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                                                                                                                    Mais de 250 obras de arte em catálogo
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                                                                                                                                           Santos da Casa
                                                                               DIRECTOR J O R G E C A S T I L H O
    João Araújo,
       D.O.                                                                                                                                       de: Maria Luíza Fernandes

             OSTEOPATA
                                                                                                                                                 Comércio
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 ANO I                    N.º 16 (II série)                                     De 13 a 26 de Dezembro de 2006                                          € 1 euro        (iva incluído)




    Natal
                         Origens
                         Contos
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                         Poemas                                             “Natividade”
                                                                              Josefa de Óbidos
                                                      PÁGINAS 4 A 12          (1630 – 1684)



                                                                                                                        INICIATIVA DO CONSERVATÓRIO
                                                                                                                        DE COIMBRA


                                                                                                                        Música
                                                                                                                        vai invadir
                                                                                                                        a cidade
                                                                                                                          Quinta-feira na Baixa
                                                                                                                          Sexta-feira no “Dolce Vita”
                                                                              Perspectiva do futuro Conservatório                                             PÁGINA 11

                                                                UMA PRENDA NATALÍCIA                SÓ UMA ESCOLA NO PAÍS            OPINIÃO
          Ofereça                                               ORIGINAL


          uma assinatura                                                                           Cães-guia                        Quem
          do “Centro”                                                                              mudam                            se lembra
          e ganhe uma
          obra de arte
                                                                                                   vida de                          da
                                                                                                   deficientes                      Académica?
                                               PÁG. 2 e 3
                                                                                                                          PÁG. 18                                   PÁG. 15
2          ENTREVISTA                                                                                                                 DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006


CONFIRMANDO A OPINIÃO DE D. ALBINO CLETO EM ENTREVISTA AO “CENTRO”

Cardeal de São Paulo admite que a Igreja
reconsidere celibato dos padres
   Na anterior edição do “Centro” publicá-                                                            Reiterando o que D. Albino Cleto referi-     apresentou a demissão por motivos de
mos uma desenvolvida entrevista com o                                                              ra ao “Centro”, o cardeal brasileiro salien-    idade.
Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, onde o                                                          tou na entrevista que existem alguns padres        Com a recente nomeação, Hummes
questionámos sobre o celibato dos padres                                                           casados e que a proibição do matrimónio         passa a ser o brasileiro com maior influên-
(relativamente ao qual ele manifestou con-                                                         só foi adoptada depois da instituição do        cia no Vaticano e aumentará as suas possi-
cordância) e sobre o alegado conservado-                                                           sacerdócio.                                     bilidades de se tornar Papa se houver outro
rismo do novo Papa, de que ele discordou.                                                             Cláudio Hummes, que chegou a ser             conclave antes de completar 80 anos, limi-
Para sustentar que o Papa Bento XVI não é                                                          considerado um dos prováveis sucessores         te para a participação dos cardeais na esco-
conservador, D. Albino Cleto aludiu mes-                                                           de João Paulo II no conclave que elegeu         lha papal.
mo ao facto de ele ter acabado de nomear                                                           Bento XVI, disse que a Igreja Católica não         Filho de imigrantes alemães, nascido
como responsável pela Congregação para                                                             é “estacionária, sim uma instituição que        em 1934 na cidade de Montenegro, no Es-
o Clero o cardeal brasileiro Cláudio                                                               muda quando deve mudar”.                        tado do Rio Grande Sul, Cláudio Hummes
Hummes, que é conhecido pelas suas posi-                                                              Instado a comentar os recentes escânda-      foi bispo na cidade de Santo André, na
ções progressistas.                                                                                los de pedofilia, Cláudio Hummes referiu        região metropolitana de São Paulo, entre
   Ora sucede que apenas três dias depois                                                          que o tema preocupa a Igreja.                   1975 a 1996.
da edição do “Centro”, o jornal “O Estado                                                             “Ainda que se trate de um só caso – fri-        D. Cláudio Hummes é considerado um
de São Paulo” publicava uma entrevista                                                             sou – já seria uma grande preocupação,          cardeal progressista em relação às questões
com o referido cardeal Cláudio Hummes,                                                             principalmente por causa das vítimas”.          sociais, embora alguns o achem um tanto
confirmando a opinião que nos fora dada                                                               “É injusto e hipócrita generalizar os        conservador no que se refere à doutrina da
por D. Albino Cleto.                                                                               escândalos de pedofilia, pois mais de 99        Igreja.
   Assim, nessa entrevista o cardeal                                                               por cento dos sacerdotes não têm nada a            No final da década de 70 apoiou as pri-
Hummes afirma que a Igreja poderá rever                                                            ver com isso”, salientou.                       meiras greves operárias contra o regime
o celibato para admitir sacerdotes casados.                                                           Segundo o cardeal, a pedofilia é um pro-     militar de então (1964-1985), acolheu líde-
   “Apesar de o celibato fazer parte da his-                                                       blema de toda a sociedade, uma vez que          res perseguidos, entre eles Lula da Silva, e
                                                Cláudio Hummes


