dos
professores: o estatuto do professor, dada a dificuldade de dar significado ao trabalho que lhes
é exigido, num contexto em que lhes são cada vez mais impostas novas tarefas, e em que têm
cada vez menos influência na avaliação dos alunos, que por sua vez sentem estranheza pelo
facto de ali estarem sob controlo e obrigação, quando a escola devia ser um espaço para
formar, instruir e educar; a inexistência de um trabalho em equipa, e que deriva da falta de
tempo, devido aos professores terem que realizar múltiplas tarefas administrativas, o que
obsta à tão necessária articulação de conhecimentos das várias disciplinas (e.g., matemática,
física, química, etc.) e o debate sobre as dificuldades e problemas mais sentidos.
1.5 – Principais resultados dos estudos realizados em Portugal
Os estudos existentes, no nosso país, incidem na sua generalidade, sobre o trabalho
dos professores, e apesar de muitos factores convergentes com o trabalho dos formadores,
existem diferenças, e que advém muitas vezes do estatuto profissional, exigências
particulares, e do exercício profissional da actividade dos formadores implicar outro tipo de
riscos. No entanto, faremos aqui referência a estudos realizados com professores, e que são
susceptíveis de nos fornecerem indicadores importantes para perceber o trabalho dos
formadores.
Um estudo de Gomes, Silva, Mourisco, Silva, Mota e Montenegro (2006), realizado
com 127 professores numa escola secundária do Porto, que avaliou vários indicadores
relacionados com o seu trabalho e o bem-estar pessoal (stress, burnout, saúde física e
satisfação pessoal), revela valores muito significativos de stress ocupacional, prevalência de
esgotamento e vários problemas de saúde física. Este mesmo estudo mostra, ainda, que as
mulheres demonstraram níveis superiores de stress em relação aos homens. Uma análise mais
aprofundada dos possíveis problemas relacionados com o stress evocado, revela que são as
questões mais relacionadas com a sala de aula que desencadeiam maior mal-estar, e.g., turmas
grandes, alunos desmotivados, mau comportamento dos mesmos, etc. Outro dos factores está
relacionado com pressões externas ao desempenho profissional, e.g., falta de tempo para
cumprir os programas, demasiado trabalho burocrático. Um terceiro factor tem a ver com as
questões relacionadas com a carreira profissional, e.g., falta de reconhecimento por um bom
ensino, a que poderá estar associado a falta de reconhecimento do seu trabalho por parte das
13
chefias, colegas e órgãos institucionais. Ainda relacionado com os estudos de Gomes e
colaboradores (2006), verificam-se níveis elevados de burnout entre os professores, e que
derivam principalmente de sentimentos de baixa realização pessoal e/ ou de exaustão
emocional e de despersonalização; a combinação destes três factores revela uma percentagem
média de 13% de docentes que se encontram claramente em situação de burnout. Em relação
aos índices de saúde física, os principais indicadores de problemas de saúde associados são:
dificuldades em acordar, levantar e adormecer, sensações de cansaço e exaustão, enxaquecas e
dores de cabeça, as práticas de comer, beber e fumar excessivamente e outras sensações
físicas desagradáveis (tremura muscular, dores agudas, etc.). De realçar ainda que aumentos
nos níveis globais de stress aparecem associados a menor satisfação profissional, a maior
vontade de abandonar a profissão, mais problemas de saúde física, maior exaustão emocional,
maior pressão de tempo, excesso de trabalho, e avaliações mais acentuadas acerca dos
comportamentos de indisciplina dos alunos. Outro dado a reter deste estudo é que os
professores com mais experiência de trabalho, apresentam mais dificuldades que os colegas
mais novos em áreas relacionadas com o comportamento inadequado dos alunos, a gestão das
diferenças nas capacidades apresentadas pelos estudantes, a realização de trabalho
burocrático/ administrativo e o excesso de aulas.
Nas diferenças de género relacionado com o stress dos professores, os estudos na sua
generalidade, não constatam linearmente a existência de mais stress nos homens ou nas
mulheres, no entanto, um estudo realizado por Melo, Gomes e Cruz (1997), com professores,
médicos e enfermeiros portugueses, revela que as mulheres apresentam níveis de stress mais
elevados do que os homens. Relativamente aos anos de experiência, enquanto docentes, um
estudo de Cruz e Mesquita (1988) com professores portugueses, revela que os aspectos
relacionados com a estrutura organizacional dos estabelecimentos de ensino, e.g., falta de
participação nas decisões a tomar, política disciplinar inadequada da escola, etc., tendem a
condicionar mais os professores com cinco ou mais anos de experiência, quando comparados
com os que tinham menos experiência.
Um estudo de Pereira, Silva, Castelo-Branco e Latino (2002), realizado com
professores portugueses, e que avaliou o “índice geral de capacidade para o trabalho”, revela
que 3.1% dos docentes apresenta um índice baixo e 32% um índice moderado – sendo que são
os homens, aqueles que apresentam valores médios mais elevados: valores preocupantes se
tivermos em conta as múltiplas exigências da profissão docente. Num dos itens avaliados
“prognóstico da capacidade para o trabalho daqui a dois anos”, a maioria dos professores
afirma que não tem a certeza se daqui a dois anos poderá exercer a sua actividade docente, o
14
que poderá estar associado a factores inerentes à actividade de docente: falta de estímulo e de
reconhecimento social, dificuldades de colocação e segurança do salário e do emprego,
sobrecarga de tarefas, indefinição do cargo e violência nas instituições escolares. Os
professores que participaram neste estudo, revelam ainda, que apesar de conseguirem fazer o
seu trabalho, o mesmo desencadeia sintomas relacionados com doenças: dores de costas,
pescoço e coluna, desgaste ou dor repetida nos membros (mãos e pés), tensão arterial,
perturbação mental ligeira, doença ou lesão nos olhos, doença no sistema nervoso e mal-estar
ou irritação no estômago ou duodeno.
Um outro estudo de Gomes, Silva, Mourisco, Silva, Mota e Montenegro (2006), com
professores portugueses, revela que 25% não voltaria a optar pela docência se tivessem uma
nova oportunidade de escolha, 19% manifesta o claro desejo de abandonar a sua profissão
durante os 5 anos seguintes, e 10% estão altamente insatisfeitos com a sua actividade
enquanto professores.
O stress profissional em professores portugueses foi, também, alvo de investigação por
parte de Pinto, Lima e Silva (2003). O estudo revelou índices preocupantes de mal-estar
profissional: 54% dos docentes consideram o exercício da sua actividade como muito ou
extremamente geradora de stress, 63% evidenciam burnout pleno e 30.4% encontram-se em
risco de evoluir para esse quadro. Esta investigação mostra, que os factores percepcionados
como principais fontes de stress profissional dos professores são os problemas relativos aos
alunos e as pressões de tempo próprias da actividade docente. Em relação ao primeiro factor,
os professores associam o mau comportamento dos alunos, os níveis de ruído elevados, a não
aceitação da autoridade do docente pelos alunos, e alunos pouco motivados. Quanto ao
segundo factor, é evocado o não terem tempo suficiente para o trabalho a fazer.
Outro estudo, que se destaca pelo facto de ser um dos raros estudos de âmbito
nacional, realizado por Mota-Cardoso, Araújo, Ramos, Gonçalves e Ramos (2002), com 2108
professores nacionais, dá-nos excelentes indicadores sobre o stress dos profissionais da
docência, identificando nove factores que indicam áreas de fontes de stress: estatuto
profissional, conteúdo do trabalho, previsibilidade/ controlo (clarificação da função), pressão
de tempo, segurança profissional, disciplina, rigidez curricular, natureza emocional do
trabalho e ritmo e estrutura do trabalho. Esta investigação revelou que o estatuto profissional é
o factor essencial responsável pelo aparecimento, nos professores, de situações de stress,
quando o que é evidente noutras investigações são razões relacionadas com os alunos, i.e., a
indisciplina ou mau comportamento. Mas mais reveladora foi a descoberta de que o factor de
stress relativo à indisciplina é o sexto no estudo nacional português, ao contrário do primeiro
15
lugar que ocupa no estudo nacional britânico (Travers e Cooper, 1996, citado por Mota-
Cardoso, 2002), contrariando por isso vários estudos nacionais e internacionais. O que o
estudo assegura é que não é a indisciplina dos alunos, o principal factor responsável pelo
stress dos docentes em Portugal, mas sim os problemas de estatuto profissional, embora não
se apresente isolado, estando associado a factores como: a constante mudança de legislação, a
relação com os encarregados de educação, a necessidade de justificar notas negativas, a falta
de acompanhamento dos pais e a preocupação com os resultados dos alunos. Outro dado
interessante a reter, deste estudo, é que a percepção do stress é independente das fontes de
stress percepcionadas, i.e., sugere que os professores se sentem em stress independentemente
do que julgam ser a causa; tendo-se verificado o mesmo com a satisfação com o trabalho e as
dimensões do burnout. O que significa que a situação de stress, avaliada de uma forma directa
pela percepção de um estado subjectivo de stress e indirectamente pela satisfação profissional
(seja com a organização ou com o trabalho), e as dimensões psicológicas do burnout
(exaustão emocional, realização pessoal e despersonalização) não dependem das fontes de
stress atribuídas na situação docente. No geral os resultados obtidos, neste estudo, são
consistentes com o que a investigação tem vindo a avançar sobre o stress dos profissionais da
docência.
1.6 – Principais resultados de estudos realizados em outros países
A questão do stress é particularmente importante quando aplicada ao exercício da
actividade de professor. Neste mesmo sentido, os investigadores Kyriacou e Sutcliffe (1978),
citados por Gomes e colaboradores (2006), salientam a natureza desgastante desta profissão.
Num dos seus estudos, realizado com professores ingleses, demonstram que 25% dos
docentes descrevem a sua profissão como muito stressante, com implicações negativas ao
nível do rendimento profissional, e ao nível de alguns factores psicológicos como a depressão
e o burnout. Os mesmos autores afirmam que a experiência de stress nos professores deve ser
entendida como uma ameaça ao seu bem-estar, auto-estima e valor pessoal, com repercussões
negativas no exercício da sua actividade de trabalho, o que poderá afectar a qualidade das
suas práticas pedagógicas e eficácia profissional, e as potencialidades de aprendizagem dos
alunos.
16
Um estudo de DeFrank e Stroup (1989) revela que os professores solteiros manifestam
mais stress que os mais velhos, facto que está associado aos problemas dos alunos e às
atribuições de deveres relacionados, como planos individuais de educação e educação
especial. Em termos de problemas específicos de saúde física, um estudo realizado por
Travers e Cooper (1996, citado por Mota-Cardoso et al, 2002) no Reino Unido, revela que
23% dos professores afirmam ter tido “doenças sérias” no ano anterior ao estudo. O
questionário utilizado pelos autores solicitava a identificação de “doenças importantes” e
deixava ao critério dos docentes o grau de subjectividade e interpretação da amplitude da sua
importância e os problemas de saúde evocados foram: viroses persistentes, problemas de
coluna, ansiedade e depressão, intestino e estômago, síndroma do intestino irritado, problemas
de peito e pulmões, garganta e afonia, hipertensão, dores de cabeça e enxaquecas, asma,
problemas auditivos e visuais, alergias dermatológicas, dores relacionadas com cancro,
úlceras, esgotamento e cansaço e sinusite. Importa referir que estes factores são os principais
problemas de saúde associados pela investigação, em geral, ao stress.
Os índices de satisfação dos professores com o seu trabalho tem sido motivo de vários
estudos, Kyriacou e Sutcliffe (1979, citados por Mota-Cardoso et al, 2002) descobriram que
72.5% dos professores ingleses se mostravam satisfeitos ou muito satisfeitos com a sua
profissão, por sua vez DeFrank e Stroup (1989) encontraram 13% de professores muito
insatisfeitos e 45% não completamente satisfeitos. Mas um dos mais importantes estudos foi
realizado por Travers e Cooper (1989, citados por Mota-Cardoso et al, 2002), que realizaram
um estudo nacional com professores britânicos e verificaram que a insatisfação dos mesmos
com o seu trabalho, tinha a ver com factores extrínsecos (salário auferido, oportunidades de
progressão na carreira, estilo de administração da escola, o reconhecimento social e as
condições físicas de trabalho), por outro lado, os índices de satisfação relacionavam-se com
aspectos que consideravam positivos no seu trabalho (colegas de trabalho, a variedade do
mesmo, a liberdade de escolha dos métodos de ensino e a estabilidade do emprego). Este
estudo contraria, porém, alguns estudos que têm revelado que o stress é um antecedente
poderoso da satisfação profissional dos professores, atribuindo a insatisfação profissional
como uma possível resposta à situação de stress; o que parece indicar que a satisfação
profissional não depende apenas do stress, mas também de outros factores.
Muitos das investigações não revelam diferenças significativas entre a idade e o stress,
mas um estudo de Russel, Altmaier e Van Velzen (1987), demonstra que os professores mais
novos acusam mais stress do que os restantes colegas, e que está relacionado com factores
17
como a informação inadequada acerca dos materiais escolares e obrigação de participação em
várias actividades escolares.
A associação entre problemas psicológicos e aspectos psicossociais do trabalho dos
professores foi estudado por um grupo de investigadores Porto, Carvalho, Oliveira, Neto,
Araújo, Reis e Delcor (2006) com 1024 docentes brasileiros. Os resultados evidenciam a
associação entre os dois factores: 44% dos professores revelam problemas psicológicos
relacionados com as exigências do trabalho, sendo que são aqueles que têm funções com
níveis de exigência maiores, os que apresentam índices mais elevados.
Gomes e Brito (2006) realizaram um estudo com professores brasileiros e verificaram
que a elaboração de modos operatórios dos mesmos com o objectivo de cumprirem o que lhes
é exigido, em virtude das limitações relacionadas a factores institucionais, pedagógicos e
burocráticos, tem reflexos no seu estado de saúde e no seu desempenho. Os professores deste
estudo revelam ter um excesso de trabalho em função das inúmeras actividades escolares, do
tempo que gastam com trabalhos da escola fora do seu espaço físico, as deslocações a que
estão sujeitos; o que os leva a sentirem cansaço físico e mental. Os custos para a saúde destes
docentes, em função do excesso de trabalho a que estão sujeitos, relacionam-se com: sensação
genérica de mal-estar, ansiedade, tensão, nervosismo, depressão, angústia, insegurança,
cansaço, stress, irritabilidade, perturbações do sono e problemas digestivos. Problemas estes
que se agravam no final de cada ano lectivo. Os autores sugerem que o sofrimento
evidenciado pelos professores poderia ser minimizado com uma redução do excesso de
trabalho, um aumento da margem de manobra dos docentes, o que reduziria os problemas de
saúde física e psicológica.
Um outro estudo realizado por Delcor, Araújo, Reis, Porto, Carvalho, Silva, Barbalho
e Andrade (2004), também com professores brasileiros revela que os mesmos se queixam de
vários problemas físicos, destacando-se o terem que permanecer muito tempo de pé, e terem
de manter uma postura corporal inadequada; atribuindo a culpa ao ritmo e excesso de
trabalho. Mas merece particular destaque neste estudo, o facto de um número considerável de
professores jovens, ter referido vários problemas de saúde dos quais se destacam, por valor
mais elevado: postura corporal, problemas psicológicos e queixas relacionadas com a voz.
Estes estudos dão-nos vários indicadores sobre os factores, da actividade dos
professores, que interferem na sua saúde. De seguida apresentamos o nosso estudo, que vai
reflectir sobre o que se passa com os formadores.
Capítulo II – Método
19
Masculino
Feminino
Sexo
0 1 2 3
Grupos etários
0
5
10
15
QuantidadedeFormadores
Capítulo II – Método
Com o objectivo de conhecer as condições de trabalho e saúde dos formadores em
formação profissional decidiu-se, neste trabalho, utilizar um questionário que permitisse a
abordagem à situação, descrevendo-a e dando-a a conhecer.
Assim utilizou-se o inquérito INSAT (Barros-Duarte, Cunha & Lacomblez, 2007), que
descreveremos mais à frente, com formadores que faziam formação num mesmo centro. Este
local foi escolhido pela facilidade de acesso aos formadores e também pelo conhecimento que
possuíamos, e que poderia ajudar a compreender alguns dos resultados que viéssemos a obter.
2.1 – Amostra
Participaram neste estudo 70 formadores (40 são do sexo masculino e 30 do sexo
feminino), as idades variam entre os 24 e 71 anos, com uma média de 41.67 anos. Na
distribuição por grupos etários verifica-se que: 13 formadores tem idade inferior a 30 anos (5
são homens e 8 são mulheres), 33 pertencem ao grupo etário dos 30-44 anos (16 são do sexo
masculino e 17 do feminino), e 24 têm idade superior ou igual a 45 anos (19 são homens e 5
são mulheres). A distribuição das idades (cf. Figura 1) revela que é no grupo etário dos 30-44
anos que encontramos uma percentagem mais elevada de formadores. Verifica-se, no entanto,
que os homens estão mais representados que as mulheres no grupo etário ≥ 45 anos (19 e 5
respectivamente).
Figura 1: Distribuição dos formadores por género e grupos etários
20
2.2 – Instrumentos
Foi administrado a cada formador um inquérito INSAT com o propósito de recolher
dados acerca das variáveis em análise neste estudo. A opção pelo mesmo para a realização
desta investigação, prende-se com o facto do INSAT visar o estudo das consequências e
condições de trabalho, actuais e passadas, ao nível da saúde e do bem-estar, o que permitiu
recolher dados fundamentais para perceber questões relacionadas com a actividade dos
formadores e a sua relação com a saúde. A sua lógica de base enquadra-se nos estudos de tipo
epidemiológico, e visa caracterizar os principais riscos profissionais de alguns sectores da
actividade e compreender a influência que os constrangimentos de trabalho têm na saúde dos
trabalhadores. A sua construção inspirou-se nos conhecimentos explorados por diferentes
inquéritos: SUMER2
, o inquérito EVREST3
e do inquérito SIT4
.
2.3 – A composição do inquérito INSAT
O inquérito INSAT (Anexo 1) compreende quatro grandes domínios: o trabalho e as
condições de trabalho, as dificuldades sentidas no trabalho, o estado de saúde, e a saúde no
trabalho. Está organizado em sete eixos principais (cf. quadro 1) com o objectivo de permitir,
a quem o preenche, uma tomada de consciência gradual e progressiva das consequências do
trabalho na saúde e bem-estar. O inquérito apresenta ainda, na sua página inicial, algumas
questões que permitem a recolha de informações, de carácter sócio-demográfico, relativas ao
trabalhador (sexo, idade, nível de escolaridade), e dados referentes à instituição onde exercem
a sua actividade de trabalho (sector de actividade, tipo de empresa, …). No estudo que
realizamos relativo à análise de trabalho e saúde dos formadores, foi acrescentado um anexo,
à primeira página do INSAT, com o objectivo de recolher informações adicionais, relativas
aos formadores, e que pudessem potenciar as análises (antiguidade como formador, formações
adicionais à sua formação académica, tipo de população alvo da sua formação, tipo de
formação leccionada e domínios profissionais em que já deram ou dão formação).
2
O inquérito SUMER tem como objectivo estudar a penosidade do trabalho, através da recolha de informações
sobre as condições de trabalho e a saúde dos trabalhadores (citado por Barros-Duarte, Cunha & Lacomblez,
2007).
3
O inquérito EVREST tem como objectivo o conhecimento dos riscos e da organização do trabalho, da saúde
dos trabalhadores e das suas interacções (Idem).
4
O inquérito SIT assenta em objectivos que visam compreender como e em que medida as condições de
trabalho, actuais e passadas, influenciam, favorável ou desfavoravelmente, a qualidade do processo de
envelhecimento e a saúde (Ibidem).
21
Quadro 1: As partes constituintes do INSAT
Eixos principais Tipo de abordagem
Parte I O meu trabalho
Corresponde à especificação e caracterização do tipo de
actividade que é realizada, faz ainda referência ao tipo de
vínculo laboral e ao horário de trabalho praticado.
Parte II Condições e características do meu trabalho
Versa a análise da exposição do trabalhador a
determinadas condições de trabalho, organizadas em 3
categorias: ambiente e constrangimentos físicos;
constrangimentos organizacionais e relacionais; e
características do trabalho.
