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p10, AMABÉLIA RODRIGUES, EPIDEMIOLOGIA
Foto: Joana Barros
                                                                                    p55




                                                       Amabélia
                                                       Rodrigues
                                                       TEXTO MARISA SERAFIM
                                                       DATA DA REPORTAGEM 11/2007
Amabélia Rodrigues no Projecto de Saúde Bandim, 2007




                                                       Epidemiologia
                                                       Guiné-Bissau
Crianças numa estrada a norte de Bissau , 2007   Foto: Joana Barros
Estudo do Projecto de Saúde Bandim sobre o impacto da alteração do calendário de vacinação na sobrevivência das crianças, Ndjassan, 2007   Foto: Joana Barros
Amabélia
Rodrigues
/ PROJECTO DE SAÚDE BANDIM, GUINÉ-BISSAU




TEXTO MARISA SERAFIM



Licenciada em Saúde Pública, Amabélia          hoje, coordenando vários estudos com foco
Rodrigues iniciou a sua vida profissional      principal na saúde materno-infantil.
em 1992 na Direcção-Geral de Higiene e           Os dias da cientista guineense são passa-
Epidemiologia do Estado da Guiné-Bissau,       dos a analisar dados, a supervisionar estu-
juntando-se em 1996 à equipa da Organiza-      dos, a apoiar estudantes de doutoramento
ção Mundial de Saúde, como conselheira         e a criar e educar sete filhos e sobrinhos
para a prevenção e controlo de doenças.        com idades compreendidas entre os 9 e os
Em 2000 passa a integrar a equipa do Pro-      17 anos.
jecto de Saúde Bandim onde se mantém até



Amabélia nasceu, cresceu e viveu a maior          Embora não queira cair em clichés, ad-
parte da sua vida na Guiné-Bissau. Saiu        mite que foi estudar medicina por «aquilo
apenas durante uns anos para fazer a li-       que lhe permitia fazer pelos outros». Mas
cenciatura em Medicina na Universidade         Amabélia Rodrigues pretendia trabalhar
de Donetsk, na antiga União Soviética,         em algo mais alargado do que a medicina
hoje Ucrânia.                                  clínica, de «só uma pessoa», queria ter
  Sorri quando se lembra da sua infân-         uma intervenção que atingisse muitas
cia, da biblioteca do pai e da competição      pessoas simultaneamente. E, assim, es-
saudável entre colegas de escola. «Acho que    colheu estudar medicina orientada para
provavelmente tive uma infância privile-       a saúde pública. Naquela altura não havia
giada.» Filha do chefe da Polícia de Ordem     ninguém nessa área na Guiné-Bissau e
Pública, ainda na Guiné-Bissau portuguesa,     o governo guineense deu-lhe uma bolsa
e de uma doméstica, Amabélia Rodrigues         para estudar na Universidade de Donetsk.
cresceu a aprender que a família vinha antes      Aos 19 anos viu-se sozinha num país em
de tudo. «Éramos muito unidos e sempre         que quase tudo era diferente do que co-
me transmitiram que a família estava em        nhecia e admite que viveu alguns momen-
primeiro lugar.» Recorda com saudade a         tos difíceis. A barreira mais complicada
biblioteca do pai, que era um ávido leitor.    de transpor foi, sem dúvida, a da língua.
«Ele gostava muito de ler e sempre nos         «Apesar de ter estudado russo durante um
incentivou muito, a mim e aos meus ir-         ano, quando lá cheguei tive de me esforçar
mãos, a estudarmos.» A atitude do pai          muito para compreender alguma coisa.»
deu-lhe a disciplina que a levou muitas           Ao contrário do que se possa julgar, o frio
vezes a estar no quadro de honra das esco-     da Ucrânia, para alguém habituado ao calor
las que frequentou. «Tentávamos sempre         da Guiné-Bissau, foi tolerável e com muito
saber mais, estudar muito e ter boas notas,    humor a cientista cita a célebre máxima
sempre a compararmo-nos com os ou-             britânica: «Não há mau tempo, há más
tros», diz a rir.                              roupas.» «Então vestia-me conforme o
AMABÉLIA RODRIGUES, EPIDEMIOLOGIA, p61