tória e da cultura católicas, a Igreja pode     entrevista ainda no Brasil, antes de partir        existem casos de abuso sexual de crianças       autorizou a realização de reuniões secretas
rever esta questão, pois o celibato não é um    para o Vaticano (onde foi assumir o rele-          nas suas próprias famílias.                     nas igrejas da diocese.
dogma, sim uma norma disciplinar”, disse        vante cargo que o torna como responsável              Dom Cláudio Hummes, de 72 anos,                 Depois de passar dois anos em For-
o cardeal.                                      pelos assuntos relativos a 400 mil padres          substitui no cargo o cardeal colombiano         taleza, capital do Estado do Ceará, Cláudio
   Dom Cláudio Hummes concedeu esta             espalhados por todo o mundo).                      Dario Castrillón Hoyos, de 77 anos, que         Hummes substituiu, em 1998, D. Paulo
                                                                                                                                                   Evaristo Arns, um dos mais destacados re-
   IGREJAS SEPARADAS HÁ MAIS DE 800 ANOS                                                                                                           ligiosos progressistas do Brasil, na Ar-
                                                                                                                                                   quidiocese de São Paulo.
   Papa recebe hoje em Roma o Primaz ortodoxo grego                                                                                                   Ao contrário de seu antecessor em São
                                                                                                                                                   Paulo, manteve sempre distância em rela-
      O chefe da igreja ortodoxa grega, mon-    duas igrejas estiveram também no centro              “O facto de os cristãos latinos nele
                                                                                                                                                   ção à Teologia da Libertação, uma corren-
   senhor Christodoulos, inicia hoje (quar-     dos encontros, no final de Novembro, em           terem participado enche os católicos de
                                                                                                                                                   te da Igreja, nomeadamente na América
   ta-feira, dia 13) uma visita histórica ao    Istambul, entre Bento XVI e o Patriarca           um profundo arrependimento”, subli-
                                                                                                                                                   Latina, que adaptou conceitos marxistas à
   Vaticano, durante a qual se encontrará       ecuménico ortodoxo Bartolomeu I, no               nhou o Pontífice.
                                                                                                                                                   doutrina católica.
   com o Papa Bento XVI, anunciou a ar-         âmbito da visita do Papa à Turquia.                  A igreja grega, uma das mais conser-
                                                                                                                                                      Seguidor das orientações de João Paulo
   quidiocese de Atenas.                           Tradicionalmente anti-papista, a igre-         vadoras no seio da Igreja Ortodoxa, re-
                                                                                                                                                   II, o arcebispo de São Paulo é contra a
      Trata-se do primeiro encontro oficial     ja da Grécia melhorou no entanto as suas          clamara insistentemente um arrependi-
                                                                                                                                                   eutanásia, os métodos contraceptivos, as
   em Roma entre um Primaz da Igreja            relações com a Santa Sé depois de uma             mento do Vaticano pelas “crueldades que
                                                                                                                                                   investigações científicas com células esta-
   Ortodoxa grega e um Papa.                    visita de João Paulo II a Atenas, em Maio         os seus fiéis infligiram aos ortodoxos
                                                                                                                                                   minais e a ordenação de mulheres.
      Numa entrevista ao jornal grego “Na-      de 2001, em que manifestou o arrependi-           durante a Quarta Cruzada”.
                                                                                                                                                      O cardeal brasileiro fala cinco idiomas e
   tional Herald”, Christodoulos afirmou        mento da Igreja Católica pelos erros                 Durante a visita do chefe da Igreja
                                                                                                                                                   ocupa actualmente 12 cargos em organis-
   que este encontro com o Papa acontece        cometidos contra os ortodoxos.                    Ortodoxa grega ao Vaticano, que termina
                                                                                                                                                   mos do Vaticano, o que o faz passar, em
   no âmbito dos esforços de aproximação           Na altura, o Papa evocou a “pilhagem           sábado, o Papa deverá oferecer a Chris-
                                                                                                                                                   média, uma semana por mês em Roma,
   entre as Igrejas Católica e Ortodoxa,        dramática da cidade imperial de Constan-          todoulos dois pedaços da corrente que
                                                                                                                                                   com destaque para a participação no
   separadas desde 1054.                        tinopla, que era um bastião da Cristandade        terá mantido prisioneiro o apóstolo Paulo
                                                                                                                                                   Conselho do Diálogo Inter-religioso na
      As tentativas de reconciliação entre as   no Oriente”, pelos cruzados em 1.204.             antes da sua execução em Roma.
                                                                                                                                                   Cúria Romana.


                                                 Ofereça livros no Natal com 10% de desconto
 Director: Jorge Castilho                           No sentido de proporcionar mais alguns            Mas este desconto não se cinge aos li-       bastará ir ao site www.livrosnet.com e fazer
                                                 benefícios aos assinantes deste jornal, o         vros, antes abrange todos os produtos congé-    o seu registo e a respectiva encomenda, que
 (Carteira Profissional n.º 99)

 Propriedade: Audimprensa                        “Centro” estabeleceu um acordo com a li-          neres que estão à disposição na livraria on     lhe será entregue directamente.
 Nif: 501 863 109
                                                 vraria on line “livrosnet.com”.                   line “livrosnet.com”.                              São apenas 20 euros por uma assinatura
 Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho            Para além do desconto de 10%, o assinan-          Aproveite esta oportunidade, se já é assi-   anual – uma importância que certamente
 Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930
                                                 te do “Centro” pode ainda fazer a encomen-        nante do “Centro”.                              recuperará logo na primeira encomenda de
                                                 da dos livros de forma muito cómoda, sem             Caso ainda não seja, preencha o boletim      livros.
 Composição e montagem: Audimprensa              sair de casa, e nada terá a pagar de custos de    que publicamos na página seguinte e envie-o        E, para além disso, como ao lado se indi-
 – Rua da Sofia, 95, 3.º
 3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150        envio dos livros encomendados.                    para a morada que se indica.                    ca, receberá ainda, de forma automática e
 Fax: 239 854 154                                   Numa altura em que se aproxima o Natal,           Se não quiser ter esse trabalho, bastará     completamente gratuita, uma valiosa obra de
                                                 e em que os livros são sempre uma excelente       ligar para o 239 854 150 para fazer a sua       arte de Zé Penicheiro – trabalho original
 e-mail: centro.jornal@gmail.com

 Impressão: CIC - CORAZE                         oferta para gente de todas as idades, este        assinatura, ou solicitá-la através do e-mail    simbolizando os seis distritos da Região
 Oliveira de Azeméis
 Depósito legal n.º 250930/06
                                                 desconto que proporcionamos aos assinantes        centro.jornal@gmail.com.                        Centro, especialmente concebido para este
 Tiragem: 10.000 exemplares                      do “Centro” assume especial significado.             Depois, para encomendar os seus livros,      jornal pelo consagrado artista.
DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006                                                                                                                                                      3
  EDITORIAL
                                                                                                                                                     NA SOCIEDADE PORTUGUESA
                                                                                                                                                     DE AUTORES

                                                                                                                                                     São hoje entregues

                                                    Espírito natalício
                                                                                                                                                     os Prémios Pen Clube
                                                                                                                                                         Os Prémios do PEN Clube Português
                                                                                                                                                     relativos a obras publicadas em 2005 nas
                                                                                                                                                     modalidades de poesia, ensaio, narrativa,
                                                       Quero especialmente aludir às atitudes         o milagre de assim descobrir, no seu ínti-     primeira obra e tradução vão ser entre-
                       Jorge Castilho               de reconciliação e, sobretudo, aos gestos         mo, o espírito natalício, que será a mais      gues hoje (quarta-feira, dia 13) na
                                                    de presença que há muito andam ausentes           reconfortante de todas as prendas – para       Sociedade Portuguesa de Autores (SPA),
                       jorge.castilho@zmail.pt

   Se fôssemos analisar as causas, certa-           – entre familiares, na maioria das situa-         si e para os que lhe sentiam a falta…          em Lisboa.
mente chegaríamos a conclusões decep-               ções, mas igualmente entre amigos.                                                                   Os vencedores da edição 2005 foram
cionantes.                                             Mesmo os que não se identificam                                   ***                         António Ramos Rosa, na Poesia (“Géne-
   A verdade, porém, é que, neste caso e            com uma religião são crentes, no senti-                                                          se”), Pedro Eiras, no Ensaio (“Esquecer
nesta altura, mais importantes que as               do de acreditarem na bondade do seu                  Esta edição do “CENTRO” assinala a          Fausto”), Fiama Hasse Pais Brandão e
causas são as consequências.                        próximo – às vezes, ostensivamente, tão           quadra festiva, procurando fazê-lo com a       Hélder Macedo, na Ficção (“Contos da
   Estou a referir-me ao chamado “espí-             distante…                                         possível originalidade. Daí que tenhamos       Imagem” e “Sem nome”, respectivamen-
rito natalício” e às coisas positivas que              Por isso, seria bom que o Natal por            seleccionado alguns poemas alusivos ao         te) e Ana Cristina Oliveira, na primeira
podem encontrar-se entre a multiplici-              todos fosse assinalado – através de uma           Natal, dois contos muito interessantes         obra (“Continentes Negros”).
dade de fenómenos que se manifestam a               mensagem, de um telefonema, de uma                (um de Mia Couto, num comovente                    José Bento e Miguel Serras Pereira par-
propósito do Natal.                                 visita…                                           “Natal” africano, outro de Maria Ondina        tilham o Grande Prémio da Tradução, pe-
   Que importa se a dádiva a quem pre-                 Não tenho dúvidas que para muitos,             Braga, numa tocante vivência asiática). E      las suas versões da obra magna da novelís-
cisa não é feita com propósito verdadei-            sobretudo para os que habitualmente es-           ainda uma crónica de Eça de Queirós,           tica espanhola, “Dom Quixote”, de Miguel
ramente solidário, antes com o intuito              tão mais sós, essa oferta provocará muito         sobre o Natal londrino por ele testemu-        de Cervantes.
de cumprir obrigação anual, como se se              mais alegria do que qualquer objecto              nhado em fins do séc- XIX.                         À excepção do destinado à primeira
tratasse do pagamento de um imposto?                valioso.                                             Para além disso, reproduzimos pintu-        obra, no valor de 2.500 euros, os prémios
   Relevante é que ela se concretize!                  Por isso aqui deixo um veemente                ras de alguns dos nossos mais reputados        têm todos uma dotação de 5 mil euros.
   E não estou a referir-me às prendas,             apelo: roube algum tempo aos embrulhos            artistas que mostram a forma como eles,            O Presidente da República, Cavaco
às coisas materiais, já que essas assumi-           e utilize-o a visitar (ou a escrever, a tele-     em épocas bem distintas, sentiram o            Silva, e o Director do Instituto Português
ram, na maior parte dos casos, uma ver-             fonar, a enviar um e-mail ou sms..) àque-         Natal.                                         do Livro e das Bibliotecas (IPLB), Jorge
tente que tem muito mais a ver com o                les que gostam de si e de quem tem anda-             Desta forma singela, a todos os nossos      Manuel Martins, deverão assistir à cerimó-
consumismo do que com a religião – ou               do afastado!                                      Leitores, Assinantes e Anunciantes dese-       nia de entrega dos prémios, marcada para
mesmo com a fraternidade.                              Vai ver que custa pouco. E pode dar-se         jamos um Natal com saúde e muito feliz!        as 18h30.


  EXCELENTE PRENDA DE NATAL POR APENAS 20 EUROS                                                                                                        Jornal “Centro”
                                                                                                                                                       Rua da Sofia. 95 - 3.º
                                                                                                                                                       3000–390 COIMBRA
  Ofereça uma assinatura do “Centro”
                                                                                                                                                       Poderá também dirigir-nos o seu pedido de
  e ganhe valiosa obra de arte                                                                                                                      assinatura através de:
                                                                                                                                                         telefone 239 854 156
     O jornal “Centro” tem uma aliciante pro-       tónico, de deslumbrantes paisagens (desde as      sempre bem informado sobre o que de mais           fax 239 854 154
 posta para si.                                     praias magníficas até às serras verdejantes) e,   importante vai acontecendo nesta Região, no        ou para o seguinte endereço de e-mail:
     De facto, basta subscrever uma assinatura      ainda, de gente hospitaleira e trabalhadora.      País e no Mundo.                                 centro.jornal@gmail.com
 anual, por apenas 20 euros, para automatica-           Não perca, pois, a oportunidade de receber       Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, por
 mente ganharem uma valiosa obra de arte.           já, GRATUITAMENTE, esta magnífica obra            APENAS 20 EUROS!                                 Para além da obra de arte que desde já lhe ofe-
     Trata-se de um belíssimo trabalho da auto-     de arte, que está reproduzida na primeira pági-      Não perca esta campanha promocional, e     recemos, estamos a preparar muitas outras regali-
 ria de Zé Penicheiro, expressamente concebi-       na, mas que tem dimensões bem maiores do          ASSINE JÁ o “Centro”.                         as para os nossos assinantes, pelo que os 20 euros
 do para o jornal “Centro”, com o cunho bem         que aquelas que ali apresenta (mais exacta-          Para tanto, basta cortar e preencher o     da assinatura serão um excelente investimento.
 característico deste artista plástico – um dos     mente 50 cm x 34 cm).                             cupão que abaixo publicamos, e enviá-lo,         O seu apoio é imprescindível para que o
 mais prestigiados pintores portugueses, com            Para além desta oferta, passará a receber     acompanhado do valor de 20 euros (de prefe-   “Centro” cresça e se desenvolva, dando voz a
 reconhecimento mesmo a nível internacional,        directamente em sua casa (ou no local que nos     rência em cheque passado em nome de           esta Região.
 estando representado em colecções espalha-         indicar), o jornal “Centro”, que o manterá        AUDIMPRENSA), para a seguinte morada:            CONTAMOS CONSIGO!
 das por vários pontos do Mundo.
     Neste trabalho, Zé Penicheiro, com o seu
 traço peculiar e a inconfundível utilização de
 uma invulgar paleta de cores, criou uma obra             Desejo receber uma assinatura do jornal CENTRO (26 edições).
 que alia grande qualidade artística a um pro-
 fundo simbolismo.                                        Para tal envio:            cheque               vale de correio            no valor de 20 euros.
     De facto, o artista, para representar a Re-
 gião Centro, concebeu uma flor, composta
 pelos seis distritos que integram esta zona do        Nome:
 País: Aveiro, Castelo Branco, Coimbra,
                                                       Morada:
 Guarda, Leiria e Viseu.
     Cada um destes distritos é representado           Localidade:                                         Cód. Postal:                                     Telefone:
 por um elemento (remetendo para respecti-
 vo património histórico, arquitectónico ou            Profissão:                                                              e-mail:
 natural).
     A flor, assim composta desta forma tão ori-          Desejo receber recibo na volta do correio                            N.º de contribuinte:
 ginal, está a desabrochar, simbolizando o
 crescente desenvolvimento desta Região Cen-           Assinatura:
 tro de Portugal, tão rica de potencialidades, de
 História, de Cultura, de património arquitec-
4       NATAL                                                                                                   DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006