Parte III Condições de vida fora do trabalho
Recolhe informações sobre aspectos exteriores ao
trabalho: número de pessoas a cargo do trabalhador,
número de filhos, ocupação do tempo livre, o tempo
dispendido em tarefas domésticas, e questionamento
sobre a problemática da conciliação da vida de trabalho e
fora dele.
Parte IV O que me custa mais no meu trabalho
Representa o vivido subjectivo do trabalhador face às
condições de trabalho a que se encontra exposto.
Parte V Formação no meu trabalho
Engloba questões que se relacionam com o tipo de
formação realizada pelos trabalhadores e em que medida
esta se relaciona ou não directamente com o trabalho.
Parte VI O meu estado de saúde
São exploradas, de uma forma sintética, questões
relacionadas com a saúde do trabalhador e que se situam
ao nível: cardio-respiratório, neuro-psíquico, digestivo,
muscular e articular. Inclui ainda questões relacionadas
com o estado de visão e audição dos trabalhadores.
Parte VII Saúde no meu trabalho
Aborda 3 domínios particulares: identificação dos
acidentes de trabalho e doenças profissionais;
informações sobre riscos profissionais; e saúde e trabalho
onde são elencados problemas de saúde físicos e
psicossociais.
2.4 – Procedimento
A amostra foi recolhida no FOR-MAR, para o efeito foram aplicados 70 questionários
INSAT, de autopreenchimento, em diferentes momentos, a formadores que se encontravam
em actividade: 32 em Matosinhos, 13 na Póvoa/ Vila do Conde, 18 em Viana do Castelo e 7
em Ílhavo. Sempre que possível o investigador esteve presente para prestar ajuda, quando
solicitada. De referir que em alguns casos o preenchimento do instrumento se revelou difícil,
tanto no que concerne à sua interpretação, mas também quanto à sua complexidade, o que
obrigou a constantes esclarecimentos, no sentido de simplificar a percepção aos sujeitos em
causa.
Capítulo III – Resultados
23
Capítulo III – Resultados
3.1 – A análise e tratamento dos dados
Após a codificação dos inquéritos, os dados foram introduzidos na matriz, realizada
pela equipa do INSAT. Para a análise estatística recorremos ao programa estatístico SPSS. As
análises estatísticas utilizadas, situam-se ao nível das análises descritivas (frequências,
crosstabs e qui-quadrado), análises inferenciais (independent.simples t teste e one way
ANOVA) e análises correlacionais.
3.2 – Distribuição do nível de escolaridade dos formadores por grupos etários
Na distribuição do nível académico por grupo etário (cf. quadro 2) verifica-se que 59
(84,3%) dos formadores têm estudos superiores, o que vai de encontro ao que lhes é exigido
pelas entidades empregadoras para leccionarem. Os que têm níveis académicos inferiores
(com excepção de 1 formador) têm idade ≥ a 45 anos, e dão formação prática, cujos
conhecimentos derivam das aprendizagens e experiências adquiridas numa actividade de
trabalho específica, sendo que neste caso concreto se refere muito provavelmente à actividade
da pesca. Saliente-se o facto de todas as mulheres terem estudos superiores, estando as
mesmas ligadas à formação de carácter teórico e que versam essencialmente matérias ligadas
às línguas, ciências sociais e humanas e matemática.
Quadro 2: Distribuição dos formadores por género, nível de escolaridade e grupo
etário
Grupo etário
Género
Nível de
escolaridade <30 anos 30-44 anos ≥45 anos
Total
Masculino 1º Ciclo
2º Ciclo
3º Ciclo
11º Ano
12º Ano
Bacharelato
Licenciatura
Mestrado
0
0
0
0
1
0
2
2
0
0
0
0
1
0
14
1
2
1
4
1
1
1
7
2
2
1
4
1
3
1
23
5
Feminino Licenciatura
Mestrado
8
0
16
1
4
1
28
2
Total 8 17 5 70
24
3.3 – Experiência como formador
Em termos de antiguidade como formador, constata-se, através da análise do quadro 3
que 32 (45.7%) dos sujeitos têm ≥10 anos de antiguidade (28.6% no intervalo de 10-19 anos e
17.1% com ≥ 20 anos). Verifica-se que os valores sofrem grandes oscilações, assumindo
valores de 4,3% quando a antiguidade é menor que 1 ano e 28.6% quando está compreendida
no intervalo [10-20[ anos. Ao reflectir sobre estes valores apura-se que há um crescendo de
antiguidade em função da idade, o que dá indicadores de que os formadores mantém a sua
actividade durante anos. Se tivermos em conta o género e o grupo etário verifica-se que há
homogeneidade no intervalo [1-20 [anos (29 são do sexo masculino e 29 do sexo feminino),
as discrepâncias surgem quando o tempo de actividade, enquanto formador, é superior a 20
anos (11 homens e 1 mulher).
Quadro 3: Distribuição dos formadores por grupos etários e
antiguidade.
Grupos Etários
Antiguidade
<30 anos 30-44 anos ≥ 45 anos
Total
<1 ano
[1; 2[anos
[2; 5[anos
[5; 10[anos
[10; 20[anos
≥ 20 anos
1
5
5
0
2
0
1
2
4
16
10
0
1
1
0
2
8
12
3 (4.3%)
8 (11.4%)
9 (12.9%)
18 (24.3%)
20 (28.6%)
12 (17.1%)
Total 13 33 24 70
3.4 – Tipos, domínios e locais da formação
No exercício da sua actividade de trabalho 7 (10%) dos formadores dão formação
exclusivamente a jovens, no sistema ensino/ aprendizagem; 5 (7,1%) só a adultos e 58 (82,9
%) a jovens e adultos. As acções de formação têm objectivos diversificados: 23.4% no
domínio da elevação do nível de escolaridade, 76.9% em vários domínios – reconversão,
aperfeiçoamento, elevação do nível de escolaridade e formação profissional curta. No que
concerne aos locais de formação verifica-se uma diversidade de locais: só escolas (38.1%), só
empresas (1,6%), nas duas (58.7%) e noutras situações (1.6%).
25
3.5 – O trabalho dos formadores
Nesta fase fazer-se-á uma análise de questões relativas à situação de trabalho dos
formadores, e que corresponde à especificação e caracterização do tipo de actividade realizada
pelos mesmos, alude-se ainda ao vínculo laboral e ao horário de trabalho praticado.
Da análise do trabalho dos formadores, verifica-se que: 41 (58.6%) têm como
actividade diária principal o exercício da profissão de formador, 12 (17.1%) têm-na como
professor e 17 (24.3%) outra profissão (enfermeiro, engenheiro, capitão de Marinha
Mercante), saliente-se o facto de que são os mais velhos aqueles que têm como actividade de
trabalho principal o serem formadores.
Em relação ao facto de exercerem exclusivamente a actividade de formador ou terem
dupla actividade temos que: 28 (40%) são exclusivamente formadores e 42 (60%) têm uma
dupla actividade (29 como formadores, 3 como professores e 10 exercem outra actividade).
No entanto é no grupo etário dos 30-44 anos que isso mais se verifica, e que poderá ser
explicado pelo facto de estes estarem numa fase da vida, em que atingem o auge da
performance de trabalho. Refira-se, também, o facto de que são os formadores casados (26)
aqueles que mais têm uma actividade complementar remunerada, sendo que há mais homens
que mulheres a tê-la (18 e 8, respectivamente).
É importante salientar que 31 trabalhadores que têm como actividade de trabalho
principal serem formadores, passam recibo verde ou factura, i.e., mais de metade. Os
professores (10) têm contrato efectivo ou a termo, as outras profissões (12) idem. Dos 28
trabalhadores que são exclusivamente formadores, 23 passam recibo verde ou factura.
3.6 – Actividade de trabalho principal
Da análise do quadro 4 constata-se que 47.1% (22 homens e 11 mulheres) dos
formadores tem um trabalho por conta de outrem (é a faixa etária dos 30-44 anos a mais
representada) e 52.9% (18 homens e 19 mulheres) são trabalhadores independentes, por conta
própria, sem empregados (a distribuição pelos diferentes grupos etários é homogénea);
existem diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelos 2 tipos da variável
“actividade de trabalho principal” (X2
(2)=11.74, p<.05), são os formadores com idade
26
compreendida entre os 30-44 anos os que mais têm como actividade de trabalho principal
serem trabalhadores por conta de outrem, o mesmo não se verifica em relação ao género
(X2
(1)=2.31, ns).
Quadro 4: Distribuição dos formadores segundo a sua situação laboral e actividade de trabalho
principal
Situação laboral
Actividade de trabalho
principal Efectivo ou contrato
sem termo
Contrato a prazo
ou contrato a termo
A recibo
verde
Total
Por conta de outrem
Trabalhador independente
28
0
5
0
0
37
33 (47.1%)
37 (52.9 %)
Total 28 (40%) 5 (7.1%) 37 (52.9%) 70
3.7 – Situação laboral
Os formadores distribuem-se da seguinte forma pela variável “situação laboral” (cf.
Quadro 4): 19 homens e 9 mulheres tem um contrato efectivo ou sem termo; 3 homens e 2
mulheres têm um contrato a prazo ou a termo; 18 homens e 19 mulheres passam recibos
verdes ou factura, (é na idade ≥ 45 anos que isso mais se verifica); existem diferenças
significativas na distribuição dos grupos etários pelos 3 tipos da variável “situação laboral”
(X2
(4)=14.90, p<.05), é o grupo etário 30-44 anos os que mais estão numa situação de
contrato efectivo ou sem termo, refira-se que nenhum formador com <30 anos tem um
contrato desse género (todos eles estão numa situação laboral a recibo verde ou factura), não
existem, porém diferenças quanto ao género (X2
(2)=2.42, ns).
3.8 – O horário de trabalho
O tempo de trabalho é maioritariamente a tempo inteiro: 40 formadores (57.1%);
21.4% refere que o é só na actualidade e 24.3% afirma sê-lo no presente e no passado, 11.4%
porém, refere que, actualmente não pratica este tipo de horário mas tendo feito no passado.
No entanto apenas 35 (21.4%) referem ter ou ter tido um horário fixo; 27 (38.6%) pratica ou
praticaram um horário parcial (28.6% no presente e passado e 10% só no passado); 38
(54.3%) dos formadores afirmam ter ou ter tido um horário irregular (18.6% no tempo actual,
27
4.3% no passado e 31.4% actual e passado); apenas 12 (17.1%) afirmam ter ou ter tido um
horário de trabalho ao fim-de-semana; 21 (30%) referem ter ou ter tido um horário normal.
Apenas 11 (15.7%) dos formadores têm ou tiveram turnos fixos, 9 (12.9%) referem
terem ou ter tido um trabalho com isenção de horário, 19 (27.1%) têm ou tiveram um trabalho
no turno diurno e 9 (12.9%) no turno nocturno, 24 (34.3%) têm ou tiveram turnos mistos.
Refira-se o facto de 22 (31.4%) dos formadores terem um horário de trabalho que os obriga a
deitarem-se depois da meia-noite, em alguns casos deve-se ao facto de darem formação no
horário nocturno, noutros casos é devido à necessidade de terem que levar trabalho para casa
(e.g., preparação e estruturação das aulas). Os formadores trabalham em média 35.85 horas
por semana (os homens trabalham em média 34.59 horas e as mulheres 37.61, sendo que os
solteiros trabalham mais horas que os casados; 39.59 e 34.50, respectivamente), a maioria tem
uma dupla actividade (23 homens e 19 mulheres).
3.9 – Horas de trabalho e relação com a idade
Na distribuição do tempo de trabalho semanal, verifica-se que existe uma correlação
significativa entre o “número de horas de trabalho reais, em média, por semana” e a “idade”
(r=-.52; p<.001), o que permite afirmar que quanto maior a idade menos as horas de trabalho,
o que nos dá indicadores de que os formadores trabalham menos horas de trabalho por
semana, com o avançar da idade.
3.10 – Condições e características do trabalho dos formadores
Esta parte reúne as questões relacionadas com a exposição dos formadores a
determinadas condições, organizadas em 3 categorias: ambiente e constrangimentos físicos;
constrangimentos organizacionais e relacionais (constrangimentos do ritmo de trabalho,
autonomia e iniciativa, relações de trabalho e contacto com o público); e características do
trabalho. Para verificar as distribuições e se existem diferenças nas mesmas quanto ao género
e grupos etários, pelas várias situações das variáveis relacionadas, foram calculadas as
frequências e o qui-quadrado, fazer-se-á, deste modo, somente referência aos valores
significativos.
28
3.11 – Ambiente e constrangimentos físicos dos formadores (sua distribuição)
Nas condições relacionadas com o ambiente físico da actividade de trabalho, os
formadores distribuem-se da seguinte forma pela variável “ruído nocivo incómodo” (cf.
quadro 5): N=68 (38 homens e 30 mulheres); 18 homens afirmam estar ou terem estado
expostos no seu trabalho a ruído nocivo/ incómodo (11 e 7, respectivamente), e 20 afirmam
nunca ter estado. Em relação às mulheres, 5 afirmam ter estado expostas no presente ou
passado (4 e 1, respectivamente) e 25 afirmam nunca ter estado. Se juntarmos as duas
situações da variável em estudo (sim no trabalho actual + apenas no trabalho passado),
verificam-se diferenças significativas na distribuição dos sexos pelos 2 níveis da variável
“ruído nocivo incómodo” (X2
(1)=7,06; p<.05), concretamente os homens estão ou estiveram
expostos a mais ruído do que as mulheres, mas existem mais mulheres do que homens que
nunca estiveram sujeitas ao ruído.
Em relação à variável “calor ou frio intenso” (cf. quadro 5) verifica-se que N=66; 36
são homens e 30 são mulheres, e distribuem-se da seguinte forma: 19 homens afirmam estar
ou terem estado (6 e 13, respectivamente) expostos a calor ou frio intenso, e 17 afirmam
nunca ter estado. No que concerne às mulheres, 7 afirmam estar no presente expostas ao calor
ou frio intenso, 1 afirma ter estado no passado, e 22 afirmam nunca ter estado. Ao somarmos
as 2 situações da variável (sim no trabalho actual + apenas no trabalho passado), surgem
diferenças significativas na distribuição do género pelos 2 níveis da variável (X2
(1)=4.62;
p<.05), são os homens que mais referem estar ou terem estado expostos ao calor ou frio
intenso na sua actividade de trabalho, no entanto são as mulheres que mais referem nunca
terem conhecido a situação referida.
Quadro 5: Exposição ao ambiente e constrangimentos físicos, no trabalho actual e passado segundo o
género
Constrangimentos do
ambiente físico
Sim, no trabalho
actual
Apenas no trabalho
passado
Total
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
Ruído nocivo incómodo
11
(28.9%)
4
(13.3%)
7
(18.4%)
1
(3.3%)
18
(47.3%)
5
(16.6%)
Exposição a calor ou frio intenso
6
(16.7%)
7
(23.3%)
13
(36.1%)
1
(3.3%)
19
(52.8%)
8
(26.6%)
Nas condições relacionadas com os constrangimentos físicos da actividade de trabalho
dos formadores, obtém-se em relação à variável “permanecer muito tempo de pé na mesma
29
posição que” que: N=64 (35 são do sexo masculino e 29 do feminino); 15 homens afirmam
serem obrigados a permanecer muito tempo de pé na mesma posição (10 afirmam-no em
relação ao presente e 5 em relação ao passado), 20 afirmam nunca serem obrigados a este
constrangimento. Em relação às mulheres, 5 afirmam serem obrigadas ao referido
constrangimento no presente e 2 no passado, 22 afirmam nunca.
Em relação à variável “deslocações profissionais frequentes”, verifica-se que: N=63
(33 são do sexo masculino e 30 do sexo feminino), sendo que 18 homens referem ter ou ter
tido este constrangimento no seu trabalho e 15 afirmam nunca; 16 mulheres mencionam-no
para o presente e só no passado e 14 referem nunca estarem sujeitas ao referido
constrangimento. O quadro 6 permite verificar a distribuição da variável por grupos etários
nas 2 situações da variável (sim no trabalho actual e apenas no trabalho passado).
Quadro 6: Ser obrigado a permanecer muito tempo de pé na mesma posição no trabalho presente ou
passado, segundo os grupos etários.
< 30 anos 30-44 anos ≥ 45 anos
Constrangimentos físicos
Presente Passado Presente Passado Presente Passado
Total
Permanecer muito tempo de pé na
mesma posição
4 1 5 2 6 4
22
(33.8%)
Deslocações profissionais
frequentes
7 1 11 3 5 7
34
(54.0%)
3.12 – Constrangimentos organizacionais e relacionais dos formadores (sua distribuição)
Em relação à variável “fazer várias coisas ao mesmo tempo” constata-se que 60.6%
(40) dos formadores estão ou estiveram expostos a este constrangimento; 39.4% (26) afirmam
nunca ter estado. Verificam-se, no entanto, diferenças significativas na distribuição por
género (X2
(2)=9.02; p<.05), são os homens que mais referem estar ou terem estado expostos a
situações de ter que fazer várias coisas ao mesmo tempo., porém, são mais as mulheres que
referem nunca ter estado. Também se verificam diferenças significativas em relações aos
grupos etários (X2
(4)=12.38; p<.05), é o grupo etário dos 30-44 anos que mais refere estar
exposto a situações de ter que fazer, na sua actividade de trabalho actual, várias coisas ao
mesmo tempo, no entanto são as mulheres que mais o referem em relação ao passado.
No que concerne à variável “frequentes interrupções” obtém-se que: 45.2% (28) dos
formadores estão ou estiveram expostos no passado a situações de frequentes interrupções na
30
sua actividade de trabalho; 54.8% (34) afirmam nunca ter estado. Verificam-se, no entanto,
diferenças significativas em relações aos grupos etários (X2
(4)=9.44; p=.05), sendo o grupo
etário dos 30-44 anos que mais refere estar exposto a situações de frequentes interrupções na
sua actividade de trabalho actual.
A análise mostra que na variável “ter que me apressar” 60.9% (39) refere estar ou ter
estado exposto a este constrangimento; 39.1% (25) afirmam nunca ter estado. Existem
diferenças significativas quanto aos grupos etários (X2
(4)=12.26; p<.05), são os formadores
que pertencem ao grupo etário dos 30-44 anos que mais referem estar expostos ao
constrangimento de terem que se apressar no exercício da sua actividade de trabalho, no
entanto são os mais velhos que mais o referem em relação ao passado.
A variável “ter que resolver problemas imprevistos sem ajuda” mostra que 70.6% (48)
dos formadores estão ou estiveram expostos a este constrangimento; 29.4% (20) refere nunca
ter estado. Verificam-se diferenças significativas quanto ao género (X2
(2)=7.46; p<.05), são
os homens que mais referem estarem ou terem estado expostos a situações de terem que
resolver situações ou problemas imprevistos sem ajuda, no entanto são as mulheres que mais
afirmam nunca terem estado expostas a este constrangimento; também existem diferenças
significativas em relação aos grupos etários (X2
(4)=12.34; p<.05), sendo que são os
formadores com 30-44 anos que mais referem ter que resolver situações ou problemas
imprevistos no seu trabalho, no entanto são os da faixa etária ≥ 45 anos que mais afirmam
estarem expostos a esses constrangimentos no passado.
Na variável “ter que suprimir ou encurtar uma refeição” verifica-se que 70.3% (45) de
formadores estão ou estiveram expostos a este constrangimento; 29.7% (19) refere nunca.
Existem diferenças significativas quanto ao género (X2
(2)=8.36; p<.05), são as mulheres que
mais referem estarem no presente expostas a situações de ter que suprimir ou encurtar uma
refeição, no entanto são os homens que mais o referem em relação ao passado. Verificam-se,
também, diferenças significativas em relação aos grupos etários (X2
(4)=12.01; p<.05), são os
formadores com 30-44 anos que mais referem ter que suprimir ou encurtar uma refeição no
presente, no entanto são os formadores mais velhos que mais o referem em relação ao
passado.
58.1% (36) dos formadores referem estar ou terem estado expostos a situações de
terem que dormir a horas pouco usuais devido à sua actividade de trabalho; 41.9% (26) refere
nunca. Verificam-se diferenças significativas quanto aos grupos etários (X2
(4)=17.14; p<.05),
é no grupo etário 30-44 anos que é mais referido estarem expostos na actualidade ao
31
constrangimento de terem que dormir a horas pouco usuais por causa do trabalho, no entanto
são os mais velhos que o mencionam em relação ao passado.
