Este boletim informativo da Associação Promotora da Educação Social discute a educação para a diferença e o trabalho com populações minoritárias. A nova direção da APES é apresentada e há entrevistas com educadores sociais que trabalham com pessoas com deficiência e ciganos.
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Bolhetim educação social janeiro 2014
1. A Educação Social em Portugal
Boletim Informativo da Associação Promotora da Educação Social
Nº 7 Janeiro 2014
Se não respeitares as diferenças, jamais
descobrirás as semelhanças
Foto: José M.M. Inácio
Verónica Clow
2. Editorial
Bem vindos à primeira edição
tema “Educação para a diferen-
todas as nossas colegas que nos
de 2014 do nosso Boletim Digi-
ça”, reunimos mais testemu-
ajudam a responder a estas e a
tal!
nhos do magnífico trabalho que
outras questões! Este é mais
O ano que inicia apresenta-se
é realizado pelos nossos profis-
um boletim que nos orgulha e a
como um grande desafio para
sionais.
responsabilidade é toda vossa!
todos nós. Chegou a hora de
A nossa entrevistada e duas
Agradecemos, também, à Cerci-
colocar um ponto final no dis-
colegas mostram-nos como o
póvoa, por todo o apoio que
curso da crise e de enfrentar o
trabalho na área da deficiência
tem dado à APES! Nesta edição
recomeço.
é, ao contrário do que à primei-
fomos visitá-la e conversámos
A equipa da APES recomeça
ra vista pode parecer, muito
com as pessoas que lá vivem e
com uma nova equipa, eleita
enriquecedor. A soma de
que lá trabalham. Obrigada por
no passado dia 14 de Dezem-
pequenas vitórias resulta numa
nos terem acolhido na vossa
bro, e que tomou posse no dia
quantia valiosa tanto para as
casa e por nos terem contado
12 deste mês. O foco continua
pessoas com quem se trabalha,
os projetos que desenvolvem.
o mesmo de sempre, a promo-
como para os próprios profis-
A próxima edição vai ter como
ção da Educação Social, e a gar-
sionais. E para se lá chegar é
tema “O Educador e a Pobre-
ra e determinação que nos
apenas necessário ultrapassar a
za”. Mais um tema sugestivo, e
caracterizaram, são alimenta-
barreira do preconceito.
que nos coloca muitas dúvidas.
dos a cada dia que passa com a
O preconceito também reina
Se trabalham nesta área, con-
crença de que vale a pena!
quando se fala em ciganos e
tem-nos como é! Enviem-nos
Olhando para trás, todos os
minorias étnicas. Que o confir-
os vossos testemunhos e refle-
pequenos passos que já demos
mem as nossas quatro colegas
xões para:
na nossa curta existência fize-
que abordam o trabalho com
boletimrea-
ram a diferença, e é um orgulho
estas populações. Não será a
pes@educadoresociais.com
ver a nossa família aumentar
diferença de culturas uma van-
ou
com a entrada de novos sócios!
tagem, uma forma de nos com-
https://www.facebook.com/
Obrigada por se juntarem a
pletarmos uns aos outros? E
groups/463570190343005/
nós!
será que somos assim tão dife-
Esta edição é mais uma prova
rentes enquanto seres huma-
Saudações Sociais
de que a Educação Social é uma
nos?
Clara Inácio
profissão de excelência. Com o
Um especial agradecimento a
Coordenadora do Boletim
Colaboradores desta edição:
Cátia Vaz - APES
Marlene Borges - APES
Sandra Afonso - APES
2
3. Índice
Pág.
APES:
Nova Equipa APES ………………..………………………………………………………. 5
V Encontro Técnicos Superiores de Educação Social ……………...………………… 6
Repórter APES:
Entrevista a Ana Mendes ……....………………………………………………………… 8
Educação para a Diferença:
Educar para a diferença, educar com a diferença - Sílvia Franco …………….…. 11
Educação Social com Ciganos. A diferença Sou eu - Sofia Aurora Santos ……... 14
Educar para a diferença - Susana Rebocho …………………...…………………… 19
Um ato de amor - Ana Sofia Bexiga ……………………………………………………23
Testemunho de um estágio com portadores de deficiência - Catarina Aleixo …… 26
A Bússula individual da aceitação do diferente - Daniela Azevedo ……………… 29
Instituição:
Cercipóvoa ………………………………………………………………………………… 31
Biblioteca APES………………………………………………………………………………. 34
3
4. Inscrições e mais informações em:
http://www.joaodedeus.pt/curso/index.asp?id_cnt=73
4
5. Nova Equipa APES
No passado dia 14 de Dezembro de 2013, foram eleitos os novos órgãos sociais da APES. As listas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014. Desejamos a todos um bom trabalho!
Mesa da Assembleia
Geral
Presidente - Clara Inácio
Vice Presidente - Márcio
Rodrigues
Secretária - Sofia Santos
Suplente - André Santos
5
Direção
Conselho Fiscal
Presidente - Sandra Afonso
Vice Presidente - Ruben
Amorim
Tesoureira - Joana Oliveira
Secretária - Cátia Vaz
Vogal - Ivânia Alexandre
Suplentes - Sílvia Lopes
Vera Soares
Marlene Borges
Ana Mendes
Presidente - Dário Gomes
Secretária - Joana Botas
Relatora - Ana Raquel Vau
Suplentes - Maria do Céu
Ferreira
Ana Maggiolly
Marta Carvalho
6. V Encontro dos Técnicos Superiores de Educação Social
explicitando a dificuldade no acesso à Água.
Ainda na parte da manhã, mas já
depois do coffee break, deu-se
início ao segundo painel de oradores, iniciado pelo colega Honoré
Gregorius, membro da Associação
Internacional de Educadores
Sociais (AIEJI), bem como de
outras associações, que nos transmitiu a sua prática no Luxemburgo. Esta presença estreitou os
laços da APES com outras Associações Internacionais ajudando a
unir esforços e perceber a EducaChegou o ansiado dia 16 de
que nos acolheu neste evento.
ção Social no Mundo! O modera-
Novembro de 2013, marcado pelo O dia iniciou-se com as boas-
dor deste painel, o Professor Jor-
V Encontro dos Técnicos Superio-
ge Lemos, passou a palavra a
vindas a todos os presentes na
res de Educação Social. Depois de voz da presidente da APES, a cole- Cindy Vaz, que nos falou de PedaLisboa, Algarve, Leiria e Lisboa
ga Sandra Afonso, feliz pela pla-
gogia Social e Intervenção Socio-
novamente, é chegada a vez da
teia recheada e à qual se seguiu o comunitária referenciado a sua
cidade Invicta – o Porto.
Professor Rúben Cabral.
Este Encontro fica inevitavelmen-
Passámos, então, ao primeiro pai- Terminada a nossa manhã realiza-
experiência profissional na Trofa.
te marcado pelo início da venda e nel do Encontro, moderado pela
entrega das agendas da APES colega Raquel Vau, e dando a
mos uma pausa para almoço, de
modo a repor as energias gastas e
Associação Promotora da Educa-
palavra ao Professor Adalberto
tempo de partilha entre colegas.
ção Social, mais uma atividade,
Dias de Carvalho que captou, des- A parte da tarde iniciou com o
que tem sido um marco no per-
de o início, a atenção da plateia.
terceiro painel, composto pelos
curso e na divulgação desta pro-
Posteriormente chegou a vez da
Professores Jaime Santos, Jorge
fissão!
Professora Sónia Galinha que per- Lemos, Jorge Serrano e Anabela
Não podíamos estar mais felizes
correu tantos quilómetros para
Correia, apresentando a Pós-
pelo grande caminho percorrido
estar connosco neste dia. Seguiu-
graduação em Educação Social e
até aos dias de hoje. E este dia é
se Mónica Mesquita, que muito
Desenvolvimento Comunitário
mais o culminar de muito traba-
bem se fez acompanhar pelo Dur- que, como foi explicado, visa criar
lho. Agradecemos, desde já, a
val Carvalho e pelo Sr. Lídio Gali-
um espaço privilegiado de apoio
todos os que connosco têm cola-
nho que trouxeram testemunhos
teórico, metodológico e prático ao
borado e nos têm ajudado nas
na primeira pessoa de uma dura
desenvolvimento de saberes e de
ações realizadas. Desta vez, ende- realidade de duas comunidades:
competências de profissionais
reçamos um especial agradeci-
Comunidade Bairro e Comunidade envolvidos em processos de
mento à Universidade Católica
Piscatória da Costa da Caparica
6
desenvolvimento comunitário,
7. bel Batista falou-nos da luta já
percorrida pela Educação Social
ao longo destes anos, uma área
em que a própria indica como
sendo sua. Ressalvou, também, a
importância do contacto com
outras Associações Internacionais.