Natal: origem e
O Natal surge como o aniversário     tes, que são dados pelo Pai Natal ou           O nascimento de Jesus começou a ser      burro e feno, e colocou na gruta as ima-
do nascimento de Jesus Cristo,       pelo Menino Jesus, dependendo da tra-       celebrado no século III, data das primei-   gens do Menino Jesus, da Virgem Maria
Filho de Deus, sendo                 dição de cada país.                         ras peregrinações a Belém, para se visi-    e de S. José. Com isto, pretendeu tornar
actualmente uma das festas                                                       tar o local onde Jesus nasceu.              mais acessível e clara a celebração do
católicas mais importantes.                                                         No século IV começaram a surgir          Natal, para que as pessoas pudessem
                                                                                 representações do nascimento de Jesus       visualizar o que se terá passado em
                                     PRESÉPIO
Inicialmente, a Igreja Católica
não comemorava o Natal.                 A palavra “presépio” significa “um       em pinturas, relevos ou frescos.            Belém durante o nascimento de Jesus.
                                     lugar onde se recolhe o gado, curral, es-      Passados nove séculos, mais precisa-        Nos finais do século XV, graças a um
Foi em meados do século IV d. C.
                                     tábulo”. Contudo, esta também é a                    mente no ano de 1223, S.           desejo crescente de fazer reconstruções
que se começou a festejar
                                     designação dada à representação                        Francisco de Assis decidiu       plásticas da Natividade, as figuras de
o nascimento do Menino Jesus,        artística do nascimento do                             celebrar a missa da véspera      Natal libertam-se das paredes das igre-
tendo o Papa Júlio I fixado          Menino Jesus num estábulo,                             de Natal com os cidadãos de      jas, surgindo em pequenas figuras, o
a data no dia 25 de Dezembro,        acompanhado pela Virgem Ma-                           Assis de forma diferente.         que permite criar cenas diferentes.
já que se desconhece a verdadeira    ria, S. José e uma vaca e                                   Assim, esta missa, em       Surgem, assim, os presépios.
data do seu nascimento.              um jumento – a que muitas                                     vez de ser celebrada no      A criação do cenário que hoje é
Uma das explicações para             vezes se acrescentam outras                                  interior de uma igreja,    conhecido como presépio, provavel-
a escolha do dia 25 de Dezembro      figuras, como pastores,                                      foi celebrada numa         mente, deu-se já no século XVI.
como sendo o dia de Natal            ovelhas, anjos, os Reis                                       gruta, que se situava     Segundo o inventário do Castelo de
prende-se como facto de esta data    Magos.                                                        na floresta de Grécio,    Piccolomini em Celano, o primeiro pre-
coincidir com a Saturnália                                                                                 perto da cida-    sépio criado num lar particular surgiu
dos romanos e com as festas                                                                                de. S. Francis-   em 1567, na casa da Duquesa de
germânicas e célticas do Solstício                                                                          co transportou   Amalfi, Constanza Piccolomini.
de Inverno. Sendo todas estas                                                                                    para essa      No século XVIII, a recriação da cena
festividades pagãs, a Igreja viu                                                                                 gruta um    do nascimento de Jesus estava comple-
aqui uma oportunidade                                                                                            boi e um    tamente inserida nas tradições de
                                                                                                                             Nápoles e da Península Ibérica, incluin-
de cristianizar a data, colocando
                                                                                                                             do Portugal.
em segundo plano a sua conotação
                                                                                                                                Aliás, há quem considere que no
pagã. Algumas zonas optaram                                                                                                  nosso País foram feitos alguns dos mais
por festejar o acontecimento                                                                                                 belos presépios de todo o mundo, sendo
em 6 de Janeiro, mas gradualmente                                                                                            de destacar os realizados pelos esculto-
esta data foi sendo associada                                                                                                res e barristas Machada de Castro e
à chegada dos Reis Magos e não                                                                                               António Ferreira, no século XVIII.
ao nascimento de Jesus Cristo.
O Natal é, assim, dedicado
pelos cristãos a Cristo,
                                                                                                                                ÁRVORE DE NATAL
que é o verdadeiro Sol de Justiça                                                                                                    A Árvore de Natal é um pi-
(Mateus 17,2; Apocalipse 1,16),                                                                                                    nheiro ou abeto, enfeitado e ilu-
e transformou-se numa                                                                                                              minado, especialmente nas casas
das festividades centrais                                                                                                          particulares, na noite de Natal.
da Igreja, equiparada                                                                                                             A tradição da Árvore de Natal
desde cedo à Páscoa.                                                                                                            tem raízes muito mais longínquas
Apesar de ser uma festa cristã,                                                                                                 do que o próprio Natal.
o Natal, com o passar                                                                                                                 Os romanos enfeitavam árvo-
do tempo, converteu-se                                                                                                             res em honra de Saturno, deus
                                                                                                                                   da agricultura, mais ou menos na
numa festa familiar
                                                                                                                                          mesma época em que hoje
com tradições pagãs,
                                                                                                                                                 preparamos a Ár-
em parte germâni-                                                                                                                                vore de Natal. Os
cas e em parte                                                                                                                                   egípcios traziam ga-
romanas.                                                                                                                                          lhos verdes de pal-
                                                                                                                                                  meiras para dentro
   Sob influência francis-                                                                                                                      de suas casa no dia
cana, espalhou-se, a                                                                                                                             mais curto do ano
partir de 1233, o cos-                                                                                                                             (que é em Dezem-
tume de, em toda a                                                                                                                                 bro), como símbo-
cristandade, se cons-                                                                                                                                lo de triunfo da
truírem presépios, já                                                                                                                                  vida sobre a
que estes reconstituí-                                                                                                                                 morte. Nas cul-
am a cena do nasci-                                                                                                                                    turas célticas,
mento de Jesus.                                                                                                                                       os druídas tin-
   A árvore de Natal sur-                                                                                                                          ham o costume de
ge no século XVI, sendo                                                                                                                      decorar velhos carva-
enfeitada com luzes sím-                                                                                                                     lhos com maçãs doura-
bolo de Cristo, Luz do                                                                                                                       das para festividades
Mundo. Uma outra tradição                                                                                                                     também celebradas na
de Natal é a troca de presen-                                                                                                               mesma época do ano.
DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006                                                                                                                    NATAL                5


