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Baixar para ler offline
Edgar Nogueira Lima

De almas
postas
Ensaio de mim
Entre erros e acertos
O que fica, é o que é
O que foi, tornar-se-á
Eu.
Café.......................................12
Vinho.................................... 25
Champagne........................... 38
Chocolate Quente................. 45
Água tônica.......................... 54
Água de coco......................... 63
Ice Tea................................. 66
Refrigerante......................... 71
Sucos.................................... 76
presentação
Aceita uma bebida?
É com imenso prazer que estas palavras chegam ao seu olhar. Anseio também que
cheguem ao seu coração. Ofereço-lhe bebida, pois as páginas deste livro não têm pressa de
serem lidas. Elas são como o café, o chá, ou a bebida que mais lhe for do agrado. Carecem
de ser degustadas.
Encanta-me o hábito dos apreciadores de vinho, que apreciam o aroma da bebida
antes de degustá-la. Convido-lhe a fazer igual. Eu mesmo o fiz durante o processo de
escrita. Deixei que as palavras me alcançassem todos os sentidos, ao seu tempo, para
então, registrá-las no papel.
A proposta deste livro é compartilhar um pouco da minha vida em pequenas doses.
A vida durante o ano de dois mil e doze. Não foi a intenção inicial, mas, ao pedido de
alguns que dizem ter interesse no que escrevo – fato que precisei me acostumar, pois nem
eu cria no interessante de mim mesmo – resolvi colher e registrar aqui.
Fui colhendo pequenos escritos e colecionando, fui compartilhando com uns e
outros e verificando os efeitos que poderiam causar na vida dos que liam. Eu mesmo os
reli em algumas ocasiões e experimentei dos efeitos que podem causar.
Motivado por tudo isto, resolvi colecioná-los e dá-los de presente. Utilizei-me de
papel para tal, um modo mais convencional de compartilhar minha alma - algo nada
convencional.
O título explicita a realidade de pôr à mesa a própria alma. Quando sentamos à
mesa, sempre há mais do que comida e bebida sobre ela. Há vidas dos que se dispõem a
dividir o tempo, o olhar, a companhia. Estar de almas postas é um compromisso que
assumo ao produzir este livro. Me ponho e exponho, na expectativa de que ponhas tua
alma nas palavras que vais encontrar.
III
Espero, portanto, que ao lê-las você perceba que há um contexto por trás de cada
palavra. No entanto, não gaste tempo me procurando nelas. Busque-se! A delícia da
poesia é despertar em você efeitos diferentes do que produziu em mim. Meu paladar é
diferente do seu, e as bebidas que experimentamos trazem conotações diferentes, embora
sejam as mesmas. Lance mão do lúdico, do simbólico. Eles dão mais cores às cenas aqui
escritas.
Por fim, agradeço-lhe a companhia. Sempre que tomar este livro em mãos, sinta-se
sentando à mesa, com um lindo pôr do sol à sua frente, uma bebida agradável e uma
companhia salutar. Eu e você comungaremos sempre, em qualquer lugar em que este livro
venha a ser degustado.
Boa leitura!

Edgar Nogueira Lima

IV
refácio
Quando convidada para redigir este prefácio tive a impressão de que nenhuma
palavra que escrevesse nestas páginas estaria à altura da grandiosidade da obra. Abrir as
cortinas dos registros que seguem, demanda uma responsabilidade que, a princípio,
provocou-me vários receios. Contudo, entre dúvidas e desconcertos, escolhi amparar-me
nas certezas que confirmaram minha presença e nas verdades de uma história que também
é a minha história.
A honra em compartilhar da construção desse livro não se reduz a assinar meu
nome após um pequeno texto. O privilégio habita, sim, na gratidão por ter compartilhado
da vida que produziu os versos contidos aqui, por ter contemplado a experiência em seu
ato e degustado cada capítulo ainda quando os sabores não estavam definidos. Em ter
admirado a junção das palavras enquanto ainda eram letras dispersas de um mundo não
tão consciente, por vê-las sendo traduzidas em vida, que geram mais vida quando
divididas com outras vidas.
Se me fosse dada a tarefa de adjetivar o autor, sem dúvidas usaria tantas páginas
quanto as que o livro possui. Entretanto, tal necessidade se dissolve, uma vez que ele
mesmo, o autor, o fez, dando-se em retalhos para aqueles que puderem saborear da sua
experiência ao traduzi-la em poesia. Devo advertir que encontrá-lo, muitas vezes, será
sinônimo de encontrar a si mesmo, deparar-se com a própria imagem refletida nas páginas
enquanto vê sua história sendo contada nos versos. Aos que duvidam, sugiro não perder a
oportunidade de experimentar.
Lanço o convite para adentrarem este espaço. Sinto-me como que na portaria,
desejando boas vindas. O formato Sumário - Menu foi escolhido porque o conteúdo deste
livro não foi preparado apenas para ser lido, mas para ser saboreado. Recebê-lo apenas
V
com o olhar, portanto, limitaria o deleite completo das bebidas oferecidas. Aconselho,
inclusive, quem em algumas ocasiões os olhos se fechem, para que seja possível enxergar
aquilo que só o coração pode ver.
Asseguro que os ingredientes de cada receita, listados no decorrer dos capítulos
foram forjados na vida de quem aprendeu abrir as portas da alma. Alguém que, mesmo
diante de muitas surpresas, riscos ou fragilidades, não teve medo de fazer parte do próprio
mundo, e mais, de transformá-lo. E no processo de se assumir humano, de ser gente e ser
sujeito a outros sujeitos e à realidade onde a vida se desenha, viu se delinear os caminhos
escolhidos, desbravou os caminhos escondidos e descobriu que as estrelas do próprio céu
poderiam iluminar noites alheias.
Deste cardápio, há, na composição das bebidas, um teor elevado de amor, doses
altíssimas de acolhimento e diversas diluições em sinceridade. Para comprazer-se do sabor
contido em cada bebida e desfrutar das substâncias dissolvidas em sua fórmula,
recomendo atenção aos detalhes deste encontro. Reconheça o gosto de cada palavra e
inspire o perfume que a mistura de subjetividades pode originar. E o paladar, que seja o
paladar da fantasia a provar cada sabor, e assim dar energia para que as asas da
imaginação alcem voos mais altos, ou mergulhos mais profundos.
Ao experimentar cada bebida perceberá que cada uma possui aspectos peculiares
aos sentimentos que remetem. Perceba as sensações de frio, aconchego, calor, tonicidade, a
precipitação, o adocicado, a energia e tudo aquilo que sua alma for capaz de absorver.
Faça seu pedido, escolha o que deseja para saciar sua sede, sua expectativa, ou, enfim, seu
coração.
O tradicionalismo do Café exala o aroma forte da bebida que há muito tempo
acompanha essa história. Repleto de percepções e significados, o primeiro capítulo
simboliza sentimentos intensos que são produto dos grãos de vida torrados e moídos.
Naturalmente amargo e forte, a forma de preparo do café e os ingredientes a serem
acrescentados modificam a aparência e o gosto, mas não são capazes de ocultar sua
VI
essência. Igualmente, as emoções misturadas também foram se ilustrando nas palavras de
encontros vividos no mundo do lado de dentro. Por vezes o café esteve servido no
contraste do leite, outras vezes, apenas adoçado. Em ocasiões mais nobres vestiu-se de
capuchino, embelezado com chantili e canela. Em dias especiais esteve dentro de uma
xícara pequenina, atento ao calor das mãos que seguravam outra xícara na extremidade
oposta da mesa. Por fim, o café se apresenta ao nos apresentar, entre seus efeitos destacase a energia da cafeína, o cheiro que invade a cozinha e a satisfação do paladar.
Ainda mais histórico e tradicional que o café, o Vinho plantou sua história há
muitos e muitos séculos. Embebido de uma linguagem direta, o segundo capítulo fermenta
os pensamentos que traduziram a presença daqu‟Ele que ocupa o lugar de maior destaque,
a figura central do ser Pai: Deus. Degustar dos poemas selecionados pelo vinho é para
quem deseja sentar-se à mesa e partilhar da companhia e do movimento que o Espírito do
Criador promove. O coração do autor transparece o reflexo do Autor da Vida, tingido pelo
vinho nas cores do amor e da misericórdia, sua experiência indica caminhos para
aproximar-se de Deus. Remonta a importância do ser filho, contida na grandeza de ser
Pai.
Bebida de reis e rainhas e símbolo universal da comemoração, o Champagne
oferecido no capítulo três recorda o gosto da amizade. A espuma confere às palavras o
sabor do encontro, uma vez que para abrir uma garrafa de champagne é quase um prérequisito a companhia com quem brindar. Todavia, o encontro não se refere unicamente
aquele que acontece entre o eu e o outro, mas, principalmente, aquele vivido pelo eu
consigo mesmo. Ser companhia a si mesmo é um desafio superado na convivência, que
merece ser brindado sempre que a vida permitir.
Tanto quanto uma xícara de Chocolate Quente aquece o corpo em um dia frio, o
quarto capítulo faz o coração recordar dos abraços que o envolveram em calor e amor. As
frases são impulso para o aconchego, a doçura que liga palavra com palavra devolve o

VII
gosto da infância, a pureza dos sonhos e a necessidade do sono, de dormir no colo, de ser
acolhido e sentir-se amado.
Reavivando as emoções, o quinto capítulo traz um copo de Água Tônica,
energizando e potencializando o significado do que foi experimentado. O vigor dos
poemas brota nos versos incisivos e atravessa pensamentos outrora estagnados. A leitura
gaseificada pelos paradoxos expostos faz pensar, repensar, rever, desconstruir, reconstruir.
Tonifica o que continua sendo certeza e dissolve o que nunca foi tão certo assim.
Na combinação entre céu e mar surge o capítulo seis. O rapaz da barraquinha
anuncia “Água de Coco! Olha água de coco!”. O sabor doce do mar guardado dentro da
fruta verde com casca resistente é poetizado no movimento. Sede saciada pela agitação
das ondas tanto em dias de tempestade como em momentos de calmaria. O mar nunca
para, está sempre fazendo devoluções para a praia, remontando na areia o que um dia foi
nele lançado e reunindo, ainda, o que as correntes marítimas podem trazer do fundo do
oceano. Tomar dessa água de coco é um convite a não só ver o mar, mas a ser mar. Viver a
incontinência e expandir os territórios dentro de si, recolher o que retorna às suas margens
e acolher o que vem das profundezas da sua intimidade.
Refrescando as formas de agir no mundo, uma mistura saudável preparada a partir
de infusões de vida e possibilidades, o Ice Tea é servido no sétimo capítulo. A versão
moderna do clássico chá vem permitir que novas possibilidades sejam saboreadas, olhar
pelas mesmas janelas e encontrar um horizonte diferente. Bem como o preparo básico do
chá quente e gelado é o mesmo, os versos deste capítulo refletem sobre como as receitas
escolhidas para servir a vida vão diferenciar seu sabor.
Uma das bebidas mais consumidas, o Refrigerante traz a energia e atualidade do
capítulo oito. A coletânea de poemas confere vivacidade aos momentos de amizade
degustados em todo momento da vida. Fonte de energia e sustento, a essência do capítulo
refrigerante é amizade concentrada e manifestada em presença, reciprocidade,

