1) O conflito entre Rússia e Ucrânia é analisado, com foco nas causas geopolíticas e riscos de guerra global.
2) A crise na Ucrânia em 2014 levou à deposição do presidente pró-Rússia e tensões separatistas na Crimeia e leste da Ucrânia.
3) Uma guerra entre Rússia e Ucrânia prejudicaria ambos os países e a Europa, que depende das exportações de gás russo.
THE GREAT INVENTIONS OF LAND AND PIPELINE TRANSPORT IN HISTORY AND ITS FUTURE...
O CONFLITO RÚSSIA E UCRÂNIA COMO NOVO FOCO DE GUERRA NO MUNDO
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O CONFLITO RÚSSIA E UCRÂNIA COMO NOVO FOCO DE GUERRA NO
MUNDO
Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo analisar o conflito atual existente entre a Rússia e a Ucrânia,
apontar suas causas e consequências do ponto de vista geopolítico e os riscos que
representa para a eclosão de uma guerra de repercussões globais. Vários são os países que
podem se constituir em focos de eclosão de guerras no mundo destacando-se, entre eles,
Palestina, Israel, Irã e Coreia do Norte. Agora, a Ucrânia faz parte do rol dos países que
se constituem em focos de uma nova guerra mundial. Há três aspectos que precisam ser
considerados na análise do conflito que envolve a Rússia e a Ucrânia no momento: 1) a
origem comum dos povos russo e ucraniano; 2) a crise interna ucraniana; e, 3) a questão
geopolítica. Sobre a origem comum dos povos russo e ucraniano, é importante destacar
que Kiev foi o berço da civilização russa atual porque, no século IX, quando se formou o
chamado Estado kievano ou Rus´ que amalgamava os eslavos orientais, não havia
diferença entre grão-russos (os russos atuais), pequenos russos (os ucranianos atuais) e
russos brancos (os bielo-russos atuais) que formavam um povo só (Ver o livro Os Russos
de Angelo Segrillo. São Paulo: Editora Contexto, 2010).
Segundo o diplomata e historiador brasileiro já falecido Moniz Bandeira, “até o século
XII, a chamada Rus' Kievana, era uma confederação de tribos eslavas orientais,
virtualmente a maior potência da Europa, ao abranger a atual Bielo Rússia e parte da
Rússia. Em 1795, a antiga Rus's Kievana, foi repartida ao oeste do rio Dnieper, que
desemboca no Mar Negro. A Rússia anexou a maior parte da região, todo o Kanato da
Criméia, e o Império Austro-Húngaro, sob a dinastia de Habsburg, dominou a outra parte,
incluindo a Galitzia (Halychyna), na Europa Central, até 1918”. Após a Revolução
Bolchevique em 1917, a Ucrânia constituiu-se como Estado nacional e, em 1922, somou-
se à Bielorrusia e Transcaucasia, na formação da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (Ver o artigo de Marco Aurélio Weissheimer publicado pelo Carta Capital sob
o título Moniz Bandeira aponta aliança entre ONGs ocidentais e neonazistas na Ucrânia
disponível no website
<http://pcb.org.br/fdr/index.php?option=com_content&view=article&id=584:moniz-
bandeira-aponta-alianca-entre-ongs-ocidentais-e-neonazistas-na-
ucrania&catid=5:entrevistas-com-a-historia>.
A extinta União Soviética da qual a Ucrânia fazia parte industrializou-se por meio de uma
integração estrutural envolvendo todas as suas repúblicas, com o objetivo de garantir uma
maior estabilidade econômica. Quando houve a queda da União Soviética em 1989, os
países do leste europeu encontravam-se muito interdependentes, fato este que se mantém
ainda hoje em muitos aspectos. Atualmente, a Ucrânia depende comercial e
economicamente da Rússia, sobretudo por esta lhe fornecer gás natural, fonte de energia
primordial ao país, e a Rússia ser o principal comprador de inúmeras matérias-primas
produzidas pela economia ucraniana. Além disso, no leste da Ucrânia – onde ainda se fala
russo – muitas empresas dependem das vendas para a Rússia. A Ucrânia, chamada,
tradicionalmente, de "pequena Rússia", não pode se desprender da Rússia, da qual muito
depende, sobretudo para seu abastecimento de gás. Por sua vez, a Rússia tem seus
gasodutos que suprem a Europa passando pela Ucrânia. A adesão da Ucrânia à União
Europeia, permitindo o avanço da OTAN até as fronteiras da Rússia, tenderia
evidentemente a romper todo o equilíbrio geopolítico da Eurásia, uma vasta região
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terrestre e fluvial, até o Oriente Médio que possibilita as comunicações do Mar Negro e
de importantes zonas energéticas (gás e petróleo) com o Mar Mediterrâneo.
