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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE ARTES 
BACHARELADO EM DESIGN 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
DESIGN & INDÚSTRIA 
Prof. Rodrigo BouṀeur 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
TRABALHO FINAL 
  
Design & Indústria: Uma Comparação dos Primórdios da 
Industrialização com o Processo do Movimento Maker 
  
  
  
  
  
  
  
  
Aluna: Brisa Gil 
  
  
  
  
  
  
  
NATAL 2017 
“Nada se cria, tudo se transforma”, Lavoisier que perdoe o uso fora de contexto da                             
sua famosa frase para falar de algo que pouco tem a ver com o Princípio de Conservação                                 
das Massas¹, mas vamos aqui discutir e comparar os primórdios da industrialização, que                         
aconteceram entre os séculos 18 e 19 na Europa, com o momento atual em que vivemos                               
de crescimento do Movimento Maker. 
A partir, prioritariamente, da leitura do segundo capítulo (Industrialização e                   
organização industrial, séculos 18 e 19) do livro “Uma Introdução à História do Design” do                             
autor brasileiro Rafael Cardoso, em contraponto com os capítulos 2 (A nova revolução                         
industrial) e 5 (A Cauda Longa das Coisas) do livro “Makers - A Nova Revolução Industrial”                               
do escritor britânico-estadunidense Chris Anderson, iremos tecer nossa linha de raciocínio                     
para provar o que Lavoisier tem a ver com isso e mostrar que a história se repete, mas                                   
transformando peças chaves para que tudo tenha forma de uma grande espiral de                         
conhecimento. 
O conjunto de transformações nos meios de fabricação que levaram a produção                       
antes feita de modo prioritariamente artesanal, especializado, e em pequena escala para                       
um modelo cada vez mais automatizado, industrial e de grandes demandas (CARDOSO,                       
2008), quando posto de frente ao processo atual de aplicação de conhecimentos                       
adquiridos a partir da era industrial, mas desenvolvidos e cada vez mais disseminados por                           
meio da Web, no mundo real (ANDERSON, 2012) pode gerar de certo modo um                           
reconhecimento da “forma cíclica” a qualquer um que já tenha parado para prestar atenção. 
No primeiro momento, temos uma revolução que leva o conteúdo e expertise das                         
pequenas oᵬcinas de artesãos para uma escala de produção muito maior e um contexto                           
industrial, que faz uso da mecanização dos processos para suprir demandas geradas pelo                         
próprio sistema (CARDOSO, 2008). Já no segundo momento apontado, vemos o                     
conhecimento fazendo um caminho “inverso”, do macro pro micro. Técnicas que só                       
puderam ser desenvolvidas, inicialmente, graças a grandes investimentos de empresas em                     
tecnologia e proᵬssionais treinados são agora aplicadas em contextos pontuais de                     
demanda por vezes exclusiva que gera por ᵬm bens especializados e empoderamento do                         
consumidor (ANDER SON, 2012). 1
Mas antes de pormos, de fato, as ideias na balança, é preciso entender algumas                           
palavras importantes para o nosso pequeno estudo comparativo. Explicar o que nós                       
1
    Em 1777, o cientista francês mostrou que a combustão e outros processos relativos (como a calcinação de 
metais) era resultado do oxigênio se combinar com outros elementos. Ele mostrou que a massa dos produtos 
da reação era igual aos que deram origem à ela. Era o princípio da conservação de massas, conhecido pela 
frase: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" 
tomamos como indústria, revolução industrial e quem era (ou é?) o artesão e quem é o tal                                 
“maker” da contemporaneidade. 
Comecemos pelo “começo”, Cardoso (2008) fala sobre como Eric Hobsbawm (autor                     
do livro “A Era das Revoluções 1789-1848”) descreve o processo de industrialização                       
justamente como esse sistema que além de suprir demandas que existem passa a criar                           
novas, torna-se independente a medida que as quantidades aumentam e o custo diminui.                         
Então, podemos dividir a Indústria, de maneira geral, em três partes: a produção em si                             
(métodos e quantidades de produtos que vão depender de um custo), a estrutura para que                             
ela ocorra (as máquinas, fábricas e o próprio proletariado/proᵬssionais qualiᵬcados) e o                       
retorno, os resultados gerados, (não só o lucro como também a demanda que ela mesma                             
cria para suprir suas necessidades à medida que segue funcionando). 
Agora que se entende o que levamos em conta quando falamos de Indústria aqui,                           
podemos rapidamente esclarecer o termo Revolução Industrial. Esse conjunto de                   
transformações foram chamadas de tal forma justamente para chamar atenção ao                     
enorme impacto que elas representaram sobre a sociedade, que caracterizou uma ruptura                       
radical com o passado, antes vista apenas com a Revolução Francesa (CARDOSO, 2008). 
É sabido que, antes dessa ruptura, do surgimento da máquina a vapor, dos grandes                           
investimentos para criação de produtos, os bens de consumo já existiam. Bem como uma                           
demanda crescente que data de antes desse processo, consequência de um grande                       
acúmulo de riquezas líquidas que acabou gerando um aumento proporcional no consumo                       
(CARDOSO, 2008). Mas quem produzia esses bens? É aqui que entra a ᵬgura do artesão.                             
Segundo o Dicio - Dicionário Online de Português (2017) artesão ou artesã é o “trabalhador                             
manual que trabalha por sua conta, só ou com o auxílio dos membros da família e alguns                                 
companheiros”. Esses trabalhadores e trabalhadoras desenvolviam produtos com               
materiais e técnicas especíᵬcas dentro de suas pequenas oᵬcinas, tudo de forma                       
autônoma sem necessariamente pensar numa demanda a ser atendida. 
