O documento discute a obesidade, definindo-a como uma doença crônica com múltiplas causas fisiológicas e psicológicas. Ao longo da história, a obesidade foi vista de diferentes formas, sendo associada a riqueza no passado e hoje vista como problema de saúde. Fatores genéticos, ambientais e psicológicos contribuem para o desenvolvimento da obesidade.
2. A obesidade nos últimos anos passou por diversas
transformações no seu conceito. Considerada
anteriormente como uma consequência da gula e da falta
de força de vontade, hoje ela tem suas bases
fisiopatológicas mais esclarecidas.
3. Além de ser uma doença crônica e de múltiplas causas,
ela também apresenta diversos riscos para a saúde do
indivíduo, tanto nas esferas orgânicas quanto nas psíquicas.
5. Podemos perceber que no salto de alguns séculos, a
obesidade passou por diversas transformações no seu conceito.
Segundo o dicionário, a palavra obesidade é um termo com origem no latim obesitas, significa
excesso de gordura e caracteriza o indivíduo gordo, com excessivo volume do ventre e de
outras partes do corpo.
6. Em sociedades primitivas, o ganho de peso e a obesidade foram
considerados uma proteção importante contra os períodos de
fome, em razão das catástrofes naturais.
O nosso organismo geneticamente propicia o armazenamento de
energia em forma de gordura. Se não fosse assim, o ser humano
teria sido extinto em épocas de escassez de alimentos.
7. A obesidade foi particularmente comum entre as elites
europeias durante a Idade Média e o Renascimento e
nas civilizações do oriente asiático.
Durante muitos anos, em diversas culturas, ganhar peso e
acumular gordura eram sinais de saúde, prosperidade e
riqueza.
8. Após vários séculos em que a obesidade era vista como
sinónimo de riqueza e estatuto social, a norma social desejável
passou a ser a magreza, não só por questões estéticas, mas
principalmente porque sabe-se que o excesso de peso e a boa
saúde são condições que não andam juntas.
Na sociedade contemporânea, a comida, sua
quantidade e a maneira como é servida ainda continuam como
indicativos da posição social, mas a obesidade certamente
deixou de ser idealizada.
A preocupação com a obesidade e seus malefícios é
muito remota, e hoje sabemos que ela representa a mais
comum e a mais antiga doença metabólica.
9. Conceito
A Organização Mundial de Saúde define obesidade
como um excesso de gordura corporal acumulada no tecido
adiposo, com implicações para a saúde (OMS, 2002).
A obesidade mórbida é uma doença crônica grave que
põe em risco a vida do indivíduo por estar associada a outras
complicações orgânicas.
11. Outra forma de classificar a obesidade é identificar as
variações da apresentação do excesso de gordura corpóreo:
a)obesidade universal: excesso gorduroso por todo o corpo;
b)obesidade troncular ou androide: o paciente apresenta uma
forma corporal parecida com uma maça – mais frequente, porém
não exclusiva do sexo masculino, tem deposição de gordura
predominantemente no abdome e está associado a elevado risco
de comprometimento do sistema cardiovascular e metabólico;
c)obesidade ginecóide: a deposição de gordura predomina ao
nível do quadril, fazendo com que o paciente apresente uma
forma corporal semelhante a uma pêra, prioritariamente feminino
com depósito de gordura nos quadris e coxas e estão associados
a transtornos cutâneos e articulares (artrose e varizes).
14. Tratamento cirúrgico:
Como podemos perceber, até o momento, a melhor forma de evitar
o desenvolvimento da obesidade é trabalhar de forma preventiva
as mudanças no estilo de vida do individuo.
Nos casos onde a obesidade apresenta um grau de prejuízo mais
acentuado, é válido o uso conjunto de medicamentos. Assim como
para os casos mais graves, o tratamento cirúrgico pode ser uma
esperança para o paciente.
Infelizmente, a comprovada ineficácia a longo prazo dos
tratamentos conservadores (não cirúrgicos) para a obesidade de
grandes proporções abriu campo para as cirurgias bariátricas.
São diversos os estudos que apontam os prejuízos causados pela
obesidade e deixam claro o quanto ela agride clinicamente, diminui
a expectativa de vida e repercute de modo negativo na qualidade
da vida diária do indivíduo.
15. Os objetivos do tratamento cirúrgico são:
• reduzir o excesso de peso, proporcionando assim outros benefícios à saúde e ao
indivíduo como um todo;
• curar ou amenizar as doenças associadas à obesidade; e
• minimizar os problemas psicológicos e sociais causados pelo excesso de peso;
ou seja, melhorar a qualidade de vida.
A cirurgia é tão impactante quanto a própria doença obesidade. Existe um
ganho estético mas o objetivo principal da cirurgia é a busca da saúde
para a manutenção da vida do paciente.
