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Baixar para ler offline
O Universo
Literário no Brasil
Conheça três brasileiros que lutam para
manter o hábito da leitura no país e
descubra como disseminar a literatura
Amor aos carros:
histórias de
apaixonados por
quatro rodas
Página 37
Profissionais
contam suas
trajetórias de
dedicação
Página 41
Hortas ocupam
São Paulo, numa
declaração de
amor à natureza
Página 16
Ano1-Número1-Publicaçãosemestral
carta ao leitor
#
T
oda profissão, para que seja bem executada, exige mais
do que talento e dedicação de quem a ela se oferece.
O diferencial, muitas vezes, pode vir do amor, da paixão
em fazer bem feito o que lhe é proposto. No Jornalismo não
é diferente. Aliás, poderíamos dizer que tal requisito é ainda
mais importante em um ofício cujo cenário se mostra cada vez
mais adverso e desafiador. A imprescindível tarefa de narrar
o presente e interpretar os mais diversos acontecimentos que
tomam cena no espaço púbico torna-se cada vez mais difícil de
ser executada, na medida em que mais fundo se mergulha nas
complexidades das relações sociais, em detrimento ao advento
de novas tecnologias que auxiliem na prática da profissão.
A carência da população por cada vez mais informação e auxílio
para a vida em um mundo caótico não acompanha a valorização
do Jornalismo, e principalmente do jornalista, na sociedade
contemporânea. Ao contrário: o enxugamento das redações e
o imperialismo do marketing sobre as comunicações, projeta-
das quase que exclusivamente para bater metas de audiência
a cada edição, sopram contra a garantia do direito ao acesso à
informação e a liberdade de expressão, alicerces da imprensa
desde os primórdios. Aliado a isso, os salários cada vez mais
corroídos e a crescente oferta de profissionais no mercado de
trabalho fazem deste um cenário de visível deterioração da co-
municação em acordo com seus princípios e propósitos.
Pensar em amor é muito mais do que o simples apego a algo ou
alguém. Amar é estar disposto a abdicar, palavra esta muito pre-
sente no vocabulário de todo jornalista. Afinal, eles abrem mão
de carreiras sólidas por uma vida instável, cheia de plantões
sob horários e datas, que não vão de encontro a qualquer cal-
endário dos sonhos, mas é uma jornada realmente fascinante.
Equipe de redação: André Bengel, Bea-
triz Bononi, Bianca Amorim, Bruna Ama-
ral Zanlorenzi, Camila Albano, Danúbia
Braga, Douglas Carraretto, Fernando
Mostardo, Gabriela Stampacchio, Gilson
Andrade dos Reis, Janahina Rodrigues,
Jeniffer Zdrojewski, Jessica Djehdian
Santaniello, Juliane Zanetti, Karen Cor-
rea, Lais Oliveira, Laura Dourado, Loray-
ne Defante, Maiara Gopfert, Manuela
Morais, Marcela Haun, Marcos Mortari,
Maria Carolina Bigoni, Mariana Figueire-
do do Nascimento, Nayla Caroline Inacio
do Nascimento, Patricia Allerberger, Pris-
cila Pacheco, Rafael Pileggi Calegarini,
Renata Simond, Roberta Ferreira Rodri-
gues, Talita Facchini e Victor Bauab.
EXPEDIENTE
A produção da revista laboratorial #amor
faz parte do processo de avaliação
semestral dos alunos matriculados na
disciplina PRODUÇÃO DE REVISTA, do
sexto semestre do Curso de Jornalismo,
da Escola de Comunicação
da Universidade Anhembi Morumbi.
Profa. Dra. Cleofe Monteiro de Sequeira
Projeto editorial
Prof.Ms. Luiz Vicente Lázaro
Janahina Rodrigues
Laura Dourado
Talita Facchini
Projeto gráfico e diagramação
Foto da capa: Janahina Rodrigues
O amor
está no ar
As informações apuradas junto às
fontes e suas opiniões, presentes nas
reportagens impressas na #amor, são
de total responsabilidade dos alunos
autores, que assinam as matérias.
Os sustenidos e bemóis
de um casamento perfeito
A música mexe com as pessoas e o amor se move por
meio dela. No Brasil e no mundo, compositores e admi-
radores usam a arte para expressar um dos sentimen-
tos mais naturais do ser humano.
11
16
O contato com a natureza, proporcionado pelas
hortas urbanas e comunitárias, fortalece as re-
lações e a integração do grupo social em que as
pessoas estão inseridas.
NATUREZA
Verde em meio ao cinza
MÚSICA
06COMPORTAMENTO
Quanto vale o seu amor?
Para os internautas que não querem aparecer solteiros
ou para aqueles que precisam testar a fidelidade do
parceiro, a solução já é acessível. Conheça os sites que
oferecem esses serviços.
Chocolate: um vício delicioso
Amantes e conhecedores de uma das guloseimas
mais gostosas e populares do mundo contam como
o chocolate pode viciar e se tornar um perigo para a
nossa saúde.
21COMIDA
Dois pra lá, dois pra cá
A dança é uma forte aliada para quem quer perder
peso e ainda ter uma vida saudável. Conheça os bene-
fícios e amplie seus conhecimentos sobre o zouk, um
rítmo quente.
24COMPORTAMENTO
O mundo apaixonante da literatura
Falta de incentivo, dificuldade no acesso, alto custo
e a correria do dia a dia dificultam o acesso aos
livros.Conheça três brasileiros que lutam para man-
ter o hábito da leitura no país.
30LIVROS
Amor a carros antigos
Confira grandes histórias de apaixonados por máqui-
nas que marcaram gerações e conheça este universo
fascinante que vem conquistando públicos de diversas
idades.
37COLECIONISMO
36ARTE
O amor ao desenho de Paulo Sayeg
Artista plástico brasileiro dos anos 1980 e ainda em
atuação, Paulo Sayeg fala de sua arte, gravura, amores
e história, como poucos conhecem.
Pets ganham status de membros da família
40
O trabalho de quem vive de vender arte
47ARTE
ANIMAIS
Amor ideal versus amor real
Descubra as diferenças entre sonhar com o príncipe
encantado ou a mulher perfeita, e manter a cabeça
firme e os pés no chão, quando o assunto é relaciona-
mentos.
44 AMOR
“A recompensa é salvar vidas”
O bombeiro Ricardo Lucarelli conta que entrar para a
Corporação foi a melhor decisão de sua vida. Veja no
ensaio fotográfico.
50 ENSAIO FOTOGRÁFICO
Camisas que contam histórias
Procuradas no mundo todo, as camisas de futebol são
objetos de desejo da maioria dos torcedores. Conheça
um pouco mais sobre o universo dos colecionadores e
algumas de suas relíquias.
28 ESPORTE
Já existe para eles um mercado promissor que dispara
o consumo e mostra como o brasileiro passou a tratar
de forma diferente e cara seus bichinhos de estimação.
Hoje não basta ter talento, é preciso pensar em arte de
forma comercial. Em um mundo tão plural, a segmen-
tação é a receita para o sucesso.
Amor pelas máquinas
O amor por carros antigos é quase como o amor por
um filho. Com ele, vive-se momentos únicos e emocio-
nantes.
52 ENSAIO FOTOGRÁFICO
Doe sangue, doe vida
No Brasil, menos de 2% da população participa da
coleta voluntária de sangue, já é hora de mudar essa
realidade.
54 SAÚDE
Amor pelo basquete
O atual técnico da equipe de basquete da Universida-
de Anhembi Morumbi, João Padola, já revelou diversos
jogadores de sucesso por amor a profissão.
27 ESPORTE
Prazer pelo trabalho traz bons resultados
Quando amamos o que fazemos, tudo se torna mais fácil
e prazeroso. Profissionais provam isso com suas carreiras
de sucesso e suas experiências que os levaram ao topo.
41 TRABALHO
6 Novembro de 2013
Quanto vale o seu amor?
comportamento
#
Sites oferecem serviços de relacionamento online a partir de R$ 10,00 para quem quer
causar ciúmes, descobrir traições e até mostrar que a sua vida sentimental está agitada
Por Juliane Zanetti, Lorayne Defante e Marcela Haun
7#amor
Divulgação
8 Novembro de 2013
S
e você não tem namorado(a) e
anda cansada de sair sozinha
em festas, eventos ou qualquer
outro passeio, saiba que agora é possí-
vel alugar um.
Pode parecer estranho, mas esta
prática tem sido muito mais comum
do que imaginamos e a cada dia mais
pessoas procuram namorados de alu-
guel para satisfazerem seus caprichos
de aparecerem bem acompanhadas.
Como funciona?
Você pode contratar um namorado
de aluguel por algumas horas ou até
um fim de semana inteiro. O intuito é
realmente “namorar”, ou seja, apare-
cer juntos em público e aparentar que
são namorados de verdade com direi-
to a declarações de amor, carinhos e
beijos.
O preço varia muito, de acordo
com a sua necessidade de horas ou da
quantidade de dias que contrata o ser-
viço, mas a maioria dos “namorados
de aluguel” atende em qualquer lugar
do país, mas as despesas de viagem e
hospedagem são por conta da pessoa
que contrata.
Existem namorados de aluguel
para todos os gostos, estilos e idade,
mas a maioria são homens com óti-
ma aparência, educados, inteligentes
e simpáticos que farão esse papel de
forma muito convincente e profissional.
De onde veio essa ideia?
Este tipo de serviço já é conhe-
cido desde 1987, quando foi lança-
da a comédia romântica, Namorada
de Aluguel (Can’t Buy Me Love), onde
Ronald Miller (Patrick Dempsey) é um
típico nerd que em determinado mo-
mento negocia com uma cheerleader
muito popular, Cindy Mancini (Aman-
da Peterson), que tinha danificado o
casaco de sua mãe em uma festa.
Ronald oferece mil dólares de suas
economias para a compra de um ca-
saco novo em troca de sua companhia
por um mês. Cindy, sem opções e re-
lutante concorda em fazê-lo “popular”,
fingindo ser sua namorada.
Este ano, em 29 de abril estreiou a
novela “Sangue Bom”, da Rede Globo,
na trama Xande (Felipe Lima), é namo-
rado de aluguel e já “salvou” Julia (Ca-
roline Figueiredo) de aparecer sozinha
nas festas dos amigos e do trabalho.
Se a vida imita a arte ou a arte imi-
ta a vida não se sabe, mas este assun-
to está rendendo lucros, como conta
Flávio Estevam, criador do site Namo-
roFake.com.br.
Às vezes, ter um(a) namorado(a)
fake na internet ajuda a torná-lo muito
mais popular, aumentando a sua auto-
estima. Outras vezes, as pessoas pre-
cisam alugar um(a) namorado(a) fake
para fazer ciúme a um(a) ex. É ou não
é?! Bom, segundo os criadores do ser-
viço, essas são boas razões para você
ter sua namorada fake. E o site garan-
te: vai parecer tão real quanto uma ver-
dadeira.
O criador do site NamoroFake.
com.br é Flávio Estevam, que en-
tre outros negócios online, teve a
ideia deste site em Janeiro de 2013.
Navegando no facebook observou o
comportamento de um amigo próximo
que havia terminado o relacionamento
e reclamando disse que queria fazer
ciúmes para a namorada.
Foi o suficiente para ativar o fe-
eling do empreendedor. “Eu fiz a in-
termediação entre uma amiga que
se prontificou a ser uma ficante fake
(falsa) de meu amigo. Resultado - a 
ex-namorada ficou morta de ciúmes
por se sentir ameaçada e reatou o
relacionamento” – afirma Flávio.
Naquele momento a ideia de negócio
estava validada. O site ficou pronto em
menos de uma semana e após sete
dias, “bombou” na rede. O site foi re-
ferência internacional  em centenas de
portais e noticiários de TV em todo o
Brasil, Estados Unidos, Europa e China.
O site oferece pacotes que vão de
ficantes (dez reais por três dias de ser-
viço) a “namorada top” (120 reais por
cinco dias de serviço), estes pacotes in-
cluem comentários, mudança de status
e uma grande facilidade de pagamento.
Os depoimentos deixados pelos clien-
tes são muito animadores, e nos faz
acreditar que vale mesmo a pena in-
vestir no serviço, como deste usuá-
rio de Ribeirão Preto, interior de São
Paulo - ‘’ Inacreditável a reação dos
meus amigos, foi três comentários que
fizeram meu face bombar. Tive até al-
gumas meninas da faculdade me adi-
cionando, acho que foi por isso. Daqui
alguns dias vou contratar outra ficante
para dar mais uma moral ‘’
Os motivos mais aparentes
são pessoas que querem se tor-
nar mais populares, aumentar o
número de amigos e se tornar as-
sunto na faculdade, por exemplo.
Outro perfil bastante comum são
pessoas querendo causar ciú-
mes a um(a) ex-namorado(a) e se
sentem melhor mostrando que
não estão desacompanhados.
Alguns, para contratam impressionar
no facebook contratando quatro e
até cinco ficantes ao mesmo tempo.
A questão da sexualidade e a pressão
de amigos e familiares é determinante.
Fundadores dos sites NamoroFake e FidelidadeFace, Flávio e Luis comemoram o sucesso do
negócio inovador que fundaram
comportamento
#
Divulgação
9#amor
As brincadeiras acabam quando háco-
mentários do tipo: “Eu também adorei
ficar com você na noite passada, quero
repetir”.
Em entrevista, Flávio contou
que no inicio tiveram uma fila de
espera de mais de cinco mil clien-
tes e hoje têm uma base de mais
de 12 mil clientes do Brasil e algu-
mas centenas em outros países.
O site é 100% sigiloso, mas algumas
histórias curiosas são lembradas por
Estevam – “existem casos que mulhe-
res contratam namorados fake para fa-
zer ciúmes aos paqueras. Outros casos
que funciona muito bem, são gays que
contratam uma namorada fake para
mostrar aos amigos e família que es-
tão em um relacionamento com uma
mulher, consequentemente diminui as
desconfianças sobre a sexualidade.”.
O amor de aluguel, este que você
pode comprar para ter por alguns
dias ou horas não se compara a um
namoro “real”, onde tem que ter cum-
plicidade e confiança, acima de tudo.
Se você desconfia do seu namorado(a)
ou marido/esposa, e quer descobrir se
as desconfianças procedem ou não,
sem precisar sair de casa ou contratar
um detetive, você pode. Como contou
Luis Vinicius de Almeida Barreto, cria-
dor do site Fidelidade Face.
Basta você começar um relacio-
namento com alguém para surgir dú-
vidas. “Será que ele gosta de mim
como eu realmente sou?” ou “E se ela
estiver olhan-
do para aquele
cara?”. Não tem
como escapar
dessas indeci-
sões, se você
gosta ou ama
outra pessoa,
o ciúme vem
naturalmente
ou até doentio.
Pensando na
fidelidade, Luis
Vinicius de Al-
meida Barre-
to , teve a ideia de criar um site para
acabar com alguma dessas dúvidas.
“Quando escutei um casal de amigos
conversando sobre senhas e exclusão
de conversas do chat do Facebook,
pensei em fundar esse projeto para
acabar com a desconfiança”.
O Fidelidade Face foi criado nesse
ano, em abril, e é comandado por Luís
Vinícius, CEO e fundador, Flávio Este-
vam, sócio-mentor e criador do site Na-
moro Fake. Com a proposta de acabar
com a desconfiança que o casal sente,
o projeto testa a fidelidade de namora-
dos e namoradas pelo Facebook. Luís
diz que a desconfiança do parceiro pre-
judica demais uma relação.
O serviço é bem simples, os des-
confiados preen-
chem um formulário
para indicar o en-
dereço do parceiro
no Facebook e res-
pondem perguntas
sobre gostos e pre-
ferências, podendo
até dar sugestão de
cantadas. Depois
disso, o jogo come-
ça: atendentes ten-
tam seduzir os par-
ceiros dos clientes.
O resultado? Em cin-
co dias, a conversa é copiada e envia-
da para o cliente para tirar as próprias
conclusões. Achou estranho? Não é o
que as pessoas em geral têm achado.
De acordo com o site, mais de
dois mil testes de fidelidades fo-
ram feitos desde abril e 79% das
pessoas mostraram ser infiéis.
Para quem olha esses dados, pode se
assustar com os números e saber que
52% das pessoas desconfiadas eram
mulheres. Na página, também se en-
contram os depoimentos de quem já
utilizou o serviço. Algumas pessoas
Se arriscam nesse tipo
de“negócio”, tiram de si
mesmas a oportunidade
de vivenciar a conquista
verdadeira, honesta, que
aumentaria a auto estima
Os planos que se pode contrar no site NamoroFake vão de ficante (R$10,00) a namorada top (R$120,00)
comportamento
#Divulgação
10 Novembro de 2013
demonstraram satisfeitas por terem
descoberto que o parceiro não descon-
fiou de nada e se mostrou interessado
pelo atendente do site. Outras ficaram
aliviadas por saberem que não foram
traídos.
“Ótimo trabalho! Minha namorada
não desconfiou de nada e deu maior
papo para o rapaz. O serviço que pre-
cisava encontrei com vocês.” – Junior
Dantas, administrador.
“Meu namorado não deu confiança
nenhuma para a menina. Acabei com a
desconfiança que tinha e ele não ficou
sabendo de nada, muito obrigado pelo
serviço, foi demais!” – Amanda Lima,
auxiliar de escritório.
O público que contrata o serviço é
bem variado. A classe que mais contra-
ta é a C, e a maioria são jovens. Algu-
mas pessoas sempre foram desconfia-
das e ninguém gosta de ser enganado.
Atualmente está
muito mais fácil
para as pessoas
traírem. A mu-
lher está cada
vez mais inde-
pendente, as
Redes Sociais
estão em alta,
então isso tudo
acaba propician-
do uma traição.
Mas claro,
não há desculpa
para isso, já que
a pessoa só trai se quiser, mesmo que
o casamento, namoro esteja ruim, nin-
guém tem o direito de trair alguém por
qualquer motivo que seja.
A priori, para quem conhece o Fide-
lidade Face, acha excelente o serviço.
Até porque a pessoa viu que funcionou
e acabou com sua dúvida. Quem não
conhece fica surpreso, pois já que se
trata de um teste de fidelidade, as pes-
soas ficam surpresas pela facilidade
que o site tornou para que isso fosse
possível.
“Antes de inaugurar o site, fiz uma
pesquisa com várias pessoas pergun-
tando se elas testariam seus namora-
dos(as) e a grande maioria disse que
não. Mas é claro. Ninguém gosta de se
expor, ainda mais com um assunto des-
ses. Quem realmente não vai contratar
o site é quem vive em uma boa relação
com o seu cônjuge, mas basta ela co-
meçar a desconfiar do parceiro para já
procurar saber como funciona o teste”,
conta Luis.
Em entrevista ao jornal Folha de
S. Paulo, o criador do site conta uma
curiosidade - “Entre os casos mais
estranhos que ti-
vemos foi de uma
usuária que tinha
dois namorados,
mas mesmo assim
queria checar se
os dois eram fiéis a
ela. E também já ti-
vemos artistas que
nos procuraram
para fazer o teste”.
Namoros de
mentira, testes de
fidelidade online e
essa necessidade
toda de sempre se sobressair em um
círculo de amizade, poder se gabar
por ter determinados comentários no
facebook daquela que supostamente
seria seu namorado. Isso tudo parece
muito estranho e distante da nossa
realidade... não mais! Essa realidade
está cada vez mais comum, mas, como
tudo, estes recursos devem ser usados
com consciência.
Como entender o que faz realmen-
te  essas pessoas precisarem contra-
tar esse tipo de serviço? Qual será o
motivo que está por trás de toda essa
vontade de parecer se relacionar com
alguém, sendo que não passa de apa-
rência para quem “visitar” seus perfis
nas redes sociais? Que benefício trará
a estes usuários deste tipo de serviço? 
Segundo a Dra. Karina Andréa Pi-
con, pessoas que buscam esse tipo de
serviço são pessoas que preocupam-
se excessivamente com a opinião dos
outros, assim como super valorizam  o
fato de estarem acompanhadas. Possi-
velmente são pessoas inseguras que
projetam no outro a sua felicidade, sen-
tem-se mais valorizadas e ou reconheci-
das pelo fato de tentar convencer os ou-
tros que foram escolhidas por alguém,
que são amadas, desejadas, queridas.
Karina adverte que, se as pessoas que
oferecem este tipo de serviço não es-
tiverem preparadas psicologicamente,
podem sofrer com os desdobramentos
que podem se acarretar - “As pessoas
que se alugam devem identificar algum
tipo de benefício vivenciando esse pa-
pel sem julgamento, porém, possivel-
mente o financeiro e as oportunidades
que tais vivências possam proporcio-
nar”.
Mesmo se tratando de um ne-
gócio, há o risco de um  envolvimen-
to emocional por alguma das partes
envolvidas, que consequentemente
causa decepção e frustração por não
ser correspondida. Neste tipo de ser-
viço é essencial que exista um clara
separação entre profissional e pesso-
al, para que não “corra o risco” de um
envolvimento emocional entre ambas
as partes, já que esse não é o intuito
do serviço.
“Acredito ainda que pessoas
que se arriscam nesse tipo de “negó-
cio”, tiram de si mesmas a oportuni-
dade de vivenciar a conquista verda-
deira, honesta, que proporcionaria um
aumento da auto estima assim como
a oportunidade de se relacionar de
uma forma saudável e feliz” – conta
Karina.
Conversas sobre senhas e
exclusão de conversas do
chat do Facebook, fazem
pensar em por fim a
desconfiança
O site FidelidadeFace acaba com as desconfianças fazendo testes online
comportamento
#Divulgação
11#amor
Os sustenidos e bemóis
de um casamento perfeito
música
#
Por Bianca Amorim, Marcos Mortari e Roberta Rodrigues
Mais do que juntar palavras em versos afetuosos, a arte dos sons une pessoas,
sonhos e apaixona quem se permite deixar levar pela emoção
ArquivoPessoal
12 Novembro de 2013
J
á dizia um dos maiores nomes da
música popular brasileira, o alago-
ano Djavan, que cantar é “mover
o dom do fundo de uma paixão”, uma
das infinitas possibilidades de se meta-
forizar sobre a arte – sedução aos ouvi-
dos de quem se dispõe a apreciá-la. Na
canção “Seduzir” (do álbum de mesmo
nome), as intenções do artista – que já
não eram modestas –, se ampliam ain-
da mais quando Djavan decide fazer
uma curta, mas significativa, explica-
ção sobre o amor, um sentimento que,
segundo ele, nenhum excesso pode sa-
ciar a carência.
Amar é perder o tom
nas comas da ilusão
Revelar, todo o sentido
Vou andar, vou voar, pra ver o mundo
Nem que eu bebesse o mar
Encheria o que eu tenho de fundo
(“Seduzir”– Djavan)
Existem diversas histórias de su-
peração que envolvem a paixão pela
música. Deficientes físicos e mentais
que se tornaram lendas da arte dos
sons, pessoas que enfrentaram a de-
pendência pela droga ou até que pas-
saram por cima de graves problemas
de saúde graças ao amor pela música.
Todos esses são exemplos recorrentes
do poder da arte.
Para essas pessoas, a música fun-
ciona como uma espécie de compa-
nheira ou até válvula de escape para
cargas de emoção que dificilmente
seriam extravasadas de outra maneira
como o são através da arte. Com isso,
supera-se as mais diversas adversida-
des impostas pela vida e constrói-se
novas realidades e sonhos a partir das
possibilidades que uma simples clave
de sol é capaz de proporcionar.
Uma recente pesquisa apresenta-
da por médicos do Instituto de Cardio-
logia da Universidade de Nis (Sérvia)
no congresso da Sociedade Europeia
de Cardiologia, em Amsterdã, mostra
que a música ajuda na recuperação de
pacientes com problemas cardíacos,
graças à produção de endorfina, subs-
tância de alta capacidade analgésica,
que, quando liberada, estimula a sen-
sação de bem-estar no indivíduo.
Outra descoberta científica, essa
feita pela Universidade de Helsinki,
na Finlândia, foi além e mostrou que a
música também pode ser útil em caso
de vítimas de derrames cerebrais, que
podem ser beneficiadas pelas notas
musicais. De acordo com a pesquisa,
a combinação de
diferentes sons
pode ativar si-
multaneamente
diversas áreas
do cérebro dos
pacientes, in-
clusive aquelas
danificadas pelo
derrame, acele-
rando o processo
de recuperação.
Além de ser-
vir como um dos
meios de supe-
ração para os mais diversos obstácu-
los da vida e de um catalizador para a
recuperação de muitos problemas de
saúde, a música não deixa de ter um
papel importante também em outros
sentidos do cotidiano das pessoas –
tanto para aqueles que querem viver
de emocionar, como para quem quer
se deixar levar pelo que é transmiti-
do. Para o administrador de empresas
aposentado Leonardo Caobianco, que
tem a música como um de seus maio-
res hobbies, o saxofone – instrumento
ao qual passou a dedicar boa parte de
seu tempo livre – o fez “passar de um
poste frio e triste,
para uma árvore
frondosa e alegre”.