VIII
companheirismo, proximidade, cumplicidade e tudo aquilo que já experimentamos com as
pessoas que um dia dividiram conosco uma latinha de „refri‟.
Encerrando o Menu, os Sucos do capítulo nove são variedade e fidelidade ao que
representam. Das as bebidas servidas, os sucos retratam o coração simples e acessível do
autor. Na simplicidade com que foram preparados, os sucos elevam o grau de nobreza da
obra inteira. A receita encerra o livro conferindo originalidade não apenas a este capítulo,
mas autenticando a singularidade de todos os anteriores.
Abram as portas e descortinem o palco! É com grande honra que vos apresento a
concretização de um sonho que também foi meu, o sabor da poesia que brotou de uma
alma cujo valor é, para mim, inestimável. Que os versos não apenas alcancem o vosso
coração, mas que sejam continuados dentro dele. Escolha sua mesa, chegou a hora de
degustar os sabores da vida emoldurada nas páginas deste livro.
Com muito amor,

Fernanda Giasson

IX
ntrodução
Os fins de tarde sempre me reservam gratas surpresas. De forma bem pontual, uma
desponta em minhas lembranças quando começo essas tímidas linhas: o convite de um
grande Amigo.
Não sei o que defino agora. Se o convite ou o grande Amigo. Nem sei se quero, na
verdade, porém, acho que minh‟alma torna-se feliz em ter a oportunidade de escrever-vos.
Seja para você que me lê agora, seja para o autor do livro ou para a Flor que espera no
alto da colina, o Rei e a Rainha despontarem no horizonte, servida de um bom café e
observando a borboleta que rodopia. Devaneios? Utopia? Não. Vida!
A sensação é essa: Vida! E é dela que vou falar. Folhear esses livros dá ao leitor a
sensação (ou as sensações) de que o frescor da bebida que acalma e por vezes aquece, nos
mostra a condição de estarmos vivos.
Sendo assim, não há como permanecer inerte diante de palavras tão certeiras.
Como um suco que foi adoçado no ponto ou aquele café do lanche da tarde que nos faz
viajar no tempo e lembrar-se de quando crianças, éramos presenteados com o bucolismo e,
porque não dizer, o romantismo daquele cafezinho diário. Realidades.
Seria óbvio que o nome do livro fosse alinhado ao seu conteúdo e vice-versa. Mas o
autor prefere escrever do incrível. De detalhes que só as almas mais apuradas (leia-se:
lapidadas), podem perceber e encantar-se diante de tanta riqueza literária expressa nessa
obra.
Adianto-me até em dizer que esta obra requer de corações necessitados. Precisados
do incrível. O cansaço é, senão, reflexo do óbvio nos dias atuais. Permita-se! Prove! Verta
tantos quantos cálices forem necessários. Só assim a lapidação da alma será melhor
vivida. E vivida, tu te tornas reflexo do incrível.
X
Sugiro que antes, durante depois, o leitor possa buscar um verdadeiro abraço após
as leituras que se seguem. É como a colherzinha que apura o sabor da bebida. Faz toda a
diferença. Um abraço que devolva, que aqueça, que restitua e faça, acima de tudo,
resignificar os retalhos que precisam ser banhados, para que a alma daqueles que viverem
esta experiência das mais delicadas, possam ser novas vestes, odres novos. Abraços.
Devoluções. Sabores. Renovações.
Boa leitura! Que, assim como eu pude experimentar da fonte desse amor, você
possa buscar em meio ás palavras, seu melhor. Dessa forma, seremos incríveis. Não mais
óbvios...

João Henrique Viana
(Alguém que foi devolvido)

XI
Servido
com
Café
A

lguém me disse que olhar-se no espelho da alma é

muito fácil. Ver os reflexos de sua própria personalidade é
coisa simples.
Olhando-a, só pude dizer-lhe:
- Me diga isto após acender a luz!

P

reciso fazer as pazes com o tempo.

E

xpor o outro para esconder-se é como atirar para

cima e esquecer que a bala vai ter que descer.

13
H

á quem queira mudar o mundo. Eu só quero mudar
meu jeito de vê-lo.

R

enunciar ao som do rádio para ouvir o som da alma
é ato de coragem que dá bons frutos.

O

Sr. Ciúme é a Sra. Insegurança travestida de Amor.

Cuide-se, pois quem se traveste também manipula
e sabe controlar.

14
A

gratidão, descobri, é a Sra. Humildade vestida em
trajes de festa.

A

prendo com as ausências a valorizar as presenças.
Ambas me são necessárias.

H

oje foi dia de "re"sentar nas mesas de corações

amigos. Um modo de garantir que minha cadeira ainda
estará ali quando eu quiser voltar. Para mim, isso é viver.

15
Q

uanto mais me aproximo de mim, mais sinto um
perfume parecido com o de Deus.

Q

uando seus fantasmas aparecerem, chame-os para

conversar, sente à mesa com eles e sirva-lhes um café.
Mostre que não precisam ser inimigos.

S

entei à mesa com Deus.

Conversei com Ele muito tempo.
O café foi nossa ampulheta.

16
H

oje eu corri atrás do Sol. Perdi a corrida. Sou um
feliz perdedor!

E

ntão, eu e D. Saudade nos encontramos para mais

um café da tarde. Vamos, enfim, sentarmo-nos e ver
o que trazemos um para o outro.

T

alvez eu ainda me ache muito são para ser poeta.

Alma muito consertada não produz efeitos de um
concerto.
17
E

a D. Saudade chegou em minha casa e já foi logo
comentando:
- Estou vendo que amaram por aqui...

E

xiste conservante para palavras que deveriam ter

sido ditas e não foram? Tenho medo que percam o amor
por ficarem guardadas na espera de ocasião.

D

esculpe as folhas secas. São sinais do descuido,

porta aberta e janelas escancaradas.

18
U

m jardim bem cuidado não comporta lixo de

vizinho. Devolva o que não é seu! Isso não te faz
igual, mas te preserva.

E

scolher o silêncio é ato de coragem. A alma fala
baixo, mas é dura no que diz.

A

simplicidade arcaica deste coração que ama de um

modo tão diferente do meu, me faz ver Deus sorrindo
e dizendo o que é amor, independente do formato e tempo.

19
A

os poucos vou me olhando e lembrando: já passei por
aqui!

I

nvisto sobre mim o dobro do tempo que eu gostaria de

investir para "consertar” os outros. Acredito que dá
mais frutos.

O

processo de vir – a - ser me encanta, renova minhas
energias para começar uma nova jornada.
Poder ser muitos para manter-me um só.
20
C

hega uma hora em que dar o braço a torcer é a

estratégia mais inteligente. Principalmente quando o
oponente é Deus.

S

ra. Expectativa, pode parar de tomar o meu lugar na
fila da serenidade, por favor?

A

saudade é o amor em modo turbo.

21
N

ão me prenda, voarei sempre que for preciso.

Não me esqueça, a saudade me fará voltar sempre que
necessário.

Q

uando o silêncio é apenas a reunião de muitas vozes
decidindo o que irão dizer.

L

er novos textos é fácil. A dificuldade está em ver
novos contextos em textos já lidos.
22
C

riei coragem, encarei a saudade.

Sentamos juntos, olhei em seus olhos e deixei que me
refletissem.
Dei-lhe minhas mãos, frias de receios.
Deixei que ela me conduzisse, me levasse para passear.
Qual foi minha surpresa, levou-me ao meu próprio
quarto.

23
A

manheSendo,

EntardeSendo,
AnoiteSendo.
Não há preferência, desde que eu permaneça sendo.
Ser em qualquer hora.
O sol é quem define meu status, mas sou eu quem sofre sua
ação.
A Lua me define também, noutras horas. Ela, igualmente, não
é tão majoritária, careço de estar sendo, sempre.
EntarDescendo, por vezes é minha condição.
Nestas horas, preciso respeitar o movimento.
EntarDescer faz parte do caminho de estar sendo.
Se não desço, como experimento o subir?
E se estou a descer, decerto já subi, ora essa!
E assim vou segundo, girando, naSendo, a cada ciclo, a cada
passo.

24
Servido
com
Café
A

lguém me disse que olhar-se no espelho da alma é

muito fácil. Ver os reflexos de sua própria personalidade é
coisa simples.
Olhando-a, só pude dizer-lhe:
- Me diga isto após acender a luz!

P

reciso fazer as pazes com o tempo.

E

xpor o outro para esconder-se é como atirar para

cima e esquecer que a bala vai ter que descer.

13
H

á quem queira mudar o mundo. Eu só quero mudar
meu jeito de vê-lo.

R

enunciar ao som do rádio para ouvir o som da alma
é ato de coragem que dá bons frutos.

O

Sr. Ciúme é a Sra. Insegurança travestida de Amor.

Cuide-se, pois quem se traveste também manipula
e sabe controlar.

14
A

gratidão, descobri, é a Sra. Humildade vestida em
trajes de festa.

A

prendo com as ausências a valorizar as presenças.
Ambas me são necessárias.

H

oje foi dia de "re"sentar nas mesas de corações

amigos. Um modo de garantir que minha cadeira ainda
estará ali quando eu quiser voltar. Para mim, isso é viver.

15
Q

uanto mais me aproximo de mim, mais sinto um
perfume parecido com o de Deus.

Q

uando seus fantasmas aparecerem, chame-os para

conversar, sente à mesa com eles e sirva-lhes um café.
Mostre que não precisam ser inimigos.

S

entei à mesa com Deus.

Conversei com Ele muito tempo.
O café foi nossa ampulheta.

16
H

oje eu corri atrás do Sol. Perdi a corrida. Sou um
feliz perdedor!

E

ntão, eu e D. Saudade nos encontramos para mais

um café da tarde. Vamos, enfim, sentarmo-nos e ver
o que trazemos um para o outro.

T

alvez eu ainda me ache muito são para ser poeta.

Alma muito consertada não produz efeitos de um
concerto.
17
E

a D. Saudade chegou em minha casa e já foi logo
comentando:
- Estou vendo que amaram por aqui...

E

xiste conservante para palavras que deveriam ter

sido ditas e não foram? Tenho medo que percam o amor
por ficarem guardadas na espera de ocasião.

D

esculpe as folhas secas. São sinais do descuido,

porta aberta e janelas escancaradas.

18
U

m jardim bem cuidado não comporta lixo de

vizinho. Devolva o que não é seu! Isso não te faz
igual, mas te preserva.

E

scolher o silêncio é ato de coragem. A alma fala
baixo, mas é dura no que diz.

A

simplicidade arcaica deste coração que ama de um

modo tão diferente do meu, me faz ver Deus sorrindo
e dizendo o que é amor, independente do formato e tempo.

19
A

os poucos vou me olhando e lembrando: já passei por
aqui!

I

nvisto sobre mim o dobro do tempo que eu gostaria de

investir para "consertar” os outros. Acredito que dá
mais frutos.

O

processo de vir – a - ser me encanta, renova minhas
energias para começar uma nova jornada.
Poder ser muitos para manter-me um só.
20
C

hega uma hora em que dar o braço a torcer é a

estratégia mais inteligente. Principalmente quando o
oponente é Deus.