simbologia
   A primeira referência a uma “Árvore de      Belchior e Gaspar). O rei da Judeia,           tolos, traiu Jesus por 30 dinheiros. Depois        Quanto ao número e nomes dos Reis
Natal” surgiu no século XVI e foi nesta        Herodes, sabendo que chegada do Messias        de ter celebrado a última ceia e instituído a   Magos são tudo suposições sem base
altura que ela se vulgarizou na Europa         era anunciada para essa época pelos anti-      Eucaristia, Cristo teve de comparecer           histórica, aliás algumas pinturas dos pri-
Central, há notícias de árvores de Natal na    gos profetas, ordenou que todos os recém-      perante o sumo-sacerdote dos Judeus,            meiros séculos mostram 2, 4 e até
Lituânia em 1510.                              nascidos fossem assassinados. Perante isto,    Caifás, e em seguida perante a justiça          mesmo 12 Reis Magos adorando Jesus.
   Diz-se que foi Lutero (1483-1546),          José (pai adoptivo de Jesus) e Maria deci-     romana, representada por Pôncio Pilatos.        Foi uma tradição posterior aos Evan-
autor da reforma protestante, que após um      diram fugir para o Egipto, para salvarem a     Condenado pelo primeiro, abandonado             gelhos que lhes deu o nome de Baltasar,
passeio, pela floresta no Inverno, numa                                                                                                       Gaspar e Belchior (ou Melchior), tendo-
noite de céu limpo e de estrelas brilhantes                                                                                                   se também atribuído a cada um caracte-
trouxe essa imagem à família sob a forma                                                                                                      rísticas próprias.
de Árvore de Natal, com uma estrela bri-                                                                                                         Belchior (ou Melchior) seria o represen-
lhante no topo e decorada com velas, isto                                                                                                     tante da raça branca (europeia) e descende-
porque para ele o céu devia ter estado                                                                                                        ria de Jafé; Gaspar representaria a raça
assim no dia do nascimento do Menino                                                                                                          amarela (asiática) e seria descendente de
Jesus.                                                                                                                                        Sem; por fim, Baltasar representaria todos
   O costume começou a enraizar-se. Na                                                                                                        os de raça negra (africana) e descenderia de
Alemanha, as famílias, ricas e pobres,                                                                                                        Cam. Estavam assim representadas todas
decoravam as suas árvores com frutos,                                                                                                         as raças bíblicas (e as únicas conhecidas na
doces e flores de papel (as flores vermelhas                                                                                                  altura: os semitas, os jafetitas e camitas.
representavam o conhecimento e as bran-                                                                                                       Pode então dizer-se que a adoração dos
cas representavam a inocência). Isto per-                                                                                                     Reis Magos ao Menino Jesus simboliza a
mitiu que surgisse uma indústria de deco-                                                                                                     homenagem de todos os homens na Terra
rações de Natal, em que a Turíngia se espe-                                                                                                   ao Rei dos reis, mesmo os representantes
cializou.                                                                                                                                     do tronos, senhores da Terra, curvam-se
   No início do século XVII, a Grã-                                                                                                           perante Cristo, reconhecendo assim a sua
Bretanha começou a importar da Ale-                                                                                                           divina realeza.
manha a tradição da Árvore de Natal                                                                                                              O dia de Reis celebra-se a 6 de Janeiro,
pelas mãos dos monarcas de Hannover.                                                                                                          partindo-se do princípio que foi neste dia
Contudo a tradição só se consolidou nas                                                                                                       que os Reis Magos chegaram finalmente
Ilhas Britânicas após a publicação pela                                                                                                       junto ao Menino Jesus. Em alguns países é
“Illustrated London News”, de uma                                                                                                             no dia 6 de Janeiro que se entregam os pre-
imagem da Rainha Vitória e Alberto                                                                                                            sentes.
com os seus filhos, junto à Árvore de                                                                                                            Ao chegarem ao seu destino, os Reis
Natal no castelo de Windsor, no Natal                                                                                                         Magos deram como presentes ao Menino
de 1846.                                                                                                                                      Jesus: Ouro (oferecido por Belchior), para
