Trabalho desenvolvido em conjunto com alunos de hotelaria da UFRRJ sob a supervisão do Dr. Rodrigo Amado.
Um debate contemporâneo a respeito dos principais conceitos da sustentabilidade no ambiente hoteleiro.
Sustentabilidade ambiental e gestões hoteleiras contemporâneas: Um debate sobre a construção de vantagens competitivas
1. SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E GESTÕES HOTELEIRAS
CONTEMPORÂNEAS. UM DEBATE SOBRE A CONSTRUÇÃO DE
VANTAGENS COMPETITIVAS.
MACHADO, Jorge Luiz.
OLIVEIRA JÚNIOR, Gerivaldo Santos de.
CRUZ, Bruno da Silva.
Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Amado dos Santos.
A sustentabilidade ao longo das últimas décadas está se tornando uma
estratégia imperativa para que as organizações hoteleiras alcancem suas
metas e objetivos econômicos (GALPIN, 2015). Para Molina-Azorín (2015), a
influência das gestões ambientais sustentáveis sobre as vantagens
competitivas é analisada sobre seu impacto no custo e na diferenciação dos
produtos e serviços1
. Desse modo, nota-se que termos como “responsabilidade
social corporativa”, “esverdeamento” e “Triple-Botton-Line”estão ligados aos
esforços desses empreendimentos acerca da melhoria de suas performances
econômicas, sociais e ambientais (GALPIN, 2015). Para que possam ser
concretizados, Galpin (2015) menciona a necessidade de se adotar uma
abordagem sistêmica, buscando encontrar soluções inovadoras que acarretem
resultados organizacionais positivos perante a relação meio ambiente,
sociedade e empresas.
Entre outros documentos e conferências que alertam sobre a
problemática ambiental tem-se: a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente Humano (1972), o Relatório de Brundtland2
(1987) a ECO 92
(1992) (CORRÊA, 2009). Em específico ao Relatório de Brundtland, observa-se
que seus idealizadores apresentaram um olhar crítico sobre o modelo de
desenvolvimento dos países industrializados e reproduzidos pelos países em
1
Molina-Azorín (2015) acredita que essas estratégias podem produzir resultados positivos para
a satisfação do turista, além de poderem aumentar os índices de venda e fidelização, bem
como propiciar a conquista de novos mercados.
2
Objetivando traçar metas de desenvolvimento sustentável o Relatório de Brundtland publicado
em 1987, intitulado our common future, define que o “desenvolvimento sustentável é aquele
que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras
de suprir suas próprias necessidades” (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO, 1991, pág. 9).
2. desenvolvimento como o Brasil, ressaltando que o intensivo uso dos recursos
naturais, sem levar em consideração a capacidade de carga desses
ecossistemas, representa uma incongruência entre o desenvolvimento
sustentável e os padrões de consumo adotados (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE
O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991)
Nesse sentido, as indústrias, especificamente turístico-hoteleiras, têm
procurado adotar medidas para minimizar seus impactos negativos perante o
meio-ambiente. Chou (2014) pontua que em razão da deterioração ambiental e
do avanço do aquecimento global, a indústria hoteleira gradativamente tem
adotado atitudes mais “verdes”. Esse autor ressalta que adotar práticas verdes,
beneficia economicamente essa indústria turístico-hoteleira, gerando vantagens
competitivas, inovação, satisfação e a fidelização de seus clientes. Por isso,
verifica-se atualmente a importância de se refletir e buscar soluções pautadas
em princípios organizacionais ambientalmente responsáveis.
Para a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2004), o
desenvolvimento sustentável do turismo é um processo contínuo que requer
monitoramento constante dos impactos que a atividade pode causar, de modo
que, com adequadas ações de manejo seja possível minimizar suas inferências
negativas e maximizar seus aspectos positivos. Para tanto, o desafio aqui é
fazer com que os empresários de vários setoresprodutivos desenvolvam uma
gestão administrativa competitiva, objetivando usufruir os recursos naturais e
culturais disponíveis no planeta de maneira sustentável, relacionando suas
planificações e operacionalizações às questões econômicas, sociais ou
(socioculturais) e ambientais (GEERTS, 2014).
