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O BOMBARDEIO
I. Público: Alunos do ensino fundamental
II. Número de participantes: 15 pessoas
III. Tempo de duração: 20 minutos
IV. Objetivos: - Favorecer a reflexão sobre a responsabilidade social;
- Sensibilizar para a importância da solidariedade na convivência social;
- Discutir valores individuais e coletivos.
V. Material: Fita crepe ou giz
VI. Procedimentos:
a) Organizar o grupo em círculo;
b) Delimitar um espaço no centro da sala, com giz ou fita crepe, que permita a acomodação de
todos, de pé, dentro desse espaço;
c) Solicitar que imaginem uma situação de guerra e que a cada grito de: bombardeio!, todos
deverão ocupar a área delimitada;
d) Diminuir, gradativamente, o espaço;
e) Comunicar que as pessoas impossibilitadas de ocupar o espaço estão “bombardeadas” e
ficarão fora do jogo;
f) Estreitar cada vez mais o espaço, até que permaneça o menor número de participantes;
g) Estimular para que criem formas alternativas de permanecerem “vivos” no reduzido espaço;
h) Encerrar quando todas as soluções possíveis forem experenciadas;
i) Conduzir plenária de discussão onde os participantes exponham seus sentimentos em
relação à situação vivida e reflitam sobre os desafios da convivência social.
Admirável mundoútil
Dinâmicas de grupo são a fina flor da chamada psicologia organizacional. Minha primeira
sensação de
enquadramento profissional foi quando tive que me submeter, na presença de colegas de
trabalho subitamente
estranhos e junto com eles, a bradar um até hoje incognoscível “halorra! Halorra! Halorra!”.
Para mim que viera das retumbantes palavras de ordem do movimento estudantil, aquele uivo
corporativo era
quase uma traição de classe. Só não o era de todo pela satisfação de ver uma tresloucada
consultora instando
meu posudo chefe aaderir ao mantra. E lá ia ele, exemplar: “Halorra! Halorra! Halorra!” Estava
vencida
minha luta de classes particular.
Quando percebi, depois de mudar de emprego algumas vezes, que as tais dinâmicas são
unipresentes e
essenciais à sobrevivência profissional de qualquer indivíduo médio (sobretudo se deseja
permanecer médio),
me entreguei a elas com um fervor revolucionário. Cheguei até a liderar uma, em que encarnei
um general em
defesa da utilidade da guerra. Para quem tinha começado a vida como soldado do “halorra!”,
minha ascensão
ao generalato foi meteórica. Só não tive soldados porque todos os demais participantes da
dinâmica eram
adeptos da cultura de paz, então em voga na corporação por determinação superior.
Minha dinâmica mais marcante foi a do fim do mundo. Funcionava assim: o mundo estava a se
acabar e um
grupo de cinco pessoas deveria eleger, numa lista que mimetizava o catálogo dos tipos
humanos, a meia dúzia
apta a forjar um mundo novo. Dos seis principiantes, um deveria ser escolhido entre os cinco
artífices da nova
composição mundana. Meu primeiro impulso competitivo foi, é claro, lutar pela única vaga
naquela arca sem
Noé.
Primeiro, e para garantir a unidade, cuidamos de escolher os cinco eleitos a partir de uma
vasta lista. A
princípio, adotamos o tão desumano quanto eficaz método da exclusão. Ficaram de fora os
estetas, por inúteis;
os artistas, porque um novo mundo exigiria uma nova arte; os jornalistas, porque num princípio
de era haveria
mais coisas a fazer do que a reportar; os garçons, os dentistas, os técnicos de informática e os
psicólogos,
porque embora úteis, sua sofisticação estava acima do primitivo porvir.
Não sem alguma controvérsia, povoamos o mundo em recomeço com um pedreiro alcoólatra,
para lhe
oferecer a chance de exercer a providencial profissão sem a atrapalhação da cachaça; uma
criança, pelas
esperanças de sempre; um homem adulto, para as funções de praxe; um médico, para iludir a
morte; e um
velho, para dar os conselhos que não ouvira.
Faltava o sexto elemento, que deveria agora ser eleito entre nós cinco, antes apenas eleitores.
Alguém apontou
o inconveniente de cada um votar em si mesmo, o que geraria um empate insolúvel da eleição.
“O critério
etário, utilizado nessas ocasiões, seria um golpe de morte na democracia”, alguém acusou,
“porque a eleição
seria decidida de véspera”.