A crise política na Ucrânia que levou à derrubada em 2014 do presidente ucraniano,
Viktor Yanukovich, é o resultado de uma instabilidade política que marca a região há
vários anos. Quando a União Europeia propôs à Ucrânia assinar um tratado de livre-
comércio, a Rússia, em contrapartida, ofereceu melhor acordo econômico e que, segundo
algumas versões não confirmadas oficialmente, se o governo ucraniano não o aceitasse,
ameaçou cortar o fornecimento de gás natural e a compra dos produtos ucranianos, além
de impor restrições alfandegárias. Esse episódio acirrou ainda mais as diferenças entre os
dois principais grupos políticos ucranianos: os pró-ocidente e os pró- Rússia. A decisão
do governo de Viktor Yanukovich de não assinar o tratado de livre-comércio com a União
Europeia e sim com a Rússia foi o estopim que deu origem às violentas manifestações
que levaram à sua deposição do poder.
Após a derrubada de Viktor Yanukovich em fevereiro de 2014, houve a criação de um
novo governo pró-União Europeia e anti-Rússia, que acirrou ainda mais as tensões separatistas
na península da Crimeia, de maioria russa, levando a uma escalada militar com ação do
governo russo na região. Nesta época, a Crimeia realizou um referendo que aprovou sua
incorporação à Rússia após o qual o governo de Vladmir Putin ocupou o território, mesmo
com a reprovação de países do Ocidente, como os da União Europeia e os Estados Unidos.
Em maio de 2014, Petro Poroshenko foi eleito presidente da Ucrânia e um mês depois assinou
o acordo com a União Europeia que foi o pivô de toda a crise. A assinatura ocorreu em meio
a confrontos no leste do país, palco de um movimento separatista pró-Rússia e a ameaças e
críticas do governo da Rússia.
Figura 1 – Mapa da Rússia e da Ucrânia e suas áreas de conflito
Fonte: https://mapamundi.org.br/2021/crimeia-entre-a-ucrania-e-a-russia/
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Após a incorporação da Crimeia à Rússia, regiões do leste da Ucrânia, de maioria russa,
começaram a sofrer com as tensões separatistas. Militantes pró-Rússia tomaram prédios
públicos na cidade de Donetsk e a proclamaram como "república soberana", marcando um
referendo sobre a soberania nacional para 11 de maio de 2014. A medida não foi reconhecida
pelo governo da Ucrânia nem pelos Estados Unidos e os países da União Europeia. O
referendo chegou a ser realizado e a independência foi aprovada por 89% dos votos. Com a
nova tensão na região, a Rússia pediu que a Ucrânia desistisse de todo tipo de preparativos
militares para deter os protestos pró-russos nas regiões do leste ucraniano, já que os mesmos
poderiam suscitar uma guerra civil. O governo da Ucrânia, entretanto, iniciou uma operação
antiterrorista na região, para combater os separatistas, com milhares de mortes dos dois lados.
A Rússia chegou a mobilizar tropas na fronteira que foi condenado pelo governo ucraniano e
pelo Ocidente. Parte das tropas foi retirada posteriormente, mas a tensão permaneceu na
região.
Nos dias 11 e 12 de fevereiro de 2015, foi assinado entre os separatistas, o presidente da
Ucrânia, Petro Poroshenko, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a chanceller alemã,
Angela Merkel e o presidente da França, Francois Hollande um acordo de cessar-fogo e
criação de zona desmilitarizada. Segundo o acordo assinado, a retirada da artilharia
pesada com vista à criação de uma zona de desarmamento de até 140 quilômetros deveria
começar no dia 16 de fevereiro de 2015. Dois dias depois que o cessar-fogo acordado
entre líderes europeus entrou em vigor, conflitos entre o exército ucraniano e forças
separatistas foram registrados em Debaltseve, cidade estrategicamente posicionada entre
Donetsk e Lugansk, no Leste da Ucrânia. Desde a entrada em vigor da trégua, pelo menos
cinco soldados ucranianos foram mortos e nove ficaram feridos em conflitos em
Debaltseve e Mariupol, cidade portuária cobiçada pelos rebeldes. Milhares de soldados
ucranianos foram cercados por forças rebeldes em Debaltseve.
