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“
É PRECISO
TER SENTIDO
DE HUMOR EM
TUDO NA VIDA”
JORGE CORRULA, de 36 anos,
protagonista da primeira comédia
gay portuguesa, faz um balanço
positivo de 2014 e fala da relação
com a filha, BEATRIZ
Jorge Corrula, de 36 anos, atravessa uma fase positiva a nível profissional:
integra o elenco da novela Água de Mar e está no cinema,
no filme Virados do Avesso. A nível pessoal vive uma relação estável
com Paula Lobo Antunes, com quem tem uma filha, Beatriz, de dois anos
N
ÃO come as 12 passas para pedir desejos
nemseguenenhumritualdepassagemde
ano para dar sorte e apesar das previsões
astrológicas para os nativos de Peixes – signo de
Jorge Corrula – falarem de 2015 como um ano de
altosebaixosanívelprofissional,écomumsorriso
nos lábios que o ator, de 36 anos, olha para o
futuro. Como o próprio diz: “Sou um optissimista”.
A palavra, naturalmente, não surge no dicionário,
mas reflete bem o espírito de Jorge Corrula:
otimista, mas sempre com uma certa dose de
pessimismo, o que o obriga a ter os pés bem
assentes na terra. Este ano, ambiciona fazer teatro.
No cinema, ainda está em exibição o filme Virados
doAvessoenaTVpodemos vê-loem Água deMar,
da RTP.
VIP – Começámos agora 2015. Gosta de
fazer balanços e faz resoluções de ano novo?
Jorge Corrula – Passei o fim de ano com a mi-
nha família, com a Paula [Lobo Antunes] e a minha
filha, e a Paula é que tem muito esses hábitos de
fazer resoluções, comer as 12 passas... é todo um
ritual que ela segue. Não tenho muito esses hábi-
tos, mas obviamente faço um balanço do ano.
E traça objetivos?
De um modo geral, não. Tenho objetivos para a
minha vida, profissional e pessoal, mas não é no
dia 31 de dezembro que faço os 12 desejos e re-
flito sobre o que aconteceu durante o ano. É mais
durante dezembro. Água de Mar acabou nesse
mês, mas se continuasse até março, como estava
previsto, não fazia nenhum balanço porque, para
mim, o ano continuava como o ano letivo ou o
desportivo... Tenho por hábito dizer que quero
fazer teatro pelo menos uma vez por ano. Não o
cumpri em 2014, mas acho que vai acontecer este
ano. O ano anterior foi um ano de muito trabalho
e de descoberta pessoal. Foi um ano francamente
bom, tanto a nível profissional como pessoal. Daí
que 2014 seja difícil de bater.
Por que razão diz que foi de descoberta pes-
soal? O que descobriu de novo em si?
Tive dois trabalhos muito intensos (a novela
Água de Mar e o filme Virados do Avesso) com duas
personagens que exigiram muito de mim, uma
carga horária muito forte e isso levou-me ao limi-
te. Gosto destes desafios que nos levam ao esfor-
ço extremo, pois é aí que testamos os nossos li-
mites. Gosto de acreditar que a prova foi superada.
As previsões de um conhecido astrólogo
para os nativos de signo Peixes dizem que será
um ano de altos e baixos no trabalho...
Mas isso é sempre. Como ator, é sempre de
altos e baixos. Por isso é que não me deslumbro
quando estou em alta e não me vou completa-
mente a baixo quando as coisas não estão a correr
bem. Gosto de ver as coisas planas ou de ver, pelo
menos, uma linha continuamente a subir. Os altos
e baixos formam outras linhas paralelas e habitu-
ei-me a viver com elas. Já tive alguns períodos em
que o trabalho não abundava.
Lida bem com as contrariedades?
Sim. Gosto de dizer que sou um “optissimista”.
Mesmo nas alturas mais otimistas conservo-me
com um pé no pessimismo de maneira a não ficar
desiludido quando as coisas não correm bem.
O filme Virados do Avesso ainda está em
cena e ultrapassou os 103 mil espetadores.
Como olha para este sucesso? Já é um dos fil-
mes mais vistos do ano...