Nos bastidores, eclodiu uma surda pressão pela renúncia de alguns candidatos. O primeiro a
renunciar foi um
fumante. Admitiu que não suportaria viver num mundo sem cigarros. Elogiou a fibra do pedreiro
alcoólatra,
que trocaria a pinga pela obra, mas se perdeu na própria fumaça. Depois renunciou uma
secretária que
sonhava ser bailarina, constrangida pela iminente inutilidade tanto da profissão quanto do
sonho. Outro tímido
colega renunciou em seguida, e sua oblíqua troca de olhares com a secretária lhe inutilizou as
mal dadas
explicações.
Enquanto isso, eu fazia meu cálculo político. Valeria a pena viver num novo mundo, tão cego
quanto Stevie
wonder, mas sem seu talento, sem livros em braille, sem celulares e computadores com leitura
sonora de tela,
sem bengala e, principalmente, sem poesia? Se as desvantagens da cegueira são muito mais
sociais do que
naturais, pensei que elas seriam bem maiores numa sociedade primitiva. Renunciei à
candidatura em favor
de uma beldade e só lamentei não ser eu a formar com ela o par que perpetuaria a espécie.
Minto: lamentei
também não me livrar das dinâmicas de grupo. Afinal de contas, deve ser esse o castigo
reservado para depois
do fim do mundo.

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  • 2. unipresentes e essenciais à sobrevivência profissional de qualquer indivíduo médio (sobretudo se deseja permanecer médio), me entreguei a elas com um fervor revolucionário. Cheguei até a liderar uma, em que encarnei um general em defesa da utilidade da guerra. Para quem tinha começado a vida como soldado do “halorra!”, minha ascensão ao generalato foi meteórica. Só não tive soldados porque todos os demais participantes da dinâmica eram adeptos da cultura de paz, então em voga na corporação por determinação superior. Minha dinâmica mais marcante foi a do fim do mundo. Funcionava assim: o mundo estava a se acabar e um grupo de cinco pessoas deveria eleger, numa lista que mimetizava o catálogo dos tipos humanos, a meia dúzia apta a forjar um mundo novo. Dos seis principiantes, um deveria ser escolhido entre os cinco artífices da nova composição mundana. Meu primeiro impulso competitivo foi, é claro, lutar pela única vaga naquela arca sem Noé. Primeiro, e para garantir a unidade, cuidamos de escolher os cinco eleitos a partir de uma vasta lista. A princípio, adotamos o tão desumano quanto eficaz método da exclusão. Ficaram de fora os estetas, por inúteis; os artistas, porque um novo mundo exigiria uma nova arte; os jornalistas, porque num princípio de era haveria mais coisas a fazer do que a reportar; os garçons, os dentistas, os técnicos de informática e os psicólogos, porque embora úteis, sua sofisticação estava acima do primitivo porvir. Não sem alguma controvérsia, povoamos o mundo em recomeço com um pedreiro alcoólatra, para lhe oferecer a chance de exercer a providencial profissão sem a atrapalhação da cachaça; uma criança, pelas esperanças de sempre; um homem adulto, para as funções de praxe; um médico, para iludir a morte; e um velho, para dar os conselhos que não ouvira. Faltava o sexto elemento, que deveria agora ser eleito entre nós cinco, antes apenas eleitores. Alguém apontou o inconveniente de cada um votar em si mesmo, o que geraria um empate insolúvel da eleição. “O critério etário, utilizado nessas ocasiões, seria um golpe de morte na democracia”, alguém acusou, “porque a eleição seria decidida de véspera”. Nos bastidores, eclodiu uma surda pressão pela renúncia de alguns candidatos. O primeiro a renunciar foi um fumante. Admitiu que não suportaria viver num mundo sem cigarros. Elogiou a fibra do pedreiro alcoólatra, que trocaria a pinga pela obra, mas se perdeu na própria fumaça. Depois renunciou uma secretária que sonhava ser bailarina, constrangida pela iminente inutilidade tanto da profissão quanto do sonho. Outro tímido colega renunciou em seguida, e sua oblíqua troca de olhares com a secretária lhe inutilizou as mal dadas explicações. Enquanto isso, eu fazia meu cálculo político. Valeria a pena viver num novo mundo, tão cego
  • 3. quanto Stevie wonder, mas sem seu talento, sem livros em braille, sem celulares e computadores com leitura sonora de tela, sem bengala e, principalmente, sem poesia? Se as desvantagens da cegueira são muito mais sociais do que naturais, pensei que elas seriam bem maiores numa sociedade primitiva. Renunciei à candidatura em favor de uma beldade e só lamentei não ser eu a formar com ela o par que perpetuaria a espécie. Minto: lamentei também não me livrar das dinâmicas de grupo. Afinal de contas, deve ser esse o castigo reservado para depois do fim do mundo.