Terminou-se este V Encontro, com
duas intervenções muito interessantes: O Projeto Transformers é
um programa de voluntariado que
mobiliza mentores de todos os
desportos, artes e atividades para
orientar jovens a encontrar no seu
bem como dar uma contribuição
sentou o projeto Palhaços d’Opi-
superpoder uma forma de expri-
relevante para um maior desen-
tal, que tem como principal obje-
mir e intervir positivamente na
volvimento da atitude investigati- tivo implementar um programa de comunidade. A apresentação final
va e reflexiva dos atores nestes
intervenção dentro dos hospitais
foi realizada pelo grupo de dança
processos. Os oradores explicita-
da região centro, através da visita da Academia Régia. Porque a dan-
ram, ainda, algumas temáticas
de palhaços profissionais e com
ça, além de ser uma arte, permite
que serão abordadas.
formação específica nesta área,
a criação de relações sociais sen-
Após o coffee break da tarde, o
com foco essencial no Idoso. Com do utilizada, muitas vezes, como
quarto e último painel foi iniciado. a sua apresentação, este palhaço
meio da Educação Social.
Depois das apresentações efetua- (como o afirma com orgulho)
das pelo moderador Márcio Rodri- levou-nos a encarar o termo
E foi assim que encerrámos,
levando para casa novas aprendi-
gues, o painel seguiu com a apre-
palhaço e o próprio exercício des- zagens, novas perspetivas, novas
sentação conjunta de Evaniza
ta função de uma outra forma.
Vieira e Sílvia Lopes, que aborda-
Posteriormente, a Professora Isa-
ram a temática da “Educação
Social na Rede de Cuidados Continuados”, cuja missão é a Promoção da autonomia e melhoria da
funcionalidade da pessoa em
situação de dependência, através
da reabilitação, readaptação e
reinserção familiar e social. As
oradoras explicitaram e insistiram
no papel importante que enquanto profissionais podemos desempenhar nesta área. Tivemos de
seguida a apresentação de Jorge
Rosado, ou como prefere ser tratado, o Dr. Risotto, que nos apre7
partilhas e novas amizades!
8. Repórter APES
Entrevista a Ana Mendes
Educadora Social
Repórter APES - Olá Ana! Obriga-
é que decidiste ser uma
da por teres aceite ser a entrevis-
educadora social?
tada desta edição! Quem é a Ana?
Ana - Sempre fui boa alu-
Ana - Sou casada e mãe de 3 filhos. na e muito assídua, mas
Procuro ter com eles uma relação
na minha adolescência
com base na compreensão e con-
decidi começar a traba-
fiança, gosto de me envolver nas
lhar. Mais tarde, senti necessidade
suas atividades e procuro dar-lhes
de ter mais formação académica, e
o máximo apoio possível. Às vezes
assim decidi voltar aos estudos por
não é fácil, sendo os mais novos
considerar que o estudo e a
um casal de gémeos e na fase da
empregabilidade caminham juntos.
adolescência, eheh… a mais velha
Desde 1992 que trabalho na área
já se encontra encaminhada, traba- da deficiência, achei que podia
lha e estuda, está a tirar licenciatu- fazer muito mais por esta populara em animação sociocultural, mas ção, o que me levou a decidir há
gressos, seminários e cursos ligados a área e fora dela. Além de
manter atualizados os meus
conhecimentos, aproveito para
estreitar relacionamento com profissionais da área, o que sem dúvida facilita a administração do dia-a
-dia, na troca de experiências.
continua sempre a procurar o meu cerca de 10 anos a voltar a estudar Repórter APES - Podes falar-nos
apoio.
à noite, e de seguida fui tirar a
um pouco do teu trabalho?
Não é fácil falarmos sobre nós pró- minha licenciatura, como forma de
prios, mas vou tentar. Sou uma
ir ao encontro da minha opção
pessoa alegre, comunicativa e bas- profissional. Tirei Educação Social
Entrei para a Cercipóvoa em 1991.
Comecei como auxiliar, passando
tante dedicada em tudo o que me
na Escola Superior de Educação de depois a monitora, onde era res-
proponho a fazer. Entendo que a
Santarém com média de 12 valo-
ponsável por um grupo de utentes
empatia que criamos com os
res, que me orgulho muito, pois
com deficiência, pela planificação
outros é muito importante, para
sendo mãe de três filhos, trabalhar e orientação do grupo.
desenvolver com sucesso todas as
e estudar, só conseguindo ir à
nossas atividades, principalmente
faculdade uma manhã por semana Centro de Recursos para Inclusão
as que envolvem pessoas.
por motivos profissionais, foi para
Desde 2008 que integrei o CRI- da Cercipóvoa, que presta apoio
É com este lema que me proponho mim uma grande vitória e um
técnico em vários agrupamentos
a cumprir aquilo a que chamo mis- motivo de orgulho. Continuo a
de escolas.
são.
As minhas funções são variadas,
Repórter APES - Quando e porque
8
fazer sempre que posso forma-
ções, a participar em eventos, con- dependendo de cada agrupamen-
9. mento… Vou tentar dar uma ideia com autonomia, por exemplo
neste processo. Promovo visitas/
das mesmas:
para o seu local de trabalho.
reuniões a instituições ou empre-
Trabalho integrada no departa-
Colaboro também na elaboração
sas.
mento de educação especial com
dos PEI – Programa Educativo
Integro também as reuniões de
os alunos com necessidades edu-
Individual, CEI- Currículo Especifi-
Conselhos de turmas e Departa-
cativas especiais. Como sabem,
co Individual, PIT- Plano Indivi-
mento de Educação Especial.
estes alunos tem necessidades
dual de Transição, que são docu-
No final de cada período tenho
diferentes dos outros alunos, e
assim temos de ajudar na sua
mentos onde é registado o trabalho a desenvolver com estes alu-
também de elaborar relatórios do
trabalho desenvolvido com cada
integração na sociedade, por isso
nos.
aluno.
é importante começar a fazer a
Na implementação do PIT- Plano
Outra das funções é a colaboração
sua preparação para a vida ativa.
Individual de Transição pretende- em elaboração de projetos.
Consoante as características de
se preparar os alunos para a vida
É importante salientar que tudo é
cada um, oriento o seu encami-
pós-escolar. Fazem estágios de
desenvolvido em parceria com os
nhamento, para formação profis-
sensibilização profissional nas
docentes de educação especial
sional, para o Cao- Centro de Ati-
empresas da comunidade (em
que acompanham cada aluno.
vidades Ocupacionais, para pro-
alguns casos, dentro da escola
O trabalho é muito diversificado e
gramas de voluntariado, etc.
primeiramente e só depois na
por vezes surgem outras tare-
Trabalho também ao nível do
comunidade), e cabe-me a mim
fas, é difícil estar a descrever
desenvolvimento de competên-
fazer a orientação e acompanha-
todas, mas de uma maneira geral
cias pessoais e sociais, a parte da
mento dos estágios junto das
é assim o meu dia-a-dia.
comunicação interpessoal, resolu- empresas acolhedoras, e também
ção de problemas, assertividade,
sensibilizar as empresas para
emoções, etc., área onde por
vezes têm muitas dificulda-
receberem estes alunos, o que
por vezes não é fácil.
des. Como pretendemos que
Neste processo de transição reú-
sejam o mais autónomos possíveis, faço apoio direto na área
casa/comunidade onde faço treinos de autonomia na comunidade, como por exemplo ir às compras, saber para que servem e
como utilizar os serviços públicos
da comunidade (correios, banco,
junta de freguesia, etc.), em casa
ao nível da sua independência
pessoal, vestir/despir sozinhos,
tarefas em casa, etc., tudo isto
aplicado em contexto real, ao
nível dos transportes públicos,
treino trajetos consoante as suas
necessidades de deslocação, para
que num futuro o possam fazer
9
Repórter APES - Qual é o maior
desafio quando se trabalha com
pessoas com deficiência ?
Ana - Quando se trabalha com
no com os pais, pois são eles, tam- pessoas com deficiência todos os
bém, intervenientes importantes dias são um desafio, pois são um
10. um público muito diversificado
to de igualdade de oportunidades lutar por aquilo em que acredi-
com características muito pró-
para as pessoas com deficiência.
tam. Cada vez mais o nosso traba-
prias. Eu costumo dizer que para
Mas neste campo existe ainda
lho faz sentido. São mais, a cada
se trabalhar nesta área é preciso
muito trabalho a desenvolver.
dia que passa, as pessoas que pre-
gostar, o resto vem por acumula-
Porque todos nós temos precon-
cisam de nós. Sei que não é fácil,
ção. É importante todos os dias
ceitos, em maior ou menor grau.
mas com persistência e envolven-
manter uma boa relação, acarinhá O que acontece é que alguns dei-
do-nos todos na divulgação da
-los, motivá-los, apoiá-los, faze-los xam extravasar para as suas atitu- nossa profissão, havemos de consentir que são capazes, pois assim des e magoam as pessoas sem
seguir ir cada vez mais longe.
conseguem mais facilmente ultra- pensar nas consequências dos
passar obstáculos. As vitórias nes- seus atos. Outros fazem-no de
Repórter APES - Obrigada, Ana,
foi um prazer entrevistar-te!
ta área por vezes podem ser mui-
uma forma mais dissimulada. Mas
to pequenas, mas tem o sabor de
felizmente existem pessoas que
Ana - Foi com muito gosto que
grandes conquistas.
conseguem lidar com esse senti-
participei nesta entrevista, onde
É preciso um incremento contínuo mento, aceitam e respeitam as
de estratégias e procedimentos
tentei mostrar um pouco do meu
diferenças dos outros. Temos,
trabalho que ADORO. Espero ter
cada um de nós, de combater esse conseguido transmitir um pouco
melhores condições de aprendiza- próprio preconceito em cada con- do meu dia-a-dia aos colegas que
que lhes proporcionem mais e
gem/oportunidades, de forma
tato, em cada nova amizade, em
nunca trabalharam na área. Dese-
solidária e cooperativa, de manei- cada conversa, em cada decisão
jo a todos a continuação de um
dando oportunidades e acreditan- bom trabalho, para os que não
vel as suas competências pessoais do no potencial de cada um.
estão na área que a oportunidade
ra a desenvolverem o mais possíe sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclusão.