No processo da industrialização os principais agentes ativos eram justamente o                     
patrão, quem detinha o capital, e o proletário, quem punha a mão na massa, mas isso após                                 
o advento das máquinas a vapor e toda a mecanização do processo produtivo. Ou seja, a                               
mão de obra não era especializada, ela apenas aprendia a realizar pequenas tarefas que                           
unidas completavam o processo. Assim, quando falamos em métodos e técnicas, é                       
preciso considerar que máquinas sozinhas não inovam, elas não criam processos, apenas                       
fazem uso do conhecimento que já existe de forma mecanizada. Por tanto, não era                           
possível que o artesão saísse de cena de imediato, até porque dentro do processo                           
industrial existem processos artesanais, principalmente dependendo do tipo de indústria                   
que estivermos tratando. 
“Os aumentos obtidos no volume produzido durante o século 19 devem-se tanto                       
senão mais – à reorganização e racionalização dos métodos de fabricação e de                         
distribuição quanto à introdução de novas tecnologias” (CARDOSO, 2008, pág. 43). A                       
divisão do trabalho permitia que os proprietários das fábricas contratassem uma parcela                       
de mão de obra especializada (que acarretava num custo extra) para orientar os demais                           
que apenas seguiam pequenos passos quase tão mecânicos quanto os movimentos das                       
máquinas utilizadas. 
Nesse contexto em que os conhecimentos especíᵬcos dos artesãos são                   
mecanizados para permitir a produção mais rápida e em grande escala sem se pensar                           
muito no produto ᵬnal, sua relação com o consumidor e, há quem diga, que com a beleza                                 
dos objetos, apenas no fator de produzir para consumir, surge o design com a premissa de                               
pôr ordem na bagunça do mundo industrial (CARDOSO, 2011). 
A partir daí, as descobertas de novos materiais, fontes de energia e investimentos                         
(particulares e estatais) em pesquisa e desenvolvimento em design e tecnologia até a                         
década de 1990 deram origem ao modelo de indústria e mercado tidos como tradicionais                           
nos dias de hoje. Processo que colocou o domínio da indústria nas mãos de grandes                             
empresas e proᵬssionais treinados, devido às exigências de expertise no manuseio de                       
equipamentos e dos custos de produção em grande escala (ANDERSON, 2012). 
Mas nas últimas décadas com o advento da internet e a busca, cada vez maior, pela                               
democratização do conhecimento, a indústria está mudando. Hoje muitos objetos físicos                     
começam como projetos em tela, a indústria se tornou digital. O que vêm transformando                           
não só as grandes instalações de produção e escritórios de design, bem como mesas e                             
garagens dos próprios consumidores. A partir do momento que muito se passa a ser feito                             
em computadores, qualquer pessoa pode produzir coisas e a maior transformação não é                         
mais como se fazem essas coisas e sim quem está de fato fazendo-as (ANDERSON, 2012). 
Finalmente, podemos explicar então quem é o Maker (se é que é preciso), o grande                             
protagonista do momento atual que vivemos. Ele ou ela pode ser qualquer um. Essa é a                               
grande premissa. A Web na última década disseminou o espírito do Faça Você Mesmo                           
(FVM) ou Do It Yourself (DIY, como se popularizou a sigla no inglês) que incentiva as                               
pessoas a colocarem a mão na massa, fazerem seus próprios produtos (seja ele uma                           
simples camisa customizada ou uma mesa de jantar de pallets). O FVM, de modo geral,                             
busca o reaproveitamento de materiais que já possuímos em casa e/ou uso de materiais                           
de baixo custo e fácil acesso em mercados locais. 
Mas o Maker quer mais. Muitas vezes são aqueles pretensos inventores e                       
empreendedores que cansaram de estar a mercê e serem podados pelas grandes                       
empresas e querem pôr em prática suas ideias. A geração Web anseia por fazer algo que                               
começa no virtual mas atravessa essas barreiras para terminar com a produção de coisas                           
reais (ANDERSON, 2012). 
Governos de alguns países já vislumbraram nessa cultura uma possibilidade de                     
investimento numa revolução que pode trazer grandes benefícios ao Estado. O governo                       
dos EUA (na época administrado por Obama) foi um dos que investiu nesse “retorno do                             
ensino industrial (...), com recursos da era da Web” (ANDERSON, 2012, pág. 21) objetivando                           
desenvolver toda uma nova geração de projetistas de sistemas e inovadores de produção                         
(ANDERSON, 2012). 
Mas o Movimento Maker não se restringe ao desenvolvimento de “hardware aberto”,                       
essa é apenas uma possibilidade, e variedade no mundo Maker é o que não falta. Existem                               
muitas pessoas que vão fazer uso mais direto do que já está pronto no virtual pondo em                                 
prática no mundo real e uma mudança importante é o surgimento de objetos cada vez                             
mais especíᵬcos. “O movimento “artesanal” e o artesanato em escala de massa geraram                         
demanda difusa por esses bens especializados” (ANDERSON, 2012, pág. 45). Anderson                     
(2012) apresenta exemplos no contexto dos EUA que podemos muito bem substituir por                         
alguns locais, como a moça que produz pochetes veganas e pensa e coordena a                           
distribuição pela internet, ou o cara que comprou uma pequena impressora 3-D e fornece o                             
serviço de impressão de chaveiros para eventos e ainda a grife de camisetas que usa                             
frases e referências de lugares e escritores locais para se aproximar do público da cidade. 
 
