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DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
© Areal Editores 1
GRUPO I
A. Lê o seguinte poema.
XXV
(Na praia. O menino aprende a linguagem das nuvens.)
Aquela nuvem
Aquela nuvem
parece um cavalo…
Ah! Se eu pudesse montá-lo!
Aquela?
Mas já não é um cavalo,
é uma barca à vela.
Não faz mal.
Queria embarcar nela.
Aquela?
Mas já não é um navio,
é uma torre amarela
a vogar no frio
onde encerraram uma donzela.
Não faz mal.
Quero ter asas
para a espreitar da janela.
Vá, lancem-me no mar
donde voam as nuvens
para ir numa delas
tomar mil formas
com sabor a sal
− Labirinto de sombras e de cisnes
no céu de água-sol-vento-luz concreto e irreal…
José Gomes Ferreira, in Poeta Militante II, Lisboa: Dom Quixote,1991, p. 27.
Educação literária
1. Explicita os diversos aspetos da realidade a que a nuvem é associada.
2. Seleciona no texto uma metáfora e explica o seu valor expressivo.
3. Indica os versos que exprimem os desejos que cada uma das formas das nuvens provoca no sujeito poético.
4. Indica o que têm de comum estes três desejos.
5. Classifica formalmente a composição poética.
FICHA DE DIAGNÓSTICO
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
© Areal Editores 2
B. Lê o seguinte texto.
5
10
Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro,
encarnado!
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
(…)
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser alguma
coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva
exatamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!
Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro, Lisboa: Olissipo, 1921, p. 24.
6. Explicita os sentimentos que este texto traduz. Justifica com expressões do texto.
7. Infere a intenção do filho ao identificar as mãos da mãe com uma corda. Justifica com expressões textuais.
8. Identifica o processo fonológico na forma (l. 3): Traze > Traz.
GRUPO II
As letras assinadas
5
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15
20
25
No paredão austero da Mundial, onde a prudência administrativa mandou pespegar uma lápide:
«É proibido afixar anúncios nesta propriedade», um miúdo de metro e meio de altura escreveu a
carvão estas letras infamantes para a higiene do edifício: «Viva o Benfica».
O miúdo não percebia de leis, pelos vistos. O miúdo não sabia que homens muito sábios, muito
avisados e muito prudentes têm escrito milhares de palavras de ordem – e que essas palavras e
essa ordem foram articuladas para serem rigorosamente cumpridas. O miúdo só sabia que tinha
uma mensagem para dizer, umas palavras que eram a ordem das coisas e a própria expressão do
seu mundo: «Viva o Benfica». E o miúdo escreveu-as. Em letras grandes, mal feitas, mas grandes
e arrogantes. Limpou as mãos aos calções e ficou a espiar a sua obra. Faltava lá qualquer coisa.
Tornou a pegar no carvão e escreveu: Manel. Responsável pela afirmação, o Manel não quis que
ela ficasse anónima. A sua responsabilidade começou a partir daí. Um polícia aproximou-se
lentamente. Viu tudo. E, como as leis são feitas para se cumprirem, agarrou num braço do Manel.
O Manel, a princípio, ficou surpreendido e perplexo; depois, como ter medo é próprio dos homens,
o medo apareceu-lhe em veios, por todo o corpo, para se exprimir, finalmente, em resistência e em
lágrimas.
Começou a juntar-se gente. Manel gritava e o polícia manifestava firmeza na mão e indiferença
no olhar. Com razão ou sem ela, a verdade é que as pessoas que formavam roda penderam em
simpatias e inclinações, para o miúdo-pardal-de-telhado que estava à beira de ser engaiolado. O
polícia, certamente, começou a pensar que uma situação absoluta é horrível – concluindo, para os
seus botões de metal, que «nem tanto ao mar nem tanto à terra», que é um belo aforismo, muito
profundo e muito reverente. Afrouxou a pressão que fazia no braço do Manel. Afrouxou, também, a
tensão que se estabelecera entre as pessoas que miravam a cena. Manel deu por isso tudo, com os
seus olhitos espertos e traquinas. E correu. E escapou-se. Antes, porém, de virar a esquina, voltou-
se para trás e gritou para o polícia:
− Se calhar o sô guarda é do Sporting, não?
Baptista-Bastos, Cidade Diária, Lisboa: Editorial Futura, 1972, p. 22.
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AVALIAÇÃO
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Leitura / Gramática
1. Para responder a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma afirmação correta.
1.1. O título do texto
A. refere-se à assinatura do rapaz no documento da polícia.
B. refere-se metaforicamente à expressão que o rapaz escreveu nas paredes de um edifício.
C. refere-se à placa «É proibido afixar anúncios nesta propriedade».
D. refere-se ao aforismo «nem tanto ao mar nem tanto à terra».
1.2. O primeiro parágrafo do texto
A. utiliza diferentes registos de língua de uma forma irónica.
B. apresenta um caso digno de queixa judicial.
C. é um elogio aos apoiantes do futebol.
D. apresenta aspas para realçar certas expressões.
1.3. A personagem que é protagonista
A. é um miúdo adepto do Sporting.
B. foi preso por um polícia.
C. assinou o nome do polícia na parede do edifício.
D. chorou quando foi agarrado pelo polícia.
1.4. O polícia
A. era autoritário e frio.
B. deixou o rapaz fugir deliberadamente.
C. ficou surpreendido por o rapaz chorar.
D. era do Sporting.
1.5. A expressão: «miúdo-pardal-de-telhado que estava à beira de ser engaiolado» (l. 18) significa que
A. o miúdo gostava de andar nos telhados a apanhar pardais.
B. o menino tinha muitos pardais presos na gaiola.
C. o rapaz era um jovem inocente, mas irreverente que quase ia preso.
D. o rapaz foi parar à prisão por ter cometido um crime.
2. Responde de forma correta aos itens apresentados.
2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «Faltava lá qualquer coisa» (ll. 9-10).
2.2. Classifica a oração sublinhada: «Responsável pela afirmação, o Manel não quis que ela ficasse anónima.» (ll. 10-11).
2.3. Na frase «Afrouxou a pressão que fazia no braço do Manel» (l. 21), transcreve e classifica a oração subordinada.
GRUPO III
Escrita
«Os cartazes fazem parte do nosso quotidiano. Encontrámo-los por toda a parte.»
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta um texto de
opinião que pudesse integrar o jornal da tua escola sobre a necessidade ou não de restringir a colocação de
cartazes a locais autorizados. Recorre a exemplos que conheças para fundamentares a tua opinião.
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
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GRUPO I
A. Lê o seguinte poema e consulta as notas apresentadas.
A dona que eu am’ e tenho por senhor
amostrade-me-a, Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me a morte.
A que tenh’ eu por lume1
d’estes olhos meus
e por que choram sempre, amostrade-me-a, Deus,
se non dade-me a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer2
de quantas sei, ai Deus, fazede-me-aveer,
se non dade-me a morte.
Ai Deus que me-a fezeste mais ca min amar3
,
mostrade-me-a u possa com ela falar,
se non dade-me a morte.
Bernardo Bonaval, in Alexandre Pinheiro Torres,
Antologia da Poesia Trovadoresca Galego-Portuguesa, Porto: Lello & Irmão, 1977, p. 96.
1
luz.
2
rosto.
3
Ai Deus que fizeste com que eu a amasse mais do que a mim próprio.
Educação literária
1. Indica o assunto desta composição poética.
2. Caracteriza a «dona», apoiando-te em expressões do texto.
3. Identifica dois recursos expressivos e explica a sua expressividade.
4. Classifica a composição poética e insere-a no contexto literário onde se insere, justificando com
expressões textuais.
B. Lê o seguinte comentário.
«As cantigas de amigo, essas dir-se-iam florescidas ao ar livre, frequentemente na
contemplação de uma natureza amiga – amiga ao ponto de intervir, como intermediária ou
confidente no drama lírico.»
Hernâni Cidade, in Poesia Medieval, Lisboa: Seara Nova, 1972, p. 122.
5. Apoiando-te no teu conhecimento da lírica trovadoresca, caracteriza sumariamente os diferentes géneros
de composições estudados.
6. Explicita os diferentes papéis desempenhados pela natureza na cantiga de amigo. Seleciona um exemplo
ilustrativo.
FICHA DE AVALIAÇÃO 1
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GRUPO II
A História do Português
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25
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Contar a história do Português é mostrar as mudanças linguísticas que lhe foram dando forma.
Que as línguas mudam, é uma evidência: as dificuldades que encontramos na leitura de textos
medievais revelam-nos como o Português Antigo era diferente do que ouvimos, falamos e
escrevemos atualmente. E embora a mudança linguística seja frequentemente vista como uma
espécie de decadência por muitos falantes que resistem à inovação, assumindo uma atitude de
defesa da ‘pureza’ da língua supostamente ameaçada, seja por um qualquer acordo ortográfico, por
um novo dicionário ou pela influência das telenovelas, a verdade é que se o Português não tivesse
sofrido mudanças ainda falaríamos como Afonso Henriques.
No processo de mudança linguística interagem dois tipos de condicionalismos: um interno à
própria língua (inerente ao sistema linguístico) e um externo (extralinguístico). Se a língua se
organiza como um sistema dinâmico em permanente busca do equilíbrio, as suas estruturas
poderão ser, elas próprias, causadoras de mudança. Oposições que não se revelem funcionais
podem desaparecer, já que um princípio de economia tenderá a eliminar redundâncias, ou novas
oposições podem ser criadas no sentido de preencher lacunas que um princípio de clareza
necessária à comunicação tenderá a colmatar. Por outro lado, sendo a variação inerente à fala, uma
ou mais variantes podem coexistir sem que haja mudança; mas esse estado de variação pode
resolver-se se, dado um determinado conjunto de fatores condicionantes, linguísticos e/ou
extralinguísticos, uma das alternativas se impuser.
Circunstâncias históricas, mudanças sociais ou políticas podem também condicionar a mudança
linguística. Uma causa externa de mudança linguística é, por exemplo, a fragmentação política: a
formação de reinos na Península Ibérica – e a criação de fronteiras políticas – contribuiu
grandemente para a constituição de fronteiras linguísticas e, portanto, para a fragmentação dialetal
do Latim Hispânico, de que resultaram as várias línguas ibéricas. (…)
Se as circunstâncias históricas, sociais e culturais mudam – em algumas épocas paulatinamente,
em outras quase abruptamente – as necessidades expressivas dos falantes também se
modificarão. E a língua (melhor: uma determinada gramática da língua) pode deixar de servir as
necessidades dos seus utentes. Envelhece, portanto. Envelhecer, no caso da língua, não conduz à
morte mas à mudança. Cada nova fase da língua consiste não só na inovação, mas essencialmente
na seleção de variantes que já existem na língua. Aceites por um determinado grupo socialmente
prestigiado, as variantes selecionadas serão generalizadas a toda a comunidade. Constitui-se,
assim, um novo estádio de evolução da língua, cuja ‘estabilidade’ sofrerá novos e perpétuos
sobressaltos. Mas porque a língua procura esses patamares de estabilidade, o resultado de cada
mudança linguística será sempre tendencialmente a constituição de uma norma, de um sistema
organizado que, fatalmente, se tornará arcaico quando uma nova norma se afirmar.
Esperança Cardeira, in O Essencial sobre a História do Português,
Lisboa: Caminho, 2006, pp. 13-15.
Leitura / Gramática
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma
afirmação correta.
1.1. A história do português
A. mudou a partir da idade média e do português antigo.
B. é curta e a língua recentemente foi ameaçada por um novo acordo ortográfico.
C. fica registada nos dicionários e é marcada pela influência das telenovelas.
D. é feita de mudanças que se foram realizando ao longo dos tempos.
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
© Areal Editores 6
1.2. A língua muda
A. porque sofre diversas influências do exterior.
B. por fatores internos e externos.
C. porque os falantes não falam corretamente.
D. por influência política.
1.3. As circunstâncias históricas, sociais e culturais
A. modificam-se constantemente e originam a fragmentação política.
B. podem melhorar a mudança linguística.
C. dão origem a novas necessidades dos falantes.
D. provocam mudanças lentas e paulatinas.
1.4. A língua
A. envelhece e vai morrendo.
B. envelhece mas renova-se.
C. morre abruptamente.
D. envelhece e deteriora-se.
1.5. A frase: «Constitui-se, assim, um novo estádio de evolução da língua, cuja ‘estabilidade’ sofrerá novos
e perpétuos sobressaltos.» (ll. 30-32) significa que
A. as mudanças linguísticas são cíclicas e ininterruptas.
B. a estabilidade da língua só existe no estádio inicial.
C. o latim foi substituído pelo português.
D. a língua tem de ultrapassar constantes perturbações antes de morrer.
2. Responde de forma correta aos itens apresentados.
2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «E embora a
mudança linguística seja frequentemente vista como uma espécie de decadência por muitos falantes» (ll. 4-5).
2.2. Classifica a oração sublinhada: «Contar a história do Português é mostrar as mudanças linguísticas
que lhe foram dando forma.» (l. 1).
2.3. Divide e classifica as orações da frase: «Se as circunstâncias históricas, sociais e culturais mudam –
em algumas épocas paulatinamente, em outras quase abruptamente – as necessidades expressivas dos
falantes também se modificarão» (ll. 24-26).