Por isso, o lema é paciência e persistência, e, muito importante,
nunca desistir!
Repórter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da sociedade em geral em relação à deficiência?
Ana - Sim, acho, apesar de ser
uma situação que tem vindo a
melhorar nos últimos anos. Cada
vez mais se ouve falar em inclusão
e nota-se já uma preocupação da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no combate ao preconceito e com o direi-
10
Repórter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
não estão a trabalhar?
Ana - O conselho que daria aos
colegas que não estão a trabalhar
na área é que não desistam de
chegue depressa, para que possam mostrar os bons profissionais
que são e continuarem a dignificar
a nossa profissão.
Todos juntos faremos a diferença!
11. Educar para a diferença,
Educar com a diferença
Sílvia Franco
Mestre em Ciências da Educação e
Formação
Para mim, educar é viver um pro-
nas locais enquanto especialistas
cesso em que abraçamos a oportu- em determinadas matérias, ou
nidade de ensinar, bem como a de seja, na sua própria cultura. Busaprender. Ensinar e aprender com
cava-se, diariamente, uma escola
sidade dialogante que une três
aqueles que nos rodeiam e com os reflexiva (Alarcão, 2001), na qual
comunidades nas lutas de cada
que se cruzam no nosso caminho,
todos se sentissem responsáveis
uma.
com os que são chamados de pro-
pelo sucesso pessoal e coletivo,
A Comunidade Bairro luta há mais
fessores, mas também com os alu- pois a concretização deste curso
nos, os agricultores, os mecânicos, era já uma vitória.
de três gerações por água mais
perto das suas casas, uma vez que
os pescadores, os físicos, os biólo-
Enquanto investigadora do Projeto têm de fazer um percurso de dois
gos, os historiadores… com todos,
Fronteiras Urbanas, cuja ação se
quilómetros (ida e volta) por cami-
independentemente dos “rótulos”
desenvolve na Costa de Caparica,
nhos acidentados para recolher,
que a sociedade lhes coloca.
tenho podido vivenciar reflexos
numa bica, água para as suas roti-
Da minha passagem por diferentes dessa mesma diversidade dialo-
nas diárias; a Comunidade Piscató-
contextos educativos, aprendi a
gante. O Projeto Fronteiras Urba-
ria debate-se com as crescentes
valorizar o que chamo de diversi-
nas foi construído em diálogo, bus- proibições que lhes são impostas,
dade dialogante (Franco, 2013),
cando a voz de três comunidades:
sem que as vozes dos pescadores
bem como a abertura para a mes-
Comunidade Bairro, Comunidade
que compõem a comunidade
ma. Na minha passagem por uma
Piscatória e Comunidade Académi- sejam ouvidas; e a Comunidade
licenciatura intercultural indígena,
ca. Estas comunidades uniram-se
Académica busca uma Educação
no Brasil, pude presenciar um pro- pela história partilhada, com o
Emancipatória, cuja essência é o
cesso dialógico, construído por
diálogo e “onde o professor é o
intuito de buscar a visibilidade
todos os envolvidos e interessados. para comunidades invisíveis aos
aprendiz e o aprendiz é o profes-
Neste processo, as opiniões e
olhos de entidades políticas e
desejos dos alunos e da comunida- sociais.
sor” (Bunker Roy, 2013; 05:38).
Numa primeira etapa, foram dese-
de eram valorizados e parte funda- Cada comunidade tinha à partida
nhadas as tarefas Alfabetização
mental no desenvolvimento do
Crítica, Cartografia Múltipla, Histó-
um objetivo primordial e um obje-
currículo, bem como no decurso de tivo coletivo. O objetivo coletivo
rias de Vida e Mediação Comunitá-
todas as etapas do curso, para as
que une estas três comunidades
ria, segundo os desejos dos mem-
quais era solicitada a presença de
centra-se na união que fortalecerá bros das comunidades. No desen-
membros das comunidades indíge- cada comunidade, isto é, na diver-
11
volvimento destas tarefas, procu-
12. rámos ter em mente as palavras de
Paulo Freire:
não é possível o diálogo entre os
que querem a pronúncia do mundo
e os que não a querem; entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito. É preciso
primeiro que, os que assim se
encontram negados no direito primordial de dizer a palavra, reconquistem esse direito, proibindo que
este assalto desumanizante continue. (Freire, 2008; 91)
Em consciência de que o envolvi-
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Sílvia Franco)
mento dos indivíduos na luta pela
sua própria liberalização, passa por vas, reforçando os seus desejos e
“refletir sobre a sua própria situa- direitos.
escola criam-se espaços e tempos
para a diversidade dialogante,
cionalidade, na medida em que,
Estes movimentos possibilitaram o numa dinâmica de partilha onde
desafiados por ela, agem sobre
regresso de vários jovens a contex- um membro da Comunidade Bair-
ela” (Freire, 2008; 118), fomo-nos
tos escolares, a eleição de uma
ro, de naturalidade cabo-verdiana,
deparando com momentos enri-
comissão de moradores, a partici-
ensina kriolu a outros moradores e
quecedores de partilha de conheci- pação de membros das três comu- a amigos interessados das outras
mentos e ação sobre o seu meio,
nidades em eventos de dissemina- duas comunidades ou que se aproimplementando diálogos com insti- ção académica, bem como o atual ximaram deste movimento. Da
tuições políticas, sociais e educati-
movimento Escola do Bairro. Nesta mesma forma, são recebidas pessoas da área de História, Música e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos, fazendo-se
um intercâmbio de conhecimentos
e práticas.
É no sentido desta Escola do Bairro
que falo em “educar com a diferença”, pois, na minha opinião, é
importante educar para a diferença, para nos conscientizarmos de
que são as diferenças que nos tornam todos iguais. Contudo, considero que a essência da educação
estará, essencialmente, em educar
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o pé de ervilha (Foto: Sílvia Franco)
12
com/ aprender com/ fazer com…
13. Referências:
Alarcão, I. (2001). A escola reflexiva. In I. Alarcão (Ed.), Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre:
Artmed Editora.
Franco, S. (2013). A Diversidade Dialogante num processo educativo indígena: observações num curso de
Etnomatemática. Mestrado em Ciências da Educação, na área de especialização em Educação Intercultural - Estudo Etnográfico Crítico, Universidade de Lisboa, Lisboa. Retrieved from http://
hdl.handle.net/10451/8118 .
Freire, P. (2008). Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra.
TED Ideas Worth Spreading (Producer). (2013). Bunker Roy - Universidade dos Pés-Descalços. Retrieved from
https://www.youtube.com/watch?v=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS 2013
(Fotografia de Sílvia Franco)
Jovens em diálogo com instituições escolares
(Fotografia de Catarina Pereira)
13
14. Educação Social
com ciganos. A
diferença Sou eu.
