O documento discute o batismo no Espírito Santo de acordo com a Bíblia. Afirma que: (1) O batismo no Espírito Santo ocorreu apenas duas vezes na Bíblia, nos apóstolos no dia de Pentecostes e em Cornélio e sua família; (2) João Batista não estava dizendo que todos seriam batizados no Espírito, mas identificando Jesus como aquele que faria o batismo; (3) A casa de Cornélio foi uma exceção, não a regra, para mostrar que gentios poderiam ser
1. E
O
spírito
SANTO
O Batismo
no Espírito Santo
Owen D. Olbricht
Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais
poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito
Santo e com fogo. A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá
o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível (Mateus 3:11, 12).
A idéia de ser batizado “com o Espírito Santo”
aparece na Bíblia apenas cinco vezes: em Mateus
3:11; Marcos 1:8; Lucas 3:16; Atos 1:4 e 11:16. É
aplicada somente a duas ocorrências no Novo
Testamento: o batismo dos apóstolos (Atos 1:4,
5) e o de Cornélio, juntamente com sua família e
amigos (Atos 11:15, 16). Apesar de não ser
freqüente referências ao batismo do Espírito Santo
no Novo Testamento, alguns alegam que ele
deve acontecer com todo cristão dos dias de hoje.
A Bíblia não fala de um batismo que é
administrado pelo Espírito Santo1 . O batismo no
Espírito Santo foi administrado por Jesus, como
é evidente pelas palavras de João em Mateus
3:11: “…Ele vos batizará com o Espírito Santo…”
Como a água era o elemento no qual João batizava
(Mateus 3:6), o Espírito Santo era o elemento
no qual Jesus batizaria (isto é, “imergir” ou
“submergir”). Os que ensinam um batismo
11
Alguns argumentam que há dois batismos que
envolvem o Espírito Santo: “o batismo do Espírito Santo” e
o “batismo com o Espírito Santo”. Tal ensino não pode estar
correto. A palavra grega en, traduzida por “com” em Mateus
3:6 e 3:11 é melhor traduzida por “em”, mas pode ser
vertida com precisão por “com” ou “por”. Dois batismos
separados que envolvem o Espírito Santo não é um
ensinamento que se encontra nessas passagens.
administrado pelo Espírito Santo deixam de
reconhecer que era Jesus, e não o Espírito Santo,
que fazia o batismo.
João — aquele que imergia em água — foi o
primeiro a mencionar o batismo no Espírito Santo.
Ele introduziu o assunto ao falar como Jesus era
superior a ele mesmo.
Alguns concluem que todos os cristãos devem
esperar o batismo no Espírito Santo por causa da
declaração de João em Lucas 3:16: “Eu, na verdade,
vos batizo com água, mas vem o que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatarlhe as correias das sandálias; ele vos batizará com
o Espírito Santo e com fogo” (grifo meu).
Duas perguntas devem ser levantadas quanto
a essa conclusão: para quem João estava falando
e como tal conclusão se harmoniza com outros
ensinos bíblicos? Para responder a primeira
pergunta, temos de considerar o cenário em que
João lançou sua declaração.
Lucas escreveu o seguinte a respeito de João:
“Dizia ele, pois, às multidões que saíam para
serem batizadas: Raça de víboras, quem vos
induziu a fugir da ira vindoura?” (Lucas 3:7). No
mesmo contexto, Lucas escreveu: “Então, as
multidões o interrogavam, dizendo: Que have-
1
2. mos, pois, de fazer?” (Lucas 3:10). João estava
falando às multidões quando “o interrogaram” e
ele respondeu: “Ele vos batizará com o Espírito
Santo e com fogo” (Lucas 3:16).
Entre as multidões havia uma “raça de
víboras” (Lucas 3:7), em que se incluíam fariseus
e saduceus (Mateus 3:7) e as quais foram até ele
para receberem o batismo. Por causa da falta de
arrependimento, corriam o perigo de serem
“lançados ao fogo” (Mateus 3:8–10). Com certeza
entre a multidão havia pessoas que não receberiam o Espírito Santo (João 14:17). João não disse:
“Ele batizará todos vocês com o Espírito Santo”.
Disse a todos: “Ele vos batizará com o Espírito
Santo e com fogo”.