E, dentro desse contexto, pelo fato do setor hoteleiro contemporâneo
serum dos segmentos empresariais que estão em expansão3
, e que possui
grande visibilidade pelo fato de ser uma indústria relativamente nova, este setor
está implantando gradativamente políticas e práticas ambientais visando obter
certificações oficias para essas iniciativas, (GEERTS, 2014). As organizações
3
Ao analisar a geração de empregos diretos e indiretos, o WTTC descreve que em 2011 foram
gerados 7,65 milhões de empregos e, em 2012, 8,04 milhões, valores que representaram,
respectivamente, 7,8% e 8,3% do total de empregos gerados no país (WORLD TRAVEL
TOURISM COUNCIL, 2013a). Para o ano de 2013, estima-se um crescimento de 3,8%.
Projetam-se 10,59 milhões de empregos diretos e indiretos no ano de 2023, o que representa
aproximadamente 9,5% do total de empregos. (PLANO NACIONAL DE TURISMO 2013 – 2016
– PORTAL MINSTÉRIO DO TURISMO).
3. que se preocupam em adotar práticas pautadas em princípios socioambientais
sustentáveis fazem isso por vários motivos, entre eles estão: melhorar a
avaliação pública de seu estabelecimento, aumentar a satisfação de seus
clientes internos e externos, melhorar o comprometimento dos colaboradores,
estreitar relações com os investidores e até mesmo por questões éticas-morais,
(GEERTS, 2014).
O que se percebe é que as gestões sustentáveis devem buscar
minimizar os impactos negativos e maximizar os impactos positivos
provenientes das operações hoteleiras, no intuito de se gerar vantagens
competitivas aos meios de hospedagem. Para que isso efetivamente ocorra, o
desenvolvimento eco sustentável hoteleiro deve estarincondicionalmente
atrelado a todos os membros dessa organização, envolvendo todos os seus
"stakeholders" (SANTOS e MATSCHUCK, 2015).
Além dessas premissas, destaca-se aqui o fato da sustentabilidade
ambiental ser gerenciada por meio da padronização e das diretrizes propostas
pela ISO4
14001 – Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) (CAJAZEIRAS, 1997).
Essa ISO específica os requisitos para a implantação, manutenção, auditoria e
melhoramento continuo do SGA5
, através de normas que objetivam planejar,
organizar, responsabilizar e prever os usos dos recursos matérias e humanos e
seus impactos perante seu ecossistema (CAJAZEIRAS, 1997).
Como afirma a Tour Operators’ Initiative for Sustainable Tourism
Development (2003), a chave para um SGA bem-sucedido e eficiente é
assegurar o pleno apoio, a contribuição e a participação de todas as pessoas
envolvidas, inclusive funcionários, hóspedes, parceiros comerciais e
comunidades locais. O compromisso dos funcionários e a participação devem
vir de todas as partes da organização, não só da alta gerência. A educação dos
hóspedes também é parte importante de um SGA eficiente, visto que muitas de
suas medidas – tais como os atos de apagar as luzes e desligar aparelhos
elétricos, utilizar menos água ou evitar produtos locais insustentáveis – exigirão
4
Normas Internacionais ISO garantem que os produtos e serviços são seguros, confiáveis e de
boa qualidade. Para o negócio, eles são ferramentas estratégicas que reduzam os custos,
minimizando o desperdício e os erros e aumentando a produtividade. Eles ajudam as empresas
a aceder a novos mercados, o nível de igualdade para os países em desenvolvimento e facilitar
o comércio mundial livre e justo (tradução dos autores).
5
O SGA – Sistema de gestão ambiental é uma ferramenta gerencial que empresas podem
utilizar para ter controle e o acompanhamento ambiental. É um sistema criado para
acompanhar e implementar as atividades de proteção ao ambiente.
4. apoio ativo dos hóspedes como afirma a Tour Operators’ Initiative for
Sustainable Tourism Development (TOI, 2003)
Por tudo isso, acredita-se que as gestões hoteleiras contemporâneas
podem obter vantagens competitivas se buscarem implementar eficientemente
as normas e princípios contidos na ISO 14001. Molina-Azorín (2015) salienta
que esse tipo de gestão permite aos meios de hospedagem obter vantagens
competitivas no que concerne ao custo e a diferenciação. O referido autor
ainda menciona que os hotéis que implementarem tais práticas encontrarão
menos resistência na implementação de programas ambientais, além de
permitir o aumento de sua produtividade, levando a empresa a ganhar espaço
no mercado e melhorar sua competitividade.