“Isso é o que a i.materialize, empresa de design, denomina “poder da                       
singularidade”. Em um mundo dominado pelo “tamanho único”, isto é,                   
pela padronização, a maneira de se destacar é criar produtos que                     
atendam a necessidades especíᵬcas e até individuais não a                 
demandas genéricas e coletivas” (ANDERSON, 2012, pág. 46). 
 
Os exemplos são justamente para reforçar a ideia de que até mesmo o consumidor                           
que não vai pôr a mão na massa (não quer ser um maker) está inserido na cultura e                                   
mudando suas exigências, interesses e demandas. Quanto maior a variedade de produtos                       
que se conᵬguram como bens especializados, maior se torna a procura. 
Voltando ao nosso ponto principal lá do início, é fácil perceber o que queremos dizer                             
com a história criando um “movimento espiral de conhecimento”. Enquanto nos primórdios                       
da industrialização a grande transformação foi levar o artesanal para um modelo                       
mecanizado que abria portas dos produtores para o mundo com uma produção em série,                           
como coloca Cardoso (2008) no ᵬnal do capítulo: 
 
“Pela primeira vez na história, qualquer produtor podia sonhar com o                     
mercado mundial para os seus artigos e as consequências dessa                   
possibilidade alteraram permanentemente a relação das pessoas com               
o mundo material que as cercava” (CARDOSO, 2008, pág. 43) 
 
Agora temos os makers como artesãos mas que trazem o uso das máquinas e                           
tecnologias cada vez mais avançadas para produzir em suas pequenas oᵬcinas caseiras                       
lutando contra a cultura do “tamanho único”. “Cada vez mais, quando as máquinas de                           
produção são controladas por computador, fazer sucessivos produtos diferentes não                   
acarreta maiores custos” (ANDERSON, 2012, pág. 46). Assim, podemos concluir que uma                       
nova relação das pessoas com o mundo material está se conᵬgurando, aᵬnal, nesse                         
mundo “nada se cria, tudo se transforma”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANDERSON, Chris. Makers: A Nova Revolução Industrial. Brooklin: Elsevier, 2012. 
CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo. São Paulo: Cosac Naify,                     
2011 
CARDOSO, Rafael. Uma Introdução à História do Design. 3. ed. São Paulo: Blucher,                         
2008. 
DICIO. Dicionário de Português Online. São Paulo: Dicio, 2017. Disponível em:                     
<https://www.dicio.com.br/artesao/>. Acesso em: 21 jun. 2017 