“Sempre tive
sensibilidade para
música, mas não
percebia que me
emocionava bem
mais quando na
música havia um
sax. Desde que
comecei a tocá-lo,
percebi que uma
porta a mais foi
aberta em minha
vida. Quando toco, sinto meu íntimo
cantando e uma sensação de privilé-
gio. A música é meu equilíbrio mental:
ela pode me deixar eufórico, calmo e
muitas vezes saudosista”. Ele credita
boa parte de seu gosto à influência
familiar. “Desde pequeno, meus pais
sempre gostaram de ouvir música.
Quando estava em casa, tanto o rádio
quando o toca-discos, sempre estavam
trabalhando. Acredito que quando se
tem o privilégio de morar com pesso-
as que curtem boa música, você acaba
que por gostar também. Hoje em dia,
com poucas notas, consigo identificar
música, autor, filme etc.”, acrescenta.
Visão similar tem o baterista da
Fuego Funky, João Guilherme Arcos,
que vê nas notas musicais um exercício
de concentração e dedicação. “Vivo da
música, não somente como profissão,
mas também como meditação. Fazer
música – seja com um instrumento,
voz, regendo, compondo ou ensinan-
do – sempre será algo de profunda
concentração e dedicação. Isso te leva
para um estado de consciência dife-
rente de pagar uma conta no banco,
assistir televisão ou trabalhar em um
escritório”, diz o músico.
“A música é tão poderosa que pode
transformar seu estado de espírito. Tocan-
doououvindo.Elatemacapacidadedete
deixar feliz, eletrizante, melancólico, com
saudade, com dúvida... Talvez seja esse
o motivo de termos um contato tão forte
com a música. Ela mexe no nosso interior
deliberadamente”, explica Arcos.
Quando toco meu sax, sinto
meu íntimo cantando
e uma sensação de
privilégio; a música é meu
equilíbrio mental
Leonardo Caobianco - músico
Segundo o baterista João Guilherme
Arcos, fazer música sempre será algo
de profunda concentração e dedicação.
música
#
ArquivoPessoal
13#amor
Tem vezes que a paixão pela músi-
ca chega a ser forte a ponto de mudar o
destino das pessoas, como conta o es-
tudante de música da FAAM-FIAM Caio
Fürholz, que mudou
de profissão por conta
da emoção de tocar
guitarra. “Larguei uma
carreira como enge-
nheiro elétrico (já ti-
nha feito curso técnico
em eletrônica e estava
cursando e trabalhan-
do na área), que é tida
como uma carreira
muito boa e segura,
para entrar na música
e me dedicar a ela em
tempo integral. Quan-
do se tem a música como prioridade,
você abdica de coisas naturalmente.
Amo a música a ponto de tê-la como
uma das minhas grandes prioridades
na vida”.
O guitarrista ainda aponta os bene-
fícios que a arte trouxe à sua vida, que
se tornou muito mais alegre e realiza-
da. “Depois que comecei a estudar mú-
sica, percebi
que qualquer
outra profis-
são ia me dei-
xar infeliz. As-
sim, eu seria
um péssimo
profissional,
e, mesmo
que só por
dinheiro, não
conseguiria
fazer grandes
progressos na
profissão. O
importante no músico é que esse amor
à música sempre o leve a melhorar, es-
tudando, tocando, sendo profissional
quando está em um determinado tra-
balho musical, ou seja, se dedicando”.
A música também serve para unir
casais. Enquanto o baterista da Fuego
Funky diz que a canção que ilustra o re-
lacionamento com sua noiva é “Love”,
de Nat King Cole, Leonardo Caobianco
conta uma outra experiência que a mú-
sica o possibilitou no relacionamento
com sua esposa, a musicista Ana Cris-
tina Graça.
“Certa vez, consegui para ela uma
audição numa cidade do interior. Po-
rém, durante os ensaios ela se sentiu
insegura. Ouvindo aquilo de alguém
tão talentoso, não pude deixar de me
manifestar e pedir para que ela me en-
sinasse as notas de uma música não
tão difícil, que treinei durante a sema-
na inteira. Quando nos encontramos,
apresentei-lhe o que havia estudado,
então disse que aquela seria a última
vez que ela se sentiria insegura quan-
do se tratasse de música. A apresenta-
ção dela foi belíssima!”, contou o saxo-
fonista por hobby.
Quando se tem a
música como prioridade,
você abdica das coisas
naturalmente. Amo a
música a ponto de tê-la
como prioridade
Caio Fürholz - músico
O guitarrista Caio Fürholz largou a carreira de engenheiro elétrico para se dedicar inteiramente à música.
música
#
ArquivoPessoal
14 Novembro de 2013
tamentos do amor, já que junta três em
um”, afirma Guilherme Tauil, responsá-
vel pelo acervo digital e pesquisador da
obra de Chico Buarque.
No documentário “Dia Voa”, dirigido
por Bruno Natal, da produtora Biscoito,
sobre o álbum “Chico”, o próprio carioca
fala sobre como o amor deve ser enxer-
gado na fase em que se encontra. “Na-
turalmente, quando se fala de um amor
você tem que levar isso em conta. Você
já não é mais aquele garoto, você é um
senhor - um senhor de respeito, e tem
que reconhecer a beleza de um amor
maduro sem esquecer do possível ridí-
culo, do que há de risível nisso. E você
acha graça de você mesmo, dos seus
sentimentos juvenis que parecem não
ter cabimento. Mas eles têm. É essa
possibilidade de chegar a esse ponto de
assumir e de brincar com isso. Assumir o
seu tempo, a idade que você tem e não
ficar se desesperando por causa disso.”
O jogo de palavras com o amor é um
outro tipo de abordagem assumida em
músicas. A cantora natural de Recife,
Clarice Falcão, ganhou notoriedade nas
redes sociais, depois de participações
em vídeos do canal Porta dos Fundos,
por suas músicas com letras inusitadas,
as quais expressam a realidade de uma
forma cômica, exagerada, porém, que
não deixam de ser verdadeiras. Os ver-
sos de “8º Andar” são exemplo de sua
forma particular de fazer música:
“A meu ver, a música é a arte mais
próxima do ser humano. Ela sempre
esteve presente desde o princípio. In-
dependente de época, raça, cor, cultu-
ra, cada indivíduo tem seu contato com
a música. Uns mais, outros menos. Eu
faço, há muito tempo, essa pergunta
para quase todas as pessoas que co-
nheço – que não são do meio musical
–: ‘você gosta de música?’ E, por en-
quanto, não teve uma vez que alguém
disse ‘não’. Creio que o resultado não
seria o mesmo se perguntasse sobre
pintura, escultura, cinema, dança ou
teatro. Não sei explicar o porquê, po-
rém percebo que a música seria a arte
mais acessível ou digestível para o ser
humano”, conclui Arcos, baterista da
Fuego Funky. Com isso, é difícil imagi-
nar elementos que se casem tão bem
como música e amor, um dos senti-
mentos mais complexos da existência
humana.
Dois amigos inseparáveis
A música é uma das mais decor-
rentes maneiras de expressão de sen-
timentos. A junção da letra e do ritmo,
se bem feita, é capaz de despertar no
ouvinte aquilo que o autor sempre quis
expressar. Dentro desse contexto, não
é difícil inserir as canções de amor, que
possuem diversas vertentes.
Uma vez que o amor em si não é
homogêneo, ele pode ser o simples
amor recíproco entre um homem e
uma mulher, platônico, ciumento, eró-
tico e até mesmo acabado. Em uma
esfera mundial, a música consegue
abranger todas essas formas.
No Brasil, um exemplo de compo-
sitor cujo repertório atende às diversas
variações de amor é Chico Buarque.
Com “Injuriado”, o carioca canta sobre
um romance que acabou. “Essa Peque-
na”, do recente álbum Chico, tem como
mote o início de um relacionamento en-
tre pessoas com claras diferenças, mas
que vale a pena - especialistas afirmam
que a obra é dedicada à atual namora-
da velho Francisco, a artista curitibana
Thais Gulin. “O Meu Amor”, por outro
lado, trata do latente desejo físico en-
tre o rapaz e a moça - “Meu corpo é
testemunha do bem que ele me faz”.
“Cada uma [das músicas de Chico
Buarque] está inserida num contexto
próprio. A política às vezes se confunde
com o amor, como em “Pelas tabelas”.
Às vezes é um amor proibido, como em
“Bárbara”, “Tira as mãos de mim” etc.
O amor visceral de “Sem fantasia”, o
fugaz e divertido de “Noite dos mas-
carados”. Tem retrato de casal compli-
cado, como “Logo eu?”, “O casamento
dos pequenos burgueses” ou “A mulher
de cada porto”. As declarações, como
“O meu amor”. O caso de “Teresinha” é
bom para se explorar os diferentes tra-
“Dia Voa”, documentário de Bruno Natal.
música
#
Divulgação
15#amor
Quandoeutevifecharaportaeupen-
sei em me atirar pela janela do 8º andar
Onde a Dona Maria mora, porque ela
me adora e eu sempre posso entrar
ErabemotempodevocêchegarnoT,olhar
noespelhooseucabelo,falarcomoseuZé
E me ver caindo em cima de você como
uma bigorna cai em cima de um cartoon
qualquer.
E ai, só nos dois no chão frio
De conchinha bem no meio fio
No asfalto riscados de giz
Imagina que cena feliz
(“Oitavo andar”– Clarice Falcão)
Da mesma forma que as produ-
ções musicais atingem um público di-
verso, casais aproveitam as suas me-
lodias para tirar o melhor proveito de
seu tempo juntos. Alguns utilizam de
canções para tornar o clima mais ro-
mântico. Em pedidos de casamento,
principalmente, músicas com um signi-
ficado especial podem tornar tudo dife-
rente - de uma maneira positiva, claro.
“Eu sempre pedia para o meu noivo
tocar sax só para mim, mas ele nunca
fazia isso. E esse foi o motivo de o pedi-
do de casamento ter sido tão especial.
Primeiro, ele preparou um picnic no
parque com tudo o que eu gosto - e eu
amo picnic!”, começa a contar Bruna
Manzoli, jornalista de 26 anos, noiva
de Matheus Ortega. “Então ele tocou
sax para mim. E não só isso, ele tocou
a música que nós vamos entrar no ca-
samento. Eu já estava muito emociona-
da. Tudo o que ele havia preparado já
tinha acabo comigo, e a música foi o
que me deixou completamente envolvi-
da, me fez chorar por uns 30 minutos!”
Músicas com um significado espe-
cial podem, também, dar uma garantia
maior na hora da conquista. Porém, as
garotas afirmam: tem que ser especial,
e não uma canção qualquer.
Para a boliviana Fabíola Hinojosa, se
o rapaz for o autor da música, o significa-
do é ainda maior. “Um música qualquer,
sem um contexto especial, não faria mui-
ta diferença. Agora, se fosse algo escrito
pelo cara, certamente o efeito seria mui-
to maior. Isso já aconteceu comigo”.
Taynara Gois, vicentina, 19 anos,
diz que a música não seria um fator
determinante para que se apaixonasse
por um rapaz, mas teria grande influên-
cia. “Pelo fato de ser uma das demons-
trações de sentimentos mais bonitas”,
afirma a jovem, que ainda acredita
que esse gênero musical não deve ser
escutado apenas por alguém que se
encontra atraído por alguém. “Escuto
música romântica todos os dias, vo-
luntariamente ou não, porque sempre
acaba tocando alguma nas rádios”. No
entanto, a auxiliar administrativa acre-
dita que as canções de amor possam
ter um efeito diferente nas pessoas.
“Não acredito que música romântica
seja só para quem está apaixonado,
mas creio que quem a escuta posso ter
o desejo de estar com alguém aflorado
dentro de si”.
Quem são os românticos da músi-
ca?
Está aí uma batalha que derramaria
muito sangue. Nesse caso, na verdade,
sangue seria uma
das últimas coi-
sas a surgirem
da briga, a não
ser que, como diz
Leoona Lewis em
um de seus su-
cessos, o roman-
tismo fosse tão
forte a ponto de
“sangrar amor”.
Lulu San-
tos entraria com
grande vanta-
gem, afirmando
que “talvez seja
o último român-
tico dos litorais
deste Oceano
Atlântico”. Quem sabe, se ele juntar a
zoa norte à zona sul, ele consiga levar
o prêmio.
A disputa é tão acirrada que um
dos maiores nomes da música bra-
sileira, o baiano Caetano Veloso, fez
questão de gravar as mesmas palavras
que o carioca. Este, conhecido inicial-
mente por sua rebeldia, que culminou
na Tropicália e um exílio em Londres,
também expressa o amor das mais
diversas maneiras em seus CDs. No
último, “Abraçaço”, um álbum mais
melancólico, de acordo com o próprio
artista, o sentimento é tratado com
tristeza, erotismo e cuidado. Em “Funk
Melódico”, Caetano retrata uma mu-
lher que o dera muitos problemas, mas
mesmo assim afirma que “não bateria
nela nem com uma flor”.
Ainda entre os brasileiros, que permi-
tem um amontado sem fim de expoentes
da música romântica, é impossível não
lembrar do “poeta, poetinha vagabundo”
Vinicius de Moraes. O poeta, compositor,
cantor, diplomata e ícone brasileiro não
pode ficar de fora de qualquer lista que
trate de compositores do amor.
Conhecido por amar as mulheres
em toda a sua vida – se casou nove ve-
zes – Vinicius as tinha como tema prin-
cipal de suas músicas ao lado de mes-
tres como Tom Jobim, Chico Buarque,
Carlos Lyra, e outros grandes artistas
de dar inveja em qualquer história mu-
sical norte-americana ou europeia.
A propósito, entre os internacio-
nais, Frank Sinatra, nome indubitavel-
mente impossível de ser esquecido, fez
questão de gra-
var clássicos com
o “maestro sobe-
rano Antonio Bra-
sileiro”. Garota de
Ipanema e Desa-
finado, por exem-
plo, ganharam
um tom especial
com o ícone do
Jazz. Além dele,
a música que fi-
cou consagrada
na voz de João
Gilberto também
acabou nas mãos
de Ella Fitzgerald
– e foi muito bem
cuidada.
A francesa Edith Piaf é uma outra
mulher que conquista espaço entre um
mundo dominado pelos homens. Seu
clássico Ne Me Quitte Pas é internacio-
nalmente consagrada.
E para não deixar ninguém de fora,
alguns nomes famosos da atualidade
entre cantores e bandas românticas
são Jason Marz, Chris Brown, Justin
Timberlake, Michael Bublé, One Direc-
tion, Kate Perry, One Republic, James
Blunt, Taylor Swift. Esses são apenas
alguns dos muitos exemplos, porque
se todos os cantores de músicas ro-
mânticas e todas as histórias de amor
embaladas por elas fossem descritas
nesse texto, o espaço certamente não
seria suficiente.
Músicas com um significado
especial podem, também,
dar uma garantia maior na
hora da conquista. Porém,
as garotas afirmam: tem
que ser especial, e não uma
canção qualquer
música
#
16 Novembro de 2013
natureza
#
Verde em meio ao cinza
SãoPauloganhahortasemespaçospúblicos,quevalorizamo
contato com a natureza e a convivência comunitária
Por Priscila Pacheco e Mariana Nascimento
PriscilaPacheco
17#amor
A
o digitar a palavra “Amor” num
site de buscas surgem diversos
links que direcionam para pá-
ginas sobre mensagens românticas.
Quando colocamos o termo “pesqui-
sas sobre amor” os resultados não
sofrem grandes mudanças, pois ao
invés de mensagens aparecem maté-
rias sobre relacionamentos amorosos.
Mas, a palavra de amor é muito vasta
para que haja destaque somente para
questões que envolvem casais.
De acordo com o dicionário Mi-
chaelis, amor vem do latim amore, e
pode significar sentimento que impele
as pessoas para o que se lhes afigu-
ra belo, digno ou grandioso;  grande
afeição de uma a outra pessoa; afei-
ção, grande amizade, ligação espiri-
tual; objeto dessa afeição; benevolên-
cia, carinho, simpatia;  tendência ou
instinto que aproxima os animais para
a reprodução; desejo sexual; ambição,
cobiça; culto e veneração.
Diante de tantos significados, a
benevolência pode ser considerada
uma importante qualidade presente
na agitada e caótica São Paulo. An-
dando pela cidade são encontrados
diversos atos que valorizam a solida-
riedade com o próximo. Um exemplo
é a construção de hortas urbanas e
comunitárias. Parece estranho falar
sobre hortas numa cidade cosmopoli-
ta como São Paulo, mas elas existem
e estão ocupando
espaços públicos.
As hortas ur-
banas e comuni-
tárias criam um
espaço de con-
vívio social e de
educação ambien-
tal. Cuidadas por
voluntários elas
ensinam a usar o
espaço público e
contribuem para a
vivência comunitá-
ria. Fernanda Va-
rella, que mora perto da horta da Vila
Pompeia, comenta que a implantação
de hortas na cidade é uma iniciativa
legal e uma ótima forma de interagir
com a vizinhança. “Nessa cidade louca
muitas vezes falamos ‘bom dia’ com o
vizinho e ele nem responde. Ai chega
na horta e você encontra outros mora-
dores”. Fernanda não é voluntária da
horta, mas sempre passa por ela com
o filho Leonardo de 5 anos de idade,
“acho importante que ele tenha esse
contato com a terra”. Na praça, Leo-
nardo interage com outras crianças e
se diverte plantando mudas de alface
e conhecendo os tipos de plantas.
O gestor ambiental e voluntá-
rio na horta do
Centro Cultural
de São Paulo,
André Ruoppolo
Biazoti, voltou a
São Paulo com
o desejo de colo-
car em prática o
conceito de “jar-
dinagem guerri-
lheira” e plantar
por ai, em terre-
nos e locais ocio-
sos, buscando
um maior cuida-
do com os espaços públicos da cida-
de. “Queria fazer isso como ativismo
mesmo, sem muita preocupação de
plantar alimento. Comecei a conversar
com algumas pessoas sobre a possi-
bilidade de fazermos intervenções na
cidade. Daí surgiu a primeira horta, a
das Corujas e, como efeito dominó, co-
meçaram a surgir inúmeras outras na
cidade, bem na perspectiva de produ-
zir alimento no espaço público e discu-
tir segurança alimentar”.
Os benefícios gerados pelas hor-
tas são inúmeros. Vão desde incenti-
var o contato humano com a natureza
até aumentar a segurança de áreas
negligenciadas pelo poder público.
Além da produção orgânica de alimen-
tos, a pessoa que se envolve acaba
adquirindo uma dieta alimentar mais
diversa e saudável. “Quando você
planta uma berinjela, dá vontade de
comê-la mais vezes no seu dia-a-dia”,
diz André.
Para a analista social Ariadine
Fernandes Alves, que foi voluntária na
horta dos Ciclistas, localizada na Ave-
nida Paulista, uma ação como essa,
além de trazer um novo olhar para a
produção de alimentos no meio de
São Paulo, ainda inibe o homem de
destruir, “acredito que por se tratar de
alimento, e por esse cuidado que os
voluntários e idealizadores do projeto
têm”. Ariadine também destaca o vo-
luntariado como uma das ferramentas
para a melhoria das relações entre as
pessoas. A psicóloga Luciana Telles
Ferri, que atua na área do terceiro se-
tor, reforça essa questão de que o pro-
jeto das hortas fortalecem as relações
O contato com a natureza traz benefícios psíquicos e sociais.
A horta estimula
o contato e a interação
entre as pessoas
do bairro,
estimula a partilha
PriscilaPacheco
natureza
#
18 Novembro de 2013
sociais e a integração do grupo social
em que as pessoas estão inseridas.
“Simbolicamente, passa a ser uma
‘sementinha’ do bem”.
Luciana acredita que a horta co-
munitária se trans-
forma num espaço
para desenvolver
a coerência de
pensar, sentir e
fazer de maneira
alinhada e com
constância. “O que
quero dizer com
isso? Que através
deste espaço elas
possam ser benefi-
ciadas de uma co-
erência do pensar
sustentável, irão
ter a oportunidade de ver na prática e
não só na ideia”, refleti a psicóloga. A
atividade nas hortas mostra como se
relacionar com o outro, de ser empá-
tico, de desenvolver a capacidade de
ser paciente, “afinal, os produtos des-
ta horta não crescem e amadurecem
de uma hora para outra, tem o tempo,
às vezes a esta-
ção adequada,
para existirem e
proporcionarem
bons frutos”.
“Assim, como o
exercício físico,
o contato com
atividades liga-
das à natureza,
podem trazer
benefícios para
o desenvolvi-
mento psíquico
e social, para
variáveis como ansiedade, atenção e
processo de aprendizagem”, finaliza
Luciana.
Mas onde nasceu a ideia de fazer
hortas em centros urbanos?
Em busca de alternativas para a
falta de espaços verdes para o cultivo
em função do avanço das indústrias e
do crescimento das cidades durante a
segunda metade do XIX, os europeus
criaram as hortas urbanas. Nos dias
atuais, a horta urbana está presen-
te nas principais cidades do mundo,
como Nova York, Los Angeles, Chica-
go, Londres. Mas dois modelos inter-
nacionais são referência na implanta-
ção de hortas urbanas. Havana (Cuba)
e São Francisco (EUA).
Na capital cubana surgiu nos anos
1990, quando houve um colapso na
distribuição dos alimentos. Para suprir
essa necessidade, a população resol-
veu ocupar terrenos abandonados
para utilizar como plantio de alimen-
Para manter as hortas bem cuidadas os voluntários realizam mutirões semanais ou mensais.
As hortas urbanas
estão presentes
nas principais
cidades do mundo
PriscilaPacheco
19#amor
tos, por exemplo, tomates e bananas.
O governo resolveu, então, incentivar
a ação criando o Departamento de
Agricultura Urba-
na que auxilia na
manutenção das
hortas. Já em São
Francisco, todos
os resíduos or-
gânicos gerados
no município são
destinados ao sis-
tema de compos-
tagem municipal
e servem como in-
sumo para a pro-
dução nas hortas
públicas.
Em São Pau-
lo, a ideia de criar hortas se expandiu
no ano de 2011, quando as jornalistas
e pesquisadoras de agroecologia Tatia-
na Achcar e Cláudia Visoni deram uma
oficina sobre agricultura urbana. Por
causa da oficina foi formado no Face-
book o grupo Hortelões Urbanos. A in-
tenção inicial era
viabilizar o conta-
to entre os partici-
pantes. Mas o gru-
po foi crescendo e
atraindo pessoas
de diversas partes
do país. Hoje, é
possível dizer que
a rede Hortelões
Urbanos é forma-
da por pessoas
orientadas para
a prática da agri-
cultura urbana,
que acreditam na
produção de alimentos de qualidade,
simples, barata e coletiva. Além disso,
ajuda pessoas a começar a cultivar ali-
mentos em casa, facilita a criação de
hortas comunitárias e realiza eventos
de trocas de sementes e mudas.
Conheça algumas hortas presen-
tes na capital paulista:
Horta Comunitária do Centro
Cultural de São Paulo (CCSP)
Foi criada em parceria com a rede
Hortelões Urbanos e começou com mu-
das e materiais doados pela Secretaria
Municipal do Verde e do Meio Ambien-
te. O intuito é produzir alimentos e am-
pliar a relação entre o CCSP e os fre-
quentadores. Os mutirões acontecem
todo último domingo de mês a partir
das 9h.
Localização: Rua Vergueiro, 1000
Horta das Corujas
Nasceu quando duas amigas resol-
A ideia das hortas urbanas
é todos ajudarem
e se beneficiarem
Ocupar praças abandonadas é uma forma de cuidar do espaço público e produzir uma grande variedade de alimentos.
PriscilaPacheco
20 Novembro de 2013
veram engajar a comunidade em torno
de um objetivo comum: a criação de
hortas comunitárias. Cláudia Visoni,
uma das idealizadoras do projeto, ex-
plica que a horta tem acima de tudo,
cunho educativo. Ensinar a comunida-
de a como criar hortas e cuidar para
sustentabilidade da cidade. Os volun-
tários aprendem e ensinam a cultivar.
Também aprendem a usar o espaço
público, respeitando as regras locais
e os outros usuários.
O espaço tem muitos voluntários
que se dividem para transformar o es-
paço no meio da cidade num ambien-
te mais verde e saudável. O projeto
também promove uma alimentação
saudável e acessível a todos. E tem
como base a ideia de que toda área
livre e pública pode ser aproveitada
para fazer plantações. Qualquer mo-
rador pode se abastecer gratuitamen-
te, sendo também incentivado a cul-
tivar. “É a nossa parte para operar a
mudança”, diz Cláudia. Tal mudança
está atrelada à transformação de um
espaço de convívio social e de educa-
ção ambiental. Hoje, moradores e co-
laboradores participam ativamente. A
ideia é todos ajudarem e se beneficia-
rem. Os mutirões ocorrem, geralmen-
te, aos fins de semana, alternando
sábado e domingo, às 10h.