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educação
Social
“Por mim os ciganos iam-se embo- refletir e ver que infelizmente o
espírito humanitário e lutador a
ra para o país deles”; “Para mim os neonazismo está a aparecer na
favor dos direitos humanos. A
ciganos eram todos mortos”; “Por
Europa. Prova disso é o que se pas- minha adolescência no Corpo
mim eclodia o bairro dos ciganos”; sa atualmente na Hungria, que foi
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
“São uma cambada de bandidos,
o primeiro Estado-membro da
despertar para ajudar o próximo,
têm tudo”; ”O Governo só dá o
União Europeia a ser acusado de
os que mais precisam e a respeitar
Rendimento aos ciganos”; etc.,
violar os valores europeus e como
a Natureza e a Pacha Mama
etc., etc. Estas são algumas das
expressões que oiço constante-
consequência a Comissão Europeia (Terra).
suspendeu todas as negociações
A escolha do curso de Educação
mente sobre os ciganos e certa-
com a Hungria até que o país repo- Social foi fácil, faze-lo foi simples,
mente são familiares a muitas pes- nha o Estado de Direito.
praticá-lo é difícil. São muitos os
soas. O desconhecimento das tra-
Atos impensáveis, incontrolados,
obstáculos encontrados na socie-
dições e costumes dos ciganos
desumanos, são todos os dias pra-
dade para se poder trabalhar a
reforça a ignorância da maioria,
ticados contra os ciganos e outros
diferença entre grupos e pessoas.
que se acha superior. A compreen- grupos étnicos em todo o mundo,
O Educador Social tem de ter uma
são e o conhecimento são impor-
mas o grupo dos ciganos é o mais
grande capacidade de adaptação
tantes no processo de integração
sacrificado. Mas porquê os ciga-
aos contextos e aos seus protago-
do grupo étnico e as características nos? É esta a questão para a qual
nistas. Deve saber muito bem o
físicas ou culturais não podem ser
tento obter uma resposta há mui-
que quer e para onde quer ir, ou
motivo de exclusão social.
tos anos e certamente está longe
seja, traçar e definir objetivos. Tra-
Estas expressões não são funda-
de ser respondida.
balhar no que se gosta ajuda a con-
mentadas nem dignas de respeito
Foi, principalmente, devido a um
tribuir para a felicidade, não só a
por quem as diz. Foram pensamen- comentário racista vindo de um
própria mas também a dos outros.
tos, expressões e comportamentos membro da autarquia farense em
deste tipo, que um senhor chama- 2007 (em contexto de estágio da
Assim prossigo o meu caminho
pela Educação Social, traço os
do Adolfo Hitler fez o que fez
licenciatura) que começou a minha objetivos e enquanto não os reali-
durante a 2ª Guerra Mundial, pen- luta mais vincada pelos direitos
zo não descanso.
so que não seja necessário descre- humanos dos ciganos.
Nesta minha aventura pelo
ver, mas vale a pena parar para
“Mundo dos Ciganos”, devo dizer
14
Desde muito jovem que tenho um
15. que um dos momentos mais mar-
ções para os pro-
cante da minha vida foi a visita ao
blemas do grupo
Campo de Concentração de Ausch- étnico. Um dos
witz (Polónia). Ver, sentir, ouvir,
métodos que têm
cheirar, tocar e imaginar tudo o
vindo a ser experi-
que lá se passou foi muito intenso. mentados no sentiMomento inexplicável. Acho que
do da promoção da
qualquer pessoa que visite este
integração deste
local, certamente, vai mudar a sua
grupo tem sido a
opinião e comportamento acerca
execução de proje-
da luta pelos direitos humanos.
tos nacionais e/ou
A experiência em intercâmbios e internacionais com
formações internacionais foram intervenções no
dos momentos mais interessantes terreno que permie importantes para adquirir conhe- tam produzir
cimento e partilhar experiências conhecimento
com outros ativistas ciganos e não acerca dos seus
ciganos sobre os direitos humanos. modos de vida. Na
Já trabalhei com vários grupos de
sua maioria, os pro-
risco (vítimas de violência domesti- jetos não são do
ca, sem-abrigo, crianças com
conhecimento dos
necessidade educativas especiais,
ciganos e muitas vezes não corres- social, reconhecida política e
etc.) mas é a trabalhar com os ciga- pondem às necessidades das popu- socialmente. Contudo, normalnos que “me sinto em casa”. Não é lações. Os principais problemas
fácil falar sobre os ciganos, mas
que afetam grande parte dos por-
mente estes projetos são de carater experimental e são limitados
ainda é mais difícil falar com as
no tempo e no espaço, pelo que
tugueses ciganos são as privações
pessoas não ciganas. O sentimento ao nível educativo e habitacional, o não originam mudanças estruturais
de discriminação está bem presen- desemprego, a inserção no merca- nem permitem obter muitos resulte quando se fala com os ciganos;
do de trabalho, a pobreza, a exclu- tados positivos na integração dos
todos têm uma experiência discri-
são social, as situações de discrimi- ciganos.
minatória para contar.
nação e a marginalização.
A integração social dos ciganos
A legislação portuguesa não dife-
Em Faro, no bairro da Av. Cidade
tem vindo a constituir-se como um
rencia nem reconhece politicamen- Hayward, no bairro da Horta da
verdadeiro imperativo na socieda-
te qualquer minoria étnica no país, Areia e noutros periféricos está
de contemporânea. O resultado
ou seja, do ponto de vista jurídico
concentrada uma parte da pobreza desta afirmação retrata-se na cria-
e político não existem ciganos.
e da exclusão social da cidade, o
Atualmente, trabalhar com ciganos que tem suscitado a intervenção
ção e aplicação de uma medida da
Comissão Europeia (em 2012), o
está “na moda” porque é engraça-
de projetos de luta contra a pobre- Quadro europeu para as estraté-
do ou porque “vem ai dinheiro”
za, maioritariamente financiados
para fazer projetos para os ciganos. De repente, desperta-se a
por fundos europeus. Todos estes dos ciganos, que se prevê melhorar
contextos se caracterizam por uma a inclusão e integração dos ciganos
“consciência” de muitas institui-
forte desqualificação territorial e
15
gias nacionais para a integração
até 2020, e que Portugal também
16. terá a sua estratégia.
grupo.
que prevê a adoção de novos hábi-
Em Portugal, as desigualdades
A ausência de recursos materiais e tos. A resistência dos ciganos à
sociais e as diferenças culturais
económicos traduz-se nas situa-
integração social vai ao encontro
entre os grupos étnicos existentes
ções de pobreza e exclusão social
das discrepâncias entre os direitos
na sociedade ainda não têm visibi- dos ciganos, assim como as dificul- e a identidade étnica. A oposição
lidade suficiente para desenvolver
dades de acesso à educação, à saú- aos valores da sociedade dominan-
processos de politização da etnici-
de, à habitação, ao emprego e aos
te, ou seja, aos aspetos de acultu-
dade, como tem acontecido em
serviços. Os obstáculos à inserção
ração, acontece frequentemente e
vários países da Europa. Os portu-
social deste grupo étnico devem-se por consequência os ciganos
gueses ciganos ainda não estão
principalmente aos baixos níveis
desenvolvem estratégias de adap-
organizados o suficiente para se
de escolaridade, ao desemprego e
tação à modernidade, ao mesmo
afirmarem e lutarem pelos seus
ao estigma criado à sua volta. As
tempo que tentam preservar a tra-
direitos enquanto cidadãos portu-
políticas de integração normal-
dição cultural. Como exemplo,
gueses com tradições culturais pró- mente falham em relação aos ciga- temos o benefício do Rendimento
prias. A falta de comunicação e
nos porque a sociedade tenta mui- Social de Inserção que obriga todas
compreensão entre os ciganos e a
tas vezes a integração através de
as crianças a frequentar a escola,
maioria dificulta a integração do
processos de assimilação cultural,
inclusive as raparigas, o que para
os ciganos é um dilema, entre a
sobrevivência e a preservação cultural. Contudo, é um processo que
está a mudar alguns comportamentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefinição de
identidades. A conciliação do
modo de vida cigano com o Programa de Inserção é dos assuntos
mais problemáticos na relação
Rendimento Social de Inserção
com os ciganos. Para os ciganos, é
uma situação ambígua, onde por
um lado está a submissão ao Estado para receber uns tostões e por
outro lado o desejo de preservação
dos traços culturais.
Para desenvolver o meu conhecimento sobre os ciganos, desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo. De modo a procurar conhecimento e partilhar o meu trabalho, já participei em vários congressos nacionais e internacionais,
pois são os melhores locais para se
16
17. Relativamente à perceção do
estar atualizado e fazer contatos.
de Faro em Novembro 2012, das
Em Junho de 2013, defendi a
550 famílias referentes ao protoco-
princípio de solidariedade para
minha dissertação de mestrado
lo de RSI, 145 são agregados fami-
os beneficiários ciganos o apoio
sobre o Rendimento Social de
liares ciganos, que correspondem a
do RSI como um direito e não
Inserção e os Beneficiários Ciganos 599 beneficiários. Como se pode
no Concelho de Faro, onde dei
constatar os ciganos não são a
como uma medida de solidariedade social de uns cidadãos para
uma particular atenção às injusti-
maioria dos beneficiários do RSI.
os outros;
ças contra os ciganos. A importân-
Mas porquê tanta perseguição
Os técnicos queixam-se da falta
cia do trabalho de terreno permitiu contra eles? De forma sucinta pos-
de criatividade na elaboração
tomar consciência dos inúmeros
so partilhar as conclusões do meu
dos Programas de Inserção;
sacrifícios que os beneficiários
estudo:
ciganos fazem para sobreviver
A importância atribuída ao RSI
dade não tem respostas para a
numa cidade desenvolvida. A reali-
pelos beneficiários ciganos é
inserção social dos beneficiários
dade não é como muitas pessoas
imensa, dada a precariedade em
de RSI, o que se traduz nas difi-
pensam. Alguns dados sobre o RSI,
que vivem e tentam conciliar o
culdades no combate à pobreza.