A afirmação de João poderia ser comparada
a um representante de uma fábrica falando a um
imenso grupo de indivíduos reunidos para se
apresentar como candidatos a novas vagas de
emprego na fábrica. Ele poderia apresentar o sr.
Antonio Ferreira e dizer-lhes: “Este é Antonio
Ferreira, o homem que vai contratar vocês”. Isto
de maneira alguma implica que todos seriam
contratados, mas indicaria a “todos os presentes”
quem faria as contratações. Essencialmente, era
isso o que João estava fazendo: ele estava
identificando a grande pessoa que batizaria no
Espírito Santo. Não estava dizendo que Jesus
batizaria todos eles com o Espírito Santo. Outras
passagens bíblicas são mais específicas quanto a
quem seria imerso no Espírito Santo.
PROMESSA E CUMPRIMENTO DO
BATISMO DO ESPÍRITO SANTO
Quem estava incluído entre aqueles a quem
Jesus prometeu o batismo no Espírito Santo em
Atos 1:5? Uma análise dos pronomes usados no
contexto dessa promessa mostra que Jesus incluiu
somente os apóstolos. A expressão “os apóstolos”
está inserida após cada pronome da citação abaixo
para enfatizar que era a eles que o Mestre Se referia.
…depois de haver dado mandamentos por
intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que
escolhera, foi elevado às alturas. A estes [os
apóstolos] também, depois de ter padecido, se
apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes [aos apóstolos]… E,
comendo com eles [os apóstolos], determinoulhes [aos apóstolos] que não se ausentassem de
Jerusalém, mas que esperassem a promessa do
Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes [os
apóstolos]. Porque João, na verdade, batizou
com água, mas vós [os apóstolos] sereis batiza-
2
dos com o Espírito Santo, não muito depois
destes dias” (Atos 1:2–5).
“Vós” e “eles” são pronomes que se referem
ao antecedente “apóstolos”, mencionado especificamente no início do versículo 2.
O Batismo do Espírito Santo e os Apóstolos
“Não muito depois destes dias” (Atos 1:5),
após Jesus ter feito a promessa, os apóstolos
receberam o Espírito Santo. As provas que
analisaremos a seguir mostram que o Espírito
Santo (Atos 2:4) veio somente aos apóstolos.
1. Foi para os apóstolos que o Espírito Santo
fora prometido.
2. Atos 1 termina com uma referência aos
apóstolos. Lucas escreveu o seguinte a respeito
de Matias: “…sendo-lhe, então, votado lugar
com os onze apóstolos” (Atos 1:26) Lucas, então,
afirmou: “…estavam todos reunidos no mesmo
lugar… Todos [eles] ficaram cheios do Espírito
Santo e passaram a falar em outras línguas,
segundo o Espírito lhes concedia que falassem”
(Atos 2:1b–4). Novamente o pronome oculto
“eles” refere-se ao último substantivo mencionado, “apóstolos”.
3. Os que estavam falando em línguas eram
“galileus” (Atos 2:7). Esse fato elimina a multidão,
pois eram “judeus… vindos de todas as nações
debaixo do céu” (Atos 2:5; veja também vv. 8–11).
4. Os apóstolos eram o centro das atenções,
o que deve indicar que eram eles que estavam
cheios do Espírito e falando em outras línguas.
“Então, se levantou Pedro, com os onze; e,
erguendo a voz, advertiu-os nestes termos:
…Estes homens não estão embriagados, como
vindes pensando…” (Atos 2:14, 15). Os acusados
de estarem embriagados eram os que estavam
falando, e os que estavam falando eram os que
haviam recebido o Espírito Santo. Pedro se
levantou, com os onze — os acusados — e disse:
“Estes homens não estão embriagados”. Esta
prova também indica que somente os apóstolos
haviam sido batizados com o Espírito Santo.
5. Pedro declarou: “A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas”
(Atos 2:32). As testemunhas especiais da ressurreição de Jesus eram os apóstolos (Atos 1:22;
4:33; 10:39–42; 13:31; veja também 1:3).
6. A multidão reportou-se aos apóstolos, o
que indica que os apóstolos eram os que estavam
falando com eles. “Ouvindo eles estas coisas,
3. compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a
Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos,
irmãos?” (Atos 2:37).
7. Os apóstolos eram os mestres, os professores das pessoas (Atos 2:42), o que indica que
foram eles que receberam a Palavra de Deus
através do Espírito (João 14:26).