S

ra. Expectativa, pode parar de tomar o meu lugar na
fila da serenidade, por favor?

A

saudade é o amor em modo turbo.

21
N

ão me prenda, voarei sempre que for preciso.

Não me esqueça, a saudade me fará voltar sempre que
necessário.

Q

uando o silêncio é apenas a reunião de muitas vozes
decidindo o que irão dizer.

L

er novos textos é fácil. A dificuldade está em ver
novos contextos em textos já lidos.
22
C

riei coragem, encarei a saudade.

Sentamos juntos, olhei em seus olhos e deixei que me
refletissem.
Dei-lhe minhas mãos, frias de receios.
Deixei que ela me conduzisse, me levasse para passear.
Qual foi minha surpresa, levou-me ao meu próprio
quarto.

23
A

manheSendo,

EntardeSendo,
AnoiteSendo.
Não há preferência, desde que eu permaneça sendo.
Ser em qualquer hora.
O sol é quem define meu status, mas sou eu quem sofre sua
ação.
A Lua me define também, noutras horas. Ela, igualmente, não
é tão majoritária, careço de estar sendo, sempre.
EntarDescendo, por vezes é minha condição.
Nestas horas, preciso respeitar o movimento.
EntarDescer faz parte do caminho de estar sendo.
Se não desço, como experimento o subir?
E se estou a descer, decerto já subi, ora essa!
E assim vou segundo, girando, naSendo, a cada ciclo, a cada
passo.

24
Servido
com
Vinho
M

e contento em ser humano.

Ser Divino, deixo para o Ressuscitado ser em mim.

C

oração do homem é terra que ninguém anda, mas onde
Deus mora.

N

os braços da Mãe descubro como ser pai. E sendo

filho sou mais pai, e sendo pai agrado o Filho.
Sorrindo o Filho, sorri a Mãe que me faz filho.

26
E

quando encontro uma muralha que limita, nela
encontro um bilhete escrito à mão:

“Te espero do outro lado! Te amando, Pai.”

C

oração machucado, antes de deixar de amar, para de se
deixar amar. Eis um problema.

Q

uem vive buscando o nome "Deus" em todas as coisas,

já pode ter caminhado ao Seu lado, sentado com
Ele no ônibus, puxado Sua orelha e não percebeu.

27
N

ão basta Jesus abrir as portas da Misericórdia

nesta hora. Quero comungá-lo. E ser
comungado.

H
S

oje adorei a Deus em um homem de meia idade.

aí de casa para visitar uma comunidade de vida.

Voltei sendo visitado pelo Autor da vida.
Encontro desconcertante.

28
Q

uando minha alma adora a Deus na vida de um

semelhante e se dobra diante de Sua grandeza.

Q

uando o frio de Curitiba não é nada diante do calor
afetivo que me embala.

Q

uando penso nisso tudo, sinto minha alma se inclinar

diante de Deus. Como quem se dobra diante do
imprevisível, perante o Todo Possível.

29
Q

uando o meu melhor e meu pior sentam na mesma

mesa, preciso decidir quem vai servir a refeição.

Q

uando o Cristo entra pela porta entreaberta e abre os

ferrolhos enferrujados com a facilidade de ser uma
casa nova. Sendo que esta é velha.

A

eternidade me assustaria se eu não a percebesse na
deliciosa dinâmica do cotidiano.

30
A

inda que eu procurasse por todo o mundo, nunca

encontraria um amor igual ao Teu, Senhor.

A

Saudade sentada à minha mesa... Encaro-a de

longe, não sei ainda como saudá-la. Vou aprender.

N

este mês eu e a saudade nos baqueteamos várias

vezes. Eu, servi-lhe à mesa. Ela, serviu-me de si
mesma.

31
Á

s vezes me pergunto se Jesus teria assumido a cruz

se não tivesse, antes, chorado por Lázaro.

O

mais belo de ver as confirmações de Deus na vocação

é saber que Ele não me cobra nada, mas eleva-me em gratidão!

S

alve domingo! Feliz dia em que minha alma é

Comungada por Aquele que se faz comunhão!

32
C

omo definir o dia de hoje?

"Beber da fonte na qual me derramo"...
Acho que é uma boa tentativa!

P

ermitir ao outro o artifício da dúvida salva minha
alma dos grilhões do falso testemunho.

O

Deus que tudo controla me permite nada controlar.
No compasso deste movimento aprendo do
Divino, enquanto experimento do humano.

33
M

e pergunto o que faz alguém achar que caridade
cristã é se submeter a indignidades.

U

semos o Evangelho de Cristo para assumir quem

somos. Ele não pode ser justificativa para nossa
covardia diante das situações da vida.

A

manhã não quero precisar doer de novo uma dor já

doída, por não ter aprendido quando deveria.

34
E

nquanto tempo tiver, viverei.
Amarei.

Até que as últimas badaladas do meu coração sinalizem o fim
dos amores.
Quero sentir as dores de amar, enquanto a dor for em mim
resquícios de vida.
Quero viver até que o reluzir da visão me diga o que vejo.
E quando nada mais restar, quero amar.
Amar a morte.

35
H

á momentos em que me canso do que está diante dos
olhos.
Vejo, e o atraente já não me é mais.
Careço da quebra de conceitos.
Careço da contramão.
Careço da falta de cerimônia.
O comum já me é desinteressante.
Careço do avesso.

Careço do que transforma água em vinho, desfazendo seus
próprios preceitos.
Careço do que vem pedir que os ricos enriqueçam os pobres.
Careço do que vem sugerir aos doentes que se façam sãos.
Careço do que muda de caminho. Que escolhe o pior lugar para
passar.
Careço do contrário.
Careço do desarme.
36
Careço do desajeito.
Careço do desconcerto.
Careço do rei pobre.
Careço do Deus homem.
Careço do santo gente.
Careço do sério riso.
Careço da tradição nova.
Careço de mim de novo.
Do passado presente.
Do futuro ausente.
Do choro sorrindo.
Do riso chorado.
Careço de mim, ido e voltado.
Sendo e não sendo.
Feito e desfeito.
Perdido e achado.
Careço de Cristo, o Deus imolado
De amor ofertado aos seus libertados.

37
Servido
com
Champagne
A

caminho do trabalho mantive o vidro da janela do

carro aberto para que a chuva molhasse minha pele.
Autorizei à chuva molhar-me o corpo, como outrora
autorizei a lágrima a banhar-me a alma.
A chuva vem do céu lá de cima.
A lágrima veio do céu aqui de dentro.

P

orque há momentos em que o mundo poderia mudar.

Mas há outros tempos em que bastaria que eu
mudasse.

Q

uando um coração encontra eco em um espaço que

reflete o seu, aí tem Deus tomando conta.
39
H

á seres humanos que me ensinam muito. Fazem-me

valorizar as pessoas que já tenho ao meu lado.

E

quando tudo o que me sobrar forem as cinzas,

que me reste a ousadia de jogá-las ao vento para me
encantar com a leveza de seu movimento.

O

s encontros e os desencontros me fazem pensar: este

meu coração deve ser algo parecido com rodoviária,
porto ou aeroporto. Será?!

40
O

s sonhos me fazem ver o que os olhos não conseguem
mais.

C

aminhando pelas calçadas de mim mesmo, deparei-me

com meu coração. Fiz questão de anotar novamente
seu endereço e telefone.

A

lgumas pessoas passam pela minha vida e despertam
em mim o medo da morte. Medo que estas

pessoas morram e eu não consiga aprender delas o que
têm para me ensinar.

41
E

star só significa dar a mim mesmo a oportunidade
de estar comigo. E como isso é raro!

O

que fiz com as ripas que arrancaram de minhas
paredes? Balanços e gangorras!

I

mpressionante como a poesia alcança a alma humana.

É uma forma de ver-se contemplada na escrita
de outra alma que, enferma como estava, soube colher suas
lágrimas e regar os jardins ressequidos.

42
P

reciso da poesia de outros "loucos" para me reconhecer
um tanto menos "são".

Q

uando careço de definições, busco nos rastros que

deixei. Dizem mais de mim do que eu mesmo sei falar.

H

á momentos em que as companhias em minha mesa

precisam ser meus próprios afetos. Olho-os se alimentando,
espero suas opiniões.

43
É

bom olhar a parede da memória e notar que nela

penduram-se vários quadros com fotografias.
A cada um dou um nome, de cada um tenho fome.

V

ou construindo um castelo à prova de invasões e
ciladas, as minhas próprias.
O caminho para a construção?

Pessoalmente visitar cada esgoto e verificar cada
rachadura.

S

e um amigo é metade da alma...

Já nem sei em quantas metades estou dividido!
44
Servido
com
Chocolate
Quente
A

nsioso pra dormir!

Se quero descansar?
Não apenas.
Minha ânsia é ver os recados ilustrados que o
inconsciente tem pra me dar, diante dos acessos
conscientes que lhe dei. Uma comunicação que dá certo
quando não se tem medo do que pode encontrar.

E

nquanto olhava as estrelas...

- É a coisa mais linda que Deus fez, depois do ser
humano.
- Ele escolheu bem onde se esconder.
- Onde se mostrar.
- Se mostrar, de um modo que se escondesse.
46
A

saudade em meu coração é como alguém que

chegou cedo na escola e reservou sua carteira com os
livros.

O

ruim de contrair novas amizades é que isto implica

desconstruir afetos já estáticos. O pior ainda é que
este processo não é indolor. Porém, o melhor de tudo
é que as novas tornam-se antigas e eternas.

Q

uem quer manter o lugar na mesa dos corações

amigos, precisa cuidar de sentar-se vez ou outra.

47
P

or vezes sou pontuado quando esperava vírgula.

Coloco vírgula e ganho um ponto sobre ela.
Minhas reticências são transformadas em outro
parágrafo.
Interrogações ganham exclamações. Meus dois pontos sempre
ganham um travessão.
Nesta produção, sou rascunho e tenho um Autor a me orientar.
Seu cuidado e sabedoria me fazem constranger.
Não poucas vezes tenho quebrado pontas com minha
intolerância.
Escrever é ato demorado.
Minha pressa estraga a obra.
Com gratidão, descubro que não estou sozinho.

48
U

m abraço sincero – carregado de carinho – pode unir

de tal modo duas almas, que mesmo durante
muito tempo a experiência as alimentará deste afeto.

O

lá Sra Lua! É um prazer ver-te sorridente para o
mundo. Ensina-o que, mesmo na
escuridão, é possível sorrir.
Grato, um aprendiz!

L

indo olhar a lua sorrindo pra mim.

49
N

ada para dizer.

Deixar que a ausência de palavras seja diálogo.
Dos mais abertos e sinceros.

Q

uando o olhar grita o que a alma diz, mas a palavra

não sabe definir, que um outro olhar exista para
conter e devolver. E cresçamos!

P

resenteado pela visão de uma estrela cadente.

Alcançado pelo desejo de um coração ascendente.

50
O

lho para trás e vejo pegadas. Começaram pequeninas,
meio inseguras pisoteavam um espaço que
parecia não ser seu.