A análise da variável “ter de ultrapassar o horário normal de trabalho” mostra que:
78.8% (52) de formadores afirmam estar ou ter estado expostos a situações de terem que
ultrapassar horários normais de trabalho; 21.2% (14) afirmam nunca. Existem, porém,
diferenças significativas quanto aos grupos etários (X2
(4)=14.74; p<.05), os formadores que se
incluem no grupo etário 30-44 anos são os que mais referem ultrapassar o horário normal de
trabalho, mas são os mais velhos que o afirmam em relação ao passado.
A análise do quadro 7 permite verificar a distribuição das frequências por género, em
relações à exposição a constrangimentos do ritmo de trabalho dos formadores, no trabalho
actual ou apenas no passado.
Quadro 7: Exposição aos constrangimentos do ritmo de trabalho actual e passado, segundo o género
Constrangimentos do ritmo de
trabalho
Sim, no trabalho actual
Apenas no trabalho
passado
Total
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
Fazer várias coisas ao mesmo tempo
19
(47.5%)
12
(40.0%)
8
(22.2)
1
(3.3%)
27
(75%)
13
(43.3%)
Frequentes interrupções
12
(37.5%)
12
(40%)
4
(12.5%)
0
(0%)
16
(50%)
12
(40%)
Ter que me apressar
17
(50%)
16
(53.3%)
5
(14.7%)
1
(3.3%)
22
(64.7%)
17
(56.6%)
Resolver problemas imprevistos sem
ajuda
21
(55.3%)
19
(63,3%)
8
(21.1%)
0
(0%)
29
(76.4%)
19
(63.3%)
Ter que suprimir ou encurtar uma
refeição
16
(47.1%)
23
(76.7%)
6
(17.6%)
0
(0%)
22
(64.7%)
23
(76.7%)
Dormir a horas pouco usuais devido
ao trabalho
11
(33,3%)
13
(44.8%)
10
(30.3%)
2
(6.9%)
21
(63.6%)
15
(51.7%)
Ter de ultrapassar o horário normal de
trabalho
20
(55.6%)
23
(76.7%)
8
(22.2%)
1
(3.3%)
28
(77.8%)
24
(80%)
3.13 – Autonomia e iniciativa (sua distribuição)
A análise do quadro 8 permite verificar o grau de autonomia e iniciativa dos
formadores em relação ao exercício da sua actividade de trabalho, em todos os itens
analisados, o sim no trabalho actual ou passado é o mais representado. Verificam-se, no
entanto, diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pela variável “alterar
ordem de realização das tarefas”(X2
(4)=9.31; p=.05), os formadores que se incluem no grupo
etário 30-44 anos são os que mais referem terem a possibilidade de alterar a ordem de
realização das tarefas no seu trabalho, mas são os que têm idade ≥ 45 anos que mais o
32
afirmam em relação ao passado. Também existem diferenças significativas na distribuição das
faixas etárias pela variável “influenciar o ritmo ou velocidade de trabalho”(X2
(4)=9.32;
p=.05), são os formadores pertencentes ao grupo etário dos 30-44 anos que mais afirmam ter a
possibilidade de influenciar o ritmo ou velocidade de trabalho, mas são os mais velhos que
mais o relatam em relação ao passado.
Quadro 8: Autonomia e iniciativa dos formadores em relação à sua actividade de trabalho, no presente,
apenas no passado e nunca
Autonomia e iniciativa
Sim, no
trabalho actual
Apenas no
trabalho passado
Nunca
Total
(100%)
Alterar ordem de realização das tarefas 55 (82.1%) 4 (6.0%) 8 (11.9%) 67
Liberdade de decidir como realizar o trabalho 58 (85.3%) 3 (4.4%) 7 (10.3%) 68
Influenciar o ritmo ou velocidade de trabalho 58 (85.3%) 4 (5.9%) 6 (8.8%) 68
Tomar decisões por mim mesmo 61 (88.4%) 2 (2.9%) 6 (8.7%) 69
Escolher os momentos de pausa 46 (69.7%) 2 (3.0%) 18 (27.3%) 66
3.14 – Relações de trabalho (sua distribuição)
A análise do quadro 9 permite constatar que os formadores consideram que nas suas
relações de trabalho têm ou tinham muito em conta a sua opinião pessoal, e o facto de se
poderem exprimir à vontade. Consideram ainda ser ou ter sido muito frequente a necessidade
de inter-ajuda entre os colegas. No entanto afirmam que no seu trabalho estão ou estiveram
muito expostos ao risco de agressão verbal, e moderadamente expostos ao risco de agressão
física e de intimidação.
Existem diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelos 3 itens em
relação à variável “necessidade de inter-ajuda entre colegas” (X2
(4)=15.92; p<.05), são os
formadores da faixa etária dos 30-44 anos que mais referem ser frequente a necessidade de
inter-ajuda entre colegas (trabalho de grupo), no entanto são os mais velhos que mais o
referem em relação ao passado. Também se verificam diferenças significativas na distribuição
dos grupos etários pelos 3 itens da variável “consideração da opinião pessoal” (X2
(4)=14.28;
p<.05), são os formadores com idade compreendida entre os 30-44 anos os que mais afirmam
que é tida em consideração a sua opinião para o funcionamento do seu serviço, no entanto são
ao mais velhos que mais o referem em relação ao trabalho passado.
33
Quadro 9: As relações de trabalho dos formadores no presente, só no passado e nunca
Relações de trabalho
Sim, no
trabalho actual
Apenas no
trabalho passado
Nunca
Total
(100%)
Necessidade de inter-ajuda entre colegas 53 (79.1%) 7 (10.4%) 7 (10.4%) 67
Consideração da opinião pessoal 58 (89.2%) 4 (6.2%) 3 (4.6%) 65
Possível exprimir-se à vontade 58 (85.3%) 4 (5.7%) 6 (8.8%) 68
Exposição ao risco de agressão verbal 30 (42.9%) 5 (7.1%) 31 (47%) 66
Exposição ao risco de agressão física 25 (39.7%) 2 (3.2%) 36 (57.1%) 63
Exposição ao risco de intimidação 21 (33.3%) 4 (6.3%) 38 (60.3%) 63
3.15 – Contacto com o público (sua distribuição)
Em relação a este item verifica-se que: 74.2% (49) dos formadores afirmam existir ou
ter existido no seu trabalho contacto directo com o público em geral, apenas 25.8% (17) refere
nunca ter estado. Na distribuição da variável pelos grupos etários, verificam-se diferenças
significativas (X2
(4)=9.28; p=.05), é a faixa etária dos 30-44 anos que mais refere estar
exposto ao contacto directo com o público, no entanto é o grupo etário de ≥ 45 anos que mais
refere nunca ter estado.
Dos formadores que afirmam sim no presente ou apenas no passado, verifica-se que:
56.6% (30) têm ou tinham que suportar as exigências do público, existem, no entanto,
diferenças significativas na distribuição pelos grupos etários (X2
(4)=13.43; p<.05), é o grupo
etário dos 30-44 anos que mais afirma ter que suportar as exigências do público, mas é o
grupo etário ≥ 45 anos que mais afirma nunca estar sujeito a esse constrangimento.
Em relação ao facto de terem que se confrontar com situações de tensão nas relações
com o público 66.7% (36) afirmam estar ou ter estado sujeitos a esse constrangimento,
verificam-se, no entanto, diferenças significativas na distribuição por grupos etários
(X2
(4)=9.93; p<.05), é o grupo de formadores dos 30-44 anos que mais o refere, mas é o
grupo ≥ 45 anos que mais afirma não estar exposto a esse constrangimento; 57.4% (31) estão
ou estiveram expostos ao risco de agressão verbal do público, existem, porém, diferenças
significativas na distribuição por sexo (X2
(2)=9.59; p<.05), são as mulheres que mais referem
estarem ou terem estado expostas a agressão verbal do público, no entanto são os homens que
mais afirmam nunca estar. No que concerne à exposição ao risco de agressão física do público
verifica-se que 42.6% (23) de formadores estão ou estiveram expostos a este constrangimento.
34
3.16 – Características do trabalho (sua distribuição)
A análise do quadro 10 permite verificar que os formadores consideram que no seu
trabalho se aprende coisas novas, é um trabalho que consideram criativo, e que é reconhecido
pelas chefias e pelos colegas. Salientam, ainda, o facto de ser um trabalho muito variado com
o qual estão muito satisfeitos, que é realizável aos 60 anos e que mais de metade gostariam
que os seus filhos o efectuassem. No entanto afirmam que na sua actividade de trabalho têm
momentos de hiper-solicitação, e consideram-na, na sua maioria, complexa. Há ainda uma
quantidade aceitável de formadores que se sentem explorados.
Verificam-se diferenças significativas na forma como os grupos etários se distribuem
pelas 3 situações da variável “trabalho variado” (X2
(4)=12.70; p<.05), são os formadores do
grupo etário 30-44 anos que mais refere que o seu trabalho é variado, no entanto é o grupo de
≥ 45 anos que mais o afirma em relação ao passado, mas também os que mais referem nunca
o ser. Verificam-se diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelas 3
situações da variável “trabalho muito complexo” (X2
(4)=13.91; p<.05), são os formadores
com idade compreendida entre os 30-44 anos que mais referem que o seu trabalho é muito
complexo, no entanto são os mais velhos que mais afirmam nunca o ser, no entanto são
também estes que mais afirmam que o seu trabalho era muito complexo no passado.
Há diferenças nas distribuições do sexo pelas 3 situações da variável “trabalho com
momentos de hiper-solicitação” (X2
(2)=9.48; p<.05), são as mulheres que mais referem que o
seu trabalho tem momentos de hiper-solicitação, no entanto são os homens que mais o
afirmam em relação ao passado, mas também os que mais afirmam nunca os ter. Existem
também diferenças na distribuição dos grupos etários pela variável (X2
(4)=18.75; p<.05), é o
grupo etário dos 30-44 anos que mais refere que o seu trabalho tem momentos de hiper-
solicitação, mas são os mais velhos que o referem em relação ao passado. Verificam-se, ainda,
diferenças na distribuição do sexo pelas 3 situações da variável “trabalho reconhecido pelas
chefias ” (X2
(2)=6.65; p<.05), são os homens que mais afirmam que o seu trabalho é ou era
reconhecido pelas chefias, no entanto são as mulheres que mais afirmam não o ser. Há
também diferenças na distribuição por grupos etários (X2
(4)=9.35; p=.05), é o grupo etário 30-
44 anos que mais o refere, no entanto são os mais velhos que o referem em relação ao
passado.
Existem diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelas situações da
variável “trabalho realizável aos 60 anos” (X2
(4)=10.64; p<.05), é o grupo dos 30-44 anos que
mais o refere, os mais velhos são os que mais o afirmam em relação à sua actividade de
35
trabalho no passado. Verificam-se, também, diferenças significativas na distribuição dos
grupos etários pelas 3 situações da variável “trabalho que gostariam que os filhos
realizassem” (X2
(4)=10.30; p<.05), é o grupo etário dos 30-44 anos que mais o refere, mas os
mais velhos são os que mais o expõem em relação ao trabalho passado. Refira-se o facto de
haver uma discrepância entre aqueles que consideram que o seu trabalho, enquanto formador,
é realizável aos 60 anos e os que consideram que gostariam que os seus filhos o praticassem
(53 e 38, respectivamente).
Quadro 10: As características do trabalho dos formadores no presente, só no passado e nunca
Características do trabalho
Sim, no
trabalho actual
Apenas no
trabalho passado
Nunca
Total
(100%)
Trabalho onde se aprende coisas novas 63 (96.9%) 2 (3.1%) 0 65
Trabalho variado 54 (83.1%) 6 (9.2%) 5 (7.7%) 65
Trabalho criativo 58 (90.6%) 2 (3.1%) 4 (6.3%) 64
Trabalho muito complexo 41 (63.1%) 4 (6.2%) 20 (30.8%) 65
Trabalho com momentos de hiper-solicitação 43 (69.4%) 6 (9.7%) 13 (21%) 62
Trabalho reconhecido pelos colegas 55 (85.9%) 5 (7.8%) 4 (6.3%) 64
Trabalho reconhecido pelas chefias 55 (88.7%) 5 (7.1%) 2 (3.2%) 62
Trabalho realizável aos 60 anos 49 (75.4%) 4 (6.2%) 12 (18.5%) 65
Trabalho em que se sentem explorados 17 (26.6%) 6 (9.4%) 41 (64.1%) 64
Trabalho que gostariam que os filhos realizassem 35 (58.3%) 3 (5%) 22 (36.7%) 60
Trabalho com o qual estão satisfeitos 56 (84.8%) 8 (12.1%) 2 (3%) 66
3.17 – Condições de vida fora do trabalho
Questionaram-se os formadores sobre a problemática da conciliação da vida de
trabalho com a vida fora dele, assim como o tempo despendido, por dia, em tarefas
domésticas e/ ou de apoio familiar e verifica-se que: existem diferenças significativas de
médias entre o género, em relação à característica da conciliação da vida de trabalho com a
vida fora dele. Embora ambos os sexos refiram conseguir conciliar a vida de trabalho com a
vida fora dele, são as mulheres que menos o conseguem t(67)=-2.05, p<.05; homens, M=2.63,
DP=1.33, mulheres, M=3.31, DP=1.42). Se tivermos em conta a mesma característica e a
variável “idade”, verifica-se uma correlação significativa (r=-.36; p<.05), o que nos dá
indicadores de que quanto maior é a idade menos os formadores conseguem conciliar a vida
36
de trabalho com a vida fora dele, mas se dividirmos por género isso só se verifica nos homens,
i.e., as mulheres com o avançar da idade não o consideram.
O tempo despendido em média, por dia, pelos formadores em tarefas domésticas e/ ou
apoio familiar é de 139.22 minutos, (131.13 pelos homens e 150.13 pelas mulheres).
3.18 – O que consideram os formadores ser mais penoso na seu trabalho
Este item pretende reflectir sobre o vivido subjectivo dos formadores face às
condições a que se encontram expostos. No sentido de interpretar os constrangimentos que daí
derivam, e perceber a análise de diferenças significativas nas variáveis “sexo” e “grupos
etários” e nas variáveis em estudo relacionadas, foram realizadas análises de variância “One-
way” ANOVA, seguidas de comparações “post-hoc” com o teste de LSD e “t-tests” para
amostras independentes. Os formadores responderam aos itens numa escala de 7 pontos (1 =
muito incómodo, 2 = bastante incómodo, 3 = incómodo significativo, 4 = nem muito nem
pouco incómodo, 5 = algum incómodo, 6 = pouco incómodo, 7 = nenhum incómodo). Só se
fará referência às variáveis com efeitos significativos. Calculou-se também o Alpha de
Cronbach de todos os itens para medir a sua consistência interna.
3.19 – Ambiente e constrangimentos físicos no trabalho (comparações)
(α Cronbach =.98)
Analisaram-se as respostas dos sujeitos e verificou-se que existem diferenças
significativas entre os grupos etários na resposta à variável “causa-me incómodo trabalhar
com ruído”, interpretando os resultados, verifica-se que são as pessoas que têm 45 anos ou
mais, as que se sentem menos incomodadas a trabalhar com ruído, não existindo diferenças no
incómodo sentido a trabalhar com ruído, nas pessoas dos outros 2 grupos etários
(F(2,47)=4.3, p<.05; M=1.75, DP=.71, M=2.46, DP=1.74, M=3.8, DP=2.36, respectivamente
para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos).
Fez-se o mesmo grupo de análises para a variável género e verificou-se não existirem
diferenças significativas.
37
3.20 – Constrangimentos organizacionais e relacionais (comparações)
(α Cronbach =.92)
Existem diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à variável “causa-
me incómodo ter que depender do trabalho de colegas”, são os formadores mais velhos os que
sentem menos incómodo por estarem dependentes do trabalho de colegas, porém só existem
diferenças significativas, em relação à variável em estudo, entre o grupo de formadores com
30-44 anos e os restantes grupos etários (F(2,34)=6.83, p<.05; M=4.67, DP=1.94, M=2.69,
DP=1.58, M=5.17, DP=2.17, respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos).
Também se verificam diferenças significativas entre as os grupos etários em relação à
variável “causa-me incómodo ter que suprimir ou encurtar uma refeição, ou nem realizar uma
pausa do trabalho”, são os sujeitos mais velhos os que se sentem menos incomodados com
este constrangimento, existem, no entanto diferenças significativas nas combinações entre
todos os grupo etários (F(2.47)=7.09, p<.05; M=2.00, DP=1.27, M=3.50; DP=1.84, M=4.87,
DP=2.39, respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos).
Fez-se o mesmo grupo de análises para a variável género e verificou-se não existirem
diferenças significativas.
3.21 – Relações de trabalho (comparações)
(α Cronbach =.97)
Verificam-se diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à variável
“causa-me incómodo estar exposto ao risco de intimidação”, a análise dos resultados permite
verificar que são os formadores com idade ≥ 45 anos os que se sentem menos incomodados
com o facto de estarem expostos ao risco de intimidação, só existem, porém, diferenças
significativas entre o grupo etário dos formadores mais velhos e os mais novos, não existindo,
no entanto, em nenhuma combinação com o grupo etário dos 30-44 anos (F(2,36)=3.47,
p<.05; M=1.50, DP=.76, M=2.29, DP=1.86, M=3.79, DP=2.78, respectivamente para <30
anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos).
Também existem diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à
variável “causa-me incómodo estar exposto ao risco de discriminação sexual”, são novamente
os formadores mais velhos os que se sentem menos incomodados com o facto de estarem
expostos, no seu trabalho, ao risco de discriminação sexual, não existindo diferenças em
38
relação a este constrangimento, nos formadores dos outros 2 grupos etários F(2,32)=3.70,
p<.05; M=1.33, DP=.52, M=2.25, DP=2.11, M=4.15, DP=3.05, respectivamente para <30
anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos).
Verificam-se ainda diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à
variável “causa-me incómodo estar exposto ao risco de discriminação relacionada com a
idade”, são os sujeitos mais velhos os que se sentem menos incomodados em estarem
expostos a este constrangimento, não existindo diferenças no incómodo sentido a trabalhar ao
estar exposto ao risco de discriminação quanto à idade, nos formadores dos outros 2 grupos
etários F(2,31)=3.54, p<.05; M=1.20, DP=.45, M=2.12, DP=1.73, M=3.92, DP=3.06,
respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos).
Fez-se o mesmo grupo de análises para a variável género e não se verificaram
diferenças significativas.
3.22 – Contacto com o público (comparações)
(α Cronbach =.76)
A análise das respostas dos sujeitos, permitiu verificar que existem diferenças
significativas entre os grupos etários na resposta à variável “causa-me incómodo ter que
suportar as exigências do público”, são os formadores com idade ≥ 45 anos os que se sentem
menos incomodados com o facto, de no seu trabalho, causar incómodo ter que suportar as
exigências do público, existem diferenças significativas entre o grupo 30-44 anos e os outros
2 grupos etários, o mesmo não se verifica entre o grupo etário <30 anos e ≥ 45 anos
(F(2,43(=5.74, p<.05; M=5.00, DP=1.95, M=3.57, DP=1.43, M=5.36, DP=1.69,
respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos).
Também existem diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à
variável “confrontar-me com situações de tensão nas relações com o público”, são novamente
os mais velhos que se sentem menos incomodados com o facto de se terem que confrontar
com o referido constrangimento, não existem porém diferenças entre os formadores dos
outros 2 grupos etários (F(2,48)=4.68, p<.05); M=3.85, DP=1.73, M=3.83, DP=1.40, M=5.33,
DP=1.76, respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos).
Verificam-se ainda diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à
variável “ter que dar resposta às dificuldades ou sofrimento de outras pessoas”, os formadores
com ≥ 45 anos são os que se sentem menos incomodados se no trabalho tiverem que dar
39
resposta às dificuldades ou sofrimento de outras pessoas, existindo somente diferenças entre o
grupo dos formadores mais velhos e os que tem idade entre 30-44 anos (F(2,44)=3.57, p<.05;
M=4.45, DP=1.81, M=3.55, DP=1.68, M=5.21, DP=2.12, respectivamente para <30 anos, 30-
44 anos e ≥ 45 anos).
Fez-se o mesmo grupo de análises para a variável género e não se verificaram
diferenças significativas.