   Esta tradição espalhou-se por toda a                                                                                                       representar a Sua nobreza; incenso (ofere-
Europa e chegou aos EUA aquando da                                                                                                            cido por Gaspar), que representa a divinda-
guerra da independência pelas mãos dos                                                                                                        de de Jesus; e Mirra (oferecido por
soldados alemães. A tradição não se conso-                                                                                                    Baltasar), simbolizando o sofrimento que
lidou uniformemente dada a divergência                                                                                                        Cristo enfrentaria na Terra (a mirra é uma
                                                                                                                                              erva amarga).
                                                 “Presépio”
                                                 Gregório Lopes, c.1490-1550, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
de povos e culturas. Contudo, em 1856, a
Casa Branca foi enfeitada com uma árvore                                                                                                         Assim, os Reis Magos homenagearam
de Natal e a tradição mantém-se desde          vida de Jesus. Só depois da morte de He-       pelo segundo, coberto de ultrajes pelo povo     Jesus como rei (ouro), como deus (incen-
1923.                                          rodes, esta família voltou para Nazaré, na     subiu ao Calvário, onde morreu crucifica-       so) e como homem (mirra).
   Como o uso da árvore de Natal tem ori-      Galileia. Aqui Jesus cresceu, ajudando seu     do entre dois ladrões. Ressuscitou ao 3.º          Coloca-se a questão de saber como é
gem pagã, este predomina nos países nór-       pai adoptivo no trabalho de carpinteiro.       dia e apareceu a muitos dos seus discípu-       que os Reis Magos associaram o apareci-
dicos e no mundo anglo-saxónico. Nos           Aos 30 anos, Jesus começou a sua missão,       los, encarregando-os de espalhar a sua dou-     mento da Estrela com o nascimento de
países católicos, como Portugal, a tradição    sendo baptizado por seu primo S. João          trina pelo mundo inteiro. Quarenta dias         Jesus. A verdade é que existem várias teo-
da árvore de Natal foi surgindo pouco a        Baptista, nas águas do Jordão. Em seguida,     depois da sua ressurreição, subiu aos céus      rias, mas não há como saber qual delas é a
pouco ao lado dos já tradicionais presépios.   dirigiu-se para o deserto onde permaneceu      na presença dos seus discípulos.                correcta. Uma dessas teorias considera que
                                               durante 40 dias em jejum e onde resistiu às                                                    os Reis Magos descobriram a relação entre
                                               tentações de Satanás. Começou por pregar                                                       o novo astro e o nascimento de Cristo.
                                               o Evangelho ou a “boa nova” na Galileia,
MENINO JESUS                                                                                  REIS MAGOS
   Jesus, em hebreu, Jehoshua, abreviado       depois dirigiu-se para Jerusalém, lugar           Os Reis Magos teriam vindo do Oriente,           Mais explicações sobre esta questão e
em Jeshua, que quer dizer “Javé, é a salva-    onde se deparou com uma hostilidade cres-      guiados por uma estrela, para adorar o          outras relacionadas com os Reis Magos
ção”, o filho de Deus, segundo o               cente por parte dos fariseus. Na sua missão,   Deus Menino, em Belém                           são dadas através de textos apócrifos, isto
Evangelho, e o Messias anunciado pelos         Jesus foi acompanhado pelos seus discípu-         A designação “Mago” era dada, entre          é, textos não reconhecidos pela Igreja.
profetas. Nasceu em Belém da Virgem            los, os doze apóstolos, com estes percorreu    os Orientais, à classe dos sábios ou erudi-         Contudo estes textos foram, de um
Maria, em 25 de Dezembro do ano de 749         as cidades da Judeia e da Galileia, pregan-    tos, contudo esta palavra também era            modo geral, escritos nos séculos II e III da
de Roma, embora o cálculo feito no século      do a caridade, o amor de Deus e do próxi-      usada para designar os astrólogo. Isto fez      era cristã, para preencherem lacunas
VI pelo frade Dionísio, e que serve de cro-    mo e realizando inúmeros milagres. As          com que, inicialmente, se pensasse que          sobre a vida de Jesus e de outras persona-
nologia da era cristã, colocou o nascimen-     ideias defendidas por Jesus Cristo fizeram     estes magos eram sábios astrólogos, mem-        gens do Novo Testamento, assim objecti-
to, erradamente, no ano de 754. Jesus mor-     enfurecer os fariseus e os sacerdotes          bros da classe sacerdotal de alguns povos       vo destes era saciar a curiosidade religio-
reu crucificado, no ano 33 da era moderna.     judeus, que acusaram-no perante o gover-       orientais.                                      sa, transformando o vago em concreto,
   Segundo os Evangelhos, o presépio que       nador romano, Pôncio Pilatos, de se dizer         Posteriormente, a Igreja atribuiu-lhes o     independentemente da veracidade dos fac-
serviu de berço ao Menino Jesus foi visita-    Rei dos Judeus e de querer derrubar o          apelido de “Reis”, em virtude da aplicação      tos, daí não estarem incluídos nos chama-
do pelos Reis Magos do Oriente (Baltasar,      governo estabelecido. Judas, um dos após-      liberal que se lhes fez do Salmo 71,10.         dos Livros Canónicos.
6       NATAL                                                                                                          DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006