                                                                                                Foto: Joana Barros
Amabélia Rodrigues, 2007



tempo e o frio foi suportável.»               entrei em contacto, pela primeira vez, com
  «Embora fosse tudo completamente            o Projecto de Saúde Bandim, que já funcio-
diferente, acabei por me habituar.» Até a     nava na Guiné-Bissau desde 1978.»
comida, que de início nem conseguia co-         Por essa altura o país era assolado por uma
mer, foi aos poucos entrando no seu menu.     grave epidemia de cólera e a Organização
«É tudo uma questão de hábito. É muito        Mundial de Saúde (OMS) e várias agências
importante sermos flexíveis, tentarmos        internacionais delineavam uma série de
compreender e aprender com os novos           recomendações básicas que deveriam ser
contextos», defende.                          adoptadas e aplicadas por vários países.
  Em finais de 1992, a terminar o curso e     Na altura, a epidemiologista, que podia ter
com 27 anos de idade, decide casar-se e       simplesmente optado por cumprir apenas
pouco depois de ter o primeiro filho re-      o recomendado, empenha-se em perceber
gressa à Guiné-Bissau. O marido conti-        os factores que influenciam a transmissão
nuou na Rússia por mais um ano para           da cólera no contexto específico da Guiné-
concluir o curso. Em Bissau, Amabélia é       -Bissau. Defende que «se não conhecermos
colocada no departamento nacional de luta     bem o que se está a passar não podemos
contra a sida e colabora com a recém-cria-    definir uma resposta acertada».
da Direcção-Geral de Higiene e de Epide-        Nas reuniões de coordenação da Di-
miologia do Estado.                           recção-Geral de Higiene e Epidemiologia
  «Quando voltei no final de 1992 come-       começa a ter encontros mais frequentes
cei a trabalhar na área de epidemiologia      com pessoas do Projecto de Saúde Bandim.
e a fazer logo investigação. A procurar.»     «Começou-se a discutir a possibilidade
É movida desde o início pela vontade de       de fazer um estudo e eles concordaram.»
aprofundar o conhecimento dos factores        Embora o Ministério da Saúde não tivesse
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Epidemiologista guineense no Projecto de Saúde Bandim