como por exemplo um estudo do
modo de vida cigano com o Pro- Concluído o trabalho e depois de
Instituto da Segurança Social de
grama de Inserção;
Dezembro 2008 estimou que exis-
A perceção de discriminação é
Os técnicos sentem que a socie-
apresentadas as conclusões importa agora apresentar algumas refle-
tiam 5275 famílias ciganas benefi-
sentida pelos beneficiários ciga- xões no sentido de uma melhoria
ciárias do RSI, correspondente a
nos nos vários domínios da vida
da eficácia das futuras políticas
21100 beneficiários, perfazendo
um peso de 3,9% total de famílias
social: procura de emprego, no
acesso aos serviços e por rece-
sociais de combate à pobreza
entre os ciganos:
beneficiárias do RSI; no Concelho
berem o RSI;
Formação específica para técni-
17
18. cos que trabalhem com ciganos;
Desenvolver Programas de
os estereótipos existentes na
Atualmente, o termo ciganofobia
sociedade.
ou romafobia, está presente em
Inserção adequados às necessidades das famílias ciganas, de
muitos discursos de ativistas para
Alguns ciganos adotam atitudes de os direitos humanos, que tentam
modo a facilitar a sua integração autoexclusão e conformistas sobre denunciar as inúmeras situações
social e reduzir as situações de
as expectativas que a maioria faz racistas e discriminatórias contra
acomodação;
de si e preferem não “lutar”, ao os ciganos em vários países, apesar
Apostar na criação do próprio
emprego;
Numa lógica de discriminação
assumirem comportamentos resi- de muitas vezes passarem desperlientes. Importa realçar que os cebidos.
ciganos são cidadãos portugueses Ninguém disse que trabalhar com
positiva, para combater a discri- e como tal, cidadãos de direitos e ciganos é fácil, mas também não é
minação negativa, apostar na
deveres como está estabelecido na impossível. Basta acreditar e res-
contratação de beneficiários
Constituição da República Portu- peitar. E assim sinto-me uma Edu-
ciganos nas empresas públicas;
guesa. Porém, a maioria não se cadora Social diferente e continuo
Criação de uma associação mista reconhece como tal, isto porque a minha luta pela defesa dos direi-
constituída por ciganos e não
não veem reconhecidas as suas tos humanos dos ciganos.
ciganos no Concelho de Faro,
tradições e traços culturais e pelo
com o objetivo de defender os
contrário, são cercados pela discri-
interesses do grupo e minimizar minação e diferenciação.
18
19. Educar para a
diferença
Susana Rebocho
Educadora Social
Questiono inúmeras vezes o signifi- rização excescado de diferença, de indiferença,
siva da instru-
de diferente ou desigual. Qual é o
ção em detri-
sentido da diferença nas práticas
mento de uma
educativas? Qual é a intenção da
conceção mais
diferença na interculturalidade?
ampla de educação onde a dimen- culturalidade, na dimensão ética
Afinal o que é ser diferente e o que são pessoal e social são claramente do processo educativo.
isso tem a ver com educação?
subalternizadas.
Diferença, segundo o dicionário da Não é de todo minha intenção
Não sou defensora da educação
para a diferença, sou sim apologis-
língua portuguesa, é o caráter que
ta de uma valorização da diversida-
apontar criticas ao trabalho dos
distingue um ser de outro ser, uma professores, muito pelo contrário.
de – educar para a diferença pode
coisa de outra coisa. Simples de
Há 7 anos que trabalho em escolas levar-nos, em última instância, a
entender!
e durante este tempo tive o privilé- acentuar a distância entre as pes-
Mas a forma como este carácter,
gio de conhecer profissionais
soas, a destacar as suas desigual-
que distingue um ser de outro, é
extremamente conscientes do seu
dades, a salientar alguma diferen-
considerado nas práticas educati-
papel de educador. A questão aqui ciação. Na valorização da diversi-
vas e na intervenção social origina
é essencialmente politica e muito
dade, as práticas educativas desen-
muita discussão.
acima do que qualquer educador
volvem-se em torno do respeito,
Se por um lado a educação espe-
possa sequer tentar mudar.
da responsabilização individual, da
cial, as adaptações curriculares ou
O que me tranquiliza neste cenário liberdade pessoal.
a criação de turmas alternativas
é o facto da “escola”, ou melhor,
A minha experiência de interven-
tentam responder à diversidade de dos professores, reconhecerem a
ção social nas escolas é particular-
alunos, por outro, os alunos que
importância da “pessoalidade” do
mente com os alunos de etnia ciga-
não são incluídos nessas alternati-
ensino e recorrerem a apoios
na, por ser a única minoria com
vas, fazem parte de turmas com o
externos. Aqui entra o trabalho do uma grande representatividade
dobro dos alunos que seria funda-
educador social, do assistente
nos agrupamentos onde trabalho.
mental à aprendizagem dos con-
social, do psicólogo, do terapeuta.
E esta é sem dúvida uma experiên-
teúdos curriculares exigidos, bem
É neste hiato que a intervenção
cia riquíssima!
como ao desenvolvimento bio-
social tem o seu lugar na escola: na O combate ao absentismo e aban-
psico-emocional saudável. O que
diferença, na diversidade, na inter- dono escolar são os objetivos
acontece na realidade é uma valo-
19
gerais da intervenção, suportados
20. pelos objetivos da valorização da
diversidade: conhecer-se a si mes-
cos; Como integrar a sua experiên- da surge na educação inclusiva
cia de vida de modo coerente com como Ensino Cooperativo – ensino
mo, conhecer o outro, ser capaz de a função específica da escola. Con- baseado na colaboração entre o
interagir numa contínua constru-
sidero que os trabalhadores sociais professor titular de turma e um
ção de identidade, de afirmação
nas escolas, dotados de um saber e auxiliar, um outro colega ou um
dos valores. Para além da interven- de ferramentas indispensáveis à
outro profissional. Considero que
ção direta com os alunos e famílias inclusão, têm um papel crucial jun- na intervenção com os alunos de
de etnia cigana, a intervenção com to da comunidade educativa glo-
etnia cigana, em contexto escolar,
os professores e comunidade esco- bal: alunos, professores, auxiliares
este ensino cooperativo assume
lar assume também uma grande
uma grande importância: é aqui,
de educação e encarregados de
importância neste trabalho inclusi- educação. A intervenção isolada
através de um apoio específico
vo. Os professores questionam
que, por inúmeras razões, não
não ajudará na inclusão: a inter-
muitas vezes como lidar com crian- venção com todas as partes envol- pode ser dado pelo professor
ças que apresentam hábitos e cos- vidas criará pontes, aproximará
durante a rotina diária na sala de
tumes diferentes das demais crian- pessoas, potenciará o sucesso
aula, que se avança no combate ao
ças e como “adaptá-las” às nor-
escolar, o desenvolvimento pes-
insucesso escolar; é aqui que se
mas, condutas e valores vigentes;
Como ensinar-lhes os conteúdos
soal e social, e consequente inclusão social.
cria um espaço de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
que se encontram nos livros didáti- Este tipo de intervenção concerta-
20
mente; é aqui que os alunos come-
21. çam a ganhar as competências pré- qualquer intervenção educativa;
mediadores sócio-culturais: a
escolares que os demais alunos já
criar um sentimento de pertença – mediação é uma técnica que con-
adquiriram; é aqui que se tenta
essencial ao bem estar, interesse e tribui em larga escala para que a
“apanhar o comboio” e desenvol-
motivação. O insucesso escolar
ver capacidades.
traduz-se na maior parte dos casos possível; é um processo comunica-
realidade intercultural se torne
Outra característica do ensino coo- por um desinteresse continuado,
cional de transformação social que
perativo é o combater o isolamen- um descrédito crescente em rela-
requalifica as relações sociais e
to do professor. Os professores
aprendem com as estratégias dos
ção à função da escola enquanto
concebe novos percursos onde é
instituição educativa e socializado- possível entender o outro como
outros e obtém um feedback ade-
ra. Outra condição essencial é a
quado. Consequentemente, a coo- adoção de técnicas de comunica-
diferente; é uma ponte, uma aproximação, um verdadeiro diálogo
peração não é apenas eficaz para o ção eficazes. É nas falhas de comu- onde a mensagem é entendida
desenvolvimento cognitivo e emo- nicação que nascem muitos dos
claramente. Sem esta ponte, sem
cional, mas permite responder às
entraves à educação para a dife-
este “entendimento” a diferença
necessidades dos professores.
rença, é a comunicação que deter- só se torna mais excluível, a diver-
Nos esforços da educação inclusiva mina o sucesso das práticas de
sidade só se torna mais intolerável
e da educação intercultural, deve-
e desvalorizável; sem este diálogo
intervenção. Nesta linha e conti-
rão estar presentes algumas condi- nuando na intervenção com os
real de compreensão e transmis-
ções: desenvolver atitudes positi-
alunos de etnia cigana, sou séria
são concreta de propósitos e nor-
vas – é essencial ao sucesso de
defensora da contratação de
mas culturais, continuamos a
21
22. fomentar o “assimilacionismo”,
que a escola silencie as vozes que
sociais deverão promover o direito
criando contextos desfavorável à
lhe pareçam dissonantes do discur- de todos à educação e à igualdade
igualdade de oportunidades.
so culturalmente padronizado. Em
de oportunidades, educar dentro
A educação para a diferença, ou
última instância a escola deverá
de uma perspectiva de cidadania
valorização da diversidade, deverá trabalhar para uma diversidade de plena.
seguir no sentido de combater a
seres que estão inseridos num
desigualdade, tentando impedir
mundo diverso; os trabalhadores
22
23. Um ato de amor
Ana Sofia Bexiga
Educadora Social
Até há alguns meses atrás, tam-
Biblioteca, e do
bém eu fazia parte do grupo dos/
apoio incondicio-
das muitos/as Educadores/as
nal das minhas
Sociais a quem a deficiência física e colegas, as ideias
mental assustava (enquanto área
começaram a
de trabalho), e bastante…
surgir.