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Comparação dos primórdios da industrialização com o movimento maker

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE  CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES  DEPARTAMENTO DE ARTES  BACHARELADO EM DESIGN                             DESIGN & INDÚSTRIA  Prof. Rodrigo BouṀeur                                TRABALHO FINAL     Design & Indústria: Uma Comparação dos Primórdios da  Industrialização com o Processo do Movimento Maker                          Aluna: Brisa Gil                       NATAL 2017 
  • 2. “Nada se cria, tudo se transforma”, Lavoisier que perdoe o uso fora de contexto da                              sua famosa frase para falar de algo que pouco tem a ver com o Princípio de Conservação                                  das Massas¹, mas vamos aqui discutir e comparar os primórdios da industrialização, que                          aconteceram entre os séculos 18 e 19 na Europa, com o momento atual em que vivemos                                de crescimento do Movimento Maker.  A partir, prioritariamente, da leitura do segundo capítulo (Industrialização e                    organização industrial, séculos 18 e 19) do livro “Uma Introdução à História do Design” do                              autor brasileiro Rafael Cardoso, em contraponto com os capítulos 2 (A nova revolução                          industrial) e 5 (A Cauda Longa das Coisas) do livro “Makers - A Nova Revolução Industrial”                                do escritor britânico-estadunidense Chris Anderson, iremos tecer nossa linha de raciocínio                      para provar o que Lavoisier tem a ver com isso e mostrar que a história se repete, mas                                    transformando peças chaves para que tudo tenha forma de uma grande espiral de                          conhecimento.  O conjunto de transformações nos meios de fabricação que levaram a produção                        antes feita de modo prioritariamente artesanal, especializado, e em pequena escala para                        um modelo cada vez mais automatizado, industrial e de grandes demandas (CARDOSO,                        2008), quando posto de frente ao processo atual de aplicação de conhecimentos                        adquiridos a partir da era industrial, mas desenvolvidos e cada vez mais disseminados por                            meio da Web, no mundo real (ANDERSON, 2012) pode gerar de certo modo um                            reconhecimento da “forma cíclica” a qualquer um que já tenha parado para prestar atenção.  No primeiro momento, temos uma revolução que leva o conteúdo e expertise das                          pequenas oᵬcinas de artesãos para uma escala de produção muito maior e um contexto                            industrial, que faz uso da mecanização dos processos para suprir demandas geradas pelo                          próprio sistema (CARDOSO, 2008). Já no segundo momento apontado, vemos o                      conhecimento fazendo um caminho “inverso”, do macro pro micro. Técnicas que só                        puderam ser desenvolvidas, inicialmente, graças a grandes investimentos de empresas em                      tecnologia e proᵬssionais treinados são agora aplicadas em contextos pontuais de                      demanda por vezes exclusiva que gera por ᵬm bens especializados e empoderamento do                          consumidor (ANDER SON, 2012). 1 Mas antes de pormos, de fato, as ideias na balança, é preciso entender algumas                            palavras importantes para o nosso pequeno estudo comparativo. Explicar o que nós                        1     Em 1777, o cientista francês mostrou que a combustão e outros processos relativos (como a calcinação de  metais) era resultado do oxigênio se combinar com outros elementos. Ele mostrou que a massa dos produtos  da reação era igual aos que deram origem à ela. Era o princípio da conservação de massas, conhecido pela  frase: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" 
  • 3. tomamos como indústria, revolução industrial e quem era (ou é?) o artesão e quem é o tal                                  “maker” da contemporaneidade.  Comecemos pelo “começo”, Cardoso (2008) fala sobre como Eric Hobsbawm (autor                      do livro “A Era das Revoluções 1789-1848”) descreve o processo de industrialização                        justamente como esse sistema que além de suprir demandas que existem passa a criar                            novas, torna-se independente a medida que as quantidades aumentam e o custo diminui.                          Então, podemos dividir a Indústria, de maneira geral, em três partes: a produção em si                              (métodos e quantidades de produtos que vão depender de um custo), a estrutura para que                              ela ocorra (as máquinas, fábricas e o próprio proletariado/proᵬssionais qualiᵬcados) e o                        retorno, os resultados gerados, (não só o lucro como também a demanda que ela mesma                              cria para suprir suas necessidades à medida que segue funcionando).  