8. Após a vinda do Espírito, os apóstolos realizaram sinais e prodígios. Até então, eles eram os
únicos mencionados como exercitando o poder
miraculoso prometido por Jesus em Atos 1:8.
Muitos prodígios e sinais eram feitos por
intermédio dos apóstolos (Atos 2:43b).
Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus (Atos
4:33a).
Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o
povo pelas mãos dos apóstolos (Atos 5:12a).
As provas apontam para a conclusão de que
nem a multidão nem os cento e vinte de Atos 1:15
haviam sido batizados no Espírito Santo. Jesus
prometeu o batismo no Espírito Santo somente
para os apóstolos e somente eles receberam esse
batismo no dia de Pentecostes.
O Batismo do Espírito Santo e os
Primeiros Cristãos Gentios
O batismo no Espírito Santo ocorreu duas
vezes no Novo Testamento. No começo da igreja,
os apóstolos foram batizados no Espírito Santo.
Anos depois, Pedro achou necessário rever o que
se passara naquela ocasião (Atos 11:14–16) e
compará-lo com o que ocorreu com Cornélio e
seus amigos. Aparentemente nenhum outro
judeu foi batizado no Espírito Santo desde esse
marco inicial, no Pentecostes. Alguns anos
depois, Pedro referiu-se ao segundo acontecimento — quando os primeiros convertidos
gentios foram batizados no Espírito Santo —
para provar aos cristãos judeus que Deus aceitava
os gentios sem circuncisão (Atos 15:7–9). Novamente, isto deve sinalizar que nenhum outro
gentio fora batizado no Espírito Santo desde o
batismo de Cornélio e sua casa.
Com o intuito de provar que oferecer a
salvação aos gentios era Sua vontade e não uma
decisão de homens, Deus rompeu com o procedimento normal e fez algo incomum. Deus não
só concedeu aos gentios a habitação do Espírito
Santo quando a casa de Cornélio foi convertida
(Atos 10:47; veja também Atos 2:38), mas Ele foi
além disso. Antes de serem convertidos, Ele os
batizou no Espírito Santo com o mesmo batismo
dado aos apóstolos no início do cristianismo
(Atos 10:44; 11:15). Para surpresa dos cristãos
judeus, Deus fez isso antes que esses gentios
fossem batizados para o perdão dos pecados.
Esse é o único caso ocorrido após a descida do
Espírito Santo sobre os apóstolos, em que pessoas
recebem o Espírito Santo antes do batismo em
água. Também é a única vez que se registra
outras pessoas diferentes dos apóstolos sendo
batizadas no Espírito Santo.2
Nem mesmo Jesus recebeu o Espírito antes
de ser batizado em água (Mateus 3:16, 17). Uma
vez que somente a casa de Cornélio e, talvez, o
apóstolo Paulo, tenham recebido o Espírito Santo
assim como os apóstolos, no dia de Pentecostes
(Atos 2:38; 8:14–18; 19:5, 6), a casa de Cornélio
deve ser considerada uma exceção, e não a regra.
G. R. Beasley-Murray, um notável erudito,
observou corretamente: “O dom do Espírito Santo
sem o batismo deve ser visto como uma exceção,
devido a uma intervenção divina numa situação
altamente significativa, a qual mostrou que
gentios podiam ser recebidos na Igreja pelo
batismo, mesmo sem terem se purificado através
de circuncisão e sacrifício ([Atos] 11:18)”3 .
Deus usou essa exceção para provar que a
salvação seria então oferecida aos gentios. Esse
exemplo incomum do batismo no Espírito Santo
foi usado como um sinal, necessário por causa da
atitude dos judeus. Antes dos acontecimentos
que culminaram na conversão de Cornélio, Pedro,
bem como outros judeus, pensavam que não
deveriam estar na companhia de gentios. Disse
ele: “Vós bem sabeis que é proibido a um judeu
ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém
de outra raça; mas Deus me demonstrou que
a nenhum homem considerasse comum ou
imundo” (Atos 10:28).