Noto que foram crescendo, parecem ter adquirido firmeza, já
percebo que pisam.
Há pegadas variadas em seu entorno, não vejo que caminha
só.
Vislumbro com alegria as pegadas que há pouco deixei.
São um par, passos de alma e corpo, são proporcionais à
sombra que as antecede, demonstram segurança, não apenas
pisam, mas sustentam.
Foi em um ano.
Olho para frente e digo: não há pegadas ainda, é preciso
continuar.
51
C

ontrair uma nova amizade é permitir que se forje em
mim uma nova janela. Através dela posso
contemplar outro horizonte.

M

e vou indo para o remanso dos meus sonhos. Nele,
talvez encontre repouso. Ou encontre
recados.

S

onho dormindo e sonho acordado. Os dormindo sempre
me parecem mais reais. Os acordados,
vou realizando enquanto vivo.

52
A

doro ser surpreendido pelo Deus que se deixa adorar
na simplicidade de um coração sincero.

O

s barulhos de dentro da casa, só consigo ouvir quando
para a chuva e acalma o vento fora.

D

eixei anoitecer em mim...

E, na santa missa, cedi, perdi, desci, caí...
Olhei nos olhos do Vencedor e me rendi.

53
Servido
com
Água
Tônica
H

á canções que falam mais de quem canta do que os

jornais! São gritos de socorro cantados. Talvez ninguém os
tenha ouvido.

É

preciso temer que a exposição da comunicação
afaste do escondimento da oração.

V

ocê não sabe o que fazer para agradar?

Ser você mesmo deveria ser o suficiente.
Não acha?

55
A
A

sociedade agradece por você ser você mesmo.

inspiração é como um canto de bem-te-vi.

Nem sempre sei de onde vem, entendo o que me diz, mas logo
vai-se embora.
Por isso escrevo!

J

á experimentou pesar suas palavras? Elas podem

estar pesando mais do que você possa aguentar. Por isso,
pense!

56
Q

uem vive de olhar atravessado corre o risco de ser
atropelado.

U

ma verdade certa dita de um jeito errado é como

sementes para solo fértil, lançada em terras secas. Brotará?

V

ale lembrar que um olhar apressado costuma dar
vertigem.

57
N

ão sei em qual bíblia a palavra "honrar" pode ser

traduzida como "aguentar desaforo, desrespeito ou arrogância".
Só sei que na minha não está!

P

or que as pessoas apelam para clichês? O não dizer
seria muito mais autêntico.

R

econheço que estou no limite quando preciso de duas

doses de boa vontade para manter a mesma medida de bom
humor.

58
À

s vezes fujo da escrita... Como se esta fosse me
desvelar.

U

ma boa dose de saudade, me parece, cura rancor e
desfaz mágoas.

Felizes os que tomam deste santo remédio.

M

e descubro muito nos olhares que me rodeiam. E

muitos deles, infelizmente, se perdem.

59
À

s vezes chego a acreditar que a maturidade é

inversamente proporcional a idade.

N

ão sei se perdi a chave que abria ou se a fechadura
é que estava enferrujada.

O

grito lançado sobre o homem só ecoa se encontrar

vazio. A alma cheia de Deus não ecoa um grito dado sem
respeito.

60
C

ontrolar o opinião do outro tem sido um desafio? E

controlar sua própria opinião, como tem sido?

O
S

silêncio custa caro. Só aceita moedas da alma.

e os gritos das culpas te ensurdecem, o toque da
misericórdia os emudece.

61
O

que mais vale?

Uma facilidade acomodada, ou uma dificuldade passível de
superações?

O

s limites me dizem que ainda preciso pra ser um pouco
mais... Eu.

A

sinceridade é como uma faquinha de cozinha. É

preciso discernimento pra não sair cortando os pulsos. Aos
"super sinceros" de plantão!

62
Servido
com
Água
de coco
E

u me atualizo a cada dia.

Reaprendo novas formas de ser eu mesmo.
Como o mar renova seu sal, o céu renova o meu eu.

O

lha alma, façamos um trato: sossegue teus ânimos,

pois, na calmaria das ondas se vê melhor o fundo do mar!

À

s vezes sinto falta de escrever do mesmo modo que
sinto sede da água.

À

s vezes faço coisas sem pensar. Noutras vezes penso

coisas que não faço. Outrora, porém, penso e faço. E assim vou
vivendo.
64
Á

s vezes até tento ser diferente de mim mesmo, não
sei... Não consigo mais.

Cedo à brilhante ideia de ser quem eu realmente sou, e ao final,
estou em paz!

G

astar tempo mudando o Mundo? Ganho tempo

mudando meu mundo! O meu mundo muda o Mundo! Faça-se!

C

horarei o quanto for preciso, pois, quando o sol chegar,

precisarei das lágrimas para compor o arco-íris.

65
Servido
com

Ice
Tea
O

lhei para mesma janela de sempre e, de repente,
percebi o verde mais verde.

T
H

em coisas que não sei dizer. Só sei sentir.

á espaços em mim que já deixei de habitá-los faz
tempo.

Preciso retomar o que outrora abandonei.
Preparar o exército para a guerra e reaver os territórios que
hoje parecem hostis.

67
Q

uando a gente pensa no que dizer e só pensa em: (...).

H

á seres humanos que nos autenticam, há os que nos
falsificam.
Com os quais tens se encontrado?
E qual tens sido?

P

erguntaram que sou eu: uma alma em gerúndio respondi sem medo.

68
O

que me incomoda no homem é o que locomove em
mim.

N

em sempre o que escrevo fala de mim, pode falar de
você, enquanto você me procura.

P

or ser quem sou pago o preço de alguns descontentes,
enquanto muitos contentes.

69
N

o compasso de ser humano, nas carências me faço
inteiro.

C

adeira que fica muito tempo vazia na mesa, acaba se

tornando porta papel. E se demorar muito, pode acabar saindo
da mesa e indo tornar-se cômoda em algum outro lugar.

70
Servido
com
Refrigerante
R

ecorte da conversa das minhas vizinhas de ônibus:

“Os jovens hoje são mais autênticos. Não ficam engolindo e se
escondendo. Eles são mais verdadeiros."

E

nquanto não consigo "palavrear" o que sinto, vou
sentindo o que outrora "palavreei".

R

eciprocidade... Salvaria muitos corações da solidão.

72
T

enho descoberto nestes dias

Que Deus me deu uma chave para abrir-me
Sabendo da minha displicência
Que facilmente eu a perderia
Ele cuidou de distribuir mais algumas cópias
Aos possuidores destas cópias
Ele resolveu nomear: amigos
Sabendo do quanto eu os desvalorizaria
Na correria do dia-a-dia
Cuidou também de mantê-los em segredo
Na esperteza de seu cuidado
Me deixou na responsabilidade da busca
Quando perco a chave que me abre
Sei que alguém virá e me fará
Entrar no espaço do qual tenho fugido
Com a mesma maestria que eu o faria
Só que agora, entro em companhia.
73
C

oração não sabe o que sente, e o que sente não sabe o
que diz pra gente.

D

ividir, na matemática, é fragmentar. Mas para a
alma é libertar.

A

cada dia vou descobrindo um jeito de estar "junto"
sem estar perto.

Q

ual mergulhador encontra pérolas e as devolve para a
ostra? Meus amigos fazem isso!

74
P

ago caro por comidas que me saciam a fome, mas o

que encontro são olhares que me saciam a alma. Estes, não têm
preço.

N

ão posso escolher entre ser ferido ou não. Mas

preciso ter gana pra escolher não ferir.

E

por deixar um pouco de mim em cada amigo,

preciso cuidar de mantê-los perto. Amizade exige empenho.

75
Servido
com
Sucos
A

lmoçar sozinho me faz valorizar o prazer de um

olhar se alimentando, e me alimentando.

I

magine comigo uma criança levando uma bandeja
para a mesa, tentando ajudar os pais.

Desastrada, ela vai andando e derrubando um pouco do que
carrega. Sorrindo, o pai vem atrás juntando o que caiu e,
sorrindo, diz:
- Parabéns! Foi ótimo! Me ajuda com o resto?
Vejo-me assim com Deus!

Q

uando aprendi a conviver comigo mesmo, descobri que
a solidão é só um medo.
77
N

o meio de

uma situação bonita me pediram:
- Escreve sobre isso!
Respondi no impulso:
- Deixa que me fecunde primeiro.

A

cabei de receber um abraço de Deus em uma criança

de 8 anos. E O adorei neste abraço que ainda não teve fim, não
em mim.

U

m dia me disseram para não dar asas à imaginação.
Sabe o que faço hoje?

Além de dar asas, peço a ela que me carregue consigo.

78
E

quando olho pra fora, vejo vida também. Minhas

paredes são altas, meus sonhos também. Sinto frio aqui fora e
aqui dentro também.

O

que mais sinto falta na hora das refeições? Um par
de olhos a me alimentar.

N

em sempre encontro a sintonia. Mas não desisto de
girar o coração.
Ainda que chiando, vivo!

79
A

penas na gramática existe um "passado perfeito".

H

á olhares que falam tão claramente. Chegam a
dispensar o artifício da linguagem.

Q

uando eu não puder enxergar o que há de bom, que eu

cerre meus olhos, e sinta apenas. O melhor há de se mostrar.

80
osfácio
Fazia já certo tempo que esse movimento me incomodava. Era como um amor que
reclamava ser amado. As palavras que nascem aqui não são de avaliação, mas puramente
de admiração e contemplação de uma alma que sabe ver a si mesma, mas não só, sabe fazer
ver, quase como óculos que corrige o que a visão não alcança ou simplesmente como um
espelho que se deixa usar para refletir. Digo isso porque muitas vezes usei esses óculos
para ver com mais perfeição e outras tantas vezes me vi refletido. Diante do convite de
escrever esse posfácio me senti lisonjeado. É uma honra escrever essas palavras que não
são de forma alguma conclusivas, gostaria que elas fossem inclusivas, que ajudassem a
adentrar mais profundamente nas palavras destas poesias, que a meu ver, são verdadeiras
confissões.
Aqui os óculos e o espelho são a poesia. Por meio da poesia o Autor se mostra, se
apresenta e se confessa. São confissões de uma alma cheia de Deus, mas não de um Deus
transcendente, totalmente Outro, mas de um Deus presente, que verdadeiramente
podemos chamar de Emanuel, pois “está conosco”. São confissões de uma alma que sente
essa Presença em cada momento presente, no que faz, no que pensa, no que sonha, nas
relações que estabelece, nas expectativas, nos sentimentos, enfim, um Deus se revela com
tanta misericórdia que é capaz de acompanhar e guiar para que como o próprio Autor se
expressa na epígrafe, este “ensaio de mim, entre erros e acertos, o que fica é o que é, o que
foi tornar-se-á EU” vá sendo construído, corrigido, diagramado, publicado para ser
apresentado, mas não de qualquer maneira, como uma “obra prima”.
O título de cada capítulo deste livro é incomum, porém está completamente
possuído de um simbolismo tão humano que facilmente pode ser intuído para dar sentido e
significar tantas situações da vida cotidiana. Quem convidaria a “D. Saudade” para
tomar um café? Ou que “alma se sente comungada por Aquele que faz comunhão?” Ou
quem tem a coragem de mirar sua história, “os rastros que deixei” como livro de si? Ou
LXXXI
quem valoriza a delicadeza de um olhar intenso como possibilidade de entrar no outro e
com igual potencialidade de entrar em si mesmo? Só uma alma contemplativa que sabe
não estar sozinha neste mundo pode confessar-se assim. As bebidas que titulam cada
capitulo deste livro fazem parte da nossa vida nos momentos cotidianos e extraordinários,
nos dias de frio e de calor, nos dias de festa e de luto, nos dias de solidão e de agradável
companhia. São simbólicas, são sacramentais porque nos transportam e nos elevam,
porque transfiguram de sentido o vivido.
Espero que a leitura deste livro tenha provocado movimentos interiores em você
leitor. Creio que é um objetivo fantástico: lê-lo para ler-se e viver a vida em “gerúndio”.
Sinto-me lisonjeado de participar deste livro! Obrigado!
Pe. Paulo H. O. Rocha, F.N.