50 51
Acho que é um sucesso natural. Esperava que
fosse assim. O filme mais visto é Os Maias, mas
estreou dois meses antes. Se o Virados do Avesso
tivesse estreado na mesma altura, acho que po-
deria tê-lo ultrapassado. Atrevo-me a dizer que o
Virados do Avesso é o mais visto do ano, porque
Os Maias estão com dois meses de avanço. Mas
também podemos dizer que o Virados do Avesso
esteve em muito mais salas e teve mais publicida-
de... Falando de justiça, é justo que Os Maias seja
o filme mais visto do ano, mas o Virados do Aves-
so ainda está a meio do percurso.
Há quem diga que o humor é um dos géne-
ros mais difíceis de fazer, mas, no seu caso,
acha que é o seu ponto forte? A Paula disse na
estreia do filme que o Jorge “tem um lado mui-
to cómico” e que é uma pessoa com “um sen-
tido de humor rebuscado”.
Eu acredito que tenho algum sentido de humor,
mas às vezes, para quem não me conhece, é um
bocadinho corrosivo e as pessoas não o perce-
bem. Ou percebem e não acham graça. Mas que-
ro acreditar que, de vez em quando, acerto. Não
sei se é o meu ponto forte. A nível particular, se
calhar, é o meu ponto forte, mas enquanto profis-
sional gosto de atravessar todos os géneros. Mas,
de facto, o género cómico é o mais difícil.
Sente-se orgulhoso por ter feito um filme
irreverente para os padrões portugueses? É a
primeira comédia romântica gay e é um tema
que nem toda a gente encara de forma leve.
É uma comédia, mas se há pessoas que não
acham graça estão no seu direito. É completamen-
te legítimo que haja quem não goste do filme. Eu
acho que é preciso ter sentido de humor em tudo
na vida. Já ouvi opiniões diferentes: que não acha-
ram graça nem à forma de filmar nem ao texto,
que as personagens são demasiado estereotipa-
das... Eu encaixo esses argumentos, desde que me
“A coisa mais importante na minha vida é o que eu quero que a minha filha seja como pessoa”, diz Jorge Corrula, que é pai de uma menina, Beatriz, de dois anos e três meses
Jorge Corrula foi
fotografado para a VIP
no Hotel Miragem,
em Cascais
“Eu acredito que tenho algum
sentido de humor, mas,
às vezes, para quem não me
conhece, é um bocadinho
corrosivo e as pessoas
não o percebem”, diz Jorge
Corrula, que é um dos
protagonistas da comédia
Virados do Avesso
apresentem razões. Se estou orgulhoso de ter
feito o filme? Sim. Acho que o importante é ven-
dermos bilhetes com produção nacional. Os por-
tugueses, devido aos anglicismos, desabituaram-
-se de ouvir música portuguesa e de ver cinema
português. Há que mudar esses hábitos e, se ca-
lhar, isto vai ajudar a perder preconceitos em re-
lação ao cinema e à música nacionais.
Sendo este um filme de humor, como é que
viu o trocadilho que foi feito e que dizia: “Hot
Jesus vive com o Padre Amaro”?
[Risos] Como lhe disse, uma das principais ca-
racterísticas do ser humano é o sentido de humor.
Se não tivermos, não somos humanos, não sabe-
mos rir de nós próprios Se dramatizarmos tudo o
que de menos bom nos acontece, não consegui-
mos evoluir. Não é um trocadilho assim muito
engenhoso, mas é elaborado e acho engraçado.
Não pensei nisso e o Diogo [Morgado] também
está farto de levar com o “Hot Jesus”, tanto lá fora
como cá dentro. Nós seríamos as últimas pessoas
a lembrarmo-nos disso.
O filme O Crime do Padre Amaro foi real-
mente marcante na sua carreira. Era um obje-
tivo descolar-se desta imagem?
Sim. Quando o fiz, em 2005, já tinha feito teatro
e poucas coisas em televisão, mas inicialmente o
Crime do Padre Amaro deixou-me um pouco cho-
cado e com medo do que iria ser a minha carreira
como ator, a partir dali. Fez-me pensar acerca do
que queria para a minha carreira: se queria só fazer
papéis reconhecidos no supermercado ou se que-
ria fazer papéis em que os meus colegas de pro-
fissão reconhecessem o meu trabalho. O Crime do
Padre Amaro foi um pau de dois bicos: um “boom”
de visibilidade, mas também o querer fazer traba-
lhos consistentes, não só para a visibilidade.
Foi difícil descolar-se dessa imagem?