Mas, o "destino" (ou...chamem-lhe Apesar de a
o que quiserem!) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
minha experiência ser ainda muito curta, atual-
No âmbito do CAO, a minha função
trabalhar nesta área. Cheguei a
mente, sinto-me mais segura e a
é Monitora de Expressão Corporal.
desejar que depois da entrevista
gostar muito do que faço!!
O dia de trabalho está dividido em
não me telefonassem, mas, ao
A Instituição na qual estou a
cinco tempos (três de manhã e
mesmo tempo, a convicção de que desenvolver um CEI (Contrato
dois à tarde), sendo que em cada
nada é por acaso falou mais alto!
tempo contamos com um grupo
Emprego-Inserção) possui um Lar
Se o IEFP me tinha convocado, e se Residencial para Deficientes e,
diferente dentro da sala.
na Instituição, depois da entrevis-
como complemento, um CAO
Quanto às atividades dinamizadas,
ta, me tinham selecionado, era
(Centro de Atividades Ocupacio-
de uma forma geral, centram-se
porque o desafio tinha que ser
nais). No total, temos quase qua-
em dinâmicas e jogos de controlo e
aceite!
renta utentes/clientes, sendo que
perceção do corpo (onde se
Os primeiros tempos foram um
apenas oito vão e vêm todos os
incluem dramatizações simples, e a
(des) equilíbrio considerável entre
dias, de segunda a sexta-feira, das
questão dos sons); de cooperação;
o adaptar-me àquele público tão
9h às 17h. Os restantes clientes/
os jogos de mímica; o recurso a
especial e ser aceite por eles e,
utentes vivem no Lar da Institui-
fantoches; as sombras chinesas;
noutro prisma, corresponder àque- ção.
la que era a minha função - traba- Sobre as suas deficiências, temos
percussão, como forma de explorar os sons produzidos através do
lhar a expressão corporal...!!
um pouco de tudo, desde deficien- próprio corpo; e ainda em algumas
Foi "partir pedra" durante vários
tes mentais (profundos, modera-
dias mas, no seguimento das mui-
dos e ligeiros), a deficientes físicos, Nas minhas sessões, a música é um
tas conversas que fui tendo (que
portadores de trissomia 21, parali- elemento sempre presente, quer
agradeço de coração!), das muitas
sia cerebral, até portadores de sín- como base de trabalho, na medida
horas de pesquisa na Internet e na dromes diversas.
23
dinâmicas que provoquem o riso.
em que possa ser parte integrante
24. da dinâmica a desenvolver; quer
com as quais trabalho, os objetivos soas com e para as quais trabalha-
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador.
das atividades que proponho não mos.
podem ser demasiado ambiciosos. A motivação é outro aspeto extre-
A participação e contributo dos
Tem que se considerar, sempre,
utentes são promovidos ao máxi-
que qualquer um deles levará mais a todo o meu trabalho. Apesar de a
mo em cada uma das dinâmicas,
tempo a atingir o que se pretende, minha função ser trabalhar a área
que podem ser (e são muitas
do que levará uma pessoa sem
da Expressão Corporal, o meu prin-
vezes!) adaptadas e reajustadas,
deficiência; e que, para alguns,
cipal e primário interesse e foco
de modo a ir ao encontro das
pelo teor das limitações que pos-
deverá ser a satisfação, estabilida-
mamente importante e transversal
necessidades, gostos e motivações suem, ser-lhes-á mesmo impossí-
de e bem-estar dos utentes/
de cada um.
vel avançar mais que um determi-
clientes. Relembro que trabalho
A Instituição conta ainda com
nado nível dentro de um exercício. num CAO, cujo objetivo é promo-
transporte próprio, pelo que, sem- No início do meu trabalho com
ver atividades que ocupem estas
pre que surge a oportunidade
esta população, não tinha noção
pessoas (como o próprio nome
(mais no verão, pelas condições
do quão importante é termos sem- “CAO” indica), não havendo uma
atmosféricas propícias), efetuamos pre presentes estas ideias, mas
componente de reabilitação.
saídas ao exterior com os utentes/ hoje reconheço que são funda-
Quando se conseguem reunir estas
clientes, que são sempre muito
apreciadas!
mentais, quer para não nos frustrarmos a nós próprios, quer para
três condições, todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
Pelas especificidades das pessoas
não frustrarmos as próprias pes-
mente! No entanto, quando por
24
25. algum motivo algum deles ou o
verdadeiras "luzinhas"! Com carac- então agimos como se fosse essa
grupo não está bem, todo o traba-
terísticas, patologias e feitios todos criança de dois, cinco ou dez anos!
lho corre o risco de ficar compro-
diferentes entre eles, mas com
Baba-se muito, então recorremos
metido, sendo que a intervenção
uma pureza muito superior à nos-
ao babete e não deixamos descu-
deverá ser redirecionada, passan-
sa, que só equiparo à das crianças
rar a higiene! Não consegue sorrir
do essencialmente por tentar esta- (enquanto nós não começamos o
com a boca, mas o coração passa a
bilizar o elemento ou grupo, para
nosso processo de socialização e
mensagem aos olhos, e eles sor-
que possa (m) voltar a encontrar a
não as viciamos...apesar do melhor riem pela boca que não o consegue
tal estabilidade e bem-estar.
que tentamos fazer, e fazemos!).
fazer!!
Para concluir, por tudo o que já vivi Não fala nem ouve, mas com-
Foi pelo desafio que aceitei este
e experienciei durante estes últi-
preende gestos! Não pode usar as
trabalho e, hoje, é com muito
mos meses, acredito plenamente
pernas para andar, mas serve-se
amor que o faço, dando o melhor
que as pessoas com e para as quais das rodas da cadeira! Tem capaci-
de mim e tentando evoluir sempre.
trabalho, são pessoas com uma
dade mental ao nível de uma crian- Até quando?!? Até que o "destino"
missão extremamente especial,
ça de dois, cinco ou dez anos,
25
assim o queira!!! Bem-haja!!!
26. Testemunho de um estágio
com pessoas com
deficiência
Catarina Aleixo
Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen- lidamos com mais frequência
ciatura em Educação Social pela
no nosso dia-a-dia.
Escola Superior de Educação do
Esta instituição onde estagiei
Instituto Politécnico de Bragança.
acolhia nas suas instalações clien-
No meu segundo ano do curso
tes com diversas tipologias de defi- ções. Mas se experimentassem,
(2010/2011) realizei o estágio
ciência (auditivos, esquizofrenia,
numa instituição de pessoas com
mentais, motores, multideficiência, se fossem dissipando como acon-
deficiência, mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
física, portadoras de paralisia cere- teceu no meu caso, pois muitos
bral, visuais e tetraplégica).
deles conseguem fazer o mesmo
cionais) dessa instituição.
Contactei pela primeira vez com a
que nós e que os outros. E outra
Existia uma vasta lista de locais
instituição a 25 de Outubro de
coisa, talvez se admirassem e ficas-
para estagiar, mas apenas uma
2010. Embora o estágio fosse de
sem surpreendidos pois muitos
instituição tinha como população-
observação do funcionamento da
deles têm vontade de aprender
alvo pessoas com deficiência.
instituição, foi logo estabelecido
coisas novas e ficam felizes por
Antes de conhecer essa lista de
que era importante interagir com
conseguir fazer determinadas coi-
locais, já tinha na ideia de que se
todos os profissionais e clientes.
sas.
tivesse possibilidades gostaria de
No início havia um pouco de receio A instituição onde estagiei possuía
estagiar com este tipo de popula-
devido ao facto de não saber como diversas salas onde os clientes rea-
ção.
haveria de lidar com os clientes,
outra população sem tantas restritalvez essas ideias e esses medos
lizavam atividades ao longo do dia.