3.23 – Características do trabalho (comparações
(α Cronbach =.86)
Verificam-se diferenças significativas entre o género na resposta à variável “causa-me
incómodo ter um trabalho que exige longos períodos de concentração intensa”, as mulheres
sentem-se menos incomodadas que os homens quando o trabalho exige longos períodos de
concentração intensa (t(48)=-2.28, p<.05; homens: M=4.64, DP=1.73, mulheres: M=5.76,
DP=1.74).
Fez-se o mesmo grupo de análises para a variável “grupos etários” e verificou-se não
existirem diferenças significativas.
3.24 – Formação e Trabalho
Neste item analisam-se as questões que permitem fazer uma caracterização do tipo de
formação efectuada pelos formadores, e em que medida esta se relaciona com a sua actividade
de trabalho, da análise estatística verifica-se que: 48 formadores (29 homens e 19 mulheres)
afirmam ter tido formação nos últimos 12 meses, e 19 afirmam não ter tido (9 e 10,
respectivamente); na distribuição por grupos etários, tendo em conta o facto de terem tido
formação no último ano, verifica-se que 9 têm <30 anos; 27 entre 30-44 anos e 12 ≥ 45 anos.
Existem diferenças significativas na distribuição dos grupos etários (X2
(2)=6.91; p<.05), são
os formadores com idade compreendida entre 30-44 anos que mais afirmam ter frequentado
formação e os mais velhos os que menos frequentaram, o que nos dá indicadores de que os
formadores com o avançar da idade realizam menos formação.
Os formadores realizaram em média 2.73 formações por ano, a participação nas acções
de formação devem-se aos seguintes motivos: 32 afirmam ter realizado a formação por
iniciativa própria, 10 porque foi determinado pela empresa, 5 referem ambas as situações.
40
Segundo estes profissionais a formação estava relacionada com: a actual situação de trabalho
(18), um futuro trabalho (2), interesses gerais (5), mais do que uma das alternativas anteriores
(23).
A análise do quadro 11 permite verificar que são os formadores com 5-9 anos de
experiência, aqueles que mais frequentaram formação. Se tivermos em conta o mesmo tempo
de experiência, por agrupamento, verifica-se um decréscimo gradual das acções de formação,
em função do tempo de trabalho, enquanto formadores, a tendência é, portanto, que com a
experiência os formadores participam menos em acções formativas.
Quadro 11: Distribuição da formação em função dos anos de experiência enquanto formador
Experiência como formador em anosFormação nos
últimos 12 meses < 1 ano [1-2[ [2-5[ [5-10[ [10-20[ ≥ 20
Total
Sim 2 7 7 14 11 7 48
Não 1 1 2 13 8 4 19
Total 3 8 9 17 9 11 67
3.25 – Saúde no Trabalho
Nesta fase, analisam-se as questões relativas à saúde e trabalho, em 3 domínios
particulares: a identificação dos acidentes de trabalho e doenças profissionais, que o formador
possa ter sofrido ou as situações que deflagraram numa doença profissional; informações
sobre riscos profissionais, protecção e prevenção contra os mesmos; e por último as questões
de saúde relacionadas com problemas físicos e psicossociais.
3.26 – Acidentes de trabalho e doenças profissionais
Ao analisarmos a variável “tive já um acidente de trabalho” verificamos que apenas 7
formadores tiveram um acidente de trabalho (6 homens e 1 mulher), sendo os mais velhos que
mais o referem, no entanto ninguém afirma ter ficado com uma incapacidade reconhecida. Em
relação ao facto de terem ou terem tido uma doença profissional, apenas 1 homem o refere (≥
45 anos) e identifica a doença como sendo gastrite, mas não ficou com nenhuma incapacidade
reconhecida. No que concerne à abstenção ao trabalho, só 9 formadores (4 homens e 5
mulheres) é que afirmam ter tido necessidade de faltar ao trabalho mais que 3 dias, nos
41
últimos 12 meses, sendo o grupo etário 30-44 anos os que mais tiveram necessidade de o
fazer, os motivos evocados foram: 1 por acidente de trabalho, 2 por problemas relacionados
com filhos ou família, e 6 por outros problemas de saúde. Facto curioso é que são os
formadores que estão numa situação laboral a recibo verde ou factura, os que faltaram menos
(6 dos que faltaram têm contrato efectivo ou contrato sem termo, e 3 estão a recibo verde ou
factura).
3.27 – Informação sobre riscos profissionais
As mulheres consideram ter menos informação sobre os riscos resultantes do seu
trabalho que os homens (M=3.48, DP=1.55, M=2.85, DP=1.83, respectivamente), não existem
porém diferenças significativas entre eles (t(65)=-1.47, ns), nem diferenças significativas
entre grupos etários (F(2,64)=1.11, ns). A média de resposta dos 56 formadores, que
responderam, em relação ao facto de considerarem que no seu trabalho, existe preocupação
em minimizar os seus riscos é (M=3.27; 26.8% situa-se entre o muita informação e alguma),
i.e., no geral consideram haver alguma informação, no entanto 16.1% estão situados entre o
nem muita nem pouca informação e nenhuma.
3.28 – Saúde e trabalho
Analisando a variável “considero que a minha saúde e segurança estão ou foram
afectados devido ao trabalho que realizo”, verifica-se que (M=5.08), ou seja, os formadores
no geral consideram que a sua saúde e segurança foram pouco afectadas pelo seu trabalho,
não existindo diferenças significativas nem quanto ao género (t(60)=-1.33, ns), nem quanto
aos grupos etários (F(2,59)=.02, ns).
3.29 – Problemas de saúde
O quadro 12 permite analisar os problemas de saúde físicos e psicossociais mais
mencionados pelos formadores, assim como se os ditos problemas foram causados ou
agravados pelo trabalho, cria-se assim, uma associação que o trabalhador estabelece, ou não,
entre os seus reais problemas de saúde e as características e condições da sua actividade de
trabalho actual ou passada.
42
Existem diferenças significativas na distribuição das faixas etárias pelos 2 níveis da
variável “problemas de visão” (X2
(2)=7.64, p<.05), é o grupo etário dos < 30 anos quem mais
refere ter ou ter tido este problema de saúde, 29.4% dos formadores menciona que os seus
problemas de visão foram causados pelo seu trabalho ou agravado/ acelerado pelo mesmo.
Verificam-se, também, diferenças significativas na distribuição do género pelos 2
níveis da variável “problemas nervosos”, (X2
(1)=4.24, p<.05), são as mulheres as que mais
referem ter ou ter tido este problema de saúde. Saliente-se, o facto, de que 90% dos
formadores que afirmam ter problemas nervosos os atribuir ao seu trabalho ou então os terem
agravado/ acelerado por culpa do mesmo. Ao analisarmos a distribuição da idade pela
variável “problemas nervosos”, verifica-se uma correlação significativa (r=.34; p<.05), o que
sugere que com o avançar da idade este problema de saúde ganha mais visibilidade.
Existem, ainda, diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelos 2
níveis da variável “dores de cabeça”, (X2
(2)=19.28, p<.001), são os formadores mais novos
que mais afirmam ter este problema, porém são os que têm entre 30-44 anos os que mais
dizem não o ter tido; 66.7% dos formadores que afirmam ter ou ter tido dores de cabeça,
referem que o seu problema foi causado pelo seu trabalho ou agravado/ acelerado por ele. No
entanto, se tivermos em conta a distribuição da variável “idade” pela variável “dores de
cabeça” existe uma correlação significativa (r=.40; p<.05), o que nos permite afirmar que
com o avançar da idade os problemas de saúde relacionados com as dores de cabeça,
avolumam-se.
Verificam-se, também diferenças significativas na distribuição do género pelos 2
níveis da variável “stress” (X2
(1)=6.33, p<.05), concretamente são as mulheres que mais
afirmam ter ou ter tido este problema de saúde, no entanto, ao efectuarmos a divisão por
grupos etários, verificamos que é no grupo dos 30-44 anos que o stress é mais mencionado
pelas mulheres, existindo mesmo diferenças significativas (X2
(1)=7.74, p<.05). Realce-se, o
facto, de que todos os formadores que mencionam este problema de saúde o atribuírem ao seu
trabalho ou então ter sido agravado/ acelerado pelo mesmo. Se considerarmos o estado civil
dos formadores, e tivermos em conta os que afirmam sofrer de stress, verificamos que são os
casados aqueles que mais mencionam sofrer de stress como consequência do seu trabalho.
No cruzamento da variável “fadiga geral – relação com o trabalho” com a variável
“grupos etários” verificam-se diferenças significativas na distribuição pelos 3 níveis da
primeira variável (X2
(4)=10.92, p<.05), são os formadores do grupo etário 30-44 anos que
mais referem que a fadiga geral foi causado pelo seu trabalho, no entanto são os mais novos
que mais afirmam que a doença foi agravada/ acelerada pelo mesmo. A distribuição mostra
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As Condições de Trabalho e de Saúde dos Formadores na Formação Profissional

  • 1. José Luís Marques Gomes da Costa AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E DE SAÚDE DOS FORMADORES NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL Dissertação no âmbito de Mestrado Integrado em Psicologia 2008
  • 2.
  • 3. Universidade do Porto Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto As condições de trabalho e de saúde dos formadores na formação profissional Dissertação apresentada pelo aluno José Luís Marques Gomes da Costa na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, para obtenção do grau de Mestre em Psicologia, sob a orientação da Professora Doutora Marta Zulmira Carvalho dos Santos. Julho de 2008
  • 4. II RESUMO Esta investigação incide sobre o trabalho dos formadores, num centro de formação profissional, e tem como principal objectivo dar visibilidade aos efeitos do trabalho na saúde dos mesmos. Procura-se reflectir sobre as causas que determinam os constrangimentos sentidos pelos formadores, assim como os factores que influenciam o seu estado de saúde, fazendo referência aos principais indicadores de problemas de saúde físicos e psicossociais. Outro dos seus objectivos é dar pistas de pesquisa e intervenção que forneçam indicadores de relevância para posteriores análises. Para cumprir estes objectivos foi utilizado o inquérito INSAT que visa o estudo das consequências e condições de trabalho, actuais e passadas, ao nível da saúde e do bem-estar. O processo desta investigação utiliza metodologias quantitativas, constituindo-se como um estudo descritivo, procurando articular com os momentos de pesquisa empírica e os momentos de reflexão que derivam dos resultados alcançados. Os resultados obtidos evidenciam uma forte incidência de factores, que constituem indicadores preocupantes de mal-estar profissional dos formadores, o stress, sintomas de irritabilidade, fadiga geral, problemas de sono, problemas nervosos, dores de costas, dores de cabeça, problemas de voz e problemas digestivos, são associados ao seu trabalho, enquanto formadores, e têm reflexos no seu estado de saúde. A forte incidência de stress e a evidência de factores que potenciem o burnout, apresentam-se como as causas que mais afectam o estado físico e psicológico dos formadores, com reflexos no seu desempenho profissional. Foram encontradas diferenças significativas, de género e grupos etários, que revelam quais os factores que mais afectam os homens e as mulheres, assim como a sua distribuição pela idade. Mas também se encontraram resultados que não podem ser negligenciados e que relacionam o vínculo laboral com os problemas de saúde: o estatuto precário de trabalho a que estão sujeitos muitos formadores, interfere negativamente com a percepção do seu estado de saúde. Os resultados, desta investigação, na sua generalidade, dão indicadores da importância de dar a conhecer as condições em que os formadores trabalham e sugerem a necessidade de se levarem a cabo estratégias de apoio a formadores, tanto no local de exercício da sua actividade de trabalho, como em contextos específicos de formação no sentido de permitir uma reflexão sobre o seu trabalho e a sua saúde, de forma a potenciar o desenvolvimento pessoal destes trabalhadores ao mesmo tempo que se aumenta a margem de manobra para a transformação das situações.
  • 5. III ABSTRACT This investigation focus on the work of trainers in a centre of professional formation and its main goal is to give visibility to the effects of work in trainer’s health. This investigation tries to reflect about the causes that provoke the constraints demonstrated by trainers, as well as the factors which influence their health condition, referring to the main indicators of physical health and psychosocial problems. This investigation has also the goal of give traces of research and intervention, in order to provide relevant indicators to future analysis. In order to match these goals, it was used the INSAT inquiry. This inquiry analyses the consequences and the present and past work conditions when it comes to health and well-being. The process of this investigation uses quantitative methodologies, which gives it the shape of a descriptive study. There is an articulation between the moments of empirical research and the moments of reflexion, a consequence of the results of the meditation. The obtained results show a strong importance of factors which constitute worrying indicators of professional distress in trainers. Stress, irritability, general tiredness, sleeping disturb, nervousness problems, back aching, headaches, voice problems and dysfunction at the digestive system are linked to the formation activity of trainers in an obvious negative way. The huge stress to which trainers are submitted and the evidence of factors which strengthen the burnout, present themselves as the most influent causes in the physical and psychological state of trainers and, therefore, their professional performance. There were found significant differences of gender and age, which is very revealing of what is more prejudicial to man and to women, having their age in consideration, as well. However, there are also factors that mustn’t be neglected. These factors relate the labour contract with health problems: the precarious working status of trainers does affect their health conditions in a very strong way. The results of this investigation give indicators of the importance of showing the labour conditions of these workers and they suggest the necessity of develop strategies in order to support trainers both at the place where they exercise their profession and in specific contexts of formation, in order to allow a meditation about their professional activity and their health, so they can improve their personal development, while doors are open to the transformation of situations.
  • 6. IV RÉSUMÉ Cette recherche concerne le travail des formateurs, dans un centre de formation professionnelle, et a comme principal objectif donner visibilité aux effets du travail dans la santé des mêmes. On a comme but réfléchir sur les causes qui déterminent les contraintes éprouvées par les formateurs, ainsi que les facteurs qui influencent leur état de santé, en faisant référence aux principaux indicateurs de problèmes de santé physiques et psico- sociaux. En outre, on prétend donner des voies de recherche et d´intervention qui fournissent des indicateurs importants pour des analyses postérieures. Pour accomplir ces objectifs on a utilisé l'enquête INSAT qui vise l'étude des conséquences et des conditions de travail, actuelles et passées, au niveau de la santé et du bien-être. Le processus de cette recherche utilise des méthodologies quantitatives, en se constituant comme une étude descriptive, en cherchant à articuler avec les moments de recherche empirique et les moments de réflexion qui dérivent des résultats atteints. Les résultats obtenus prouvent une forte incidence de facteurs, qui constituent des indicateurs préoccupants de malaise professionnel des formateurs, le stress, des symptômes d'irritabilité, de fatigue générale, des problèmes de sommeil, des problèmes nerveux, du mal au dos, du mal à la tête, des problèmes de voix et des problèmes digestifs, sont associés à leur travail tant que formateurs, et ont des réflexes dans leur état de santé. La forte incidence de stress et l'évidence de facteurs qui exploitent le burnout, se présentent comme les causes qui affectent le plus l'état physique et psychologique des formateurs, avec des réflexes dans leur performance professionnelle. On a trouvé des différences significatives, de type et de groupes d´âge, qui révèlent les facteurs qui affectent le plus les hommes et les femmes, ainsi que leur distribution par l âge. Mais on a trouvé aussi des résultats qui ne peuvent pas être négligés et qui mettent en rapport le lien de travail avec les problèmes de santé: le statut précaire de travail auquel beaucoup de formateurs sont sujets, interfère négativement sur la perception de leur état de santé. Les résultats de cette recherche, dans leur généralité, donnent des indicateurs de l'importance de faire connaître les conditions où les formateurs travaillent et suggèrent la nécessité de mettre en marche des stratégies d’aide vis-à-vis des formateurs, non seulement dans le lieu de travail, mais aussi dans des contextes spécifiques de formation dans le but de permettre une réflexion sur leur travail et leur santé, de manière à exploiter le développement personnel de ces travailleurs, au même temps qu´on augmente la marge de manoeuvre pour la transformation des situations.
  • 7. V AGRADECIMENTOS A todos os formadores do FOR-MAR, pelo profissionalismo, paciência, simpatia e pela forma como partilharam os seus saberes. Com eles foi possível reflectir sobre o seu trabalho e adquirir conhecimentos úteis. À Professora Doutora Marta Santos pela orientação, sugestões, disponibilidade, confiança que soube transmitir e apoio dado, que se revelou de extrema importância para a realização desta tese. À Maria João e ao Filipe pela preciosa ajuda nas traduções. À Juliana que estando longe, sempre me apoiou, a quem devo motivação, força de vontade e muito carinho. Aos amigos, Carlos, Irene, Joana, Lucília e em especial à Helena por me apoiarem sempre que foi necessário, mas também aos outros por se revelarem compreensivos. À Piá porque foi a companhia de muitas e muitas horas, sempre esteve comigo e ajudou-me a tornar tudo mais simples. Deixou muitas saudades, mas ficará para sempre na minha memória.