LXXXII

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Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

  • 1. Edgar Nogueira Lima De almas postas
  • 2. Ensaio de mim Entre erros e acertos O que fica, é o que é O que foi, tornar-se-á Eu.
  • 3. Café.......................................12 Vinho.................................... 25 Champagne........................... 38 Chocolate Quente................. 45 Água tônica.......................... 54 Água de coco......................... 63 Ice Tea................................. 66 Refrigerante......................... 71 Sucos.................................... 76
  • 4. presentação Aceita uma bebida? É com imenso prazer que estas palavras chegam ao seu olhar. Anseio também que cheguem ao seu coração. Ofereço-lhe bebida, pois as páginas deste livro não têm pressa de serem lidas. Elas são como o café, o chá, ou a bebida que mais lhe for do agrado. Carecem de ser degustadas. Encanta-me o hábito dos apreciadores de vinho, que apreciam o aroma da bebida antes de degustá-la. Convido-lhe a fazer igual. Eu mesmo o fiz durante o processo de escrita. Deixei que as palavras me alcançassem todos os sentidos, ao seu tempo, para então, registrá-las no papel. A proposta deste livro é compartilhar um pouco da minha vida em pequenas doses. A vida durante o ano de dois mil e doze. Não foi a intenção inicial, mas, ao pedido de alguns que dizem ter interesse no que escrevo – fato que precisei me acostumar, pois nem eu cria no interessante de mim mesmo – resolvi colher e registrar aqui. Fui colhendo pequenos escritos e colecionando, fui compartilhando com uns e outros e verificando os efeitos que poderiam causar na vida dos que liam. Eu mesmo os reli em algumas ocasiões e experimentei dos efeitos que podem causar. Motivado por tudo isto, resolvi colecioná-los e dá-los de presente. Utilizei-me de papel para tal, um modo mais convencional de compartilhar minha alma - algo nada convencional. O título explicita a realidade de pôr à mesa a própria alma. Quando sentamos à mesa, sempre há mais do que comida e bebida sobre ela. Há vidas dos que se dispõem a dividir o tempo, o olhar, a companhia. Estar de almas postas é um compromisso que assumo ao produzir este livro. Me ponho e exponho, na expectativa de que ponhas tua alma nas palavras que vais encontrar. III
  • 5. Espero, portanto, que ao lê-las você perceba que há um contexto por trás de cada palavra. No entanto, não gaste tempo me procurando nelas. Busque-se! A delícia da poesia é despertar em você efeitos diferentes do que produziu em mim. Meu paladar é diferente do seu, e as bebidas que experimentamos trazem conotações diferentes, embora sejam as mesmas. Lance mão do lúdico, do simbólico. Eles dão mais cores às cenas aqui escritas. Por fim, agradeço-lhe a companhia. Sempre que tomar este livro em mãos, sinta-se sentando à mesa, com um lindo pôr do sol à sua frente, uma bebida agradável e uma companhia salutar. Eu e você comungaremos sempre, em qualquer lugar em que este livro venha a ser degustado. Boa leitura! Edgar Nogueira Lima IV
  • 6. refácio Quando convidada para redigir este prefácio tive a impressão de que nenhuma palavra que escrevesse nestas páginas estaria à altura da grandiosidade da obra. Abrir as cortinas dos registros que seguem, demanda uma responsabilidade que, a princípio, provocou-me vários receios. Contudo, entre dúvidas e desconcertos, escolhi amparar-me nas certezas que confirmaram minha presença e nas verdades de uma história que também é a minha história. A honra em compartilhar da construção desse livro não se reduz a assinar meu nome após um pequeno texto. O privilégio habita, sim, na gratidão por ter compartilhado da vida que produziu os versos contidos aqui, por ter contemplado a experiência em seu ato e degustado cada capítulo ainda quando os sabores não estavam definidos. Em ter admirado a junção das palavras enquanto ainda eram letras dispersas de um mundo não tão consciente, por vê-las sendo traduzidas em vida, que geram mais vida quando divididas com outras vidas. Se me fosse dada a tarefa de adjetivar o autor, sem dúvidas usaria tantas páginas quanto as que o livro possui. Entretanto, tal necessidade se dissolve, uma vez que ele mesmo, o autor, o fez, dando-se em retalhos para aqueles que puderem saborear da sua experiência ao traduzi-la em poesia. Devo advertir que encontrá-lo, muitas vezes, será sinônimo de encontrar a si mesmo, deparar-se com a própria imagem refletida nas páginas enquanto vê sua história sendo contada nos versos. Aos que duvidam, sugiro não perder a oportunidade de experimentar. Lanço o convite para adentrarem este espaço. Sinto-me como que na portaria, desejando boas vindas. O formato Sumário - Menu foi escolhido porque o conteúdo deste livro não foi preparado apenas para ser lido, mas para ser saboreado. Recebê-lo apenas V
  • 7. com o olhar, portanto, limitaria o deleite completo das bebidas oferecidas. Aconselho, inclusive, quem em algumas ocasiões os olhos se fechem, para que seja possível enxergar aquilo que só o coração pode ver. Asseguro que os ingredientes de cada receita, listados no decorrer dos capítulos foram forjados na vida de quem aprendeu abrir as portas da alma. Alguém que, mesmo diante de muitas surpresas, riscos ou fragilidades, não teve medo de fazer parte do próprio mundo, e mais, de transformá-lo. E no processo de se assumir humano, de ser gente e ser sujeito a outros sujeitos e à realidade onde a vida se desenha, viu se delinear os caminhos escolhidos, desbravou os caminhos escondidos e descobriu que as estrelas do próprio céu poderiam iluminar noites alheias. Deste cardápio, há, na composição das bebidas, um teor elevado de amor, doses altíssimas de acolhimento e diversas diluições em sinceridade. Para comprazer-se do sabor contido em cada bebida e desfrutar das substâncias dissolvidas em sua fórmula, recomendo atenção aos detalhes deste encontro. Reconheça o gosto de cada palavra e inspire o perfume que a mistura de subjetividades pode originar. E o paladar, que seja o paladar da fantasia a provar cada sabor, e assim dar energia para que as asas da imaginação alcem voos mais altos, ou mergulhos mais profundos. Ao experimentar cada bebida perceberá que cada uma possui aspectos peculiares aos sentimentos que remetem. Perceba as sensações de frio, aconchego, calor, tonicidade, a precipitação, o adocicado, a energia e tudo aquilo que sua alma for capaz de absorver. Faça seu pedido, escolha o que deseja para saciar sua sede, sua expectativa, ou, enfim, seu coração. O tradicionalismo do Café exala o aroma forte da bebida que há muito tempo acompanha essa história. Repleto de percepções e significados, o primeiro capítulo simboliza sentimentos intensos que são produto dos grãos de vida torrados e moídos. Naturalmente amargo e forte, a forma de preparo do café e os ingredientes a serem acrescentados modificam a aparência e o gosto, mas não são capazes de ocultar sua VI
  • 8. essência. Igualmente, as emoções misturadas também foram se ilustrando nas palavras de encontros vividos no mundo do lado de dentro. Por vezes o café esteve servido no contraste do leite, outras vezes, apenas adoçado. Em ocasiões mais nobres vestiu-se de capuchino, embelezado com chantili e canela. Em dias especiais esteve dentro de uma xícara pequenina, atento ao calor das mãos que seguravam outra xícara na extremidade oposta da mesa. Por fim, o café se apresenta ao nos apresentar, entre seus efeitos destacase a energia da cafeína, o cheiro que invade a cozinha e a satisfação do paladar. Ainda mais histórico e tradicional que o café, o Vinho plantou sua história há muitos e muitos séculos. Embebido de uma linguagem direta, o segundo capítulo fermenta os pensamentos que traduziram a presença daqu‟Ele que ocupa o lugar de maior destaque, a figura central do ser Pai: Deus. Degustar dos poemas selecionados pelo vinho é para quem deseja sentar-se à mesa e partilhar da companhia e do movimento que o Espírito do Criador promove. O coração do autor transparece o reflexo do Autor da Vida, tingido pelo vinho nas cores do amor e da misericórdia, sua experiência indica caminhos para aproximar-se de Deus. Remonta a importância do ser filho, contida na grandeza de ser Pai. Bebida de reis e rainhas e símbolo universal da comemoração, o Champagne oferecido no capítulo três recorda o gosto da amizade. A espuma confere às palavras o sabor do encontro, uma vez que para abrir uma garrafa de champagne é quase um prérequisito a companhia com quem brindar. Todavia, o encontro não se refere unicamente aquele que acontece entre o eu e o outro, mas, principalmente, aquele vivido pelo eu consigo mesmo. Ser companhia a si mesmo é um desafio superado na convivência, que merece ser brindado sempre que a vida permitir. Tanto quanto uma xícara de Chocolate Quente aquece o corpo em um dia frio, o quarto capítulo faz o coração recordar dos abraços que o envolveram em calor e amor. As frases são impulso para o aconchego, a doçura que liga palavra com palavra devolve o VII
  • 9. gosto da infância, a pureza dos sonhos e a necessidade do sono, de dormir no colo, de ser acolhido e sentir-se amado. Reavivando as emoções, o quinto capítulo traz um copo de Água Tônica, energizando e potencializando o significado do que foi experimentado. O vigor dos poemas brota nos versos incisivos e atravessa pensamentos outrora estagnados. A leitura gaseificada pelos paradoxos expostos faz pensar, repensar, rever, desconstruir, reconstruir. Tonifica o que continua sendo certeza e dissolve o que nunca foi tão certo assim. Na combinação entre céu e mar surge o capítulo seis. O rapaz da barraquinha anuncia “Água de Coco! Olha água de coco!”. O sabor doce do mar guardado dentro da fruta verde com casca resistente é poetizado no movimento. Sede saciada pela agitação das ondas tanto em dias de tempestade como em momentos de calmaria. O mar nunca para, está sempre fazendo devoluções para a praia, remontando na areia o que um dia foi nele lançado e reunindo, ainda, o que as correntes marítimas podem trazer do fundo do oceano. Tomar dessa água de coco é um convite a não só ver o mar, mas a ser mar. Viver a incontinência e expandir os territórios dentro de si, recolher o que retorna às suas margens e acolher o que vem das profundezas da sua intimidade. Refrescando as formas de agir no mundo, uma mistura saudável preparada a partir de infusões de vida e possibilidades, o Ice Tea é servido no sétimo capítulo. A versão moderna do clássico chá vem permitir que novas possibilidades sejam saboreadas, olhar pelas mesmas janelas e encontrar um horizonte diferente. Bem como o preparo básico do chá quente e gelado é o mesmo, os versos deste capítulo refletem sobre como as receitas escolhidas para servir a vida vão diferenciar seu sabor. Uma das bebidas mais consumidas, o Refrigerante traz a energia e atualidade do capítulo oito. A coletânea de poemas confere vivacidade aos momentos de amizade degustados em todo momento da vida. Fonte de energia e sustento, a essência do capítulo refrigerante é amizade concentrada e manifestada em presença, reciprocidade, VIII