E o porque de querer estagiar com mas com o passar do tempo estes
A sala das T.I.C. permitia que os
essa população? Em primeiro
medos foram-se dissipando.
clientes adquirissem as competên-
lugar, porque este tipo de popula-
Muitos educadores sociais, se lhes
cias básicas em Tecnologias da
ção é uma população muito diver-
perguntar se gostariam de traba-
Informação e Comunicação; elabo-
sificada, pois existem diferentes
lhar com este tipo de população,
ravam artigos para o Jornal de
tipos de deficiência. Em segundo,
talvez digam que não gostariam
Parede e realizavam jogos interati-
porque existiam pessoas de dife-
muito. E porque não? Talvez por-
vos. Na sala de atelier efetuavam
rentes idades o que me permitia
que têm o mesmo receio que eu
trabalhos manuais na área da tape-
lidar com jovens, adultos e idosos.
tinha. Porque têm medo em não
çaria, pintura em tela, trabalhos
E em terceiro, porque com idosos,
conseguir fazer o mesmo trabalho
em pedra, rendas, bordados e
crianças e adultos dito “normais”
como eles como o fariam com
malhas, fada do lar. Na sala de
26
27. Construção em pedra por parte de um cliente da
instituição
recreação e lazer realizavam-se
natação, caminhadas).
pudessem desenvolver certas
diversos jogos.
Ao logo do meu estágio de obser-
capacidades que estavam menos
Realizavam-se, também, atividades vação colaborei em diversas ativi-
desenvolvidas.
recreativas e de lazer (visitas a
dades tentando corresponder às
Na sala de ateliê de arte e artesa-
museus e monumentos, bibliote-
dificuldades de cada cliente. Auxi-
nato foi-me possível observar a
cas, jogar dominó e cartas, televi-
liei na elaboração de textos escri-
elaboração de tapetes e carteiras
são, cinema e teatro), atividades
tos à mão e no computador, ajudei feitos de trapilhos realizados por
pedagógicas (jogos psicopedagógi- em diversas fichas de exercícios de um senhor e por uma senhora invicos que contribuem para o desenvolvimento e para uma aprendiza-
matemática e de português
suais.
(escrever os números e a sua leitu- Ao interagirmos com pessoas com
gem mais significativa) e atividades ra, elaboração de figuras geométri- deficiência, devemos ter permadesportivas (expressão corporal/
cas, preenchimento de frases com
nentemente presente as limitações
musicoterapia para que os utentes os respetivos verbos, entre outras), que cada um possui e tentarmos
realizem movimentos com o seu
participei na realização de diversos ajudar a ultrapassar essas dificul-
corpo, ginástica de manutenção,
jogos didáticos para que os utentes dades.
Pinturas de Carnaval
27
Atividades de desenvolvimento da matemática
28. Construção de um puzzle
A pessoa com deficiência depara-
Atividades de desenvolvimento do português
nal para elevar a sua autoestima,
se com diversos problemas na nos- para contribuir para a sua integra-
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
sa sociedade, particularmente no
ção na sociedade e sobretudo para locomoção, de aprendizagem, de
que diz respeito a questões de
que as pessoas desconstruíssem o
exclusão social.
mito de que os deficientes são pes- ultrapassadas com ajudas de fami-
Enfrentam diversas barreiras em
soas inválidas, pois eles podem
liares, amigos, técnicos e principal-
relação à locomoção, dificuldades
contribuir para o trabalho e suces-
mente por eles próprios.
exclusão…), essas dificuldades são
para terem acesso a diversos locais so de qualquer empresa como
(escolas, prédios, instituições,
outra pessoa qualquer.
Cumprimentos Sociais
entre outras) e na utilização de
Considero que o meu estágio veio
transportes públicos.
completar a minha apren-
É de grande importância sensibili-
dizagem, pois colocou-me
zar e informar a comunidade para
em contacto com uma
esta problemática da deficiência,
realidade que até ao
revelando as capacidades destas
momento me era um pou-
pessoas facilitando o seu processo
co desconhecida e permi-
de integração sócio profissional.
tiu-me tomar contacto
Através de campanhas de sensibili- com pessoas com diferenzação, nós, técnicos, podemos sen- tes dificuldades. Alguns
sibilizar a comunidade para esta
clientes tinham dificulda-
problemática e através da exposi-
des de leitura, outros na
ção e da divulgação de trabalhos
matemática, outros em
elaborados (trabalhos manuais)
determinados dias não
por pessoas com deficiência pode- lhes apetecia fazer nada…
mos demonstrar muitas das capa- as dificuldades eram divercidades que estas pessoas têm. Era sificadas e eu tinha que
importante que estas pessoas con- me adaptar
seguissem uma interação profissio- às dificuldades deles.
28
Eu, na elaboração dos fatos de Carnaval
29. A bússola individual da
aceitação do diferente
Daniela Azevedo
Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
retórica, teoria decorati-
patamar cognitivo desconhecido
va, ilusão mental, de
ou pouco visitado por cada um de
quem lê um mero texto
vocês. E porquê? Porque para
na web e se encontra
mim, sempre que optamos apenas enclausurado em seu
pelo convencionalismo, pelo cami- escritório.
nho que sempre foi seguido, pelos
O que eu quero dizer é que basta-
Como perceberão em breve neste
padrões que definimos como nor-
va confrontar o leitor com uma
texto, este não vai ser um caminho
mais, não estamos a crescer e
cultura ou uma história muito afas- fácil mas é preciso que alguém se
como consequência se não cresce- tada da sua realidade para rapida-
atreva a fazê-lo! Conto convosco
mos individualmente, a sociedade
mente toda essa aparente concor-
para fazermos juntos esta viagem
não evoluirá.
dância se desvanecer e ser facil-
cognitiva, reflexiva e emocional.
Há uma ligação entre o nosso
mente abalada.
Toda a Educação Cívica implica a
crescimento individual e as mudan- A minha missão neste texto é para assunção de regras e todas essas
ças sociais. Não existem mudanças além de vos dar a compreender o
regras cívicas parecem emergir de
sociais se não existirem mudanças
que é a Educação, Educação Cívica, um medo intrínseco da essência do
no subconsciente individual, um a
Civismo e vida em sociedade é
ser humano. Será que com o
um até alastrar e atingir o subcons- mostrar vos o que é diferente,
desenvolvimento do autoconheci-
ciente coletivo. Isso acontece sem- muito diferente… e conduzi-los
mento, do equilíbrio espiritual, da
pre que a maioria das pessoas se
empatia e maior literacia emocio-
habilmente a um enamoramento
encontrar em posição de mudança do diferente através do conheci-
nal seria necessário esta “prisão de
e de ousadia.
mento do belo que mora no con-
regras” a que por vezes estamos
O leitor tal como a maioria das
teúdo do diferente e do estranho
sujeitos numa sociedade que
pessoas nesta altura acenará com para nós. É na empatia que mora a denominamos de civilizada?
a cabeça evidenciando um concor- felicidade da sociedade de amaTal como pergunta o título, como
dância a afirmativa à minha
nhã, é disso que estou a falar e isso aceitar e a amar o diferente sem
expressão acima identificada, mas
não será possível se eu não conse-
essa sua aparente concordância
guir apaixonar-me pelo que é dife- Ao ler o texto, vá atribuindo uma
com o meu artigo trata-se de mera rente.
29
viver aprisionado de regras cívicas?
pontuação, entre zero e dez que
30. quantifique o seu grau de aceita-
mente de acomodam, se adaptam
que ceguemos a nossa visão racio-
ção e entendimento do diferente.
e se inserem numa estrutura roti-
nal a atos humanos pouco dignos
A cultura que escolhi para vos
nizada, como a escola. Serão ape-
que encontremos nesta ou em
desafiar trata-se da cultura cigana. nas os ciganos que não se encon-
outra cultura.
O motivo que me levou a tal esco-
O importante é conhecermos o
tram integrados?
lha, deve-se ao facto de considerar Os pais, na sua grande maioria, são belo de cada cultura e encaramos
próximo da excentricidade a exis-
feirantes e comerciantes indivi-
esse atos humanos pouco dignos
tência de uma comunidade dotada duais, provavelmente devido ao
como algo que faz parte da huma-
de tão particulares especificidades preconceito, que gera dificuldade
nidade e jamais cairmos no erro
culturais, que milagrosamente
de aproximação e integração social essencial de caracterizarmos esses
resistiram às reconstruções sociais, em outra atividade.
erros como fazendo parte de uma
assegurando a manutenção das
cultura.
Fortemente etnocêntricos pos-
suas características culturais que o suem leis internas, valorizam a
Mesmo que racionalmente, à pri-
definem como povo, ainda que as
união do seu grupo e a manuten-
meira vista seja isso que vê, não
consequências discriminatórias se
ção das suas tradições.
alimente esse pensamento “erva-
edifiquem e alastrem fortemente,
Possuem um sotaque específico, e
daninha”. Grandes atrocidades que
principalmente devido à ignorância se recuarmos na história, constata- foram cometidas no mundo comee incompreensão da história e dos
remos que dispõem de uma língua çaram com esse pensamento erva-
valores da comunidade cigana.
de origem, o Romani.
daninha de que determinadas ati-
Possuem um sistema cultural
A Musica, a dança, as festas gran-
tudes negativas pertencem a
estruturado num tipo de cultura
diosas, os casamentos precoces, a
determinada classe.