Continua a ser uma batalha mostrar que sou
52
“Valores mais altos se levantam quando se tem um filho. As prioridades alteram-se”
“Continua a ser uma batalha
mostrar que sou muito mais
do que o Crime do Padre Amaro”,
afirma o ator sobre um dos filmes
mais marcantes da sua carreira
muito mais do que o Crime do Padre Amaro. Não
sei como seria voltar atrás. Óbvio que não me ar-
rependo de ter feito o filme. Deu-me a oportuni-
dade de fazer outros projetos com visibilidade, nos
quais acho que consegui mostrar que consigo
fazer papéis mais versáteis do que só o Amaro.
Mas confesso que a partir daí rejeitei fazer todas
as cenas de nus. Ficarei sempre estereotipado para
algumas pessoas, mas é natural que eu ponha
algumas barreiras em relação a esse primeiro tra-
balho. Foi um filme que vendeu, sobretudo, pelas
cenas empoladas entre mim e a Soraia [Chaves],
senão nunca teria 400 mil espetadores.
O Diogo Morgado, com quem trabalhou
agora, inspira-o a tentar uma carreira lá fora?
A indústria cinematográfica, ou teatral, mesmo
em Espanha ou França, é muito mais organizada
e os atores e profissionais estão mais defendidos
do que cá. Esse, para mim, é o principal reconhe-
cimento, não é o do público nem o financeiro.
Obviamente que temos o reconhecimento e eu
adoro a minha profissão. Mas nós não somos um
grupo como funciona em Espanha ou França,
onde há um corporativismo que defende a nossa
profissão e que nos dá alguma segurança. Cá não
há isso. Esse é o motivo que podia estimular-me
para ter uma profissão mais internacionalizada,
porque lá fora há mais condições de trabalho.
Nunca pensou ser uma estrela de cinema à
escala planetária?
Não é isso que estimula um ator. Se um ator é
estimulado por isso, então algo está mal. Porque
não se consegue fazer um trabalho verdadeiro se
se estiver a pensar em ser uma estrela.
O facto de ter uma família consolidada seria
um impeditivo?
A família nunca está consolidada, está sempre
em mutação.
Não me diga que vai ser pai outra vez?
Eu espero que sim, mas ainda não. Mas não
seria impedimento. Obviamente, valores mais al-
tos se levantam quando se tem um filho. As prio-
ridades alteram-se, mas é possível conjugar tudo.
Se fosse uma grande oportunidade, diria que sim
e depois se veria como as coisas se arranjavam.
Já disse que não queria que a Beatriz fosse
filha única. Mantém essa opinião?
Claro. Acho muito importante. Tenho uma irmã
e a Paula tem várias irmãs. E vai ser com irmãos e
primos, sobretudo, que ela vai crescer e é com eles
que vai confidenciar coisas, experimentar saídas à
noite, trocar impressões da profissão, pedir opini-
ões, aprender a ser solidária…
Ela pede um irmão?
Não. Ela mal fala. [Risos] Entrou agora no infan-
tário, na descoberta do convívio com os seus pa-
res. Isso é o que mais a estimula.
Sente-se mais completo desde que é pai?
Sim, sinto-me mais completo, sem dúvida algu-
ma. Tenho sobrinhos, mas não tem nada a ver. Se
calhar, tornei-me um homem que reflete duas
vezes antes de sentenciar alguma coisa em relação
ao comportamento da minha filha. Com os sobri-
nhos somos mais despreocupados. A minha pro-
fissão é fundamental na minha vida, mas a coisa
mais importante na minha vida é o que eu quero
que a minha filha seja como pessoa. Está acima da
profissão, sem dúvida.
Como descreve a sua relação com a Beatriz?
As meninas costumam ser chegadas ao pai...
Ela tem um carinho muito especial. Eu faço sem-
pre de personagem mais rígida e a Paula é a mais
moderada. Eu sou muito disciplinador. As crianças
são muito astutas e conseguem manipular-nos
muito bem. É difícil não lhe fazer as vontades, mas
tenho plena consciência de que é o melhor para
o crescimento dela.
Mas está presente nas brincadeiras...
Claro! Confesso mesmo que uma das formas
que tenho de educar é através das brincadeiras.