Localização: Praça das Corujas
(Praça Dolores Ibarruri). Avenida das
Corujas, esquina com a Rua Paschoal
Vita.
Horta da Vila Pompeia
Surgiu em janeiro de 2013, quan-
do algumas pessoas se juntaram para
transformar um terreno ocioso, cheio
de lixo e mato alto, em um espaço de
vivência comunitária e de ocupação
coletiva autogestionada. Segundo
Paulo Fonseca, um dos criadores da
horta, a horta da Vila Pompeia está se
desenvolvendo bem.
Durante os mutirões acontecem
discussões sobre princípios agroeco-
lógicos, permacultura, restauração
ecológica de espaços urbanos, mobili-
zação comunitária entre outros temas.
A Horta também possui uma “Gelado-
teca”, pequena biblioteca que possui
jornais de iniciativas agroecológicas,
materiais sobre educação e livros in-
fantis. E realiza uma ação de leitura
para crianças todo último domingo do
mês. A plantação ocorre de forma or-
gânica e há diversos tipos de vegetais,
por exemplo, alface, arruda, cenoura,
repolho roxo, beterraba, morango, ce-
bolinha, manjericão, mil folhas e alfa-
zema. Os mutirões acontecem todo
domingo, a partir das 11h.
Localização: Entre a Rua Francis-
co Bayardo e a Rua Saramenha.
Horta dos Ciclistas
Surgiu em outubro de 2012 e
propõe o uso equitativo da cidade.
Os mutirões acontecem todo primeiro
domingo de cada mês, às 12h.
Localização: Praça do Ciclistas,
próxima ao cruzamento da Avenida
Consolação e Avenida Paulista.
As hortas comunitárias e urbanas atraem a atenção de diferentes públicos.
Os mutirões ocorrem,
geralmente, aos
fins de semana
PriscilaPacheco
21#amor
Um vício delicioso chamado chocolate
comida
#
Entre todas as gostosuras conhecidas, o chocolate é uma das mais adoradas
Descubra os benefícios e malefícios que todo esse amor pode trazer
Por André Bengel, Gabriela Stampacchio e Laís Oliveira
Q
uem é que nunca sentiu aque-
la vontade de comer uma bar-
rinha de chocolate no meio do
dia, que atire a primeira pedra. E no
meio da noite, então? Que atire duas.
Nos momentos de tristeza, solidão,
ansiedade e angústia ele é um dos
companheiros mais procurados, como
se fosse realmente um pedacinho de
felicidade.
A psicóloga formada pela Univer-
sidade São Marcos, Sônia Ferreira,
afirma que o consumo de chocolate re-
almente ajuda em algumas situações,
principalmente nas que mexem com o
lado psicológico. “Nos casos de tristeza
ou ansiedade, comer o chocolate alivia,
pois ele produz endorfina e serotonina,
o que deixa a pessoa em um estado de
saciedade e com a sensação de bem
estar no corpo e na mente”.
Mas o consumo de chocolate
não está necessariamente relaciona-
do aos sentimentos ruins. Algumas
pessoas ingerem o doce a qualquer
momento, e até mesmo em grandes
quantidades, simplesmente porque
sentem a necessidade de comê-lo.
Esses são os chamados “chocóla-
tras”, que se espalham cada vez mais
pelo país.
Chocólatra assumida, Danielle
Noce ama e não vive sem chocolate.
Para ela não existe degustação de
chocolate, normalmente não conse-
gue comer só um pedaço, precisa ser
o tablete inteiro. “Para mim o chocola-
te é só benefícios, principalmente na
época da TPM ou de fortes dores de
cabeça, porque ele cura tudo”.
Suas primeiras lembranças desse
amor vêm da infância, quando não po-
dia acompanhar a mãe ao supermerca-
do sem encher o carrinho com choco-
lates. Hoje, é formada em confeitaria e
panificação pela École Lenotrê e trouxe
toda essa paixão para a profissão. Ela
diz que conviver com o chocolate é a
maior das maravilhas do mundo, e que
as receitas preferidas que ela faz en-
volvem o doce.
Produção de chocolates da Fernanda Flaiban.
Divulgação
22 Novembro de 2013
Em uma das minhas
viagens, estava voltando da
França com uma mala de
32 kg, mas nenhuma peça
de roupa ou lembrancinhas,
era tudo chocolate.
Danielle Noce - confeiteira
“Chocolate salva qualquer doen-
ça ou cara feia, já fiz loucuras por ele.
Uma vez, em uma das minhas viagens,
estava voltando da França para o Bra-
sil com uma mala de 32 quilos, mas
nenhuma peça de roupa ou lembran-
cinhas. Era tudo chocolate” se diverte
Danielle.
Além de tudo isso, ela ainda é edi-
tora chefe de um dos mais conhecidos
blogs de culinária, o I Could Kill For De-
sert, ou simplesmente ICKFD.
E foi por este mesmo blog que
Fernanda Flaiban Woichowski, mais
uma chocólatra assumida, deu sua
entrevista. Nutricionista com espe-
cialização em dietoterapia pela São
Camilo e formada em confeitaria pelo
Le Cordon Bleu com especialização
em chocolate, Fernanda é correspon-
dente dos Estados Unidos para o ICK-
FD. Ela também conheceu o fantás-
tico mundo do chocolate logo cedo.
Era costume de família ingerir cho-
colate diariamente e isso perdura até
hoje: “eu como todos os dias, mas é
claro que a nutricionista que há em
mim diz: ‘só um pedacinho’, e eu vou
equilibrando a vida”.
Apesar de o chocolate ser um de
seus grandes amores, ele também já
causou muita dor de cabeça. Desde
o início do seu curso de confeitaria,
Fernanda sempre teve muito medo
de mexer com o chocolate, por ele
ser um ingrediente muito complexo
e requerer uma técnica específica de
tempo e temperatura. Seus dois últi-
mos módulos do curso eram sobre o
doce, mas ela não conseguiu se dedi-
car como deveria porque, justamente
nesta época, sua mãe havia sofrido
um acidente no Brasil. Fernanda sim-
plesmente não tinha cabeça para se
concentrar.
Com o fim do curso, Fernanda foi
trabalhar em um resort na Flórida e,
após dois anos sendo responsável
pela produção de todas as sobreme-
sas, a chocolatier do hotel reparou em
suas habilidades e a convidou para
a faz degustar diferentes marcas para
conhecer novos sabores.
“Meu paladar encontra prazer nes-
te sabor, ele acalma o coração, conse-
gue me fazer sorrir e aquecer nos dias
de tristeza”.
Talvez essa seja uma das explica-
ções ou, quem sabe, apenas o sabor
do doce mesmo. Mas o fato é que, de
acordo com o último balanço produzido
pela Associação Brasileira da Indústria
de Chocolates, Cacau, Amendoim, Ba-
las e Derivados (ABICAB), o consumo
do produto cresce gradativamente no
Brasil.
Somos o terceiro maior produtor
mundial do doce, com 228.218 tone-
ladas produzidas no primeiro semestre
de 2012; e o quarto maior consumidor
de chocolate, com uma média de 2,2
kg por habitante. O valor ainda é uma
média baixa se comparado à Argenti-
na, com 5 kg por habitante, e com a
Alemanha, com 12 kg/hab. Isso de-
monstra que este mercado ainda tem
muito potencial para crescer, algo que
as 38 grandes indústrias de chocolate
do país certamente comemoram.
Segundo pesquisa realizada pelo
IBOPE, as mulheres representam 55%
dos apaixonados por chocolate, e 72%
delas o consomem regularmente. Essa
situação pode ser explicada pela medi-
cina: o cacau, matéria prima essencial
na produção do chocolate, possui trip-
tofano, que é responsável por estimu-
Danielle em uma das produções das
receitas que vão ao ar no blog ICKFD.
Fernanda no seu dia a dia.
preencher a vaga de assistente da
sala de chocolates. “Tinha como negar
um convite desse? A verdade é que a
vida nos encaminha para onde temos
talento. De lá para cá me especializei
na arte de moldar chocolate, e é só
isso que eu quero fazer da vida”, diz
Fernanda.
Hoje, Fernanda é chocolatier e uti-
liza o chocolate como matéria prima.
Com ele, cria bombons, trufas, barras
e muitos outros doces. Porém, muitas
vezes exagera na degustação durante
a produção, principalmente quando os
bombons levam o banho de chocolate
e sobram “rebarbas” que o cortador
separa. Nestes dias, o café da manhã,
o almoço e o lanche da tarde são puro
chocolate.
Para ela a paixão pelo doce vem
exatamente de seu sabor puro e das
inúmeras gramaturas do cacau, o que
Divulgação
comida
#
23#amor
lar a produção de endorfina e serotoni-
na, neurotransmissoras que causam a
sensação de bem estar. Ele ainda pos-
sui as duas substâncias responsáveis
pelo prolongamento dessa sensação,
a N-oleoletanolamina e N-linoleoileta-
nolamina.
Entretanto, o consumo exagerado
do chocolate pode ser prejudicial tan-
to para a saúde física como mental. A
endorfina e serotonina liberadas pelo
cacau estimulam o cérebro de quem
está consumindo. Então, as pessoas
que o comem exageradamente podem
desenvolver dependência.
“O chocolate traz muitos benefícios
para a saúde, como no controle da an-
siedade, ou para o coração, por exem-
plo. Mas se a pessoa não se controlar,
ela pode ficar dependente, porque ela
fica impulsiva, e passa a depender da-
quela sensação de bem estar. E na de-
pendência, a pessoa passa a ter neces-
sidade de buscar constantemente esse
bem estar. Pessoas com transtorno de
ansiedade podem ser mais sujeitas a
se viciar.”
Os doces, cheios de detalhes, são produzidos com muito cuidado.
Você sabia?
Ochocolate foi inventado pela civilização asteca? No
século XIV os astecas desenvolveram uma bebida feita
com sementes de cacau e a chamaram de “xocolatl”, que
quer dizer água amarga. A partir daí é que surgiu a palavra
chocolate. Mas o nome não era à toa: essa bebida era real-
mente amarga, e ainda por cima temperada com pimenta!
Nada parecido com o chocolate que conhecemos hoje, não?
A receita só foi reformulada um século depois, quando os europeus
chegaram à América e conheceram
o xocolatl dos Astecas. De seus
ingredientes originais, retiraram
várias especiarias mexicanas,
que acabaram substituídas
por açúcar, canela e
baunilha, tornando a be-
bida doce e com o gosto
mais parecido com o que
conhecemos hoje.
Imagens:Divulgação
Divulgação
Divulgação
comida
#
24 Novembro de 2013
Dois pra lá, dois pra cá
comportamento
#
Além de perder peso, dançar traz muitos benefícios para a saúde
Por Bruna Amaral, Carolina Bigoni e Nayla Inácio
L
uiz Fernando Campos, 49 anos,
formado em Educação Física pela
Universidade Santo Amaro - UNI-
SA explica os benefícios que a dança
traz para nós. “Dançar elimina o stress
e a ansiedade, estimula à sociabilida-
de, melhora a autoestima, proporcio-
na convívio e integração com outras
pessoas, diminui a timidez, dançar
exercita os músculos de forma suave,
queima calorias, melhora a circulação
sanguínea, aumenta o batimento car-
díaco, trabalha a coordenação motora,
a agilidade, o ritmo e a percepção es-
pacial”.
Patrícia Lira Poshner, professora
e dançarina de zouk, com mais de 20
anos de experiência, iniciou a sua car-
reira profissional em 1998. “A dança,
como atividade física, libera endor-
fina, substância relacionada ao pra-
zer. Ninguém dança de cara fechada
e, normalmente, termina a atividade
mais alegre. É um exercício que inter-
liga mente e corpo. A dança possibilita
conhecer e compreender a diversidade
das manifestações culturais, de dife-
rentes povos, fazendo um estudo de
como surgiu aquele ritmo e sua dança.
Esse saber é riquíssimo e nos propor-
ciona ligações com a história do ho-
mem, da arte, e assim, entendermos o
mundo hoje”, disse a professora sobre
o que a dança pode nos beneficiar.
Além de tudo isso, torna-se uma
importante opção de lazer e não pode-
mos esquecer da música, que envolve
e estimula sensações e emoções, o
que faz muito bem para gente, não é?
Exercício físico e sensualidade se aliam no mundo da dança.
Divulgação
25#amor
Homens e mulheres procuram a
dança por motivos diferentes. Gabriel
Zeviani, 23 anos, formado em sistemas
de informação e atualmente praticante
a dança de salão conta que começou a
dançar em um momento crítico de sua
vida. “No começo do ano, perdi meu
emprego e ao mesmo tempo minha
namorada terminou comigo. E aquilo
para mim foi muito difícil de aguen-
tar, passei meses em casa com baixa
autoestima, de mal com meu corpo e
pensando no que eu ia fazer da vida.
Depois de alguns meses, entrei para a
academia e lá me inscrevi para as au-
las de sertanejo e logo de cara gostei
muito, e simultaneamente senti um
incentivo muito grande para continu-
ar. Hoje estou de bem com meu corpo,
minha autoestima está elevadíssima e
atualmente danço sertanejo, vanera e
samba de gafieira. A dança para mim
é mais que uma atividade física. Ela é
uma forma de desligar os pensamen-
tos, desestressar e me divertir”
A atividade age involuntariamente
de forma terapêutica na pessoa que
a pratica e faz com que haja foco no
movimento, desempenho, ritmo e per-
cepção do corpo, influenciando direta-
mente no aumento da autoestima, já
que a atenção de problemas externos
e preocupações são desligadas, expli-
ca Patrícia Lira Poshner sobre esse o
caso do Gabriel, em que a dança o aju-
dou a superar.
Lívia Rocha, 18 anos, aluna do
zouk há três anos, relata a nova pes-
soa que se tornou depois que começou
a dançar. “Depois que passei a ter o há-
bito de fazer aula de dança de salões
apresentei uma grande mudança signi-
ficativa no meu comportamento: fiquei
menos tímida, obtive mais confiança,
mais vontade de encontrar os amigos e
de sair para as baladas. Encontrei um
equilíbrio emocional, tão importante
para emagrecer e manter o peso dese-
jado que foi facilmente alcançado e se
tornou um fator decisivo para conquis-
tar um corpo mais saudável”.
A dança de salão é essencialmen-
te uma atividade social e provoca uma
sensação de bem-estar psicológico.
Permite a troca de experiências, esti-
mula o diálogo e aumenta a motivação,
reforça Patrícia.
Existe o preconceito de que dança
de salão é “coisa de velho” e de que al-
guns ritmos, tais como o bolero, é “coi-
sa careta”. Ao frequentar a Academia
Milena Malzoni, esse conceito muda
rapidamente e todos acabam adoran-
do dançar. Com 20 estilos de ritmos
diferentes a academia possui uma pro-
posta de trabalhar a dança como uma
forma de terapia socializadora direcio-
nada à pessoas que buscam melhorar
a saúde física e mental.
A dança de salão é composta por
vários ritmos, que são eles: Forró, Lam-
bada, Samba de gafieira, maxixe, ser-
tanejo, merengue, tango, bolero, salsa,
zouk, valsa,flamenco, entre outras.
Poucas pessoas sabem o que é Zouk.
Apesar de ser uma dança mundialmen-
te conhecida e ser um ritmo de suces-
so em diversos países, muitas pessoas
ainda não conhecem, e ao ouvirem o
nome ou até mesmo o ritmo desconhe-
cem sua origem. A proposta inicial é
levar um conhecimento mais aprofun-
dado sobre o ritmo, buscando um des-
pertar de interesse pela a dança, que
também faz parte da categoria dança
de salão.
A palavra Zouk significa “Festa” –
e é um ritmo mundialmente conhecido.
Sua dança é originada do Caribe, prin-
cipalmente nas ilhas de Guadalupe,
Martinica e San Francisco, todas de
colonização Francesa.
Com a saturação e decadência da
Lambada, as bandas e músicas desse
estilo tornaram-se cada vez mais raras.
Os “lambadeiros” então precisaram
procurar outros ritmos como alternati-
va para continuar a dança. A solução
foi encontrada nos ritmos caribenhos,
especialmente nas ilhas colonizadas
A dança para mim é
mais que uma atividade
física. Ela é uma forma de
desligar os pensamentos,
desestressar e me divertir
Gabriel Zeviani - aluno
Fiquei menos tímida,
obtive mais confiança,
mais vontade de encontrar
os amigos e de sair para
as baladas. Encontrei um
equilíbrio emocional
Lívia Rocha - aluna
Dança pode reunir a família.. Paty Lira dança com os filhos Rodrigo e Felipe.
Divulgação
comportamento
#
26 Novembro de 2013
pelos franceses. Daí a denominação
“lambada francesa” para esses ritmos,
especialmente para o zouk, que se tor-
nou o mais popular deles.
No Brasil, po-
pularizou-se ao
final da década
de 1990, com
movimentos dife-
renciados e asso-
ciados à lambada,
influenciando-a e
sendo influenciado
por ela. Começou
a ser conhecido na
região Norte, mas
logo se espalhou
por todo o país.
Na caracteri-
zação do zouk é
dançado com movi-
mentos contínuos,
que resultam num passeio em liberda-
de melódica, com respiração nas pau-
sas. Sua musicalidade e ritmo ensejam
o romantismo e a amizade, fortalecen-
do um dos mais gratificantes prazeres
que é a dança. É necessário desenvol-
ver todo o corpo ao dançar.
As partes do
corpo que mais
se movimentam
nessa dança
são os mem-
bros inferiores,
a região abdo-
minal e a cabe-
ça. Além disso,
o zouk trabalha
o alongamento,
a coordenação
motora, o condi-
cionamento físi-
co e ainda deixa
os músculos de-
finidos. No caso
dos homens,
o abdômen e a cabeça não se movi-
mentam tanto, mas é preciso agilidade
para dançar com a mulher. Em uma
hora de aula, a dança pode gastar de
400 a 500 calorias, mas existem pes-
soas que conseguem queimar até 800
calorias.
A “lambada francesa” como foi re-
conhecida no Brasil, é uma dança bas-
tante sensual, que combina os passos
da lambada com outras influências da
América Central, em especial caribe-
nhas, que acrescentam um toque ain-
da mais “caliente” aos seus passos e
os movimentos mais adaptados ao an-
damento da música.
A dança está super na moda e não
para de  ganhar adeptos e admirado-
res. Hoje, escolas de dança do país
inteiro recebem todo mês centenas de
alunos interessados em aprender esse
ritmo sensual. O ritmo já está tão soli-
dificado que existem diversos congres-
sos e competições nacionais e interna-
cionais
Está esperando o que? Só falta
você sair dançando. Experimente, não
há contraindicação!
A dança libera endorfina,
substância relacionada
ao prazer. Ninguém
dança de cara fechada e,
normalmente, termina a
atividade mais alegre
Patrícia Poshner - professora
Beleza e ritmo em todas as apresentações.
Divulgação
comportamento
#
27#amor
Amor pelo Basquete
esporte
#
Técnico João ‘Padola’ fala de sua profissão
e da atual situação do basquete no Brasil
Por Douglas Carrareto
O
basquete brasileiro já passou
por diversos níveis, fases e eta-
pas. Em 2011, por exemplo, a
Seleção Brasileira quebrou um jejum
de 16 anos sem ir a uma Olimpíada
e se classificou para os Jogos de Lon-
dres, podendo-se dizer, então, que es-
távamos novamente em uma boa fase,
diz o técnico João Padola.
Diversos fatores e pessoas podem
ser considerados responsáveis pela
maré positiva do Brasil no esporte da
bola laranja. Alguns deles ficam no ano-
nimato, mas certamente tem sua par-
cela de culpa pelos frutos colhidos no
presente.
João Monteiro da Silva Filho, o “Pa-
dola”, de 53 anos, é um deles. Forma-
do em Educação Física e pós graduado
em basquete com ninguém menos que
o glorioso ex-jogador Wlamir Marques,
o treinador foi res-
ponsável por reve-
lar diversos joga-
dores que, hoje,
fazem a alegria
dos torcedores
brasileiros e inclu-
sive dos norte-a-
mericanos.
Quando co-
mandava a S.E.
Palmeiras, clube
em que trabalhou entre 1988 e 2005,
o experiente técnico ajudou a moldar
os primeiros arremessos de Leandri-
nho Barbosa, principal jogador brasilei-
ro na atualidade, integrante da Seleção
Brasileira e ala/armador do Indiana
Pacers, da principal liga de basquete
do mundo, a NBA.
Além de Leandrinho, Padola proje-
tou jogadores de alta relevância nacio-
nal e disputando o principal campeona-
to do Brasil, o NBB: o ala Dedé, hoje no
São José, o ala/pivô Márcio Cipriano,
do Brasília, e os pivôs Tiagão e Marcão,
atualmente no próprio Palmeiras.
“Acredito na dedicação e respeito
ao ensinar, sem julgar se será jogador
ou não. Tenho muito orgulho de todos
eles, até dos que viraram grandes pro-
fissionais em outras áreas. Admiro o
trabalho deles e sempre peço que re-
passem o carinho aos outros, sempre
lembrando do duro que tiveram que
dar para chegar onde chegaram”.
Dono de uma carreira respeitável,
o treinador tem em seu currículo exce-
lentes trabalhos em diversos lugares,
como o Esporte Clube Banespa, equipe
onde está desde 1985, atuando nas
categorias de base até hoje, no tradi-
cional e extinto Esporte Clube Sírio, foi
técnico de Seleções Paulistas de base,
foi responsável por levar o Palmeiras de
volta à elite do basquete brasileiro, em
2012, além de ser professor e técnico
da Universidade Anhembi Morumbi. Pa-
dola comentou sobre sua experiência e
sobre a sensação única de
rodar por diversos clubes.
“Ser treinador de bas-
quete é amar o que faz,
sem esperar nada em tro-
ca. Ensinar o que sei me
dá prazer, transformar
pessoas. Isso faço através
do basquete. Podemos ter
muito mais jogadores na
base e assim, colher mais
frutos no futuro”
Da sua primeira convocação, em
1922, até os dias de hoje, a Seleção
Brasileira viveu tempos distintos,
muitos áureos, mas alguns sombrios.
Por ser um esporte ainda pouco va-
lorizado e divulgadocomo merece, o
basquete tem dificuldades de cres-
cer. Para João Monteiro da Silva Filho,
a modalidade está em outro patamar
em relação a antigamente. Agora,
que estamos passando por uma ‘cri-
se’, Padola afirma que não é hora de
esquecer o que foi feito, mas sim, de
refletir e tentar evoluir novamente.
Assim como o basquete, a própria
profissão não tem o devido valor nos
dias de hoje, no Brasil. Ser professor
de Educação Física não é sendo uma
boa opção para alguém que queria
abundância e muito dinheiro. Mas por
que escolher este curso? Por que ser
professor de educação física? Por que
ser técnico?
“Quando fiz o curso de Educação
Física já esperava que não seria fá-
cil, mas o basquete é contagiante de-
mais. Fui buscar nas lições de outros
professores, lições de se trabalhar
se divertindo com o que faz. Ensinar
com muita seriedade e dedicação.
Infelizmente não somos valorizados
como deveríamos, mas não choro por
isso. Faço por gosto. Sonho um dia
mudar tudo isso, sempre com muita
esperança”.
“Vejo que podemos chegar muito
mais longe, porque nosso país é bem
diversificado e temos material huma-
no. Mas precisamos do apoio um do
outro para alcançar nossos objetivos.
O momento é de reflexão e não de
destruir o que já foi feito. Precisamos
ouvir os técnicos com mais tempo no
basquete. Vejo muitos deles hoje ca-
lados, com muitas coisas boas para
passar. Às vezes, escutar os que es-
tão parados no tempo seja uma al-
ternativa. Não existe mágica, existe
um trabalho, haverá vários fatores a
favor e contra. Assim, você consegue
tirar o melhor para o nosso basquete.
Precisamos entender que ninguém é
descartável”.
Técnico João ‘Padola’ orienta seus atletas.
Reprodução/UOL
Ser treinador de
basquete é amar o
que faz, sem esperar
nada em troca
João Padola
28 Novembro de 2013
Camisas que contam histórias
esporte
#
Pedaços de pano que representam a identidade de um clube e a paixão do torcedor
Por Rafael Pileggi Calegarini
N
os primeiros anos de vida, toda
criança passa por diversas no-
vas situações. Além de aprender
a falar e dar os primeiros passos, é na
infância que uma decisão que será le-
vada para toda vida é tomada: o clube
pelo qual a criança vai torcer. É nessa
idade, que todo mundo é presenteado
com sua primeira camisa de time, ge-
ralmente dada pelo pai ou por algum
parente próximo.