GRUPO III
Escrita
«A língua muda porque mudaram as necessidades expressivas dos falantes, mas não pode
mudar tanto que a comunicação fique afetada. Em última análise, a língua muda porque é um
sistema em perpétua adaptação às necessidades das comunidades que a utilizam e essas
necessidades também mudam.»
Esperança Cardeira, in O Essencial sobre a História do Português, Lisboa: Caminho, 2006, p.15.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta uma
exposição que responda à pergunta: Por que razão muda a língua? Recorre à tua experiência pessoal
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
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para fundamentares a tua opinião.
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
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GRUPO I
A. Lê o seguinte texto e consulta as notas apresentadas.
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Toda a cidade era dada a nojo1
, chea de mezquinhas2
querelas3
, sem neuũ prazer que i
houvesse: uũs com gram mingua do que padeciam; outros havendo doo4
dos atribulados; e isto
nom sem razom, ca se é triste e mezquinho o coraçom cuidoso5
nas cousas contrairas que lhe
aviinr6
podem, veede que fariam aqueles que as continuadamente tam presentes tiinham? Pero7
com todo esto, quando repicavom, neuũ nom mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus
ẽmigos. Esforçavom-se uũs por consolar os outros, por dar remedio a seu grande nojo, mas nom
prestava conforto de palavras, nem podia tal door seer amansada com neũas doces razões; e assi
como é natural cousa a mão ir ameúde onde see8
a door, assi uũs homẽes falando com outros, nom
podiam em al9
departir10
senom em na mingua que cada uũ padecia. (…)
Os padres e madres viiam estalar de fame os filhos que muito amavom, rompiam as faces e
peitos sobr’eles, nom tendo com que lhe acorrer, senom planto e espargimento de lagrimas; e sobre
todo isto, medo grande da cruel vingança que entendiam que el-Rei de Castela deles havia de
tomar; assi que eles padeciam duas grandes guerras, ũa dos ẽmigos que os cercados tinham, e
outra dos mantimentos que lhes minguavom, de guisa que eram postos em cuidado de se defender
da morte per duas guisas. (…)
Onde sabeeque esta fame e falecimento que as gentes assi padeciam, nom era por seer o cerco
perlongado, ca nom havia tanto tempo que Lixboa era cercada; mas era per aazo das muitas gentes
que se a ela colherom de todo o termo; e isso mesmo da frota do Porto quando veo, e os
mantimentos serem muito poucos.
Ora esguardae como se fossees presente, ũa tal cidade assi desconfortada e sem neũa certa
feúza de seu livramento, como veviriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de taes
aflições? Ó geeraçom que depois veo, poboo bem aventuirado, que nom soube parte de tantos
males, nem foi quinhoeiro de taes padecimentos!
Teresa Amado, Crónica de D. João I de Fernão Lopes,
Capítulo CXLVIII, Lisboa: Seara Nova/Comunicação, 1980, pp. 197-198.
1
tristeza. 2
tristes. 3
queixas. 4
pena, dó. 5
preocupado.
6
acontecer. 7
todavia. 8
todavia. 9
outra coisa. 10
falar.
Educação literária
1. Indica o tema do texto, justificando com expressões do texto.
2. Explicita duas características épicas presentes no texto e justifica com uma expressão do texto.
3. Seleciona dois recursos expressivos e explica a sua expressividade.
B. Lê o seguinte poema. Consulta as notas apresentadas.
FICHA DE AVALIAÇÃO 2
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
© Areal Editores 9
Vi eu, mha madre, andar
as barcas eno mar,
e moiro-me d'amor.
Foi eu, madre, veer
as barcas eno lez1
,
e moiro-me d'amor.
As barcas [e]no mar
e foi2
-las [a]guardar,
e moiro-me d'amor.
As barcas eno ler
e foi-las atender3
,
e moiro-me d'amor.
E foi-las aguardar
e non'o pud' achar,
e moiro-me d'amor.
E foi-las atender
e non'o pud'i veer,
e moiro-me d'amor.
E non'o achei i,
[o] que por meu mal vi,
e moiro-me d'amor.
Nuno Fernandes Torneol,
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=666&pv=sim
(consultado a 21.10.2014)
1
lezíria.
2
fui.
3
esperar.
4. Indica o assunto desta composição poética e justifica com uma expressão textual.
5. Classifica o poema e enquadra-o na época literária onde se insere, apoiando-te em expressões
selecionadas.
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
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Grupo II
Amor e poder
5
10
15
20
Um dia, ainda no tempo das disquetes e das realidades pouco virtuais, um vírus entrou no
computador de Dulce Maria Cardoso e apagou-lhe todos os ficheiros, incluindo várias versões de
um romance. Ficou em choque. E sem saber o que fazer. Chegou até a dar como perdida a história
que a ocupou durante muitos meses, mas no fim não baixou os braços. Armou-se de um arsenal de
comida. Protegeu-se com uma retaguarda de familiares e amigos. E fechou-se em casa para
reconstituir o que ainda estava vivo na sua memória. Surgia então Os Meus Sentimentos, o seu
segundo romance, e um radical método criativo de trabalho.
Os contos de Tudo são Histórias de Amor, a sua segunda coletânea, depois de Até Nós, também
são resultado desse trabalho de recordação e depuração. Para Dulce Maria Cardoso, escrever é,
numa primeira fase, um ato de descoberta. Mas depois, quando apaga o que escreveu («sem
hipótese de o recuperar, pois de outra forma não funciona», garante), torna-se um meio de iluminar
o essencial, uma revelação. É entre esses dois polos que se tem afirmado a sua voz, uma das mais
singulares da Literatura em Língua Portuguesa: transfigurando a sua experiência pessoal, como em
O Retorno, ou esticando os limites da prosa, como em Os Meus Sentimentos. Em Tudo são
Histórias de Amor, que reúne textos publicados em jornais (incluindo a sua autobiografia no JL) e
em pequenas edições, descobre-se uma escritora comprometida com o seu tempo e com a
sociedade em que vive. A sua literatura será sempre um exercício ético. (…)
Com O Retorno Dulce Maria Cardoso teve o reconhecimento (do público e da crítica) que há
muito merecia. Formada em Direito, pela Universidade de Lisboa, estreou-se na ficção em 2002,
com Campo de Sangue, que recebeu o Grande Prémio Acontece de Romance. Era já então uma
autora plena, de prosa segura e narração intensa. Seguiram-se Os Meus Sentimentos (Prémio
União Europeia para a Literatura), e Chão de Pardais (Prémio Pen Club), que se encarregaram de
revelar uma escritora em constante fuga da sua «zona de conforto», imagem que estes contos
reforçam. Não gosta de se repetir, nem tem medo de se reinventar.
Isabel Mateus, in Jornal de Letras,
19 de março – 1 de abril 2014, p. 7.
Leitura / Gramática
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma
afirmação correta.
1.1. Dulce Maria Cardoso
A. escreveu um romance e vários contos.
B. é uma escritora atual reconhecida pela crítica literária.
C. começou a escrever devido a um problema que teve no computador.
D. perdeu um romance completo que tinha escrito devido a um vírus informático.
1.2. O primeiro período do texto
A. refere-se a um passado remoto.
B. refere-se à antiguidade clássica .
C. refere-se a um passado recente.
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
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D. refere-se à época medieval .
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
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1.3. Com as expressões «mas no fim não baixou os braços» (l. 4) e «Armou-se de um arsenal de comida» (l. 4)
pretende dizer-se que
A. a escritora saiu de casa e foi às compras.
B. a autora escreveu uma história sobre guerra .
C. a escritora não desistiu e isolou-se.
D. a comida que armazenou ficou intacta.
1.4. A obra que deu a esta escritora o reconhecimento da crítica e do público foi
A. Os Meus Sentimentos.
B. Tudo são Histórias de Amor.
C. O Retorno.
D. Campo de Sangue.
1.5. A frase: «descobre-se uma escritora comprometida com o seu tempo e com a sociedade em que vive.»
(ll. 16-17) significa que
A. Dulce Maria Cardoso revela, na sua obra, uma preocupação de intervenção social.
B. Dulce Maria Cardoso denuncia comportamentos éticos na sociedade atual.
C. Dulce Maria Cardoso elogia a sociedade contemporânea.
D. Dulce Maria Cardoso enaltece o seu tempo e a sociedade em que vive.
2. Responde de forma correta aos itens apresentados.
2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «apagou-lhe todos os
ficheiros» (l. 2).
2.2. Classifica a oração sublinhada: «Chegou até a dar como perdida a história que a ocupou durante
muitos meses, mas no fim não baixou os braços.» (ll. 3-4)
2.3. Classifica a oração: «que se encarregaram de revelar uma escritora em constante fuga da sua “zona
de conforto”» (ll. 22-23).
GRUPO III
Escrita
Muitos escritores, através da sua obra, denunciam problemas sociais ou mostram
comportamentos modelares, promovendo a justiça ou a moralização da sociedade onde vivem.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta uma
exposição sobre «o exercício ético da literatura». Recorre à tua experiência pessoal de leitura para
fundamentares a tua opinião.
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
© Areal Editores 13
GRUPO I
A. Lê o seguinte texto.
ESCUDEIRO Antes que mais, diga agora,
Deus vos salve, fresca rosa,
e vos dê por minha esposa,
por mulher e por senhora.
5 Que bem vejo
nesse ar, nesse despejo,
mui graciosa donzela,
que vós sois, minha alma, aquela
que eu busco e que desejo.
10 Obrou bem a Natureza
em vos dar tal condição
que amais a discrição
muito mais que a riqueza.
Bem parece
15 que a discrição merece
gozar vossa fermosura,
que é tal que, de ventura,
outra tal não se acontece.
Senhora, eu me contento
20 receber-vos como estais:
se vós vos não contentais,
o vosso contentamento
pode falecer: no mais.
LATÃO Como fala!
25 VIDAL E ela como se cala!
Tem atento o ouvido…
Este há-de ser seu marido,
segundo a coisa s’abala.
Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira.
Educação literária
1. Seleciona, na fala do Escudeiro, marcas de um discurso sedutor e elogioso que caracterizam a
personagem, introduzindo expressões comprovativas.
2. Explicita a função as personagens Latão e Vidal na peça.
3. Identifica dois recursos expressivos e explica a sua expressividade.
FICHA DE AVALIAÇÃO 3
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
© Areal Editores 14
B. Lê o seguinte texto e consulta as notas apresentadas.
Danúbio
5
10
15
O Danúbio surge com frequência envolvido num halo1
simbólico antialemão, é o rio ao longo do
qual se encontram, se cruzam e se misturam gentes diversas, em vez de ser, como o Reno, um
mítico anjo tutelar da pureza da estirpe. É o rio de Viena2
, de Bratislava3
, de Budapeste4
, de
Belgrado5
, da Dácia6
, a faixa que atravessa e cinge, como o Oceano cingia o mundo grego, a
Áustria dos Habsburgos, da qual o mito e a ideologia fizeram o símbolo de uma koinè7
múltipla e
supranacional, o império cujo soberano se dirigia «aos meus povos» e cujo hino era cantado em
onze línguas diferentes. O Danúbio é a Mitteleuropa alemano-magiar-eslovo-românico-judaica,
polemicamente contraposta ao Reich germânico, uma ecúmena8
«hinternacional», como a
celebrava em Praga Johannes Urzidil, um mundo «anterior às nações».
A versão Danúbio-Aach parece em contrapartida o símbolo dessa ideologia gesamtdeutsch,
total-alemã, que via na monarquia plurinacional dos Habsburgos um braço da civilização teutónica9
,
uma astúcia ou um instrumento da Razão destinando-se a germanizar culturalmente a Europa
Centro-Oriental, como afirmava por exemplo Heinrich von Srbik, o grande historiador austríaco que
exaltava Eugénio de Sabóia, detestava Frederico II e o prussianismo, tendo acabado nacional-
socialista.
A Mitteleuropa «hinternacional», hoje idealizada como uma harmonia de povos diferentes, foi por certo
uma realidade do Império dos Habsburgos, na sua última fase, uma tolerante convivência
compreensivelmente chorada depois do seu fim, até pela comparação com a barbárie totalitária que lhe
sucedeu, entre as duas guerras mundiais, no espaço danubiano.
Claudio Magris, Danúbio, Lisboa: Quetzal, 2010, pp. 32-33.
1
círculo luminoso.
2
capital da Áustria.
3
capital da Eslováquia.
4
capital da Hungria.
5
capital da Sérvia.
6
cidade romena.
7
palavra de origem grega que significa: língua comum que se difunde num determinado território.
8
terra habitada pelo homem.
9
germânica.
4. Este texto é um excerto de um dos grandes romances europeus do nosso tempo que, pertencendo à
literatura de viagens, explora e disserta sobre a cultura centro-europeia, a Mitteleuropa. Infere o simbolismo
atribuído ao rio Danúbio dentro deste universo de referência.
5. Neste romance escrito durante o período do alargamento da União Europeia, no início dos anos oitenta do
século XX, o narrador realiza uma viagem através do Danúbio. Explicita de que modo a questão do federalismo
europeu se traduz no texto.
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GRUPO II
O lado certo da língua
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Estava eu com um colega numa loja de discos em segunda mão, em Salvador da Bahia, quando
a funcionária, reparando na nossa pinta de estrangeiros, perguntou naturalmente: «De onde vocês
são?». Respondemos que éramos de Portugal, ao que ela retorquiu, com menos espanto do que o
nosso: «Mas falam português muito bem!». Aceitámos o cumprimento. (…)
Por cá, caem-se nos excessos contrários. Ainda no outro dia ouvi dizer: «Hoje as crianças estão
menos habituadas à língua brasileira, por causa das telenovelas portuguesas». É tão disparatado
quanto dizer que as crianças estão menos habituadas ao açoriano porque nunca mais se fez uma
série do género Xailes Negros. O brasileiro não existe, tão pouco o açoriano. Só em Portugal se
ouve dizer que os brasileiros falam brasileiro. Os brasileiros sabem bem que falam português.