  • 10. companheirismo, proximidade, cumplicidade e tudo aquilo que já experimentamos com as pessoas que um dia dividiram conosco uma latinha de „refri‟. Encerrando o Menu, os Sucos do capítulo nove são variedade e fidelidade ao que representam. Das as bebidas servidas, os sucos retratam o coração simples e acessível do autor. Na simplicidade com que foram preparados, os sucos elevam o grau de nobreza da obra inteira. A receita encerra o livro conferindo originalidade não apenas a este capítulo, mas autenticando a singularidade de todos os anteriores. Abram as portas e descortinem o palco! É com grande honra que vos apresento a concretização de um sonho que também foi meu, o sabor da poesia que brotou de uma alma cujo valor é, para mim, inestimável. Que os versos não apenas alcancem o vosso coração, mas que sejam continuados dentro dele. Escolha sua mesa, chegou a hora de degustar os sabores da vida emoldurada nas páginas deste livro. Com muito amor, Fernanda Giasson IX
  • 11. ntrodução Os fins de tarde sempre me reservam gratas surpresas. De forma bem pontual, uma desponta em minhas lembranças quando começo essas tímidas linhas: o convite de um grande Amigo. Não sei o que defino agora. Se o convite ou o grande Amigo. Nem sei se quero, na verdade, porém, acho que minh‟alma torna-se feliz em ter a oportunidade de escrever-vos. Seja para você que me lê agora, seja para o autor do livro ou para a Flor que espera no alto da colina, o Rei e a Rainha despontarem no horizonte, servida de um bom café e observando a borboleta que rodopia. Devaneios? Utopia? Não. Vida! A sensação é essa: Vida! E é dela que vou falar. Folhear esses livros dá ao leitor a sensação (ou as sensações) de que o frescor da bebida que acalma e por vezes aquece, nos mostra a condição de estarmos vivos. Sendo assim, não há como permanecer inerte diante de palavras tão certeiras. Como um suco que foi adoçado no ponto ou aquele café do lanche da tarde que nos faz viajar no tempo e lembrar-se de quando crianças, éramos presenteados com o bucolismo e, porque não dizer, o romantismo daquele cafezinho diário. Realidades. Seria óbvio que o nome do livro fosse alinhado ao seu conteúdo e vice-versa. Mas o autor prefere escrever do incrível. De detalhes que só as almas mais apuradas (leia-se: lapidadas), podem perceber e encantar-se diante de tanta riqueza literária expressa nessa obra. Adianto-me até em dizer que esta obra requer de corações necessitados. Precisados do incrível. O cansaço é, senão, reflexo do óbvio nos dias atuais. Permita-se! Prove! Verta tantos quantos cálices forem necessários. Só assim a lapidação da alma será melhor vivida. E vivida, tu te tornas reflexo do incrível. X
  • 12. Sugiro que antes, durante depois, o leitor possa buscar um verdadeiro abraço após as leituras que se seguem. É como a colherzinha que apura o sabor da bebida. Faz toda a diferença. Um abraço que devolva, que aqueça, que restitua e faça, acima de tudo, resignificar os retalhos que precisam ser banhados, para que a alma daqueles que viverem esta experiência das mais delicadas, possam ser novas vestes, odres novos. Abraços. Devoluções. Sabores. Renovações. Boa leitura! Que, assim como eu pude experimentar da fonte desse amor, você possa buscar em meio ás palavras, seu melhor. Dessa forma, seremos incríveis. Não mais óbvios... João Henrique Viana (Alguém que foi devolvido) XI
  • 14. A lguém me disse que olhar-se no espelho da alma é muito fácil. Ver os reflexos de sua própria personalidade é coisa simples. Olhando-a, só pude dizer-lhe: - Me diga isto após acender a luz! P reciso fazer as pazes com o tempo. E xpor o outro para esconder-se é como atirar para cima e esquecer que a bala vai ter que descer. 13
  • 15. H á quem queira mudar o mundo. Eu só quero mudar meu jeito de vê-lo. R enunciar ao som do rádio para ouvir o som da alma é ato de coragem que dá bons frutos. O Sr. Ciúme é a Sra. Insegurança travestida de Amor. Cuide-se, pois quem se traveste também manipula e sabe controlar. 14
  • 16. A gratidão, descobri, é a Sra. Humildade vestida em trajes de festa. A prendo com as ausências a valorizar as presenças. Ambas me são necessárias. H oje foi dia de "re"sentar nas mesas de corações amigos. Um modo de garantir que minha cadeira ainda estará ali quando eu quiser voltar. Para mim, isso é viver. 15
  • 17. Q uanto mais me aproximo de mim, mais sinto um perfume parecido com o de Deus. Q uando seus fantasmas aparecerem, chame-os para conversar, sente à mesa com eles e sirva-lhes um café. Mostre que não precisam ser inimigos. S entei à mesa com Deus. Conversei com Ele muito tempo. O café foi nossa ampulheta. 16
  • 18. H oje eu corri atrás do Sol. Perdi a corrida. Sou um feliz perdedor! E ntão, eu e D. Saudade nos encontramos para mais um café da tarde. Vamos, enfim, sentarmo-nos e ver o que trazemos um para o outro. T alvez eu ainda me ache muito são para ser poeta. Alma muito consertada não produz efeitos de um concerto. 17
  • 19. E a D. Saudade chegou em minha casa e já foi logo comentando: - Estou vendo que amaram por aqui... E xiste conservante para palavras que deveriam ter sido ditas e não foram? Tenho medo que percam o amor por ficarem guardadas na espera de ocasião. D esculpe as folhas secas. São sinais do descuido, porta aberta e janelas escancaradas. 18
  • 20. U m jardim bem cuidado não comporta lixo de vizinho. Devolva o que não é seu! Isso não te faz igual, mas te preserva. E scolher o silêncio é ato de coragem. A alma fala baixo, mas é dura no que diz. A simplicidade arcaica deste coração que ama de um modo tão diferente do meu, me faz ver Deus sorrindo e dizendo o que é amor, independente do formato e tempo. 19
  • 21. A os poucos vou me olhando e lembrando: já passei por aqui! I nvisto sobre mim o dobro do tempo que eu gostaria de investir para "consertar” os outros. Acredito que dá mais frutos. O processo de vir – a - ser me encanta, renova minhas energias para começar uma nova jornada. Poder ser muitos para manter-me um só. 20
  • 22. C hega uma hora em que dar o braço a torcer é a estratégia mais inteligente. Principalmente quando o oponente é Deus. S ra. Expectativa, pode parar de tomar o meu lugar na fila da serenidade, por favor? A saudade é o amor em modo turbo. 21
  • 23. N ão me prenda, voarei sempre que for preciso. Não me esqueça, a saudade me fará voltar sempre que necessário. Q uando o silêncio é apenas a reunião de muitas vozes decidindo o que irão dizer. L er novos textos é fácil. A dificuldade está em ver novos contextos em textos já lidos. 22
  • 24. C riei coragem, encarei a saudade. Sentamos juntos, olhei em seus olhos e deixei que me refletissem. Dei-lhe minhas mãos, frias de receios. Deixei que ela me conduzisse, me levasse para passear. Qual foi minha surpresa, levou-me ao meu próprio quarto. 23
  • 25. A manheSendo, EntardeSendo, AnoiteSendo. Não há preferência, desde que eu permaneça sendo. Ser em qualquer hora. O sol é quem define meu status, mas sou eu quem sofre sua ação. A Lua me define também, noutras horas. Ela, igualmente, não é tão majoritária, careço de estar sendo, sempre. EntarDescendo, por vezes é minha condição. Nestas horas, preciso respeitar o movimento. EntarDescer faz parte do caminho de estar sendo. Se não desço, como experimento o subir? E se estou a descer, decerto já subi, ora essa! E assim vou segundo, girando, naSendo, a cada ciclo, a cada passo. 24
  • 27. A lguém me disse que olhar-se no espelho da alma é muito fácil. Ver os reflexos de sua própria personalidade é coisa simples. Olhando-a, só pude dizer-lhe: - Me diga isto após acender a luz! P reciso fazer as pazes com o tempo. E xpor o outro para esconder-se é como atirar para cima e esquecer que a bala vai ter que descer. 13
  • 28. H á quem queira mudar o mundo. Eu só quero mudar meu jeito de vê-lo. R enunciar ao som do rádio para ouvir o som da alma é ato de coragem que dá bons frutos. O Sr. Ciúme é a Sra. Insegurança travestida de Amor. Cuide-se, pois quem se traveste também manipula e sabe controlar. 14
  • 29. A gratidão, descobri, é a Sra. Humildade vestida em trajes de festa. A prendo com as ausências a valorizar as presenças. Ambas me são necessárias. H oje foi dia de "re"sentar nas mesas de corações amigos. Um modo de garantir que minha cadeira ainda estará ali quando eu quiser voltar. Para mim, isso é viver. 15
  • 30. Q uanto mais me aproximo de mim, mais sinto um perfume parecido com o de Deus. Q uando seus fantasmas aparecerem, chame-os para conversar, sente à mesa com eles e sirva-lhes um café. Mostre que não precisam ser inimigos. S entei à mesa com Deus. Conversei com Ele muito tempo. O café foi nossa ampulheta. 16
  • 31. H oje eu corri atrás do Sol. Perdi a corrida. Sou um feliz perdedor! E ntão, eu e D. Saudade nos encontramos para mais um café da tarde. Vamos, enfim, sentarmo-nos e ver o que trazemos um para o outro. T alvez eu ainda me ache muito são para ser poeta. Alma muito consertada não produz efeitos de um concerto. 17
  • 32. E a D. Saudade chegou em minha casa e já foi logo comentando: - Estou vendo que amaram por aqui... E xiste conservante para palavras que deveriam ter sido ditas e não foram? Tenho medo que percam o amor por ficarem guardadas na espera de ocasião. D esculpe as folhas secas. São sinais do descuido, porta aberta e janelas escancaradas. 18
  • 33. U m jardim bem cuidado não comporta lixo de vizinho. Devolva o que não é seu! Isso não te faz igual, mas te preserva. E scolher o silêncio é ato de coragem. A alma fala baixo, mas é dura no que diz. A simplicidade arcaica deste coração que ama de um modo tão diferente do meu, me faz ver Deus sorrindo e dizendo o que é amor, independente do formato e tempo. 19
  • 34. A os poucos vou me olhando e lembrando: já passei por aqui! I nvisto sobre mim o dobro do tempo que eu gostaria de investir para "consertar” os outros. Acredito que dá mais frutos. O processo de vir – a - ser me encanta, renova minhas energias para começar uma nova jornada. Poder ser muitos para manter-me um só. 20