Com o passar dos anos, aquela ca-
misa, que até então era única, começa
a dividir os espaço com diversos outros
modelos. E é justamente aí, que surge
uma paixão única em cada torcedor: os
mantos sagrados.
Atualmente, no mundo do futebol,
as camisas de clubes são os objetos
mais cobiçados por todos torcedores.
Com o marketing esportivo cada vez
mais aliado às equipes, diversos mode-
los de camisa são lançados em curto
período de tempo, fazendo com que os
colecionadores aumentem seu acervo
na mesma proporção.
No entanto, engana-se quem pen-
sa que as camisas das atuais tempora-
das - que podem custar até R$250,00
- são as mais caras. No mundo dos
colecionadores de camisas de time, os
valores das camisas andam em vias
opostas ao ano de lançamento da ca-
misa. Isso significa que, quanto mais
antiga uma camisa, mais difícil a chan-
ce de se encontrar e, consequente-
mente, mais alto o seu valor. Outro fato
que pode elevar o valor de uma camisa
é o fato dela ter sido usada em jogo,
sendo considerada, portanto, uma
peça ainda mais valiosa.
O colecionador Fábio Rocha, pal-
meirense que conta com mais de
1000 camisas da equipe paulista em
seu acervo pessoal, é considerado por
muitos desse meio um “homem de sor-
te”. Colecionador desde 2007, Fábio,
assim como todos nesse meio, contou
com o empurrãozinho de alguém para
iniciar sua coleção. “Comprava uma ou
duas camisas por ano, mas tudo come-
çou mesmo quando peguei 20 camisas
do meu irmão. A partir dai vi que já ti-
nha uma coleção e, desde então, não
parei mais”.
Além de ter uma das maiores cole-
ções de camisas, Fábio possui também
uma das relíquias mais valiosas da his-
tória do Palmeiras. Em sua coleção, o
torcedor possui a camisa usada pelo
goleiro Marcos - um dos maiores ídolos
da história do clube - na semifinal da
Copa Libertadores de 2000, oportuni-
Acredito que o colecionismo
pode ser um vício, por isso é
importante ir com calma.
Rodrigo Silva - colecionador
ArquivoPessoal
Com diversas relíquias na coleção, Fábio expõe suas camisas em diversos encontros de colecionadores.
29#amor
dade em que o time alviverde eliminou
o seu maior rival: o Corinthians.
“A camisa usada por Marcos no
pênalti do Marcelinho é, sem duvida,
a mais valiosa. Demorei mais de um
ano para conseguir convencer o antigo
dono a me vender”, diz Fábio.
Tamanha a importância da cami-
sa, tanto no mundo dos colecionado-
res quanto na história do Palmeiras,
que o colecionador teve a oportunida-
de de expor sua camisa em uma das
paredes da loja de produtos oficiais do
clube, na Zona Oeste de São Paulo.
Diferente de Fábio, foi quando
criança que o colecionador Rodrigo
Silva deu início a seu acervo. Acostu-
mado a frequentar estádios de futebol
na infância, foi no Morumbi - estádio
do seu clube de coração - que o cole-
cionador passou a se interessar, de
fato, pelos mantos do São Paulo. “Des-
de pequeno, quando comecei a ir aos
campos, achava fantástica a variedade
das camisetas presentes na arquiban-
cada”, diz Rodrigo.
O colecionador, que hoje possui
98 camisas do São Paulo em sua
coleção, ganhou sua
primeira camisa
em 1993. No
entanto, a ca-
misa mais va-
liosa em seu
acervo é de
1980, ano
em que Ro-
drigo ainda nem era
nascido.
Assim como a
maioria dos colecio-
nadores, Rodrigo en-
frenta a desaprova-
ção da namorada em
relação ao alto dinheiro gasto com as
camisas. No entanto, o próprio colecio-
nador reconhece que a paciência é o
melhor aliado de quem tanto sonha ver
sua coleção cada vez maior. “Acredito
que o colecionismo pode ser um vício,
por isso é importante ir com calma”.
No mundo dos colecionadores,
muitas coisas vêm mudando com o
passar do tempo. Além dos tecidos
das camisas, que são aperfeiçoados a
cada ano para o melhor desempenho
do jogador dentro de campo, o modo
pelo qual os torcedores se encontram
para trocar, vender e comprar camisas,
também mudou bastante de um tempo
pra cá.
Os encontros, que antigamente
só eram feitos no Estádio do Pacaem-
bu, em São Paulo, hoje são realizados
diariamente nas redes sociais. Através
do Facebook, colecionadores de todos
os lugares do Brasil se falam atra-
vés de grupos direcionados ao
ramo e negociam camisas de
clubes dos mais diversos pa-
íses. Foi justamente aí, que
surgiu a ideia de um dos
colecionadores de criar um
site para expor sua coleção
na internet.
O palmeirense Daniel Cachiello,
ganhou sua camisa cinco anos de
idade. Mas foi apenas sete anos
mais tarde, devido ao seu apego
por simbolismo, heráldica e íco-
nes de identificação, que o cole-
cionador realmente se tornou um
aficcionado peles mantos palestrinos.
“ Camisas de futebol, além de bandeira
e escudos dos clubes, são os maiores
expoentes de simbolismo”, diz Daniel.
Devido ao grande apego e orgulho
da própria coleção, Daniel teve a ideia
de criar um blog para divulgar e expor
suas 160 camisas para que outros
colecionadores pudessem aprecia-la.
“Por sempre gostar da história das ca-
misas e manter um arquivo muito gran-
de de imagens e registros, achei inte-
ressante compartilhar isso com quem
também tivesse interesse”. O grande
número de acessos, fez com que o co-
lecionador almejasse até a publicação
de um livro que pudesse contar um
pouco mais de cada camisa do Palmei-
ras. “Só preciso achar algum editor dis-
posto a publicar”, completou Daniel.
No entanto, mesmo com o site, Da-
niel garante que é através das redes
sociais o jeito mais fácil de encontrar
camisas que ele ainda nao tem na
coleção. Porém, como tudo na vida, o
colecionador vê um lado negativo na
ampliação do mundo dos coleciona-
dores neste meio da internet. “Nesse
meio tempo, as redes sociais facilita-
ram muito o contato entre as pessoas
e, consequentemente, aumentaram a
quantidade de curiosos, surgindo uma
nova categoria de colecionador, o pseu-
docolecionador que é, na verdade, um
vendedor de camisas”.
Diferente da maioria dos colecio-
nadores, Daniel tem plena consciência
que, sim, colecionar camisas pode ser
considerado um vício. “Já ouvi entre-
vistas de psicólogos que colecionismo
é uma categoria de Transtorno Obses-
sivo Compulsivo”. Para o colecionador,
o hábito de ir atrás de camisas para o
seu acervo é uma fuga, ou seja, uma
maneira encontrada pelo palmeirense
de fugir da realidade.
Vicio ou hobby, colecionar camisas
é cultivar a história de um ou mais ti-
mes através de pedaços de pano. In-
dependente da cor, tamanho ou clube,
cada uma tem o seu valor e conta uma
história única.
ArquivoPessoal
Apaixonado pelo S.P.F.C, Rodrigo já alcançou a marca de 100 camisas na coleção
30 Novembro de 2013
O
uve-se muito que o brasileiro lê
pouco, principalmente os jovens
e as pessoas de baixa renda, e
culpa-se a falta de incentivo por parte
do Governo e o preço alto das publica-
ções. Mas nenhum dos argumentos
usados para explicar a falta de interes-
se dos brasileiros pelos livros pode ser
considerado totalmente verdadeiro.
Por outro lado, várias pesquisas
apontam um grande crescimento de
leitores no país.
Uma delas foi fei-
ta pelo Instituto
Pró-Livro, divul-
gada em 2012, e
mostra que a mé-
dia nacional de
leitura é de 4,7
livros por ano, um
grande avanço
considerando que
no início do sé-
culo a média era
de 1,8. O mesmo
estudo ainda re-
vela que embora
a classe A consuma mais livros per
capita, ela é responsável por somente
5% do total das vendas no país, e é a
classe C quem leva para casa 47% dos
livros vendidos.
Este aumento de público influen-
ciou diretamente o preço médio de
cada exemplar. Desde 2004, o preço
do livro reduziu cerca de 40%, descon-
tando a inflação. O aumento das tira-
gens e lançamentos de edições eco-
nômicas e de bolso contribuiram para
que esta queda acontecesse. Saindo
deste universo de livros novos, o preço
que se paga pela leitura pode se redu-
zir a zero através de programas de in-
centivo a leituras, sebos e bibliotecas.
O crescimento da conscientização de
que ler realmente é necessário e um
ótimo hábito fez com que fosse pos-
O mundo apaixonante da literatura
livros
#
Conheça pessoas que não vivem sem ler e consideram o gasto com livros como um
investimento, que agrega conhecimento e abre novas fronteiras
Por Janahina Rodrigues, Laura Dourado, Patricia Allerberger e Renata Simond
sível encontrar Machado de Assis por
R$ 1,00 em sebos ou baixar de graça
(e legalmente) na internet, em vez de
comprar o mesmo livro por R$ 50,00
em alguma livraria.
O Brasil é o nono maior mercado
editorial do mundo, produzindo quase
500 milhões de exemplares por ano e
fazendo com que editoras estrangeiras
desembarquem no país para investir
na publicação de seus livros. Fenôme-
nos como Stephe-
nie Meyer, Suzan-
ne Collins, Meg
Cabot, Thalita
Rebouças e Paula
Pimenta coloca-
ram os jovens de
até 24 anos como
o maior público
leitor do país.
Com o grande su-
cesso, os livros
c o n q u i s t a r a m
pontos de ven-
da alternativos,
como padarias,
lojas de conveniência, farmácias,
supermercados e até estações de
metrô e trem. As editoras têm feito
um esforço enorme para levar seu
acervo a mais brasileiros que não
leem, e algumas já incluíram livros
nos catálogos de venda de grandes
empresas de cosméticos.
Para incentivar a leitura, o Go-
verno Federal criou o Vale-Cultura,
onde é possível que trabalhadores
que recebem até cinco salários míni-
mos tenham R$ 50,00 mensais para
comprar livros, CDs, DVDs ingressos
de teatros, cinemas, jornais e revistas,
tudo através de um cartão magnético.
E o valor é cumulativo, o que dá a opor-
tunidade de juntar dinheiro e comprar
produtos mais caros.
O mercado literário tende a cres-
cer cada vez mais com a erradicação
do analfabetismo, políticas de incen-
tivo e massificação dos livros consi-
derados comerciais. Cada vez mais
teremos best-sellers con-
vidando novos
leitores e, um
dia, a leitura
será um hábito
O Brasil é o nono maior
mercado editorial
do mundo, produzindo
quase 500 milhões
de exemplares por ano
31#amor
completamente comum para os bra-
sileiros. Enquanto isso não acontece,
escutamos três jovens que leem muito
mais do que a média nacional e, ape-
sar de algumas dificuldades, desen-
volveram um vínculo enorme com a
leitura.
Brasileiros acima da média
Para muitos leitores, ler é uma for-
ma de viajar e de escape da realidade,
ou um momento de reflexão e relaxa-
mento. Não importa quais livros eles
escolhem, se, após a leitura, os pas-
sam para frente ou deixam encosta-
dos em uma prateleira. O importante
é o amor que eles sentem pelos livros.
Os estudantes Tharik Reis, Wen-
dell Carvalho e Renata Kazys abriram
o coração para contar um pouco da
paixão pelos livros, como conciliam a
vida cotidiana ao hábito de ler e como
gerenciam este amor.
O estudante Tharik Reis tem o
hábito de comprar os exemplares em
sebos, conseguindo economizar mais
de 60% em um livro desejado. Esta
economia permite que ele possa con-
sumir até três livros por mês. O que
limita a leitura de mais livros, é a falta
de tempo, entre a correria dos estudos
e deveres, já que Tharik consegue ler
apenas no transporte público. O estu-
dante lê tanto livros impressos quan-
to online, mas confessa que o fato
de não ter tablets ou e-readers torna
desconfortável a leitura digital e, nes-
te caso, o livro se torna mais fácil para
levar na mochila no seu dia-a-dia.
Wendell Carvalho é estudante de
Jornalismo e gerencia um blog de lite-
ratura. Wendell tentou fazer as contas
e chegou a aproximadamente 170 li-
vros lidos. Sempre que encontra um
espaço na agenda corrida, ele tira o
livro da mochila e lê. Quando termi-
na, o blogueiro posta uma crítica em
seu blog. Leitor desde os quatro anos,
iniciou a vida literária lendo histórias
em quadrinhos do Mauricio de Sousa
e, aos 10 anos, deu um passo
maior e leu o seu primeiro li-
vro que continha mais de 200
páginas, “Caçador de Pipas”,
de Khaled Hosseini, editado
pela Nova Fronteira.
Apaixonado pelo
universo que sai
de simples páginas, Wendell não abre
mão de ler livros impressos. Para ele, a
experiência de comprar um livro, sentir
o cheiro peculiar e folheá-lo é única, e
só em casos que o objeto em si é muito
grande ou pesado, ele opta pela leitu-
ra digital, mas mesmo assim não deixa
de comprar o exemplar impresso na li-
vraria. Esse é o único modo que encon-
trou para poder montar a tão sonhada
biblioteca em sua casa.
Sobre o número de leitores no Bra-
sil, Wendell gosta
de separar em
duas épocas: pré
e pós lançamento
de Harry Potter. A
saga do pequeno
bruxo foi a primei-
ra a ser lançada
no país e conquis-
tou milhares de
fãs das mais di-
versas idades. De-
pois disso, outras
séries literárias
foram lançadas
e continuaram a
conquistar novos
leitores, tanto fi-
éis como passageiros. A ideia do blog
surgiu de acordo com o crescente in-
teresse pela leitura. Pensar em poder
incentivar pessoas a ler por meio das
críticas feitas por ele próprio foi o que
mais o seduziu. Agora, além de seu
blog, Wendell também é colunista de
literatura do portal Mundo Blá, site que
possui mais de 23 mil visualizações
mensais.
Não tendo um gênero preferido, o
blogueiro sempre está pesquisando no-
vos livros para fazer as críticas. Quando
encontra um diferente, ele lê a resenha
e se for interessante não pensa duas
vezes para começar a leitura. Mesmo
que o começo não o agrade muito,
Wendell tenta ler até a página 100, pois
muitas histórias demoram a embalar o
leitor, mas se mesmo assim o livro não
o conquistar, ele
descarta e volta
a procurar novas
aventuras literá-
rias.
Fazer um tra-
balho bom sempre
traz benefícios. O
crítico conta que
as editoras abrem
as portas para lei-
tores que fazem
críticas em blogs
de sucesso, e mui-
tas vezes até en-
viam exemplares
para que se faça
o comentário no
site. Esta é uma forma que agrega para
os dois lados, o blogueiro economiza
ao não ter que comprar o livro, ganha
visualizações e, às vezes, recebe várias
cópias para fazer sorteios, e as editoras
conseguem ter uma publicidade eficaz e
a baixo custo, pois atingem exatamente
o público alvo.
É preciso melhorar o
contato das crianças com
os livros. Mostrar às pessoas
que leitura é conhecimento,
entretenimento e cultura
livros
#
32 Novembro de 2013
Mesmo com o blog, Wendell man-
tém o seu próprio ritmo de leitura, ler não
se tornou uma obrigação e nem se tor-
nou estressante. Para ele, ser obrigado
a ler torna tudo chato e desinteressan-
te, e a última coisa que ele quer é per-
der a paixão pelo mundo literário que o
conquistou quando tinha apenas quatro
anos de idade.
A estudante de Lazer e Turismo Re-
nata Kazys lê cerca de cinco livros por
mês, geralmente os compra pela inter-
net, mas, quando dá, pede emprestado
de amigos que compartilham do mes-
mo gosto. Começou a ler quando tinha
14 anos e, aos 17, o hábito virou com-
pulsão e suas eram férias totalmente
dedicadas à leitura. Apaixonada pelos
impressos, aprecia quando compra
um livro novo. Já é um hábito pegar o
livro, folheá-lo, sentir o relevo da capa
e o cheiro de novo. Para ela, os livros
digitais não vão conseguir passar esta
sensação do toque. Renata sempre
leva um livro na bolsa e quando tem
algum tempinho livre começa a ler e
se desliga totalmente da realidade que
está a sua volta. Geralmente, cerca de
30 minutos do dia é dedicado à leitura,
mas dependendo do livro e da ocasião,
ela pode ler o dia inteiro.
Renata acredita que os livros con-
siderados best-sellers são a porta de
entrada dos novos leitores. Mesmo
que a escrita seja simples e o enre-
do batido, estes livros são capazes
de seduzir quem não tem o hábito de
ler. Quem realmente descobre o gosto
da leitura através destes livros, con-
sequentemente vai procurar outros,
futuramente, como no caso da saga
Crepúsculo, de Stephenie Meyer, que
cita o clássico “Morro dos Ventos Ui-
vantes”, de Emily Brontë. Depois de
ler os livros da saga, muitos foram
atrás do clássico mundial. Claro que
é uma leitura diferente, mas é exata-
mente o que acaba sendo interessan-
te: um livro considerado clichê abre as
portas para um clássico inglês, que
pode aguçar mais ainda o gosto literá-
rio e mostrar que não existe somente
um tipo de livro para se ler.
Disposta a gastar até R$ 40,00
em um bom livro, Renata fica atenta às
promoções na internet, e foi assim que
ela chegou a marca de 120 livros lidos.
Garante que os livros são tão importan-
tes quanto as roupas que usa e que já
usou o dinheiro que era destinado para
outras compras para adquirir um livro.
Encara a leitura como investimento,
pois “ao ler você adquire conhecimen-
to e melhora a linguagem”.
Para aumentar o número de leito-
res brasileiros, ou aumentar a média
brasileira de leitura, é preciso melho-
rar o contato das crianças com os li-
vros, e também mostrar às pessoas
que uma obra literária é conhecimen-
to, entretenimento e cultura. O Brasil
está investindo em políticas públicas
para melhorar este cenário, mas gran-
de parte do incentivo ainda vem de
instituições e ONG’s e não do governo,
como deveria ser.
O incentivo literário no Brasil
O incentivo pela leitura é essencial,
tanto para a alfabetização, para apro-
Projetos de incentivo são essenciais para aumentar o número de leitores.
JanahinaRodrigueseLauraDourado
33#amor
O Bookcrossing tem como objetivo o desapego total dos livros.
LauraDourado
fundar conhecimentos, criar opiniões e
facilitar todo e qualquer tipo de aprendi-
zado. Para que o amor aos livros cresça
cada vez mais no país é preciso não só
que os livros cheguem às mãos dos lei-
tores, mas também que o espaço deles
seja cada vez maior e mais divulgado.
Segundo dados da pesquisa Re-
tratos da Leitura no Brasil, feita pelo
Instituto Pró-Livro em 2012, de 178
milhões de brasileiros, os leitores atin-
gem a marca de 88 milhões, e apesar
do número ter diminuído em relação
a mesma pesquisa feita em 2007, os
que confirmaram este hábito dizem
que estão lendo cada vez mais, o que
é uma das explicações para o aumento
na venda literária nos últimos anos.
Outros motivos que sinalizam a alta
das vendas são os e-books, as feiras e
festivais literários, cada vez mais popu-
lares, campanhas de leitura e também
a visibilidade de autores nacionais no
exterior. Cada um desses pontos é im-
portante para o crescimento da leitura
e para a economia literária.
A discussão sobre o fim dos li-
vros impressos com o surgimento dos
e-books cessou, leitores e especialistas
concordam que
os dois podem
conviver juntos e
não há rivalidade
entre os meios. O
surgimento dos li-
vros digitais impul-
sionou as vendas
e fez o mercado
crescer, atualmen-
te, não apenas
livros de ficção e
recreativos são
encontrados na
versal digital, os di-
dáticos e até guias
turísticos podem ser comprados para
leitura em tablets.
Rafael Ferreira, dono do Sebo do
Ferreira, em São Paulo, sofre com o
surgimento dos livros digitais. Seu sebo
tem cerca de três mil livros, grande par-
te adquirida por ele, e a venda tem dimi-
nuído, pois muitos dos títulos que pos-
sui já são encontrados na internet. Há
30 anos no mercado, ele diz que antiga-
mente a visitação aos sebos era maior.
Entretanto, durante a entrevista, a loja
recebeu a visita de vários estudantes e
o telefone não parou de tocar.
As feiras de livros que acontecem
pelo país também trazem maior visibi-
lidade para este mercado. Encontros
com autores, discussões de best-sel-
lers e palestras mantêm os apaixona-
dos por perto, atraem visitantes para
novas descobertas e organizam cam-
panhas de incentivo para as crianças.
A Festa Literária de Paraty criou em seu
site o Movimento por um Brasil Literá-
rio, que organiza ações para tornar a
sociedade leitora,
como mesas re-
dondas, festivais
e seminários.
A Feira do Li-
vro de Lajeado, no
Rio Grande do Sul,
levou neste ano o
primeiro festival li-
terário infantil para
a cidade e teve
como lema A Leitu-
ra como Fonte de
Prazer. As bienais
do livro reúnem,
também, autores
que estão fazendo sucesso, aproximan-
do-os de seus leitores. Há, ainda, a re-
serva de grandes espaços para livros
infantis e brincadeiras relacionadas à
leitura. É essencial que o imaginário seja
explorado para que, ao longo da vida, ler
se torne um hábito prazeroso, e quanto
mais cedo isto acontecer, mais fácil será
criar futuros leitores.
Atualmente, existem muitos proje-
tos de incentivo à leitura no país, o que
cativa mais pessoas. Há a campanha
do bookcrossing: você lê o livro e de-
pois o deixa em algum lugar público,
para que outra pessoa possa encon-
trá-lo. Os projetos nas periferias da ci-
dade, como saraus e rodas de leitura,
para fazer tanto crianças como adultos
terem espaço no mundo literário, são
outras formas de criar o hábito.
A visibilidade que autores brasilei-
ros estão ganhando no exterior também
é positiva. O sucesso de livros nacionais
fora do país faz com que novas editoras
queiram criar raízes no Brasil, trazendo
novos livros e novas possibilidades para
os leitores, com a chegada de obras tra-
duzidas. Um exemplo é a editora Cosac
Naify, que contabiliza 32 livros traduzi-
dos do alemão para o português.
No Brasil há muitos projetos, cam-
panhas e meios de incentivo à leitura
para todas as idades, mas ainda falta
uma divulgação mais eficaz para que
os cidadãos tenham conhecimento
desse tipo de trabalho. O mercado lite-
rário cresce, mas apenas uma parcela
da população consome. É importante
que mais pessoas descubram que há
sim muitos projetos que possibilitam e
facilitam este hábito no país.
O que muitos brasileiros não sabem
é que cada um pode fazer um pouco
para mudar o cenário literário no Brasil. A
doação e troca de livros incentivam pes-
soas que têm pouco contato com a lei-
tura, e mostram novos mundos literários
para os que sempre buscam novidade.
Descubra como ajudar essa corrente em
prol da disseminação da leitura no país.
Terminei de ler, e agora?
Segundo pesquisa realizada com
mais de 300 pessoas no Facebook,
A discussão sobre o fim dos
livros com o surgimento dos
e-books cessou, leitores e
especialistasconcordamque
os dois podem conviver.
livros
#
34 Novembro de 2013
83% preferem guardar seus livros após
a leitura, somente 3% doam e nenhu-
ma vende. Após serem questionados
se possuem o hábito de relê-los, 43%
afirmam que sim e 37% confirmam que
fizeram isso poucas vezes. Mas será
que as pessoas sabem o que podem
fazer com os livros depois de ler?
A grande maioria responderia que
entregar em sebos é uma opção, mas
o dono do sebo do Ferreira afirmou que
a grande maioria dos livros que ele
tem para vender vêm de brechós, ba-
zares, asilos, ferros-velhos, reciclagem
ou até mesmo da compra pessoal em
distribuidoras. São poucos os que vêm
de leitores físicos. Caso você queira
vender seus livros a um sebo, Ferrei-
ra afirma que a avaliação depende da
quantidade, qualidade e do preço que
ele conseguiria por uma edição nova.
A doação pode ser feita também de
pessoa física para pessoa física. Existe
no Facebook, uma página chamada
Doa-se um Livro, que Tiago Morini,
dono do blog Um Livro Qualquer, criou
como uma forma de protesto, mas que
acabou crescendo.