  • 2. Foto: Joana Barros p55 Amabélia Rodrigues TEXTO MARISA SERAFIM DATA DA REPORTAGEM 11/2007 Amabélia Rodrigues no Projecto de Saúde Bandim, 2007 Epidemiologia Guiné-Bissau
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  • 4. Crianças numa estrada a norte de Bissau , 2007 Foto: Joana Barros
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  • 6. Estudo do Projecto de Saúde Bandim sobre o impacto da alteração do calendário de vacinação na sobrevivência das crianças, Ndjassan, 2007 Foto: Joana Barros
  • 7. Amabélia Rodrigues / PROJECTO DE SAÚDE BANDIM, GUINÉ-BISSAU TEXTO MARISA SERAFIM Licenciada em Saúde Pública, Amabélia hoje, coordenando vários estudos com foco Rodrigues iniciou a sua vida profissional principal na saúde materno-infantil. em 1992 na Direcção-Geral de Higiene e Os dias da cientista guineense são passa- Epidemiologia do Estado da Guiné-Bissau, dos a analisar dados, a supervisionar estu- juntando-se em 1996 à equipa da Organiza- dos, a apoiar estudantes de doutoramento ção Mundial de Saúde, como conselheira e a criar e educar sete filhos e sobrinhos para a prevenção e controlo de doenças. com idades compreendidas entre os 9 e os Em 2000 passa a integrar a equipa do Pro- 17 anos. jecto de Saúde Bandim onde se mantém até Amabélia nasceu, cresceu e viveu a maior Embora não queira cair em clichés, ad- parte da sua vida na Guiné-Bissau. Saiu mite que foi estudar medicina por «aquilo apenas durante uns anos para fazer a li- que lhe permitia fazer pelos outros». Mas cenciatura em Medicina na Universidade Amabélia Rodrigues pretendia trabalhar de Donetsk, na antiga União Soviética, em algo mais alargado do que a medicina hoje Ucrânia. clínica, de «só uma pessoa», queria ter Sorri quando se lembra da sua infân- uma intervenção que atingisse muitas cia, da biblioteca do pai e da competição pessoas simultaneamente. E, assim, es- saudável entre colegas de escola. «Acho que colheu estudar medicina orientada para provavelmente tive uma infância privile- a saúde pública. Naquela altura não havia giada.» Filha do chefe da Polícia de Ordem ninguém nessa área na Guiné-Bissau e Pública, ainda na Guiné-Bissau portuguesa, o governo guineense deu-lhe uma bolsa e de uma doméstica, Amabélia Rodrigues para estudar na Universidade de Donetsk. cresceu a aprender que a família vinha antes Aos 19 anos viu-se sozinha num país em de tudo. «Éramos muito unidos e sempre que quase tudo era diferente do que co- me transmitiram que a família estava em nhecia e admite que viveu alguns momen- primeiro lugar.» Recorda com saudade a tos difíceis. A barreira mais complicada biblioteca do pai, que era um ávido leitor. de transpor foi, sem dúvida, a da língua. «Ele gostava muito de ler e sempre nos «Apesar de ter estudado russo durante um incentivou muito, a mim e aos meus ir- ano, quando lá cheguei tive de me esforçar mãos, a estudarmos.» A atitude do pai muito para compreender alguma coisa.» deu-lhe a disciplina que a levou muitas Ao contrário do que se possa julgar, o frio vezes a estar no quadro de honra das esco- da Ucrânia, para alguém habituado ao calor las que frequentou. «Tentávamos sempre da Guiné-Bissau, foi tolerável e com muito saber mais, estudar muito e ter boas notas, humor a cientista cita a célebre máxima sempre a compararmo-nos com os ou- britânica: «Não há mau tempo, há más tros», diz a rir. roupas.» «Então vestia-me conforme o
  • 8. AMABÉLIA RODRIGUES, EPIDEMIOLOGIA, p61 Foto: Joana Barros Amabélia Rodrigues, 2007 tempo e o frio foi suportável.» entrei em contacto, pela primeira vez, com «Embora fosse tudo completamente o Projecto de Saúde Bandim, que já funcio- diferente, acabei por me habituar.» Até a nava na Guiné-Bissau desde 1978.» comida, que de início nem conseguia co- Por essa altura o país era assolado por uma mer, foi aos poucos entrando no seu menu. grave epidemia de cólera e a Organização «É tudo uma questão de hábito. É muito Mundial de Saúde (OMS) e várias agências importante sermos flexíveis, tentarmos internacionais delineavam uma série de compreender e aprender com os novos recomendações básicas que deveriam ser contextos», defende. adoptadas e aplicadas por vários países. Em finais de 1992, a terminar o curso e Na altura, a epidemiologista, que podia ter com 27 anos de idade, decide casar-se e simplesmente optado por cumprir apenas pouco depois de ter o primeiro filho re- o recomendado, empenha-se em perceber gressa à Guiné-Bissau. O marido conti- os factores que influenciam a transmissão nuou na Rússia por mais um ano para da cólera no contexto específico da Guiné- concluir o curso. Em Bissau, Amabélia é -Bissau. Defende que «se não conhecermos colocada no departamento nacional de luta bem o que se está a passar não podemos contra a sida e colabora com a recém-cria- definir uma resposta acertada». da Direcção-Geral de Higiene e de Epide- Nas reuniões de coordenação da Di- miologia do Estado. recção-Geral de Higiene e Epidemiologia «Quando voltei no final de 1992 come- começa a ter encontros mais frequentes cei a trabalhar na área de epidemiologia com pessoas do Projecto de Saúde Bandim. e a fazer logo investigação. A procurar.» «Começou-se a discutir a possibilidade É movida desde o início pela vontade de de fazer um estudo e eles concordaram.» aprofundar o conhecimento dos factores Embora o Ministério da Saúde não tivesse epidemiológicos específicos da Guiné- recursos, o Projecto de Saúde Bandim tinha -Bissau. «Em 1993, comecei a procurar os pessoas e condições para apoiar o trabalho trabalhos que aqui se faziam sobre a sida e e por isso decidiram avançar.