Agora que se entende o que levamos em conta quando falamos de Indústria aqui,                            podemos rapidamente esclarecer o termo Revolução Industrial. Esse conjunto de                    transformações foram chamadas de tal forma justamente para chamar atenção ao                      enorme impacto que elas representaram sobre a sociedade, que caracterizou uma ruptura                        radical com o passado, antes vista apenas com a Revolução Francesa (CARDOSO, 2008).  É sabido que, antes dessa ruptura, do surgimento da máquina a vapor, dos grandes                            investimentos para criação de produtos, os bens de consumo já existiam. Bem como uma                            demanda crescente que data de antes desse processo, consequência de um grande                        acúmulo de riquezas líquidas que acabou gerando um aumento proporcional no consumo                        (CARDOSO, 2008). Mas quem produzia esses bens? É aqui que entra a ᵬgura do artesão.                              Segundo o Dicio - Dicionário Online de Português (2017) artesão ou artesã é o “trabalhador                              manual que trabalha por sua conta, só ou com o auxílio dos membros da família e alguns                                  companheiros”. Esses trabalhadores e trabalhadoras desenvolviam produtos com                materiais e técnicas especíᵬcas dentro de suas pequenas oᵬcinas, tudo de forma                        autônoma sem necessariamente pensar numa demanda a ser atendida.  No processo da industrialização os principais agentes ativos eram justamente o                      patrão, quem detinha o capital, e o proletário, quem punha a mão na massa, mas isso após                                  o advento das máquinas a vapor e toda a mecanização do processo produtivo. Ou seja, a                                mão de obra não era especializada, ela apenas aprendia a realizar pequenas tarefas que                            unidas completavam o processo. Assim, quando falamos em métodos e técnicas, é                        preciso considerar que máquinas sozinhas não inovam, elas não criam processos, apenas                        fazem uso do conhecimento que já existe de forma mecanizada. Por tanto, não era                            possível que o artesão saísse de cena de imediato, até porque dentro do processo                           
  • 4. industrial existem processos artesanais, principalmente dependendo do tipo de indústria                    que estivermos tratando.  “Os aumentos obtidos no volume produzido durante o século 19 devem-se tanto                        senão mais – à reorganização e racionalização dos métodos de fabricação e de                          distribuição quanto à introdução de novas tecnologias” (CARDOSO, 2008, pág. 43). A                        divisão do trabalho permitia que os proprietários das fábricas contratassem uma parcela                        de mão de obra especializada (que acarretava num custo extra) para orientar os demais                            que apenas seguiam pequenos passos quase tão mecânicos quanto os movimentos das                        máquinas utilizadas.  Nesse contexto em que os conhecimentos especíᵬcos dos artesãos são                    mecanizados para permitir a produção mais rápida e em grande escala sem se pensar                            muito no produto ᵬnal, sua relação com o consumidor e, há quem diga, que com a beleza                                  dos objetos, apenas no fator de produzir para consumir, surge o design com a premissa de                                pôr ordem na bagunça do mundo industrial (CARDOSO, 2011).  A partir daí, as descobertas de novos materiais, fontes de energia e investimentos                          (particulares e estatais) em pesquisa e desenvolvimento em design e tecnologia até a                          década de 1990 deram origem ao modelo de indústria e mercado tidos como tradicionais                            nos dias de hoje. Processo que colocou o domínio da indústria nas mãos de grandes                              empresas e proᵬssionais treinados, devido às exigências de expertise no manuseio de                        equipamentos e dos custos de produção em grande escala (ANDERSON, 2012).  Mas nas últimas décadas com o advento da internet e a busca, cada vez maior, pela                                democratização do conhecimento, a indústria está mudando. Hoje muitos objetos físicos                      começam como projetos em tela, a indústria se tornou digital. O que vêm transformando                            não só as grandes instalações de produção e escritórios de design, bem como mesas e                              garagens dos próprios consumidores. A partir do momento que muito se passa a ser feito                              em computadores, qualquer pessoa pode produzir coisas e a maior transformação não é                          mais como se fazem essas coisas e sim quem está de fato fazendo-as (ANDERSON, 2012).  Finalmente, podemos explicar então quem é o Maker (se é que é preciso), o grande                              protagonista do momento atual que vivemos. Ele ou ela pode ser qualquer um. Essa é a                                grande premissa. A Web na última década disseminou o espírito do Faça Você Mesmo                            (FVM) ou Do It Yourself (DIY, como se popularizou a sigla no inglês) que incentiva as                                pessoas a colocarem a mão na massa, fazerem seus próprios produtos (seja ele uma                            simples camisa customizada ou uma mesa de jantar de pallets). O FVM, de modo geral,                              busca o reaproveitamento de materiais que já possuímos em casa e/ou uso de materiais                            de baixo custo e fácil acesso em mercados locais. 
