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Entrevistas

15/12/2009

CULTURA

Uma conversa sobre comunicação, cultura e
educação com Leonel Kaz

Alfredo Boneff e Ademir Veroneze



Um vazio de conhecimento, um futuro preocupante com escolas pouco
interessadas na disseminação de uma educação de qualidade e com políticas
culturais imediatistas. Assim Leonel Kaz avalia o atual estágio educacional e da
comunicação cultural no Brasil. Curador do Museu do Futebol, em São Paulo,
sócio da editora Aprazível e professor licenciado da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o jornalista defende o uso das redes
sociais na internet, desde que as superficialidades sejam postas de lado em prol
do compartilhamento de conteúdos fundamentais.
A entrevista de Leonel Kaz faz parte da 13ª edição da revista Comunicação
360º, que tem o perfil do novo comunicador como tema central. Confira a seguir
os principais trechos da conversa.


Meios de comunicação e a cultura no Brasil

Eu acho que as editorias de cultura hoje em dia são reféns dos press releases.
O que acho lamentável. A vida só faz sentido se é vivida e o e-mail, o telefone, o
press release são formas de morte, não de vida, são formas de banalização das
coisas, como o Ferreira Goulart diz. Eu acho que contato pessoal é uma coisa
muito significativa.

Os meios de comunicação de massa são reféns do press release e reféns de
uma série de itens imediatos. Por exemplo, no campo da arte, o que é uma
crítica de arte para mim? Tudo é arte, o mobiliário também é arte, a nova linha
de carros lançados pelas montadoras é arte, o cenário de uma peça teatral é
arte, a arquitetura nova que está sendo lançada nos condomínios da Barra é
arte. Tudo é uma forma de estética. No entanto, as editorias dos jornais e das
revistas só se dedicam à arte de vanguarda, segundo os interesses das galerias
e de alguns artistas. O que eu acho completo absurdo. Isso é uma
desinformação.
Cadê o resto todo da arte? Onde ela está sendo avaliada? Onde ela está sendo
julgada? Será que artista é só aquele que a galeria diz que é e por causa disso
ele vai criar um marketing específico para ele e a partir daí transformar essa
realidade?


As escolas de jornalismo e a educação no País

As escolas de jornalismo no Brasil são precárias. Eu dou aula numa delas. São
precárias porque as pessoas não têm interesse em se aprofundar. Vivemos no
passado uma época em que existia a verticalização do conhecimento. O cara
tinha que saber muito sobre uma coisa só. Hoje em dia você tem à disposição
tudo sobre o aprofundamento daquele conhecimento. É evidente que para o
pesquisador e o cientista isso é fundamental. Mas para as outras ciências
humanas não. O sujeito tem de ter um conhecimento vário. Na Universidade de
Cornell, nos Estados Unidos, o primeiro ano de Economia e Administração é
passado no campus avançado da cidade italiana de Florença, onde os alunos
aprendem Arte e Arquitetura do Renascimento.

As escolas brasileiras são verdadeiras mordaças, são penitenciárias de crianças
para aprender História, Português, Matemática e Geografia através de leis
formais. De vez em quando toca numa bandinha ou faz um desenho. Como se
isso fosse arte, como se isso fosse música. Quer dizer, nós estamos numa
escola completamente amordaçada e as pessoas saem daí para o resto da
mordaça cotidiana. A escola diz que ensina, o professor diz que ensina, o aluno
finge que aprende, todo mundo sai para esse desvario e fica hipnotizado pelo
cotidiano da televisão, fica-se repetindo fórmulas.

Se a Universidade de Cornell está mandando os alunos estudarem arte é porque
os americanos sabem muito bem que num futuro próximo as relações vão ser
mais horizontais. Outro amigo mandou o filho estudar Relações Internacionais
numa universidade americana. Lá, cada aluno passa o primeiro semestre num
país do mundo diferente e volta no segundo semestre para que todos eles
possam trocar relações entre si de cada experiência vivida individualmente. E o
sujeito aprende filosofia com arquitetura, aprende a ser florista com o
marceneiro. As relações são muito fluidas.