Portanto, percebe-se que implementar uma gestão ambiental eficiente –
seja essa embasada ou não nas normas e princípios da ISO 14001 – é
essencial para o setor hoteleiro. Contudo, Han; Yoon (apud. SANTOS e
MATSCHUCK, 2015) mencionam que o impacto nefasto ao meio ambiente, em
parte corroborado pela operacionalidade negativa de algumas empresas do
ramo hoteleiro (CHEN, 2013) é sentido pelos seus clientes. Por isso, uma
politica de sustentabilidade ambiental é fundamental para a indústria hoteleira,
a fim de minimizar os impactos negativos produzidos por este setor, de forma a
não só atender uma clientela que está cada vez mais atenta aos problemas
ambientais, mas também prover a manutenção da competitividade e obtenção
de vantagens competitivas.
Para Porter (apud. Lubczyk, 2013, p.03) “[...] qualquer setor que produza
um bem ou preste algum serviço tem regras de concorrência representadas por
cinco forças competitivas [...]”. Michael E. Poter as define como sendo: a
entrada de novos concorrentes; a ameaça de produtos substitutos, o poder de
negociação dos compradores; o poder de negociação dos fornecedores e a
rivalidade entre os concorrentes. Para Porter “estas cinco forças se inter-
relacionam e estabelecem com exatidão e precisão a habilidade que uma
organização terá para obter o retorno sobre os seus investimentos” (apud.
LUBCZYK, 2013, p.41)
Segundo Lubczyk (2013), existem autores que defendem que por meio
dos recursos internos da empresa, a estruturação de sua vantagem
competitiva torna-se viável, sendo tal abordagem conhecida como “Teoria da
5. Visão Baseada em Recursos (VBR)” e/ou “Teoria de Penrose6
”. Esta apresenta
“um modelo de desempenho com foco nos recursos e nas capacidades
controladas por uma empresa como fonte de vantagem competitiva7
” (BARNEY
e HESTERLY, 2011, p. 58 apud LUBCZYK, 2013, p. 39 ).
Nesse sentido, Porter e Van der Linde (1995) afirmam que normativas
ambientais, quando adequadamente desenvolvidas, podem catalisar
inovações, diminuindo custos e agregando valores, permitindo, portanto, a
estruturação de uma vantagem competitiva.
Buscando inovar, diminuir custos e agregar valor, empreendimentos
hoteleiros estão modificando sua estrutura e gestão empresarial como
estratégia competitiva para diferenciar-se no mercado. Para Lubczyk (2013), os
meios de hospedagem que se preocupam com a questão ambiental acabam
diminuindo custos, aumentando a rentabilidade da organização, obtendo
vantagens competitivas perante as concorrentes. Já Kraemer (2006), relata que
a gestão ambiental começa a ser encarada como um assunto estratégico nas
organizações e que a empresa que não se adequar a esses preceitos está
fadada a perder competitividade em curto ou médio prazo.
6
Edith Penrose economist (1959), elaborou a The theory of the growth of the firm.
http://editorarevistas.mackenzie.br/. Acesso em 18 set 16.
7
Para Poter (1990, p.45), vantagem competitiva é “uma posição sustentável de uma empresa
para enfrentar as forças da concorrência num ramo específico, possibilitando a superação dos
rivais em termos de rentabilidade a longo prazo”. Já Correia (2011, p.43) define: “vantagem
competitiva ou diferencial competitivo é uma gama de características que possibilitam uma
organização [...] agregar maior valor sob o ponto de vista dos clientes, diferenciando-se da
concorrência e, com isto, obtendo vantagens no mercado” (LUBCZYK, 2013, p.40).
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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http://www.turismo.gov.br/.Acesso em 06 set 2016, às11h30min.
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Horizonte: 2009. Monografia em Gestão e Tecnologia na Construção Civil
(especialização), Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas
Gerais. Disponível em: http://especializacaocivil.demc.ufmg.br/ acesso em 06
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GALPIN, Timothy; WHITTINGTON, J.L.; BELL, Greg Bell. Is your sustainability
Strategy sustainable? Creating a culture of sustainability. Corporate
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GEERTS, Wouter. Environmental certification schemes: Hotel managers’ views
and perceptions. International Journal of Hospitality Management, v.39, nº
01, pp. 87- 96, 2014.
KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. A busca de estratégias competitivas
através da gestão ambiental. 2006. Disponível em: scholar.google.com.br.
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SANTOS, Rodrigo Amado dos; MATSCHUCK, Tamires Chagas. A
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7. MOLINA-AZORÍN, José F. The effects of quality and environmental
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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO (OMT). Guia de desenvolvimento
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DEVELOPMENT. Sustainable tourism: the tour operators’ contribution.
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