Os judeus insistiam na circuncisão dos gentios
antes de se juntarem a eles (Atos 11:3). Entre os judeus, os gentios eram considerados indignos de sal12
Podemos presumir racionalmente, mas não provar
conclusivamente, que Paulo também foi batizado no
Espírito Santo. O batismo de Paulo no Espírito pode estar
implícito em sua afirmação em 2 Coríntios 12:11: “…em
nada fui inferior a esses tais apóstolos…” Nesse caso, ele
teria sido a única pessoa a receber esse batismo, além deles.
13
G. R. Beasley-Murray, Baptism in the New Testament
(“O Batismo no Novo Testamento”). Grand Rapids, Mich.:
Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1977, p. 108.
3
4. vação. Os cristãos judeus, portanto, estavam pregando o evangelho só a judeus (Atos 11:19). Deus quis
provar que aceitava tanto gentios como judeus.
Ao batizar os gentios no Espírito Santo, Deus
fez quatro declarações a Pedro e à igreja primitiva:
1) os cristãos judeus podiam se juntar aos gentios;
2) os gentios podiam se tornar cristãos, sendo
batizados em água para serem salvos; 3) podiam
ser batizados sem passar pela circuncisão, ou
seja, sem se tornarem judeus, e 4) os convertidos
gentios não deveriam ser tratados como cristãos
de segunda categoria, mas deveriam ser aceitos
pelos cristãos judeus como irmãos. Ao conceder
aos gentios um batismo que só fora concedido
aos apóstolos, Deus mostrou que os cristãos
gentios não deveriam ser considerados inferiores
de maneira alguma.
Se o Espírito Santo fosse concedido aos
gentios da maneira normal4 , não haveria evidência externa de que haviam de fato recebido o
Espírito. Era necessário haver alguma prova
irrefutável de que era unicamente Deus quem
fazia a escolha. Se os sinais visíveis do Espírito
Santo fossem concedidos aos gentios pela imposição das mãos de um apóstolo, como sucedeu em
outros casos (Atos 8:14–18; 19:6), poderiam
concluir que eram os homens, e não Deus, que
escolhiam a quem salvar.
Deus usou essa exceção, assim como usou as
exceções das leis da natureza quando realizou os
sinais no Egito (Êxodo 10:2) e assim como Jesus
usou milagres para identificar-Se como o Filho
de Deus (João 20:30, 31). A manifestação na casa
de Cornélio mostrou que o próprio Deus, e não
Pedro, estava oferecendo aos gentios perdão por
meio do evangelho.
Esse batismo no Espírito Santo provou a
Pedro que Deus estava decidindo aceitar os
gentios, dando-lhes a salvação e o lugar de
membros no corpo de Cristo. Deveriam ser
considerados iguais aos cristãos judeus. Pedro
foi levado progressivamente a essa conclusão
final através de uma interessante série de acontecimentos. Em primeiro lugar, numa visão, Deus
falou três vezes para ele matar e comer vários
tipos de animais (Atos 10:16). Depois, enquanto
refletia na visão, o Espírito lhe disse para ir com
14
A maneira normal de receber o Espírito Santo hoje,
assim como na época da igreja do Novo Testamento, é
tornando-se um filho de Deus por meio do batismo (Gálatas
3:26, 27) para o perdão, ou remissão, dos pecados (Atos 2:38).
4
os gentios “nada duvidando” (Atos 10:20).
Finalmente, Pedro chegou à conclusão de que “a
nenhum homem [deveria considerar] comum ou
imundo” (Atos 10:28). Baseado nesses fatos,
dispôs-se a juntar-se aos gentios. Ele também
passou a crer que “Deus não faz acepção de
pessoas; pelo contrário, em qualquer nação,
aquele que o teme e faz o que é justo lhe é
aceitável” (Atos 10:34b, 35).
Mesmo a essa altura, Pedro precisava de
provas. Ele não só tinha de parar de pensar nos
gentios como pessoas “comuns” ou “imundas”,
mas também tinha de oferecer-lhes salvação e
aceitá-los como irmãos. Com o intuito de levar
Pedro e os demais crentes judeus a aceitarem os
gentios como pessoas dignas da salvação, fez-se
necessário um outro milagre. Assim, Deus deu
aos gentios o poder de falar em línguas por meio
do batismo do Espírito Santo; ao que Pedro
indagou: “Porventura, pode alguém recusar a
água, para que não sejam batizados estes que,
assim como nós, receberam o Espírito Santo?”