Temos a mania de que vivemos do lado certo da língua. Como se a ‘paternidade’ implicasse
posse. E como se a nossa fala de hoje se aproximasse da de Dom Diniz. (…) As línguas são
organismos vivos em constante mutação. E este oceano que nos separa ajudou a que as duas
variantes acentuassem as suas diferenças, chegando, em alguns casos, a um ponto próximo da
incomunicabilidade. Mas a língua é a mesma, claro que sim. Ainda que alguns se esforcem por criar
clivagens.
Eu, por mim, parafraseando a frase que Caetano aplica a Luís de Camões, gosto de sentir a
minha língua roçar na língua de Machado de Assis. Acho graça às expressões, ao gosto de brincar
com as palavras, do zagueiro e do escanteio, da torcida. Não vale a pena procurar chifre em cabeça
de cavalo, nem cutucar a onça com vara curta. Na diversidade é que está a riqueza. E é um
privilégio partilhar a língua com outros povos, trocar seis por meia dúzia e descascar o abacaxi,
antes de ser hora de abotoar o paletó.
Manuel Halpern, in Jornal de Letras,
25 de junho a 8 de julho 2014, p. 31.
Leitura / Gramática
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma
afirmação correta.
1.1. O título do texto
A. recupera uma ideia que o texto pretende demonstrar.
B. recupera uma ideia que o narrador gostaria de provar.
C. recupera uma ideia errada que alguns falantes têm.
D. recupera uma frase do texto que o sintetiza.
1.2. O episódio narrado no início do texto
A. demonstra a arrogância de algumas pessoas.
B. revela o desconhecimento do nosso país além-mar.
C. demonstra que os brasileiros não sabem que falam português.
D. revela as diferenças entre o português europeu e o do Brasil.
1.3. O autor do texto refere-se às telenovelas brasileiras e à série Xailes Negros
A. para demonstrar que não faz sentido falar-se de brasileiro ou de açoriano.
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B. para promover a produção nacional.
C. para realçar a importância das telenovelas portuguesas.
D. para valorizar os Açores.
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1.4. A frase: «E este oceano que nos separa ajudou a que as duas variantes acentuassem as suas
diferenças, chegando, em alguns casos, a um ponto próximo da incomunicabilidade.» (ll. 12-14) significa que
A. há um oceano de diferenças no português falado no Brasil ou nos Açores.
B. os portugueses e os brasileiros não se entendem.
C. é impossível comunicar para além do oceano.
D. no Brasil ou em Portugal fala-se português, embora haja diferenças entre as duas variedades que
dificultam a comunicação.
1.5. «Parafrasear» no texto significa
A. dizer em voz alta.
B. escrever sem erros ortográficos.
C. citar livremente.
D. comentar criticamente.
2. Responde de forma correta aos itens apresentados.
2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «As línguas são
organismos vivos» (ll. 11-12).
2.2. Classifica a oração sublinhada: «Os brasileiros sabem bem que falam português. (l. 9).
2.3. Na frase «Eu, por mim, parafraseando a frase que Caetano aplica a Luís de Camões, gosto de sentir a
minha língua roçar na língua de Machado de Assis.» (ll. 15-16) indica a função sintática da oração sublinhada.
GRUPO III
Escrita
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta uma
exposição sobre o «privilégio de partilhar a língua com outros povos». Recorre às tuas vivências enquanto
falante de uma língua espalhada pelos vários continentes.
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GRUPO I
A. Lê o seguinte poema.
Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co tormento,
para que seus enganos não dissesse.
Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos…
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
tereis o entendimento de meus versos!
Luís de Camões, Lírica Completa – II, Lisboa: IN-CM, 1994, p. 25.
Educação literária
1. Seleciona, no poema, marcas da presença do sujeito poético e da sua evolução psicológica, justificando
com elementos do texto.
2. Caracteriza a relação que se estabelece no poema entre o sujeito e a Fortuna e o Amor. Seleciona
expressões comprovativas.
3. Atenta nos vocábulos maiúsculados e explicita o seu efeito estilístico.
4. Explicita o caráter apelativo do poema, fundamentando com expressões comprovativas.
B. Lê o seguinte poema.
mote:
Descalça vai pera a fonte
Leanor, pela verdura;
vai formosa e não segura.
voltas:
Leva na cabeça o pote,
o testo nas mãos de prata,
cinta de fina escarlata,
saínho de chamalote;
traz a vasquinha de cote,
mais branca que a neve pura;
vai fermosa, e não segura.
FICHA DE AVALIAÇÃO 4
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Descobre a touca a garganta,
cabelos d’ ouro o trançado,
fita de cor de encarnado…
Tão linda que o mundo espanta!
Chove nela graça tanta
que dá graça a fermosura;
vai fermosa, e não segura.
Luís de Camões, Lírica Completa – II, Lisboa: IN-CM, 1994, p. 83.
5. Indica a função dos elementos do texto que podem ser representados como cenário.
6. Caracteriza a figura feminina e verifica o seu relevo no texto.
7. Explicita a variedade de cores sugerida no poema e justifica com expressões textuais
GRUPO II
Regresso
O visitante ocidental que pela primeira vez chega a Goa e Cochim enfrentará provavelmente a
vertigem do caos à sua volta e dentro de si. Quando começa a familiarizar-se com a estonteante
exuberância e com as contradições coexistentes, quando julga começar a entender a
complexidade das castas, dos cultos e costumes tão diferentes, quando começa a fixar nomes,
imagens, atributos dos deuses, tudo lhe foge de súbito, tudo se torna de novo confuso, como se o
véu de Maia voltasse a cobrir a indecifrável irrealidade da Índia real.
Quem regressa de uma terra tão diversa traz fragmentos de caras, casas, ruas, cheiros,
quartos, uma carga de imagens que, na alfândega-roleta do lembrar e esquecer, deveria pagar
excesso de bagagem. Vim carregado de cores e de cansaço mas inteiro e em estado razoável,
bem melhor dos que outrora, contentes por regressarem, contavam
Lá vos digo que há fadigas
tantas mortes, tantas brigas
e perigos descompassados
que assim vimos destroçados
pelados como formigas.
Vim ainda carregado de algo mais: um outro modo de olhar, a certeza de não pertencer àquele
tipo de viajante que não fala do que vê, mas do que imagina ou deseja ver. Trouxe comigo um
bloco confusamente escrevinhado, uma curiosidade acrescentada, uma crescente descrença na
elegância da descrença. E tornei-me mais atento à infindável memória do mundo, mais capaz de
escutar o incansável murmúrio do mundo.
Almeida Faria, O Murmúrio do Mundo: A Índia revisitada, Lisboa: Tinta-da-China., 2012, pp. 142-143.
Leitura / Gramática
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma
afirmação correta.
1.1. O texto evidencia marcas de género específicas
A. características do relato de viagem.
B. próprias de uma apreciação crítica.
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C. características de uma exposição sobre um tema.
D. próprias do artigo de divulgação científica.
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1.2. O texto apresenta
A. explicitação das fontes.
B. um discurso pessoal com prevalência da primeira pessoa.
C. uma descrição objetiva de um objeto, acompanhada de comentário crítico.
D. um discurso pessoal com prevalência da 3.ª pessoa.
1.3. O texto tem como tema
A. a partida para uma viagem a Goa e a Cochim.
B. as peripécias de uma viagem à Índia.
C. as aventuras de um português na Índia.
D. o regresso de uma viagem ao Oriente.
1.4. Os itálicos presentes no texto
A. assinalam citações de autor.
B. são formas de destaque de expressões conhecidas.
C. assinalam frases em sentido subjetivo.
D. realçam comentários do narrador.
1.5. A frase: «Quem regressa de uma terra tão diversa traz fragmentos de caras, casas, ruas, cheiros,
quartos, uma carga de imagens que, na alfândega-roleta do lembrar e esquecer, deveria pagar excesso de
bagagem.» (ll. 7-9) significa que
A. quem regressa de uma viagem, traz sempre muita bagagem e tem de pagar o excesso.
B. quem regressa de uma viagem ao Oriente, traz sempre memórias inesquecíveis.
C. quem regressa de uma viagem enriquecedora deveria pagar excesso de bagagem e imposto à
entrada no país de origem.
D. quem regressa de um país fora da União Europeia, ao entrar em Portugal, tem de declarar os
produtos que adquiriu.
2. Responde de forma correta aos itens apresentados.
2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «Quando começa a
familiarizar-se com a estonteante exuberância» (ll. 2-3).
2.2. Classifica a oração sublinhada e indica a sua função sintática: «Quem regressa de uma terra tão
diversa traz fragmentos de caras» (l. 7).
2.3. Na frase «O visitante ocidental que pela primeira vez chega a Goa e Cochim enfrentará provavelmente
a vertigem do caos à sua volta e dentro de si.» (ll. 1-2), divide e classifica as orações.
GRUPO III
Escrita
«O mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa apenas leem uma
página.»
Agostinho de Hipona.
Tendo em conta o comentário apresentado, num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um
máximo de 150 palavras, apresenta uma exposição sobre as experiências e aprendizagens que as
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viagens possibilitam.
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GRUPO I
A. Lê as seguintes estâncias do Canto VII de Os Lusíadas. Consulta as notas apresentadas.
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E ainda, Ninfas minhas, não bastava
Que tamanhas misérias me cercassem,
Senão que aqueles que eu cantando andava
Tal prémio de meus versos me tornassem1
:
A troco dos descansos que esperava,
Das capelas2
de louro que me honrassem,
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Com que em tão duro estado me deitaram.
82
Vede, Ninfas, que engenhos de senhores3
O vosso Tejo cria valerosos,
Que assi sabem prezar, com tais favores,
A quem os faz, cantando, gloriosos!
Que exemplos a futuros escritores,
Pera espertar engenhos curiosos,
Pera porem as cousas em memória
Que merecerem ter eterna glória!
83
Pois logo, em tantos males, é forçado
Que só vosso favor me não faleça,
Principalmente aqui, que sou chegado
Onde feitos diversos engrandeça:
Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado
Que não o empregue em quem o não mereça,
Nem por lisonja louve algum subido,
Sob pena de não ser agradecido.
Luís de Camões, Os Lusíadas, Ministério da Educação, 1989, p. 319.
1
dessem.
2
coroas destinadas a glorificar os poetas.
3
grandes senhores de Portugal.
Educação literária
1. Explicita os sentimentos expressos pelo sujeito nesta passagem e justifica recorrendo a elementos do
texto.
2. Identifica o destinatário do apelo do sujeito e enquadra-o no contexto literário de Camões épico.
3. Indica um recurso expressivo e explica a sua expressividade.
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B. Lê o seguinte poema.
Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança ainda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais
e, se torna, não tornam as idades.
Razão é já, ó anos, que vos vades,
porque estes tão ligeiros que passais,
nem todos para um gosto são iguais,
nem sempre são conformes as vontades.
Aquilo a que já quis é tão mudado
que, quase é outra cousa; porque os dias
têm o primeiro gosto já danado.
Esperanças de novas alegrias
não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
que do contentamento são espias.
Luís de Camões, Lírica Completa – II, Lisboa: IN-CM, 1994, p. 220.
4. Identifica o tema do poema, justificando com expressões selecionadas.
5. Refere, exemplificando, dois recursos expressivos que transmitam a expressividade da dor do sujeito
poético.
GRUPO II
Três personagens em trânsito
5
10
15
O que perturba nas peças de Edward Albee (1928) é a sensação de que quando o pano sobe as
personagens já ali estavam antes do público chegar e que depois do pano cair vão continuar a usar
o palco na sua demanda pelo significado da existência. Aos espectadores é servida uma parte da
«vida» das personagens e da sua luta implacável para apreenderem o sentido da realidade. De
facto, com ele as personagens são apanhadas em trânsito pela vida, caminhando inevitavelmente
para a morte com menor ou maior consciência. Albee, que filosoficamente podia dizer-se
existencialista, transforma a viagem num jogo onde se correm sérios riscos de sucumbir ao vazio
que se instala quando se abdica da individualidade pela alienação, qualquer que seja a forma que
esta tome.
Três mulheres em trânsito, peça escrita em 1991, espelha com clareza as preocupações
temáticas do autor e afirma o teatro como fórmula suprema para tentar aprofundar o jogo da vida
através do jogo no palco. Por um toque de mestria de escrita, as situações e as personagens
adquirem substancia psicofísica mais concreta, diria mais real, do que as que nos são dadas a viver
e a conhecer na própria vida real. Com efeito, A, B, e C, as personagens assim nomeadas para que
se não lhes possa atribuir qualquer individualidade pré-adquirida, confrontam-se e confrontam-nos
com a inexorável passagem do tempo, a decadência e o pânico da morte certa, num jogo impiedoso
de autoanálise e dos efeitos bloqueadores das convenções sociais na liberdade individual.
Helena Simões, in Jornal de Letras, 25 de junho a 8 de julho de 2014, p. 22.
Leitura / Gramática
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma
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afirmação correta.
1.1. O texto apresenta marcas de género específicas
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A. características do relato de viagem.