Isto é: posso dizer-lhe “não” a uma coisa, mas ca-
nalizo a atenção dela para outra coisa melhor para
ela. Há coisas em que é chegada a mim, outras em
que é mais chegada à Paula, mas, sendo menina,
à semelhança de outras meninas, tem um carinho
diferente e especial pelo pai.
Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Bruno Peres; Produção: Zita Lopes
AGRADECIMENTOS:
Hotel Miragem e Sacoor Brothers

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  • 1. 48 49 “ É PRECISO TER SENTIDO DE HUMOR EM TUDO NA VIDA” JORGE CORRULA, de 36 anos, protagonista da primeira comédia gay portuguesa, faz um balanço positivo de 2014 e fala da relação com a filha, BEATRIZ Jorge Corrula, de 36 anos, atravessa uma fase positiva a nível profissional: integra o elenco da novela Água de Mar e está no cinema, no filme Virados do Avesso. A nível pessoal vive uma relação estável com Paula Lobo Antunes, com quem tem uma filha, Beatriz, de dois anos N ÃO come as 12 passas para pedir desejos nemseguenenhumritualdepassagemde ano para dar sorte e apesar das previsões astrológicas para os nativos de Peixes – signo de Jorge Corrula – falarem de 2015 como um ano de altosebaixosanívelprofissional,écomumsorriso nos lábios que o ator, de 36 anos, olha para o futuro. Como o próprio diz: “Sou um optissimista”. A palavra, naturalmente, não surge no dicionário, mas reflete bem o espírito de Jorge Corrula: otimista, mas sempre com uma certa dose de pessimismo, o que o obriga a ter os pés bem assentes na terra. Este ano, ambiciona fazer teatro. No cinema, ainda está em exibição o filme Virados doAvessoenaTVpodemos vê-loem Água deMar, da RTP. VIP – Começámos agora 2015. Gosta de fazer balanços e faz resoluções de ano novo? Jorge Corrula – Passei o fim de ano com a mi- nha família, com a Paula [Lobo Antunes] e a minha filha, e a Paula é que tem muito esses hábitos de fazer resoluções, comer as 12 passas... é todo um ritual que ela segue. Não tenho muito esses hábi- tos, mas obviamente faço um balanço do ano. E traça objetivos? De um modo geral, não. Tenho objetivos para a minha vida, profissional e pessoal, mas não é no dia 31 de dezembro que faço os 12 desejos e re- flito sobre o que aconteceu durante o ano. É mais durante dezembro. Água de Mar acabou nesse mês, mas se continuasse até março, como estava previsto, não fazia nenhum balanço porque, para mim, o ano continuava como o ano letivo ou o desportivo... Tenho por hábito dizer que quero fazer teatro pelo menos uma vez por ano. Não o cumpri em 2014, mas acho que vai acontecer este ano. O ano anterior foi um ano de muito trabalho e de descoberta pessoal. Foi um ano francamente bom, tanto a nível profissional como pessoal. Daí que 2014 seja difícil de bater. Por que razão diz que foi de descoberta pes- soal? O que descobriu de novo em si? Tive dois trabalhos muito intensos (a novela Água de Mar e o filme Virados do Avesso) com duas personagens que exigiram muito de mim, uma carga horária muito forte e isso levou-me ao limi- te. Gosto destes desafios que nos levam ao esfor- ço extremo, pois é aí que testamos os nossos li- mites. Gosto de acreditar que a prova foi superada. As previsões de um conhecido astrólogo para os nativos de signo Peixes dizem que será um ano de altos e baixos no trabalho... Mas isso é sempre. Como ator, é sempre de altos e baixos. Por isso é que não me deslumbro quando estou em alta e não me vou completa- mente a baixo quando as coisas não estão a correr bem. Gosto de ver as coisas planas ou de ver, pelo menos, uma linha continuamente a subir. Os altos e baixos formam outras linhas paralelas e habitu- ei-me a viver com elas. Já tive alguns períodos em que o trabalho não abundava. Lida bem com as contrariedades? Sim. Gosto de dizer que sou um “optissimista”. Mesmo nas alturas mais otimistas conservo-me com um pé no pessimismo de maneira a não ficar desiludido quando as coisas não correm bem. O filme Virados do Avesso ainda está em cena e ultrapassou os 103 mil espetadores. Como olha para este sucesso? Já é um dos fil- mes mais vistos do ano...