  • 8. VI ABREVIATURAS EVREST – Évolutions et Relations en Santé au Travail FOR-MAR – Centro de Formação Profissional das Pescas e do Mar INSAT – Inquérito, Saúde e Trabalho IPSSO – Instituto de Prevenção do Stress e Saúde Ocupacional SIT – Saúde, Idade e Trabalho SPSS – Statistical Package for the Social Sciences SUMER – Surveillance Médicale des Risques Professionnels
  • 9. 1 ÍNDICE INTRODUÇÃO 4 CAPÍTULO I – DOS FORMADORES AOS PROFESSORES: PONTOS COMUNS E DESCONTINUIDADES 7 1.1 – Principais conceitos presentes na revisão da literatura 8 1.2 – Conceito de stress, natureza transacional e os seus reflexos nos docentes 8 1.3 – O burnout nos professores 10 1.4 – Sofrimento e solidão dos professores 11 1.5 – Principais resultados dos estudos realizados em Portugal 12 1.6 – Principais resultados de estudos realizados em outros países 15 CAPÍTULO II – MÉTODO 18 2.2 – Instrumentos 20 2.3 – A composição do inquérito INSAT 20 2.4 – Procedimento 21 CAPÍTULO III – RESULTADOS 22 3.1 – A análise e tratamento dos dados 23 3.2 – Distribuição do nível de escolaridade dos formadores por grupos etários 23 3.3 – Experiência como formador 24 3.4 – Tipos, domínios e locais da formação 24 3.5 – O trabalho dos formadores 25 3.6 – Actividade de trabalho principal 25 3.7 – Situação laboral 26 3.8 – O horário de trabalho 26 3.9 – Horas de trabalho e relação com a idade 27 3.10 – Condições e características do trabalho dos formadores 27 3.11 – Ambiente e constrangimentos físicos dos formadores (sua distribuição) 28 3.12 – Constrangimentos organizacionais e relacionais dos formadores (sua distribuição) 29 3.13 – Autonomia e iniciativa (sua distribuição) 31 3.14 – Relações de trabalho (sua distribuição) 32 3.15 – Contacto com o público (sua distribuição) 33
  • 10. 2 3.17 – Condições de vida fora do trabalho 35 3.18 – O que consideram os formadores ser mais penoso na seu trabalho 36 3.19 – Ambiente e constrangimentos físicos no trabalho (comparações) 36 (α Cronbach =.98) 36 3.20 – Constrangimentos organizacionais e relacionais (comparações) 37 3.22 – Contacto com o público (comparações) 38 3.23 – Características do trabalho (comparações 39 3.24 – Formação e Trabalho 39 3.25 – Saúde no Trabalho 40 3.26 – Acidentes de trabalho e doenças profissionais 40 3.27 – Informação sobre riscos profissionais 41 3.28 – Saúde e trabalho 41 3.29 – Problemas de saúde 41 3.30 – Situação laboral e a relação com problemas de saúde dos formadores 44 3.31 – Problemas de saúde dos formadores e em que medida são ou foram afectados pelo seu trabalho 45 CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES 47 4.1 – Discussão dos resultados 48 4.2 – Variações nos problemas de saúde e diferenças significativas de género 50 4.3 – Variações nos problemas de saúde e diferenças significativas entre grupos etários 51 4.4 – Conclusões 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 57
  • 11. 3 ÍNDICE DE ANEXOS Anexo 1 – Inquérito Saúde e Trabalho
  • 13. 5 INTRODUÇÃO O estudo que aqui apresentamos, incide sobre o trabalho dos formadores e tem como principal objectivo, compreender a ausência de visibilidade dos efeitos do trabalho na saúde dos mesmos, reconhecendo factores relacionados como: a identificação das competências que estão realmente em jogo no trabalho dos formadores; identificar as estratégias individuais e colectivas na construção dos seus saberes profissionais, assim como as condições de aprendizagem que influenciam o seu desenvolvimento; perceber as causas que determinam os constrangimentos sentidos pelos formadores, assim como os factores que influenciam o seu estado de saúde, fazendo referência aos principais indicadores de problemas de saúde físicos e psicológicos. A total inexistência, no nosso país, de estudos relativos às condições de trabalho e os seus efeitos sobre a saúde dos formadores, dificulta o conhecimento dos factores relacionados com as suas condições de trabalho, e que estão relacionados com as dificuldades de inserção profissional, desenvolvimento das suas próprias competências como formadores, pôr em prática os conhecimentos adquiridos em termos académicos quanto à sua transferibilidade, variabilidade dos locais de exercício profissional das actividades, status, e ainda problemas relacionados com a fadiga, stress, etc. – e que provocam constrangimentos com repercussões no seu próprio estado de saúde. Este facto levou-nos a fazer uma pesquisa sobre investigações realizadas com a saúde dos professores, dado ser a profissão com mais factores convergentes (ambas têm em comum exercer funções de educação, socialização e de criação de condições de aprendizagem), e que ajudem a compreender o que se passa com os formadores. Relativamente à profissão docente, sabemos que as múltiplas exigências do mundo actual e as mudanças socioeducativas são factores com forte incidência na saúde e bem-estar dos docentes, o que levou a Organização Internacional do Trabalho em 1981, a considerá-la como uma profissão de risco físico e mental, considerando o stress profissional como uma das principais causas de abandono desta profissão. O mal-estar dos docentes tem associado vários factores: pessoais; relação com os alunos, colegas e encarregados de educação; processo ensino-aprendizagem; condições de trabalho; contexto sócioeducativo; comportamentos emocionais e cognitivos. Este fenómeno, segundo Nóvoa, Hameline, Sacristão, Esteve, Woods e Cavaco, (1991), está relacionado com a insatisfação profissional, o stress, o absentismo, o desejo do abandono da profissão, o baixo desempenho profissional, e que em situações de gravidade elevada poderá traduzir-se em estados de tensão, depressão e até de
  • 14. 6 exaustão (burnout). Consideram-se, então, dois factores que afectam directamente os professores no exercício da sua actividade: factores organizacionais do qual se destaca a sobrecarga de trabalho; e factores sociais do qual destacamos o estatuto e imagem social do professor, que no contexto actual está claramente desvalorizada. Outros autores consideram, porém, que os problemas relacionados com o mal-estar dos professores, iniciam-se com problemas de fadiga, evoluindo depois para perturbações do sono, modificações de comportamento (como irritabilidade e agressividade), e da actividade intelectual, sendo que a sua intensificação dá lugar a problemas digestivos e cardiovasculares. A combinação deste conjunto de desequilíbrios pode reflectir-se posteriormente a nível psíquico. Este trabalho está organizado em quatro grandes momentos: na primeira parte desta tese recorremos a estudos sobre a saúde dos professores, e que se tornem pertinentes para a investigação, o que levou a fazer referência aos três aspectos que são mais alvo de reflexão: o stress profissional dos docentes, o burnout, e o sofrimento e solidão dos mesmos. Na segunda parte apresentamos a metodologia utilizada na realização deste estudo. Na terceira parte os resultados, procurando respeitar a disposição original do Inquérito, Saúde e Trabalho, aqui utilizado, para melhor compreensão das consequências e condições de trabalho, actuais e passadas, dos formadores, ao nível da saúde e do bem-estar. No final surgem as conclusões e reflexões, e procura-se compreender as causas e os constrangimentos da actividade de trabalho dos formadores, e que têm repercussões no seu estado de saúde. O processo desta investigação utiliza metodologias quantitativas, constituindo-se como um estudo descritivo, procurando articular com os momentos de pesquisa empírica e os momentos de reflexão que derivam dos resultados alcançados.
  • 15. Capítulo I – Dos formadores aos professores: pontos comuns e descontinuidades
  • 16. 8 1. Dos formadores aos professores: pontos comuns e descontinuidades A actividade de formador difere da de professor, embora se considerem existir vários factores convergentes que se prendem com o acto de ensinar. Os constrangimentos sentidos no exercício da actividade de trabalho têm, em ambos os casos, implicações na saúde e no seu bem-estar profissional. Mas a inexistência de estudos científicos que se debrucem exclusivamente sobre o trabalho dos formadores, e desta forma dar-lhes visibilidade social, implica que analisemos o que se passa com os professores para compreendermos os problemas que lhes estão relacionados e poder associá-los aos factores que originam a insatisfação dos formadores. 1.1 – Principais conceitos presentes na revisão da literatura Na revisão da literatura sobre estudos realizados com professores, que a seguir se apresentam, o stress, o burnout e o sofrimento e solidão dos docentes, são referidas como as causas que mais afectam o estado físico e psicológico dos docentes, com implicações no seu bem-estar profissional, constituindo-se como os factores alvo de reflexão. Importa, por isso, perceber a forma como são definidos nas investigações referidas. 1.2 – Conceito de stress, natureza transacional e os seus reflexos nos docentes Em praticamente todos os estudos o stress é considerado como um dos principais factores que afectam o estado de saúde dos professores, o que leva a literatura actual, no domínio do stress ocupacional, a chamar a atenção para a elevada prevalência deste factor nos profissionais do ensino, dando ênfase a factores ligados à organização do trabalho, factores físicos e psicológicos e factores ergonómicos. A profissão de docente privilegia a relação interpessoal, e é carregada de conteúdo emocional e responsabilidade. Tem por isso, razões intrínsecas de exposição ao stress. Truch (1980) afirma mesmo que o ensino constitui uma actividade deveras exigente, gerando níveis de stress superiores a outras profissões. A sua forte incidência levou a várias reflexões sobre a sua origem, a sua natureza transacional e os seus reflexos nos docentes, sendo interpretado da seguinte forma pela literatura.
  • 17. 9 Segundo Mota-Cardoso e colaboradores (2002) o stress é um estado de tensão entre a individualidade, sempre em formação, sempre incompleta, sempre em devir, de cada um e o meio (externo e interno) que lhe está associado, e que compele o sujeito singular a novas exigências, desafios, ameaças, sobrecargas e obstáculos, e que obrigam à sua superação. Em relação à profissão de professor Kyriacou e Sutcliffe (1979, citados por Mota-Cardoso et al, 2002) descrevem o stress profissional dos docentes como uma sindroma de aspectos negativos (como a raiva ou a depressão), e que está associado a mudanças fisiológicas com potencialidades patogénicas (como o aumento do ritmo cardíaco), e que surge, quer como resposta ao ritmo de trabalho do professor, sendo mediado pela percepção de que as exigências com que se confronta constituem ameaça ao seu bem-estar e auto-estima; quer por mecanismos de coping que tendem a diminuir a ameaça percepcionada. Quando o docente é capaz de neutralizar o stress, é porque consegue lidar eficazmente com a situação, de modo a resolvê-la física e emocionalmente, reconstruindo um novo ajustamento pessoal ao meio, fazendo com que se enriqueça com novos comportamentos e tenha maior controlo pessoal. Quando isto não acontece o indivíduo acusa os efeitos do stress, podendo sofrer de factores psicofisiológicos (e.g., hipertensão, doenças cardiovasculares) e de alterações comportamentais induzidas (e.g., problemas respiratórios provocados por problemas tabágicos), podendo ainda ocorrer perturbações psíquicas, como a depressão e o burnout. Uma outra consequência negativa do stress é a sua manifestação no rendimento profissional, afectando-o de uma forma negativa. O menor rendimento está associado ao mau estado de saúde e que é agravado, como é referido, pelo stress, e está associado ao facto do sujeito ao percepcionar a situação de stress, optar por se envolver em comportamentos de protecção inadequados, i.e., atinge a retracção da participação no trabalho, originando absentismos, atrasos, desinvestimento emocional e abandono. A unanimidade dos autores aceita que a prevenção do stress, deve ser dirigida à mudança dos factores stressantes e ao desenvolvimento de coping dos sujeitos, daí Mota-Cardoso e colaboradores (2002. p. 16) afirmarem que os programas de prevenção do stress devem ser construídos tendo em conta «o conhecimento factual da(s) realidade(s) do stress que só a pesquisa científica permite. Só o estudo in loco permite conhecer, com rigor e pertinência, a expressão real do stress num dado contexto». Logo, perceber o stress, na profissão docente, obriga a conhecer as suas fontes, e a expressão das suas consequências.
  • 18. 10 1.3 – O burnout nos professores O burnout designa um estado de fadiga física e psicológica. Apesar de existirem distintos conceitos sobre este fenómeno, é o modelo de Cristina Maslach (1993) o mais aceite pela comunidade científica. A autora concebe o burnout como um fenómeno tridimensional em que interagem sentimentos de exaustão emocional (i.e., a sensação de, em termos emocionais, já se ter dado tudo e não haver mais nada para dar), atitudes de despersonalização face aos alunos (atitude fria, distante e por vezes cínica), assim como uma perda de realização profissional no trabalho dos docentes (avaliação negativa feita pelo docente sobre o seu rendimento profissional). Este estado de fadiga física e psicológica tem efeitos muito negativos tanto para os professores, alunos, como para as instituições onde trabalham. A investigação já demonstrou que o burnout dos professores é um conceito estável em distintos países e que afecta os docentes de todos os níveis de ensino. Burke e Greenglass (1993, citados por Mota-Cardoso et al, 2002) e Russel e colaboradores (1987), demonstraram a existência de uma associação significativa entre stress e burnout, configurando-se este como uma reacção extrema ao stress prolongado, afectando o bem-estar físico e psicológico dos docentes, constituindo-se como uma influência negativa na relação com os alunos e a qualidade do ensino, associando-se, muitas vezes, a fenómenos como o absentismo e o abandono da profissão. Os resultados de vários estudos de Burke e colaboradores (1989a, 1996, Idem) sugeriram que o stress e o burnout eram tanto maiores quanto inferiores fossem as posições hierárquicas dos docentes na escola, i.e., o director apresentava níveis de burnout inferiores à de um professor cuja única responsabilidade era leccionar. Os autores adiantaram explicações possíveis: os directores disporiam de melhores recursos de coping, que seriam adquiridos e desenvolvidos ao longo da sua maior experiência profissional; estes contactavam menos com os alunos e, participavam mais na tomada de decisões. Estes e outros estudos permitiram caracterizar os docentes mais propensos ao burnout, referidos da seguinte forma por Mota-Cardoso e colaboradores (2002): apresentam níveis mais elevados de stress associado ao papel profissional; avaliam a sobrecarga de trabalho de uma forma mais negativa; utilizam preferencialmente estratégias de evitamento e fuga para lidar com o stress, ou outras estratégias regressivas (a negação ou a minimização); têm menos suporte social (ou
  • 19. 11 então recorrem menos a ele); apresentam o traço de hardiness1 pouco desenvolvido; são menos autoconfiantes; são mais idealistas; visualizam a profissão como uma possibilidade de mudança social; acreditam que os alunos deveriam ser controlados pela escola como se estivessem sob custódia; têm uma amplitude limitada de contactos interpessoais; o seu trabalho não os estimula suficientemente e, tiveram uma má orientação na preparação para o seu trabalho. 1.4 – Sofrimento e solidão dos professores Os docentes estão sujeitos a conflitos que se prendem com factores que derivam do seu trabalho, o que os obriga a desenvolverem sistemas cognitivos, mais ou menos complexos, que lhes permitem fazer a gestão dos mesmos. Apesar de não garantirem a superação dos conflitos, os sistemas cognitivos adoptados, desempenham um papel central na gestão, embora não estável, dos conflitos pessoais, mas estes mesmos conflitos são geradores de sofrimentos e solidões profissionais, que são característicos de novos “individualismos profissionais”, que se desenvolvem numa situação de insegurança generalizada, constituindo- se como um dos efeitos mais visíveis da crise dos mecanismos de delegação de poder nos professores. Mas este individualismo não se apresenta como adaptado à missão profissional, ao invés, é imposto e “disfuncional” no que concerne às missões atribuídas à profissão, o que contribui para a produção, reprodução e reforço do sofrimento dos docentes (Correia & Matos, 2001), e como tal geradora de mal-estar. O estudo destes autores, baseado em entrevistas a professores, evidencia o sofrimento ético e organizacional dos docentes, que atribuem muita da culpa à profissão, que não disponibiliza “espaços de comunicação” susceptíveis de assegurar uma regulação saudável, o que leva a vários factores ansiogénicos. Chamam, ainda, a atenção para a ocultação dos conflitos profissionais, por parte dos principais actores institucionais, que provocam nos professores constrangimentos de vária ordem, com reflexos evidentes no seu estado de saúde, revelados por vários estudos (stress, burnout, depressão, irritabilidade, problemas nervosos, etc.), levando muitas vezes ao silenciamento dos problemas e das práticas profissionais, contrastando com o reforço das tendências para a exposição pública dos discursos privados da profissão de docente. 1 O hardiness define traços disposicionais da personalidade: comprometimento (interesse e curiosidade pela vida), controlo (acreditar nas próprias capacidades para influenciar os acontecimentos) e desafio (aceitação da mudança enquanto factor de crescimento pessoal (Kobasa, 1979, citado por Mota-Cardoso et al , 2002).
  • 20. 12 Outros indicadores são, ainda, evidenciados e reforçam o sentimento de solidão dos professores: o estatuto do professor, dada a dificuldade de dar significado ao trabalho que lhes é exigido, num contexto em que lhes são cada vez mais impostas novas tarefas, e em que têm cada vez menos influência na avaliação dos alunos, que por sua vez sentem estranheza pelo facto de ali estarem sob controlo e obrigação, quando a escola devia ser um espaço para formar, instruir e educar; a inexistência de um trabalho em equipa, e que deriva da falta de tempo, devido aos professores terem que realizar múltiplas tarefas administrativas, o que obsta à tão necessária articulação de conhecimentos das várias disciplinas (e.g., matemática, física, química, etc.) e o debate sobre as dificuldades e problemas mais sentidos. 1.5 – Principais resultados dos estudos realizados em Portugal Os estudos existentes, no nosso país, incidem na sua generalidade, sobre o trabalho dos professores, e apesar de muitos factores convergentes com o trabalho dos formadores, existem diferenças, e que advém muitas vezes do estatuto profissional, exigências particulares, e do exercício profissional da actividade dos formadores implicar outro tipo de riscos. No entanto, faremos aqui referência a estudos realizados com professores, e que são susceptíveis de nos fornecerem indicadores importantes para perceber o trabalho dos formadores. Um estudo de Gomes, Silva, Mourisco, Silva, Mota e Montenegro (2006), realizado com 127 professores numa escola secundária do Porto, que avaliou vários indicadores relacionados com o seu trabalho e o bem-estar pessoal (stress, burnout, saúde física e satisfação pessoal), revela valores muito significativos de stress ocupacional, prevalência de esgotamento e vários problemas de saúde física. Este mesmo estudo mostra, ainda, que as mulheres demonstraram níveis superiores de stress em relação aos homens. Uma análise mais aprofundada dos possíveis problemas relacionados com o stress evocado, revela que são as questões mais relacionadas com a sala de aula que desencadeiam maior mal-estar, e.g., turmas grandes, alunos desmotivados, mau comportamento dos mesmos, etc. Outro dos factores está relacionado com pressões externas ao desempenho profissional, e.g., falta de tempo para cumprir os programas, demasiado trabalho burocrático. Um terceiro factor tem a ver com as questões relacionadas com a carreira profissional, e.g., falta de reconhecimento por um bom ensino, a que poderá estar associado a falta de reconhecimento do seu trabalho por parte das
  • 21. 13 chefias, colegas e órgãos institucionais. Ainda relacionado com os estudos de Gomes e colaboradores (2006), verificam-se níveis elevados de burnout entre os professores, e que derivam principalmente de sentimentos de baixa realização pessoal e/ ou de exaustão emocional e de despersonalização; a combinação destes três factores revela uma percentagem média de 13% de docentes que se encontram claramente em situação de burnout. Em relação aos índices de saúde física, os principais indicadores de problemas de saúde associados são: dificuldades em acordar, levantar e adormecer, sensações de cansaço e exaustão, enxaquecas e dores de cabeça, as práticas de comer, beber e fumar excessivamente e outras sensações físicas desagradáveis (tremura muscular, dores agudas, etc.). De realçar ainda que aumentos nos níveis globais de stress aparecem associados a menor satisfação profissional, a maior vontade de abandonar a profissão, mais problemas de saúde física, maior exaustão emocional, maior pressão de tempo, excesso de trabalho, e avaliações mais acentuadas acerca dos comportamentos de indisciplina dos alunos. Outro dado a reter deste estudo é que os professores com mais experiência de trabalho, apresentam mais dificuldades que os colegas mais novos em áreas relacionadas com o comportamento inadequado dos alunos, a gestão das diferenças nas capacidades apresentadas pelos estudantes, a realização de trabalho burocrático/ administrativo e o excesso de aulas. Nas diferenças de género relacionado com o stress dos professores, os estudos na sua generalidade, não constatam linearmente a existência de mais stress nos homens ou nas mulheres, no entanto, um estudo realizado por Melo, Gomes e Cruz (1997), com professores, médicos e enfermeiros portugueses, revela que as mulheres apresentam níveis de stress mais elevados do que os homens. Relativamente aos anos de experiência, enquanto docentes, um estudo de Cruz e Mesquita (1988) com professores portugueses, revela que os aspectos relacionados com a estrutura organizacional dos estabelecimentos de ensino, e.g., falta de participação nas decisões a tomar, política disciplinar inadequada da escola, etc., tendem a condicionar mais os professores com cinco ou mais anos de experiência, quando comparados com os que tinham menos experiência. Um estudo de Pereira, Silva, Castelo-Branco e Latino (2002), realizado com professores portugueses, e que avaliou o “índice geral de capacidade para o trabalho”, revela que 3.1% dos docentes apresenta um índice baixo e 32% um índice moderado – sendo que são os homens, aqueles que apresentam valores médios mais elevados: valores preocupantes se tivermos em conta as múltiplas exigências da profissão docente. Num dos itens avaliados “prognóstico da capacidade para o trabalho daqui a dois anos”, a maioria dos professores afirma que não tem a certeza se daqui a dois anos poderá exercer a sua actividade docente, o
  • 22. 14 que poderá estar associado a factores inerentes à actividade de docente: falta de estímulo e de reconhecimento social, dificuldades de colocação e segurança do salário e do emprego, sobrecarga de tarefas, indefinição do cargo e violência nas instituições escolares. Os professores que participaram neste estudo, revelam ainda, que apesar de conseguirem fazer o seu trabalho, o mesmo desencadeia sintomas relacionados com doenças: dores de costas, pescoço e coluna, desgaste ou dor repetida nos membros (mãos e pés), tensão arterial, perturbação mental ligeira, doença ou lesão nos olhos, doença no sistema nervoso e mal-estar ou irritação no estômago ou duodeno. Um outro estudo de Gomes, Silva, Mourisco, Silva, Mota e Montenegro (2006), com professores portugueses, revela que 25% não voltaria a optar pela docência se tivessem uma nova oportunidade de escolha, 19% manifesta o claro desejo de abandonar a sua profissão durante os 5 anos seguintes, e 10% estão altamente insatisfeitos com a sua actividade enquanto professores. O stress profissional em professores portugueses foi, também, alvo de investigação por parte de Pinto, Lima e Silva (2003). O estudo revelou índices preocupantes de mal-estar profissional: 54% dos docentes consideram o exercício da sua actividade como muito ou extremamente geradora de stress, 63% evidenciam burnout pleno e 30.4% encontram-se em risco de evoluir para esse quadro. Esta investigação mostra, que os factores percepcionados como principais fontes de stress profissional dos professores são os problemas relativos aos alunos e as pressões de tempo próprias da actividade docente. Em relação ao primeiro factor, os professores associam o mau comportamento dos alunos, os níveis de ruído elevados, a não aceitação da autoridade do docente pelos alunos, e alunos pouco motivados. Quanto ao segundo factor, é evocado o não terem tempo suficiente para o trabalho a fazer. Outro estudo, que se destaca pelo facto de ser um dos raros estudos de âmbito nacional, realizado por Mota-Cardoso, Araújo, Ramos, Gonçalves e Ramos (2002), com 2108 professores nacionais, dá-nos excelentes indicadores sobre o stress dos profissionais da docência, identificando nove factores que indicam áreas de fontes de stress: estatuto profissional, conteúdo do trabalho, previsibilidade/ controlo (clarificação da função), pressão de tempo, segurança profissional, disciplina, rigidez curricular, natureza emocional do trabalho e ritmo e estrutura do trabalho. Esta investigação revelou que o estatuto profissional é o factor essencial responsável pelo aparecimento, nos professores, de situações de stress, quando o que é evidente noutras investigações são razões relacionadas com os alunos, i.e., a indisciplina ou mau comportamento. Mas mais reveladora foi a descoberta de que o factor de stress relativo à indisciplina é o sexto no estudo nacional português, ao contrário do primeiro
  • 23. 15 lugar que ocupa no estudo nacional britânico (Travers e Cooper, 1996, citado por Mota- Cardoso, 2002), contrariando por isso vários estudos nacionais e internacionais. O que o estudo assegura é que não é a indisciplina dos alunos, o principal factor responsável pelo stress dos docentes em Portugal, mas sim os problemas de estatuto profissional, embora não se apresente isolado, estando associado a factores como: a constante mudança de legislação, a relação com os encarregados de educação, a necessidade de justificar notas negativas, a falta de acompanhamento dos pais e a preocupação com os resultados dos alunos. Outro dado interessante a reter, deste estudo, é que a percepção do stress é independente das fontes de stress percepcionadas, i.e., sugere que os professores se sentem em stress independentemente do que julgam ser a causa; tendo-se verificado o mesmo com a satisfação com o trabalho e as dimensões do burnout. O que significa que a situação de stress, avaliada de uma forma directa pela percepção de um estado subjectivo de stress e indirectamente pela satisfação profissional (seja com a organização ou com o trabalho), e as dimensões psicológicas do burnout (exaustão emocional, realização pessoal e despersonalização) não dependem das fontes de stress atribuídas na situação docente. No geral os resultados obtidos, neste estudo, são consistentes com o que a investigação tem vindo a avançar sobre o stress dos profissionais da docência. 1.6 – Principais resultados de estudos realizados em outros países A questão do stress é particularmente importante quando aplicada ao exercício da actividade de professor. Neste mesmo sentido, os investigadores Kyriacou e Sutcliffe (1978), citados por Gomes e colaboradores (2006), salientam a natureza desgastante desta profissão. Num dos seus estudos, realizado com professores ingleses, demonstram que 25% dos docentes descrevem a sua profissão como muito stressante, com implicações negativas ao nível do rendimento profissional, e ao nível de alguns factores psicológicos como a depressão e o burnout. Os mesmos autores afirmam que a experiência de stress nos professores deve ser entendida como uma ameaça ao seu bem-estar, auto-estima e valor pessoal, com repercussões negativas no exercício da sua actividade de trabalho, o que poderá afectar a qualidade das suas práticas pedagógicas e eficácia profissional, e as potencialidades de aprendizagem dos alunos.