B. próprias de uma apreciação crítica.
C. características de uma exposição sobre um tema.
D. próprias do artigo de divulgação científica.
1.2. O texto apresenta
A. explicitação das fontes.
B. um discurso pessoal com prevalência da primeira pessoa.
C. uma descrição objetiva de um objeto, acompanhada de comentário crítico.
D. um discurso pessoal com prevalência da terceira pessoa.
1.3. O texto apresenta comentários
A. críticos depreciativos do espetáculo.
B. críticos elogiosos da peça de teatro em análise.
C. pouco fundamentados da qualidade do espetáculo.
D. pejorativos relativamente ao autor da peça.
1.4. Os itálicos presentes no texto
A. assinalam o título da peça de teatro.
B. são formas de destaque de expressões conhecidas.
C. assinalam frases em sentido subjetivo.
D. realçam comentários do narrador.
1.5. A palavra «vida» (l. 4) surge entre aspas
A. uma vez que está usada em sentido literal.
B. porque é utilizada em sentido figurado.
C. uma vez que é o antónimo de «morte».
D. porque a frase é agramatical.
2. Responde de forma correta aos itens apresentados.
2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «Três mulheres em
trânsito, peça escrita em 1991, espelha com clareza as preocupações temáticas do autor» (ll. 9-10).
2.2. Classifica a oração sublinhada e indica a sua função sintática: «Albee, que filosoficamente podia dizer-
se existencialista, transforma a viagem num jogo» (ll. 6-7).
2.3. Na frase «Albee, que filosoficamente podia dizer-se existencialista, transforma a viagem num jogo onde
se correm sérios riscos de sucumbir ao vazio que se instala quando se abdica da individualidade pela alienação,
qualquer que seja a forma que esta tome.» (ll. 6-8), classifica as duas orações sublinhadas.
GRUPO III
Escrita
«As palavras, como os seres vivos, nascem de vocábulos anteriores, desenvolvem-se e
fatalmente morrem. As mais afortunadas reproduzem-se. Há-as de índole agreste, cuja simples
presença fere e degrada, e outras que de tão amoráveis tudo à sua volta suavizam. Estas
iluminam, aquelas confundem.»
José Eduardo Agualusa, Milagrário Pessoal, Lisboa: Dom Quixote, 2010, p. 15.
Tendo em conta o comentário apresentado, num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um
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máximo de 150 palavras, apresenta uma exposição sobre o poder das palavras nas relações interpessoais.
GRUPO I
A. Lê o seguinte texto. Consulta as notas apresentadas.
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Como se sabe, no tempo do rei D. João III foi o Brasil dividido em capitanias1
, cada uma
concedida a um donatário2
. A de Pernambuco, uma das que primeiro se povoaram e que logo
alcançou grande importância, coube a um fidalgo de reto3
espírito, nobre, perseverante, trabalhador,
que tinha por nome Duarte Coelho. Parece que dispunha de consideráveis recursos e é de supor
que esses seus haveres fossem o resultado de trabalhos longos que passou em África e no Oriente.
Alcançada a mercê4
real, transferiu-se logo para o Brasil, acompanhado de muitos dos seus
parentes. Sob a sua hábil administração, a capitania prosperou. Passados alguns anos, resolveu vir
até à metrópole, a fim de angariar colonos novos e contratar industriais competentes com que
pudesse desenvolver a sua empresa. Confiou a um seu cunhado, Jerónimo de Albuquerque, o
governo da capitania, e embarcou acompanhado de seus filhos: Duarte Coelho de Albuquerque e
Jorge de Albuquerque Coelho, que tivera de sua mulher, Dona Brites de Albuquerque.
Na metrópole veio a falecer Duarte Coelho em 1554; e, já no tempo em que a rainha Dona
Catarina, avó do rei D. Sebastião, governava Portugal durante a menoridade do seu neto, chegou
nova do Brasil, e especialmente de Pernambuco, de que a maior parte das tribos indígenas se
levantara ali contra os Portugueses, pondo cerco aos principais lugares daquela colónia de
Pernambuco.
Ordenou pois Dona Catarina que Duarte de Albuquerque Coelho, herdeiro da capitania, a fosse
sem demora socorrer; e, entendendo ele que lhe seria utilíssima a companhia e ajuda de seu irmão,
Jorge de Albuquerque Coelho, suplicou à rainha-regente que lhe desse ordem de o acompanhar; e
assim ela fez.
Chegou em 1560 a Pernambuco, não contando mais de vinte anos de idade; e, havendo
chamado a conselho alguns padres da Companhia de Jesus e várias personagens entre as
principais da terra, assentou-se entre todos, ponderado o lance, que se elegesse por chefe militar
da capitania a Jorge de Albuquerque Coelho, o qual, como lhe disseram que cumpria ao bem
público o aceitar ele e servir tal cargo, o aceitou, e se aventurou, e se esforçou muitíssimo, correndo
risco de perder a vida no zeloso5
cumprimento dos seus deveres.
Começou o ataque aos inimigos naquele mesmo ano de 1560, com tropa de soldados e de
criados seus, que alimentava vestia e calçava à sua custa. Prosseguiu nas operações de guerra
através de montes e de desertos, durante Verões e durante Invernos, de noite e de dia, passando
grandíssimos trabalhos, sendo ele e os seus soldados feridos pelo gentio muitas vezes, e
combatendo a pé e a cavalo. Frequentemente, não tinham mais para comer do que os caranguejos
do mato que encontravam, cozinhados de farinha-de-pau e fruta selvagem daqueles campos.
Quando acampavam, faziam os escravos choupanas6
de palma, em que se agasalhava toda a
tropa. Com estes cuidados que sempre tinha e com as boas palavras que lhes dizia, consolava e
contentava a sua gente. Entrada uma aldeia dos inimigos, corria logo sobre a mais próxima e a
tomava assim com facilidade, por não terem tempo de se fazerem prestes7
.
Com esta diligência e brevidade pacificou em cinco anos a capitania. Quando chegara, não
ousavam os moradores da vila de Olinda sair mais que duas léguas pela terra dentro, e ao longo da
costa, três ou quatro; ao fim daquele tempo, podiam ir até vinte pelo interior, e sessenta léguas ao
longo da costa, − as que tinha a capitania no seu âmbito.
1
designação das primeiras divisões administrativas do Brasil.
2
aquele que recebia um terreno para povoar, explorar e administrar.
3
honesto, correto.
4
benefício.
5
cuidadoso.
6
casebres.
FICHA DE AVALIAÇÃO 6
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preparados.
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Então, deixando essa colónia conquistada, e os indígenas quietos e pacíficos com pedirem
paz que lhes outorgaram8
, embarcou para a metrópole na nau «Santo António», na qual viagem
se deram os casos que nesta narrativa se contêm.
História Trágico-Marítima. Narrativa de Naufrágios da Época das Conquistas, V. Adaptação de António Sérgio, Lisboa:
Sá da Costa, 2008 [«As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)», pp. 177-181.]
8
concederam.
Educação literária
1. Explicita os três momentos principais em que o texto se organiza.
2. Indica duas características do texto que fazem dele um preâmbulo de outra narrativa. Justifica com
expressões do texto.
3. Explica o sentido da frase: «Chegou em 1560 a Pernambuco, não contando mais de vinte anos de idade;
e, havendo chamado a conselho alguns padres da Companhia de Jesus e várias personagens entre as
principais da terra, assentou-se entre todos, ponderado o lance, que se elegesse por chefe militar da capitania a
Jorge de Albuquerque Coelho». (ll. 21-24)
B. Lê o seguinte poema.
mote:
Vi chorar uns claros olhos
quando deles me partia.
Oh que mágoa, oh que alegria!
voltas:
Polo meu apartamento
se arrasaram todos d’ água.
Quem cuidou que em tanta mágoa
achasse contentamento?
Julgue todo entendimento
qual mais sentir se devia:
se esta dor, se esta alegria.
Quando mais perdido estive,
então deu a esta alma minha,
na maior mágoa que tinha,
o maior gosto que tive.
Assi, se minh’ alma vive,
foi porque me defendia
desta dor esta alegria.
O bem que Amor me não deu
no tempo que o desejei,
quando dele me apartei,
me confessou que era meu.
Agora que farei eu,
se a fortuna me desvia
de lograr esta alegria?
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Não sei se fui enganado,
pois me tinha defendido
das iras de mal querido
no mal de ser apartado.
Agora peno dobrado,
achando no fim do dia
o princípio d’ alegria.
Luís de Camões, Lírica Completa – I, Lisboa IN-CM, 1994, p. 190.
4. Indica o tema do poema.
5. Seleciona dois recursos expressivos e explicita a sua expressividade.
6. Analisa formalmente o poema.
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Quando tinha onze anos, o meu pai deu-me um livro fascinante escrito por Albert Einstein e
Leopold Infeld, chamado A evolução da Física. Logo nas primeiras linhas o livro compara a ciência
a um romance policial. A diferença estará em que a ciência procura descobrir não quem foi o
culpado, mas porque é o mundo como é.
Como em todos os bons mistérios, é frequente os investigadores desviarem-se do caminho certo.
Vezes sem conta têm de recomeçar de novo, separando as pistas falsas das verdadeiras. Mas
chega finalmente o dia em que reúnem elementos em número suficiente para lhes poderem aplicar
essa ferramenta humana de poder inigualado que é a capacidade de dedução e desse modo
começarem a perceber o que se passou. Tendo elaborado uma teoria do mistério em estudo, fazem
então algumas conjeturas, as quais serão em seguida postas à prova para, assim, se espera,
resolver o mistério.
Contudo, alguns parágrafos mais à frente a analogia com o romance policial é abruptamente
abandonada. Dizem-nos que os cientistas enfrentam um dilema que nunca aflige quem combate o
crime. No jogo de desvendar o mistério do universo, os cientistas nunca podem dizer «caso
encerrado». Quer gostem quer não, nunca têm entre mãos um mistério, mas sim uma pequena
fração de um enorme conjunto de mistérios interdependentes. Sucede com frequência que a mais
recente solução de uma parte do enigma indique que certas soluções encontradas anteriormente
para outras partes desse enigma afinal estão erradas, ou pelo menos precisam de ser reanalisadas.
Pode dizer-se com grande rigor que o jogo da ciência é um interminável insulto à inteligência
humana.
Mau grado a «indignidade» a que a física nos sujeita, ela fascinou-me de imediato. Gostei
particularmente da maneira como são apresentados os mistérios do universo: através de perguntas
que parecem superficialmente muito simples, mas têm na verdade um significado extremamente
profundo; vêm, além disso, envoltas nas belas roupagens das experiências conceptuais e da lógica
pura.
Mas foi só bem depois de ter iniciado a minha carreira como físico que me apercebi de que
muitos, talvez a maior parte, dos problemas da física não são abordados de forma fria e racional;
pelo menos não a princípio. Antes de sermos cientistas somos Homo sapiens, uma espécie que,
pese embora o seu pomposo nome, obedece mais às emoções do que à razão. Nem sempre
descartamos cuidadosamente as pistas falsas ou as suposições erróneas ou resolvemos os nossos
problemas pelas técnicas mais racionais.
João Magueijo, Mais rápido que a luz, Lisboa: Gradiva, 2003, p. 27.
Leitura / Gramática
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma
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© Areal Editores 32
afirmação correta.
1.1. O narrador deste texto recorda um episódio da sua infância quando
A. o pai lhe ofereceu uma prenda inesquecível.
B. recebeu um livro sobre a relação entre a ciência e a literatura.
C. percebeu o que era um romance policial.
D. entendeu que em ciência não se descobre o culpado.
1.2. Os cientistas, segundo o texto,
A. falham sempre que tentam separar pistas falsas das verdadeiras.
B. sofrem a influência de fatores internos e externos.
C. resolvem sempre os mistérios mas nunca dizem «caso encerrado».
D. desvendam mistérios a partir da capacidade dedutiva.
1.3. A física fascinou o narrador
A. porque gosta de belas roupagens.
B. uma vez que o significado profundo das perguntas transparece de imediato .
C. porque as questões sobre o universo são estimulantes e desafiantes.
D. visto que os mistérios da física indignam os estudiosos .
1.4. O narrador considera que
A. a maior parte dos problemas da física se resolvem de forma racional.
B. os enigmas da física só se solucionam friamente.
C. os cientistas são homens, por isso, também se deixam influenciar pelas emoções.
D. os homens são mais racionais do que intuitivos.
1.5. A frase: «o jogo da ciência é um interminável insulto à inteligência humana.» (l. 18) significa que
A. nunca conseguimos descodificar os enigmas mais complicados.
B. não se deve jogar com a ciência.
C. a inteligência humana não está preparada para o jogo da ciência.
D. em ciência, nunca podemos considerar um enigma como completamente resolvido.
2. Responde de forma correta aos itens apresentados.
2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «ela fascinou-me de
imediato» (l. 19).
2.2. Classifica a oração sublinhada: «Dizem-nos que os cientistas enfrentam um dilema que nunca aflige
quem combate o crime.» (ll. 12-13).
2.3. Divide e classifica as orações da frase: «Quando tinha onze anos, o meu pai deu-me um livro
fascinante escrito por Albert Einstein e Leopold Infeld, chamado A evolução da Física.» (ll. 1-2).
GRUPO III
Escrita
«Nos primeiros estádios do desenvolvimento de uma ideia [os cientistas] comportamo-nos
mais como artistas, impulsionados pelo temperamento e pelo gosto pessoal.»