  • 2. 50 51 Acho que é um sucesso natural. Esperava que fosse assim. O filme mais visto é Os Maias, mas estreou dois meses antes. Se o Virados do Avesso tivesse estreado na mesma altura, acho que po- deria tê-lo ultrapassado. Atrevo-me a dizer que o Virados do Avesso é o mais visto do ano, porque Os Maias estão com dois meses de avanço. Mas também podemos dizer que o Virados do Avesso esteve em muito mais salas e teve mais publicida- de... Falando de justiça, é justo que Os Maias seja o filme mais visto do ano, mas o Virados do Aves- so ainda está a meio do percurso. Há quem diga que o humor é um dos géne- ros mais difíceis de fazer, mas, no seu caso, acha que é o seu ponto forte? A Paula disse na estreia do filme que o Jorge “tem um lado mui- to cómico” e que é uma pessoa com “um sen- tido de humor rebuscado”. Eu acredito que tenho algum sentido de humor, mas às vezes, para quem não me conhece, é um bocadinho corrosivo e as pessoas não o perce- bem. Ou percebem e não acham graça. Mas que- ro acreditar que, de vez em quando, acerto. Não sei se é o meu ponto forte. A nível particular, se calhar, é o meu ponto forte, mas enquanto profis- sional gosto de atravessar todos os géneros. Mas, de facto, o género cómico é o mais difícil. Sente-se orgulhoso por ter feito um filme irreverente para os padrões portugueses? É a primeira comédia romântica gay e é um tema que nem toda a gente encara de forma leve. É uma comédia, mas se há pessoas que não acham graça estão no seu direito. É completamen- te legítimo que haja quem não goste do filme. Eu acho que é preciso ter sentido de humor em tudo na vida. Já ouvi opiniões diferentes: que não acha- ram graça nem à forma de filmar nem ao texto, que as personagens são demasiado estereotipa- das... Eu encaixo esses argumentos, desde que me “A coisa mais importante na minha vida é o que eu quero que a minha filha seja como pessoa”, diz Jorge Corrula, que é pai de uma menina, Beatriz, de dois anos e três meses Jorge Corrula foi fotografado para a VIP no Hotel Miragem, em Cascais “Eu acredito que tenho algum sentido de humor, mas, às vezes, para quem não me conhece, é um bocadinho corrosivo e as pessoas não o percebem”, diz Jorge Corrula, que é um dos protagonistas da comédia Virados do Avesso apresentem razões. Se estou orgulhoso de ter feito o filme? Sim. Acho que o importante é ven- dermos bilhetes com produção nacional. Os por- tugueses, devido aos anglicismos, desabituaram- -se de ouvir música portuguesa e de ver cinema português. Há que mudar esses hábitos e, se ca- lhar, isto vai ajudar a perder preconceitos em re- lação ao cinema e à música nacionais. Sendo este um filme de humor, como é que viu o trocadilho que foi feito e que dizia: “Hot Jesus vive com o Padre Amaro”? [Risos] Como lhe disse, uma das principais ca- racterísticas do ser humano é o sentido de humor. Se não tivermos, não somos humanos, não sabe- mos rir de nós próprios Se dramatizarmos tudo o que de menos bom nos acontece, não consegui- mos evoluir. Não é um trocadilho assim muito engenhoso, mas é elaborado e acho engraçado. Não pensei nisso e o Diogo [Morgado] também está farto de levar com o “Hot Jesus”, tanto lá fora como cá dentro. Nós seríamos as últimas pessoas a lembrarmo-nos disso. O filme O Crime do Padre Amaro foi real- mente marcante na sua carreira. Era um obje- tivo descolar-se desta imagem? Sim. Quando o fiz, em 2005, já tinha feito teatro e poucas coisas em televisão, mas inicialmente o Crime do Padre Amaro deixou-me um pouco cho- cado e com medo do que iria ser a minha carreira como ator, a partir dali. Fez-me pensar acerca do que queria para a minha carreira: se queria só fazer papéis reconhecidos no supermercado ou se que- ria fazer papéis em que os meus colegas de pro- fissão reconhecessem o meu trabalho. O Crime do Padre Amaro foi um pau de dois bicos: um “boom” de visibilidade, mas também o querer fazer traba- lhos consistentes, não só para a visibilidade. Foi difícil descolar-se dessa imagem? Continua a ser uma batalha mostrar que sou