16. Etiologia
Ao realizar a consulta de um paciente que apresente sobrepeso ou
obesidade, é essencial avaliar as causas que levaram ao excesso
de peso, assim como investigar as possíveis morbidades
associadas.
17. A etiologia da obesidade é complexa e multifatorial, ou seja,
apresenta diversos fatores (genes, ambiente, estilo de vida e
fatores emocionais) na sua raiz e que, interligados, desencadeiam
a doença.
18. O ganho de peso é muito mais complexo do que se pode imaginar.
Ele não depende apenas do simples cálculo ingestão versus gasto
calórico.
Além do componente genético, a obesidade também dependente
de outros fatores para se desenvolver, como por exemplo, o
ambiente.
19. Os nossos genes podem até determinar se
seremos gordinhos ou não, mas nossos hábitos é
que irão determinar a extensão da nossa
obesidade.
20. Os avanços tecnológicos tornaram nossa vida mais sedentária e
revestiram de uma aura de sabor e sedução os alimentos menos
saudáveis.
21. Não podemos deixar de mencionar a influência da mídia como um
forte instrumento formador de opinião, estimulando por exemplo o
consumo desses alimentos.
22. Ambiente obsogênico
Um dos principais motivos do crescimento desta patologia se
deve ao estilo de vida obesogênico que vivemos na atualidade.
Estudos epidemiológicos demonstram que a ingestão de alimentos em
maior quantidade energética, juntamente com o sedentarismo, como
por exemplo ficar horas sentado no sofá vendo televisão, contribuem
para o aumento de peso.
23. Aspectos psicológicos
É vasta a literatura psicológica que se propõe a discutir a etiologia
da obesidade, mas em especial, entender os fatores determinantes
sobre a ingesta alimentar.
Ou seja, entender de que modo, ao longo da história do indivíduo,
se organiza a sua maneira de lidar com o alimento e que tipo de
alterações nesse processo poderiam levar ao descontrole ou ao
abuso dietético.
Aquilo que os estudiosos entendem por “comer demais” varia de
acordo com o enfoque teórico de cada um. Não obstante, pode-se
dizer que, a partir de uma revisão da literatura psicológica, a
hiperfagia (o comer demais) é considerada como produto do
hábito (portanto do aprendizado) ou como uma forma de defesa
psicológica.
24. Hiperfafia como produto do hábito
A psicologia comportamental entende a atitude alimentar como
produto de um aprendizado: o comportamento se repete à medida
que é reforçado pelas consequências que produz.
O que cada pessoa come, o modo como ela se alimenta e a
quantidade que ingere dependem daquilo que aprendeu em família
e na sociedade em que vive.
A família, núcleo primário no qual se desenvolve o indivíduo, tem
importância fundamental na etiopatogenia e na persistência dos
hábitos alimentares exagerados.
Uma série de condutas alimentares, permeadas por fatores
constituintes e herdados, é transmitida de geração a geração
dentro de uma família, de sorte que, ao nascer, a criança passa a
ser depositório de todos os gostos e formas de comer do grupo
familiar.
25. Hiperfagia como forma de defesa psicológica
A ideia de que o significado da comida e o ato de comer vai além
do atendimento às necessidades biológicas de sobrevivência
parece consensual na literatura psicológica.
Mas foi através dos estudos da psiquiatra e psicanalista Hilde
Bruch na década de 70, em seu livro Eating Disorders, que pela
primeira vez a hipótese de que o exagero na ingestão de alimentos
representaria um processo psicológico no qual o indivíduo usaria a
comida para enfrentar sentimentos de inadequação pessoal.
Outros autores também fizeram associações entre as emoções e a
ingesta abusiva de alimentos. Para alguns, os obesos tendem à
hiperfagia em resposta a tensões emocionais, ao verem o alimento
como gratificação substitutiva, como equivalente de afeto,
compensação ou recompensa.
26. *Compulsão alimentar
O Transtorno Alimentar Periódica (TCAP)
caracteriza-se
da Compulsão
pela ocorrência de episódios de compulsão
alimentar na ausência de comportamentos compensatórios
inadequados para evitar o ganho de peso.
O começo do transtorno costuma ser paulatino, e surge em momentos
estressantes. Os critérios diagnósticos mais atuais para esse Transtorno
são (DSM IV, 2002):
- Episódios recorrentes de empanturramentos alimentares, que se caracterizam
por dois aspectos:
1. Comer, em um tempo determinado, uma quantidade de comida que é
definitivamente maior do que o que comeriam as pessoas comuns,
em um tempo semelhante.