No momento atual 100 mil soldados russos estão posicionados na fronteira com a Ucrânia. A
expectativa do governo norte-americano, mais precisamente do Pentágono e da Casa Branca, é
de que 175 mil homens russos deverão estar a postos na fronteira com a Ucrânia até o fim de
janeiro. Enquanto isto, na Ucrânia, existe um exército bem mais treinado e armado do que
aquele que viu a Crimeia ser anexada pela Rússia em 2014. O exército ucraniano é o terceiro
maior exército da Europa, atrás apenas do russo e do francês. Armamentos foram adquiridos
pela Ucrânia dos Estados Unidos e de diversos países da União Europeia. Mesmo assim,
considera-se que a Ucrânia não tem capacidade militar para repelir uma invasão russa. No
entanto, espera-se que os ucranianos consigam fazer com que o conflito militar se estenda
ao máximo possível (o que seria, humanitariamente trágico). A tendência seria que,
conforme os russos avançassem, os Estados Unidos e outros países europeus abasteceriam
os ucranianos com mais armas e equipamentos capazes de resistir, mas não para a Ucrânia
vencer a guerra.
Se o conflito atual desembocar em uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, não apenas os
ucranianos serão prejudicados, mas também, a Rússia que poderá ter suas exportações de
gás natural e petróleo à Europa comprometidas haja vista que os gasodutos que suprem esta
região passam pela Ucrânia (Figura 2). A Europa será, também, prejudicada porque poderá
ter a cessação do fornecimento russo de petróleo e gás natural. É importante destacar o fato
de que as exportações de gás e petróleo à Europa financiam cerca de metade de todo o
orçamento anual federal russo. A Europa consome 70% do petróleo e 65% do gás natural
exportado pela Rússia. A Rússia fornece cerca de um terço do gás natural e petróleo bruto
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importados pela União Europeia. A Europa tem a Rússia como principal fornecedor de
gás natural com cerca de 44,38 trilhões de metros cúbicos. Vários países da Europa
dependem do petróleo e gás natural russo. Países como a Alemanha e a
Inglaterra dependem cada vez mais da Rússia para o fornecimento do combustível.
Países como a Eslováquia e a Bulgária dependem 100% da Rússia para o fornecimento do
combustível.
Figura 2 - Os gasodutos da Rússia que suprem a Europa de gás natural
Fonte: https://branconevevermelhorussia.wordpress.com/2015/05/08/russia-x-ucrania/
As causas da crise na Ucrânia são, sobretudo, geopolíticas e estratégicas. O que está em
jogo não é, na realidade, a adesão da Ucrânia à União Europeia e à OTAN- Organização
do Tratado do Atlântico Norte (aliança militar ocidental que foi constituída em 1949 para
enfrentar a União Soviética durante a Guerra Fria). A Ucrânia só tem a perder com o
conflito. Muitas de suas indústrias fecharão ou serão dominadas pelas multinacionais
europeias e seus pequenos agricultores serão arruinados. Porém, o que os Estados Unidos
pretendem através da adesão da Ucrânia à OTAN e sua incorporação à União Europeia,
é, sobretudo, possibilitar que as forças da OTAN sejam estacionadas na fronteira da
Rússia. O cenário futuro mais provável para o desfecho da crise política na Ucrânia é a
divisão do país, com a Crimeia já incorporada à Rússia e a transformação do leste, centro-
leste e sul da Ucrânia em uma região autônoma do governo de Kiev se for mantido o
acordo da União Europeia com a Ucrânia ou ocorrerá sua anexação à Rússia se a OTAN
se fizer presente na Ucrânia. A guerra civil já iniciada na Ucrânia pode se transformar em
um conflito militar envolvendo as forças da OTAN e da Rússia de consequências
imprevisíveis.
Pode-se afirmar que a Ucrânia se tornou uma peça importante no xadrez político
internacional porque, de um lado, os Estados Unidos e seus aliados da União Europeia
visam ampliar o cerco da Rússia iniciado após o fim da União Soviética em 1989 quando
vários países a ela então aliados como Albânia, Bulgária, Croácia, Eslováquia, Eslovênia,
Estónia, Hungria, Letônia, Lituânia, Macedónia do Norte, Montenegro, Polónia, Romênia
aderiram à OTAN. Países ex-socialistas, aliados da União Soviética, como Bulgária,
Estônia, Finlândia, Hungria, Croácia, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia, Eslovênia,
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Eslováquia e República Tcheca aderiram à União Europeia. Países como Montenegro,
Macedônia, Sérvia e Albânia estão à espera de aprovação para entrada na União Europeia
(Ver a Figura 2). O cerco à Rússia se completaria com a incorporação da Ucrânia à OTAN
e à União Europeia como deseja os Estados Unidos e seus aliados internos ucranianos.