  • 24. 16 Um estudo de DeFrank e Stroup (1989) revela que os professores solteiros manifestam mais stress que os mais velhos, facto que está associado aos problemas dos alunos e às atribuições de deveres relacionados, como planos individuais de educação e educação especial. Em termos de problemas específicos de saúde física, um estudo realizado por Travers e Cooper (1996, citado por Mota-Cardoso et al, 2002) no Reino Unido, revela que 23% dos professores afirmam ter tido “doenças sérias” no ano anterior ao estudo. O questionário utilizado pelos autores solicitava a identificação de “doenças importantes” e deixava ao critério dos docentes o grau de subjectividade e interpretação da amplitude da sua importância e os problemas de saúde evocados foram: viroses persistentes, problemas de coluna, ansiedade e depressão, intestino e estômago, síndroma do intestino irritado, problemas de peito e pulmões, garganta e afonia, hipertensão, dores de cabeça e enxaquecas, asma, problemas auditivos e visuais, alergias dermatológicas, dores relacionadas com cancro, úlceras, esgotamento e cansaço e sinusite. Importa referir que estes factores são os principais problemas de saúde associados pela investigação, em geral, ao stress. Os índices de satisfação dos professores com o seu trabalho tem sido motivo de vários estudos, Kyriacou e Sutcliffe (1979, citados por Mota-Cardoso et al, 2002) descobriram que 72.5% dos professores ingleses se mostravam satisfeitos ou muito satisfeitos com a sua profissão, por sua vez DeFrank e Stroup (1989) encontraram 13% de professores muito insatisfeitos e 45% não completamente satisfeitos. Mas um dos mais importantes estudos foi realizado por Travers e Cooper (1989, citados por Mota-Cardoso et al, 2002), que realizaram um estudo nacional com professores britânicos e verificaram que a insatisfação dos mesmos com o seu trabalho, tinha a ver com factores extrínsecos (salário auferido, oportunidades de progressão na carreira, estilo de administração da escola, o reconhecimento social e as condições físicas de trabalho), por outro lado, os índices de satisfação relacionavam-se com aspectos que consideravam positivos no seu trabalho (colegas de trabalho, a variedade do mesmo, a liberdade de escolha dos métodos de ensino e a estabilidade do emprego). Este estudo contraria, porém, alguns estudos que têm revelado que o stress é um antecedente poderoso da satisfação profissional dos professores, atribuindo a insatisfação profissional como uma possível resposta à situação de stress; o que parece indicar que a satisfação profissional não depende apenas do stress, mas também de outros factores. Muitos das investigações não revelam diferenças significativas entre a idade e o stress, mas um estudo de Russel, Altmaier e Van Velzen (1987), demonstra que os professores mais novos acusam mais stress do que os restantes colegas, e que está relacionado com factores
  • 25. 17 como a informação inadequada acerca dos materiais escolares e obrigação de participação em várias actividades escolares. A associação entre problemas psicológicos e aspectos psicossociais do trabalho dos professores foi estudado por um grupo de investigadores Porto, Carvalho, Oliveira, Neto, Araújo, Reis e Delcor (2006) com 1024 docentes brasileiros. Os resultados evidenciam a associação entre os dois factores: 44% dos professores revelam problemas psicológicos relacionados com as exigências do trabalho, sendo que são aqueles que têm funções com níveis de exigência maiores, os que apresentam índices mais elevados. Gomes e Brito (2006) realizaram um estudo com professores brasileiros e verificaram que a elaboração de modos operatórios dos mesmos com o objectivo de cumprirem o que lhes é exigido, em virtude das limitações relacionadas a factores institucionais, pedagógicos e burocráticos, tem reflexos no seu estado de saúde e no seu desempenho. Os professores deste estudo revelam ter um excesso de trabalho em função das inúmeras actividades escolares, do tempo que gastam com trabalhos da escola fora do seu espaço físico, as deslocações a que estão sujeitos; o que os leva a sentirem cansaço físico e mental. Os custos para a saúde destes docentes, em função do excesso de trabalho a que estão sujeitos, relacionam-se com: sensação genérica de mal-estar, ansiedade, tensão, nervosismo, depressão, angústia, insegurança, cansaço, stress, irritabilidade, perturbações do sono e problemas digestivos. Problemas estes que se agravam no final de cada ano lectivo. Os autores sugerem que o sofrimento evidenciado pelos professores poderia ser minimizado com uma redução do excesso de trabalho, um aumento da margem de manobra dos docentes, o que reduziria os problemas de saúde física e psicológica. Um outro estudo realizado por Delcor, Araújo, Reis, Porto, Carvalho, Silva, Barbalho e Andrade (2004), também com professores brasileiros revela que os mesmos se queixam de vários problemas físicos, destacando-se o terem que permanecer muito tempo de pé, e terem de manter uma postura corporal inadequada; atribuindo a culpa ao ritmo e excesso de trabalho. Mas merece particular destaque neste estudo, o facto de um número considerável de professores jovens, ter referido vários problemas de saúde dos quais se destacam, por valor mais elevado: postura corporal, problemas psicológicos e queixas relacionadas com a voz. Estes estudos dão-nos vários indicadores sobre os factores, da actividade dos professores, que interferem na sua saúde. De seguida apresentamos o nosso estudo, que vai reflectir sobre o que se passa com os formadores.
  • 26. Capítulo II – Método
  • 27. 19 Masculino Feminino Sexo 0 1 2 3 Grupos etários 0 5 10 15 QuantidadedeFormadores Capítulo II – Método Com o objectivo de conhecer as condições de trabalho e saúde dos formadores em formação profissional decidiu-se, neste trabalho, utilizar um questionário que permitisse a abordagem à situação, descrevendo-a e dando-a a conhecer. Assim utilizou-se o inquérito INSAT (Barros-Duarte, Cunha & Lacomblez, 2007), que descreveremos mais à frente, com formadores que faziam formação num mesmo centro. Este local foi escolhido pela facilidade de acesso aos formadores e também pelo conhecimento que possuíamos, e que poderia ajudar a compreender alguns dos resultados que viéssemos a obter. 2.1 – Amostra Participaram neste estudo 70 formadores (40 são do sexo masculino e 30 do sexo feminino), as idades variam entre os 24 e 71 anos, com uma média de 41.67 anos. Na distribuição por grupos etários verifica-se que: 13 formadores tem idade inferior a 30 anos (5 são homens e 8 são mulheres), 33 pertencem ao grupo etário dos 30-44 anos (16 são do sexo masculino e 17 do feminino), e 24 têm idade superior ou igual a 45 anos (19 são homens e 5 são mulheres). A distribuição das idades (cf. Figura 1) revela que é no grupo etário dos 30-44 anos que encontramos uma percentagem mais elevada de formadores. Verifica-se, no entanto, que os homens estão mais representados que as mulheres no grupo etário ≥ 45 anos (19 e 5 respectivamente). Figura 1: Distribuição dos formadores por género e grupos etários
  • 28. 20 2.2 – Instrumentos Foi administrado a cada formador um inquérito INSAT com o propósito de recolher dados acerca das variáveis em análise neste estudo. A opção pelo mesmo para a realização desta investigação, prende-se com o facto do INSAT visar o estudo das consequências e condições de trabalho, actuais e passadas, ao nível da saúde e do bem-estar, o que permitiu recolher dados fundamentais para perceber questões relacionadas com a actividade dos formadores e a sua relação com a saúde. A sua lógica de base enquadra-se nos estudos de tipo epidemiológico, e visa caracterizar os principais riscos profissionais de alguns sectores da actividade e compreender a influência que os constrangimentos de trabalho têm na saúde dos trabalhadores. A sua construção inspirou-se nos conhecimentos explorados por diferentes inquéritos: SUMER2 , o inquérito EVREST3 e do inquérito SIT4 . 2.3 – A composição do inquérito INSAT O inquérito INSAT (Anexo 1) compreende quatro grandes domínios: o trabalho e as condições de trabalho, as dificuldades sentidas no trabalho, o estado de saúde, e a saúde no trabalho. Está organizado em sete eixos principais (cf. quadro 1) com o objectivo de permitir, a quem o preenche, uma tomada de consciência gradual e progressiva das consequências do trabalho na saúde e bem-estar. O inquérito apresenta ainda, na sua página inicial, algumas questões que permitem a recolha de informações, de carácter sócio-demográfico, relativas ao trabalhador (sexo, idade, nível de escolaridade), e dados referentes à instituição onde exercem a sua actividade de trabalho (sector de actividade, tipo de empresa, …). No estudo que realizamos relativo à análise de trabalho e saúde dos formadores, foi acrescentado um anexo, à primeira página do INSAT, com o objectivo de recolher informações adicionais, relativas aos formadores, e que pudessem potenciar as análises (antiguidade como formador, formações adicionais à sua formação académica, tipo de população alvo da sua formação, tipo de formação leccionada e domínios profissionais em que já deram ou dão formação). 2 O inquérito SUMER tem como objectivo estudar a penosidade do trabalho, através da recolha de informações sobre as condições de trabalho e a saúde dos trabalhadores (citado por Barros-Duarte, Cunha & Lacomblez, 2007). 3 O inquérito EVREST tem como objectivo o conhecimento dos riscos e da organização do trabalho, da saúde dos trabalhadores e das suas interacções (Idem). 4 O inquérito SIT assenta em objectivos que visam compreender como e em que medida as condições de trabalho, actuais e passadas, influenciam, favorável ou desfavoravelmente, a qualidade do processo de envelhecimento e a saúde (Ibidem).
  • 29. 21 Quadro 1: As partes constituintes do INSAT Eixos principais Tipo de abordagem Parte I O meu trabalho Corresponde à especificação e caracterização do tipo de actividade que é realizada, faz ainda referência ao tipo de vínculo laboral e ao horário de trabalho praticado. Parte II Condições e características do meu trabalho Versa a análise da exposição do trabalhador a determinadas condições de trabalho, organizadas em 3 categorias: ambiente e constrangimentos físicos; constrangimentos organizacionais e relacionais; e características do trabalho. Parte III Condições de vida fora do trabalho Recolhe informações sobre aspectos exteriores ao trabalho: número de pessoas a cargo do trabalhador, número de filhos, ocupação do tempo livre, o tempo dispendido em tarefas domésticas, e questionamento sobre a problemática da conciliação da vida de trabalho e fora dele. Parte IV O que me custa mais no meu trabalho Representa o vivido subjectivo do trabalhador face às condições de trabalho a que se encontra exposto. Parte V Formação no meu trabalho Engloba questões que se relacionam com o tipo de formação realizada pelos trabalhadores e em que medida esta se relaciona ou não directamente com o trabalho. Parte VI O meu estado de saúde São exploradas, de uma forma sintética, questões relacionadas com a saúde do trabalhador e que se situam ao nível: cardio-respiratório, neuro-psíquico, digestivo, muscular e articular. Inclui ainda questões relacionadas com o estado de visão e audição dos trabalhadores. Parte VII Saúde no meu trabalho Aborda 3 domínios particulares: identificação dos acidentes de trabalho e doenças profissionais; informações sobre riscos profissionais; e saúde e trabalho onde são elencados problemas de saúde físicos e psicossociais. 2.4 – Procedimento A amostra foi recolhida no FOR-MAR, para o efeito foram aplicados 70 questionários INSAT, de autopreenchimento, em diferentes momentos, a formadores que se encontravam em actividade: 32 em Matosinhos, 13 na Póvoa/ Vila do Conde, 18 em Viana do Castelo e 7 em Ílhavo. Sempre que possível o investigador esteve presente para prestar ajuda, quando solicitada. De referir que em alguns casos o preenchimento do instrumento se revelou difícil, tanto no que concerne à sua interpretação, mas também quanto à sua complexidade, o que obrigou a constantes esclarecimentos, no sentido de simplificar a percepção aos sujeitos em causa.
  • 30. Capítulo III – Resultados
  • 31. 23 Capítulo III – Resultados 3.1 – A análise e tratamento dos dados Após a codificação dos inquéritos, os dados foram introduzidos na matriz, realizada pela equipa do INSAT. Para a análise estatística recorremos ao programa estatístico SPSS. As análises estatísticas utilizadas, situam-se ao nível das análises descritivas (frequências, crosstabs e qui-quadrado), análises inferenciais (independent.simples t teste e one way ANOVA) e análises correlacionais. 3.2 – Distribuição do nível de escolaridade dos formadores por grupos etários Na distribuição do nível académico por grupo etário (cf. quadro 2) verifica-se que 59 (84,3%) dos formadores têm estudos superiores, o que vai de encontro ao que lhes é exigido pelas entidades empregadoras para leccionarem. Os que têm níveis académicos inferiores (com excepção de 1 formador) têm idade ≥ a 45 anos, e dão formação prática, cujos conhecimentos derivam das aprendizagens e experiências adquiridas numa actividade de trabalho específica, sendo que neste caso concreto se refere muito provavelmente à actividade da pesca. Saliente-se o facto de todas as mulheres terem estudos superiores, estando as mesmas ligadas à formação de carácter teórico e que versam essencialmente matérias ligadas às línguas, ciências sociais e humanas e matemática. Quadro 2: Distribuição dos formadores por género, nível de escolaridade e grupo etário Grupo etário Género Nível de escolaridade <30 anos 30-44 anos ≥45 anos Total Masculino 1º Ciclo 2º Ciclo 3º Ciclo 11º Ano 12º Ano Bacharelato Licenciatura Mestrado 0 0 0 0 1 0 2 2 0 0 0 0 1 0 14 1 2 1 4 1 1 1 7 2 2 1 4 1 3 1 23 5 Feminino Licenciatura Mestrado 8 0 16 1 4 1 28 2 Total 8 17 5 70
  • 32. 24 3.3 – Experiência como formador Em termos de antiguidade como formador, constata-se, através da análise do quadro 3 que 32 (45.7%) dos sujeitos têm ≥10 anos de antiguidade (28.6% no intervalo de 10-19 anos e 17.1% com ≥ 20 anos). Verifica-se que os valores sofrem grandes oscilações, assumindo valores de 4,3% quando a antiguidade é menor que 1 ano e 28.6% quando está compreendida no intervalo [10-20[ anos. Ao reflectir sobre estes valores apura-se que há um crescendo de antiguidade em função da idade, o que dá indicadores de que os formadores mantém a sua actividade durante anos. Se tivermos em conta o género e o grupo etário verifica-se que há homogeneidade no intervalo [1-20 [anos (29 são do sexo masculino e 29 do sexo feminino), as discrepâncias surgem quando o tempo de actividade, enquanto formador, é superior a 20 anos (11 homens e 1 mulher). Quadro 3: Distribuição dos formadores por grupos etários e antiguidade. Grupos Etários Antiguidade <30 anos 30-44 anos ≥ 45 anos Total <1 ano [1; 2[anos [2; 5[anos [5; 10[anos [10; 20[anos ≥ 20 anos 1 5 5 0 2 0 1 2 4 16 10 0 1 1 0 2 8 12 3 (4.3%) 8 (11.4%) 9 (12.9%) 18 (24.3%) 20 (28.6%) 12 (17.1%) Total 13 33 24 70 3.4 – Tipos, domínios e locais da formação No exercício da sua actividade de trabalho 7 (10%) dos formadores dão formação exclusivamente a jovens, no sistema ensino/ aprendizagem; 5 (7,1%) só a adultos e 58 (82,9 %) a jovens e adultos. As acções de formação têm objectivos diversificados: 23.4% no domínio da elevação do nível de escolaridade, 76.9% em vários domínios – reconversão, aperfeiçoamento, elevação do nível de escolaridade e formação profissional curta. No que concerne aos locais de formação verifica-se uma diversidade de locais: só escolas (38.1%), só empresas (1,6%), nas duas (58.7%) e noutras situações (1.6%).