“Recentemente, o Ministério da Fa-
zenda editou uma norma que limita as
promoções culturais nas redes sociais,
caracterizando-as como promoção co-
mercial. Como eu tinha alguns livros
para sortear, acabei criando a página
Doa-se um Livro. Inicialmente, apenas
os meus livros seriam doados, mas
outras pessoas aderiram ao projeto e
ele acabou crescendo de uma forma
surpreendente”. Com isso, Tiago com-
pra alguns e ganha outros de pessoas
próximas que sabem do projeto e que-
rem participar de alguma forma. Para
ganhar em uma das promoções basta
compartilhar a imagem e deixar um co-
mentário. A escolha do ganhador é fei-
ta em até 15 dias. Quem faz o envio é o
doador, diretamente para o donatário,
em até uma semana, e o custo é pago
pelo remetente, sendo de até R$ 5,00
para todo o Brasil.
Se você quiser doar algum livro, é
só enviar uma foto, o link do seu perfil
ou página no Facebook e a sinopse no
e-mail doaseumlivro@gmail.com, mas
o livro deve estar em ótimas condições.
Outro projeto que vem chamando
atenção no mundo inteiro é o 1010
Ways To Buy Without Money (1010 Ma-
neiras de Comprar Sem Dinheiro), origi-
nário da Catalunha, na Espanha. Trata-
se de uma iniciativa a fim de promover
a leitura e dar valor ao livro, sem ser
pela compra em dinheiro. Os clientes
devem realizar ações significativas em
troca do livro. Algumas delas são: ligar
para a mãe e dizer que a ama, montar
uma playlist alegre e compartilhar com
seus amigos, doar sangue, deixar de
fumar, tornar-se um doador de órgãos,
entre outros. Esse projeto tem por ob-
jetivos provocar uma reflexão sobre
consumo e sustentabilidade e mostrar
que uma ação positiva para qualquer
pessoa, conhecida ou não, vale muito
mais do que o pagamento em dinheiro.
O bookcrossing é outro projeto
que está se tornando famoso no Bra-
sil. Criado nos Estados Unidos e que
já passeia pelo mundo inteiro, prega o
desapego total aos livros. A ideia é que,
depois da leitura, o livro seja deixado
em algum lugar público para que ou-
tra pessoa o encontre. Todos os livros
participantes têm uma etiqueta com
um cadastro, onde você pode entrar no
site oficial e descobrir por onde ele já
passou.
De acordo com o estudante e leitor
Tharik Reis, passar o livro para frente
traz muitos benefícios e é muito me-
lhor do que guardá-lo na estante, “Com
o bookcrossing e as doações, aumen-
ta a chance de encontrarmos um livro
que fuja da nossa leitura convencional
e nos surpreenda. Além disso, por se
tratar de cultura, acho importante o
desapego dos livros, o legal é passá-lo
para frente e possibilitar que mais pes-
soas tomem contato com uma leitura
que tenha te agradado.”.
Então, se você estava em dúvida
sobre o que fazer com aquele monte
de livros que tem encostado nas estan-
tes de casa, pegando poeira, aproveite
essas dicas, pois há muitas pessoas
que podem se interessar por eles. Pas-
sar conhecimento e diversão nunca é
demais.
Ler é um hábito poderoso que nos
faz conhecer novos mundos e ideias.
Além de estimular a criatividade, am-
pliar o vocabulário e incentivar a re-
flexão. Para os nossos entrevistados,
o universo literário é completamente
apaixonante, uma caixinha de sur-
presas onde cada livro é uma viagem
diferente. No entanto, mesmo com o
aumento da leitura regular de poucas
pessoas no país, o mercado ainda traz
altos preços, e o governo ainda não
investe fortemente em campanhas
de leitura. É de extrema importância
que, independente de sua plataforma,
os livros continuem a ser amados por
quem já os conhece e introduzidos a
quem ainda não está acostumado.
Grandes educadores, como Paulo
Freire, defendem a importância da
leitura para a educação: “Se é prati-
cando que se aprende a nadar e se
é praticando que se aprende a traba-
lhar, é praticando que se aprende a ler
e escrever”.
livros
#
35#amor
revista_final
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  • 2.
  • 3. carta ao leitor # T oda profissão, para que seja bem executada, exige mais do que talento e dedicação de quem a ela se oferece. O diferencial, muitas vezes, pode vir do amor, da paixão em fazer bem feito o que lhe é proposto. No Jornalismo não é diferente. Aliás, poderíamos dizer que tal requisito é ainda mais importante em um ofício cujo cenário se mostra cada vez mais adverso e desafiador. A imprescindível tarefa de narrar o presente e interpretar os mais diversos acontecimentos que tomam cena no espaço púbico torna-se cada vez mais difícil de ser executada, na medida em que mais fundo se mergulha nas complexidades das relações sociais, em detrimento ao advento de novas tecnologias que auxiliem na prática da profissão. A carência da população por cada vez mais informação e auxílio para a vida em um mundo caótico não acompanha a valorização do Jornalismo, e principalmente do jornalista, na sociedade contemporânea. Ao contrário: o enxugamento das redações e o imperialismo do marketing sobre as comunicações, projeta- das quase que exclusivamente para bater metas de audiência a cada edição, sopram contra a garantia do direito ao acesso à informação e a liberdade de expressão, alicerces da imprensa desde os primórdios. Aliado a isso, os salários cada vez mais corroídos e a crescente oferta de profissionais no mercado de trabalho fazem deste um cenário de visível deterioração da co- municação em acordo com seus princípios e propósitos. Pensar em amor é muito mais do que o simples apego a algo ou alguém. Amar é estar disposto a abdicar, palavra esta muito pre- sente no vocabulário de todo jornalista. Afinal, eles abrem mão de carreiras sólidas por uma vida instável, cheia de plantões sob horários e datas, que não vão de encontro a qualquer cal- endário dos sonhos, mas é uma jornada realmente fascinante. Equipe de redação: André Bengel, Bea- triz Bononi, Bianca Amorim, Bruna Ama- ral Zanlorenzi, Camila Albano, Danúbia Braga, Douglas Carraretto, Fernando Mostardo, Gabriela Stampacchio, Gilson Andrade dos Reis, Janahina Rodrigues, Jeniffer Zdrojewski, Jessica Djehdian Santaniello, Juliane Zanetti, Karen Cor- rea, Lais Oliveira, Laura Dourado, Loray- ne Defante, Maiara Gopfert, Manuela Morais, Marcela Haun, Marcos Mortari, Maria Carolina Bigoni, Mariana Figueire- do do Nascimento, Nayla Caroline Inacio do Nascimento, Patricia Allerberger, Pris- cila Pacheco, Rafael Pileggi Calegarini, Renata Simond, Roberta Ferreira Rodri- gues, Talita Facchini e Victor Bauab. EXPEDIENTE A produção da revista laboratorial #amor faz parte do processo de avaliação semestral dos alunos matriculados na disciplina PRODUÇÃO DE REVISTA, do sexto semestre do Curso de Jornalismo, da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi. Profa. Dra. Cleofe Monteiro de Sequeira Projeto editorial Prof.Ms. Luiz Vicente Lázaro Janahina Rodrigues Laura Dourado Talita Facchini Projeto gráfico e diagramação Foto da capa: Janahina Rodrigues O amor está no ar As informações apuradas junto às fontes e suas opiniões, presentes nas reportagens impressas na #amor, são de total responsabilidade dos alunos autores, que assinam as matérias.
  • 4. Os sustenidos e bemóis de um casamento perfeito A música mexe com as pessoas e o amor se move por meio dela. No Brasil e no mundo, compositores e admi- radores usam a arte para expressar um dos sentimen- tos mais naturais do ser humano. 11 16 O contato com a natureza, proporcionado pelas hortas urbanas e comunitárias, fortalece as re- lações e a integração do grupo social em que as pessoas estão inseridas. NATUREZA Verde em meio ao cinza MÚSICA 06COMPORTAMENTO Quanto vale o seu amor? Para os internautas que não querem aparecer solteiros ou para aqueles que precisam testar a fidelidade do parceiro, a solução já é acessível. Conheça os sites que oferecem esses serviços. Chocolate: um vício delicioso Amantes e conhecedores de uma das guloseimas mais gostosas e populares do mundo contam como o chocolate pode viciar e se tornar um perigo para a nossa saúde. 21COMIDA Dois pra lá, dois pra cá A dança é uma forte aliada para quem quer perder peso e ainda ter uma vida saudável. Conheça os bene- fícios e amplie seus conhecimentos sobre o zouk, um rítmo quente. 24COMPORTAMENTO O mundo apaixonante da literatura Falta de incentivo, dificuldade no acesso, alto custo e a correria do dia a dia dificultam o acesso aos livros.Conheça três brasileiros que lutam para man- ter o hábito da leitura no país. 30LIVROS
  • 5. Amor a carros antigos Confira grandes histórias de apaixonados por máqui- nas que marcaram gerações e conheça este universo fascinante que vem conquistando públicos de diversas idades. 37COLECIONISMO 36ARTE O amor ao desenho de Paulo Sayeg Artista plástico brasileiro dos anos 1980 e ainda em atuação, Paulo Sayeg fala de sua arte, gravura, amores e história, como poucos conhecem. Pets ganham status de membros da família 40 O trabalho de quem vive de vender arte 47ARTE ANIMAIS Amor ideal versus amor real Descubra as diferenças entre sonhar com o príncipe encantado ou a mulher perfeita, e manter a cabeça firme e os pés no chão, quando o assunto é relaciona- mentos. 44 AMOR “A recompensa é salvar vidas” O bombeiro Ricardo Lucarelli conta que entrar para a Corporação foi a melhor decisão de sua vida. Veja no ensaio fotográfico. 50 ENSAIO FOTOGRÁFICO Camisas que contam histórias Procuradas no mundo todo, as camisas de futebol são objetos de desejo da maioria dos torcedores. Conheça um pouco mais sobre o universo dos colecionadores e algumas de suas relíquias. 28 ESPORTE Já existe para eles um mercado promissor que dispara o consumo e mostra como o brasileiro passou a tratar de forma diferente e cara seus bichinhos de estimação. Hoje não basta ter talento, é preciso pensar em arte de forma comercial. Em um mundo tão plural, a segmen- tação é a receita para o sucesso. Amor pelas máquinas O amor por carros antigos é quase como o amor por um filho. Com ele, vive-se momentos únicos e emocio- nantes. 52 ENSAIO FOTOGRÁFICO Doe sangue, doe vida No Brasil, menos de 2% da população participa da coleta voluntária de sangue, já é hora de mudar essa realidade. 54 SAÚDE Amor pelo basquete O atual técnico da equipe de basquete da Universida- de Anhembi Morumbi, João Padola, já revelou diversos jogadores de sucesso por amor a profissão. 27 ESPORTE Prazer pelo trabalho traz bons resultados Quando amamos o que fazemos, tudo se torna mais fácil e prazeroso. Profissionais provam isso com suas carreiras de sucesso e suas experiências que os levaram ao topo. 41 TRABALHO
  • 6. 6 Novembro de 2013 Quanto vale o seu amor? comportamento # Sites oferecem serviços de relacionamento online a partir de R$ 10,00 para quem quer causar ciúmes, descobrir traições e até mostrar que a sua vida sentimental está agitada Por Juliane Zanetti, Lorayne Defante e Marcela Haun
  • 8. 8 Novembro de 2013 S e você não tem namorado(a) e anda cansada de sair sozinha em festas, eventos ou qualquer outro passeio, saiba que agora é possí- vel alugar um. Pode parecer estranho, mas esta prática tem sido muito mais comum do que imaginamos e a cada dia mais pessoas procuram namorados de alu- guel para satisfazerem seus caprichos de aparecerem bem acompanhadas. Como funciona? Você pode contratar um namorado de aluguel por algumas horas ou até um fim de semana inteiro. O intuito é realmente “namorar”, ou seja, apare- cer juntos em público e aparentar que são namorados de verdade com direi- to a declarações de amor, carinhos e beijos. O preço varia muito, de acordo com a sua necessidade de horas ou da quantidade de dias que contrata o ser- viço, mas a maioria dos “namorados de aluguel” atende em qualquer lugar do país, mas as despesas de viagem e hospedagem são por conta da pessoa que contrata. Existem namorados de aluguel para todos os gostos, estilos e idade, mas a maioria são homens com óti- ma aparência, educados, inteligentes e simpáticos que farão esse papel de forma muito convincente e profissional. De onde veio essa ideia? Este tipo de serviço já é conhe- cido desde 1987, quando foi lança- da a comédia romântica, Namorada de Aluguel (Can’t Buy Me Love), onde Ronald Miller (Patrick Dempsey) é um típico nerd que em determinado mo- mento negocia com uma cheerleader muito popular, Cindy Mancini (Aman- da Peterson), que tinha danificado o casaco de sua mãe em uma festa. Ronald oferece mil dólares de suas economias para a compra de um ca- saco novo em troca de sua companhia por um mês. Cindy, sem opções e re- lutante concorda em fazê-lo “popular”, fingindo ser sua namorada. Este ano, em 29 de abril estreiou a novela “Sangue Bom”, da Rede Globo, na trama Xande (Felipe Lima), é namo- rado de aluguel e já “salvou” Julia (Ca- roline Figueiredo) de aparecer sozinha nas festas dos amigos e do trabalho. Se a vida imita a arte ou a arte imi- ta a vida não se sabe, mas este assun- to está rendendo lucros, como conta Flávio Estevam, criador do site Namo- roFake.com.br. Às vezes, ter um(a) namorado(a) fake na internet ajuda a torná-lo muito mais popular, aumentando a sua auto- estima. Outras vezes, as pessoas pre- cisam alugar um(a) namorado(a) fake para fazer ciúme a um(a) ex. É ou não é?! Bom, segundo os criadores do ser- viço, essas são boas razões para você ter sua namorada fake. E o site garan- te: vai parecer tão real quanto uma ver- dadeira. O criador do site NamoroFake. com.br é Flávio Estevam, que en- tre outros negócios online, teve a ideia deste site em Janeiro de 2013. Navegando no facebook observou o comportamento de um amigo próximo que havia terminado o relacionamento e reclamando disse que queria fazer ciúmes para a namorada. Foi o suficiente para ativar o fe- eling do empreendedor. “Eu fiz a in- termediação entre uma amiga que se prontificou a ser uma ficante fake (falsa) de meu amigo. Resultado - a  ex-namorada ficou morta de ciúmes por se sentir ameaçada e reatou o relacionamento” – afirma Flávio. Naquele momento a ideia de negócio estava validada. O site ficou pronto em menos de uma semana e após sete dias, “bombou” na rede. O site foi re- ferência internacional  em centenas de portais e noticiários de TV em todo o Brasil, Estados Unidos, Europa e China. O site oferece pacotes que vão de ficantes (dez reais por três dias de ser- viço) a “namorada top” (120 reais por cinco dias de serviço), estes pacotes in- cluem comentários, mudança de status e uma grande facilidade de pagamento. Os depoimentos deixados pelos clien- tes são muito animadores, e nos faz acreditar que vale mesmo a pena in- vestir no serviço, como deste usuá- rio de Ribeirão Preto, interior de São Paulo - ‘’ Inacreditável a reação dos meus amigos, foi três comentários que fizeram meu face bombar. Tive até al- gumas meninas da faculdade me adi- cionando, acho que foi por isso. Daqui alguns dias vou contratar outra ficante para dar mais uma moral ‘’ Os motivos mais aparentes são pessoas que querem se tor- nar mais populares, aumentar o número de amigos e se tornar as- sunto na faculdade, por exemplo. Outro perfil bastante comum são pessoas querendo causar ciú- mes a um(a) ex-namorado(a) e se sentem melhor mostrando que não estão desacompanhados. Alguns, para contratam impressionar no facebook contratando quatro e até cinco ficantes ao mesmo tempo. A questão da sexualidade e a pressão de amigos e familiares é determinante. Fundadores dos sites NamoroFake e FidelidadeFace, Flávio e Luis comemoram o sucesso do negócio inovador que fundaram comportamento # Divulgação
  • 9. 9#amor As brincadeiras acabam quando háco- mentários do tipo: “Eu também adorei ficar com você na noite passada, quero repetir”. Em entrevista, Flávio contou que no inicio tiveram uma fila de espera de mais de cinco mil clien- tes e hoje têm uma base de mais de 12 mil clientes do Brasil e algu- mas centenas em outros países. O site é 100% sigiloso, mas algumas histórias curiosas são lembradas por Estevam – “existem casos que mulhe- res contratam namorados fake para fa- zer ciúmes aos paqueras. Outros casos que funciona muito bem, são gays que contratam uma namorada fake para mostrar aos amigos e família que es- tão em um relacionamento com uma mulher, consequentemente diminui as desconfianças sobre a sexualidade.”. O amor de aluguel, este que você pode comprar para ter por alguns dias ou horas não se compara a um namoro “real”, onde tem que ter cum- plicidade e confiança, acima de tudo. Se você desconfia do seu namorado(a) ou marido/esposa, e quer descobrir se as desconfianças procedem ou não, sem precisar sair de casa ou contratar um detetive, você pode. Como contou Luis Vinicius de Almeida Barreto, cria- dor do site Fidelidade Face. Basta você começar um relacio- namento com alguém para surgir dú- vidas. “Será que ele gosta de mim como eu realmente sou?” ou “E se ela estiver olhan- do para aquele cara?”. Não tem como escapar dessas indeci- sões, se você gosta ou ama outra pessoa, o ciúme vem naturalmente ou até doentio. Pensando na fidelidade, Luis Vinicius de Al- meida Barre- to , teve a ideia de criar um site para acabar com alguma dessas dúvidas. “Quando escutei um casal de amigos conversando sobre senhas e exclusão de conversas do chat do Facebook, pensei em fundar esse projeto para acabar com a desconfiança”. O Fidelidade Face foi criado nesse ano, em abril, e é comandado por Luís Vinícius, CEO e fundador, Flávio Este- vam, sócio-mentor e criador do site Na- moro Fake. Com a proposta de acabar com a desconfiança que o casal sente, o projeto testa a fidelidade de namora- dos e namoradas pelo Facebook. Luís diz que a desconfiança do parceiro pre- judica demais uma relação. O serviço é bem simples, os des- confiados preen- chem um formulário para indicar o en- dereço do parceiro no Facebook e res- pondem perguntas sobre gostos e pre- ferências, podendo até dar sugestão de cantadas. Depois disso, o jogo come- ça: atendentes ten- tam seduzir os par- ceiros dos clientes. O resultado? Em cin- co dias, a conversa é copiada e envia- da para o cliente para tirar as próprias conclusões. Achou estranho? Não é o que as pessoas em geral têm achado. De acordo com o site, mais de dois mil testes de fidelidades fo- ram feitos desde abril e 79% das pessoas mostraram ser infiéis. Para quem olha esses dados, pode se assustar com os números e saber que 52% das pessoas desconfiadas eram mulheres. Na página, também se en- contram os depoimentos de quem já utilizou o serviço. Algumas pessoas Se arriscam nesse tipo de“negócio”, tiram de si mesmas a oportunidade de vivenciar a conquista verdadeira, honesta, que aumentaria a auto estima Os planos que se pode contrar no site NamoroFake vão de ficante (R$10,00) a namorada top (R$120,00) comportamento #Divulgação
  • 10. 10 Novembro de 2013 demonstraram satisfeitas por terem descoberto que o parceiro não descon- fiou de nada e se mostrou interessado pelo atendente do site. Outras ficaram aliviadas por saberem que não foram traídos. “Ótimo trabalho! Minha namorada não desconfiou de nada e deu maior papo para o rapaz. O serviço que pre- cisava encontrei com vocês.” – Junior Dantas, administrador. “Meu namorado não deu confiança nenhuma para a menina. Acabei com a desconfiança que tinha e ele não ficou sabendo de nada, muito obrigado pelo serviço, foi demais!” – Amanda Lima, auxiliar de escritório. O público que contrata o serviço é bem variado. A classe que mais contra- ta é a C, e a maioria são jovens. Algu- mas pessoas sempre foram desconfia- das e ninguém gosta de ser enganado. Atualmente está muito mais fácil para as pessoas traírem. A mu- lher está cada vez mais inde- pendente, as Redes Sociais estão em alta, então isso tudo acaba propician- do uma traição. Mas claro, não há desculpa para isso, já que a pessoa só trai se quiser, mesmo que o casamento, namoro esteja ruim, nin- guém tem o direito de trair alguém por qualquer motivo que seja. A priori, para quem conhece o Fide- lidade Face, acha excelente o serviço. Até porque a pessoa viu que funcionou e acabou com sua dúvida. Quem não conhece fica surpreso, pois já que se trata de um teste de fidelidade, as pes- soas ficam surpresas pela facilidade que o site tornou para que isso fosse possível. “Antes de inaugurar o site, fiz uma pesquisa com várias pessoas pergun- tando se elas testariam seus namora- dos(as) e a grande maioria disse que não. Mas é claro. Ninguém gosta de se expor, ainda mais com um assunto des- ses. Quem realmente não vai contratar o site é quem vive em uma boa relação com o seu cônjuge, mas basta ela co- meçar a desconfiar do parceiro para já procurar saber como funciona o teste”, conta Luis. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o criador do site conta uma curiosidade - “Entre os casos mais estranhos que ti- vemos foi de uma usuária que tinha dois namorados, mas mesmo assim queria checar se os dois eram fiéis a ela. E também já ti- vemos artistas que nos procuraram para fazer o teste”. Namoros de mentira, testes de fidelidade online e essa necessidade toda de sempre se sobressair em um círculo de amizade, poder se gabar por ter determinados comentários no facebook daquela que supostamente seria seu namorado. Isso tudo parece muito estranho e distante da nossa realidade... não mais! Essa realidade está cada vez mais comum, mas, como tudo, estes recursos devem ser usados com consciência. Como entender o que faz realmen- te  essas pessoas precisarem contra- tar esse tipo de serviço? Qual será o motivo que está por trás de toda essa vontade de parecer se relacionar com alguém, sendo que não passa de apa- rência para quem “visitar” seus perfis nas redes sociais? Que benefício trará a estes usuários deste tipo de serviço?  Segundo a Dra. Karina Andréa Pi- con, pessoas que buscam esse tipo de serviço são pessoas que preocupam- se excessivamente com a opinião dos outros, assim como super valorizam  o fato de estarem acompanhadas. Possi- velmente são pessoas inseguras que projetam no outro a sua felicidade, sen- tem-se mais valorizadas e ou reconheci- das pelo fato de tentar convencer os ou- tros que foram escolhidas por alguém, que são amadas, desejadas, queridas. Karina adverte que, se as pessoas que oferecem este tipo de serviço não es- tiverem preparadas psicologicamente, podem sofrer com os desdobramentos que podem se acarretar - “As pessoas que se alugam devem identificar algum tipo de benefício vivenciando esse pa- pel sem julgamento, porém, possivel- mente o financeiro e as oportunidades que tais vivências possam proporcio- nar”. Mesmo se tratando de um ne- gócio, há o risco de um  envolvimen- to emocional por alguma das partes envolvidas, que consequentemente causa decepção e frustração por não ser correspondida. Neste tipo de ser- viço é essencial que exista um clara separação entre profissional e pesso- al, para que não “corra o risco” de um envolvimento emocional entre ambas as partes, já que esse não é o intuito do serviço. “Acredito ainda que pessoas que se arriscam nesse tipo de “negó- cio”, tiram de si mesmas a oportuni- dade de vivenciar a conquista verda- deira, honesta, que proporcionaria um aumento da auto estima assim como a oportunidade de se relacionar de uma forma saudável e feliz” – conta Karina. Conversas sobre senhas e exclusão de conversas do chat do Facebook, fazem pensar em por fim a desconfiança O site FidelidadeFace acaba com as desconfianças fazendo testes online comportamento #Divulgação
  • 11. 11#amor Os sustenidos e bemóis de um casamento perfeito música # Por Bianca Amorim, Marcos Mortari e Roberta Rodrigues Mais do que juntar palavras em versos afetuosos, a arte dos sons une pessoas, sonhos e apaixona quem se permite deixar levar pela emoção ArquivoPessoal