João Magueijo, Mais rápido que a luz, Lisboa: Gradiva, 2003, p. 17.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta uma
DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10
AVALIAÇÃO
© Areal Editores 33
exposição sobre «o papel da emoção na investigação científica». Recorre aos teus conhecimentos para
fundamentares a tua opinião.

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A história do Português e as mudanças linguísticas

  • 1. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 1 GRUPO I A. Lê o seguinte poema. XXV (Na praia. O menino aprende a linguagem das nuvens.) Aquela nuvem Aquela nuvem parece um cavalo… Ah! Se eu pudesse montá-lo! Aquela? Mas já não é um cavalo, é uma barca à vela. Não faz mal. Queria embarcar nela. Aquela? Mas já não é um navio, é uma torre amarela a vogar no frio onde encerraram uma donzela. Não faz mal. Quero ter asas para a espreitar da janela. Vá, lancem-me no mar donde voam as nuvens para ir numa delas tomar mil formas com sabor a sal − Labirinto de sombras e de cisnes no céu de água-sol-vento-luz concreto e irreal… José Gomes Ferreira, in Poeta Militante II, Lisboa: Dom Quixote,1991, p. 27. Educação literária 1. Explicita os diversos aspetos da realidade a que a nuvem é associada. 2. Seleciona no texto uma metáfora e explica o seu valor expressivo. 3. Indica os versos que exprimem os desejos que cada uma das formas das nuvens provoca no sujeito poético. 4. Indica o que têm de comum estes três desejos. 5. Classifica formalmente a composição poética. FICHA DE DIAGNÓSTICO
  • 2. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 2 B. Lê o seguinte texto. 5 10 Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado! Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! (…) Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser alguma coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exatamente para a nossa casa, como a mesa. Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade! Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro, Lisboa: Olissipo, 1921, p. 24. 6. Explicita os sentimentos que este texto traduz. Justifica com expressões do texto. 7. Infere a intenção do filho ao identificar as mãos da mãe com uma corda. Justifica com expressões textuais. 8. Identifica o processo fonológico na forma (l. 3): Traze > Traz. GRUPO II As letras assinadas 5 10 15 20 25 No paredão austero da Mundial, onde a prudência administrativa mandou pespegar uma lápide: «É proibido afixar anúncios nesta propriedade», um miúdo de metro e meio de altura escreveu a carvão estas letras infamantes para a higiene do edifício: «Viva o Benfica». O miúdo não percebia de leis, pelos vistos. O miúdo não sabia que homens muito sábios, muito avisados e muito prudentes têm escrito milhares de palavras de ordem – e que essas palavras e essa ordem foram articuladas para serem rigorosamente cumpridas. O miúdo só sabia que tinha uma mensagem para dizer, umas palavras que eram a ordem das coisas e a própria expressão do seu mundo: «Viva o Benfica». E o miúdo escreveu-as. Em letras grandes, mal feitas, mas grandes e arrogantes. Limpou as mãos aos calções e ficou a espiar a sua obra. Faltava lá qualquer coisa. Tornou a pegar no carvão e escreveu: Manel. Responsável pela afirmação, o Manel não quis que ela ficasse anónima. A sua responsabilidade começou a partir daí. Um polícia aproximou-se lentamente. Viu tudo. E, como as leis são feitas para se cumprirem, agarrou num braço do Manel. O Manel, a princípio, ficou surpreendido e perplexo; depois, como ter medo é próprio dos homens, o medo apareceu-lhe em veios, por todo o corpo, para se exprimir, finalmente, em resistência e em lágrimas. Começou a juntar-se gente. Manel gritava e o polícia manifestava firmeza na mão e indiferença no olhar. Com razão ou sem ela, a verdade é que as pessoas que formavam roda penderam em simpatias e inclinações, para o miúdo-pardal-de-telhado que estava à beira de ser engaiolado. O polícia, certamente, começou a pensar que uma situação absoluta é horrível – concluindo, para os seus botões de metal, que «nem tanto ao mar nem tanto à terra», que é um belo aforismo, muito profundo e muito reverente. Afrouxou a pressão que fazia no braço do Manel. Afrouxou, também, a tensão que se estabelecera entre as pessoas que miravam a cena. Manel deu por isso tudo, com os seus olhitos espertos e traquinas. E correu. E escapou-se. Antes, porém, de virar a esquina, voltou- se para trás e gritou para o polícia: − Se calhar o sô guarda é do Sporting, não? Baptista-Bastos, Cidade Diária, Lisboa: Editorial Futura, 1972, p. 22.
  • 3. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 3 Leitura / Gramática 1. Para responder a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma afirmação correta. 1.1. O título do texto A. refere-se à assinatura do rapaz no documento da polícia. B. refere-se metaforicamente à expressão que o rapaz escreveu nas paredes de um edifício. C. refere-se à placa «É proibido afixar anúncios nesta propriedade». D. refere-se ao aforismo «nem tanto ao mar nem tanto à terra». 1.2. O primeiro parágrafo do texto A. utiliza diferentes registos de língua de uma forma irónica. B. apresenta um caso digno de queixa judicial. C. é um elogio aos apoiantes do futebol. D. apresenta aspas para realçar certas expressões. 1.3. A personagem que é protagonista A. é um miúdo adepto do Sporting. B. foi preso por um polícia. C. assinou o nome do polícia na parede do edifício. D. chorou quando foi agarrado pelo polícia. 1.4. O polícia A. era autoritário e frio. B. deixou o rapaz fugir deliberadamente. C. ficou surpreendido por o rapaz chorar. D. era do Sporting. 1.5. A expressão: «miúdo-pardal-de-telhado que estava à beira de ser engaiolado» (l. 18) significa que A. o miúdo gostava de andar nos telhados a apanhar pardais. B. o menino tinha muitos pardais presos na gaiola. C. o rapaz era um jovem inocente, mas irreverente que quase ia preso. D. o rapaz foi parar à prisão por ter cometido um crime. 2. Responde de forma correta aos itens apresentados. 2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «Faltava lá qualquer coisa» (ll. 9-10). 2.2. Classifica a oração sublinhada: «Responsável pela afirmação, o Manel não quis que ela ficasse anónima.» (ll. 10-11). 2.3. Na frase «Afrouxou a pressão que fazia no braço do Manel» (l. 21), transcreve e classifica a oração subordinada. GRUPO III Escrita «Os cartazes fazem parte do nosso quotidiano. Encontrámo-los por toda a parte.» Num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta um texto de opinião que pudesse integrar o jornal da tua escola sobre a necessidade ou não de restringir a colocação de cartazes a locais autorizados. Recorre a exemplos que conheças para fundamentares a tua opinião.
  • 4. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 4 GRUPO I A. Lê o seguinte poema e consulta as notas apresentadas. A dona que eu am’ e tenho por senhor amostrade-me-a, Deus, se vos en prazer for, se non dade-me a morte. A que tenh’ eu por lume1 d’estes olhos meus e por que choram sempre, amostrade-me-a, Deus, se non dade-me a morte. Essa que Vós fezestes melhor parecer2 de quantas sei, ai Deus, fazede-me-aveer, se non dade-me a morte. Ai Deus que me-a fezeste mais ca min amar3 , mostrade-me-a u possa com ela falar, se non dade-me a morte. Bernardo Bonaval, in Alexandre Pinheiro Torres, Antologia da Poesia Trovadoresca Galego-Portuguesa, Porto: Lello & Irmão, 1977, p. 96. 1 luz. 2 rosto. 3 Ai Deus que fizeste com que eu a amasse mais do que a mim próprio. Educação literária 1. Indica o assunto desta composição poética. 2. Caracteriza a «dona», apoiando-te em expressões do texto. 3. Identifica dois recursos expressivos e explica a sua expressividade. 4. Classifica a composição poética e insere-a no contexto literário onde se insere, justificando com expressões textuais. B. Lê o seguinte comentário. «As cantigas de amigo, essas dir-se-iam florescidas ao ar livre, frequentemente na contemplação de uma natureza amiga – amiga ao ponto de intervir, como intermediária ou confidente no drama lírico.» Hernâni Cidade, in Poesia Medieval, Lisboa: Seara Nova, 1972, p. 122. 5. Apoiando-te no teu conhecimento da lírica trovadoresca, caracteriza sumariamente os diferentes géneros de composições estudados. 6. Explicita os diferentes papéis desempenhados pela natureza na cantiga de amigo. Seleciona um exemplo ilustrativo. FICHA DE AVALIAÇÃO 1
  • 5. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 5 GRUPO II A História do Português 5 10 15 20 25 30 Contar a história do Português é mostrar as mudanças linguísticas que lhe foram dando forma. Que as línguas mudam, é uma evidência: as dificuldades que encontramos na leitura de textos medievais revelam-nos como o Português Antigo era diferente do que ouvimos, falamos e escrevemos atualmente. E embora a mudança linguística seja frequentemente vista como uma espécie de decadência por muitos falantes que resistem à inovação, assumindo uma atitude de defesa da ‘pureza’ da língua supostamente ameaçada, seja por um qualquer acordo ortográfico, por um novo dicionário ou pela influência das telenovelas, a verdade é que se o Português não tivesse sofrido mudanças ainda falaríamos como Afonso Henriques. No processo de mudança linguística interagem dois tipos de condicionalismos: um interno à própria língua (inerente ao sistema linguístico) e um externo (extralinguístico). Se a língua se organiza como um sistema dinâmico em permanente busca do equilíbrio, as suas estruturas poderão ser, elas próprias, causadoras de mudança. Oposições que não se revelem funcionais podem desaparecer, já que um princípio de economia tenderá a eliminar redundâncias, ou novas oposições podem ser criadas no sentido de preencher lacunas que um princípio de clareza necessária à comunicação tenderá a colmatar. Por outro lado, sendo a variação inerente à fala, uma ou mais variantes podem coexistir sem que haja mudança; mas esse estado de variação pode resolver-se se, dado um determinado conjunto de fatores condicionantes, linguísticos e/ou extralinguísticos, uma das alternativas se impuser. Circunstâncias históricas, mudanças sociais ou políticas podem também condicionar a mudança linguística. Uma causa externa de mudança linguística é, por exemplo, a fragmentação política: a formação de reinos na Península Ibérica – e a criação de fronteiras políticas – contribuiu grandemente para a constituição de fronteiras linguísticas e, portanto, para a fragmentação dialetal do Latim Hispânico, de que resultaram as várias línguas ibéricas. (…) Se as circunstâncias históricas, sociais e culturais mudam – em algumas épocas paulatinamente, em outras quase abruptamente – as necessidades expressivas dos falantes também se modificarão. E a língua (melhor: uma determinada gramática da língua) pode deixar de servir as necessidades dos seus utentes. Envelhece, portanto. Envelhecer, no caso da língua, não conduz à morte mas à mudança. Cada nova fase da língua consiste não só na inovação, mas essencialmente na seleção de variantes que já existem na língua. Aceites por um determinado grupo socialmente prestigiado, as variantes selecionadas serão generalizadas a toda a comunidade. Constitui-se, assim, um novo estádio de evolução da língua, cuja ‘estabilidade’ sofrerá novos e perpétuos sobressaltos. Mas porque a língua procura esses patamares de estabilidade, o resultado de cada mudança linguística será sempre tendencialmente a constituição de uma norma, de um sistema organizado que, fatalmente, se tornará arcaico quando uma nova norma se afirmar. Esperança Cardeira, in O Essencial sobre a História do Português, Lisboa: Caminho, 2006, pp. 13-15. Leitura / Gramática 1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma afirmação correta. 1.1. A história do português A. mudou a partir da idade média e do português antigo. B. é curta e a língua recentemente foi ameaçada por um novo acordo ortográfico. C. fica registada nos dicionários e é marcada pela influência das telenovelas. D. é feita de mudanças que se foram realizando ao longo dos tempos.
  • 6. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 6 1.2. A língua muda A. porque sofre diversas influências do exterior. B. por fatores internos e externos. C. porque os falantes não falam corretamente. D. por influência política. 1.3. As circunstâncias históricas, sociais e culturais A. modificam-se constantemente e originam a fragmentação política. B. podem melhorar a mudança linguística. C. dão origem a novas necessidades dos falantes. D. provocam mudanças lentas e paulatinas. 1.4. A língua A. envelhece e vai morrendo. B. envelhece mas renova-se. C. morre abruptamente. D. envelhece e deteriora-se. 1.5. A frase: «Constitui-se, assim, um novo estádio de evolução da língua, cuja ‘estabilidade’ sofrerá novos e perpétuos sobressaltos.» (ll. 30-32) significa que A. as mudanças linguísticas são cíclicas e ininterruptas. B. a estabilidade da língua só existe no estádio inicial. C. o latim foi substituído pelo português. D. a língua tem de ultrapassar constantes perturbações antes de morrer. 2. Responde de forma correta aos itens apresentados. 2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «E embora a mudança linguística seja frequentemente vista como uma espécie de decadência por muitos falantes» (ll. 4-5). 2.2. Classifica a oração sublinhada: «Contar a história do Português é mostrar as mudanças linguísticas que lhe foram dando forma.» (l. 1). 2.3. Divide e classifica as orações da frase: «Se as circunstâncias históricas, sociais e culturais mudam – em algumas épocas paulatinamente, em outras quase abruptamente – as necessidades expressivas dos falantes também se modificarão» (ll. 24-26). GRUPO III Escrita «A língua muda porque mudaram as necessidades expressivas dos falantes, mas não pode mudar tanto que a comunicação fique afetada. Em última análise, a língua muda porque é um sistema em perpétua adaptação às necessidades das comunidades que a utilizam e essas necessidades também mudam.» Esperança Cardeira, in O Essencial sobre a História do Português, Lisboa: Caminho, 2006, p.15. Num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta uma exposição que responda à pergunta: Por que razão muda a língua? Recorre à tua experiência pessoal
  • 7. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 7 para fundamentares a tua opinião.