  • 33. 25 3.5 – O trabalho dos formadores Nesta fase fazer-se-á uma análise de questões relativas à situação de trabalho dos formadores, e que corresponde à especificação e caracterização do tipo de actividade realizada pelos mesmos, alude-se ainda ao vínculo laboral e ao horário de trabalho praticado. Da análise do trabalho dos formadores, verifica-se que: 41 (58.6%) têm como actividade diária principal o exercício da profissão de formador, 12 (17.1%) têm-na como professor e 17 (24.3%) outra profissão (enfermeiro, engenheiro, capitão de Marinha Mercante), saliente-se o facto de que são os mais velhos aqueles que têm como actividade de trabalho principal o serem formadores. Em relação ao facto de exercerem exclusivamente a actividade de formador ou terem dupla actividade temos que: 28 (40%) são exclusivamente formadores e 42 (60%) têm uma dupla actividade (29 como formadores, 3 como professores e 10 exercem outra actividade). No entanto é no grupo etário dos 30-44 anos que isso mais se verifica, e que poderá ser explicado pelo facto de estes estarem numa fase da vida, em que atingem o auge da performance de trabalho. Refira-se, também, o facto de que são os formadores casados (26) aqueles que mais têm uma actividade complementar remunerada, sendo que há mais homens que mulheres a tê-la (18 e 8, respectivamente). É importante salientar que 31 trabalhadores que têm como actividade de trabalho principal serem formadores, passam recibo verde ou factura, i.e., mais de metade. Os professores (10) têm contrato efectivo ou a termo, as outras profissões (12) idem. Dos 28 trabalhadores que são exclusivamente formadores, 23 passam recibo verde ou factura. 3.6 – Actividade de trabalho principal Da análise do quadro 4 constata-se que 47.1% (22 homens e 11 mulheres) dos formadores tem um trabalho por conta de outrem (é a faixa etária dos 30-44 anos a mais representada) e 52.9% (18 homens e 19 mulheres) são trabalhadores independentes, por conta própria, sem empregados (a distribuição pelos diferentes grupos etários é homogénea); existem diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelos 2 tipos da variável “actividade de trabalho principal” (X2 (2)=11.74, p<.05), são os formadores com idade
  • 34. 26 compreendida entre os 30-44 anos os que mais têm como actividade de trabalho principal serem trabalhadores por conta de outrem, o mesmo não se verifica em relação ao género (X2 (1)=2.31, ns). Quadro 4: Distribuição dos formadores segundo a sua situação laboral e actividade de trabalho principal Situação laboral Actividade de trabalho principal Efectivo ou contrato sem termo Contrato a prazo ou contrato a termo A recibo verde Total Por conta de outrem Trabalhador independente 28 0 5 0 0 37 33 (47.1%) 37 (52.9 %) Total 28 (40%) 5 (7.1%) 37 (52.9%) 70 3.7 – Situação laboral Os formadores distribuem-se da seguinte forma pela variável “situação laboral” (cf. Quadro 4): 19 homens e 9 mulheres tem um contrato efectivo ou sem termo; 3 homens e 2 mulheres têm um contrato a prazo ou a termo; 18 homens e 19 mulheres passam recibos verdes ou factura, (é na idade ≥ 45 anos que isso mais se verifica); existem diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelos 3 tipos da variável “situação laboral” (X2 (4)=14.90, p<.05), é o grupo etário 30-44 anos os que mais estão numa situação de contrato efectivo ou sem termo, refira-se que nenhum formador com <30 anos tem um contrato desse género (todos eles estão numa situação laboral a recibo verde ou factura), não existem, porém diferenças quanto ao género (X2 (2)=2.42, ns). 3.8 – O horário de trabalho O tempo de trabalho é maioritariamente a tempo inteiro: 40 formadores (57.1%); 21.4% refere que o é só na actualidade e 24.3% afirma sê-lo no presente e no passado, 11.4% porém, refere que, actualmente não pratica este tipo de horário mas tendo feito no passado. No entanto apenas 35 (21.4%) referem ter ou ter tido um horário fixo; 27 (38.6%) pratica ou praticaram um horário parcial (28.6% no presente e passado e 10% só no passado); 38 (54.3%) dos formadores afirmam ter ou ter tido um horário irregular (18.6% no tempo actual,
  • 35. 27 4.3% no passado e 31.4% actual e passado); apenas 12 (17.1%) afirmam ter ou ter tido um horário de trabalho ao fim-de-semana; 21 (30%) referem ter ou ter tido um horário normal. Apenas 11 (15.7%) dos formadores têm ou tiveram turnos fixos, 9 (12.9%) referem terem ou ter tido um trabalho com isenção de horário, 19 (27.1%) têm ou tiveram um trabalho no turno diurno e 9 (12.9%) no turno nocturno, 24 (34.3%) têm ou tiveram turnos mistos. Refira-se o facto de 22 (31.4%) dos formadores terem um horário de trabalho que os obriga a deitarem-se depois da meia-noite, em alguns casos deve-se ao facto de darem formação no horário nocturno, noutros casos é devido à necessidade de terem que levar trabalho para casa (e.g., preparação e estruturação das aulas). Os formadores trabalham em média 35.85 horas por semana (os homens trabalham em média 34.59 horas e as mulheres 37.61, sendo que os solteiros trabalham mais horas que os casados; 39.59 e 34.50, respectivamente), a maioria tem uma dupla actividade (23 homens e 19 mulheres). 3.9 – Horas de trabalho e relação com a idade Na distribuição do tempo de trabalho semanal, verifica-se que existe uma correlação significativa entre o “número de horas de trabalho reais, em média, por semana” e a “idade” (r=-.52; p<.001), o que permite afirmar que quanto maior a idade menos as horas de trabalho, o que nos dá indicadores de que os formadores trabalham menos horas de trabalho por semana, com o avançar da idade. 3.10 – Condições e características do trabalho dos formadores Esta parte reúne as questões relacionadas com a exposição dos formadores a determinadas condições, organizadas em 3 categorias: ambiente e constrangimentos físicos; constrangimentos organizacionais e relacionais (constrangimentos do ritmo de trabalho, autonomia e iniciativa, relações de trabalho e contacto com o público); e características do trabalho. Para verificar as distribuições e se existem diferenças nas mesmas quanto ao género e grupos etários, pelas várias situações das variáveis relacionadas, foram calculadas as frequências e o qui-quadrado, fazer-se-á, deste modo, somente referência aos valores significativos.
  • 36. 28 3.11 – Ambiente e constrangimentos físicos dos formadores (sua distribuição) Nas condições relacionadas com o ambiente físico da actividade de trabalho, os formadores distribuem-se da seguinte forma pela variável “ruído nocivo incómodo” (cf. quadro 5): N=68 (38 homens e 30 mulheres); 18 homens afirmam estar ou terem estado expostos no seu trabalho a ruído nocivo/ incómodo (11 e 7, respectivamente), e 20 afirmam nunca ter estado. Em relação às mulheres, 5 afirmam ter estado expostas no presente ou passado (4 e 1, respectivamente) e 25 afirmam nunca ter estado. Se juntarmos as duas situações da variável em estudo (sim no trabalho actual + apenas no trabalho passado), verificam-se diferenças significativas na distribuição dos sexos pelos 2 níveis da variável “ruído nocivo incómodo” (X2 (1)=7,06; p<.05), concretamente os homens estão ou estiveram expostos a mais ruído do que as mulheres, mas existem mais mulheres do que homens que nunca estiveram sujeitas ao ruído. Em relação à variável “calor ou frio intenso” (cf. quadro 5) verifica-se que N=66; 36 são homens e 30 são mulheres, e distribuem-se da seguinte forma: 19 homens afirmam estar ou terem estado (6 e 13, respectivamente) expostos a calor ou frio intenso, e 17 afirmam nunca ter estado. No que concerne às mulheres, 7 afirmam estar no presente expostas ao calor ou frio intenso, 1 afirma ter estado no passado, e 22 afirmam nunca ter estado. Ao somarmos as 2 situações da variável (sim no trabalho actual + apenas no trabalho passado), surgem diferenças significativas na distribuição do género pelos 2 níveis da variável (X2 (1)=4.62; p<.05), são os homens que mais referem estar ou terem estado expostos ao calor ou frio intenso na sua actividade de trabalho, no entanto são as mulheres que mais referem nunca terem conhecido a situação referida. Quadro 5: Exposição ao ambiente e constrangimentos físicos, no trabalho actual e passado segundo o género Constrangimentos do ambiente físico Sim, no trabalho actual Apenas no trabalho passado Total Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Ruído nocivo incómodo 11 (28.9%) 4 (13.3%) 7 (18.4%) 1 (3.3%) 18 (47.3%) 5 (16.6%) Exposição a calor ou frio intenso 6 (16.7%) 7 (23.3%) 13 (36.1%) 1 (3.3%) 19 (52.8%) 8 (26.6%) Nas condições relacionadas com os constrangimentos físicos da actividade de trabalho dos formadores, obtém-se em relação à variável “permanecer muito tempo de pé na mesma
  • 37. 29 posição que” que: N=64 (35 são do sexo masculino e 29 do feminino); 15 homens afirmam serem obrigados a permanecer muito tempo de pé na mesma posição (10 afirmam-no em relação ao presente e 5 em relação ao passado), 20 afirmam nunca serem obrigados a este constrangimento. Em relação às mulheres, 5 afirmam serem obrigadas ao referido constrangimento no presente e 2 no passado, 22 afirmam nunca. Em relação à variável “deslocações profissionais frequentes”, verifica-se que: N=63 (33 são do sexo masculino e 30 do sexo feminino), sendo que 18 homens referem ter ou ter tido este constrangimento no seu trabalho e 15 afirmam nunca; 16 mulheres mencionam-no para o presente e só no passado e 14 referem nunca estarem sujeitas ao referido constrangimento. O quadro 6 permite verificar a distribuição da variável por grupos etários nas 2 situações da variável (sim no trabalho actual e apenas no trabalho passado). Quadro 6: Ser obrigado a permanecer muito tempo de pé na mesma posição no trabalho presente ou passado, segundo os grupos etários. < 30 anos 30-44 anos ≥ 45 anos Constrangimentos físicos Presente Passado Presente Passado Presente Passado Total Permanecer muito tempo de pé na mesma posição 4 1 5 2 6 4 22 (33.8%) Deslocações profissionais frequentes 7 1 11 3 5 7 34 (54.0%) 3.12 – Constrangimentos organizacionais e relacionais dos formadores (sua distribuição) Em relação à variável “fazer várias coisas ao mesmo tempo” constata-se que 60.6% (40) dos formadores estão ou estiveram expostos a este constrangimento; 39.4% (26) afirmam nunca ter estado. Verificam-se, no entanto, diferenças significativas na distribuição por género (X2 (2)=9.02; p<.05), são os homens que mais referem estar ou terem estado expostos a situações de ter que fazer várias coisas ao mesmo tempo., porém, são mais as mulheres que referem nunca ter estado. Também se verificam diferenças significativas em relações aos grupos etários (X2 (4)=12.38; p<.05), é o grupo etário dos 30-44 anos que mais refere estar exposto a situações de ter que fazer, na sua actividade de trabalho actual, várias coisas ao mesmo tempo, no entanto são as mulheres que mais o referem em relação ao passado. No que concerne à variável “frequentes interrupções” obtém-se que: 45.2% (28) dos formadores estão ou estiveram expostos no passado a situações de frequentes interrupções na
  • 38. 30 sua actividade de trabalho; 54.8% (34) afirmam nunca ter estado. Verificam-se, no entanto, diferenças significativas em relações aos grupos etários (X2 (4)=9.44; p=.05), sendo o grupo etário dos 30-44 anos que mais refere estar exposto a situações de frequentes interrupções na sua actividade de trabalho actual. A análise mostra que na variável “ter que me apressar” 60.9% (39) refere estar ou ter estado exposto a este constrangimento; 39.1% (25) afirmam nunca ter estado. Existem diferenças significativas quanto aos grupos etários (X2 (4)=12.26; p<.05), são os formadores que pertencem ao grupo etário dos 30-44 anos que mais referem estar expostos ao constrangimento de terem que se apressar no exercício da sua actividade de trabalho, no entanto são os mais velhos que mais o referem em relação ao passado. A variável “ter que resolver problemas imprevistos sem ajuda” mostra que 70.6% (48) dos formadores estão ou estiveram expostos a este constrangimento; 29.4% (20) refere nunca ter estado. Verificam-se diferenças significativas quanto ao género (X2 (2)=7.46; p<.05), são os homens que mais referem estarem ou terem estado expostos a situações de terem que resolver situações ou problemas imprevistos sem ajuda, no entanto são as mulheres que mais afirmam nunca terem estado expostas a este constrangimento; também existem diferenças significativas em relação aos grupos etários (X2 (4)=12.34; p<.05), sendo que são os formadores com 30-44 anos que mais referem ter que resolver situações ou problemas imprevistos no seu trabalho, no entanto são os da faixa etária ≥ 45 anos que mais afirmam estarem expostos a esses constrangimentos no passado. Na variável “ter que suprimir ou encurtar uma refeição” verifica-se que 70.3% (45) de formadores estão ou estiveram expostos a este constrangimento; 29.7% (19) refere nunca. Existem diferenças significativas quanto ao género (X2 (2)=8.36; p<.05), são as mulheres que mais referem estarem no presente expostas a situações de ter que suprimir ou encurtar uma refeição, no entanto são os homens que mais o referem em relação ao passado. Verificam-se, também, diferenças significativas em relação aos grupos etários (X2 (4)=12.01; p<.05), são os formadores com 30-44 anos que mais referem ter que suprimir ou encurtar uma refeição no presente, no entanto são os formadores mais velhos que mais o referem em relação ao passado. 58.1% (36) dos formadores referem estar ou terem estado expostos a situações de terem que dormir a horas pouco usuais devido à sua actividade de trabalho; 41.9% (26) refere nunca. Verificam-se diferenças significativas quanto aos grupos etários (X2 (4)=17.14; p<.05), é no grupo etário 30-44 anos que é mais referido estarem expostos na actualidade ao
  • 39. 31 constrangimento de terem que dormir a horas pouco usuais por causa do trabalho, no entanto são os mais velhos que o mencionam em relação ao passado. A análise da variável “ter de ultrapassar o horário normal de trabalho” mostra que: 78.8% (52) de formadores afirmam estar ou ter estado expostos a situações de terem que ultrapassar horários normais de trabalho; 21.2% (14) afirmam nunca. Existem, porém, diferenças significativas quanto aos grupos etários (X2 (4)=14.74; p<.05), os formadores que se incluem no grupo etário 30-44 anos são os que mais referem ultrapassar o horário normal de trabalho, mas são os mais velhos que o afirmam em relação ao passado. A análise do quadro 7 permite verificar a distribuição das frequências por género, em relações à exposição a constrangimentos do ritmo de trabalho dos formadores, no trabalho actual ou apenas no passado. Quadro 7: Exposição aos constrangimentos do ritmo de trabalho actual e passado, segundo o género Constrangimentos do ritmo de trabalho Sim, no trabalho actual Apenas no trabalho passado Total Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Fazer várias coisas ao mesmo tempo 19 (47.5%) 12 (40.0%) 8 (22.2) 1 (3.3%) 27 (75%) 13 (43.3%) Frequentes interrupções 12 (37.5%) 12 (40%) 4 (12.5%) 0 (0%) 16 (50%) 12 (40%) Ter que me apressar 17 (50%) 16 (53.3%) 5 (14.7%) 1 (3.3%) 22 (64.7%) 17 (56.6%) Resolver problemas imprevistos sem ajuda 21 (55.3%) 19 (63,3%) 8 (21.1%) 0 (0%) 29 (76.4%) 19 (63.3%) Ter que suprimir ou encurtar uma refeição 16 (47.1%) 23 (76.7%) 6 (17.6%) 0 (0%) 22 (64.7%) 23 (76.7%) Dormir a horas pouco usuais devido ao trabalho 11 (33,3%) 13 (44.8%) 10 (30.3%) 2 (6.9%) 21 (63.6%) 15 (51.7%) Ter de ultrapassar o horário normal de trabalho 20 (55.6%) 23 (76.7%) 8 (22.2%) 1 (3.3%) 28 (77.8%) 24 (80%) 3.13 – Autonomia e iniciativa (sua distribuição) A análise do quadro 8 permite verificar o grau de autonomia e iniciativa dos formadores em relação ao exercício da sua actividade de trabalho, em todos os itens analisados, o sim no trabalho actual ou passado é o mais representado. Verificam-se, no entanto, diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pela variável “alterar ordem de realização das tarefas”(X2 (4)=9.31; p=.05), os formadores que se incluem no grupo etário 30-44 anos são os que mais referem terem a possibilidade de alterar a ordem de realização das tarefas no seu trabalho, mas são os que têm idade ≥ 45 anos que mais o
  • 40. 32 afirmam em relação ao passado. Também existem diferenças significativas na distribuição das faixas etárias pela variável “influenciar o ritmo ou velocidade de trabalho”(X2 (4)=9.32; p=.05), são os formadores pertencentes ao grupo etário dos 30-44 anos que mais afirmam ter a possibilidade de influenciar o ritmo ou velocidade de trabalho, mas são os mais velhos que mais o relatam em relação ao passado. Quadro 8: Autonomia e iniciativa dos formadores em relação à sua actividade de trabalho, no presente, apenas no passado e nunca Autonomia e iniciativa Sim, no trabalho actual Apenas no trabalho passado Nunca Total (100%) Alterar ordem de realização das tarefas 55 (82.1%) 4 (6.0%) 8 (11.9%) 67 Liberdade de decidir como realizar o trabalho 58 (85.3%) 3 (4.4%) 7 (10.3%) 68 Influenciar o ritmo ou velocidade de trabalho 58 (85.3%) 4 (5.9%) 6 (8.8%) 68 Tomar decisões por mim mesmo 61 (88.4%) 2 (2.9%) 6 (8.7%) 69 Escolher os momentos de pausa 46 (69.7%) 2 (3.0%) 18 (27.3%) 66 3.14 – Relações de trabalho (sua distribuição) A análise do quadro 9 permite constatar que os formadores consideram que nas suas relações de trabalho têm ou tinham muito em conta a sua opinião pessoal, e o facto de se poderem exprimir à vontade. Consideram ainda ser ou ter sido muito frequente a necessidade de inter-ajuda entre os colegas. No entanto afirmam que no seu trabalho estão ou estiveram muito expostos ao risco de agressão verbal, e moderadamente expostos ao risco de agressão física e de intimidação. Existem diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelos 3 itens em relação à variável “necessidade de inter-ajuda entre colegas” (X2 (4)=15.92; p<.05), são os formadores da faixa etária dos 30-44 anos que mais referem ser frequente a necessidade de inter-ajuda entre colegas (trabalho de grupo), no entanto são os mais velhos que mais o referem em relação ao passado. Também se verificam diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelos 3 itens da variável “consideração da opinião pessoal” (X2 (4)=14.28; p<.05), são os formadores com idade compreendida entre os 30-44 anos os que mais afirmam que é tida em consideração a sua opinião para o funcionamento do seu serviço, no entanto são ao mais velhos que mais o referem em relação ao trabalho passado.
  • 41. 33 Quadro 9: As relações de trabalho dos formadores no presente, só no passado e nunca Relações de trabalho Sim, no trabalho actual Apenas no trabalho passado Nunca Total (100%) Necessidade de inter-ajuda entre colegas 53 (79.1%) 7 (10.4%) 7 (10.4%) 67 Consideração da opinião pessoal 58 (89.2%) 4 (6.2%) 3 (4.6%) 65 Possível exprimir-se à vontade 58 (85.3%) 4 (5.7%) 6 (8.8%) 68 Exposição ao risco de agressão verbal 30 (42.9%) 5 (7.1%) 31 (47%) 66 Exposição ao risco de agressão física 25 (39.7%) 2 (3.2%) 36 (57.1%) 63 Exposição ao risco de intimidação 21 (33.3%) 4 (6.3%) 38 (60.3%) 63 3.15 – Contacto com o público (sua distribuição) Em relação a este item verifica-se que: 74.2% (49) dos formadores afirmam existir ou ter existido no seu trabalho contacto directo com o público em geral, apenas 25.8% (17) refere nunca ter estado. Na distribuição da variável pelos grupos etários, verificam-se diferenças significativas (X2 (4)=9.28; p=.05), é a faixa etária dos 30-44 anos que mais refere estar exposto ao contacto directo com o público, no entanto é o grupo etário de ≥ 45 anos que mais refere nunca ter estado. Dos formadores que afirmam sim no presente ou apenas no passado, verifica-se que: 56.6% (30) têm ou tinham que suportar as exigências do público, existem, no entanto, diferenças significativas na distribuição pelos grupos etários (X2 (4)=13.43; p<.05), é o grupo etário dos 30-44 anos que mais afirma ter que suportar as exigências do público, mas é o grupo etário ≥ 45 anos que mais afirma nunca estar sujeito a esse constrangimento. Em relação ao facto de terem que se confrontar com situações de tensão nas relações com o público 66.7% (36) afirmam estar ou ter estado sujeitos a esse constrangimento, verificam-se, no entanto, diferenças significativas na distribuição por grupos etários (X2 (4)=9.93; p<.05), é o grupo de formadores dos 30-44 anos que mais o refere, mas é o grupo ≥ 45 anos que mais afirma não estar exposto a esse constrangimento; 57.4% (31) estão ou estiveram expostos ao risco de agressão verbal do público, existem, porém, diferenças significativas na distribuição por sexo (X2 (2)=9.59; p<.05), são as mulheres que mais referem estarem ou terem estado expostas a agressão verbal do público, no entanto são os homens que mais afirmam nunca estar. No que concerne à exposição ao risco de agressão física do público verifica-se que 42.6% (23) de formadores estão ou estiveram expostos a este constrangimento.