  • 12. 12 Novembro de 2013 J á dizia um dos maiores nomes da música popular brasileira, o alago- ano Djavan, que cantar é “mover o dom do fundo de uma paixão”, uma das infinitas possibilidades de se meta- forizar sobre a arte – sedução aos ouvi- dos de quem se dispõe a apreciá-la. Na canção “Seduzir” (do álbum de mesmo nome), as intenções do artista – que já não eram modestas –, se ampliam ain- da mais quando Djavan decide fazer uma curta, mas significativa, explica- ção sobre o amor, um sentimento que, segundo ele, nenhum excesso pode sa- ciar a carência. Amar é perder o tom nas comas da ilusão Revelar, todo o sentido Vou andar, vou voar, pra ver o mundo Nem que eu bebesse o mar Encheria o que eu tenho de fundo (“Seduzir”– Djavan) Existem diversas histórias de su- peração que envolvem a paixão pela música. Deficientes físicos e mentais que se tornaram lendas da arte dos sons, pessoas que enfrentaram a de- pendência pela droga ou até que pas- saram por cima de graves problemas de saúde graças ao amor pela música. Todos esses são exemplos recorrentes do poder da arte. Para essas pessoas, a música fun- ciona como uma espécie de compa- nheira ou até válvula de escape para cargas de emoção que dificilmente seriam extravasadas de outra maneira como o são através da arte. Com isso, supera-se as mais diversas adversida- des impostas pela vida e constrói-se novas realidades e sonhos a partir das possibilidades que uma simples clave de sol é capaz de proporcionar. Uma recente pesquisa apresenta- da por médicos do Instituto de Cardio- logia da Universidade de Nis (Sérvia) no congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Amsterdã, mostra que a música ajuda na recuperação de pacientes com problemas cardíacos, graças à produção de endorfina, subs- tância de alta capacidade analgésica, que, quando liberada, estimula a sen- sação de bem-estar no indivíduo. Outra descoberta científica, essa feita pela Universidade de Helsinki, na Finlândia, foi além e mostrou que a música também pode ser útil em caso de vítimas de derrames cerebrais, que podem ser beneficiadas pelas notas musicais. De acordo com a pesquisa, a combinação de diferentes sons pode ativar si- multaneamente diversas áreas do cérebro dos pacientes, in- clusive aquelas danificadas pelo derrame, acele- rando o processo de recuperação. Além de ser- vir como um dos meios de supe- ração para os mais diversos obstácu- los da vida e de um catalizador para a recuperação de muitos problemas de saúde, a música não deixa de ter um papel importante também em outros sentidos do cotidiano das pessoas – tanto para aqueles que querem viver de emocionar, como para quem quer se deixar levar pelo que é transmiti- do. Para o administrador de empresas aposentado Leonardo Caobianco, que tem a música como um de seus maio- res hobbies, o saxofone – instrumento ao qual passou a dedicar boa parte de seu tempo livre – o fez “passar de um poste frio e triste, para uma árvore frondosa e alegre”. “Sempre tive sensibilidade para música, mas não percebia que me emocionava bem mais quando na música havia um sax. Desde que comecei a tocá-lo, percebi que uma porta a mais foi aberta em minha vida. Quando toco, sinto meu íntimo cantando e uma sensação de privilé- gio. A música é meu equilíbrio mental: ela pode me deixar eufórico, calmo e muitas vezes saudosista”. Ele credita boa parte de seu gosto à influência familiar. “Desde pequeno, meus pais sempre gostaram de ouvir música. Quando estava em casa, tanto o rádio quando o toca-discos, sempre estavam trabalhando. Acredito que quando se tem o privilégio de morar com pesso- as que curtem boa música, você acaba que por gostar também. Hoje em dia, com poucas notas, consigo identificar música, autor, filme etc.”, acrescenta. Visão similar tem o baterista da Fuego Funky, João Guilherme Arcos, que vê nas notas musicais um exercício de concentração e dedicação. “Vivo da música, não somente como profissão, mas também como meditação. Fazer música – seja com um instrumento, voz, regendo, compondo ou ensinan- do – sempre será algo de profunda concentração e dedicação. Isso te leva para um estado de consciência dife- rente de pagar uma conta no banco, assistir televisão ou trabalhar em um escritório”, diz o músico. “A música é tão poderosa que pode transformar seu estado de espírito. Tocan- doououvindo.Elatemacapacidadedete deixar feliz, eletrizante, melancólico, com saudade, com dúvida... Talvez seja esse o motivo de termos um contato tão forte com a música. Ela mexe no nosso interior deliberadamente”, explica Arcos. Quando toco meu sax, sinto meu íntimo cantando e uma sensação de privilégio; a música é meu equilíbrio mental Leonardo Caobianco - músico Segundo o baterista João Guilherme Arcos, fazer música sempre será algo de profunda concentração e dedicação. música # ArquivoPessoal
  • 13. 13#amor Tem vezes que a paixão pela músi- ca chega a ser forte a ponto de mudar o destino das pessoas, como conta o es- tudante de música da FAAM-FIAM Caio Fürholz, que mudou de profissão por conta da emoção de tocar guitarra. “Larguei uma carreira como enge- nheiro elétrico (já ti- nha feito curso técnico em eletrônica e estava cursando e trabalhan- do na área), que é tida como uma carreira muito boa e segura, para entrar na música e me dedicar a ela em tempo integral. Quan- do se tem a música como prioridade, você abdica de coisas naturalmente. Amo a música a ponto de tê-la como uma das minhas grandes prioridades na vida”. O guitarrista ainda aponta os bene- fícios que a arte trouxe à sua vida, que se tornou muito mais alegre e realiza- da. “Depois que comecei a estudar mú- sica, percebi que qualquer outra profis- são ia me dei- xar infeliz. As- sim, eu seria um péssimo profissional, e, mesmo que só por dinheiro, não conseguiria fazer grandes progressos na profissão. O importante no músico é que esse amor à música sempre o leve a melhorar, es- tudando, tocando, sendo profissional quando está em um determinado tra- balho musical, ou seja, se dedicando”. A música também serve para unir casais. Enquanto o baterista da Fuego Funky diz que a canção que ilustra o re- lacionamento com sua noiva é “Love”, de Nat King Cole, Leonardo Caobianco conta uma outra experiência que a mú- sica o possibilitou no relacionamento com sua esposa, a musicista Ana Cris- tina Graça. “Certa vez, consegui para ela uma audição numa cidade do interior. Po- rém, durante os ensaios ela se sentiu insegura. Ouvindo aquilo de alguém tão talentoso, não pude deixar de me manifestar e pedir para que ela me en- sinasse as notas de uma música não tão difícil, que treinei durante a sema- na inteira. Quando nos encontramos, apresentei-lhe o que havia estudado, então disse que aquela seria a última vez que ela se sentiria insegura quan- do se tratasse de música. A apresenta- ção dela foi belíssima!”, contou o saxo- fonista por hobby. Quando se tem a música como prioridade, você abdica das coisas naturalmente. Amo a música a ponto de tê-la como prioridade Caio Fürholz - músico O guitarrista Caio Fürholz largou a carreira de engenheiro elétrico para se dedicar inteiramente à música. música # ArquivoPessoal
  • 14. 14 Novembro de 2013 tamentos do amor, já que junta três em um”, afirma Guilherme Tauil, responsá- vel pelo acervo digital e pesquisador da obra de Chico Buarque. No documentário “Dia Voa”, dirigido por Bruno Natal, da produtora Biscoito, sobre o álbum “Chico”, o próprio carioca fala sobre como o amor deve ser enxer- gado na fase em que se encontra. “Na- turalmente, quando se fala de um amor você tem que levar isso em conta. Você já não é mais aquele garoto, você é um senhor - um senhor de respeito, e tem que reconhecer a beleza de um amor maduro sem esquecer do possível ridí- culo, do que há de risível nisso. E você acha graça de você mesmo, dos seus sentimentos juvenis que parecem não ter cabimento. Mas eles têm. É essa possibilidade de chegar a esse ponto de assumir e de brincar com isso. Assumir o seu tempo, a idade que você tem e não ficar se desesperando por causa disso.” O jogo de palavras com o amor é um outro tipo de abordagem assumida em músicas. A cantora natural de Recife, Clarice Falcão, ganhou notoriedade nas redes sociais, depois de participações em vídeos do canal Porta dos Fundos, por suas músicas com letras inusitadas, as quais expressam a realidade de uma forma cômica, exagerada, porém, que não deixam de ser verdadeiras. Os ver- sos de “8º Andar” são exemplo de sua forma particular de fazer música: “A meu ver, a música é a arte mais próxima do ser humano. Ela sempre esteve presente desde o princípio. In- dependente de época, raça, cor, cultu- ra, cada indivíduo tem seu contato com a música. Uns mais, outros menos. Eu faço, há muito tempo, essa pergunta para quase todas as pessoas que co- nheço – que não são do meio musical –: ‘você gosta de música?’ E, por en- quanto, não teve uma vez que alguém disse ‘não’. Creio que o resultado não seria o mesmo se perguntasse sobre pintura, escultura, cinema, dança ou teatro. Não sei explicar o porquê, po- rém percebo que a música seria a arte mais acessível ou digestível para o ser humano”, conclui Arcos, baterista da Fuego Funky. Com isso, é difícil imagi- nar elementos que se casem tão bem como música e amor, um dos senti- mentos mais complexos da existência humana. Dois amigos inseparáveis A música é uma das mais decor- rentes maneiras de expressão de sen- timentos. A junção da letra e do ritmo, se bem feita, é capaz de despertar no ouvinte aquilo que o autor sempre quis expressar. Dentro desse contexto, não é difícil inserir as canções de amor, que possuem diversas vertentes. Uma vez que o amor em si não é homogêneo, ele pode ser o simples amor recíproco entre um homem e uma mulher, platônico, ciumento, eró- tico e até mesmo acabado. Em uma esfera mundial, a música consegue abranger todas essas formas. No Brasil, um exemplo de compo- sitor cujo repertório atende às diversas variações de amor é Chico Buarque. Com “Injuriado”, o carioca canta sobre um romance que acabou. “Essa Peque- na”, do recente álbum Chico, tem como mote o início de um relacionamento en- tre pessoas com claras diferenças, mas que vale a pena - especialistas afirmam que a obra é dedicada à atual namora- da velho Francisco, a artista curitibana Thais Gulin. “O Meu Amor”, por outro lado, trata do latente desejo físico en- tre o rapaz e a moça - “Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz”. “Cada uma [das músicas de Chico Buarque] está inserida num contexto próprio. A política às vezes se confunde com o amor, como em “Pelas tabelas”. Às vezes é um amor proibido, como em “Bárbara”, “Tira as mãos de mim” etc. O amor visceral de “Sem fantasia”, o fugaz e divertido de “Noite dos mas- carados”. Tem retrato de casal compli- cado, como “Logo eu?”, “O casamento dos pequenos burgueses” ou “A mulher de cada porto”. As declarações, como “O meu amor”. O caso de “Teresinha” é bom para se explorar os diferentes tra- “Dia Voa”, documentário de Bruno Natal. música # Divulgação
  • 15. 15#amor Quandoeutevifecharaportaeupen- sei em me atirar pela janela do 8º andar Onde a Dona Maria mora, porque ela me adora e eu sempre posso entrar ErabemotempodevocêchegarnoT,olhar noespelhooseucabelo,falarcomoseuZé E me ver caindo em cima de você como uma bigorna cai em cima de um cartoon qualquer. E ai, só nos dois no chão frio De conchinha bem no meio fio No asfalto riscados de giz Imagina que cena feliz (“Oitavo andar”– Clarice Falcão) Da mesma forma que as produ- ções musicais atingem um público di- verso, casais aproveitam as suas me- lodias para tirar o melhor proveito de seu tempo juntos. Alguns utilizam de canções para tornar o clima mais ro- mântico. Em pedidos de casamento, principalmente, músicas com um signi- ficado especial podem tornar tudo dife- rente - de uma maneira positiva, claro. “Eu sempre pedia para o meu noivo tocar sax só para mim, mas ele nunca fazia isso. E esse foi o motivo de o pedi- do de casamento ter sido tão especial. Primeiro, ele preparou um picnic no parque com tudo o que eu gosto - e eu amo picnic!”, começa a contar Bruna Manzoli, jornalista de 26 anos, noiva de Matheus Ortega. “Então ele tocou sax para mim. E não só isso, ele tocou a música que nós vamos entrar no ca- samento. Eu já estava muito emociona- da. Tudo o que ele havia preparado já tinha acabo comigo, e a música foi o que me deixou completamente envolvi- da, me fez chorar por uns 30 minutos!” Músicas com um significado espe- cial podem, também, dar uma garantia maior na hora da conquista. Porém, as garotas afirmam: tem que ser especial, e não uma canção qualquer. Para a boliviana Fabíola Hinojosa, se o rapaz for o autor da música, o significa- do é ainda maior. “Um música qualquer, sem um contexto especial, não faria mui- ta diferença. Agora, se fosse algo escrito pelo cara, certamente o efeito seria mui- to maior. Isso já aconteceu comigo”. Taynara Gois, vicentina, 19 anos, diz que a música não seria um fator determinante para que se apaixonasse por um rapaz, mas teria grande influên- cia. “Pelo fato de ser uma das demons- trações de sentimentos mais bonitas”, afirma a jovem, que ainda acredita que esse gênero musical não deve ser escutado apenas por alguém que se encontra atraído por alguém. “Escuto música romântica todos os dias, vo- luntariamente ou não, porque sempre acaba tocando alguma nas rádios”. No entanto, a auxiliar administrativa acre- dita que as canções de amor possam ter um efeito diferente nas pessoas. “Não acredito que música romântica seja só para quem está apaixonado, mas creio que quem a escuta posso ter o desejo de estar com alguém aflorado dentro de si”. Quem são os românticos da músi- ca? Está aí uma batalha que derramaria muito sangue. Nesse caso, na verdade, sangue seria uma das últimas coi- sas a surgirem da briga, a não ser que, como diz Leoona Lewis em um de seus su- cessos, o roman- tismo fosse tão forte a ponto de “sangrar amor”. Lulu San- tos entraria com grande vanta- gem, afirmando que “talvez seja o último român- tico dos litorais deste Oceano Atlântico”. Quem sabe, se ele juntar a zoa norte à zona sul, ele consiga levar o prêmio. A disputa é tão acirrada que um dos maiores nomes da música bra- sileira, o baiano Caetano Veloso, fez questão de gravar as mesmas palavras que o carioca. Este, conhecido inicial- mente por sua rebeldia, que culminou na Tropicália e um exílio em Londres, também expressa o amor das mais diversas maneiras em seus CDs. No último, “Abraçaço”, um álbum mais melancólico, de acordo com o próprio artista, o sentimento é tratado com tristeza, erotismo e cuidado. Em “Funk Melódico”, Caetano retrata uma mu- lher que o dera muitos problemas, mas mesmo assim afirma que “não bateria nela nem com uma flor”. Ainda entre os brasileiros, que permi- tem um amontado sem fim de expoentes da música romântica, é impossível não lembrar do “poeta, poetinha vagabundo” Vinicius de Moraes. O poeta, compositor, cantor, diplomata e ícone brasileiro não pode ficar de fora de qualquer lista que trate de compositores do amor. Conhecido por amar as mulheres em toda a sua vida – se casou nove ve- zes – Vinicius as tinha como tema prin- cipal de suas músicas ao lado de mes- tres como Tom Jobim, Chico Buarque, Carlos Lyra, e outros grandes artistas de dar inveja em qualquer história mu- sical norte-americana ou europeia. A propósito, entre os internacio- nais, Frank Sinatra, nome indubitavel- mente impossível de ser esquecido, fez questão de gra- var clássicos com o “maestro sobe- rano Antonio Bra- sileiro”. Garota de Ipanema e Desa- finado, por exem- plo, ganharam um tom especial com o ícone do Jazz. Além dele, a música que fi- cou consagrada na voz de João Gilberto também acabou nas mãos de Ella Fitzgerald – e foi muito bem cuidada. A francesa Edith Piaf é uma outra mulher que conquista espaço entre um mundo dominado pelos homens. Seu clássico Ne Me Quitte Pas é internacio- nalmente consagrada. E para não deixar ninguém de fora, alguns nomes famosos da atualidade entre cantores e bandas românticas são Jason Marz, Chris Brown, Justin Timberlake, Michael Bublé, One Direc- tion, Kate Perry, One Republic, James Blunt, Taylor Swift. Esses são apenas alguns dos muitos exemplos, porque se todos os cantores de músicas ro- mânticas e todas as histórias de amor embaladas por elas fossem descritas nesse texto, o espaço certamente não seria suficiente. Músicas com um significado especial podem, também, dar uma garantia maior na hora da conquista. Porém, as garotas afirmam: tem que ser especial, e não uma canção qualquer música #
  • 16. 16 Novembro de 2013 natureza # Verde em meio ao cinza SãoPauloganhahortasemespaçospúblicos,quevalorizamo contato com a natureza e a convivência comunitária Por Priscila Pacheco e Mariana Nascimento PriscilaPacheco
  • 17. 17#amor A o digitar a palavra “Amor” num site de buscas surgem diversos links que direcionam para pá- ginas sobre mensagens românticas. Quando colocamos o termo “pesqui- sas sobre amor” os resultados não sofrem grandes mudanças, pois ao invés de mensagens aparecem maté- rias sobre relacionamentos amorosos. Mas, a palavra de amor é muito vasta para que haja destaque somente para questões que envolvem casais. De acordo com o dicionário Mi- chaelis, amor vem do latim amore, e pode significar sentimento que impele as pessoas para o que se lhes afigu- ra belo, digno ou grandioso;  grande afeição de uma a outra pessoa; afei- ção, grande amizade, ligação espiri- tual; objeto dessa afeição; benevolên- cia, carinho, simpatia;  tendência ou instinto que aproxima os animais para a reprodução; desejo sexual; ambição, cobiça; culto e veneração. Diante de tantos significados, a benevolência pode ser considerada uma importante qualidade presente na agitada e caótica São Paulo. An- dando pela cidade são encontrados diversos atos que valorizam a solida- riedade com o próximo. Um exemplo é a construção de hortas urbanas e comunitárias. Parece estranho falar sobre hortas numa cidade cosmopoli- ta como São Paulo, mas elas existem e estão ocupando espaços públicos. As hortas ur- banas e comuni- tárias criam um espaço de con- vívio social e de educação ambien- tal. Cuidadas por voluntários elas ensinam a usar o espaço público e contribuem para a vivência comunitá- ria. Fernanda Va- rella, que mora perto da horta da Vila Pompeia, comenta que a implantação de hortas na cidade é uma iniciativa legal e uma ótima forma de interagir com a vizinhança. “Nessa cidade louca muitas vezes falamos ‘bom dia’ com o vizinho e ele nem responde. Ai chega na horta e você encontra outros mora- dores”. Fernanda não é voluntária da horta, mas sempre passa por ela com o filho Leonardo de 5 anos de idade, “acho importante que ele tenha esse contato com a terra”. Na praça, Leo- nardo interage com outras crianças e se diverte plantando mudas de alface e conhecendo os tipos de plantas. O gestor ambiental e voluntá- rio na horta do Centro Cultural de São Paulo, André Ruoppolo Biazoti, voltou a São Paulo com o desejo de colo- car em prática o conceito de “jar- dinagem guerri- lheira” e plantar por ai, em terre- nos e locais ocio- sos, buscando um maior cuida- do com os espaços públicos da cida- de. “Queria fazer isso como ativismo mesmo, sem muita preocupação de plantar alimento. Comecei a conversar com algumas pessoas sobre a possi- bilidade de fazermos intervenções na cidade. Daí surgiu a primeira horta, a das Corujas e, como efeito dominó, co- meçaram a surgir inúmeras outras na cidade, bem na perspectiva de produ- zir alimento no espaço público e discu- tir segurança alimentar”. Os benefícios gerados pelas hor- tas são inúmeros. Vão desde incenti- var o contato humano com a natureza até aumentar a segurança de áreas negligenciadas pelo poder público. Além da produção orgânica de alimen- tos, a pessoa que se envolve acaba adquirindo uma dieta alimentar mais diversa e saudável. “Quando você planta uma berinjela, dá vontade de comê-la mais vezes no seu dia-a-dia”, diz André. Para a analista social Ariadine Fernandes Alves, que foi voluntária na horta dos Ciclistas, localizada na Ave- nida Paulista, uma ação como essa, além de trazer um novo olhar para a produção de alimentos no meio de São Paulo, ainda inibe o homem de destruir, “acredito que por se tratar de alimento, e por esse cuidado que os voluntários e idealizadores do projeto têm”. Ariadine também destaca o vo- luntariado como uma das ferramentas para a melhoria das relações entre as pessoas. A psicóloga Luciana Telles Ferri, que atua na área do terceiro se- tor, reforça essa questão de que o pro- jeto das hortas fortalecem as relações O contato com a natureza traz benefícios psíquicos e sociais. A horta estimula o contato e a interação entre as pessoas do bairro, estimula a partilha PriscilaPacheco natureza #
  • 18. 18 Novembro de 2013 sociais e a integração do grupo social em que as pessoas estão inseridas. “Simbolicamente, passa a ser uma ‘sementinha’ do bem”. Luciana acredita que a horta co- munitária se trans- forma num espaço para desenvolver a coerência de pensar, sentir e fazer de maneira alinhada e com constância. “O que quero dizer com isso? Que através deste espaço elas possam ser benefi- ciadas de uma co- erência do pensar sustentável, irão ter a oportunidade de ver na prática e não só na ideia”, refleti a psicóloga. A atividade nas hortas mostra como se relacionar com o outro, de ser empá- tico, de desenvolver a capacidade de ser paciente, “afinal, os produtos des- ta horta não crescem e amadurecem de uma hora para outra, tem o tempo, às vezes a esta- ção adequada, para existirem e proporcionarem bons frutos”. “Assim, como o exercício físico, o contato com atividades liga- das à natureza, podem trazer benefícios para o desenvolvi- mento psíquico e social, para variáveis como ansiedade, atenção e processo de aprendizagem”, finaliza Luciana. Mas onde nasceu a ideia de fazer hortas em centros urbanos? Em busca de alternativas para a falta de espaços verdes para o cultivo em função do avanço das indústrias e do crescimento das cidades durante a segunda metade do XIX, os europeus criaram as hortas urbanas. Nos dias atuais, a horta urbana está presen- te nas principais cidades do mundo, como Nova York, Los Angeles, Chica- go, Londres. Mas dois modelos inter- nacionais são referência na implanta- ção de hortas urbanas. Havana (Cuba) e São Francisco (EUA). Na capital cubana surgiu nos anos 1990, quando houve um colapso na distribuição dos alimentos. Para suprir essa necessidade, a população resol- veu ocupar terrenos abandonados para utilizar como plantio de alimen- Para manter as hortas bem cuidadas os voluntários realizam mutirões semanais ou mensais. As hortas urbanas estão presentes nas principais cidades do mundo PriscilaPacheco
  • 19. 19#amor tos, por exemplo, tomates e bananas. O governo resolveu, então, incentivar a ação criando o Departamento de Agricultura Urba- na que auxilia na manutenção das hortas. Já em São Francisco, todos os resíduos or- gânicos gerados no município são destinados ao sis- tema de compos- tagem municipal e servem como in- sumo para a pro- dução nas hortas públicas. Em São Pau- lo, a ideia de criar hortas se expandiu no ano de 2011, quando as jornalistas e pesquisadoras de agroecologia Tatia- na Achcar e Cláudia Visoni deram uma oficina sobre agricultura urbana. Por causa da oficina foi formado no Face- book o grupo Hortelões Urbanos. A in- tenção inicial era viabilizar o conta- to entre os partici- pantes. Mas o gru- po foi crescendo e atraindo pessoas de diversas partes do país. Hoje, é possível dizer que a rede Hortelões Urbanos é forma- da por pessoas orientadas para a prática da agri- cultura urbana, que acreditam na produção de alimentos de qualidade, simples, barata e coletiva. Além disso, ajuda pessoas a começar a cultivar ali- mentos em casa, facilita a criação de hortas comunitárias e realiza eventos de trocas de sementes e mudas. Conheça algumas hortas presen- tes na capital paulista: Horta Comunitária do Centro Cultural de São Paulo (CCSP) Foi criada em parceria com a rede Hortelões Urbanos e começou com mu- das e materiais doados pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambien- te. O intuito é produzir alimentos e am- pliar a relação entre o CCSP e os fre- quentadores. Os mutirões acontecem todo último domingo de mês a partir das 9h. Localização: Rua Vergueiro, 1000 Horta das Corujas Nasceu quando duas amigas resol- A ideia das hortas urbanas é todos ajudarem e se beneficiarem Ocupar praças abandonadas é uma forma de cuidar do espaço público e produzir uma grande variedade de alimentos. PriscilaPacheco