Museu do Futebol

No início, nós fomos muito criticados porque o museu não tinha relíquias, não
tinha peças históricas, não tinha objetos. Para que ter? No mundo da internet, no
mundo da comunicação, no mundo da vivência, o que é importante é a
ludicidade interativa, a riqueza da exploração dos talentos individuais que a
gente não faz. Na verdade, é uma experiência que se pretende mais atual, mais
contemporânea e sem uma olhar curatorial de baixo para cima. As pessoas vão
lá e se divertem, saem de lá felizes, dizem que aquilo é um acontecimento, tanto
é que por visitação espontânea já é o museu mais visitado do Brasil em um ano.

Há até alguns estandes com a evolução da bola, evolução da chuteira, etc..
Mas, o que importa é você reviver coisas que foram vividas. Não adianta mostrar
o passado frio, mostrar uma série de troféus, como se fosse um cemitério de
troféus. É uma coisa dramática isso. Nós fomos aos museus de outros clubes.
Lá, mostravam os grandes gols, sem a força da narrativa oral. E sem a força da
tradição oral, sem a força da palavra, nada se constrói.

Um reitor da Universidade Lusófona de Lisboa foi ao museu e disse que ele é o
museu da palavra, porque as 1.700 imagens e as sete horas de vídeo permitem
um tal burburinho, uma tal algazarra de palavras dentro de cada um, uma tal
troca de palavras entre as diversas gerações. É o museu para os fanáticos por
futebol e para os não fanáticos.


A arte e a cultura no Brasil

Eu estive, no início de novembro, em São Paulo, em um encontro para formular
o Plano Nacional de Cultura. Era um auditório de três mil pessoas e tinha uns 40
gatos pingados. Trinta deles falaram 30 coisas diferentes. O Brasil não formou
laços comunitários. Todas as decisões aqui, como Sérgio Buarque de Hollanda
fala, as decisões políticas, as grandes decisões são feitas ao sabor das paixões
momentâneas. A gente vê pelo atual governo que tudo é feito segundo as
paixões do momento. Não há um plano a longo prazo. O Brasil não está
investindo na inteligência. O Brasil investe em portos, em pré-sal. Qual é, por
exemplo, o programa da inteligência brasileira? Qual o programa daqui a 20
anos para o aprimoramento da escola de qualidade? Qual o programa de
formação de plateias? Qual o programa de desenvolvimento do olhar, da
audição, da visão, da percepção? Por que o Ministério da Cultura não se
transforma, como nos tempos de Getúlio, numa estrutura toda a serviço de uma
educação pública de qualidade?

Nenhum país se constrói sem bases sólidas. Não apenas voltadas para si
mesmas, para a sua própria história, como para a história universal que nos
constitui. Se nós não lemos, se nós não percebemos verdadeiramente uma obra
de arte, se nós não ouvimos as músicas que foram criadas, nada disso faz
sentido.

Eu vejo um retrocesso nítido na questão cultural no Brasil porque a cultura só se
constrói com base na qualidade e na solidez. Está tendo uma substituição dos
grandes valores permanentes do país por valores ainda discutíveis ou em
ebulição. Por chamados valores culturais intangíveis.

As políticas do Ministério da Cultura

O Ministério da Cultura está muito preocupado com políticas locais e deveria
trabalhar fundamentalmente em prol da educação pública de qualidade. Eu
acredito que a educação pública de qualidade forma leva à formação e
transformação de valores culturais sólidos. Acredito que devam ser valorizados
pequenos rincões, pequenas manifestações populares, mas não pode ser
abandonada a grande qualidade intrínseca do passado. Por que as crianças de
escolas públicas do Rio de Janeiro não frequentam os nossos grandes
museus? Quantos alunos de escolas você vê no Palácio da Cultura, no Rio de
Janeiro, admirando a obra do Niemeyer, os jardins do Burle Marx, os painéis de
Portinari? Estão ali à disposição das pessoas. Por que as escolas, como em
todos os países do mundo, não vão aproveitar essa riqueza que está nas ruas e
que está no nosso patrimônio? Isso seria até um fator de segurança pública. Eu
acho que há esforços louváveis que estão sendo feitos, agora mesmo num
esforço sobre-humano, a Secretaria de Educação de São Paulo está começando
a premiar os professores pela meritocracia e não por tempo de trabalho, que
iguala por baixo.


Os valores da sociedade

Tudo aqui fica a reboque de determinado valores da sociedade. Como se os
grandes valores da sociedade fossem os apresentadores da televisão. Fui à
casa de um artista na Baixada Fluminense. Na Baixada, só se vê os quatro
grandes apresentadores de televisão vendendo tudo, de detergente a pasta de
dente. Eu fico muito impressionado com isso, como se o grande valor fosse um
apresentador de televisão. Isso é uma tradição nossa. Nós não valorizamos
nenhuma profissão manual. O serralheiro não é valorizado, o marceneiro não é
valorizado, nada aqui é valorizado. É valorizado o anel de doutor. Mas o grande
drama no Brasil é que parece que é fundado todo dia de novo pela manhã. E
você tem que nascer de novo, tudo novo, tudo legal, tudo descolado.
As redes sociais na internet

Essas redes por um lado são fascinantes, embora eu não as utilize. Eu utilizo e-
mail, acesso a internet, vejo coisas, mas enfim, particularmente não entrei no
Twitter, nem no Facebook, mas não tenho nada contra. Não tenho nada contra
nada. Agora, essas redes são muito boas como propagação de ideias, como
'momentanização'. O termo é um neologismo que estou usando. Mas tudo isso é
bom desde que não exista uma passividade. Eu acho que se isso funcionar
como uma espécie de coisa supérflua, superficial, como fosse uma coisa
passiva, como é a televisão, se não se faz um aprofundamento, também tudo
fica boiando na superfície. Twitter é muito bom, mas no Twitter você lida com
meia dúzia de palavras. Sempre. Eu não sei se nós vamos nos transformar em
grandes criadores de haikai. A humanidade toda, fazendo coisas mínimas e
criando provérbios, uma frase. Pode ser que leve a isso, quem sabe? Eu acho
que isso é muito gostoso, é bom e tal, mas sem mergulho no conhecimento não
se vai a lugar nenhum.

Quantas pessoas que estão usando o Twitter leram ‘Os Irmãos Karamazov’? Ler
os ‘Irmãos Karamazov’ é uma experiência transformadora de vida. Para
encontrar uma pessoa que tenha, mesmo dentro do universo dos
comunicadores, uma formação mais densa é uma coisa muito rara. Quantos dos
meus alunos na PUC liam sequer Machado de Assis? Muito poucos. Para ler
‘Raízes do Brasil’ e ‘Casa Grande e Senzala’ foi um esforço quase sobre-
humano. Então, eu acho que está tudo bem, acho ótimo todas as vanguardas,
tudo que existir. Mas acho que nenhum processo substitui o outro.

A cultura da destruição

A história, por exemplo, do Rio de Janeiro sempre foi uma história de destruição.
O Rio de Janeiro construiu a Avenida Central. Construíram 130 prédios e hoje
sobram seis de um século atrás. Logo depois, se destruiu o Morro do Castelo.
Encontraram um sanitarista qualquer para dar uma opinião que o morro não
permitia a circulação livre dos ventos e por isso é que as pessoas ficavam
tuberculosas. Botou-se tudo abaixo em prol dos interesses imobiliários. Criou-se
o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, em 1937, e logo depois se destruiu
sete igrejas notáveis, entre as quais dizem a mais bela do Brasil, que era de São
Pedro, para construir aquela medonha na Presidente Vargas.

O que existe aqui é um permanente fluxo de destruição do passado, como se o
passado não tivesse nenhum significado, nenhuma importância. Se você não
constrói algo que preserve o passado e a partir do passado constrói bases
futuras, não vai a lugar nenhum.
Os valores culturais

Quando você fala em transporte público e um ônibus para no meio da rua e não
no meio fio para uma pessoa entrar, isso é cultura. Quando você fala que as
praças são consideradas lugares de 'mendigos' e um valhacouto de marginais,
isso é um valor cultural. Por quê? Porque praça é um bem público, a rua é um
bem público, mas no Brasil, bem público é tido como pertencente a quem é mais
malandro, quem passa mais a perna, quem toma conta.

O grande drama é que tudo é cultura. A cultura não deve estar isolada num
Segundo Caderno, ou num Caderno B ou numa Folha Ilustrada. A cultura
permuta e permeia todas as relações humanas. Acho que está havendo um
segregacionismo jornalístico em relação à cultura, o que é uma pena.