2. Uma sensação de perda de controle durante o episódio.
27. Durante a maioria dos episódios, estão presentes pelo menos três
destes indicadores:
-Come-se muito mais rápido que de costume;
-Come-se até sentir-se incomodamente cheio;
-Comem-se grandes quantidades de comida sem sentir fome;
-Comem-se grandes quantidades de alimento durante o dia, sem
planejamento de horários para isso;
-Come-se a sós, por sentir vergonha em relação à quantidade de
alimento ingerido;
- Sentem–se desgostosos consigo mesmos, deprimidos ou muito
culpados por terem comido em excesso.
O empanturramento alimentar ocorre duas vezes por semana, em
média, durante um período de seis meses, e ocasiona um
acentuado mal-estar.
28. Nos conflitos da vida social a agressividade pode ser
substituída pela alimentação exagerada.
Para outros, o anseio por amor e afeição frequentemente
conduz a um tipo impróprio de alimentação – ingestão exagerada
ou ausência de fome – sendo possível inferir que tal
comportamento, por vezes, corresponde à necessidade de escapar
ao trato de outros problemas.
A provável origem, segundo grande parte dos autores,
estaria na infância e na atenção afetuosa que a mãe dispensa à
criança no momento da alimentação, quando afeto e comida se
combinam.
29. De acordo com diversos estudos deste ramo, a origem
desse mecanismo se inicia nas relações infantis. Um bebê pode
chorar por diversos motivos – sono, dor, ansiedade, tristeza, fome,
etc. -, mas quando a mãe interpreta o choro ou o desconforto do
filho apenas como decorrência da fome e sempre lhe oferece
alimento como consolo, ela está informando que todas as más
sensações podem ser resolvidas com comida.
30. icos seria retornar a uma
“Se os distúrbios psicológicos são causa ou
consequência da obesidade ainda parece ser
uma questão aberta. No entanto, pensar que não
existe tipo algum de relação entre a obesidade e
os fenômenos psíqu
concepção dicotômica de ser humano, em que
mente e corpo são entendidos como duas
entidades separadas e independentes uma da
outra. A obesidade, enquanto doença crônica,
demanda uma compreensão global que
contemple aspectos psicológicos em um
conjunto articulado de fenômenos, cujo sintoma
manifesto é engordar.” (BENEDETTI, 2003, p. 40).
31. Até o momento não podemos dizer que há evidências para
imaginarmos que a obesidade seja resultado direto de transtornos
psicológicos.
obesidade é uma doença cujas
“Para Oliveira
características são a
(1993), a
estrutura mental de acesso difícil, a imensa
dificuldade de formar símbolos e assim, como os psicóticos, se utilizam
de uma linguagem essencialmente concreta, com expectativa de
satisfações concretas em relação aos seus desejos. Não aceitam a
palavra e o pensamento como algo a ser valorizado, desprezando toda
forma de comunicação em que não haja uma ação ou um objeto
concreto. A obesidade é uma pobreza da vida de fantasia e da vida
afetiva do indivíduo somatizante. Acontecem bloqueios na capacidade de
representar ou de elaborar as demandas instintivas que o corpo dirige à
mente. Como resultado, viriam uma pobreza de investimento libidinal e
ausência de manifestações afetivas e o surgimento de doenças
somáticas.
Para o autor, o entendimento das relações de objeto, presentes
na mente dos pais desde o nascimento clareou o entendimento da
formação do sintoma. O conflito mental existe, ainda que silencioso, e o
seu cenário é o corpo, que passa a conter a fantasia e é o corpo que ela
expressa a sua dinâmica.
32. Para Cormillot e col. (1977), os pacientes severamente obesos
podem ser portadores de psicopatia. Ele se utiliza de quatro condições
para reforçar sua asserção:
1) Conduta compulsiva diante da comida;
2) Modos de enfretamento da realidade;
3) Dificuldades de obter insights reais;
4) Mecanismos de defesa especiais.
Uma vez estabelecida a obesidade severa, o paciente passa a
viver em função das dificuldades originadas pela gordura. O excesso de
peso constitui um aleijão que deverá carregar por toda a vida. É nele que
se localiza toda a angústia
localização (somatização),
e todas as dificuldades vivenciadas. A
no entanto, pode funcionar como
tranquilizadora. As dificuldades emocionais não assumem posição de
evidência, uma vez que o foco da atenção está em controlar o excesso de
peso. A sociedade atribui sentimentos de frustração e inutilidade ao
obeso e reforça a condição sofredora de infelicidade e depressão.
Psicólogos como Benedetti (2003) acentuam que a redução do
excesso de peso é fundamental para a melhoria da qualidade de vida,
pois possibilita a retomada da vida social familiar, a percepção subjetiva
de saúde.
33. “Peso não é causa, mas sim a consequência do seu estado de
saúde e bemestar
.”