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LENDA DA COVA
                   DA MOURA
                                       António Torrado
                                       escreveu e
                              Cristina Malaquias ilustrou



                                                                         23 de Maio
                                                                   Dia de Portalegre




    Tantas lendas de mouras que há e eu ainda não contei
nenhuma. Esta soube-a, quando andava a passear na Serra
da Penha, para as bandas de Portalegre.
   Cada cidade tem muitas histórias para contar. Falam as
pedras, murmuram as árvores, segredam as fontes o que as
pessoas não vêem nem sabem. Esta lenda da Cova da
Moura mergulha as suas raízes mais fundas nas encostas da
Serra da Penha. Vamos conhecê-la.
   Dantes, muito antes de haver Portugal, os mouros
ocupavam aqueles lugares. Mas raramente viviam em paz.
Quando as disputas entre eles gritavam mais alto do que o
bom senso e a cortesia, que deve regular sempre as
relações entre vizinhos, quando das ameaças passavam aos
actos, rompia a guerra e faiscavam as cimitarras.

                                              1
© APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
Um chefe mouro, reconhecendo que não tinha tropas que
chegassem para enfrentar um aguerrido exército invasor
dos seus domínios, abandonou o amuralhado da cidade e
refugiou-se com a família e a corte nos brejos da serra.
Carregadas por escravos iam, no meio do apressado corte-
jo em fuga, as arcas cheias de tesouros, para serem
depostas em lugar seguro, longe da cobiça dos agressores.
   Mas um escravo escapou-se do emboscado acampamen-
to e foi avisar o comandante inimigo. A partir daí, já nada
podia salvar os foragidos.
   Ouvindo o grito da soldadesca que, de lanças e alfanges
em punho, trepava as faldas da montanha, o chefe dos
sitiados percebeu que ele e os seus não podiam esperar
clemência. Chamou de parte a sua filha, linda menina
moura, e disse-lhe, contendo as lágrimas:
   - Tu és a jóia mais preciosa dos meus tesouros. Junto
deles vou encantar-te, para que nenhumas mãos impuras
aflijam a tua inocência.
   E assim fez. Ele, que tinha poderes mágicos, transfor-
mou a filha e as arcas carregadas de riquezas em pedras de
uma gruta. Depois, ainda tentou usar da mesma magia para
ele próprio e os seus mais próximos, mas já não foi a
tempo. Uma lança interceptou-lhe as palavras mágicas que
ia proferir.
   Contam os mais velhos que aquele sítio se chama Cova
da Moura, porque, em noites de luar, ainda há quem veja a
menina vestida de branco, a andar sem rumo pelo alto da
serra. Ouvem-na lamentar-se em língua estranha e chorar
os pais e a felicidade que perdeu. Impressão será ou o sus-
surro do vento pelo meio da folhagem dos castanheiros...


                                              2
© APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
Seja do que for, os mais velhos acreditam que a moura
encantada da Serra da Penha guarda arcas e arcas de
tesouros por desencantar.
   Vale a pena ir lá de propósito, em passeio, que mais não
seja porque do alto da colina, onde a meio da encosta,
alveja uma ermidinha, se abrange todo o casario da cidade
de Portalegre, o perfil do Castelo, as torres da Sé e, longe,
a Serra de S. Mamede e a imensa planura alentejana. É
outra forma de encantamento.

   FIM




                                              3
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  • 1. LENDA DA COVA DA MOURA António Torrado escreveu e Cristina Malaquias ilustrou 23 de Maio Dia de Portalegre Tantas lendas de mouras que há e eu ainda não contei nenhuma. Esta soube-a, quando andava a passear na Serra da Penha, para as bandas de Portalegre. Cada cidade tem muitas histórias para contar. Falam as pedras, murmuram as árvores, segredam as fontes o que as pessoas não vêem nem sabem. Esta lenda da Cova da Moura mergulha as suas raízes mais fundas nas encostas da Serra da Penha. Vamos conhecê-la. Dantes, muito antes de haver Portugal, os mouros ocupavam aqueles lugares. Mas raramente viviam em paz. Quando as disputas entre eles gritavam mais alto do que o bom senso e a cortesia, que deve regular sempre as relações entre vizinhos, quando das ameaças passavam aos actos, rompia a guerra e faiscavam as cimitarras. 1 © APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
  • 2. Um chefe mouro, reconhecendo que não tinha tropas que chegassem para enfrentar um aguerrido exército invasor dos seus domínios, abandonou o amuralhado da cidade e refugiou-se com a família e a corte nos brejos da serra. Carregadas por escravos iam, no meio do apressado corte- jo em fuga, as arcas cheias de tesouros, para serem depostas em lugar seguro, longe da cobiça dos agressores. Mas um escravo escapou-se do emboscado acampamen- to e foi avisar o comandante inimigo. A partir daí, já nada podia salvar os foragidos. Ouvindo o grito da soldadesca que, de lanças e alfanges em punho, trepava as faldas da montanha, o chefe dos sitiados percebeu que ele e os seus não podiam esperar clemência. Chamou de parte a sua filha, linda menina moura, e disse-lhe, contendo as lágrimas: - Tu és a jóia mais preciosa dos meus tesouros. Junto deles vou encantar-te, para que nenhumas mãos impuras aflijam a tua inocência. E assim fez. Ele, que tinha poderes mágicos, transfor- mou a filha e as arcas carregadas de riquezas em pedras de uma gruta. Depois, ainda tentou usar da mesma magia para ele próprio e os seus mais próximos, mas já não foi a tempo. Uma lança interceptou-lhe as palavras mágicas que ia proferir. Contam os mais velhos que aquele sítio se chama Cova da Moura, porque, em noites de luar, ainda há quem veja a menina vestida de branco, a andar sem rumo pelo alto da serra. Ouvem-na lamentar-se em língua estranha e chorar os pais e a felicidade que perdeu. Impressão será ou o sus- surro do vento pelo meio da folhagem dos castanheiros... 2 © APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
  • 3. Seja do que for, os mais velhos acreditam que a moura encantada da Serra da Penha guarda arcas e arcas de tesouros por desencantar. Vale a pena ir lá de propósito, em passeio, que mais não seja porque do alto da colina, onde a meio da encosta, alveja uma ermidinha, se abrange todo o casario da cidade de Portalegre, o perfil do Castelo, as torres da Sé e, longe, a Serra de S. Mamede e a imensa planura alentejana. É outra forma de encantamento. FIM 3 © APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros