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Artigo: Como faço ciência
COMO FAÇO CIÊNCIA
Os organizadores da XV Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Água,
realizada em Santa Maria de 25 a 30 de julho da XV convidaram um médico para proferir a
conferência de abertura. Alguns sócios da SBCS voltaram encantados com a palestra e
sugeriram a sua publicação no Boletim. Contagiando a todos com a paixão pela ciência, o
médico fala de pesquisa, ousadia e compromisso.
Grifos em amarelo: destaques do texto do autor
Grifos em verde: observações minhas
Iván Izquierdo
Quando convidado, pelo Departamento de Física da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul e pela RBMCSA para falar como faço ciência, a primeira coisa que pensei foi: “Por
que eu?”. Responderam: “Porque você é o pesquisador brasileiro mais citado no exterior”.
Na verdade, não sei se sou o mais citado; meu querido amigo Sérgio Ferreira, de Ribeirão
Preto, é tão ou mais citado que eu; dependendo da época. ​Mas é um fato que sou muito
citado: 8.178 vezes, de acordo com o ISI World of Knowledge​, até meados de maio de
2004. É um número muito grande, em parte devido aos 47 anos dedicados à ciência, e
também porque trabalho num tema importante: a memória​.
[observação: vejam a primeira ressalva que ele faz – ​a importância do tema​]
Ao longo de minha carreira trabalhei basicamente em laboratórios do Brasil e da Argentina,
com colaboradores de vários países: 165 do Brasil, mais de 100 da Argentina, e outros de
outros 13 países. ​Sempre tentei publicar em revistas de alta difusão internacional, o que não
é fácil, porque o simples fato de o trabalho ser enviado de um endereço latino-americano é
razão suficiente para sua rejeição por algumas revistas dos Estados Unidos ou Inglaterra.
[observação: esse é um aspecto que tem sido menos problemático ultimamente, na minha
opinião] Lá, muitos acham que não somos confiáveis e duvidam, sem dizê-lo
expressamente, da veracidade de nossos resultados: nos acham basicamente desonestos.
Mas, nesta vida, insistindo o suficiente, tudo se consegue. E, claro, depois de anos e anos de
insistência, enviando trabalhos bons, acabamos ganhando um certo nome cada vez mais
difícil de ser rejeitado. Contudo, o preconceito existe, e como sabemos, não só em relação
às publicações, mas até mesmo das autoridades de imigração nos aeroportos.
Latino-americanos têm cara de árabe, quando não é negro ou mulato. Até eu, que sou
europeu pelos quatro lados.
Formei 36 mestres e 41 doutores. ​O sucesso de meu laboratório é, fundamentalmente, fruto
do trabalho destes alunos, assim como das centenas de bolsistas de iniciação e monitores
que nele trabalharam. ​[observação: o reconhecimento do trabalho dos alunos e o respeito
pela sua carreira é essencial para o sucesso de um grupo de pesquisa] Graças a eles, meu
laboratório, o Centro de Memória, é conhecido e reconhecido em todo o mundo. Muitos de
meus ex-alunos são professores em universidades federais, outros em universidades
privadas, dois deles foram eleitos Membros Titulares da Academia Brasileira de Ciências
(Esper Cavalheiro e Diogo Souza), e, tanto eles, como eu ​recebemos numerosos prêmios e
distinções nacionais e internacionais. Entre vários outros, recebi o Prêmio em Ciências
Médicas Básicas da Academia de Ciências do Terceiro Mundo, em 1995 e a Grã-Cruz da
Ordem do Mérito Científico, a mais alta condecoração outorgada a civis pelo Governo
Federal do Brasil, em 1996.
Sou membro titular de várias academias, incluindo a Brasileira de Ciências, na qual fui
eleito, recentemente, Diretor. ​Considerando esses bons resultados, talvez seja lícito me
perguntar “como faço ciência​”. ​Talvez a principal resposta seja: “procurando sempre
objetivos importantes, de ​interesse universal​”. A formação, evocação e extinção das
memórias e seus mecanismos claramente são um objetivo importante. ​Nada de trabalhar em
temas de interesse restrito a uma comarca, ou a uma espécie animal que não existe no resto
do planeta, ou que seja publicável só nos anais de algum congresso regional​. Publicamos, é
claro, também nas atas de congressos regionais; nós devemos isso à nossa comunidade.
Mas, basicamente, apresentamos trabalhos nos principais congressos internacionais e
publicamos nas melhores revistas possíveis do primeiro mundo ​já que os temas em que
trabalhamos são de interesse de todos, não só de nosso bairro, cidade ou estado. ​A pesquisa
custa dinheiro aos cofres públicos e creio não ser lícito gastá-lo em coisas triviais.
Acredito também que não existe a “grande ciência” e outra de nível inferior. Ciência há
uma só, já que o mundo é um só. Estes meus pontos de vista provêm do início de minha
formação científica, quando era ainda aluno de graduação de Medicina na Universidade de
Buenos Aires, em 1957. ​Coube-me viver num momento histórico, o do retorno de grandes
figuras das ciências que tinham sido obrigados a deixar a universidade argentina por razões
políticas, na década anterior. Três deles obtiveram o Prêmio Nobel: Bernardo Houssay,
Luis Leloir e César Milstein. Vários outros que tinham méritos parecidos não o obtiveram,
mas sem dúvida o mereceram: Eduardo Braun Menéndez, Eduardo De Robertis, David
Sabatini. ​A mera presença deles nos claustros universitários servia de estímulo e motivou
toda uma geração para fazer ciência. Todos eles cultivavam o contato e o diálogo com os
jovens, porque sentiam que era essa sua missão. Tiveram sucesso, não só na Argentina, mas
também em outros países latino-americanos: boa parte da fisiologia e da bioquímica do
Brasil se devem à influência direta daquelas grandes figuras.
Eu tive contato direto com todos eles, e, ao longo da vida, fiquei amigo de Eduardo De
Robertis e David Sabatini. ​Desde meus primeiros passos na área procurei ouvir o que
Houssay, Braun Menéndez e Leloir tinham a dizer, com enorme atenção: eram meus “role
models”​. Meus e de toda uma geração. Com quem menos contato tive foi o Milstein, a
quem só conheci como docente. Deu-me a aula de urina da disciplina de Bioquímica.... O
que indica que vivíamos rodeados de grandes mestres. Da Universidade de Buenos Aires
saíram cinco prêmios Nobel e outros professores do mesmo nível que não o conseguiram,
talvez pelo fato de serem do Terceiro Mundo.
[Observação: e no Brasil? Quantos prêmios Nobel já foram concedidos a pesquisadores
brasileiros? Porque você acha que é assim?]
Houssay, Leloir, Braun e De Robertis aconselhavam aos jovens que começavam a fazer
ciência, como eu, que procurássemos, primeiro, a maior formação geral possível dentro da
área da escolha de cada um. Que não nos preocupássemos tanto em publicar, no início, mas
em aprender nos diversos laboratórios que freqüentávamos sobre como pensar e como fazer
ciência. Que na hora de escolher um laboratório, aí sim, prestássemos atenção à lista de
publicações do orientador. Naquela época, na Argentina, como ainda hoje ocorre em alguns
lugares do Brasil, havia muitos auto-titulados pesquisadores sem registro de “atividade
científica”.
[Isso ainda é comum. Antes de ingressar em um grupo de pesquisa em geral os alunos não
tem a noção de como verificar o registro da atividade científica daquele grupo, na forma de
publicações. Quanto se publica do trabalho daquele grupo e, mais importante: qual o
impacto das publicações daquele grupo?]
Procurando ampliar minha base de conhecimentos, como me aconselharam Houssay e seus
grandes colegas, assim como lhe dar um sustento clínico, entrei como colaborador, no
Serviço de Eletroencefalografia do Hospital Militar de Buenos Aires (em vez de fazer o
serviço militar), onde trabalhei várias horas por dia com outro grande mestre, desta vez
clínico, Abraham Mosovich, de quem fiquei muito amigo e de quem ouvi também sábios
conselhos.
Em 1962, concluída minha Tese Doutoral, obtive uma bolsa da Universidade de Buenos
Aires para trabalhar com Pepe Segundo, um uruguaio genial, e John D. Green, um inglês
também genial, com os quais aprendi eletrofisiologia experimental, e muitas outras coisas.
Isso foi na Universidade de Califórnia, em Los Angeles. Conheci, dialoguei e aprendi com
muitos outros naquela ocasião. O Instituto em que trabalhei reunia, ou recebia, as principais
figuras das Neurociências de então. Conheci e aprendi com Linus Pauling, Georg Von
Bekesy, Horace Magoun, Charles Sawyer, Jerzy Konorski, entre tantos outros.
Os conselhos de todos eles eram parecidos com os de Houssay, Braun, Leloir, De Robertis.
No meu retorno, conversei muito com estes últimos, principalmente De Robertis, que já era
um bom amigo. Ele disse-me, quando eu estava com 26 anos, que não deveria mais protelar
meu lançamento como pesquisador independente, chefe de meu próprio grupo. Escolhi um
tema grande, sem dúvida: a memória.
A literatura de Jorge Luiz Borges muito me motivou na escolha desse tema, tão misterioso,
porque envolve duas transformações: a da realidade exterior em códigos neuronais, e a da
transformação de algum resultado desses códigos numa mudança ou reforma da realidade.
Porque evocar memórias é nada menos do que isso: transformar um pouco o mundo.
Já sabia, naquela época, que seria impossível encarar um tema dessa magnitude de uma vez
e para sempre. Havia que fazer um trabalho minucioso e sustentável, de experimento em
experimento, alguns maiores do que outros. Era um trabalho para toda a vida; como disse
Don Santiago Ramón y Cajal, o gigante espanhol que é o pai de todos os neurocientistas
latinos e do mundo em geral: “No existen cuestiones agotadas; existen hombres agotados
en el estudio de las grandes cuestiones”​. De fato, pensando em Cajal, De Robertis me disse:
“Basta lembrares dele e verás que nós, os latinos, não temos nada o que invejar dos outros.
Cajal, espanhol de pura cepa, e submetido a penúrias econômicas durante toda sua vida, foi
o maior de todos. ​O negócio é escolher um tema grande, trabalhar duro, ter paciência, e não
afrouxar nunca”.
Foi o que fiz desde então. Seguir o conselho de meus mestres. Escolher um grande tema,
dar duro, não baixar os braços nunca, e não me deixar intimidar, nem pela magnitude do
tema, nem pela falta de dinheiro crônica para fazer ciência. E, fundamentalmente, ​manter
os ouvidos bem abertos para aceitar sugestões​. Muitas delas servem! ​[observação: a
humildade é muito importante para aumentar as chances de sucesso]. Ao longo da vida
recebi muitas, úteis e importantes, ​a maioria delas provenientes dos alunos de
graduação e pós-graduação​, até 1973 na Argentina, e, desde então, no Brasil, a maior
parte do tempo em Porto Alegre.
Dinheiro para fazer pesquisa, só tive realmente durante curtos períodos. De 1957 a 1962, na
época de ouro da ciência argentina. De 1962 a 1964, na riquíssima UCLA, onde, entre
outras, coisas aprendi que seringas descartáveis eram para se jogar fora, e não para lavá-las
e usá-las de novo 50 vezes. De 1975 a 1978, em São Paulo, onde existe a FAPESP, uma
entidade que funciona e que faz com São Paulo faça a diferença entre os demais Estados do
Brasil. ​No Rio Grande do Sul tínhamos a FAPERGS, criada nos moldes da FAPESP, mas
que encontra-se sem verbas já há mais de dois anos, por descaso de um governador
primeiro e de outro governador depois. ​observação: vária fundações estaduais tem hoje
situações razoáveis de financiamento]. Ambos, gente carente da inteligência suficiente para
entender que, este Estado, como o resto do mundo precisa de ciência para desenvolver
tecnologia e para conquistar uma economia sólida e em desenvolvimento.
Voltei a contar com fundos adequados, da FAPERGS principalmente, entre 1980 e 1982, e
da FINEP, hoje dedicada a outras coisas, na década de 80. ​Depois houve momentos de uma
pobreza insustentável, em que trabalhávamos graças ao apoio de colegas do exterior, que
nos compravam drogas e reagentes, até 1997, quando foi implantado o efêmero PRONEX.
Efêmero, porque foi mais uma dessas grandes coisas inventadas por algum governo
brasileiro em particular, que dura o tempo suficiente para que os jornais as mencionem, e
logo depois ficam esquecidas, muitas vezes para sempre.
Mas eu já sabia que meu tema era importante e que nosso trabalho merecia o
reconhecimento dos colegas do exterior. Tinha alunos brilhantes que faziam com suas
idéias o que muitas vezes não podíamos fazer com as mãos, e, fundamentalmente, tinha
aprendido muito bem que “não é para afrouxar nunca”, como me ensinou Eduardo De
Robertis. Ou Houssay, Braun Menéndez e Leloir. ​Este último, sem fundos para comprar
uma centrífuga refrigerada de altas rotações, inventou um sistema improvisado, com uma
coberta de pneu cheia de gelo com sala a -15​o​
C, que cumpria, se bem controlada, o mesmo
serviço. Assim, obteve, sozinho, o prêmio Nobel de Química, em 1970​.
Em 1978, voltei a Porto Alegre e criei o que viria a ser “meu” quarto centro de pesquisa. O
primeiro, foi um laboratório de neurofarmacologia, na Universidade de Buenos Aires, em
1964 , que ainda existe e é um dos centros de excelência de lá, hoje dirigido por Carlos
Baratti. O segundo, foi um Departamento de Farmacologia na Universidade Nacional de
Córdoba, em 1966, por anos o mais produtivo e ainda hoje o mais famoso da Argentina.
Ficou a cargo dele Otto Orsingher, um dos meus amigos mais prezados. O terceiro foi um
centro de pesquisa na Escola Paulista de Medicina, em 1975, que depois seria transferido da
Fisiologia para a Neurologia, na mesma escola, e que passou a ser dirigido pelo Esper
Cavalheiro, meu discípulo de Mestrado e Doutorado e um dos mais renomados cientistas
do continente. ​Aliás, Esper é o melhor exemplo daquilo que me ensinaram Houssay e De
Robertis: quando chega a hora de voarmos sozinhos, devemos fazê-lo. Ao trabalhar comigo
no tema sobre Memória, Esper posteriormente passou ao desenho de um método para gerar
epilepsia persistente em ratos, que ficou famoso e hoje é usado como modelo pela indústria
farmacêutica do mundo inteiro.
Meu laboratório no Departamento de Bioquímica de Porto Alegre ficou conhecido no
mundo inteiro a partir de 1979, quando descrevemos o papel dos opióides endógenos,
principalmente a beta-endorfina, na modulação da formação de memória. Nesse tema
trabalharam vários grandes alunos, que logo começaram a voar alto por conta própria:
Diogo Souza, um dos grandes neuroquímicos do Brasil e um dos meus melhores amigos.
Também Renato Dias, Carlos Alexandre Netto, hoje pró-reitor de pesquisa da UFRGS,
Marcos Perry, Maria Angélica Carrasco, hoje uma das principais neuroquímicas do Chile, e
muitos outros.
Eduardo de Robertis faleceu em 1988. Eu sofri um princípio de desmaio no aeroporto de
Congonhas quando, ao ler o jornal “Clarín” de Buenos Aires, soube da notícia. No avião
entendi que chegava novamente a hora de voar sozinho mas em outra dimensão, a
dimensão latino-americana. Em dezembro desse ano, num congresso num lugar bucólico da
costa uruguaia conheci Jorge Medina, o último discípulo direto do mestre De Robertis.
Conversamos, e decidimos juntar os trapos. Passamos a trabalhar em colaboração estreita, o
grupo dele na Argentina e o meu em Porto Alegre, unindo nossos esforços no tema da
Memória. ​O volume de nossas publicações duplicou-se imediatamente: muitas cabeças,
unidas num objetivo comum, pensam mais do que poucas. Levamos publicados juntos mais
de 200 trabalhos, co-orientamos dezenas de teses de doutorado. Aqui e lá, formamos
parcerias pontuais com outros grupos do Brasil, Argentina, Uruguai, Estados Unidos e
Inglaterra, e fizemos descobertas importantes. Curiosamente, em épocas em que o grupo
deles na Argentina estava sem verbas, nós aqui conseguíamos sustentá-los; e vice-versa. Na
época negra do financiamento científico do Brasil, entre 1992 e 1997, nosso laboratório
funcionou graças às verbas que Jorge obtinha em Buenos Aires.
Aprendi com essa associação algo que já era praxe nos Estados Unidos e na Europa: o
trabalho colaborativo entre grupos de diversos países. Por meio de uma aliança estratégica
permanente, como a que Jorge e eu temos há 16 anos; mas parte também por meio de
parcerias ou alianças “ad hoc”, para desenvolver temas pontuais dentro de um contexto
mais geral.
Aprendi também que, apesar da rivalidade que nós sentimos com os Estados Unidos e
outros países do chamado primeiro mundo, lá também existe gente generosa e aberta. Um
dos maiores saltos qualitativos de nossa pesquisa com Jorge foi graças a um pesquisador
estadunidense chamado McGinty, a quem nunca vimos pessoalmente. Ele nos preparou e
enviou num envelope, pelo correio, um anticorpo na época impossível de obter em outra
parte. Um inglês, Graham Collingridge, a quem só conheci anos mais tarde, me enviou, a
pedido, uma droga que na época só ele tinha no mundo. Outro grande colaborador nosso foi
Jim McGaugh, com quem mantivemos um nutrido intercâmbio teórico, além também do
envio de drogas difíceis de se obter no Brasil. Juntos publicamos vários trabalhos que não
teriam sido fáceis de fazer sozinhos. Nos últimos anos, desenvolvemos um elo muito
grande com Ricardo Brentani, Vilma Martins e seu poderoso grupo de biologia molecular
no Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer em São Paulo, onde trabalham, com verba
própria e dinheiro da FAPESP. Com eles estamos desenvolvendo uma linha pioneira sobre
papéis fisiológicos da famosa proteína prion, de triste fama entre os criadores de gado
europeus. Enfim, não vou detalhar aqui quais foram minhas principais descobertas, porque
a índole destas linhas é geral, e não particular.
Como faço ciência? Da maneira que tem dado certo até agora, e que continua dando certo
nas mãos e nos laboratórios de meus muitos discípulos bem sucedidos. Ou seja,
simplesmente seguindo os conselhos daqueles “grandes” que tive a ventura de conhecer
quando tinha entre 19 e 26 anos: Houssay, Leloir, Braun Menéndez e De Robertis. Além de
tantos outros, pelo mundo afora.
Procurando aprender muito, mantendo os olhos e ouvidos bem abertos! A partir de certo
momento, cortando o cordão umbilical e voando sozinho. Formando grupos, baseado no
mútuo respeito e na abertura intelectual. Discutir cada experimento, antes de realizá-lo,
entre todos, com franqueza e sem acanhamentos. Extirpar, de cara, o egoísmo! Num grupo,
todos devem andar juntos; quem não o fizer, logo acabará caindo fora; se não por conta
própria, por ação direta do chefe. Se abrir a outros grupos, do mesmo departamento, de
outros, de outras cidades, de outras partes do mundo. Quanto mais, melhor! E trabalhar
duro, sempre, sem nunca baixar os braços, “pero sin perder la ternura jamás”.
Só os muitos resultados bons dão lugar aos grandes resultados. Lembrar que sempre
se aprende, até com os erros; portanto, não se deve ter medo de errar. Saber que sim,
sem dúvida, há um forte preconceito contra nós, os pesquisadores do terceiro mundo; tanto
das elites do terceiro mundo quanto dos esnobes do primeiro. ​Mas, no final, o mocinho
sempre ganha; e nós somos os mocinhos.
É bom partir desse princípio. ​Nós, que fazemos ciência para ajudar as pessoas a viver
melhor​, somos por definição, os mocinhos. Senão, de nada valeria continuar
trabalhando nisto em que trabalhamos: a ciência. Há muitas outras atividades em que
se ganha mais dinheiro, nas quais não há mocinhos!
Iván Izquierdo é professor e pesquisador do Centro de Memória do Departamento de
Bioquímica da UFRGS.
E-mail izquier@terra.com.br

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Artigo ivan isquierdo como faço ciência.doc

  • 1. Artigo: Como faço ciência COMO FAÇO CIÊNCIA Os organizadores da XV Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Água, realizada em Santa Maria de 25 a 30 de julho da XV convidaram um médico para proferir a conferência de abertura. Alguns sócios da SBCS voltaram encantados com a palestra e sugeriram a sua publicação no Boletim. Contagiando a todos com a paixão pela ciência, o médico fala de pesquisa, ousadia e compromisso. Grifos em amarelo: destaques do texto do autor Grifos em verde: observações minhas Iván Izquierdo Quando convidado, pelo Departamento de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pela RBMCSA para falar como faço ciência, a primeira coisa que pensei foi: “Por que eu?”. Responderam: “Porque você é o pesquisador brasileiro mais citado no exterior”. Na verdade, não sei se sou o mais citado; meu querido amigo Sérgio Ferreira, de Ribeirão Preto, é tão ou mais citado que eu; dependendo da época. ​Mas é um fato que sou muito citado: 8.178 vezes, de acordo com o ISI World of Knowledge​, até meados de maio de 2004. É um número muito grande, em parte devido aos 47 anos dedicados à ciência, e também porque trabalho num tema importante: a memória​. [observação: vejam a primeira ressalva que ele faz – ​a importância do tema​] Ao longo de minha carreira trabalhei basicamente em laboratórios do Brasil e da Argentina, com colaboradores de vários países: 165 do Brasil, mais de 100 da Argentina, e outros de outros 13 países. ​Sempre tentei publicar em revistas de alta difusão internacional, o que não é fácil, porque o simples fato de o trabalho ser enviado de um endereço latino-americano é razão suficiente para sua rejeição por algumas revistas dos Estados Unidos ou Inglaterra. [observação: esse é um aspecto que tem sido menos problemático ultimamente, na minha opinião] Lá, muitos acham que não somos confiáveis e duvidam, sem dizê-lo expressamente, da veracidade de nossos resultados: nos acham basicamente desonestos. Mas, nesta vida, insistindo o suficiente, tudo se consegue. E, claro, depois de anos e anos de insistência, enviando trabalhos bons, acabamos ganhando um certo nome cada vez mais difícil de ser rejeitado. Contudo, o preconceito existe, e como sabemos, não só em relação às publicações, mas até mesmo das autoridades de imigração nos aeroportos. Latino-americanos têm cara de árabe, quando não é negro ou mulato. Até eu, que sou europeu pelos quatro lados. Formei 36 mestres e 41 doutores. ​O sucesso de meu laboratório é, fundamentalmente, fruto
  • 2. do trabalho destes alunos, assim como das centenas de bolsistas de iniciação e monitores que nele trabalharam. ​[observação: o reconhecimento do trabalho dos alunos e o respeito pela sua carreira é essencial para o sucesso de um grupo de pesquisa] Graças a eles, meu laboratório, o Centro de Memória, é conhecido e reconhecido em todo o mundo. Muitos de meus ex-alunos são professores em universidades federais, outros em universidades privadas, dois deles foram eleitos Membros Titulares da Academia Brasileira de Ciências (Esper Cavalheiro e Diogo Souza), e, tanto eles, como eu ​recebemos numerosos prêmios e distinções nacionais e internacionais. Entre vários outros, recebi o Prêmio em Ciências Médicas Básicas da Academia de Ciências do Terceiro Mundo, em 1995 e a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Científico, a mais alta condecoração outorgada a civis pelo Governo Federal do Brasil, em 1996. Sou membro titular de várias academias, incluindo a Brasileira de Ciências, na qual fui eleito, recentemente, Diretor. ​Considerando esses bons resultados, talvez seja lícito me perguntar “como faço ciência​”. ​Talvez a principal resposta seja: “procurando sempre objetivos importantes, de ​interesse universal​”. A formação, evocação e extinção das memórias e seus mecanismos claramente são um objetivo importante. ​Nada de trabalhar em temas de interesse restrito a uma comarca, ou a uma espécie animal que não existe no resto do planeta, ou que seja publicável só nos anais de algum congresso regional​. Publicamos, é claro, também nas atas de congressos regionais; nós devemos isso à nossa comunidade. Mas, basicamente, apresentamos trabalhos nos principais congressos internacionais e publicamos nas melhores revistas possíveis do primeiro mundo ​já que os temas em que trabalhamos são de interesse de todos, não só de nosso bairro, cidade ou estado. ​A pesquisa custa dinheiro aos cofres públicos e creio não ser lícito gastá-lo em coisas triviais. Acredito também que não existe a “grande ciência” e outra de nível inferior. Ciência há uma só, já que o mundo é um só. Estes meus pontos de vista provêm do início de minha formação científica, quando era ainda aluno de graduação de Medicina na Universidade de Buenos Aires, em 1957. ​Coube-me viver num momento histórico, o do retorno de grandes figuras das ciências que tinham sido obrigados a deixar a universidade argentina por razões políticas, na década anterior. Três deles obtiveram o Prêmio Nobel: Bernardo Houssay, Luis Leloir e César Milstein. Vários outros que tinham méritos parecidos não o obtiveram, mas sem dúvida o mereceram: Eduardo Braun Menéndez, Eduardo De Robertis, David
  • 3. Sabatini. ​A mera presença deles nos claustros universitários servia de estímulo e motivou toda uma geração para fazer ciência. Todos eles cultivavam o contato e o diálogo com os jovens, porque sentiam que era essa sua missão. Tiveram sucesso, não só na Argentina, mas também em outros países latino-americanos: boa parte da fisiologia e da bioquímica do Brasil se devem à influência direta daquelas grandes figuras. Eu tive contato direto com todos eles, e, ao longo da vida, fiquei amigo de Eduardo De Robertis e David Sabatini. ​Desde meus primeiros passos na área procurei ouvir o que Houssay, Braun Menéndez e Leloir tinham a dizer, com enorme atenção: eram meus “role models”​. Meus e de toda uma geração. Com quem menos contato tive foi o Milstein, a quem só conheci como docente. Deu-me a aula de urina da disciplina de Bioquímica.... O que indica que vivíamos rodeados de grandes mestres. Da Universidade de Buenos Aires saíram cinco prêmios Nobel e outros professores do mesmo nível que não o conseguiram, talvez pelo fato de serem do Terceiro Mundo. [Observação: e no Brasil? Quantos prêmios Nobel já foram concedidos a pesquisadores brasileiros? Porque você acha que é assim?] Houssay, Leloir, Braun e De Robertis aconselhavam aos jovens que começavam a fazer ciência, como eu, que procurássemos, primeiro, a maior formação geral possível dentro da área da escolha de cada um. Que não nos preocupássemos tanto em publicar, no início, mas em aprender nos diversos laboratórios que freqüentávamos sobre como pensar e como fazer ciência. Que na hora de escolher um laboratório, aí sim, prestássemos atenção à lista de publicações do orientador. Naquela época, na Argentina, como ainda hoje ocorre em alguns lugares do Brasil, havia muitos auto-titulados pesquisadores sem registro de “atividade científica”. [Isso ainda é comum. Antes de ingressar em um grupo de pesquisa em geral os alunos não tem a noção de como verificar o registro da atividade científica daquele grupo, na forma de publicações. Quanto se publica do trabalho daquele grupo e, mais importante: qual o impacto das publicações daquele grupo?] Procurando ampliar minha base de conhecimentos, como me aconselharam Houssay e seus grandes colegas, assim como lhe dar um sustento clínico, entrei como colaborador, no Serviço de Eletroencefalografia do Hospital Militar de Buenos Aires (em vez de fazer o serviço militar), onde trabalhei várias horas por dia com outro grande mestre, desta vez
  • 4. clínico, Abraham Mosovich, de quem fiquei muito amigo e de quem ouvi também sábios conselhos. Em 1962, concluída minha Tese Doutoral, obtive uma bolsa da Universidade de Buenos Aires para trabalhar com Pepe Segundo, um uruguaio genial, e John D. Green, um inglês também genial, com os quais aprendi eletrofisiologia experimental, e muitas outras coisas. Isso foi na Universidade de Califórnia, em Los Angeles. Conheci, dialoguei e aprendi com muitos outros naquela ocasião. O Instituto em que trabalhei reunia, ou recebia, as principais figuras das Neurociências de então. Conheci e aprendi com Linus Pauling, Georg Von Bekesy, Horace Magoun, Charles Sawyer, Jerzy Konorski, entre tantos outros. Os conselhos de todos eles eram parecidos com os de Houssay, Braun, Leloir, De Robertis. No meu retorno, conversei muito com estes últimos, principalmente De Robertis, que já era um bom amigo. Ele disse-me, quando eu estava com 26 anos, que não deveria mais protelar meu lançamento como pesquisador independente, chefe de meu próprio grupo. Escolhi um tema grande, sem dúvida: a memória. A literatura de Jorge Luiz Borges muito me motivou na escolha desse tema, tão misterioso, porque envolve duas transformações: a da realidade exterior em códigos neuronais, e a da transformação de algum resultado desses códigos numa mudança ou reforma da realidade. Porque evocar memórias é nada menos do que isso: transformar um pouco o mundo. Já sabia, naquela época, que seria impossível encarar um tema dessa magnitude de uma vez e para sempre. Havia que fazer um trabalho minucioso e sustentável, de experimento em experimento, alguns maiores do que outros. Era um trabalho para toda a vida; como disse Don Santiago Ramón y Cajal, o gigante espanhol que é o pai de todos os neurocientistas latinos e do mundo em geral: “No existen cuestiones agotadas; existen hombres agotados en el estudio de las grandes cuestiones”​. De fato, pensando em Cajal, De Robertis me disse: “Basta lembrares dele e verás que nós, os latinos, não temos nada o que invejar dos outros. Cajal, espanhol de pura cepa, e submetido a penúrias econômicas durante toda sua vida, foi o maior de todos. ​O negócio é escolher um tema grande, trabalhar duro, ter paciência, e não afrouxar nunca”.
  • 5. Foi o que fiz desde então. Seguir o conselho de meus mestres. Escolher um grande tema, dar duro, não baixar os braços nunca, e não me deixar intimidar, nem pela magnitude do tema, nem pela falta de dinheiro crônica para fazer ciência. E, fundamentalmente, ​manter os ouvidos bem abertos para aceitar sugestões​. Muitas delas servem! ​[observação: a humildade é muito importante para aumentar as chances de sucesso]. Ao longo da vida recebi muitas, úteis e importantes, ​a maioria delas provenientes dos alunos de graduação e pós-graduação​, até 1973 na Argentina, e, desde então, no Brasil, a maior parte do tempo em Porto Alegre.
  • 6. Dinheiro para fazer pesquisa, só tive realmente durante curtos períodos. De 1957 a 1962, na época de ouro da ciência argentina. De 1962 a 1964, na riquíssima UCLA, onde, entre outras, coisas aprendi que seringas descartáveis eram para se jogar fora, e não para lavá-las e usá-las de novo 50 vezes. De 1975 a 1978, em São Paulo, onde existe a FAPESP, uma entidade que funciona e que faz com São Paulo faça a diferença entre os demais Estados do Brasil. ​No Rio Grande do Sul tínhamos a FAPERGS, criada nos moldes da FAPESP, mas que encontra-se sem verbas já há mais de dois anos, por descaso de um governador primeiro e de outro governador depois. ​observação: vária fundações estaduais tem hoje situações razoáveis de financiamento]. Ambos, gente carente da inteligência suficiente para entender que, este Estado, como o resto do mundo precisa de ciência para desenvolver tecnologia e para conquistar uma economia sólida e em desenvolvimento. Voltei a contar com fundos adequados, da FAPERGS principalmente, entre 1980 e 1982, e da FINEP, hoje dedicada a outras coisas, na década de 80. ​Depois houve momentos de uma pobreza insustentável, em que trabalhávamos graças ao apoio de colegas do exterior, que nos compravam drogas e reagentes, até 1997, quando foi implantado o efêmero PRONEX. Efêmero, porque foi mais uma dessas grandes coisas inventadas por algum governo brasileiro em particular, que dura o tempo suficiente para que os jornais as mencionem, e logo depois ficam esquecidas, muitas vezes para sempre. Mas eu já sabia que meu tema era importante e que nosso trabalho merecia o reconhecimento dos colegas do exterior. Tinha alunos brilhantes que faziam com suas idéias o que muitas vezes não podíamos fazer com as mãos, e, fundamentalmente, tinha aprendido muito bem que “não é para afrouxar nunca”, como me ensinou Eduardo De Robertis. Ou Houssay, Braun Menéndez e Leloir. ​Este último, sem fundos para comprar uma centrífuga refrigerada de altas rotações, inventou um sistema improvisado, com uma coberta de pneu cheia de gelo com sala a -15​o​ C, que cumpria, se bem controlada, o mesmo serviço. Assim, obteve, sozinho, o prêmio Nobel de Química, em 1970​. Em 1978, voltei a Porto Alegre e criei o que viria a ser “meu” quarto centro de pesquisa. O primeiro, foi um laboratório de neurofarmacologia, na Universidade de Buenos Aires, em 1964 , que ainda existe e é um dos centros de excelência de lá, hoje dirigido por Carlos Baratti. O segundo, foi um Departamento de Farmacologia na Universidade Nacional de Córdoba, em 1966, por anos o mais produtivo e ainda hoje o mais famoso da Argentina. Ficou a cargo dele Otto Orsingher, um dos meus amigos mais prezados. O terceiro foi um centro de pesquisa na Escola Paulista de Medicina, em 1975, que depois seria transferido da Fisiologia para a Neurologia, na mesma escola, e que passou a ser dirigido pelo Esper Cavalheiro, meu discípulo de Mestrado e Doutorado e um dos mais renomados cientistas do continente. ​Aliás, Esper é o melhor exemplo daquilo que me ensinaram Houssay e De Robertis: quando chega a hora de voarmos sozinhos, devemos fazê-lo. Ao trabalhar comigo no tema sobre Memória, Esper posteriormente passou ao desenho de um método para gerar epilepsia persistente em ratos, que ficou famoso e hoje é usado como modelo pela indústria farmacêutica do mundo inteiro. Meu laboratório no Departamento de Bioquímica de Porto Alegre ficou conhecido no mundo inteiro a partir de 1979, quando descrevemos o papel dos opióides endógenos, principalmente a beta-endorfina, na modulação da formação de memória. Nesse tema trabalharam vários grandes alunos, que logo começaram a voar alto por conta própria:
  • 7. Diogo Souza, um dos grandes neuroquímicos do Brasil e um dos meus melhores amigos. Também Renato Dias, Carlos Alexandre Netto, hoje pró-reitor de pesquisa da UFRGS, Marcos Perry, Maria Angélica Carrasco, hoje uma das principais neuroquímicas do Chile, e muitos outros. Eduardo de Robertis faleceu em 1988. Eu sofri um princípio de desmaio no aeroporto de Congonhas quando, ao ler o jornal “Clarín” de Buenos Aires, soube da notícia. No avião entendi que chegava novamente a hora de voar sozinho mas em outra dimensão, a dimensão latino-americana. Em dezembro desse ano, num congresso num lugar bucólico da costa uruguaia conheci Jorge Medina, o último discípulo direto do mestre De Robertis. Conversamos, e decidimos juntar os trapos. Passamos a trabalhar em colaboração estreita, o grupo dele na Argentina e o meu em Porto Alegre, unindo nossos esforços no tema da Memória. ​O volume de nossas publicações duplicou-se imediatamente: muitas cabeças, unidas num objetivo comum, pensam mais do que poucas. Levamos publicados juntos mais de 200 trabalhos, co-orientamos dezenas de teses de doutorado. Aqui e lá, formamos parcerias pontuais com outros grupos do Brasil, Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Inglaterra, e fizemos descobertas importantes. Curiosamente, em épocas em que o grupo deles na Argentina estava sem verbas, nós aqui conseguíamos sustentá-los; e vice-versa. Na época negra do financiamento científico do Brasil, entre 1992 e 1997, nosso laboratório funcionou graças às verbas que Jorge obtinha em Buenos Aires. Aprendi com essa associação algo que já era praxe nos Estados Unidos e na Europa: o trabalho colaborativo entre grupos de diversos países. Por meio de uma aliança estratégica permanente, como a que Jorge e eu temos há 16 anos; mas parte também por meio de parcerias ou alianças “ad hoc”, para desenvolver temas pontuais dentro de um contexto mais geral. Aprendi também que, apesar da rivalidade que nós sentimos com os Estados Unidos e outros países do chamado primeiro mundo, lá também existe gente generosa e aberta. Um dos maiores saltos qualitativos de nossa pesquisa com Jorge foi graças a um pesquisador estadunidense chamado McGinty, a quem nunca vimos pessoalmente. Ele nos preparou e enviou num envelope, pelo correio, um anticorpo na época impossível de obter em outra
  • 8. parte. Um inglês, Graham Collingridge, a quem só conheci anos mais tarde, me enviou, a pedido, uma droga que na época só ele tinha no mundo. Outro grande colaborador nosso foi Jim McGaugh, com quem mantivemos um nutrido intercâmbio teórico, além também do envio de drogas difíceis de se obter no Brasil. Juntos publicamos vários trabalhos que não teriam sido fáceis de fazer sozinhos. Nos últimos anos, desenvolvemos um elo muito grande com Ricardo Brentani, Vilma Martins e seu poderoso grupo de biologia molecular no Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer em São Paulo, onde trabalham, com verba própria e dinheiro da FAPESP. Com eles estamos desenvolvendo uma linha pioneira sobre papéis fisiológicos da famosa proteína prion, de triste fama entre os criadores de gado europeus. Enfim, não vou detalhar aqui quais foram minhas principais descobertas, porque a índole destas linhas é geral, e não particular. Como faço ciência? Da maneira que tem dado certo até agora, e que continua dando certo nas mãos e nos laboratórios de meus muitos discípulos bem sucedidos. Ou seja, simplesmente seguindo os conselhos daqueles “grandes” que tive a ventura de conhecer quando tinha entre 19 e 26 anos: Houssay, Leloir, Braun Menéndez e De Robertis. Além de tantos outros, pelo mundo afora. Procurando aprender muito, mantendo os olhos e ouvidos bem abertos! A partir de certo momento, cortando o cordão umbilical e voando sozinho. Formando grupos, baseado no mútuo respeito e na abertura intelectual. Discutir cada experimento, antes de realizá-lo, entre todos, com franqueza e sem acanhamentos. Extirpar, de cara, o egoísmo! Num grupo, todos devem andar juntos; quem não o fizer, logo acabará caindo fora; se não por conta própria, por ação direta do chefe. Se abrir a outros grupos, do mesmo departamento, de outros, de outras cidades, de outras partes do mundo. Quanto mais, melhor! E trabalhar duro, sempre, sem nunca baixar os braços, “pero sin perder la ternura jamás”. Só os muitos resultados bons dão lugar aos grandes resultados. Lembrar que sempre se aprende, até com os erros; portanto, não se deve ter medo de errar. Saber que sim, sem dúvida, há um forte preconceito contra nós, os pesquisadores do terceiro mundo; tanto das elites do terceiro mundo quanto dos esnobes do primeiro. ​Mas, no final, o mocinho sempre ganha; e nós somos os mocinhos.
  • 9. É bom partir desse princípio. ​Nós, que fazemos ciência para ajudar as pessoas a viver melhor​, somos por definição, os mocinhos. Senão, de nada valeria continuar trabalhando nisto em que trabalhamos: a ciência. Há muitas outras atividades em que se ganha mais dinheiro, nas quais não há mocinhos! Iván Izquierdo é professor e pesquisador do Centro de Memória do Departamento de Bioquímica da UFRGS. E-mail izquier@terra.com.br