ágrafa, de transmissão oral, valori- importância da virgindade, e o res- Como pode observar, o pensamenzam a aprendizagem prática, ape-
peito pelos mais velhos são outros
to racional nem sempre nos con-
nas a suficiente para desempenha- fatores que importa realçar, quanrem os seus trabalhos quotidianos, do tentamos caracterizar este
duz ao melhor caminho, este é um
desses casos.
e consideram os ensinamentos
Gerir empatia com lógica requer
povo cigano, motivos pelos quais
para além desta linha, desnecessá- são fortemente estigmatizados.
uma mente que processe pensa-
rios.
Como se encontra agora a sua
mentos de forma flexível e multidi-
A escola é encarada um território
bússola de aceitação do diferente mensional. Como conseguimos
desconhecido e ameaçador, pois, a agora?
isso? Como sabemos se temos uma
sociedade é uma estrutura hege-
Acredito que quando maior é o
mente flexível? Essa questão ficará
mónica, e como tal, frequente-
conhecimento que obtemos sobre
para um próximo texto….até lá…
mente discrimina a especificidade, determinae como consequência a criança
do ele-
cigana sente-se inferior à maioria.
mento
Essa circunstância que contribui
diferente,
para o tão frequente absentismo e mais estaos baixos níveis de sucesso escolar. remos próOs ciganos são instintivos e espon- ximos de
tâneos, logo, de cultura pouco dis- os aceitar
ciplinada.
e amar.
De espirito nómada, valorizam a
Isso não
liberdade, e devido a isso, dificil-
quer dizer
30
31. Cercipóvoa
A Cercipóvoa é parceira da APES,
para cada criança e jovem deficien- impedidas de residir no seu meio
e nesta edição fomos visitá-la para te, de acordo com as suas necessi-
familiar.
conhecer o trabalho que desen-
Centro de atividades ocupacionais
dades e potencialidades, de uma
volvem, a equipa, crianças, jovens forma o menos restritiva possível.
– É destinado a pessoas com defi-
e adultos que a frequentam.
Tem como objetivos o desenvolvi-
ciência mental grave, profunda ou
mento da autonomia e indepen-
com multideficiência, com os obje-
A CérciPóvoa é uma cooperativa
dência pessoal, a aprendizagem de tivos de facilitar o desenvolvimen-
de solidariedade social, fundada na uma comunicação alternativa, o
Póvoa de Santa Iria, em Maio de
aperfeiçoamento da motricidade
to possível das capacidades remanescentes das pessoas com defi-
1977 por um grupo de pais e ami-
global e fina e a promoção do rela- ciência grave, criar condições para
gos de crianças e jovens portado-
cionamento interpessoal, sempre
res de deficiência. Esta Instituição
com a finalidade de fornecer bases nar a oportunidade de realização
presta vários serviços a crianças,
para a transição para a vida adulta. pessoal. As atividades são variadas,
jovens e adultos com deficiência
As atividades são feitas tanto em
desde as sensório-ocupacionais às
ou sem deficiência, e apoia várias
sala de aula, como no exterior.
laborais e laborais em contexto de
famílias desfavorecidas.
Centro de Atendimento Residen-
trabalho.
Algumas das respostas sociais/
cial – Presta atendimento em Lar
Centro de Recursos para a Inclu-
serviços são:
Residencial a 30 pessoas portado-
são – Estrutura que disponibiliza
uma maior autonomia e proporcio-
Centro de Apoio Sócio educativo – ras de deficiência mental, maiores
técnicos especializados para traba-
Aqui é criado um projeto de vida
lhar nas escolas através de uma
31
de 16 anos, que se encontram
32. parceria com o Ministério de Edu-
de Emergência Alimentar
lar. O meu trabalho é um trabalho
cação, para prestação de serviços
Programa Comunitário de ajuda
vasto e abrangente. Acima de tudo
complementares para apoio à
alimentar a carenciados – Que
é um trabalho e apoio e de garantir
inclusão.
apoia 75 pessoas, através do forne- que todas as áreas e serviços
Centro de Intervenção e Orienta-
cimento de géneros alimentares.
ção Precoce – Consiste na inter-
desenvolvam o seu trabalho. Quando necessário, e são bas-
venção em crianças dos 0 aos 6
O entusiasmo e dedicação que os
tantes vezes, carrego móveis,
anos com deficiência ou atraso
profissionais que trabalham nesta
biombos, cadeiras, alimentos, faço
grave no desenvolvimento, assim
Instituição têm pelo seu trabalho é de motorista, desentupo canos,
que detetado. Para além de se
notório, como podemos verificar
faço de jardineiro, enfim, o que
assegurar condições facilitadoras
nos testemunhos que deram para
seja necessário. Todos os dias são
do desenvolvimento da criança,
o nosso Boletim:
um desafio...mas em nossa casa
apoia também os pais.
fazemos o que é necessário!
ATL Centro de atividades lúdicas e É a minha vida é fazer aquilo que
Luís Carlos Santos – Diretor Geral
expressivas – Frequentado por
gosto. Além de uma grande res-
da Cercipóvoa
crianças dos 1º, 2º e 3º ciclos e de
ponsabilidade é um orgulho muito
Jardins de Infância da área, nos
grande poder contribuir para a
Enfim, monotonia não é algo que
tempos livres
qualidade dos serviços que presta-
eu sinta no meu dia-a-dia, e espe-
Cantina Social – Que apoia 100
mos à Comunidade em geral e à
cialmente porque me sinto muito
pessoas, no âmbito do Programa
pessoa com deficiência em particu- realizada no trabalho que desen-
32
33. volvo. Gosto muito de trabalhar na Trabalhar na Cerci para mim é a
às 08.40, fico na sala das saídas. Às
Cercipóvoa, sobretudo pelas pes-
minha vida, e não me vejo a traba- 09.00h vamos para as respetivas
soas com quem trabalho que me
lhar noutra coisa, porque viver
fazem sentir que vale a pena dar-
para estes utentes e fazer algo por dades. A atividade diária é o emba-
mos tudo que sabemos e temos
eles todos os dias é sentir-me reali- lamento de talheres onde fico com
nesta causa que partilhamos em
zada todos os dias. Os meus dias
os meus colegas até mais ou
conjunto.
de trabalho na Cerci são dias de
menos às 11h. Há dias em que
Teresa Pedras, Psicóloga – Direto- muito trabalho e animação. São
salas, onde realizo algumas ativi-
tenho atividades desportivas, como
ra Técnica do Centro de Orienta-
dias também de terapia emocional, o pavilhão e piscina. Pelas 12h vou
ção Precoce e Coordenadora Téc-
quando me sinto mais em baixo de almoçar ao refeitório, regressando
nica do Centro de Recursos para a forma. Claro que existem dias
depois à sala pelas 13h, onde “bato
inclusão
melhores e dias piores, mas com
uma sorna” (descanso um pouco).
boa vontade e bom senso, tudo se
O resto da tarde realizo atividades
Para mim trabalhar na Cercipóvoa vai resolvendo.
lúdicas. Eu faço parte de um grupo
é um privilégio mas também uma
de dança, pelo que em determina-
Paula Loução – Monitora
grande responsabilidade, saber
que diariamente os nossos jovens
dos dias tenho ensaios. Tenho ainConversámos, também, com a Ana da aulas de Competências Pessoais
contam com a nossa presença para Paula Serrano, uma Utente da Cer- e Sociais e sessões de terapia da
os ajudar na satisfação das suas
cipóvoa, que nos contou as várias
fala. Lancho pelas 15.30. Regresso
necessidades, garantindo desta
atividades que preenchem o seu
ao CAR pelas 17h. No CAR fico a
forma a sua qualidade de vida e o
dia-a-dia:
aguardar pelas 19 horas que é a
seu bem-estar. É uma felicidade
Acordo por volta das 06.30h (eu
hora do jantar, vou andando de um
saber que diariamente podemos
normalmente acordo a esta hora).
lado para outro, conversando com
fazer a diferença na vida de
alguém tão especial como os nos-
Com a ajuda das funcionárias faço
a minha higiene pessoal, indo
as funcionárias e alguns colegas
com quem me identifico. Aproveito
sos utentes.
depois pelas 8 horas tomar o
também para ler e ver algumas
Cristina Silva – Professora
pequeno almoço, tudo isto no CAR. revistas. Janto pelas 19 horas e
Desço para o CAO mais ou menos
depois vejo televisão até às 23h
que é a hora em que me vou deitar,
até ao outro dia.
Frequentar a Cerci é bom, porque
tenho atividades e saídas. Se estivesse em casa não tinha esse tipo
de coisas. É uma forma de passar o
tempo, os dias tornam-se mais
fáceis e rápidos de passar.
A equipa da APES congratula a Cercipóvoa pelo trabalho tão importante que realiza, e aproveita, também, para agradecer a ajuda que
sempre tem dado à APES. Obrigada
pela visita!
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