  • 20. 20 Novembro de 2013 veram engajar a comunidade em torno de um objetivo comum: a criação de hortas comunitárias. Cláudia Visoni, uma das idealizadoras do projeto, ex- plica que a horta tem acima de tudo, cunho educativo. Ensinar a comunida- de a como criar hortas e cuidar para sustentabilidade da cidade. Os volun- tários aprendem e ensinam a cultivar. Também aprendem a usar o espaço público, respeitando as regras locais e os outros usuários. O espaço tem muitos voluntários que se dividem para transformar o es- paço no meio da cidade num ambien- te mais verde e saudável. O projeto também promove uma alimentação saudável e acessível a todos. E tem como base a ideia de que toda área livre e pública pode ser aproveitada para fazer plantações. Qualquer mo- rador pode se abastecer gratuitamen- te, sendo também incentivado a cul- tivar. “É a nossa parte para operar a mudança”, diz Cláudia. Tal mudança está atrelada à transformação de um espaço de convívio social e de educa- ção ambiental. Hoje, moradores e co- laboradores participam ativamente. A ideia é todos ajudarem e se beneficia- rem. Os mutirões ocorrem, geralmen- te, aos fins de semana, alternando sábado e domingo, às 10h. Localização: Praça das Corujas (Praça Dolores Ibarruri). Avenida das Corujas, esquina com a Rua Paschoal Vita. Horta da Vila Pompeia Surgiu em janeiro de 2013, quan- do algumas pessoas se juntaram para transformar um terreno ocioso, cheio de lixo e mato alto, em um espaço de vivência comunitária e de ocupação coletiva autogestionada. Segundo Paulo Fonseca, um dos criadores da horta, a horta da Vila Pompeia está se desenvolvendo bem. Durante os mutirões acontecem discussões sobre princípios agroeco- lógicos, permacultura, restauração ecológica de espaços urbanos, mobili- zação comunitária entre outros temas. A Horta também possui uma “Gelado- teca”, pequena biblioteca que possui jornais de iniciativas agroecológicas, materiais sobre educação e livros in- fantis. E realiza uma ação de leitura para crianças todo último domingo do mês. A plantação ocorre de forma or- gânica e há diversos tipos de vegetais, por exemplo, alface, arruda, cenoura, repolho roxo, beterraba, morango, ce- bolinha, manjericão, mil folhas e alfa- zema. Os mutirões acontecem todo domingo, a partir das 11h. Localização: Entre a Rua Francis- co Bayardo e a Rua Saramenha. Horta dos Ciclistas Surgiu em outubro de 2012 e propõe o uso equitativo da cidade. Os mutirões acontecem todo primeiro domingo de cada mês, às 12h. Localização: Praça do Ciclistas, próxima ao cruzamento da Avenida Consolação e Avenida Paulista. As hortas comunitárias e urbanas atraem a atenção de diferentes públicos. Os mutirões ocorrem, geralmente, aos fins de semana PriscilaPacheco
  • 21. 21#amor Um vício delicioso chamado chocolate comida # Entre todas as gostosuras conhecidas, o chocolate é uma das mais adoradas Descubra os benefícios e malefícios que todo esse amor pode trazer Por André Bengel, Gabriela Stampacchio e Laís Oliveira Q uem é que nunca sentiu aque- la vontade de comer uma bar- rinha de chocolate no meio do dia, que atire a primeira pedra. E no meio da noite, então? Que atire duas. Nos momentos de tristeza, solidão, ansiedade e angústia ele é um dos companheiros mais procurados, como se fosse realmente um pedacinho de felicidade. A psicóloga formada pela Univer- sidade São Marcos, Sônia Ferreira, afirma que o consumo de chocolate re- almente ajuda em algumas situações, principalmente nas que mexem com o lado psicológico. “Nos casos de tristeza ou ansiedade, comer o chocolate alivia, pois ele produz endorfina e serotonina, o que deixa a pessoa em um estado de saciedade e com a sensação de bem estar no corpo e na mente”. Mas o consumo de chocolate não está necessariamente relaciona- do aos sentimentos ruins. Algumas pessoas ingerem o doce a qualquer momento, e até mesmo em grandes quantidades, simplesmente porque sentem a necessidade de comê-lo. Esses são os chamados “chocóla- tras”, que se espalham cada vez mais pelo país. Chocólatra assumida, Danielle Noce ama e não vive sem chocolate. Para ela não existe degustação de chocolate, normalmente não conse- gue comer só um pedaço, precisa ser o tablete inteiro. “Para mim o chocola- te é só benefícios, principalmente na época da TPM ou de fortes dores de cabeça, porque ele cura tudo”. Suas primeiras lembranças desse amor vêm da infância, quando não po- dia acompanhar a mãe ao supermerca- do sem encher o carrinho com choco- lates. Hoje, é formada em confeitaria e panificação pela École Lenotrê e trouxe toda essa paixão para a profissão. Ela diz que conviver com o chocolate é a maior das maravilhas do mundo, e que as receitas preferidas que ela faz en- volvem o doce. Produção de chocolates da Fernanda Flaiban. Divulgação
  • 22. 22 Novembro de 2013 Em uma das minhas viagens, estava voltando da França com uma mala de 32 kg, mas nenhuma peça de roupa ou lembrancinhas, era tudo chocolate. Danielle Noce - confeiteira “Chocolate salva qualquer doen- ça ou cara feia, já fiz loucuras por ele. Uma vez, em uma das minhas viagens, estava voltando da França para o Bra- sil com uma mala de 32 quilos, mas nenhuma peça de roupa ou lembran- cinhas. Era tudo chocolate” se diverte Danielle. Além de tudo isso, ela ainda é edi- tora chefe de um dos mais conhecidos blogs de culinária, o I Could Kill For De- sert, ou simplesmente ICKFD. E foi por este mesmo blog que Fernanda Flaiban Woichowski, mais uma chocólatra assumida, deu sua entrevista. Nutricionista com espe- cialização em dietoterapia pela São Camilo e formada em confeitaria pelo Le Cordon Bleu com especialização em chocolate, Fernanda é correspon- dente dos Estados Unidos para o ICK- FD. Ela também conheceu o fantás- tico mundo do chocolate logo cedo. Era costume de família ingerir cho- colate diariamente e isso perdura até hoje: “eu como todos os dias, mas é claro que a nutricionista que há em mim diz: ‘só um pedacinho’, e eu vou equilibrando a vida”. Apesar de o chocolate ser um de seus grandes amores, ele também já causou muita dor de cabeça. Desde o início do seu curso de confeitaria, Fernanda sempre teve muito medo de mexer com o chocolate, por ele ser um ingrediente muito complexo e requerer uma técnica específica de tempo e temperatura. Seus dois últi- mos módulos do curso eram sobre o doce, mas ela não conseguiu se dedi- car como deveria porque, justamente nesta época, sua mãe havia sofrido um acidente no Brasil. Fernanda sim- plesmente não tinha cabeça para se concentrar. Com o fim do curso, Fernanda foi trabalhar em um resort na Flórida e, após dois anos sendo responsável pela produção de todas as sobreme- sas, a chocolatier do hotel reparou em suas habilidades e a convidou para a faz degustar diferentes marcas para conhecer novos sabores. “Meu paladar encontra prazer nes- te sabor, ele acalma o coração, conse- gue me fazer sorrir e aquecer nos dias de tristeza”. Talvez essa seja uma das explica- ções ou, quem sabe, apenas o sabor do doce mesmo. Mas o fato é que, de acordo com o último balanço produzido pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Ba- las e Derivados (ABICAB), o consumo do produto cresce gradativamente no Brasil. Somos o terceiro maior produtor mundial do doce, com 228.218 tone- ladas produzidas no primeiro semestre de 2012; e o quarto maior consumidor de chocolate, com uma média de 2,2 kg por habitante. O valor ainda é uma média baixa se comparado à Argenti- na, com 5 kg por habitante, e com a Alemanha, com 12 kg/hab. Isso de- monstra que este mercado ainda tem muito potencial para crescer, algo que as 38 grandes indústrias de chocolate do país certamente comemoram. Segundo pesquisa realizada pelo IBOPE, as mulheres representam 55% dos apaixonados por chocolate, e 72% delas o consomem regularmente. Essa situação pode ser explicada pela medi- cina: o cacau, matéria prima essencial na produção do chocolate, possui trip- tofano, que é responsável por estimu- Danielle em uma das produções das receitas que vão ao ar no blog ICKFD. Fernanda no seu dia a dia. preencher a vaga de assistente da sala de chocolates. “Tinha como negar um convite desse? A verdade é que a vida nos encaminha para onde temos talento. De lá para cá me especializei na arte de moldar chocolate, e é só isso que eu quero fazer da vida”, diz Fernanda. Hoje, Fernanda é chocolatier e uti- liza o chocolate como matéria prima. Com ele, cria bombons, trufas, barras e muitos outros doces. Porém, muitas vezes exagera na degustação durante a produção, principalmente quando os bombons levam o banho de chocolate e sobram “rebarbas” que o cortador separa. Nestes dias, o café da manhã, o almoço e o lanche da tarde são puro chocolate. Para ela a paixão pelo doce vem exatamente de seu sabor puro e das inúmeras gramaturas do cacau, o que Divulgação comida #
  • 23. 23#amor lar a produção de endorfina e serotoni- na, neurotransmissoras que causam a sensação de bem estar. Ele ainda pos- sui as duas substâncias responsáveis pelo prolongamento dessa sensação, a N-oleoletanolamina e N-linoleoileta- nolamina. Entretanto, o consumo exagerado do chocolate pode ser prejudicial tan- to para a saúde física como mental. A endorfina e serotonina liberadas pelo cacau estimulam o cérebro de quem está consumindo. Então, as pessoas que o comem exageradamente podem desenvolver dependência. “O chocolate traz muitos benefícios para a saúde, como no controle da an- siedade, ou para o coração, por exem- plo. Mas se a pessoa não se controlar, ela pode ficar dependente, porque ela fica impulsiva, e passa a depender da- quela sensação de bem estar. E na de- pendência, a pessoa passa a ter neces- sidade de buscar constantemente esse bem estar. Pessoas com transtorno de ansiedade podem ser mais sujeitas a se viciar.” Os doces, cheios de detalhes, são produzidos com muito cuidado. Você sabia? Ochocolate foi inventado pela civilização asteca? No século XIV os astecas desenvolveram uma bebida feita com sementes de cacau e a chamaram de “xocolatl”, que quer dizer água amarga. A partir daí é que surgiu a palavra chocolate. Mas o nome não era à toa: essa bebida era real- mente amarga, e ainda por cima temperada com pimenta! Nada parecido com o chocolate que conhecemos hoje, não? A receita só foi reformulada um século depois, quando os europeus chegaram à América e conheceram o xocolatl dos Astecas. De seus ingredientes originais, retiraram várias especiarias mexicanas, que acabaram substituídas por açúcar, canela e baunilha, tornando a be- bida doce e com o gosto mais parecido com o que conhecemos hoje. Imagens:Divulgação Divulgação Divulgação comida #
  • 24. 24 Novembro de 2013 Dois pra lá, dois pra cá comportamento # Além de perder peso, dançar traz muitos benefícios para a saúde Por Bruna Amaral, Carolina Bigoni e Nayla Inácio L uiz Fernando Campos, 49 anos, formado em Educação Física pela Universidade Santo Amaro - UNI- SA explica os benefícios que a dança traz para nós. “Dançar elimina o stress e a ansiedade, estimula à sociabilida- de, melhora a autoestima, proporcio- na convívio e integração com outras pessoas, diminui a timidez, dançar exercita os músculos de forma suave, queima calorias, melhora a circulação sanguínea, aumenta o batimento car- díaco, trabalha a coordenação motora, a agilidade, o ritmo e a percepção es- pacial”. Patrícia Lira Poshner, professora e dançarina de zouk, com mais de 20 anos de experiência, iniciou a sua car- reira profissional em 1998. “A dança, como atividade física, libera endor- fina, substância relacionada ao pra- zer. Ninguém dança de cara fechada e, normalmente, termina a atividade mais alegre. É um exercício que inter- liga mente e corpo. A dança possibilita conhecer e compreender a diversidade das manifestações culturais, de dife- rentes povos, fazendo um estudo de como surgiu aquele ritmo e sua dança. Esse saber é riquíssimo e nos propor- ciona ligações com a história do ho- mem, da arte, e assim, entendermos o mundo hoje”, disse a professora sobre o que a dança pode nos beneficiar. Além de tudo isso, torna-se uma importante opção de lazer e não pode- mos esquecer da música, que envolve e estimula sensações e emoções, o que faz muito bem para gente, não é? Exercício físico e sensualidade se aliam no mundo da dança. Divulgação
  • 25. 25#amor Homens e mulheres procuram a dança por motivos diferentes. Gabriel Zeviani, 23 anos, formado em sistemas de informação e atualmente praticante a dança de salão conta que começou a dançar em um momento crítico de sua vida. “No começo do ano, perdi meu emprego e ao mesmo tempo minha namorada terminou comigo. E aquilo para mim foi muito difícil de aguen- tar, passei meses em casa com baixa autoestima, de mal com meu corpo e pensando no que eu ia fazer da vida. Depois de alguns meses, entrei para a academia e lá me inscrevi para as au- las de sertanejo e logo de cara gostei muito, e simultaneamente senti um incentivo muito grande para continu- ar. Hoje estou de bem com meu corpo, minha autoestima está elevadíssima e atualmente danço sertanejo, vanera e samba de gafieira. A dança para mim é mais que uma atividade física. Ela é uma forma de desligar os pensamen- tos, desestressar e me divertir” A atividade age involuntariamente de forma terapêutica na pessoa que a pratica e faz com que haja foco no movimento, desempenho, ritmo e per- cepção do corpo, influenciando direta- mente no aumento da autoestima, já que a atenção de problemas externos e preocupações são desligadas, expli- ca Patrícia Lira Poshner sobre esse o caso do Gabriel, em que a dança o aju- dou a superar. Lívia Rocha, 18 anos, aluna do zouk há três anos, relata a nova pes- soa que se tornou depois que começou a dançar. “Depois que passei a ter o há- bito de fazer aula de dança de salões apresentei uma grande mudança signi- ficativa no meu comportamento: fiquei menos tímida, obtive mais confiança, mais vontade de encontrar os amigos e de sair para as baladas. Encontrei um equilíbrio emocional, tão importante para emagrecer e manter o peso dese- jado que foi facilmente alcançado e se tornou um fator decisivo para conquis- tar um corpo mais saudável”. A dança de salão é essencialmen- te uma atividade social e provoca uma sensação de bem-estar psicológico. Permite a troca de experiências, esti- mula o diálogo e aumenta a motivação, reforça Patrícia. Existe o preconceito de que dança de salão é “coisa de velho” e de que al- guns ritmos, tais como o bolero, é “coi- sa careta”. Ao frequentar a Academia Milena Malzoni, esse conceito muda rapidamente e todos acabam adoran- do dançar. Com 20 estilos de ritmos diferentes a academia possui uma pro- posta de trabalhar a dança como uma forma de terapia socializadora direcio- nada à pessoas que buscam melhorar a saúde física e mental. A dança de salão é composta por vários ritmos, que são eles: Forró, Lam- bada, Samba de gafieira, maxixe, ser- tanejo, merengue, tango, bolero, salsa, zouk, valsa,flamenco, entre outras. Poucas pessoas sabem o que é Zouk. Apesar de ser uma dança mundialmen- te conhecida e ser um ritmo de suces- so em diversos países, muitas pessoas ainda não conhecem, e ao ouvirem o nome ou até mesmo o ritmo desconhe- cem sua origem. A proposta inicial é levar um conhecimento mais aprofun- dado sobre o ritmo, buscando um des- pertar de interesse pela a dança, que também faz parte da categoria dança de salão. A palavra Zouk significa “Festa” – e é um ritmo mundialmente conhecido. Sua dança é originada do Caribe, prin- cipalmente nas ilhas de Guadalupe, Martinica e San Francisco, todas de colonização Francesa. Com a saturação e decadência da Lambada, as bandas e músicas desse estilo tornaram-se cada vez mais raras. Os “lambadeiros” então precisaram procurar outros ritmos como alternati- va para continuar a dança. A solução foi encontrada nos ritmos caribenhos, especialmente nas ilhas colonizadas A dança para mim é mais que uma atividade física. Ela é uma forma de desligar os pensamentos, desestressar e me divertir Gabriel Zeviani - aluno Fiquei menos tímida, obtive mais confiança, mais vontade de encontrar os amigos e de sair para as baladas. Encontrei um equilíbrio emocional Lívia Rocha - aluna Dança pode reunir a família.. Paty Lira dança com os filhos Rodrigo e Felipe. Divulgação comportamento #
  • 26. 26 Novembro de 2013 pelos franceses. Daí a denominação “lambada francesa” para esses ritmos, especialmente para o zouk, que se tor- nou o mais popular deles. No Brasil, po- pularizou-se ao final da década de 1990, com movimentos dife- renciados e asso- ciados à lambada, influenciando-a e sendo influenciado por ela. Começou a ser conhecido na região Norte, mas logo se espalhou por todo o país. Na caracteri- zação do zouk é dançado com movi- mentos contínuos, que resultam num passeio em liberda- de melódica, com respiração nas pau- sas. Sua musicalidade e ritmo ensejam o romantismo e a amizade, fortalecen- do um dos mais gratificantes prazeres que é a dança. É necessário desenvol- ver todo o corpo ao dançar. As partes do corpo que mais se movimentam nessa dança são os mem- bros inferiores, a região abdo- minal e a cabe- ça. Além disso, o zouk trabalha o alongamento, a coordenação motora, o condi- cionamento físi- co e ainda deixa os músculos de- finidos. No caso dos homens, o abdômen e a cabeça não se movi- mentam tanto, mas é preciso agilidade para dançar com a mulher. Em uma hora de aula, a dança pode gastar de 400 a 500 calorias, mas existem pes- soas que conseguem queimar até 800 calorias. A “lambada francesa” como foi re- conhecida no Brasil, é uma dança bas- tante sensual, que combina os passos da lambada com outras influências da América Central, em especial caribe- nhas, que acrescentam um toque ain- da mais “caliente” aos seus passos e os movimentos mais adaptados ao an- damento da música. A dança está super na moda e não para de  ganhar adeptos e admirado- res. Hoje, escolas de dança do país inteiro recebem todo mês centenas de alunos interessados em aprender esse ritmo sensual. O ritmo já está tão soli- dificado que existem diversos congres- sos e competições nacionais e interna- cionais Está esperando o que? Só falta você sair dançando. Experimente, não há contraindicação! A dança libera endorfina, substância relacionada ao prazer. Ninguém dança de cara fechada e, normalmente, termina a atividade mais alegre Patrícia Poshner - professora Beleza e ritmo em todas as apresentações. Divulgação comportamento #
  • 27. 27#amor Amor pelo Basquete esporte # Técnico João ‘Padola’ fala de sua profissão e da atual situação do basquete no Brasil Por Douglas Carrareto O basquete brasileiro já passou por diversos níveis, fases e eta- pas. Em 2011, por exemplo, a Seleção Brasileira quebrou um jejum de 16 anos sem ir a uma Olimpíada e se classificou para os Jogos de Lon- dres, podendo-se dizer, então, que es- távamos novamente em uma boa fase, diz o técnico João Padola. Diversos fatores e pessoas podem ser considerados responsáveis pela maré positiva do Brasil no esporte da bola laranja. Alguns deles ficam no ano- nimato, mas certamente tem sua par- cela de culpa pelos frutos colhidos no presente. João Monteiro da Silva Filho, o “Pa- dola”, de 53 anos, é um deles. Forma- do em Educação Física e pós graduado em basquete com ninguém menos que o glorioso ex-jogador Wlamir Marques, o treinador foi res- ponsável por reve- lar diversos joga- dores que, hoje, fazem a alegria dos torcedores brasileiros e inclu- sive dos norte-a- mericanos. Quando co- mandava a S.E. Palmeiras, clube em que trabalhou entre 1988 e 2005, o experiente técnico ajudou a moldar os primeiros arremessos de Leandri- nho Barbosa, principal jogador brasilei- ro na atualidade, integrante da Seleção Brasileira e ala/armador do Indiana Pacers, da principal liga de basquete do mundo, a NBA. Além de Leandrinho, Padola proje- tou jogadores de alta relevância nacio- nal e disputando o principal campeona- to do Brasil, o NBB: o ala Dedé, hoje no São José, o ala/pivô Márcio Cipriano, do Brasília, e os pivôs Tiagão e Marcão, atualmente no próprio Palmeiras. “Acredito na dedicação e respeito ao ensinar, sem julgar se será jogador ou não. Tenho muito orgulho de todos eles, até dos que viraram grandes pro- fissionais em outras áreas. Admiro o trabalho deles e sempre peço que re- passem o carinho aos outros, sempre lembrando do duro que tiveram que dar para chegar onde chegaram”. Dono de uma carreira respeitável, o treinador tem em seu currículo exce- lentes trabalhos em diversos lugares, como o Esporte Clube Banespa, equipe onde está desde 1985, atuando nas categorias de base até hoje, no tradi- cional e extinto Esporte Clube Sírio, foi técnico de Seleções Paulistas de base, foi responsável por levar o Palmeiras de volta à elite do basquete brasileiro, em 2012, além de ser professor e técnico da Universidade Anhembi Morumbi. Pa- dola comentou sobre sua experiência e sobre a sensação única de rodar por diversos clubes. “Ser treinador de bas- quete é amar o que faz, sem esperar nada em tro- ca. Ensinar o que sei me dá prazer, transformar pessoas. Isso faço através do basquete. Podemos ter muito mais jogadores na base e assim, colher mais frutos no futuro” Da sua primeira convocação, em 1922, até os dias de hoje, a Seleção Brasileira viveu tempos distintos, muitos áureos, mas alguns sombrios. Por ser um esporte ainda pouco va- lorizado e divulgadocomo merece, o basquete tem dificuldades de cres- cer. Para João Monteiro da Silva Filho, a modalidade está em outro patamar em relação a antigamente. Agora, que estamos passando por uma ‘cri- se’, Padola afirma que não é hora de esquecer o que foi feito, mas sim, de refletir e tentar evoluir novamente. Assim como o basquete, a própria profissão não tem o devido valor nos dias de hoje, no Brasil. Ser professor de Educação Física não é sendo uma boa opção para alguém que queria abundância e muito dinheiro. Mas por que escolher este curso? Por que ser professor de educação física? Por que ser técnico? “Quando fiz o curso de Educação Física já esperava que não seria fá- cil, mas o basquete é contagiante de- mais. Fui buscar nas lições de outros professores, lições de se trabalhar se divertindo com o que faz. Ensinar com muita seriedade e dedicação. Infelizmente não somos valorizados como deveríamos, mas não choro por isso. Faço por gosto. Sonho um dia mudar tudo isso, sempre com muita esperança”. “Vejo que podemos chegar muito mais longe, porque nosso país é bem diversificado e temos material huma- no. Mas precisamos do apoio um do outro para alcançar nossos objetivos. O momento é de reflexão e não de destruir o que já foi feito. Precisamos ouvir os técnicos com mais tempo no basquete. Vejo muitos deles hoje ca- lados, com muitas coisas boas para passar. Às vezes, escutar os que es- tão parados no tempo seja uma al- ternativa. Não existe mágica, existe um trabalho, haverá vários fatores a favor e contra. Assim, você consegue tirar o melhor para o nosso basquete. Precisamos entender que ninguém é descartável”. Técnico João ‘Padola’ orienta seus atletas. Reprodução/UOL Ser treinador de basquete é amar o que faz, sem esperar nada em troca João Padola
  • 28. 28 Novembro de 2013 Camisas que contam histórias esporte # Pedaços de pano que representam a identidade de um clube e a paixão do torcedor Por Rafael Pileggi Calegarini N os primeiros anos de vida, toda criança passa por diversas no- vas situações. Além de aprender a falar e dar os primeiros passos, é na infância que uma decisão que será le- vada para toda vida é tomada: o clube pelo qual a criança vai torcer. É nessa idade, que todo mundo é presenteado com sua primeira camisa de time, ge- ralmente dada pelo pai ou por algum parente próximo. Com o passar dos anos, aquela ca- misa, que até então era única, começa a dividir os espaço com diversos outros modelos. E é justamente aí, que surge uma paixão única em cada torcedor: os mantos sagrados. Atualmente, no mundo do futebol, as camisas de clubes são os objetos mais cobiçados por todos torcedores. Com o marketing esportivo cada vez mais aliado às equipes, diversos mode- los de camisa são lançados em curto período de tempo, fazendo com que os colecionadores aumentem seu acervo na mesma proporção. No entanto, engana-se quem pen- sa que as camisas das atuais tempora- das - que podem custar até R$250,00 - são as mais caras. No mundo dos colecionadores de camisas de time, os valores das camisas andam em vias opostas ao ano de lançamento da ca- misa. Isso significa que, quanto mais antiga uma camisa, mais difícil a chan- ce de se encontrar e, consequente- mente, mais alto o seu valor. Outro fato que pode elevar o valor de uma camisa é o fato dela ter sido usada em jogo, sendo considerada, portanto, uma peça ainda mais valiosa. O colecionador Fábio Rocha, pal- meirense que conta com mais de 1000 camisas da equipe paulista em seu acervo pessoal, é considerado por muitos desse meio um “homem de sor- te”. Colecionador desde 2007, Fábio, assim como todos nesse meio, contou com o empurrãozinho de alguém para iniciar sua coleção. “Comprava uma ou duas camisas por ano, mas tudo come- çou mesmo quando peguei 20 camisas do meu irmão. A partir dai vi que já ti- nha uma coleção e, desde então, não parei mais”. Além de ter uma das maiores cole- ções de camisas, Fábio possui também uma das relíquias mais valiosas da his- tória do Palmeiras. Em sua coleção, o torcedor possui a camisa usada pelo goleiro Marcos - um dos maiores ídolos da história do clube - na semifinal da Copa Libertadores de 2000, oportuni- Acredito que o colecionismo pode ser um vício, por isso é importante ir com calma. Rodrigo Silva - colecionador ArquivoPessoal Com diversas relíquias na coleção, Fábio expõe suas camisas em diversos encontros de colecionadores.