Investir mais no passado e não investir nessa ideia do futuro,
desordenadamente. Outro dia ouvi o nosso presidente da República dizer que o
Brasil será a quarta economia do mundo. De que adianta ser a quarta economia
do mundo se nós somos o 62º país no mundo em índice de desenvolvimento
humano? Ou seja, em injustiça social e em desconhecimento cultural.

Escola do Olhar

É um projeto da Fundação Roberto Marinho com a Prefeitura do Rio e o apoio
do governo do Estado visando construir na área do Porto a pinacoteca Escola do
Olhar, que estamos chamando de Pina, por enquanto. É um nome afetivo. Ela, a
princípio, vai se constituir numa exposição permanente sobre o Rio de Janeiro,
contando a história, a saga da cidade. E vai ter um outro núcleo de exposições
permanentes da relação da arte brasileira com a arte do mundo, a ‘Exposições
diálogo’, como a gente está chamando.

Eu espero que funcione. Além disso, nós pretendemos que esses prédios façam
uma relação com o morro da Conceição, que está ali ao lado, e o morro da
Conceição tem 400 anos de história. Então a gente está brincando com o ‘lá
dentro’ e o ‘lá fora’, está brincando com o presente e com o passado.

A reinvenção do Brasil

O homem se reinventa a partir de sua cultura. O Brasil nunca teve um Prêmio
Nobel, nunca produzimos praticamente patente nenhuma nem inovações
tecnológicas. Ficamos a reboque, continuamos a ser um pouco de certa maneira
o que fomos no passado. Estamos vivendo essa festa das commodities
atualmente, de matérias-primas do campo e de minérios, enfim, mas estamos
produzindo muito pouca inteligência. E isso me preocupa profundamente. Acho
que o Brasil se reinventou naturalmente em vários campos: no da música e do
futebol são duas grandes expressões artísticas em que fomos capazes de nos
reinventar e de uma maneira até um pouco natural, algo que está dentro de nós
mesmos. São campos em que criamos linguagens singulares. Mas é pena que o
Brasil não tenha criado linguagens singulares em tantos outros campos da vida.
Acho que o país hoje se reinventa quando se relaciona cada vez mais consigo
mesmo e com o mundo exterior.




Fonte: Site Nós da Comunicação

http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna.asp?panora
ma=662&tipo=A

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Entrevista com Leonel Kaz sobre comunicação, cultura e educação