(Atos 10:47). O que Pedro queria dizer com isto
é claro: o homem não pode recusar aquilo que
Deus decidiu.
Gareth L. Reese observou habilmente: “Pedro
reconheceu que o que fora derramado sobre
Cornélio e seus amigos era a mesma coisa que
sucedera aos apóstolos no Pentecostes”5 . Pedro
concluiu: “Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo
dom que a nós nos outorgou quando cremos no
Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse
resistir a Deus?” (Atos 11:17). Obviamente, o
batismo dos gentios no Espírito Santo provou a
Pedro que Deus, e não os homens, era quem
decidia. Essa não era apenas uma prova para
Pedro e os judeus crentes, mas era também uma
prova para cada geração sucessora. Deus provou
de uma vez — e nunca precisará provar novamente
— que Ele aceita os gentios sem incluir a circuncisão
e a observância da Lei (Atos 11:3; 15:1, 7–9).
Frederick Dale Bruner escreveu o seguinte a
respeito da declaração de Pedro em Atos 11: “Ele
enfatiza que o Espírito Santo descera sobre a casa
[de Cornélio] ‘como também sobre nós, no
princípio’ (v. 15). Essa ressalva é importante.
Pedro não diz que o Espírito Santo desceu sobre
a casa de Cornélio ‘como também ele sempre
15
Gareth L. Reese, New Testament History, Acts (“História
do Novo Testamento, Atos”). Joplin, Mo.: College Press,
1988, p. 404.
5. fazia a cada um’”6 .
A implicação parece evidente. Deus não havia
batizado mais ninguém no Espírito Santo, desde
o dia de Pentecostes (a menos que Paulo seja
contado). Os apóstolos foram os primeiros, os do
“princípio”; e até o episódio na casa de Cornélio,
haviam sido os últimos e únicos batizados dessa
maneira. O mesmo acontecimento que abriu as
portas para os judeus se tornarem cristãos tinha,
finalmente, aberto as portas para os gentios.
Abrindo as portas para os judeus e gentios da
mesma forma, Deus demonstrou que judeus e
gentios que se tornam cristãos ocupam a mesma
posição perante Ele.
Pedro usou esse caso anos mais tarde, em
resposta a questões que se levantaram quanto à
condição dos gentios incircuncisos que se tornaram cristãos. Disse ele: “Irmãos, vós sabeis que,
desde há muito, Deus me escolheu dentre vós
para que, por meu intermédio, ouvissem os gentios a palavra do evangelho e cressem. Ora, Deus,
que conhece os corações, lhes deu testemunho,
concedendo o Espírito Santo a eles, como também
a nós nos concedera” (Atos 15:7, 8). Essa é uma
indicação de que o batismo no Espírito Santo não
era um acontecimento que se repetia continuamente.
Outro fato torna-se aparente. O que Deus
requer para conceder o perdão dos pecados é o
mesmo, tanto para judeus como para gentios.
Pedro deveria dizer a Cornélio palavras pelas
quais ele fosse salvo (Atos 11:14). Pedro não
disse nada sobre o Espírito Santo, mas disse para
Cornélio crer e ser batizado (Atos 10:43, 47, 48).
Eram esses os atos que Jesus disse que levariam
à salvação: “Quem crer e for batizado será salvo”
(Marcos 16:16a). Pedro também disse aos judeus
para se “arrependerem e serem batizados em
nome de Jesus Cristo para remissão dos pecados”
(Atos 2:38a). Da mesma forma, “ordenou que [os
gentios] fossem batizados em nome de Jesus
Cristo” (Atos 10:48a). O batismo no Espírito Santo
não era um substituto do batismo em água, mas
sim uma prova para Pedro de que deveria mandar
Cornélio e sua casa receberem o batismo em
água (Atos 10:43, 47, 48).
O batismo no Espírito Santo não era uma
dádiva para mostrar que houve salvação. Os
16
Frederick Dale Bruner, A Theology of the Holy Spirit
(“Teologia do Espírito Santo”). Grand Rapids, Mich.: Wm.