  • 29. 29#amor dade em que o time alviverde eliminou o seu maior rival: o Corinthians. “A camisa usada por Marcos no pênalti do Marcelinho é, sem duvida, a mais valiosa. Demorei mais de um ano para conseguir convencer o antigo dono a me vender”, diz Fábio. Tamanha a importância da cami- sa, tanto no mundo dos colecionado- res quanto na história do Palmeiras, que o colecionador teve a oportunida- de de expor sua camisa em uma das paredes da loja de produtos oficiais do clube, na Zona Oeste de São Paulo. Diferente de Fábio, foi quando criança que o colecionador Rodrigo Silva deu início a seu acervo. Acostu- mado a frequentar estádios de futebol na infância, foi no Morumbi - estádio do seu clube de coração - que o cole- cionador passou a se interessar, de fato, pelos mantos do São Paulo. “Des- de pequeno, quando comecei a ir aos campos, achava fantástica a variedade das camisetas presentes na arquiban- cada”, diz Rodrigo. O colecionador, que hoje possui 98 camisas do São Paulo em sua coleção, ganhou sua primeira camisa em 1993. No entanto, a ca- misa mais va- liosa em seu acervo é de 1980, ano em que Ro- drigo ainda nem era nascido. Assim como a maioria dos colecio- nadores, Rodrigo en- frenta a desaprova- ção da namorada em relação ao alto dinheiro gasto com as camisas. No entanto, o próprio colecio- nador reconhece que a paciência é o melhor aliado de quem tanto sonha ver sua coleção cada vez maior. “Acredito que o colecionismo pode ser um vício, por isso é importante ir com calma”. No mundo dos colecionadores, muitas coisas vêm mudando com o passar do tempo. Além dos tecidos das camisas, que são aperfeiçoados a cada ano para o melhor desempenho do jogador dentro de campo, o modo pelo qual os torcedores se encontram para trocar, vender e comprar camisas, também mudou bastante de um tempo pra cá. Os encontros, que antigamente só eram feitos no Estádio do Pacaem- bu, em São Paulo, hoje são realizados diariamente nas redes sociais. Através do Facebook, colecionadores de todos os lugares do Brasil se falam atra- vés de grupos direcionados ao ramo e negociam camisas de clubes dos mais diversos pa- íses. Foi justamente aí, que surgiu a ideia de um dos colecionadores de criar um site para expor sua coleção na internet. O palmeirense Daniel Cachiello, ganhou sua camisa cinco anos de idade. Mas foi apenas sete anos mais tarde, devido ao seu apego por simbolismo, heráldica e íco- nes de identificação, que o cole- cionador realmente se tornou um aficcionado peles mantos palestrinos. “ Camisas de futebol, além de bandeira e escudos dos clubes, são os maiores expoentes de simbolismo”, diz Daniel. Devido ao grande apego e orgulho da própria coleção, Daniel teve a ideia de criar um blog para divulgar e expor suas 160 camisas para que outros colecionadores pudessem aprecia-la. “Por sempre gostar da história das ca- misas e manter um arquivo muito gran- de de imagens e registros, achei inte- ressante compartilhar isso com quem também tivesse interesse”. O grande número de acessos, fez com que o co- lecionador almejasse até a publicação de um livro que pudesse contar um pouco mais de cada camisa do Palmei- ras. “Só preciso achar algum editor dis- posto a publicar”, completou Daniel. No entanto, mesmo com o site, Da- niel garante que é através das redes sociais o jeito mais fácil de encontrar camisas que ele ainda nao tem na coleção. Porém, como tudo na vida, o colecionador vê um lado negativo na ampliação do mundo dos coleciona- dores neste meio da internet. “Nesse meio tempo, as redes sociais facilita- ram muito o contato entre as pessoas e, consequentemente, aumentaram a quantidade de curiosos, surgindo uma nova categoria de colecionador, o pseu- docolecionador que é, na verdade, um vendedor de camisas”. Diferente da maioria dos colecio- nadores, Daniel tem plena consciência que, sim, colecionar camisas pode ser considerado um vício. “Já ouvi entre- vistas de psicólogos que colecionismo é uma categoria de Transtorno Obses- sivo Compulsivo”. Para o colecionador, o hábito de ir atrás de camisas para o seu acervo é uma fuga, ou seja, uma maneira encontrada pelo palmeirense de fugir da realidade. Vicio ou hobby, colecionar camisas é cultivar a história de um ou mais ti- mes através de pedaços de pano. In- dependente da cor, tamanho ou clube, cada uma tem o seu valor e conta uma história única. ArquivoPessoal Apaixonado pelo S.P.F.C, Rodrigo já alcançou a marca de 100 camisas na coleção
  • 30. 30 Novembro de 2013 O uve-se muito que o brasileiro lê pouco, principalmente os jovens e as pessoas de baixa renda, e culpa-se a falta de incentivo por parte do Governo e o preço alto das publica- ções. Mas nenhum dos argumentos usados para explicar a falta de interes- se dos brasileiros pelos livros pode ser considerado totalmente verdadeiro. Por outro lado, várias pesquisas apontam um grande crescimento de leitores no país. Uma delas foi fei- ta pelo Instituto Pró-Livro, divul- gada em 2012, e mostra que a mé- dia nacional de leitura é de 4,7 livros por ano, um grande avanço considerando que no início do sé- culo a média era de 1,8. O mesmo estudo ainda re- vela que embora a classe A consuma mais livros per capita, ela é responsável por somente 5% do total das vendas no país, e é a classe C quem leva para casa 47% dos livros vendidos. Este aumento de público influen- ciou diretamente o preço médio de cada exemplar. Desde 2004, o preço do livro reduziu cerca de 40%, descon- tando a inflação. O aumento das tira- gens e lançamentos de edições eco- nômicas e de bolso contribuiram para que esta queda acontecesse. Saindo deste universo de livros novos, o preço que se paga pela leitura pode se redu- zir a zero através de programas de in- centivo a leituras, sebos e bibliotecas. O crescimento da conscientização de que ler realmente é necessário e um ótimo hábito fez com que fosse pos- O mundo apaixonante da literatura livros # Conheça pessoas que não vivem sem ler e consideram o gasto com livros como um investimento, que agrega conhecimento e abre novas fronteiras Por Janahina Rodrigues, Laura Dourado, Patricia Allerberger e Renata Simond sível encontrar Machado de Assis por R$ 1,00 em sebos ou baixar de graça (e legalmente) na internet, em vez de comprar o mesmo livro por R$ 50,00 em alguma livraria. O Brasil é o nono maior mercado editorial do mundo, produzindo quase 500 milhões de exemplares por ano e fazendo com que editoras estrangeiras desembarquem no país para investir na publicação de seus livros. Fenôme- nos como Stephe- nie Meyer, Suzan- ne Collins, Meg Cabot, Thalita Rebouças e Paula Pimenta coloca- ram os jovens de até 24 anos como o maior público leitor do país. Com o grande su- cesso, os livros c o n q u i s t a r a m pontos de ven- da alternativos, como padarias, lojas de conveniência, farmácias, supermercados e até estações de metrô e trem. As editoras têm feito um esforço enorme para levar seu acervo a mais brasileiros que não leem, e algumas já incluíram livros nos catálogos de venda de grandes empresas de cosméticos. Para incentivar a leitura, o Go- verno Federal criou o Vale-Cultura, onde é possível que trabalhadores que recebem até cinco salários míni- mos tenham R$ 50,00 mensais para comprar livros, CDs, DVDs ingressos de teatros, cinemas, jornais e revistas, tudo através de um cartão magnético. E o valor é cumulativo, o que dá a opor- tunidade de juntar dinheiro e comprar produtos mais caros. O mercado literário tende a cres- cer cada vez mais com a erradicação do analfabetismo, políticas de incen- tivo e massificação dos livros consi- derados comerciais. Cada vez mais teremos best-sellers con- vidando novos leitores e, um dia, a leitura será um hábito O Brasil é o nono maior mercado editorial do mundo, produzindo quase 500 milhões de exemplares por ano
  • 31. 31#amor completamente comum para os bra- sileiros. Enquanto isso não acontece, escutamos três jovens que leem muito mais do que a média nacional e, ape- sar de algumas dificuldades, desen- volveram um vínculo enorme com a leitura. Brasileiros acima da média Para muitos leitores, ler é uma for- ma de viajar e de escape da realidade, ou um momento de reflexão e relaxa- mento. Não importa quais livros eles escolhem, se, após a leitura, os pas- sam para frente ou deixam encosta- dos em uma prateleira. O importante é o amor que eles sentem pelos livros. Os estudantes Tharik Reis, Wen- dell Carvalho e Renata Kazys abriram o coração para contar um pouco da paixão pelos livros, como conciliam a vida cotidiana ao hábito de ler e como gerenciam este amor. O estudante Tharik Reis tem o hábito de comprar os exemplares em sebos, conseguindo economizar mais de 60% em um livro desejado. Esta economia permite que ele possa con- sumir até três livros por mês. O que limita a leitura de mais livros, é a falta de tempo, entre a correria dos estudos e deveres, já que Tharik consegue ler apenas no transporte público. O estu- dante lê tanto livros impressos quan- to online, mas confessa que o fato de não ter tablets ou e-readers torna desconfortável a leitura digital e, nes- te caso, o livro se torna mais fácil para levar na mochila no seu dia-a-dia. Wendell Carvalho é estudante de Jornalismo e gerencia um blog de lite- ratura. Wendell tentou fazer as contas e chegou a aproximadamente 170 li- vros lidos. Sempre que encontra um espaço na agenda corrida, ele tira o livro da mochila e lê. Quando termi- na, o blogueiro posta uma crítica em seu blog. Leitor desde os quatro anos, iniciou a vida literária lendo histórias em quadrinhos do Mauricio de Sousa e, aos 10 anos, deu um passo maior e leu o seu primeiro li- vro que continha mais de 200 páginas, “Caçador de Pipas”, de Khaled Hosseini, editado pela Nova Fronteira. Apaixonado pelo universo que sai de simples páginas, Wendell não abre mão de ler livros impressos. Para ele, a experiência de comprar um livro, sentir o cheiro peculiar e folheá-lo é única, e só em casos que o objeto em si é muito grande ou pesado, ele opta pela leitu- ra digital, mas mesmo assim não deixa de comprar o exemplar impresso na li- vraria. Esse é o único modo que encon- trou para poder montar a tão sonhada biblioteca em sua casa. Sobre o número de leitores no Bra- sil, Wendell gosta de separar em duas épocas: pré e pós lançamento de Harry Potter. A saga do pequeno bruxo foi a primei- ra a ser lançada no país e conquis- tou milhares de fãs das mais di- versas idades. De- pois disso, outras séries literárias foram lançadas e continuaram a conquistar novos leitores, tanto fi- éis como passageiros. A ideia do blog surgiu de acordo com o crescente in- teresse pela leitura. Pensar em poder incentivar pessoas a ler por meio das críticas feitas por ele próprio foi o que mais o seduziu. Agora, além de seu blog, Wendell também é colunista de literatura do portal Mundo Blá, site que possui mais de 23 mil visualizações mensais. Não tendo um gênero preferido, o blogueiro sempre está pesquisando no- vos livros para fazer as críticas. Quando encontra um diferente, ele lê a resenha e se for interessante não pensa duas vezes para começar a leitura. Mesmo que o começo não o agrade muito, Wendell tenta ler até a página 100, pois muitas histórias demoram a embalar o leitor, mas se mesmo assim o livro não o conquistar, ele descarta e volta a procurar novas aventuras literá- rias. Fazer um tra- balho bom sempre traz benefícios. O crítico conta que as editoras abrem as portas para lei- tores que fazem críticas em blogs de sucesso, e mui- tas vezes até en- viam exemplares para que se faça o comentário no site. Esta é uma forma que agrega para os dois lados, o blogueiro economiza ao não ter que comprar o livro, ganha visualizações e, às vezes, recebe várias cópias para fazer sorteios, e as editoras conseguem ter uma publicidade eficaz e a baixo custo, pois atingem exatamente o público alvo. É preciso melhorar o contato das crianças com os livros. Mostrar às pessoas que leitura é conhecimento, entretenimento e cultura livros #
  • 32. 32 Novembro de 2013 Mesmo com o blog, Wendell man- tém o seu próprio ritmo de leitura, ler não se tornou uma obrigação e nem se tor- nou estressante. Para ele, ser obrigado a ler torna tudo chato e desinteressan- te, e a última coisa que ele quer é per- der a paixão pelo mundo literário que o conquistou quando tinha apenas quatro anos de idade. A estudante de Lazer e Turismo Re- nata Kazys lê cerca de cinco livros por mês, geralmente os compra pela inter- net, mas, quando dá, pede emprestado de amigos que compartilham do mes- mo gosto. Começou a ler quando tinha 14 anos e, aos 17, o hábito virou com- pulsão e suas eram férias totalmente dedicadas à leitura. Apaixonada pelos impressos, aprecia quando compra um livro novo. Já é um hábito pegar o livro, folheá-lo, sentir o relevo da capa e o cheiro de novo. Para ela, os livros digitais não vão conseguir passar esta sensação do toque. Renata sempre leva um livro na bolsa e quando tem algum tempinho livre começa a ler e se desliga totalmente da realidade que está a sua volta. Geralmente, cerca de 30 minutos do dia é dedicado à leitura, mas dependendo do livro e da ocasião, ela pode ler o dia inteiro. Renata acredita que os livros con- siderados best-sellers são a porta de entrada dos novos leitores. Mesmo que a escrita seja simples e o enre- do batido, estes livros são capazes de seduzir quem não tem o hábito de ler. Quem realmente descobre o gosto da leitura através destes livros, con- sequentemente vai procurar outros, futuramente, como no caso da saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer, que cita o clássico “Morro dos Ventos Ui- vantes”, de Emily Brontë. Depois de ler os livros da saga, muitos foram atrás do clássico mundial. Claro que é uma leitura diferente, mas é exata- mente o que acaba sendo interessan- te: um livro considerado clichê abre as portas para um clássico inglês, que pode aguçar mais ainda o gosto literá- rio e mostrar que não existe somente um tipo de livro para se ler. Disposta a gastar até R$ 40,00 em um bom livro, Renata fica atenta às promoções na internet, e foi assim que ela chegou a marca de 120 livros lidos. Garante que os livros são tão importan- tes quanto as roupas que usa e que já usou o dinheiro que era destinado para outras compras para adquirir um livro. Encara a leitura como investimento, pois “ao ler você adquire conhecimen- to e melhora a linguagem”. Para aumentar o número de leito- res brasileiros, ou aumentar a média brasileira de leitura, é preciso melho- rar o contato das crianças com os li- vros, e também mostrar às pessoas que uma obra literária é conhecimen- to, entretenimento e cultura. O Brasil está investindo em políticas públicas para melhorar este cenário, mas gran- de parte do incentivo ainda vem de instituições e ONG’s e não do governo, como deveria ser. O incentivo literário no Brasil O incentivo pela leitura é essencial, tanto para a alfabetização, para apro- Projetos de incentivo são essenciais para aumentar o número de leitores. JanahinaRodrigueseLauraDourado
  • 33. 33#amor O Bookcrossing tem como objetivo o desapego total dos livros. LauraDourado fundar conhecimentos, criar opiniões e facilitar todo e qualquer tipo de aprendi- zado. Para que o amor aos livros cresça cada vez mais no país é preciso não só que os livros cheguem às mãos dos lei- tores, mas também que o espaço deles seja cada vez maior e mais divulgado. Segundo dados da pesquisa Re- tratos da Leitura no Brasil, feita pelo Instituto Pró-Livro em 2012, de 178 milhões de brasileiros, os leitores atin- gem a marca de 88 milhões, e apesar do número ter diminuído em relação a mesma pesquisa feita em 2007, os que confirmaram este hábito dizem que estão lendo cada vez mais, o que é uma das explicações para o aumento na venda literária nos últimos anos. Outros motivos que sinalizam a alta das vendas são os e-books, as feiras e festivais literários, cada vez mais popu- lares, campanhas de leitura e também a visibilidade de autores nacionais no exterior. Cada um desses pontos é im- portante para o crescimento da leitura e para a economia literária. A discussão sobre o fim dos li- vros impressos com o surgimento dos e-books cessou, leitores e especialistas concordam que os dois podem conviver juntos e não há rivalidade entre os meios. O surgimento dos li- vros digitais impul- sionou as vendas e fez o mercado crescer, atualmen- te, não apenas livros de ficção e recreativos são encontrados na versal digital, os di- dáticos e até guias turísticos podem ser comprados para leitura em tablets. Rafael Ferreira, dono do Sebo do Ferreira, em São Paulo, sofre com o surgimento dos livros digitais. Seu sebo tem cerca de três mil livros, grande par- te adquirida por ele, e a venda tem dimi- nuído, pois muitos dos títulos que pos- sui já são encontrados na internet. Há 30 anos no mercado, ele diz que antiga- mente a visitação aos sebos era maior. Entretanto, durante a entrevista, a loja recebeu a visita de vários estudantes e o telefone não parou de tocar. As feiras de livros que acontecem pelo país também trazem maior visibi- lidade para este mercado. Encontros com autores, discussões de best-sel- lers e palestras mantêm os apaixona- dos por perto, atraem visitantes para novas descobertas e organizam cam- panhas de incentivo para as crianças. A Festa Literária de Paraty criou em seu site o Movimento por um Brasil Literá- rio, que organiza ações para tornar a sociedade leitora, como mesas re- dondas, festivais e seminários. A Feira do Li- vro de Lajeado, no Rio Grande do Sul, levou neste ano o primeiro festival li- terário infantil para a cidade e teve como lema A Leitu- ra como Fonte de Prazer. As bienais do livro reúnem, também, autores que estão fazendo sucesso, aproximan- do-os de seus leitores. Há, ainda, a re- serva de grandes espaços para livros infantis e brincadeiras relacionadas à leitura. É essencial que o imaginário seja explorado para que, ao longo da vida, ler se torne um hábito prazeroso, e quanto mais cedo isto acontecer, mais fácil será criar futuros leitores. Atualmente, existem muitos proje- tos de incentivo à leitura no país, o que cativa mais pessoas. Há a campanha do bookcrossing: você lê o livro e de- pois o deixa em algum lugar público, para que outra pessoa possa encon- trá-lo. Os projetos nas periferias da ci- dade, como saraus e rodas de leitura, para fazer tanto crianças como adultos terem espaço no mundo literário, são outras formas de criar o hábito. A visibilidade que autores brasilei- ros estão ganhando no exterior também é positiva. O sucesso de livros nacionais fora do país faz com que novas editoras queiram criar raízes no Brasil, trazendo novos livros e novas possibilidades para os leitores, com a chegada de obras tra- duzidas. Um exemplo é a editora Cosac Naify, que contabiliza 32 livros traduzi- dos do alemão para o português. No Brasil há muitos projetos, cam- panhas e meios de incentivo à leitura para todas as idades, mas ainda falta uma divulgação mais eficaz para que os cidadãos tenham conhecimento desse tipo de trabalho. O mercado lite- rário cresce, mas apenas uma parcela da população consome. É importante que mais pessoas descubram que há sim muitos projetos que possibilitam e facilitam este hábito no país. O que muitos brasileiros não sabem é que cada um pode fazer um pouco para mudar o cenário literário no Brasil. A doação e troca de livros incentivam pes- soas que têm pouco contato com a lei- tura, e mostram novos mundos literários para os que sempre buscam novidade. Descubra como ajudar essa corrente em prol da disseminação da leitura no país. Terminei de ler, e agora? Segundo pesquisa realizada com mais de 300 pessoas no Facebook, A discussão sobre o fim dos livros com o surgimento dos e-books cessou, leitores e especialistasconcordamque os dois podem conviver. livros #
  • 34. 34 Novembro de 2013 83% preferem guardar seus livros após a leitura, somente 3% doam e nenhu- ma vende. Após serem questionados se possuem o hábito de relê-los, 43% afirmam que sim e 37% confirmam que fizeram isso poucas vezes. Mas será que as pessoas sabem o que podem fazer com os livros depois de ler? A grande maioria responderia que entregar em sebos é uma opção, mas o dono do sebo do Ferreira afirmou que a grande maioria dos livros que ele tem para vender vêm de brechós, ba- zares, asilos, ferros-velhos, reciclagem ou até mesmo da compra pessoal em distribuidoras. São poucos os que vêm de leitores físicos. Caso você queira vender seus livros a um sebo, Ferrei- ra afirma que a avaliação depende da quantidade, qualidade e do preço que ele conseguiria por uma edição nova. A doação pode ser feita também de pessoa física para pessoa física. Existe no Facebook, uma página chamada Doa-se um Livro, que Tiago Morini, dono do blog Um Livro Qualquer, criou como uma forma de protesto, mas que acabou crescendo. “Recentemente, o Ministério da Fa- zenda editou uma norma que limita as promoções culturais nas redes sociais, caracterizando-as como promoção co- mercial. Como eu tinha alguns livros para sortear, acabei criando a página Doa-se um Livro. Inicialmente, apenas os meus livros seriam doados, mas outras pessoas aderiram ao projeto e ele acabou crescendo de uma forma surpreendente”. Com isso, Tiago com- pra alguns e ganha outros de pessoas próximas que sabem do projeto e que- rem participar de alguma forma. Para ganhar em uma das promoções basta compartilhar a imagem e deixar um co- mentário. A escolha do ganhador é fei- ta em até 15 dias. Quem faz o envio é o doador, diretamente para o donatário, em até uma semana, e o custo é pago pelo remetente, sendo de até R$ 5,00 para todo o Brasil. Se você quiser doar algum livro, é só enviar uma foto, o link do seu perfil ou página no Facebook e a sinopse no e-mail doaseumlivro@gmail.com, mas o livro deve estar em ótimas condições. Outro projeto que vem chamando atenção no mundo inteiro é o 1010 Ways To Buy Without Money (1010 Ma- neiras de Comprar Sem Dinheiro), origi- nário da Catalunha, na Espanha. Trata- se de uma iniciativa a fim de promover a leitura e dar valor ao livro, sem ser pela compra em dinheiro. Os clientes devem realizar ações significativas em troca do livro. Algumas delas são: ligar para a mãe e dizer que a ama, montar uma playlist alegre e compartilhar com seus amigos, doar sangue, deixar de fumar, tornar-se um doador de órgãos, entre outros. Esse projeto tem por ob- jetivos provocar uma reflexão sobre consumo e sustentabilidade e mostrar que uma ação positiva para qualquer pessoa, conhecida ou não, vale muito mais do que o pagamento em dinheiro. O bookcrossing é outro projeto que está se tornando famoso no Bra- sil. Criado nos Estados Unidos e que já passeia pelo mundo inteiro, prega o desapego total aos livros. A ideia é que, depois da leitura, o livro seja deixado em algum lugar público para que ou- tra pessoa o encontre. Todos os livros participantes têm uma etiqueta com um cadastro, onde você pode entrar no site oficial e descobrir por onde ele já passou. De acordo com o estudante e leitor Tharik Reis, passar o livro para frente traz muitos benefícios e é muito me- lhor do que guardá-lo na estante, “Com o bookcrossing e as doações, aumen- ta a chance de encontrarmos um livro que fuja da nossa leitura convencional e nos surpreenda. Além disso, por se tratar de cultura, acho importante o desapego dos livros, o legal é passá-lo para frente e possibilitar que mais pes- soas tomem contato com uma leitura que tenha te agradado.”. Então, se você estava em dúvida sobre o que fazer com aquele monte de livros que tem encostado nas estan- tes de casa, pegando poeira, aproveite essas dicas, pois há muitas pessoas que podem se interessar por eles. Pas- sar conhecimento e diversão nunca é demais. Ler é um hábito poderoso que nos faz conhecer novos mundos e ideias. Além de estimular a criatividade, am- pliar o vocabulário e incentivar a re- flexão. Para os nossos entrevistados, o universo literário é completamente apaixonante, uma caixinha de sur- presas onde cada livro é uma viagem diferente. No entanto, mesmo com o aumento da leitura regular de poucas pessoas no país, o mercado ainda traz altos preços, e o governo ainda não investe fortemente em campanhas de leitura. É de extrema importância que, independente de sua plataforma, os livros continuem a ser amados por quem já os conhece e introduzidos a quem ainda não está acostumado. Grandes educadores, como Paulo Freire, defendem a importância da leitura para a educação: “Se é prati- cando que se aprende a nadar e se é praticando que se aprende a traba- lhar, é praticando que se aprende a ler e escrever”. livros #