Diante deste fato, a estratégia militar da Rússia consiste em evitar a todo o custo que a
Ucrânia seja incorporada à OTAN e à União Europeia. A expansão da OTAN rumo às
fronteiras russas é o principal perigo externo ao país. O movimento de expansão da OTAN
teve início com o fim da União Soviética começando pelo Mar Báltico, atravessou a
Europa Central, a Ucrânia e a Bielorússia, passando pela intervenção nos Bálcãs (ex-
Iugoslávia) e chegando até a Ásia Central e o Paquistão, ampliando as fronteiras da
OTAN. Ao terminar a década de 1990, a distribuição geopolítica das novas bases militares
norte-americanas não deixa dúvidas sobre a existência de um novo “cinturão sanitário‟,
separando a Alemanha da Rússia e a Rússia da China. A chegada de Vladimir Putin ao
poder na Rússia iria modificar radicalmente esse quadro geopolítico, até então muito
desfavorável para os russos. A chegada de Vladimir Putin ao poder da Rússia em 2000,
marcou o início da recuperação geopolítica da Rússia, cuja posição tinha sido muito
enfraquecida durante o governo Ieltsin na década de 1990. Putin representa a ascensão ao
poder de uma ampla e sólida coalizão de interesses econômicos e políticos que se uniram
quanto à necessidade de recompor as bases mínimas de operação de um Estado capitalista
moderno que superasse a fase selvagem e predadora da “acumulação primitiva” na
Federação Russa com Ieltsin no poder. A recuperação geopolítica da Rússia foi possível
graças à afirmação de um projeto nacionalista de recuperação do Estado russo por parte
de Putin.
Foi a partir do ano 2000 que a Rússia resolveu desenvolver uma parceria estratégica com
a China. A Rússia considerou que a China poderia ajudá-la na sua resistência às ambições
geopolíticas dos Estados Unidos tanto na Europa Oriental, quanto no Cáucaso ou na Ásia
Central. A Organização da Cooperação de Xangai (Shanghai Cooperation Organization
– SCO) foi criada em 2001 para estabelecer uma aliança entre a Rússia e a China em
termos militares e de combate ao terrorismo, ao fundamentalismo religioso e ao
separatismo na região da Ásia. A SCO é uma organização de cooperação política e militar
que se propõe explicitamente a ser um contrapeso aos Estados Unidos e às forças militares
da OTAN. Os dois países defendem, em geral, posições convergentes na ONU e nos
demais fóruns internacionais, como, por exemplo, o G20.
A Ucrânia e os demais países que se constituem em focos de eclosão de uma nova guerra
mundial colocam na ordem do dia a necessidade de a humanidade se dotar o mais
urgentemente possível de instrumentos necessários à construção de um mundo de paz.
Ao longo da história da humanidade houve três tentativas de estruturar instrumentos
voltados para a construção de um mundo de paz. A primeira tentativa ocorreu em 1648
com o Tratado de Westfália que colocou um fim à Guerra dos Trinta Anos (1618
– 1648) que marcou o século XVII como um dos conflitos mais sangrentos da
história europeia com o propósito de instaurar a paz e estabelecer uma nova ordem
mundial. Os três principais atores da Guerra dos Trinta Anos, Sacro Império
Germânico, França e Suécia, assinaram a Paz de Westfália que definiu que, a partir
daquele momento, haveria um equilíbrio internacional de poderes, assegurando a
ausência de potência hegemônica. Outra mudança imposta pelo tratado foi o fim
dos impérios ou dinastias e o nascimento do Estado Moderno. Os princípios mais
importantes da Paz de Westfália foram os seguintes: 1) Os Estados nacionais
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seriam soberanos (superioridade interna e insubmissão externa);2) não
ingerência nos assuntos internos de outros Estados nacionais;3) os Estados
nacionais são iguais em direitos e obrigações; e, 4) Pacta Sunt Servanda (respeito
pelos compromissos internacionais). Houve avanços com o Tratado de Westfália,
mas seus princípios não foram respeitados sobretudo pelas grandes potências e não
impediu, também, que novas guerras eclodissem no mundo como a 1ª Guerra
Mundial de 1914 a 1918.