  • 35. C hega uma hora em que dar o braço a torcer é a estratégia mais inteligente. Principalmente quando o oponente é Deus. S ra. Expectativa, pode parar de tomar o meu lugar na fila da serenidade, por favor? A saudade é o amor em modo turbo. 21
  • 36. N ão me prenda, voarei sempre que for preciso. Não me esqueça, a saudade me fará voltar sempre que necessário. Q uando o silêncio é apenas a reunião de muitas vozes decidindo o que irão dizer. L er novos textos é fácil. A dificuldade está em ver novos contextos em textos já lidos. 22
  • 37. C riei coragem, encarei a saudade. Sentamos juntos, olhei em seus olhos e deixei que me refletissem. Dei-lhe minhas mãos, frias de receios. Deixei que ela me conduzisse, me levasse para passear. Qual foi minha surpresa, levou-me ao meu próprio quarto. 23
  • 38. A manheSendo, EntardeSendo, AnoiteSendo. Não há preferência, desde que eu permaneça sendo. Ser em qualquer hora. O sol é quem define meu status, mas sou eu quem sofre sua ação. A Lua me define também, noutras horas. Ela, igualmente, não é tão majoritária, careço de estar sendo, sempre. EntarDescendo, por vezes é minha condição. Nestas horas, preciso respeitar o movimento. EntarDescer faz parte do caminho de estar sendo. Se não desço, como experimento o subir? E se estou a descer, decerto já subi, ora essa! E assim vou segundo, girando, naSendo, a cada ciclo, a cada passo. 24
  • 40. M e contento em ser humano. Ser Divino, deixo para o Ressuscitado ser em mim. C oração do homem é terra que ninguém anda, mas onde Deus mora. N os braços da Mãe descubro como ser pai. E sendo filho sou mais pai, e sendo pai agrado o Filho. Sorrindo o Filho, sorri a Mãe que me faz filho. 26
  • 41. E quando encontro uma muralha que limita, nela encontro um bilhete escrito à mão: “Te espero do outro lado! Te amando, Pai.” C oração machucado, antes de deixar de amar, para de se deixar amar. Eis um problema. Q uem vive buscando o nome "Deus" em todas as coisas, já pode ter caminhado ao Seu lado, sentado com Ele no ônibus, puxado Sua orelha e não percebeu. 27
  • 42. N ão basta Jesus abrir as portas da Misericórdia nesta hora. Quero comungá-lo. E ser comungado. H S oje adorei a Deus em um homem de meia idade. aí de casa para visitar uma comunidade de vida. Voltei sendo visitado pelo Autor da vida. Encontro desconcertante. 28
  • 43. Q uando minha alma adora a Deus na vida de um semelhante e se dobra diante de Sua grandeza. Q uando o frio de Curitiba não é nada diante do calor afetivo que me embala. Q uando penso nisso tudo, sinto minha alma se inclinar diante de Deus. Como quem se dobra diante do imprevisível, perante o Todo Possível. 29
  • 44. Q uando o meu melhor e meu pior sentam na mesma mesa, preciso decidir quem vai servir a refeição. Q uando o Cristo entra pela porta entreaberta e abre os ferrolhos enferrujados com a facilidade de ser uma casa nova. Sendo que esta é velha. A eternidade me assustaria se eu não a percebesse na deliciosa dinâmica do cotidiano. 30
  • 45. A inda que eu procurasse por todo o mundo, nunca encontraria um amor igual ao Teu, Senhor. A Saudade sentada à minha mesa... Encaro-a de longe, não sei ainda como saudá-la. Vou aprender. N este mês eu e a saudade nos baqueteamos várias vezes. Eu, servi-lhe à mesa. Ela, serviu-me de si mesma. 31
  • 46. Á s vezes me pergunto se Jesus teria assumido a cruz se não tivesse, antes, chorado por Lázaro. O mais belo de ver as confirmações de Deus na vocação é saber que Ele não me cobra nada, mas eleva-me em gratidão! S alve domingo! Feliz dia em que minha alma é Comungada por Aquele que se faz comunhão! 32
  • 47. C omo definir o dia de hoje? "Beber da fonte na qual me derramo"... Acho que é uma boa tentativa! P ermitir ao outro o artifício da dúvida salva minha alma dos grilhões do falso testemunho. O Deus que tudo controla me permite nada controlar. No compasso deste movimento aprendo do Divino, enquanto experimento do humano. 33
  • 48. M e pergunto o que faz alguém achar que caridade cristã é se submeter a indignidades. U semos o Evangelho de Cristo para assumir quem somos. Ele não pode ser justificativa para nossa covardia diante das situações da vida. A manhã não quero precisar doer de novo uma dor já doída, por não ter aprendido quando deveria. 34
  • 49. E nquanto tempo tiver, viverei. Amarei. Até que as últimas badaladas do meu coração sinalizem o fim dos amores. Quero sentir as dores de amar, enquanto a dor for em mim resquícios de vida. Quero viver até que o reluzir da visão me diga o que vejo. E quando nada mais restar, quero amar. Amar a morte. 35
  • 50. H á momentos em que me canso do que está diante dos olhos. Vejo, e o atraente já não me é mais. Careço da quebra de conceitos. Careço da contramão. Careço da falta de cerimônia. O comum já me é desinteressante. Careço do avesso. Careço do que transforma água em vinho, desfazendo seus próprios preceitos. Careço do que vem pedir que os ricos enriqueçam os pobres. Careço do que vem sugerir aos doentes que se façam sãos. Careço do que muda de caminho. Que escolhe o pior lugar para passar. Careço do contrário. Careço do desarme. 36
  • 51. Careço do desajeito. Careço do desconcerto. Careço do rei pobre. Careço do Deus homem. Careço do santo gente. Careço do sério riso. Careço da tradição nova. Careço de mim de novo. Do passado presente. Do futuro ausente. Do choro sorrindo. Do riso chorado. Careço de mim, ido e voltado. Sendo e não sendo. Feito e desfeito. Perdido e achado. Careço de Cristo, o Deus imolado De amor ofertado aos seus libertados. 37
  • 53. A caminho do trabalho mantive o vidro da janela do carro aberto para que a chuva molhasse minha pele. Autorizei à chuva molhar-me o corpo, como outrora autorizei a lágrima a banhar-me a alma. A chuva vem do céu lá de cima. A lágrima veio do céu aqui de dentro. P orque há momentos em que o mundo poderia mudar. Mas há outros tempos em que bastaria que eu mudasse. Q uando um coração encontra eco em um espaço que reflete o seu, aí tem Deus tomando conta. 39
  • 54. H á seres humanos que me ensinam muito. Fazem-me valorizar as pessoas que já tenho ao meu lado. E quando tudo o que me sobrar forem as cinzas, que me reste a ousadia de jogá-las ao vento para me encantar com a leveza de seu movimento. O s encontros e os desencontros me fazem pensar: este meu coração deve ser algo parecido com rodoviária, porto ou aeroporto. Será?! 40
  • 55. O s sonhos me fazem ver o que os olhos não conseguem mais. C aminhando pelas calçadas de mim mesmo, deparei-me com meu coração. Fiz questão de anotar novamente seu endereço e telefone. A lgumas pessoas passam pela minha vida e despertam em mim o medo da morte. Medo que estas pessoas morram e eu não consiga aprender delas o que têm para me ensinar. 41
  • 56. E star só significa dar a mim mesmo a oportunidade de estar comigo. E como isso é raro! O que fiz com as ripas que arrancaram de minhas paredes? Balanços e gangorras! I mpressionante como a poesia alcança a alma humana. É uma forma de ver-se contemplada na escrita de outra alma que, enferma como estava, soube colher suas lágrimas e regar os jardins ressequidos. 42
  • 57. P reciso da poesia de outros "loucos" para me reconhecer um tanto menos "são". Q uando careço de definições, busco nos rastros que deixei. Dizem mais de mim do que eu mesmo sei falar. H á momentos em que as companhias em minha mesa precisam ser meus próprios afetos. Olho-os se alimentando, espero suas opiniões. 43
  • 58. É bom olhar a parede da memória e notar que nela penduram-se vários quadros com fotografias. A cada um dou um nome, de cada um tenho fome. V ou construindo um castelo à prova de invasões e ciladas, as minhas próprias. O caminho para a construção? Pessoalmente visitar cada esgoto e verificar cada rachadura. S e um amigo é metade da alma... Já nem sei em quantas metades estou dividido! 44
  • 60. A nsioso pra dormir! Se quero descansar? Não apenas. Minha ânsia é ver os recados ilustrados que o inconsciente tem pra me dar, diante dos acessos conscientes que lhe dei. Uma comunicação que dá certo quando não se tem medo do que pode encontrar. E nquanto olhava as estrelas... - É a coisa mais linda que Deus fez, depois do ser humano. - Ele escolheu bem onde se esconder. - Onde se mostrar. - Se mostrar, de um modo que se escondesse. 46
  • 61. A saudade em meu coração é como alguém que chegou cedo na escola e reservou sua carteira com os livros. O ruim de contrair novas amizades é que isto implica desconstruir afetos já estáticos. O pior ainda é que este processo não é indolor. Porém, o melhor de tudo é que as novas tornam-se antigas e eternas. Q uem quer manter o lugar na mesa dos corações amigos, precisa cuidar de sentar-se vez ou outra. 47
  • 62. P or vezes sou pontuado quando esperava vírgula. Coloco vírgula e ganho um ponto sobre ela. Minhas reticências são transformadas em outro parágrafo. Interrogações ganham exclamações. Meus dois pontos sempre ganham um travessão. Nesta produção, sou rascunho e tenho um Autor a me orientar. Seu cuidado e sabedoria me fazem constranger. Não poucas vezes tenho quebrado pontas com minha intolerância. Escrever é ato demorado. Minha pressa estraga a obra. Com gratidão, descubro que não estou sozinho. 48
  • 63. U m abraço sincero – carregado de carinho – pode unir de tal modo duas almas, que mesmo durante muito tempo a experiência as alimentará deste afeto. O lá Sra Lua! É um prazer ver-te sorridente para o mundo. Ensina-o que, mesmo na escuridão, é possível sorrir. Grato, um aprendiz! L indo olhar a lua sorrindo pra mim. 49
  • 64. N ada para dizer. Deixar que a ausência de palavras seja diálogo. Dos mais abertos e sinceros. Q uando o olhar grita o que a alma diz, mas a palavra não sabe definir, que um outro olhar exista para conter e devolver. E cresçamos! P resenteado pela visão de uma estrela cadente. Alcançado pelo desejo de um coração ascendente. 50
  • 65. O lho para trás e vejo pegadas. Começaram pequeninas, meio inseguras pisoteavam um espaço que parecia não ser seu. Noto que foram crescendo, parecem ter adquirido firmeza, já percebo que pisam. Há pegadas variadas em seu entorno, não vejo que caminha só. Vislumbro com alegria as pegadas que há pouco deixei. São um par, passos de alma e corpo, são proporcionais à sombra que as antecede, demonstram segurança, não apenas pisam, mas sustentam. Foi em um ano. Olho para frente e digo: não há pegadas ainda, é preciso continuar. 51