  • 3. 52 “Valores mais altos se levantam quando se tem um filho. As prioridades alteram-se” “Continua a ser uma batalha mostrar que sou muito mais do que o Crime do Padre Amaro”, afirma o ator sobre um dos filmes mais marcantes da sua carreira muito mais do que o Crime do Padre Amaro. Não sei como seria voltar atrás. Óbvio que não me ar- rependo de ter feito o filme. Deu-me a oportuni- dade de fazer outros projetos com visibilidade, nos quais acho que consegui mostrar que consigo fazer papéis mais versáteis do que só o Amaro. Mas confesso que a partir daí rejeitei fazer todas as cenas de nus. Ficarei sempre estereotipado para algumas pessoas, mas é natural que eu ponha algumas barreiras em relação a esse primeiro tra- balho. Foi um filme que vendeu, sobretudo, pelas cenas empoladas entre mim e a Soraia [Chaves], senão nunca teria 400 mil espetadores. O Diogo Morgado, com quem trabalhou agora, inspira-o a tentar uma carreira lá fora? A indústria cinematográfica, ou teatral, mesmo em Espanha ou França, é muito mais organizada e os atores e profissionais estão mais defendidos do que cá. Esse, para mim, é o principal reconhe- cimento, não é o do público nem o financeiro. Obviamente que temos o reconhecimento e eu adoro a minha profissão. Mas nós não somos um grupo como funciona em Espanha ou França, onde há um corporativismo que defende a nossa profissão e que nos dá alguma segurança. Cá não há isso. Esse é o motivo que podia estimular-me para ter uma profissão mais internacionalizada, porque lá fora há mais condições de trabalho. Nunca pensou ser uma estrela de cinema à escala planetária? Não é isso que estimula um ator. Se um ator é estimulado por isso, então algo está mal. Porque não se consegue fazer um trabalho verdadeiro se se estiver a pensar em ser uma estrela. O facto de ter uma família consolidada seria um impeditivo? A família nunca está consolidada, está sempre em mutação. Não me diga que vai ser pai outra vez? Eu espero que sim, mas ainda não. Mas não seria impedimento. Obviamente, valores mais al- tos se levantam quando se tem um filho. As prio- ridades alteram-se, mas é possível conjugar tudo. Se fosse uma grande oportunidade, diria que sim e depois se veria como as coisas se arranjavam. Já disse que não queria que a Beatriz fosse filha única. Mantém essa opinião? Claro. Acho muito importante. Tenho uma irmã e a Paula tem várias irmãs. E vai ser com irmãos e primos, sobretudo, que ela vai crescer e é com eles que vai confidenciar coisas, experimentar saídas à noite, trocar impressões da profissão, pedir opini- ões, aprender a ser solidária… Ela pede um irmão? Não. Ela mal fala. [Risos] Entrou agora no infan- tário, na descoberta do convívio com os seus pa- res. Isso é o que mais a estimula. Sente-se mais completo desde que é pai? Sim, sinto-me mais completo, sem dúvida algu- ma. Tenho sobrinhos, mas não tem nada a ver. Se calhar, tornei-me um homem que reflete duas vezes antes de sentenciar alguma coisa em relação ao comportamento da minha filha. Com os sobri- nhos somos mais despreocupados. A minha pro- fissão é fundamental na minha vida, mas a coisa mais importante na minha vida é o que eu quero que a minha filha seja como pessoa. Está acima da profissão, sem dúvida. Como descreve a sua relação com a Beatriz? As meninas costumam ser chegadas ao pai... Ela tem um carinho muito especial. Eu faço sem- pre de personagem mais rígida e a Paula é a mais moderada. Eu sou muito disciplinador. As crianças são muito astutas e conseguem manipular-nos muito bem. É difícil não lhe fazer as vontades, mas tenho plena consciência de que é o melhor para o crescimento dela. Mas está presente nas brincadeiras... Claro! Confesso mesmo que uma das formas que tenho de educar é através das brincadeiras. Isto é: posso dizer-lhe “não” a uma coisa, mas ca- nalizo a atenção dela para outra coisa melhor para ela. Há coisas em que é chegada a mim, outras em que é mais chegada à Paula, mas, sendo menina, à semelhança de outras meninas, tem um carinho diferente e especial pelo pai. Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Bruno Peres; Produção: Zita Lopes AGRADECIMENTOS: Hotel Miragem e Sacoor Brothers