  • 8. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 8 GRUPO I A. Lê o seguinte texto e consulta as notas apresentadas. 5 10 15 20 Toda a cidade era dada a nojo1 , chea de mezquinhas2 querelas3 , sem neuũ prazer que i houvesse: uũs com gram mingua do que padeciam; outros havendo doo4 dos atribulados; e isto nom sem razom, ca se é triste e mezquinho o coraçom cuidoso5 nas cousas contrairas que lhe aviinr6 podem, veede que fariam aqueles que as continuadamente tam presentes tiinham? Pero7 com todo esto, quando repicavom, neuũ nom mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus ẽmigos. Esforçavom-se uũs por consolar os outros, por dar remedio a seu grande nojo, mas nom prestava conforto de palavras, nem podia tal door seer amansada com neũas doces razões; e assi como é natural cousa a mão ir ameúde onde see8 a door, assi uũs homẽes falando com outros, nom podiam em al9 departir10 senom em na mingua que cada uũ padecia. (…) Os padres e madres viiam estalar de fame os filhos que muito amavom, rompiam as faces e peitos sobr’eles, nom tendo com que lhe acorrer, senom planto e espargimento de lagrimas; e sobre todo isto, medo grande da cruel vingança que entendiam que el-Rei de Castela deles havia de tomar; assi que eles padeciam duas grandes guerras, ũa dos ẽmigos que os cercados tinham, e outra dos mantimentos que lhes minguavom, de guisa que eram postos em cuidado de se defender da morte per duas guisas. (…) Onde sabeeque esta fame e falecimento que as gentes assi padeciam, nom era por seer o cerco perlongado, ca nom havia tanto tempo que Lixboa era cercada; mas era per aazo das muitas gentes que se a ela colherom de todo o termo; e isso mesmo da frota do Porto quando veo, e os mantimentos serem muito poucos. Ora esguardae como se fossees presente, ũa tal cidade assi desconfortada e sem neũa certa feúza de seu livramento, como veviriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de taes aflições? Ó geeraçom que depois veo, poboo bem aventuirado, que nom soube parte de tantos males, nem foi quinhoeiro de taes padecimentos! Teresa Amado, Crónica de D. João I de Fernão Lopes, Capítulo CXLVIII, Lisboa: Seara Nova/Comunicação, 1980, pp. 197-198. 1 tristeza. 2 tristes. 3 queixas. 4 pena, dó. 5 preocupado. 6 acontecer. 7 todavia. 8 todavia. 9 outra coisa. 10 falar. Educação literária 1. Indica o tema do texto, justificando com expressões do texto. 2. Explicita duas características épicas presentes no texto e justifica com uma expressão do texto. 3. Seleciona dois recursos expressivos e explica a sua expressividade. B. Lê o seguinte poema. Consulta as notas apresentadas. FICHA DE AVALIAÇÃO 2
  • 9. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 9 Vi eu, mha madre, andar as barcas eno mar, e moiro-me d'amor. Foi eu, madre, veer as barcas eno lez1 , e moiro-me d'amor. As barcas [e]no mar e foi2 -las [a]guardar, e moiro-me d'amor. As barcas eno ler e foi-las atender3 , e moiro-me d'amor. E foi-las aguardar e non'o pud' achar, e moiro-me d'amor. E foi-las atender e non'o pud'i veer, e moiro-me d'amor. E non'o achei i, [o] que por meu mal vi, e moiro-me d'amor. Nuno Fernandes Torneol, http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=666&pv=sim (consultado a 21.10.2014) 1 lezíria. 2 fui. 3 esperar. 4. Indica o assunto desta composição poética e justifica com uma expressão textual. 5. Classifica o poema e enquadra-o na época literária onde se insere, apoiando-te em expressões selecionadas.
  • 10. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 10 Grupo II Amor e poder 5 10 15 20 Um dia, ainda no tempo das disquetes e das realidades pouco virtuais, um vírus entrou no computador de Dulce Maria Cardoso e apagou-lhe todos os ficheiros, incluindo várias versões de um romance. Ficou em choque. E sem saber o que fazer. Chegou até a dar como perdida a história que a ocupou durante muitos meses, mas no fim não baixou os braços. Armou-se de um arsenal de comida. Protegeu-se com uma retaguarda de familiares e amigos. E fechou-se em casa para reconstituir o que ainda estava vivo na sua memória. Surgia então Os Meus Sentimentos, o seu segundo romance, e um radical método criativo de trabalho. Os contos de Tudo são Histórias de Amor, a sua segunda coletânea, depois de Até Nós, também são resultado desse trabalho de recordação e depuração. Para Dulce Maria Cardoso, escrever é, numa primeira fase, um ato de descoberta. Mas depois, quando apaga o que escreveu («sem hipótese de o recuperar, pois de outra forma não funciona», garante), torna-se um meio de iluminar o essencial, uma revelação. É entre esses dois polos que se tem afirmado a sua voz, uma das mais singulares da Literatura em Língua Portuguesa: transfigurando a sua experiência pessoal, como em O Retorno, ou esticando os limites da prosa, como em Os Meus Sentimentos. Em Tudo são Histórias de Amor, que reúne textos publicados em jornais (incluindo a sua autobiografia no JL) e em pequenas edições, descobre-se uma escritora comprometida com o seu tempo e com a sociedade em que vive. A sua literatura será sempre um exercício ético. (…) Com O Retorno Dulce Maria Cardoso teve o reconhecimento (do público e da crítica) que há muito merecia. Formada em Direito, pela Universidade de Lisboa, estreou-se na ficção em 2002, com Campo de Sangue, que recebeu o Grande Prémio Acontece de Romance. Era já então uma autora plena, de prosa segura e narração intensa. Seguiram-se Os Meus Sentimentos (Prémio União Europeia para a Literatura), e Chão de Pardais (Prémio Pen Club), que se encarregaram de revelar uma escritora em constante fuga da sua «zona de conforto», imagem que estes contos reforçam. Não gosta de se repetir, nem tem medo de se reinventar. Isabel Mateus, in Jornal de Letras, 19 de março – 1 de abril 2014, p. 7. Leitura / Gramática 1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma afirmação correta. 1.1. Dulce Maria Cardoso A. escreveu um romance e vários contos. B. é uma escritora atual reconhecida pela crítica literária. C. começou a escrever devido a um problema que teve no computador. D. perdeu um romance completo que tinha escrito devido a um vírus informático. 1.2. O primeiro período do texto A. refere-se a um passado remoto. B. refere-se à antiguidade clássica . C. refere-se a um passado recente.
  • 11. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 11 D. refere-se à época medieval .
  • 12. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 12 1.3. Com as expressões «mas no fim não baixou os braços» (l. 4) e «Armou-se de um arsenal de comida» (l. 4) pretende dizer-se que A. a escritora saiu de casa e foi às compras. B. a autora escreveu uma história sobre guerra . C. a escritora não desistiu e isolou-se. D. a comida que armazenou ficou intacta. 1.4. A obra que deu a esta escritora o reconhecimento da crítica e do público foi A. Os Meus Sentimentos. B. Tudo são Histórias de Amor. C. O Retorno. D. Campo de Sangue. 1.5. A frase: «descobre-se uma escritora comprometida com o seu tempo e com a sociedade em que vive.» (ll. 16-17) significa que A. Dulce Maria Cardoso revela, na sua obra, uma preocupação de intervenção social. B. Dulce Maria Cardoso denuncia comportamentos éticos na sociedade atual. C. Dulce Maria Cardoso elogia a sociedade contemporânea. D. Dulce Maria Cardoso enaltece o seu tempo e a sociedade em que vive. 2. Responde de forma correta aos itens apresentados. 2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «apagou-lhe todos os ficheiros» (l. 2). 2.2. Classifica a oração sublinhada: «Chegou até a dar como perdida a história que a ocupou durante muitos meses, mas no fim não baixou os braços.» (ll. 3-4) 2.3. Classifica a oração: «que se encarregaram de revelar uma escritora em constante fuga da sua “zona de conforto”» (ll. 22-23). GRUPO III Escrita Muitos escritores, através da sua obra, denunciam problemas sociais ou mostram comportamentos modelares, promovendo a justiça ou a moralização da sociedade onde vivem. Num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta uma exposição sobre «o exercício ético da literatura». Recorre à tua experiência pessoal de leitura para fundamentares a tua opinião.
  • 13. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 13 GRUPO I A. Lê o seguinte texto. ESCUDEIRO Antes que mais, diga agora, Deus vos salve, fresca rosa, e vos dê por minha esposa, por mulher e por senhora. 5 Que bem vejo nesse ar, nesse despejo, mui graciosa donzela, que vós sois, minha alma, aquela que eu busco e que desejo. 10 Obrou bem a Natureza em vos dar tal condição que amais a discrição muito mais que a riqueza. Bem parece 15 que a discrição merece gozar vossa fermosura, que é tal que, de ventura, outra tal não se acontece. Senhora, eu me contento 20 receber-vos como estais: se vós vos não contentais, o vosso contentamento pode falecer: no mais. LATÃO Como fala! 25 VIDAL E ela como se cala! Tem atento o ouvido… Este há-de ser seu marido, segundo a coisa s’abala. Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira. Educação literária 1. Seleciona, na fala do Escudeiro, marcas de um discurso sedutor e elogioso que caracterizam a personagem, introduzindo expressões comprovativas. 2. Explicita a função as personagens Latão e Vidal na peça. 3. Identifica dois recursos expressivos e explica a sua expressividade. FICHA DE AVALIAÇÃO 3
  • 14. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 14 B. Lê o seguinte texto e consulta as notas apresentadas. Danúbio 5 10 15 O Danúbio surge com frequência envolvido num halo1 simbólico antialemão, é o rio ao longo do qual se encontram, se cruzam e se misturam gentes diversas, em vez de ser, como o Reno, um mítico anjo tutelar da pureza da estirpe. É o rio de Viena2 , de Bratislava3 , de Budapeste4 , de Belgrado5 , da Dácia6 , a faixa que atravessa e cinge, como o Oceano cingia o mundo grego, a Áustria dos Habsburgos, da qual o mito e a ideologia fizeram o símbolo de uma koinè7 múltipla e supranacional, o império cujo soberano se dirigia «aos meus povos» e cujo hino era cantado em onze línguas diferentes. O Danúbio é a Mitteleuropa alemano-magiar-eslovo-românico-judaica, polemicamente contraposta ao Reich germânico, uma ecúmena8 «hinternacional», como a celebrava em Praga Johannes Urzidil, um mundo «anterior às nações». A versão Danúbio-Aach parece em contrapartida o símbolo dessa ideologia gesamtdeutsch, total-alemã, que via na monarquia plurinacional dos Habsburgos um braço da civilização teutónica9 , uma astúcia ou um instrumento da Razão destinando-se a germanizar culturalmente a Europa Centro-Oriental, como afirmava por exemplo Heinrich von Srbik, o grande historiador austríaco que exaltava Eugénio de Sabóia, detestava Frederico II e o prussianismo, tendo acabado nacional- socialista. A Mitteleuropa «hinternacional», hoje idealizada como uma harmonia de povos diferentes, foi por certo uma realidade do Império dos Habsburgos, na sua última fase, uma tolerante convivência compreensivelmente chorada depois do seu fim, até pela comparação com a barbárie totalitária que lhe sucedeu, entre as duas guerras mundiais, no espaço danubiano. Claudio Magris, Danúbio, Lisboa: Quetzal, 2010, pp. 32-33. 1 círculo luminoso. 2 capital da Áustria. 3 capital da Eslováquia. 4 capital da Hungria. 5 capital da Sérvia. 6 cidade romena. 7 palavra de origem grega que significa: língua comum que se difunde num determinado território. 8 terra habitada pelo homem. 9 germânica. 4. Este texto é um excerto de um dos grandes romances europeus do nosso tempo que, pertencendo à literatura de viagens, explora e disserta sobre a cultura centro-europeia, a Mitteleuropa. Infere o simbolismo atribuído ao rio Danúbio dentro deste universo de referência. 5. Neste romance escrito durante o período do alargamento da União Europeia, no início dos anos oitenta do século XX, o narrador realiza uma viagem através do Danúbio. Explicita de que modo a questão do federalismo europeu se traduz no texto.