  • 66. C ontrair uma nova amizade é permitir que se forje em mim uma nova janela. Através dela posso contemplar outro horizonte. M e vou indo para o remanso dos meus sonhos. Nele, talvez encontre repouso. Ou encontre recados. S onho dormindo e sonho acordado. Os dormindo sempre me parecem mais reais. Os acordados, vou realizando enquanto vivo. 52
  • 67. A doro ser surpreendido pelo Deus que se deixa adorar na simplicidade de um coração sincero. O s barulhos de dentro da casa, só consigo ouvir quando para a chuva e acalma o vento fora. D eixei anoitecer em mim... E, na santa missa, cedi, perdi, desci, caí... Olhei nos olhos do Vencedor e me rendi. 53
  • 69. H á canções que falam mais de quem canta do que os jornais! São gritos de socorro cantados. Talvez ninguém os tenha ouvido. É preciso temer que a exposição da comunicação afaste do escondimento da oração. V ocê não sabe o que fazer para agradar? Ser você mesmo deveria ser o suficiente. Não acha? 55
  • 70. A A sociedade agradece por você ser você mesmo. inspiração é como um canto de bem-te-vi. Nem sempre sei de onde vem, entendo o que me diz, mas logo vai-se embora. Por isso escrevo! J á experimentou pesar suas palavras? Elas podem estar pesando mais do que você possa aguentar. Por isso, pense! 56
  • 71. Q uem vive de olhar atravessado corre o risco de ser atropelado. U ma verdade certa dita de um jeito errado é como sementes para solo fértil, lançada em terras secas. Brotará? V ale lembrar que um olhar apressado costuma dar vertigem. 57
  • 72. N ão sei em qual bíblia a palavra "honrar" pode ser traduzida como "aguentar desaforo, desrespeito ou arrogância". Só sei que na minha não está! P or que as pessoas apelam para clichês? O não dizer seria muito mais autêntico. R econheço que estou no limite quando preciso de duas doses de boa vontade para manter a mesma medida de bom humor. 58
  • 73. À s vezes fujo da escrita... Como se esta fosse me desvelar. U ma boa dose de saudade, me parece, cura rancor e desfaz mágoas. Felizes os que tomam deste santo remédio. M e descubro muito nos olhares que me rodeiam. E muitos deles, infelizmente, se perdem. 59
  • 74. À s vezes chego a acreditar que a maturidade é inversamente proporcional a idade. N ão sei se perdi a chave que abria ou se a fechadura é que estava enferrujada. O grito lançado sobre o homem só ecoa se encontrar vazio. A alma cheia de Deus não ecoa um grito dado sem respeito. 60
  • 75. C ontrolar o opinião do outro tem sido um desafio? E controlar sua própria opinião, como tem sido? O S silêncio custa caro. Só aceita moedas da alma. e os gritos das culpas te ensurdecem, o toque da misericórdia os emudece. 61
  • 76. O que mais vale? Uma facilidade acomodada, ou uma dificuldade passível de superações? O s limites me dizem que ainda preciso pra ser um pouco mais... Eu. A sinceridade é como uma faquinha de cozinha. É preciso discernimento pra não sair cortando os pulsos. Aos "super sinceros" de plantão! 62
  • 78. E u me atualizo a cada dia. Reaprendo novas formas de ser eu mesmo. Como o mar renova seu sal, o céu renova o meu eu. O lha alma, façamos um trato: sossegue teus ânimos, pois, na calmaria das ondas se vê melhor o fundo do mar! À s vezes sinto falta de escrever do mesmo modo que sinto sede da água. À s vezes faço coisas sem pensar. Noutras vezes penso coisas que não faço. Outrora, porém, penso e faço. E assim vou vivendo. 64
  • 79. Á s vezes até tento ser diferente de mim mesmo, não sei... Não consigo mais. Cedo à brilhante ideia de ser quem eu realmente sou, e ao final, estou em paz! G astar tempo mudando o Mundo? Ganho tempo mudando meu mundo! O meu mundo muda o Mundo! Faça-se! C horarei o quanto for preciso, pois, quando o sol chegar, precisarei das lágrimas para compor o arco-íris. 65
  • 81. O lhei para mesma janela de sempre e, de repente, percebi o verde mais verde. T H em coisas que não sei dizer. Só sei sentir. á espaços em mim que já deixei de habitá-los faz tempo. Preciso retomar o que outrora abandonei. Preparar o exército para a guerra e reaver os territórios que hoje parecem hostis. 67
  • 82. Q uando a gente pensa no que dizer e só pensa em: (...). H á seres humanos que nos autenticam, há os que nos falsificam. Com os quais tens se encontrado? E qual tens sido? P erguntaram que sou eu: uma alma em gerúndio respondi sem medo. 68
  • 83. O que me incomoda no homem é o que locomove em mim. N em sempre o que escrevo fala de mim, pode falar de você, enquanto você me procura. P or ser quem sou pago o preço de alguns descontentes, enquanto muitos contentes. 69
  • 84. N o compasso de ser humano, nas carências me faço inteiro. C adeira que fica muito tempo vazia na mesa, acaba se tornando porta papel. E se demorar muito, pode acabar saindo da mesa e indo tornar-se cômoda em algum outro lugar. 70
  • 86. R ecorte da conversa das minhas vizinhas de ônibus: “Os jovens hoje são mais autênticos. Não ficam engolindo e se escondendo. Eles são mais verdadeiros." E nquanto não consigo "palavrear" o que sinto, vou sentindo o que outrora "palavreei". R eciprocidade... Salvaria muitos corações da solidão. 72
  • 87. T enho descoberto nestes dias Que Deus me deu uma chave para abrir-me Sabendo da minha displicência Que facilmente eu a perderia Ele cuidou de distribuir mais algumas cópias Aos possuidores destas cópias Ele resolveu nomear: amigos Sabendo do quanto eu os desvalorizaria Na correria do dia-a-dia Cuidou também de mantê-los em segredo Na esperteza de seu cuidado Me deixou na responsabilidade da busca Quando perco a chave que me abre Sei que alguém virá e me fará Entrar no espaço do qual tenho fugido Com a mesma maestria que eu o faria Só que agora, entro em companhia. 73
  • 88. C oração não sabe o que sente, e o que sente não sabe o que diz pra gente. D ividir, na matemática, é fragmentar. Mas para a alma é libertar. A cada dia vou descobrindo um jeito de estar "junto" sem estar perto. Q ual mergulhador encontra pérolas e as devolve para a ostra? Meus amigos fazem isso! 74
  • 89. P ago caro por comidas que me saciam a fome, mas o que encontro são olhares que me saciam a alma. Estes, não têm preço. N ão posso escolher entre ser ferido ou não. Mas preciso ter gana pra escolher não ferir. E por deixar um pouco de mim em cada amigo, preciso cuidar de mantê-los perto. Amizade exige empenho. 75
  • 91. A lmoçar sozinho me faz valorizar o prazer de um olhar se alimentando, e me alimentando. I magine comigo uma criança levando uma bandeja para a mesa, tentando ajudar os pais. Desastrada, ela vai andando e derrubando um pouco do que carrega. Sorrindo, o pai vem atrás juntando o que caiu e, sorrindo, diz: - Parabéns! Foi ótimo! Me ajuda com o resto? Vejo-me assim com Deus! Q uando aprendi a conviver comigo mesmo, descobri que a solidão é só um medo. 77
  • 92. N o meio de uma situação bonita me pediram: - Escreve sobre isso! Respondi no impulso: - Deixa que me fecunde primeiro. A cabei de receber um abraço de Deus em uma criança de 8 anos. E O adorei neste abraço que ainda não teve fim, não em mim. U m dia me disseram para não dar asas à imaginação. Sabe o que faço hoje? Além de dar asas, peço a ela que me carregue consigo. 78
  • 93. E quando olho pra fora, vejo vida também. Minhas paredes são altas, meus sonhos também. Sinto frio aqui fora e aqui dentro também. O que mais sinto falta na hora das refeições? Um par de olhos a me alimentar. N em sempre encontro a sintonia. Mas não desisto de girar o coração. Ainda que chiando, vivo! 79
  • 94. A penas na gramática existe um "passado perfeito". H á olhares que falam tão claramente. Chegam a dispensar o artifício da linguagem. Q uando eu não puder enxergar o que há de bom, que eu cerre meus olhos, e sinta apenas. O melhor há de se mostrar. 80
  • 95. osfácio Fazia já certo tempo que esse movimento me incomodava. Era como um amor que reclamava ser amado. As palavras que nascem aqui não são de avaliação, mas puramente de admiração e contemplação de uma alma que sabe ver a si mesma, mas não só, sabe fazer ver, quase como óculos que corrige o que a visão não alcança ou simplesmente como um espelho que se deixa usar para refletir. Digo isso porque muitas vezes usei esses óculos para ver com mais perfeição e outras tantas vezes me vi refletido. Diante do convite de escrever esse posfácio me senti lisonjeado. É uma honra escrever essas palavras que não são de forma alguma conclusivas, gostaria que elas fossem inclusivas, que ajudassem a adentrar mais profundamente nas palavras destas poesias, que a meu ver, são verdadeiras confissões. Aqui os óculos e o espelho são a poesia. Por meio da poesia o Autor se mostra, se apresenta e se confessa. São confissões de uma alma cheia de Deus, mas não de um Deus transcendente, totalmente Outro, mas de um Deus presente, que verdadeiramente podemos chamar de Emanuel, pois “está conosco”. São confissões de uma alma que sente essa Presença em cada momento presente, no que faz, no que pensa, no que sonha, nas relações que estabelece, nas expectativas, nos sentimentos, enfim, um Deus se revela com tanta misericórdia que é capaz de acompanhar e guiar para que como o próprio Autor se expressa na epígrafe, este “ensaio de mim, entre erros e acertos, o que fica é o que é, o que foi tornar-se-á EU” vá sendo construído, corrigido, diagramado, publicado para ser apresentado, mas não de qualquer maneira, como uma “obra prima”. O título de cada capítulo deste livro é incomum, porém está completamente possuído de um simbolismo tão humano que facilmente pode ser intuído para dar sentido e significar tantas situações da vida cotidiana. Quem convidaria a “D. Saudade” para tomar um café? Ou que “alma se sente comungada por Aquele que faz comunhão?” Ou quem tem a coragem de mirar sua história, “os rastros que deixei” como livro de si? Ou LXXXI
  • 96. quem valoriza a delicadeza de um olhar intenso como possibilidade de entrar no outro e com igual potencialidade de entrar em si mesmo? Só uma alma contemplativa que sabe não estar sozinha neste mundo pode confessar-se assim. As bebidas que titulam cada capitulo deste livro fazem parte da nossa vida nos momentos cotidianos e extraordinários, nos dias de frio e de calor, nos dias de festa e de luto, nos dias de solidão e de agradável companhia. São simbólicas, são sacramentais porque nos transportam e nos elevam, porque transfiguram de sentido o vivido. Espero que a leitura deste livro tenha provocado movimentos interiores em você leitor. Creio que é um objetivo fantástico: lê-lo para ler-se e viver a vida em “gerúndio”. Sinto-me lisonjeado de participar deste livro! Obrigado! Pe. Paulo H. O. Rocha, F.N. LXXXII