  • 1. Entrevistas 15/12/2009 CULTURA Uma conversa sobre comunicação, cultura e educação com Leonel Kaz Alfredo Boneff e Ademir Veroneze Um vazio de conhecimento, um futuro preocupante com escolas pouco interessadas na disseminação de uma educação de qualidade e com políticas culturais imediatistas. Assim Leonel Kaz avalia o atual estágio educacional e da comunicação cultural no Brasil. Curador do Museu do Futebol, em São Paulo, sócio da editora Aprazível e professor licenciado da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o jornalista defende o uso das redes sociais na internet, desde que as superficialidades sejam postas de lado em prol do compartilhamento de conteúdos fundamentais. A entrevista de Leonel Kaz faz parte da 13ª edição da revista Comunicação 360º, que tem o perfil do novo comunicador como tema central. Confira a seguir os principais trechos da conversa. Meios de comunicação e a cultura no Brasil Eu acho que as editorias de cultura hoje em dia são reféns dos press releases. O que acho lamentável. A vida só faz sentido se é vivida e o e-mail, o telefone, o press release são formas de morte, não de vida, são formas de banalização das coisas, como o Ferreira Goulart diz. Eu acho que contato pessoal é uma coisa muito significativa. Os meios de comunicação de massa são reféns do press release e reféns de uma série de itens imediatos. Por exemplo, no campo da arte, o que é uma crítica de arte para mim? Tudo é arte, o mobiliário também é arte, a nova linha de carros lançados pelas montadoras é arte, o cenário de uma peça teatral é arte, a arquitetura nova que está sendo lançada nos condomínios da Barra é arte. Tudo é uma forma de estética. No entanto, as editorias dos jornais e das revistas só se dedicam à arte de vanguarda, segundo os interesses das galerias e de alguns artistas. O que eu acho completo absurdo. Isso é uma desinformação.
  • 2. Cadê o resto todo da arte? Onde ela está sendo avaliada? Onde ela está sendo julgada? Será que artista é só aquele que a galeria diz que é e por causa disso ele vai criar um marketing específico para ele e a partir daí transformar essa realidade? As escolas de jornalismo e a educação no País As escolas de jornalismo no Brasil são precárias. Eu dou aula numa delas. São precárias porque as pessoas não têm interesse em se aprofundar. Vivemos no passado uma época em que existia a verticalização do conhecimento. O cara tinha que saber muito sobre uma coisa só. Hoje em dia você tem à disposição tudo sobre o aprofundamento daquele conhecimento. É evidente que para o pesquisador e o cientista isso é fundamental. Mas para as outras ciências humanas não. O sujeito tem de ter um conhecimento vário. Na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, o primeiro ano de Economia e Administração é passado no campus avançado da cidade italiana de Florença, onde os alunos aprendem Arte e Arquitetura do Renascimento. As escolas brasileiras são verdadeiras mordaças, são penitenciárias de crianças para aprender História, Português, Matemática e Geografia através de leis formais. De vez em quando toca numa bandinha ou faz um desenho. Como se isso fosse arte, como se isso fosse música. Quer dizer, nós estamos numa escola completamente amordaçada e as pessoas saem daí para o resto da mordaça cotidiana. A escola diz que ensina, o professor diz que ensina, o aluno finge que aprende, todo mundo sai para esse desvario e fica hipnotizado pelo cotidiano da televisão, fica-se repetindo fórmulas. Se a Universidade de Cornell está mandando os alunos estudarem arte é porque os americanos sabem muito bem que num futuro próximo as relações vão ser mais horizontais. Outro amigo mandou o filho estudar Relações Internacionais numa universidade americana. Lá, cada aluno passa o primeiro semestre num país do mundo diferente e volta no segundo semestre para que todos eles possam trocar relações entre si de cada experiência vivida individualmente. E o sujeito aprende filosofia com arquitetura, aprende a ser florista com o marceneiro. As relações são muito fluidas. Museu do Futebol No início, nós fomos muito criticados porque o museu não tinha relíquias, não tinha peças históricas, não tinha objetos. Para que ter? No mundo da internet, no