  • 15. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 15 GRUPO II O lado certo da língua 5 10 15 20 Estava eu com um colega numa loja de discos em segunda mão, em Salvador da Bahia, quando a funcionária, reparando na nossa pinta de estrangeiros, perguntou naturalmente: «De onde vocês são?». Respondemos que éramos de Portugal, ao que ela retorquiu, com menos espanto do que o nosso: «Mas falam português muito bem!». Aceitámos o cumprimento. (…) Por cá, caem-se nos excessos contrários. Ainda no outro dia ouvi dizer: «Hoje as crianças estão menos habituadas à língua brasileira, por causa das telenovelas portuguesas». É tão disparatado quanto dizer que as crianças estão menos habituadas ao açoriano porque nunca mais se fez uma série do género Xailes Negros. O brasileiro não existe, tão pouco o açoriano. Só em Portugal se ouve dizer que os brasileiros falam brasileiro. Os brasileiros sabem bem que falam português. Temos a mania de que vivemos do lado certo da língua. Como se a ‘paternidade’ implicasse posse. E como se a nossa fala de hoje se aproximasse da de Dom Diniz. (…) As línguas são organismos vivos em constante mutação. E este oceano que nos separa ajudou a que as duas variantes acentuassem as suas diferenças, chegando, em alguns casos, a um ponto próximo da incomunicabilidade. Mas a língua é a mesma, claro que sim. Ainda que alguns se esforcem por criar clivagens. Eu, por mim, parafraseando a frase que Caetano aplica a Luís de Camões, gosto de sentir a minha língua roçar na língua de Machado de Assis. Acho graça às expressões, ao gosto de brincar com as palavras, do zagueiro e do escanteio, da torcida. Não vale a pena procurar chifre em cabeça de cavalo, nem cutucar a onça com vara curta. Na diversidade é que está a riqueza. E é um privilégio partilhar a língua com outros povos, trocar seis por meia dúzia e descascar o abacaxi, antes de ser hora de abotoar o paletó. Manuel Halpern, in Jornal de Letras, 25 de junho a 8 de julho 2014, p. 31. Leitura / Gramática 1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma afirmação correta. 1.1. O título do texto A. recupera uma ideia que o texto pretende demonstrar. B. recupera uma ideia que o narrador gostaria de provar. C. recupera uma ideia errada que alguns falantes têm. D. recupera uma frase do texto que o sintetiza. 1.2. O episódio narrado no início do texto A. demonstra a arrogância de algumas pessoas. B. revela o desconhecimento do nosso país além-mar. C. demonstra que os brasileiros não sabem que falam português. D. revela as diferenças entre o português europeu e o do Brasil. 1.3. O autor do texto refere-se às telenovelas brasileiras e à série Xailes Negros A. para demonstrar que não faz sentido falar-se de brasileiro ou de açoriano.
  • 16. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 16 B. para promover a produção nacional. C. para realçar a importância das telenovelas portuguesas. D. para valorizar os Açores.
  • 17. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 17 1.4. A frase: «E este oceano que nos separa ajudou a que as duas variantes acentuassem as suas diferenças, chegando, em alguns casos, a um ponto próximo da incomunicabilidade.» (ll. 12-14) significa que A. há um oceano de diferenças no português falado no Brasil ou nos Açores. B. os portugueses e os brasileiros não se entendem. C. é impossível comunicar para além do oceano. D. no Brasil ou em Portugal fala-se português, embora haja diferenças entre as duas variedades que dificultam a comunicação. 1.5. «Parafrasear» no texto significa A. dizer em voz alta. B. escrever sem erros ortográficos. C. citar livremente. D. comentar criticamente. 2. Responde de forma correta aos itens apresentados. 2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «As línguas são organismos vivos» (ll. 11-12). 2.2. Classifica a oração sublinhada: «Os brasileiros sabem bem que falam português. (l. 9). 2.3. Na frase «Eu, por mim, parafraseando a frase que Caetano aplica a Luís de Camões, gosto de sentir a minha língua roçar na língua de Machado de Assis.» (ll. 15-16) indica a função sintática da oração sublinhada. GRUPO III Escrita Num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta uma exposição sobre o «privilégio de partilhar a língua com outros povos». Recorre às tuas vivências enquanto falante de uma língua espalhada pelos vários continentes.
  • 18. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 18 GRUPO I A. Lê o seguinte poema. Enquanto quis Fortuna que tivesse esperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse. Porém, temendo Amor que aviso desse minha escritura a algum juízo isento, escureceu-me o engenho co tormento, para que seus enganos não dissesse. Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdes num breve livro casos tão diversos, verdades puras são, e não defeitos… E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos! Luís de Camões, Lírica Completa – II, Lisboa: IN-CM, 1994, p. 25. Educação literária 1. Seleciona, no poema, marcas da presença do sujeito poético e da sua evolução psicológica, justificando com elementos do texto. 2. Caracteriza a relação que se estabelece no poema entre o sujeito e a Fortuna e o Amor. Seleciona expressões comprovativas. 3. Atenta nos vocábulos maiúsculados e explicita o seu efeito estilístico. 4. Explicita o caráter apelativo do poema, fundamentando com expressões comprovativas. B. Lê o seguinte poema. mote: Descalça vai pera a fonte Leanor, pela verdura; vai formosa e não segura. voltas: Leva na cabeça o pote, o testo nas mãos de prata, cinta de fina escarlata, saínho de chamalote; traz a vasquinha de cote, mais branca que a neve pura; vai fermosa, e não segura. FICHA DE AVALIAÇÃO 4
  • 20. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 20 Descobre a touca a garganta, cabelos d’ ouro o trançado, fita de cor de encarnado… Tão linda que o mundo espanta! Chove nela graça tanta que dá graça a fermosura; vai fermosa, e não segura. Luís de Camões, Lírica Completa – II, Lisboa: IN-CM, 1994, p. 83. 5. Indica a função dos elementos do texto que podem ser representados como cenário. 6. Caracteriza a figura feminina e verifica o seu relevo no texto. 7. Explicita a variedade de cores sugerida no poema e justifica com expressões textuais GRUPO II Regresso O visitante ocidental que pela primeira vez chega a Goa e Cochim enfrentará provavelmente a vertigem do caos à sua volta e dentro de si. Quando começa a familiarizar-se com a estonteante exuberância e com as contradições coexistentes, quando julga começar a entender a complexidade das castas, dos cultos e costumes tão diferentes, quando começa a fixar nomes, imagens, atributos dos deuses, tudo lhe foge de súbito, tudo se torna de novo confuso, como se o véu de Maia voltasse a cobrir a indecifrável irrealidade da Índia real. Quem regressa de uma terra tão diversa traz fragmentos de caras, casas, ruas, cheiros, quartos, uma carga de imagens que, na alfândega-roleta do lembrar e esquecer, deveria pagar excesso de bagagem. Vim carregado de cores e de cansaço mas inteiro e em estado razoável, bem melhor dos que outrora, contentes por regressarem, contavam Lá vos digo que há fadigas tantas mortes, tantas brigas e perigos descompassados que assim vimos destroçados pelados como formigas. Vim ainda carregado de algo mais: um outro modo de olhar, a certeza de não pertencer àquele tipo de viajante que não fala do que vê, mas do que imagina ou deseja ver. Trouxe comigo um bloco confusamente escrevinhado, uma curiosidade acrescentada, uma crescente descrença na elegância da descrença. E tornei-me mais atento à infindável memória do mundo, mais capaz de escutar o incansável murmúrio do mundo. Almeida Faria, O Murmúrio do Mundo: A Índia revisitada, Lisboa: Tinta-da-China., 2012, pp. 142-143. Leitura / Gramática 1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma afirmação correta. 1.1. O texto evidencia marcas de género específicas A. características do relato de viagem. B. próprias de uma apreciação crítica.
  • 21. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 21 C. características de uma exposição sobre um tema. D. próprias do artigo de divulgação científica.
  • 22. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 22 1.2. O texto apresenta A. explicitação das fontes. B. um discurso pessoal com prevalência da primeira pessoa. C. uma descrição objetiva de um objeto, acompanhada de comentário crítico. D. um discurso pessoal com prevalência da 3.ª pessoa. 1.3. O texto tem como tema A. a partida para uma viagem a Goa e a Cochim. B. as peripécias de uma viagem à Índia. C. as aventuras de um português na Índia. D. o regresso de uma viagem ao Oriente. 1.4. Os itálicos presentes no texto A. assinalam citações de autor. B. são formas de destaque de expressões conhecidas. C. assinalam frases em sentido subjetivo. D. realçam comentários do narrador. 1.5. A frase: «Quem regressa de uma terra tão diversa traz fragmentos de caras, casas, ruas, cheiros, quartos, uma carga de imagens que, na alfândega-roleta do lembrar e esquecer, deveria pagar excesso de bagagem.» (ll. 7-9) significa que A. quem regressa de uma viagem, traz sempre muita bagagem e tem de pagar o excesso. B. quem regressa de uma viagem ao Oriente, traz sempre memórias inesquecíveis. C. quem regressa de uma viagem enriquecedora deveria pagar excesso de bagagem e imposto à entrada no país de origem. D. quem regressa de um país fora da União Europeia, ao entrar em Portugal, tem de declarar os produtos que adquiriu. 2. Responde de forma correta aos itens apresentados. 2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «Quando começa a familiarizar-se com a estonteante exuberância» (ll. 2-3). 2.2. Classifica a oração sublinhada e indica a sua função sintática: «Quem regressa de uma terra tão diversa traz fragmentos de caras» (l. 7). 2.3. Na frase «O visitante ocidental que pela primeira vez chega a Goa e Cochim enfrentará provavelmente a vertigem do caos à sua volta e dentro de si.» (ll. 1-2), divide e classifica as orações. GRUPO III Escrita «O mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa apenas leem uma página.» Agostinho de Hipona. Tendo em conta o comentário apresentado, num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta uma exposição sobre as experiências e aprendizagens que as
  • 23. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 23 viagens possibilitam.
  • 24. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 24 GRUPO I A. Lê as seguintes estâncias do Canto VII de Os Lusíadas. Consulta as notas apresentadas. 81 E ainda, Ninfas minhas, não bastava Que tamanhas misérias me cercassem, Senão que aqueles que eu cantando andava Tal prémio de meus versos me tornassem1 : A troco dos descansos que esperava, Das capelas2 de louro que me honrassem, Trabalhos nunca usados me inventaram, Com que em tão duro estado me deitaram. 82 Vede, Ninfas, que engenhos de senhores3 O vosso Tejo cria valerosos, Que assi sabem prezar, com tais favores, A quem os faz, cantando, gloriosos! Que exemplos a futuros escritores, Pera espertar engenhos curiosos, Pera porem as cousas em memória Que merecerem ter eterna glória! 83 Pois logo, em tantos males, é forçado Que só vosso favor me não faleça, Principalmente aqui, que sou chegado Onde feitos diversos engrandeça: Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado Que não o empregue em quem o não mereça, Nem por lisonja louve algum subido, Sob pena de não ser agradecido. Luís de Camões, Os Lusíadas, Ministério da Educação, 1989, p. 319. 1 dessem. 2 coroas destinadas a glorificar os poetas. 3 grandes senhores de Portugal. Educação literária 1. Explicita os sentimentos expressos pelo sujeito nesta passagem e justifica recorrendo a elementos do texto. 2. Identifica o destinatário do apelo do sujeito e enquadra-o no contexto literário de Camões épico. 3. Indica um recurso expressivo e explica a sua expressividade. FICHA DE AVALIAÇÃO 5
  • 25. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 25 B. Lê o seguinte poema. Que me quereis, perpétuas saudades? Com que esperança ainda me enganais? Que o tempo que se vai não torna mais e, se torna, não tornam as idades. Razão é já, ó anos, que vos vades, porque estes tão ligeiros que passais, nem todos para um gosto são iguais, nem sempre são conformes as vontades. Aquilo a que já quis é tão mudado que, quase é outra cousa; porque os dias têm o primeiro gosto já danado. Esperanças de novas alegrias não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado, que do contentamento são espias. Luís de Camões, Lírica Completa – II, Lisboa: IN-CM, 1994, p. 220. 4. Identifica o tema do poema, justificando com expressões selecionadas. 5. Refere, exemplificando, dois recursos expressivos que transmitam a expressividade da dor do sujeito poético. GRUPO II Três personagens em trânsito 5 10 15 O que perturba nas peças de Edward Albee (1928) é a sensação de que quando o pano sobe as personagens já ali estavam antes do público chegar e que depois do pano cair vão continuar a usar o palco na sua demanda pelo significado da existência. Aos espectadores é servida uma parte da «vida» das personagens e da sua luta implacável para apreenderem o sentido da realidade. De facto, com ele as personagens são apanhadas em trânsito pela vida, caminhando inevitavelmente para a morte com menor ou maior consciência. Albee, que filosoficamente podia dizer-se existencialista, transforma a viagem num jogo onde se correm sérios riscos de sucumbir ao vazio que se instala quando se abdica da individualidade pela alienação, qualquer que seja a forma que esta tome. Três mulheres em trânsito, peça escrita em 1991, espelha com clareza as preocupações temáticas do autor e afirma o teatro como fórmula suprema para tentar aprofundar o jogo da vida através do jogo no palco. Por um toque de mestria de escrita, as situações e as personagens adquirem substancia psicofísica mais concreta, diria mais real, do que as que nos são dadas a viver e a conhecer na própria vida real. Com efeito, A, B, e C, as personagens assim nomeadas para que se não lhes possa atribuir qualquer individualidade pré-adquirida, confrontam-se e confrontam-nos com a inexorável passagem do tempo, a decadência e o pânico da morte certa, num jogo impiedoso de autoanálise e dos efeitos bloqueadores das convenções sociais na liberdade individual. Helena Simões, in Jornal de Letras, 25 de junho a 8 de julho de 2014, p. 22. Leitura / Gramática 1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma
  • 26. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 26 afirmação correta. 1.1. O texto apresenta marcas de género específicas
  • 27. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 27 A. características do relato de viagem. B. próprias de uma apreciação crítica. C. características de uma exposição sobre um tema. D. próprias do artigo de divulgação científica. 1.2. O texto apresenta A. explicitação das fontes. B. um discurso pessoal com prevalência da primeira pessoa. C. uma descrição objetiva de um objeto, acompanhada de comentário crítico. D. um discurso pessoal com prevalência da terceira pessoa. 1.3. O texto apresenta comentários A. críticos depreciativos do espetáculo. B. críticos elogiosos da peça de teatro em análise. C. pouco fundamentados da qualidade do espetáculo. D. pejorativos relativamente ao autor da peça. 1.4. Os itálicos presentes no texto A. assinalam o título da peça de teatro. B. são formas de destaque de expressões conhecidas. C. assinalam frases em sentido subjetivo. D. realçam comentários do narrador. 1.5. A palavra «vida» (l. 4) surge entre aspas A. uma vez que está usada em sentido literal. B. porque é utilizada em sentido figurado. C. uma vez que é o antónimo de «morte». D. porque a frase é agramatical. 2. Responde de forma correta aos itens apresentados. 2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «Três mulheres em trânsito, peça escrita em 1991, espelha com clareza as preocupações temáticas do autor» (ll. 9-10). 2.2. Classifica a oração sublinhada e indica a sua função sintática: «Albee, que filosoficamente podia dizer- se existencialista, transforma a viagem num jogo» (ll. 6-7). 2.3. Na frase «Albee, que filosoficamente podia dizer-se existencialista, transforma a viagem num jogo onde se correm sérios riscos de sucumbir ao vazio que se instala quando se abdica da individualidade pela alienação, qualquer que seja a forma que esta tome.» (ll. 6-8), classifica as duas orações sublinhadas. GRUPO III Escrita «As palavras, como os seres vivos, nascem de vocábulos anteriores, desenvolvem-se e fatalmente morrem. As mais afortunadas reproduzem-se. Há-as de índole agreste, cuja simples presença fere e degrada, e outras que de tão amoráveis tudo à sua volta suavizam. Estas iluminam, aquelas confundem.» José Eduardo Agualusa, Milagrário Pessoal, Lisboa: Dom Quixote, 2010, p. 15. Tendo em conta o comentário apresentado, num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um
  • 28. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 28 máximo de 150 palavras, apresenta uma exposição sobre o poder das palavras nas relações interpessoais. GRUPO I A. Lê o seguinte texto. Consulta as notas apresentadas. 5 10 15 20 25 30 35 40 Como se sabe, no tempo do rei D. João III foi o Brasil dividido em capitanias1 , cada uma concedida a um donatário2 . A de Pernambuco, uma das que primeiro se povoaram e que logo alcançou grande importância, coube a um fidalgo de reto3 espírito, nobre, perseverante, trabalhador, que tinha por nome Duarte Coelho. Parece que dispunha de consideráveis recursos e é de supor que esses seus haveres fossem o resultado de trabalhos longos que passou em África e no Oriente. Alcançada a mercê4 real, transferiu-se logo para o Brasil, acompanhado de muitos dos seus parentes. Sob a sua hábil administração, a capitania prosperou. Passados alguns anos, resolveu vir até à metrópole, a fim de angariar colonos novos e contratar industriais competentes com que pudesse desenvolver a sua empresa. Confiou a um seu cunhado, Jerónimo de Albuquerque, o governo da capitania, e embarcou acompanhado de seus filhos: Duarte Coelho de Albuquerque e Jorge de Albuquerque Coelho, que tivera de sua mulher, Dona Brites de Albuquerque. Na metrópole veio a falecer Duarte Coelho em 1554; e, já no tempo em que a rainha Dona Catarina, avó do rei D. Sebastião, governava Portugal durante a menoridade do seu neto, chegou nova do Brasil, e especialmente de Pernambuco, de que a maior parte das tribos indígenas se levantara ali contra os Portugueses, pondo cerco aos principais lugares daquela colónia de Pernambuco. Ordenou pois Dona Catarina que Duarte de Albuquerque Coelho, herdeiro da capitania, a fosse sem demora socorrer; e, entendendo ele que lhe seria utilíssima a companhia e ajuda de seu irmão, Jorge de Albuquerque Coelho, suplicou à rainha-regente que lhe desse ordem de o acompanhar; e assim ela fez. Chegou em 1560 a Pernambuco, não contando mais de vinte anos de idade; e, havendo chamado a conselho alguns padres da Companhia de Jesus e várias personagens entre as principais da terra, assentou-se entre todos, ponderado o lance, que se elegesse por chefe militar da capitania a Jorge de Albuquerque Coelho, o qual, como lhe disseram que cumpria ao bem público o aceitar ele e servir tal cargo, o aceitou, e se aventurou, e se esforçou muitíssimo, correndo risco de perder a vida no zeloso5 cumprimento dos seus deveres. Começou o ataque aos inimigos naquele mesmo ano de 1560, com tropa de soldados e de criados seus, que alimentava vestia e calçava à sua custa. Prosseguiu nas operações de guerra através de montes e de desertos, durante Verões e durante Invernos, de noite e de dia, passando grandíssimos trabalhos, sendo ele e os seus soldados feridos pelo gentio muitas vezes, e combatendo a pé e a cavalo. Frequentemente, não tinham mais para comer do que os caranguejos do mato que encontravam, cozinhados de farinha-de-pau e fruta selvagem daqueles campos. Quando acampavam, faziam os escravos choupanas6 de palma, em que se agasalhava toda a tropa. Com estes cuidados que sempre tinha e com as boas palavras que lhes dizia, consolava e contentava a sua gente. Entrada uma aldeia dos inimigos, corria logo sobre a mais próxima e a tomava assim com facilidade, por não terem tempo de se fazerem prestes7 . Com esta diligência e brevidade pacificou em cinco anos a capitania. Quando chegara, não ousavam os moradores da vila de Olinda sair mais que duas léguas pela terra dentro, e ao longo da costa, três ou quatro; ao fim daquele tempo, podiam ir até vinte pelo interior, e sessenta léguas ao longo da costa, − as que tinha a capitania no seu âmbito. 1 designação das primeiras divisões administrativas do Brasil. 2 aquele que recebia um terreno para povoar, explorar e administrar. 3 honesto, correto. 4 benefício. 5 cuidadoso. 6 casebres. FICHA DE AVALIAÇÃO 6
  • 29. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 29 7 preparados.
  • 30. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 30 Então, deixando essa colónia conquistada, e os indígenas quietos e pacíficos com pedirem paz que lhes outorgaram8 , embarcou para a metrópole na nau «Santo António», na qual viagem se deram os casos que nesta narrativa se contêm. História Trágico-Marítima. Narrativa de Naufrágios da Época das Conquistas, V. Adaptação de António Sérgio, Lisboa: Sá da Costa, 2008 [«As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)», pp. 177-181.] 8 concederam. Educação literária 1. Explicita os três momentos principais em que o texto se organiza. 2. Indica duas características do texto que fazem dele um preâmbulo de outra narrativa. Justifica com expressões do texto. 3. Explica o sentido da frase: «Chegou em 1560 a Pernambuco, não contando mais de vinte anos de idade; e, havendo chamado a conselho alguns padres da Companhia de Jesus e várias personagens entre as principais da terra, assentou-se entre todos, ponderado o lance, que se elegesse por chefe militar da capitania a Jorge de Albuquerque Coelho». (ll. 21-24) B. Lê o seguinte poema. mote: Vi chorar uns claros olhos quando deles me partia. Oh que mágoa, oh que alegria! voltas: Polo meu apartamento se arrasaram todos d’ água. Quem cuidou que em tanta mágoa achasse contentamento? Julgue todo entendimento qual mais sentir se devia: se esta dor, se esta alegria. Quando mais perdido estive, então deu a esta alma minha, na maior mágoa que tinha, o maior gosto que tive. Assi, se minh’ alma vive, foi porque me defendia desta dor esta alegria. O bem que Amor me não deu no tempo que o desejei, quando dele me apartei, me confessou que era meu. Agora que farei eu, se a fortuna me desvia de lograr esta alegria?
  • 31. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 31 Não sei se fui enganado, pois me tinha defendido das iras de mal querido no mal de ser apartado. Agora peno dobrado, achando no fim do dia o princípio d’ alegria. Luís de Camões, Lírica Completa – I, Lisboa IN-CM, 1994, p. 190. 4. Indica o tema do poema. 5. Seleciona dois recursos expressivos e explicita a sua expressividade. 6. Analisa formalmente o poema. GRUPO II 5 10 15 20 25 30 Quando tinha onze anos, o meu pai deu-me um livro fascinante escrito por Albert Einstein e Leopold Infeld, chamado A evolução da Física. Logo nas primeiras linhas o livro compara a ciência a um romance policial. A diferença estará em que a ciência procura descobrir não quem foi o culpado, mas porque é o mundo como é. Como em todos os bons mistérios, é frequente os investigadores desviarem-se do caminho certo. Vezes sem conta têm de recomeçar de novo, separando as pistas falsas das verdadeiras. Mas chega finalmente o dia em que reúnem elementos em número suficiente para lhes poderem aplicar essa ferramenta humana de poder inigualado que é a capacidade de dedução e desse modo começarem a perceber o que se passou. Tendo elaborado uma teoria do mistério em estudo, fazem então algumas conjeturas, as quais serão em seguida postas à prova para, assim, se espera, resolver o mistério. Contudo, alguns parágrafos mais à frente a analogia com o romance policial é abruptamente abandonada. Dizem-nos que os cientistas enfrentam um dilema que nunca aflige quem combate o crime. No jogo de desvendar o mistério do universo, os cientistas nunca podem dizer «caso encerrado». Quer gostem quer não, nunca têm entre mãos um mistério, mas sim uma pequena fração de um enorme conjunto de mistérios interdependentes. Sucede com frequência que a mais recente solução de uma parte do enigma indique que certas soluções encontradas anteriormente para outras partes desse enigma afinal estão erradas, ou pelo menos precisam de ser reanalisadas. Pode dizer-se com grande rigor que o jogo da ciência é um interminável insulto à inteligência humana. Mau grado a «indignidade» a que a física nos sujeita, ela fascinou-me de imediato. Gostei particularmente da maneira como são apresentados os mistérios do universo: através de perguntas que parecem superficialmente muito simples, mas têm na verdade um significado extremamente profundo; vêm, além disso, envoltas nas belas roupagens das experiências conceptuais e da lógica pura. Mas foi só bem depois de ter iniciado a minha carreira como físico que me apercebi de que muitos, talvez a maior parte, dos problemas da física não são abordados de forma fria e racional; pelo menos não a princípio. Antes de sermos cientistas somos Homo sapiens, uma espécie que, pese embora o seu pomposo nome, obedece mais às emoções do que à razão. Nem sempre descartamos cuidadosamente as pistas falsas ou as suposições erróneas ou resolvemos os nossos problemas pelas técnicas mais racionais. João Magueijo, Mais rápido que a luz, Lisboa: Gradiva, 2003, p. 27. Leitura / Gramática 1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma
  • 32. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 32 afirmação correta. 1.1. O narrador deste texto recorda um episódio da sua infância quando A. o pai lhe ofereceu uma prenda inesquecível. B. recebeu um livro sobre a relação entre a ciência e a literatura. C. percebeu o que era um romance policial. D. entendeu que em ciência não se descobre o culpado. 1.2. Os cientistas, segundo o texto, A. falham sempre que tentam separar pistas falsas das verdadeiras. B. sofrem a influência de fatores internos e externos. C. resolvem sempre os mistérios mas nunca dizem «caso encerrado». D. desvendam mistérios a partir da capacidade dedutiva. 1.3. A física fascinou o narrador A. porque gosta de belas roupagens. B. uma vez que o significado profundo das perguntas transparece de imediato . C. porque as questões sobre o universo são estimulantes e desafiantes. D. visto que os mistérios da física indignam os estudiosos . 1.4. O narrador considera que A. a maior parte dos problemas da física se resolvem de forma racional. B. os enigmas da física só se solucionam friamente. C. os cientistas são homens, por isso, também se deixam influenciar pelas emoções. D. os homens são mais racionais do que intuitivos. 1.5. A frase: «o jogo da ciência é um interminável insulto à inteligência humana.» (l. 18) significa que A. nunca conseguimos descodificar os enigmas mais complicados. B. não se deve jogar com a ciência. C. a inteligência humana não está preparada para o jogo da ciência. D. em ciência, nunca podemos considerar um enigma como completamente resolvido. 2. Responde de forma correta aos itens apresentados. 2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «ela fascinou-me de imediato» (l. 19). 2.2. Classifica a oração sublinhada: «Dizem-nos que os cientistas enfrentam um dilema que nunca aflige quem combate o crime.» (ll. 12-13). 2.3. Divide e classifica as orações da frase: «Quando tinha onze anos, o meu pai deu-me um livro fascinante escrito por Albert Einstein e Leopold Infeld, chamado A evolução da Física.» (ll. 1-2). GRUPO III Escrita «Nos primeiros estádios do desenvolvimento de uma ideia [os cientistas] comportamo-nos mais como artistas, impulsionados pelo temperamento e pelo gosto pessoal.» João Magueijo, Mais rápido que a luz, Lisboa: Gradiva, 2003, p. 17. Num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta uma
  • 33. DOSSIÊDOPROFESSOR PALAVRAS 10 AVALIAÇÃO © Areal Editores 33 exposição sobre «o papel da emoção na investigação científica». Recorre aos teus conhecimentos para fundamentares a tua opinião.