A segunda tentativa de estruturar instrumentos voltados para a construção de um mundo
de paz ocorreu com a criação da Liga das Nações em 10 de janeiro de 1920 nos escombros
da 1ª Guerra Mundial. A Liga das Nações foi criada como parte do Tratado de Versalhes,
que marcou o fim da 1ª Guerra Mundial. A criação dessa nova organização
intergovernamental foi inspirada na declaração dos Quatorze Pontos do presidente norte-
americano Woodrow Wilson – descrevendo suas propostas para um acordo de paz no
pós-guerra –, que ele apresentou ao Congresso dos Estados Unidos em janeiro de 1918.
A ideia de uma “sociedade de nações”, no entanto, é muito mais antiga. Ela remonta a
conferências internacionais na segunda metade do século XIX. Foi durante as
Conferências de Paz de Haia, em 1899 e 1907, que foi realizada a mudança decisiva da
ideia do Concerto das Nações – orquestrada pelas principais potências europeias – para
um verdadeiro multilateralismo inclusivo. A Liga das Nações emergiu da 1ª Guerra
Mundial com a firme determinação de que nunca mais se deveria permitir que tal tragédia
acontecesse. No entanto, a falta de vontade por parte das grandes potências tornou a Liga
das Nações incapaz de impedir efetivamente as agressões territoriais do Japão, da Itália
fascista e da Alemanha nazista na década de 1930. O início de uma 2ª Guerra Mundial
devastadora viu o sonho da Liga das Nações ser completamente destruído até o
nascimento da ONU, em 24 de outubro de 1945.
A terceira tentativa de estruturar instrumentos voltados para a construção de um mundo
de paz ocorreu com a criação da ONU (Organização das Nações Unidas) que foi fundada
após a 2ª Guerra Mundial e tem sido inoperante ao longo de sua história. A ONU ou
simplesmente Nações Unidas, foi criada em 24 de outubro de 1945 para promover
a cooperação internacional com a intenção de impedir outra guerra mundial. A
organização é financiada com contribuições voluntárias dos países-membros. Os seus
objetivos incluem manter a segurança e a paz mundial, promover os direitos humanos,
auxiliar no desenvolvimento econômico e no progresso social, proteger o meio ambiente e
prover ajuda humanitária em casos de fome, desastres naturais e conflitos armados. A sua
missão de promover a paz foi comprometida nas suas primeiras décadas de existência,
por culpa das grandes potências (Estados Unidos e União Soviética) durante a Guerra
Fria e seus respectivos aliados. O número de integrantes cresceu bastante após o grande
processo de descolonização na década de 1960 e seu orçamento para programas de
desenvolvimento social e econômico ultrapassou em muito seus gastos com a manutenção
da paz. A ONU tem sido um fracasso na construção de um mundo de paz.
O insucesso na construção da paz mundial com o Tratado de Westfália, a Liga das
Nações e a ONU demonstram a urgência de reestruturar a ONU para exercer uma
efetiva governança do sistema internacional que possibilite mediar os conflitos
internacionais e assegurar a paz mundial. A governança mundial a ser exercida pela ONU
cuja Assembleia Geral seria transformada em Parlamento Mundial teria por objetivo a
defesa dos interesses gerais do planeta, zelar no sentido de cada Estado nacional respeitar
a soberania dos demais Estados nacionais e buscar impedir a propagação dos riscos
sistêmicos mundiais. A ONU evitaria o império de um só como já ocorreu ao longo da
história da humanidade e a anarquia de todos os países como ocorre atualmente. Com
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uma governança mundial, será possível combater a guerra e acabar com o banho de
sangue que tem caracterizado a história da humanidade ao longo da história. Os
monumentos de Guerra devem ser substituídos por monumentos de Paz a partir da
constituição de um governo mundial. Para ser democrático, o governo mundial deve ser
representativo de todos os povos do mundo. A sobrevivência da humanidade dependerá
da capacidade de se celebrar um Contrato Social Planetário representativo da vontade da
maioria da população do planeta.
*Fernando Alcoforado, 82, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC-
O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil
(Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização
e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século
XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions
of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o
progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo,
São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI
(Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o
Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba,
2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-
autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019) e A humanidade
ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021).