B. Eerdmans Publishing Co., 1970, p. 194.
apóstolos foram batizados no Espírito Santo, no
dia de Pentecostes (Atos 1:4, 5; 2:4), para receberem poder (Atos 1:8), e não salvação. João Batista
recebeu o Espírito Santo desde o ventre de sua
mãe (Lucas 1:15). Esse Espírito não era para sua
salvação, mas constituía um sinal de que Deus o
escolhera para uma missão especial. O Novo
Testamento não contém nenhum indício de que
alguém tenha recebido o Espírito Santo para ser
salvo. Ele é dado aos que são filhos (Gálatas 4:6),
não para tornar alguém filho de Deus.
O relatório que chegou aos cristãos judeus da
Judéia a respeito dos gentios dizia que estes
haviam recebido a palavra de Deus (Atos 11:1).
A resposta dos gentios aceitando a Palavra foi a
mesma dos três mil judeus, no dia de Pentecostes:
“Então, os que lhe aceitaram a palavra foram
batizados” (Atos 2:41a). A palavra que aceitaram
com alegria foi a instrução de Pedro: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em
nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos
pecados” (Atos 2:38a). Os gentios aceitaram a
mesma mensagem de Pedro.
O que fizeram para serem salvos seguia um
padrão: ouviram a palavra, creram em Jesus, arrependeram-se e foram batizados. Outras passagens
bíblicas mostram o mesmo modelo (Marcos 16:16;
Atos 2:38; 22:16; Colossenses 2:12, 13; 1 Pedro
3:21). A exceção no caso desses gentios foi serem
primeiramente batizados no Espírito Santo.
Ao batizar esses primeiros gentios no Espírito
Santo, Deus mostrou Sua decisão em aceitar os
gentios. Além disso, mostrou que os gentios não
eram uma exceção com respeito ao que se requer
deles antes de serem perdoados. (A única exceção
era a maneira como Deus usou o batismo do
Espírito Santo para revelar Sua decisão de aceitar
os convertidos gentios.) Tiveram de aceitar o
evangelho (Atos 15:7), a palavra pela qual
poderiam ser salvos (Atos 11:14; Romanos 1:16;
Efésios 1:13). O Espírito Santo foi concedido a
eles não para mostrar que já estavam salvos, mas
para mostrar que a salvação lhes seria oferecida
por meio do evangelho (Atos 15:7–9). No caso de
Cornélio, Deus desviou-se da regra geral (João
14:17) somente para provar que Ele, e não Pedro,
estava abrindo as portas da salvação aos gentios.
Por intermédio desses primeiros convertidos
gentios, Deus demonstrou que pessoas de todas
as nações podem obter a salvação por meio de
Jesus, quando recebem o batismo em água. Abrin-
5
6. do Espírito Santo, nem todos estariam batizados
por esse “um só” Espírito nem conduzidos à
unidade que Paulo estava ensinando.
O batismo em água é o único batismo experimentado por todos os crentes, segundo o Livro
de Atos, enquanto que o batismo do Espírito
Santo foi dado somente a um grupo limitado.
Por essa razão, deve-se interpretar 1 Coríntios
12:13 como significando que através do batismo
em água, o Espírito Santo introduz todos os
crentes no corpo. Concluir que todos são
batizados pelo Espírito Santo num só corpo
não leva em conta a evidência histórica do
Livro de Atos8 .
do as portas aos gentios, Deus não afirmou que
o batismo não é essencial à salvação; pelo contrário, enfatizou sua importância (Atos 10:47, 48).
UM ÚNICO BATISMO É ORDENADO
PELO NOVO TESTAMENTO
Embora vários “batismos” sejam mencionados no Novo Testamento, um único batismo foi
reconhecido por Paulo em Efésios 4:5 como sendo
comum a todos os crentes. Em Éfeso, o batismo
de João já não se mostrava aplicável (Atos 19:1–
5). O batismo de Israel na lei de Moisés (1 Coríntios 10:2) certamente não se aplica às pessoas
hoje. Jesus já havia suportado o batismo de
sofrimento (Lucas 12:50; veja também Marcos
10:38, 39). O batismo em fogo para o castigo
eterno ainda é futuro (Mateus 3:10–12). Nenhum
desses batismos pode ser o batismo que Paulo
tinha em mente. O único batismo comum a todos
os cristãos é o batismo em água (Mateus 28:19),
pois através desse batismo em água somos
batizados em Cristo. No batismo em água, todos
nos tornamos um (Gálatas 3:27, 28). O único
batismo que existia no tempo em que Paulo
escreveu aos efésios era o batismo em água.