  • 3. mundo da comunicação, no mundo da vivência, o que é importante é a ludicidade interativa, a riqueza da exploração dos talentos individuais que a gente não faz. Na verdade, é uma experiência que se pretende mais atual, mais contemporânea e sem uma olhar curatorial de baixo para cima. As pessoas vão lá e se divertem, saem de lá felizes, dizem que aquilo é um acontecimento, tanto é que por visitação espontânea já é o museu mais visitado do Brasil em um ano. Há até alguns estandes com a evolução da bola, evolução da chuteira, etc.. Mas, o que importa é você reviver coisas que foram vividas. Não adianta mostrar o passado frio, mostrar uma série de troféus, como se fosse um cemitério de troféus. É uma coisa dramática isso. Nós fomos aos museus de outros clubes. Lá, mostravam os grandes gols, sem a força da narrativa oral. E sem a força da tradição oral, sem a força da palavra, nada se constrói. Um reitor da Universidade Lusófona de Lisboa foi ao museu e disse que ele é o museu da palavra, porque as 1.700 imagens e as sete horas de vídeo permitem um tal burburinho, uma tal algazarra de palavras dentro de cada um, uma tal troca de palavras entre as diversas gerações. É o museu para os fanáticos por futebol e para os não fanáticos. A arte e a cultura no Brasil Eu estive, no início de novembro, em São Paulo, em um encontro para formular o Plano Nacional de Cultura. Era um auditório de três mil pessoas e tinha uns 40 gatos pingados. Trinta deles falaram 30 coisas diferentes. O Brasil não formou laços comunitários. Todas as decisões aqui, como Sérgio Buarque de Hollanda fala, as decisões políticas, as grandes decisões são feitas ao sabor das paixões momentâneas. A gente vê pelo atual governo que tudo é feito segundo as paixões do momento. Não há um plano a longo prazo. O Brasil não está investindo na inteligência. O Brasil investe em portos, em pré-sal. Qual é, por exemplo, o programa da inteligência brasileira? Qual o programa daqui a 20 anos para o aprimoramento da escola de qualidade? Qual o programa de formação de plateias? Qual o programa de desenvolvimento do olhar, da audição, da visão, da percepção? Por que o Ministério da Cultura não se transforma, como nos tempos de Getúlio, numa estrutura toda a serviço de uma educação pública de qualidade? Nenhum país se constrói sem bases sólidas. Não apenas voltadas para si mesmas, para a sua própria história, como para a história universal que nos constitui. Se nós não lemos, se nós não percebemos verdadeiramente uma obra
  • 4. de arte, se nós não ouvimos as músicas que foram criadas, nada disso faz sentido. Eu vejo um retrocesso nítido na questão cultural no Brasil porque a cultura só se constrói com base na qualidade e na solidez. Está tendo uma substituição dos grandes valores permanentes do país por valores ainda discutíveis ou em ebulição. Por chamados valores culturais intangíveis. As políticas do Ministério da Cultura O Ministério da Cultura está muito preocupado com políticas locais e deveria trabalhar fundamentalmente em prol da educação pública de qualidade. Eu acredito que a educação pública de qualidade forma leva à formação e transformação de valores culturais sólidos. Acredito que devam ser valorizados pequenos rincões, pequenas manifestações populares, mas não pode ser abandonada a grande qualidade intrínseca do passado. Por que as crianças de escolas públicas do Rio de Janeiro não frequentam os nossos grandes museus? Quantos alunos de escolas você vê no Palácio da Cultura, no Rio de Janeiro, admirando a obra do Niemeyer, os jardins do Burle Marx, os painéis de Portinari? Estão ali à disposição das pessoas. Por que as escolas, como em todos os países do mundo, não vão aproveitar essa riqueza que está nas ruas e que está no nosso patrimônio? Isso seria até um fator de segurança pública. Eu acho que há esforços louváveis que estão sendo feitos, agora mesmo num esforço sobre-humano, a Secretaria de Educação de São Paulo está começando a premiar os professores pela meritocracia e não por tempo de trabalho, que iguala por baixo. Os valores da sociedade Tudo aqui fica a reboque de determinado valores da sociedade. Como se os grandes valores da sociedade fossem os apresentadores da televisão. Fui à casa de um artista na Baixada Fluminense. Na Baixada, só se vê os quatro grandes apresentadores de televisão vendendo tudo, de detergente a pasta de dente. Eu fico muito impressionado com isso, como se o grande valor fosse um apresentador de televisão. Isso é uma tradição nossa. Nós não valorizamos nenhuma profissão manual. O serralheiro não é valorizado, o marceneiro não é valorizado, nada aqui é valorizado. É valorizado o anel de doutor. Mas o grande drama no Brasil é que parece que é fundado todo dia de novo pela manhã. E você tem que nascer de novo, tudo novo, tudo legal, tudo descolado.
  • 5. As redes sociais na internet Essas redes por um lado são fascinantes, embora eu não as utilize. Eu utilizo e- mail, acesso a internet, vejo coisas, mas enfim, particularmente não entrei no Twitter, nem no Facebook, mas não tenho nada contra. Não tenho nada contra nada. Agora, essas redes são muito boas como propagação de ideias, como 'momentanização'. O termo é um neologismo que estou usando. Mas tudo isso é bom desde que não exista uma passividade. Eu acho que se isso funcionar como uma espécie de coisa supérflua, superficial, como fosse uma coisa passiva, como é a televisão, se não se faz um aprofundamento, também tudo fica boiando na superfície. Twitter é muito bom, mas no Twitter você lida com meia dúzia de palavras. Sempre. Eu não sei se nós vamos nos transformar em grandes criadores de haikai. A humanidade toda, fazendo coisas mínimas e criando provérbios, uma frase. Pode ser que leve a isso, quem sabe? Eu acho que isso é muito gostoso, é bom e tal, mas sem mergulho no conhecimento não se vai a lugar nenhum. Quantas pessoas que estão usando o Twitter leram ‘Os Irmãos Karamazov’? Ler os ‘Irmãos Karamazov’ é uma experiência transformadora de vida. Para encontrar uma pessoa que tenha, mesmo dentro do universo dos comunicadores, uma formação mais densa é uma coisa muito rara. Quantos dos meus alunos na PUC liam sequer Machado de Assis? Muito poucos. Para ler ‘Raízes do Brasil’ e ‘Casa Grande e Senzala’ foi um esforço quase sobre- humano. Então, eu acho que está tudo bem, acho ótimo todas as vanguardas, tudo que existir. Mas acho que nenhum processo substitui o outro. A cultura da destruição A história, por exemplo, do Rio de Janeiro sempre foi uma história de destruição. O Rio de Janeiro construiu a Avenida Central. Construíram 130 prédios e hoje sobram seis de um século atrás. Logo depois, se destruiu o Morro do Castelo. Encontraram um sanitarista qualquer para dar uma opinião que o morro não permitia a circulação livre dos ventos e por isso é que as pessoas ficavam tuberculosas. Botou-se tudo abaixo em prol dos interesses imobiliários. Criou-se o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, em 1937, e logo depois se destruiu sete igrejas notáveis, entre as quais dizem a mais bela do Brasil, que era de São Pedro, para construir aquela medonha na Presidente Vargas. O que existe aqui é um permanente fluxo de destruição do passado, como se o passado não tivesse nenhum significado, nenhuma importância. Se você não constrói algo que preserve o passado e a partir do passado constrói bases futuras, não vai a lugar nenhum.
  • 6. Os valores culturais Quando você fala em transporte público e um ônibus para no meio da rua e não no meio fio para uma pessoa entrar, isso é cultura. Quando você fala que as praças são consideradas lugares de 'mendigos' e um valhacouto de marginais, isso é um valor cultural. Por quê? Porque praça é um bem público, a rua é um bem público, mas no Brasil, bem público é tido como pertencente a quem é mais malandro, quem passa mais a perna, quem toma conta. O grande drama é que tudo é cultura. A cultura não deve estar isolada num Segundo Caderno, ou num Caderno B ou numa Folha Ilustrada. A cultura permuta e permeia todas as relações humanas. Acho que está havendo um segregacionismo jornalístico em relação à cultura, o que é uma pena. Investir mais no passado e não investir nessa ideia do futuro, desordenadamente. Outro dia ouvi o nosso presidente da República dizer que o Brasil será a quarta economia do mundo. De que adianta ser a quarta economia do mundo se nós somos o 62º país no mundo em índice de desenvolvimento humano? Ou seja, em injustiça social e em desconhecimento cultural. Escola do Olhar É um projeto da Fundação Roberto Marinho com a Prefeitura do Rio e o apoio do governo do Estado visando construir na área do Porto a pinacoteca Escola do Olhar, que estamos chamando de Pina, por enquanto. É um nome afetivo. Ela, a princípio, vai se constituir numa exposição permanente sobre o Rio de Janeiro, contando a história, a saga da cidade. E vai ter um outro núcleo de exposições permanentes da relação da arte brasileira com a arte do mundo, a ‘Exposições diálogo’, como a gente está chamando. Eu espero que funcione. Além disso, nós pretendemos que esses prédios façam uma relação com o morro da Conceição, que está ali ao lado, e o morro da Conceição tem 400 anos de história. Então a gente está brincando com o ‘lá dentro’ e o ‘lá fora’, está brincando com o presente e com o passado. A reinvenção do Brasil O homem se reinventa a partir de sua cultura. O Brasil nunca teve um Prêmio Nobel, nunca produzimos praticamente patente nenhuma nem inovações tecnológicas. Ficamos a reboque, continuamos a ser um pouco de certa maneira o que fomos no passado. Estamos vivendo essa festa das commodities atualmente, de matérias-primas do campo e de minérios, enfim, mas estamos
  • 7. produzindo muito pouca inteligência. E isso me preocupa profundamente. Acho que o Brasil se reinventou naturalmente em vários campos: no da música e do futebol são duas grandes expressões artísticas em que fomos capazes de nos reinventar e de uma maneira até um pouco natural, algo que está dentro de nós mesmos. São campos em que criamos linguagens singulares. Mas é pena que o Brasil não tenha criado linguagens singulares em tantos outros campos da vida. Acho que o país hoje se reinventa quando se relaciona cada vez mais consigo mesmo e com o mundo exterior. Fonte: Site Nós da Comunicação http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna.asp?panora ma=662&tipo=A