  • 42. 34 3.16 – Características do trabalho (sua distribuição) A análise do quadro 10 permite verificar que os formadores consideram que no seu trabalho se aprende coisas novas, é um trabalho que consideram criativo, e que é reconhecido pelas chefias e pelos colegas. Salientam, ainda, o facto de ser um trabalho muito variado com o qual estão muito satisfeitos, que é realizável aos 60 anos e que mais de metade gostariam que os seus filhos o efectuassem. No entanto afirmam que na sua actividade de trabalho têm momentos de hiper-solicitação, e consideram-na, na sua maioria, complexa. Há ainda uma quantidade aceitável de formadores que se sentem explorados. Verificam-se diferenças significativas na forma como os grupos etários se distribuem pelas 3 situações da variável “trabalho variado” (X2 (4)=12.70; p<.05), são os formadores do grupo etário 30-44 anos que mais refere que o seu trabalho é variado, no entanto é o grupo de ≥ 45 anos que mais o afirma em relação ao passado, mas também os que mais referem nunca o ser. Verificam-se diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelas 3 situações da variável “trabalho muito complexo” (X2 (4)=13.91; p<.05), são os formadores com idade compreendida entre os 30-44 anos que mais referem que o seu trabalho é muito complexo, no entanto são os mais velhos que mais afirmam nunca o ser, no entanto são também estes que mais afirmam que o seu trabalho era muito complexo no passado. Há diferenças nas distribuições do sexo pelas 3 situações da variável “trabalho com momentos de hiper-solicitação” (X2 (2)=9.48; p<.05), são as mulheres que mais referem que o seu trabalho tem momentos de hiper-solicitação, no entanto são os homens que mais o afirmam em relação ao passado, mas também os que mais afirmam nunca os ter. Existem também diferenças na distribuição dos grupos etários pela variável (X2 (4)=18.75; p<.05), é o grupo etário dos 30-44 anos que mais refere que o seu trabalho tem momentos de hiper- solicitação, mas são os mais velhos que o referem em relação ao passado. Verificam-se, ainda, diferenças na distribuição do sexo pelas 3 situações da variável “trabalho reconhecido pelas chefias ” (X2 (2)=6.65; p<.05), são os homens que mais afirmam que o seu trabalho é ou era reconhecido pelas chefias, no entanto são as mulheres que mais afirmam não o ser. Há também diferenças na distribuição por grupos etários (X2 (4)=9.35; p=.05), é o grupo etário 30- 44 anos que mais o refere, no entanto são os mais velhos que o referem em relação ao passado. Existem diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelas situações da variável “trabalho realizável aos 60 anos” (X2 (4)=10.64; p<.05), é o grupo dos 30-44 anos que mais o refere, os mais velhos são os que mais o afirmam em relação à sua actividade de
  • 43. 35 trabalho no passado. Verificam-se, também, diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelas 3 situações da variável “trabalho que gostariam que os filhos realizassem” (X2 (4)=10.30; p<.05), é o grupo etário dos 30-44 anos que mais o refere, mas os mais velhos são os que mais o expõem em relação ao trabalho passado. Refira-se o facto de haver uma discrepância entre aqueles que consideram que o seu trabalho, enquanto formador, é realizável aos 60 anos e os que consideram que gostariam que os seus filhos o praticassem (53 e 38, respectivamente). Quadro 10: As características do trabalho dos formadores no presente, só no passado e nunca Características do trabalho Sim, no trabalho actual Apenas no trabalho passado Nunca Total (100%) Trabalho onde se aprende coisas novas 63 (96.9%) 2 (3.1%) 0 65 Trabalho variado 54 (83.1%) 6 (9.2%) 5 (7.7%) 65 Trabalho criativo 58 (90.6%) 2 (3.1%) 4 (6.3%) 64 Trabalho muito complexo 41 (63.1%) 4 (6.2%) 20 (30.8%) 65 Trabalho com momentos de hiper-solicitação 43 (69.4%) 6 (9.7%) 13 (21%) 62 Trabalho reconhecido pelos colegas 55 (85.9%) 5 (7.8%) 4 (6.3%) 64 Trabalho reconhecido pelas chefias 55 (88.7%) 5 (7.1%) 2 (3.2%) 62 Trabalho realizável aos 60 anos 49 (75.4%) 4 (6.2%) 12 (18.5%) 65 Trabalho em que se sentem explorados 17 (26.6%) 6 (9.4%) 41 (64.1%) 64 Trabalho que gostariam que os filhos realizassem 35 (58.3%) 3 (5%) 22 (36.7%) 60 Trabalho com o qual estão satisfeitos 56 (84.8%) 8 (12.1%) 2 (3%) 66 3.17 – Condições de vida fora do trabalho Questionaram-se os formadores sobre a problemática da conciliação da vida de trabalho com a vida fora dele, assim como o tempo despendido, por dia, em tarefas domésticas e/ ou de apoio familiar e verifica-se que: existem diferenças significativas de médias entre o género, em relação à característica da conciliação da vida de trabalho com a vida fora dele. Embora ambos os sexos refiram conseguir conciliar a vida de trabalho com a vida fora dele, são as mulheres que menos o conseguem t(67)=-2.05, p<.05; homens, M=2.63, DP=1.33, mulheres, M=3.31, DP=1.42). Se tivermos em conta a mesma característica e a variável “idade”, verifica-se uma correlação significativa (r=-.36; p<.05), o que nos dá indicadores de que quanto maior é a idade menos os formadores conseguem conciliar a vida
  • 44. 36 de trabalho com a vida fora dele, mas se dividirmos por género isso só se verifica nos homens, i.e., as mulheres com o avançar da idade não o consideram. O tempo despendido em média, por dia, pelos formadores em tarefas domésticas e/ ou apoio familiar é de 139.22 minutos, (131.13 pelos homens e 150.13 pelas mulheres). 3.18 – O que consideram os formadores ser mais penoso na seu trabalho Este item pretende reflectir sobre o vivido subjectivo dos formadores face às condições a que se encontram expostos. No sentido de interpretar os constrangimentos que daí derivam, e perceber a análise de diferenças significativas nas variáveis “sexo” e “grupos etários” e nas variáveis em estudo relacionadas, foram realizadas análises de variância “One- way” ANOVA, seguidas de comparações “post-hoc” com o teste de LSD e “t-tests” para amostras independentes. Os formadores responderam aos itens numa escala de 7 pontos (1 = muito incómodo, 2 = bastante incómodo, 3 = incómodo significativo, 4 = nem muito nem pouco incómodo, 5 = algum incómodo, 6 = pouco incómodo, 7 = nenhum incómodo). Só se fará referência às variáveis com efeitos significativos. Calculou-se também o Alpha de Cronbach de todos os itens para medir a sua consistência interna. 3.19 – Ambiente e constrangimentos físicos no trabalho (comparações) (α Cronbach =.98) Analisaram-se as respostas dos sujeitos e verificou-se que existem diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à variável “causa-me incómodo trabalhar com ruído”, interpretando os resultados, verifica-se que são as pessoas que têm 45 anos ou mais, as que se sentem menos incomodadas a trabalhar com ruído, não existindo diferenças no incómodo sentido a trabalhar com ruído, nas pessoas dos outros 2 grupos etários (F(2,47)=4.3, p<.05; M=1.75, DP=.71, M=2.46, DP=1.74, M=3.8, DP=2.36, respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos). Fez-se o mesmo grupo de análises para a variável género e verificou-se não existirem diferenças significativas.
  • 45. 37 3.20 – Constrangimentos organizacionais e relacionais (comparações) (α Cronbach =.92) Existem diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à variável “causa- me incómodo ter que depender do trabalho de colegas”, são os formadores mais velhos os que sentem menos incómodo por estarem dependentes do trabalho de colegas, porém só existem diferenças significativas, em relação à variável em estudo, entre o grupo de formadores com 30-44 anos e os restantes grupos etários (F(2,34)=6.83, p<.05; M=4.67, DP=1.94, M=2.69, DP=1.58, M=5.17, DP=2.17, respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos). Também se verificam diferenças significativas entre as os grupos etários em relação à variável “causa-me incómodo ter que suprimir ou encurtar uma refeição, ou nem realizar uma pausa do trabalho”, são os sujeitos mais velhos os que se sentem menos incomodados com este constrangimento, existem, no entanto diferenças significativas nas combinações entre todos os grupo etários (F(2.47)=7.09, p<.05; M=2.00, DP=1.27, M=3.50; DP=1.84, M=4.87, DP=2.39, respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos). Fez-se o mesmo grupo de análises para a variável género e verificou-se não existirem diferenças significativas. 3.21 – Relações de trabalho (comparações) (α Cronbach =.97) Verificam-se diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à variável “causa-me incómodo estar exposto ao risco de intimidação”, a análise dos resultados permite verificar que são os formadores com idade ≥ 45 anos os que se sentem menos incomodados com o facto de estarem expostos ao risco de intimidação, só existem, porém, diferenças significativas entre o grupo etário dos formadores mais velhos e os mais novos, não existindo, no entanto, em nenhuma combinação com o grupo etário dos 30-44 anos (F(2,36)=3.47, p<.05; M=1.50, DP=.76, M=2.29, DP=1.86, M=3.79, DP=2.78, respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos). Também existem diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à variável “causa-me incómodo estar exposto ao risco de discriminação sexual”, são novamente os formadores mais velhos os que se sentem menos incomodados com o facto de estarem expostos, no seu trabalho, ao risco de discriminação sexual, não existindo diferenças em
  • 46. 38 relação a este constrangimento, nos formadores dos outros 2 grupos etários F(2,32)=3.70, p<.05; M=1.33, DP=.52, M=2.25, DP=2.11, M=4.15, DP=3.05, respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos). Verificam-se ainda diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à variável “causa-me incómodo estar exposto ao risco de discriminação relacionada com a idade”, são os sujeitos mais velhos os que se sentem menos incomodados em estarem expostos a este constrangimento, não existindo diferenças no incómodo sentido a trabalhar ao estar exposto ao risco de discriminação quanto à idade, nos formadores dos outros 2 grupos etários F(2,31)=3.54, p<.05; M=1.20, DP=.45, M=2.12, DP=1.73, M=3.92, DP=3.06, respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos). Fez-se o mesmo grupo de análises para a variável género e não se verificaram diferenças significativas. 3.22 – Contacto com o público (comparações) (α Cronbach =.76) A análise das respostas dos sujeitos, permitiu verificar que existem diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à variável “causa-me incómodo ter que suportar as exigências do público”, são os formadores com idade ≥ 45 anos os que se sentem menos incomodados com o facto, de no seu trabalho, causar incómodo ter que suportar as exigências do público, existem diferenças significativas entre o grupo 30-44 anos e os outros 2 grupos etários, o mesmo não se verifica entre o grupo etário <30 anos e ≥ 45 anos (F(2,43(=5.74, p<.05; M=5.00, DP=1.95, M=3.57, DP=1.43, M=5.36, DP=1.69, respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos). Também existem diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à variável “confrontar-me com situações de tensão nas relações com o público”, são novamente os mais velhos que se sentem menos incomodados com o facto de se terem que confrontar com o referido constrangimento, não existem porém diferenças entre os formadores dos outros 2 grupos etários (F(2,48)=4.68, p<.05); M=3.85, DP=1.73, M=3.83, DP=1.40, M=5.33, DP=1.76, respectivamente para <30 anos, 30-44 anos e ≥ 45 anos). Verificam-se ainda diferenças significativas entre os grupos etários na resposta à variável “ter que dar resposta às dificuldades ou sofrimento de outras pessoas”, os formadores com ≥ 45 anos são os que se sentem menos incomodados se no trabalho tiverem que dar
  • 47. 39 resposta às dificuldades ou sofrimento de outras pessoas, existindo somente diferenças entre o grupo dos formadores mais velhos e os que tem idade entre 30-44 anos (F(2,44)=3.57, p<.05; M=4.45, DP=1.81, M=3.55, DP=1.68, M=5.21, DP=2.12, respectivamente para <30 anos, 30- 44 anos e ≥ 45 anos). Fez-se o mesmo grupo de análises para a variável género e não se verificaram diferenças significativas. 3.23 – Características do trabalho (comparações (α Cronbach =.86) Verificam-se diferenças significativas entre o género na resposta à variável “causa-me incómodo ter um trabalho que exige longos períodos de concentração intensa”, as mulheres sentem-se menos incomodadas que os homens quando o trabalho exige longos períodos de concentração intensa (t(48)=-2.28, p<.05; homens: M=4.64, DP=1.73, mulheres: M=5.76, DP=1.74). Fez-se o mesmo grupo de análises para a variável “grupos etários” e verificou-se não existirem diferenças significativas. 3.24 – Formação e Trabalho Neste item analisam-se as questões que permitem fazer uma caracterização do tipo de formação efectuada pelos formadores, e em que medida esta se relaciona com a sua actividade de trabalho, da análise estatística verifica-se que: 48 formadores (29 homens e 19 mulheres) afirmam ter tido formação nos últimos 12 meses, e 19 afirmam não ter tido (9 e 10, respectivamente); na distribuição por grupos etários, tendo em conta o facto de terem tido formação no último ano, verifica-se que 9 têm <30 anos; 27 entre 30-44 anos e 12 ≥ 45 anos. Existem diferenças significativas na distribuição dos grupos etários (X2 (2)=6.91; p<.05), são os formadores com idade compreendida entre 30-44 anos que mais afirmam ter frequentado formação e os mais velhos os que menos frequentaram, o que nos dá indicadores de que os formadores com o avançar da idade realizam menos formação. Os formadores realizaram em média 2.73 formações por ano, a participação nas acções de formação devem-se aos seguintes motivos: 32 afirmam ter realizado a formação por iniciativa própria, 10 porque foi determinado pela empresa, 5 referem ambas as situações.
  • 48. 40 Segundo estes profissionais a formação estava relacionada com: a actual situação de trabalho (18), um futuro trabalho (2), interesses gerais (5), mais do que uma das alternativas anteriores (23). A análise do quadro 11 permite verificar que são os formadores com 5-9 anos de experiência, aqueles que mais frequentaram formação. Se tivermos em conta o mesmo tempo de experiência, por agrupamento, verifica-se um decréscimo gradual das acções de formação, em função do tempo de trabalho, enquanto formadores, a tendência é, portanto, que com a experiência os formadores participam menos em acções formativas. Quadro 11: Distribuição da formação em função dos anos de experiência enquanto formador Experiência como formador em anosFormação nos últimos 12 meses < 1 ano [1-2[ [2-5[ [5-10[ [10-20[ ≥ 20 Total Sim 2 7 7 14 11 7 48 Não 1 1 2 13 8 4 19 Total 3 8 9 17 9 11 67 3.25 – Saúde no Trabalho Nesta fase, analisam-se as questões relativas à saúde e trabalho, em 3 domínios particulares: a identificação dos acidentes de trabalho e doenças profissionais, que o formador possa ter sofrido ou as situações que deflagraram numa doença profissional; informações sobre riscos profissionais, protecção e prevenção contra os mesmos; e por último as questões de saúde relacionadas com problemas físicos e psicossociais. 3.26 – Acidentes de trabalho e doenças profissionais Ao analisarmos a variável “tive já um acidente de trabalho” verificamos que apenas 7 formadores tiveram um acidente de trabalho (6 homens e 1 mulher), sendo os mais velhos que mais o referem, no entanto ninguém afirma ter ficado com uma incapacidade reconhecida. Em relação ao facto de terem ou terem tido uma doença profissional, apenas 1 homem o refere (≥ 45 anos) e identifica a doença como sendo gastrite, mas não ficou com nenhuma incapacidade reconhecida. No que concerne à abstenção ao trabalho, só 9 formadores (4 homens e 5 mulheres) é que afirmam ter tido necessidade de faltar ao trabalho mais que 3 dias, nos
  • 49. 41 últimos 12 meses, sendo o grupo etário 30-44 anos os que mais tiveram necessidade de o fazer, os motivos evocados foram: 1 por acidente de trabalho, 2 por problemas relacionados com filhos ou família, e 6 por outros problemas de saúde. Facto curioso é que são os formadores que estão numa situação laboral a recibo verde ou factura, os que faltaram menos (6 dos que faltaram têm contrato efectivo ou contrato sem termo, e 3 estão a recibo verde ou factura). 3.27 – Informação sobre riscos profissionais As mulheres consideram ter menos informação sobre os riscos resultantes do seu trabalho que os homens (M=3.48, DP=1.55, M=2.85, DP=1.83, respectivamente), não existem porém diferenças significativas entre eles (t(65)=-1.47, ns), nem diferenças significativas entre grupos etários (F(2,64)=1.11, ns). A média de resposta dos 56 formadores, que responderam, em relação ao facto de considerarem que no seu trabalho, existe preocupação em minimizar os seus riscos é (M=3.27; 26.8% situa-se entre o muita informação e alguma), i.e., no geral consideram haver alguma informação, no entanto 16.1% estão situados entre o nem muita nem pouca informação e nenhuma. 3.28 – Saúde e trabalho Analisando a variável “considero que a minha saúde e segurança estão ou foram afectados devido ao trabalho que realizo”, verifica-se que (M=5.08), ou seja, os formadores no geral consideram que a sua saúde e segurança foram pouco afectadas pelo seu trabalho, não existindo diferenças significativas nem quanto ao género (t(60)=-1.33, ns), nem quanto aos grupos etários (F(2,59)=.02, ns). 3.29 – Problemas de saúde O quadro 12 permite analisar os problemas de saúde físicos e psicossociais mais mencionados pelos formadores, assim como se os ditos problemas foram causados ou agravados pelo trabalho, cria-se assim, uma associação que o trabalhador estabelece, ou não, entre os seus reais problemas de saúde e as características e condições da sua actividade de trabalho actual ou passada.
  • 50. 42 Existem diferenças significativas na distribuição das faixas etárias pelos 2 níveis da variável “problemas de visão” (X2 (2)=7.64, p<.05), é o grupo etário dos < 30 anos quem mais refere ter ou ter tido este problema de saúde, 29.4% dos formadores menciona que os seus problemas de visão foram causados pelo seu trabalho ou agravado/ acelerado pelo mesmo. Verificam-se, também, diferenças significativas na distribuição do género pelos 2 níveis da variável “problemas nervosos”, (X2 (1)=4.24, p<.05), são as mulheres as que mais referem ter ou ter tido este problema de saúde. Saliente-se, o facto, de que 90% dos formadores que afirmam ter problemas nervosos os atribuir ao seu trabalho ou então os terem agravado/ acelerado por culpa do mesmo. Ao analisarmos a distribuição da idade pela variável “problemas nervosos”, verifica-se uma correlação significativa (r=.34; p<.05), o que sugere que com o avançar da idade este problema de saúde ganha mais visibilidade. Existem, ainda, diferenças significativas na distribuição dos grupos etários pelos 2 níveis da variável “dores de cabeça”, (X2 (2)=19.28, p<.001), são os formadores mais novos que mais afirmam ter este problema, porém são os que têm entre 30-44 anos os que mais dizem não o ter tido; 66.7% dos formadores que afirmam ter ou ter tido dores de cabeça, referem que o seu problema foi causado pelo seu trabalho ou agravado/ acelerado por ele. No entanto, se tivermos em conta a distribuição da variável “idade” pela variável “dores de cabeça” existe uma correlação significativa (r=.40; p<.05), o que nos permite afirmar que com o avançar da idade os problemas de saúde relacionados com as dores de cabeça, avolumam-se. Verificam-se, também diferenças significativas na distribuição do género pelos 2 níveis da variável “stress” (X2 (1)=6.33, p<.05), concretamente são as mulheres que mais afirmam ter ou ter tido este problema de saúde, no entanto, ao efectuarmos a divisão por grupos etários, verificamos que é no grupo dos 30-44 anos que o stress é mais mencionado pelas mulheres, existindo mesmo diferenças significativas (X2 (1)=7.74, p<.05). Realce-se, o facto, de que todos os formadores que mencionam este problema de saúde o atribuírem ao seu trabalho ou então ter sido agravado/ acelerado pelo mesmo. Se considerarmos o estado civil dos formadores, e tivermos em conta os que afirmam sofrer de stress, verificamos que são os casados aqueles que mais mencionam sofrer de stress como consequência do seu trabalho. No cruzamento da variável “fadiga geral – relação com o trabalho” com a variável “grupos etários” verificam-se diferenças significativas na distribuição pelos 3 níveis da primeira variável (X2 (4)=10.92, p<.05), são os formadores do grupo etário 30-44 anos que mais referem que a fadiga geral foi causado pelo seu trabalho, no entanto são os mais novos que mais afirmam que a doença foi agravada/ acelerada pelo mesmo. A distribuição mostra