Não É o Batismo no Espírito Santo
Por causa da afirmação de Paulo em 1 Coríntios 12:13: “Pois, em um só Espírito, todos nós
fomos batizados em um corpo”, alguns têm
concluído que o batismo no Espírito Santo é o batismo de Efésios 4:5. Bruner salientou o seguinte:
Se este versículo for interpretado como se
referindo a um segundo e subseqüente batismo
no Espírito Santo, além do batismo em Cristo,
somente para alguns cristãos, estará sendo
praticada uma violência não só contra as
palavras do texto — “todos… todos” — mas
contra o propósito do texto em seu contexto
coríntio. O ponto central da mensagem de Paulo
aos coríntios é a unicidade de todos os batizados
em Cristo Jesus7 .
Após um estudo detalhado do batismo, o raciocínio seguinte torna-se evidente em relação ao batismo mencionado por Paulo em 1 Coríntios 12:13:
Paulo disse que todos receberam esse “um só”
batismo, que era para a união de todos os
crentes colocando-os dentro do corpo. A implicação desse argumento é que todos os cristãos
receberam esse batismo; portanto, todos estavam num corpo, independentemente de raça,
origem ou posição social. Se [hoje] somente
alguns [crentes] especiais recebessem o batismo
17
6
Ibid., p. 292.
O batismo no Espírito Santo é mencionado
no Novo Testamento em conexão com os poderes
miraculosos e/ou a revelação divina, e não
relacionado à habitação pessoal. Jesus disse o
seguinte aos apóstolos, com respeito a serem
futuramente batizados no Espírito Santo: “que
esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele,
de mim ouvistes” (Atos 1:4). Jesus estava Se referindo às Suas afirmações registradas em Mateus
10:19, 20; João 14:17, 26; 15:26; 16:7–15; 20:22.
Jesus fez tais promessas somente aos apóstolos.
Duas promessas feitas aos apóstolos deveriam ser cumpridas com a vinda do Espírito
Santo: a orientação divina a toda a verdade (João
14:26; 16:13) e poder (Atos 1:8). O batismo no
Espírito Santo deveria ser sempre associado a
essas promessas. A distribuição dos diferentes
dons do Espírito para prover essa orientação e
poder dependia da vontade do Espírito Santo
(1 Coríntios 12:11; Hebreus 2:4). Apesar de Cornélio e sua casa serem batizados com o Espírito
Santo (Atos 11:15, 16), não receberam os mesmos
dons que os apóstolos. (Dons especiais foram dados a eles como sinais de apostolado; 2 Coríntios
12:12.) Nem Cornélio nem os demais foram
guiados a toda a verdade como os apóstolos.
Não É o Batismo em Fogo
Embora mencionado juntamente com o batismo no Espírito Santo, o batismo em fogo não
deve ser associado a ele. Os que serão batizados
em fogo serão aqueles que Jesus submergirá no
fogo por ocasião do castigo eterno (Mateus 3:12).
Jack Lewis afirmou:
Com base nos dois objetos da preposição no
caso dativo, unidos por um conectivo à preposição antecedente, é comum se argumentar que
18
Owen D. Olbricht, Baptism: New Birth or Empty Ritual?
(“Batismo: Um Novo Nascimento ou um Ritual Vazio?”).
Delight, Ark.: Gospel Light Publishing Co., 1994, pp. 108–109.
7. João fala de um único batismo composto por
dois elementos. Gramaticalmente, algo pode
ser dito em prol desse argumento, mas o
contexto contrasta dois grupos imediatamente
antes e depois da expressão. “Fogo” no versículo
10 refere-se à queima das árvores infrutíferas,
e no versículo 12, à queima da palha. Como é
improvável uma mudança de significado da
palavra na expressão do versículo 11, é razoável
supor que o fogo do inferno — o lago de fogo
(Apocalipse 20:15) — é o que se tem em vista. O
fogo, então, é aqui um símbolo de juízo, e não
do Espírito Santo. O fogo do Pentecostes, muitas
vezes relacionado com esse versículo e a única
alternativa à interpretação sugerida acima, é
apenas uma comparação simbólica — “línguas
como de fogo” (Atos 2:3) — e não fogo propriamente9 .
Em vez de desejar o batismo em fogo, devemos
querer escapar dele. Normalmente “fogo” sugere
castigo (Mateus 3:10; 5:22; 7:19; 13:40, 42, 50;
18:8, 9; 25:41). Quando Jesus disse aos apóstolos
que eles seriam “batizados com o Espírito Santo”
(Atos 1:5), Ele não incluiu “com fogo”. Pedro não
incluiu “fogo” quando recordou o que Jesus
disse a respeito do batismo no Espírito Santo
(Atos 11:15, 16). Nem tampouco nós devemos
associar fogo com batismo no Espírito Santo ou
com o “um só batismo” de Efésios 4:5.
O Batismo em Água
A regra geral é que, quando o batismo em
questão em determinada passagem é um batismo
administrado pelo homem, trata-se do batismo
em água. O batismo dado por Deus é o batismo
no Espírito Santo. Quando a palavra “batismo”
aparece no Novo Testamento, refere-se ao batismo em água, exceto quando especificado por
outros termos.
Albrecht Oepke incluiu essa idéia em sua definição de “batismo”. Disse ele: “…As referências do
Novo Testamento ao batismo devem ser consideradas batismo em água, a menos que o contexto
indique outra coisa. Batismo tecnicamente significa ‘batizar em água’. Conseqüentemente, é
desnecessário especificar um meio-termo”10 .
Examine o quadro abaixo, que compara o
batismo em água com o batismo do Espírito
Santo. A maior parte das informações nele
contidas é fácil de se entender, não carecendo de
explicação. Todavia, talvez deva se dizer algo
mais sobre os resultados (veja o item 10 da lista).
Os cristãos judeus e gentios não se tornaram
apóstolos nem filhos de Deus através do batismo
10
19
Jack Lewis, The Gospel According to Matthew (“O
Evangelho Segundo Mateus”), Part 1, The Living Word
Commentary, ed. Everett Ferguson. Austin, Tex.: Sweet
Publishing Co., 1976, p. 63.
Albrecht Oepke, “Bapto, baptizo”, Theological Dictionary of the New Testament (“Dicionário Teológico do Novo
Testamento”), ed. Gerhard Kittel, trad. Geoffrey W.
Bromiley, vol. 1. Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans
Publishing Co., 1964, p. 539.
UMA COMPARAÇÃO ENTRE O BATISMO NO ESPÍRITO E O BATISMO EM ÁGUA
O Batismo no Espírito Santo
O Batismo em água
1. Administrado por Jesus (Mateus 3:11)
2. Enviado por Jesus do Pai e derramado para imergir
no Espírito (João 15:26; 16:7; Atos 10:45)
3. Enviado pelo Pai no nome de Jesus (João 14:26)
1. Administrado pelo homem (Mateus 28:19)
2. Imersão em água (Romanos 6:4; Colossenses 2:12)
4. Dado diretamente de Deus aos que esperaram em
Jerusalém e a gentios que não o esperavam (Atos 1:4,
5; 10:44)
5. Recebido como promessa (Atos 1:4, 5)
6. Para os apóstolos (Atos 1:1–5)
7. Recebido pelos apóstolos (Atos 1:26—2:4) e pelos
primeiros gentios convertidos (Atos 11:15, 16)
8. Tinha como propósito revelar os ensinos de Jesus
(João 14:26), dar poder (Atos 1:8) e abrir as portas do
reino aos gentios (Atos 10:47; 11:17; 15:7–9)
9. Os que foram batizados no Espírito falaram em línguas
(Atos 2:4; 10:44–46)
10. Resultava em sinais exclusivos a apóstolo (2 Coríntios 12:12); e revelava a escolha de Deus de salvar
os gentios (Atos 15:7–9)
3. Administrado pelo homem em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo (Mateus 28:19)
4. Administrado aos que crêem e se arrependem (Atos
2:38; 8:12; 18:8)
5. Obedecido como um mandamento (Atos 10:48)
6. Para todas as nações (Mateus 28:19)
7. Recebido por todos os crentes em todas as partes
(Atos 2:41; 8:12, 13, 38, 39; 10:48; 18:8; 19:5)
8. Tinha como propósito o perdão dos pecados (Atos
2:38; 22:16; Colossenses 2:12, 13)
9. Os que eram batizados em água se regozijavam
(Atos 8:39; 16:33, 34)
10. Resultava em tornar-se filho de Deus (Gálatas
3:26, 27)
7