  • 5. Mas o Maker quer mais. Muitas vezes são aqueles pretensos inventores e                        empreendedores que cansaram de estar a mercê e serem podados pelas grandes                        empresas e querem pôr em prática suas ideias. A geração Web anseia por fazer algo que                                começa no virtual mas atravessa essas barreiras para terminar com a produção de coisas                            reais (ANDERSON, 2012).  Governos de alguns países já vislumbraram nessa cultura uma possibilidade de                      investimento numa revolução que pode trazer grandes benefícios ao Estado. O governo                        dos EUA (na época administrado por Obama) foi um dos que investiu nesse “retorno do                              ensino industrial (...), com recursos da era da Web” (ANDERSON, 2012, pág. 21) objetivando                            desenvolver toda uma nova geração de projetistas de sistemas e inovadores de produção                          (ANDERSON, 2012).  Mas o Movimento Maker não se restringe ao desenvolvimento de “hardware aberto”,                        essa é apenas uma possibilidade, e variedade no mundo Maker é o que não falta. Existem                                muitas pessoas que vão fazer uso mais direto do que já está pronto no virtual pondo em                                  prática no mundo real e uma mudança importante é o surgimento de objetos cada vez                              mais especíᵬcos. “O movimento “artesanal” e o artesanato em escala de massa geraram                          demanda difusa por esses bens especializados” (ANDERSON, 2012, pág. 45). Anderson                      (2012) apresenta exemplos no contexto dos EUA que podemos muito bem substituir por                          alguns locais, como a moça que produz pochetes veganas e pensa e coordena a                            distribuição pela internet, ou o cara que comprou uma pequena impressora 3-D e fornece o                              serviço de impressão de chaveiros para eventos e ainda a grife de camisetas que usa                              frases e referências de lugares e escritores locais para se aproximar do público da cidade.    “Isso é o que a i.materialize, empresa de design, denomina “poder da                        singularidade”. Em um mundo dominado pelo “tamanho único”, isto é,                    pela padronização, a maneira de se destacar é criar produtos que                      atendam a necessidades especíᵬcas e até individuais não a                  demandas genéricas e coletivas” (ANDERSON, 2012, pág. 46).    Os exemplos são justamente para reforçar a ideia de que até mesmo o consumidor                            que não vai pôr a mão na massa (não quer ser um maker) está inserido na cultura e                                    mudando suas exigências, interesses e demandas. Quanto maior a variedade de produtos                        que se conᵬguram como bens especializados, maior se torna a procura.  Voltando ao nosso ponto principal lá do início, é fácil perceber o que queremos dizer                              com a história criando um “movimento espiral de conhecimento”. Enquanto nos primórdios                       
  • 6. da industrialização a grande transformação foi levar o artesanal para um modelo                        mecanizado que abria portas dos produtores para o mundo com uma produção em série,                            como coloca Cardoso (2008) no ᵬnal do capítulo:    “Pela primeira vez na história, qualquer produtor podia sonhar com o                      mercado mundial para os seus artigos e as consequências dessa                    possibilidade alteraram permanentemente a relação das pessoas com                o mundo material que as cercava” (CARDOSO, 2008, pág. 43)    Agora temos os makers como artesãos mas que trazem o uso das máquinas e                            tecnologias cada vez mais avançadas para produzir em suas pequenas oᵬcinas caseiras                        lutando contra a cultura do “tamanho único”. “Cada vez mais, quando as máquinas de                            produção são controladas por computador, fazer sucessivos produtos diferentes não                    acarreta maiores custos” (ANDERSON, 2012, pág. 46). Assim, podemos concluir que uma                        nova relação das pessoas com o mundo material está se conᵬgurando, aᵬnal, nesse                          mundo “nada se cria, tudo se transforma”.                                       
  • 7. REFERÊNCIAS    ANDERSON, Chris. Makers: A Nova Revolução Industrial. Brooklin: Elsevier, 2012.  CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo. São Paulo: Cosac Naify,                      2011  CARDOSO, Rafael. Uma Introdução à História do Design. 3. ed. São Paulo: Blucher,                          2008.  DICIO. Dicionário de Português Online. São Paulo: Dicio, 2017. Disponível em:                      <https://www.dicio.com.br/artesao/>. Acesso em: 21 jun. 2017