O menino no sapatinho
Mia Couto *                                 desirmanada lhe fazia de cobertor. O        sendo aqueles seus exclusivos e únicos         O marido azedava e começou a ame-
                                            frio estreitasse e a mulher se levantava    sapatos, ele se despromoveria para um       açar: se era para lhe desalojar o definiti-
   Era uma vez o menino pequenito, tão      de noite para repuxar a trança dos ataca-   chinelado?                                  vo pé, então, o melhor seria desfaze-
minimozito que todos seus dedos eram        dores. Assim lhe calçava um aconche-           – Sim – respondeu a mulher. – Eu já      rem-se do vindouro. A mãe, estarrecida,
mindinhos. Dito assim, fino modo, ele,      go. Todas as manhãs, de prevenção, ela      lhe dei os meus chinelos.                   fosse o fim de todos os mundos:
quando nasceu, nem foi dado à luz mas       avisava os demais e demasiados:                Mas não dava jeito naqueles areais          – Vai o quê fazer?
a uma simples fresta de claridade.             – Cuidado, já dentrei o menino no        do bairro. Ela devia saber. A pessoa           – Vou é desfazer.
   De tão miserenta, a mãe se alegrou       sapato.                                     pisa o chão e não sabe se há mais              Ela prometia-lhe um tempo, na espe-
com o destamanho do rebento – assim                                                                                                 ra que o bebé graudasse. Mas o assunto
pediria apenas os menores alimentos. A                                                                                              azedava e até degenerou em soco, pun-
mulher, em si, deu graças: que é bom a                                                                                              hos ciscando o escuro. Os olhos dela,
criança nascer assim desprovida de                                                                                                  amendoídos ainda, continuaram esprei-
peso que é para não chamar os maus                                                                                                  tando o improvisado berço. Ela sabia
espíritos. E suspirava, enquanto con-                                                                                               que os anjos da guarda estão a preços
templava a diminuta criatura.                                                                                                       que os pobres nem ousam.
   Olhar de mãe, quem mais pode apa-                                                                                                   Até que o ano findou, esgotada a últi-
gar as feiuras e defeitos nos viventes?                                                                                             ma folha do calendário. Vinda da igreja,
   Ao menino nem se lhe ouvia o choro.                                                                                              a mãe descobriu-se do véu e anunciou
Sabia-se de sua tristeza pelas lágrimas.                                                                                            que iria compor a árvore de Natal. Sem
   Mas estas, de tão leves, nem lhe des-                                                                                            despesa nem sobrepeso. Tirou à lenha
ciam pelo rosto. As lagriminhas subiam                                                                                              um tosco arbusto. Os enfeites eram tam-
pelo ar e vogavam suspensas. Depois,                                                                                                pinhas de cerveja, sobras da bebedeira
se fixavam no tecto e ali se grutavam,                                                                                              do homem. Junto à árvore ela rezou
missangas tremeluzentes.                                                                                                            com devoção de Eva antes de haver a
   Ela pegava no menino, com uma só                                                                                                 macieira. Pediu a Deus que fosse dado
mão. E falava, mansinho, para essa con-                                                                                             ao seu menino o tamanho que lhe era
cha.                                                                                                                                devido. Só isso, mais nada. Talvez,
   Na realidade, não falava: assobiava,                                                                                             depois, um adequado berço. Ou quem
feita uma ave. Dizia que o filho não                                                                                                sabe, um calçado novo para o seu
tinha entendimento para palavra. Só lín-                                                                                            homem. Que aquele sapato já espreitava
gua de pássaro lhe tocaria o reduzido                                                                                               pelo umbigo, o buraco na frente autori-
coração. Quem podia entender? Ele há                                                                                                zando o frio.
dessas coisas tão subtis, incapazes                                                                                                    Na sagrada antenoite, a mulher fez
mesmo de existir. Como essas estrelas                                                                                               como aprendera dos brancos: deixou o
que chegam até nós mesmo depois de                                                                                                  sapatinho na árvore para uma qualquer
terem morrido. A senhora não se impor-                                                                                              improbabilíssima oferta que lhe miracu-
tava com os dizquedizeres.                                                                                                          lasse o lar.
   Ela mesmo tinha aprendido a ser de                                                                                                  No escuro dessa noite, a mãe não
outra dimensão, florindo como o capim:                                                                                              dormiu, seus ouvidos não esmoreceram.
sem cor nem cheiro.                                                                                                                    Despontavam as primeiras horas
   A mãe só tinha fala na igreja. No                                                                                                quando lhe pareceu escutar passos na
resto, pouco falava. O marido, descren-                                                                                             sala. E depois, o silêncio. Tão espesso
te de tudo, nem tinha tempo para ser                                                                                                que tudo se afundou e a mãe foi engoli-
desempregado. O homem era um fiorra-                                                                                                da pelo cansaço.
po, despacha-gargalos, entorna-fundos.        “Adoração dos Magos”                                                                     Acordou cedo e foi directa ao arbus-
                                              Vasco Fernandes (Grão Vasco), activo entre 1501 e 1540
Do bar para o quarto, de casa para a cer-                                                                                           to de Natal. Dentro do sapato, porém, só
vejaria.                                                                                                                            o vago vazio, a redonda concavidade do
   Pois, aconteceu o seguinte: dadas as        Que ninguém, por descuido, o calças-     areia em baixo que em cima do pé.           nada. O filho desaparecera? Não para os
dimensões de sua vida e não havendo         se. Muito-muito, o marido quando vol-          – Além disso, eu é que paguei os tais    olhos da mãe. Que ele tinha sido levado
berço à medida, a mãe colocou o meni-       tava bêbado e queria sair uma vez mais,     sapatos.                                    por Jesus, rumo aos céus, onde há um
ninho num sapato. E cujo era o esquer-      desnoitado, sem distinguir o mais              Palavras. Porque a mãe respondia         mundo apto para crianças. Descida em
do do único par, o do marido. De então      esquerdo do menos esquerdo. A mulher        com sentimentos:                            seus joelhos, agradeceu a bondade divi-
em diante, o homem passou a calçar de       não deixava que o berço fugisse da vis-        – Veja o seu filho, parece o Jesuzinho   na. De relance, ainda notou que lá no
um só pé. Só na ida isso o incomodava.      lembrança dela. Porque o marido já se       empalhado, todo embrulhadinho nos           tecto já não brilhavam as lágrimas do
Na volta, ele nem se apercebia de ter       outorgava, cheio de queixa:                 bichos de cabedal.                          seu menino. Mas ela desviou o olhar,
pés, dois na mesma direcção.                   – Então, ando para aqui improvisar          Ainda o filho estava melhor que          que essa é a competência de mãe: o não
   Em casa, na quentura da palmilha, o      um coxinho?                                 Cristo – ao menos um sapato já não é        enxergar nunca a curva onde o escuro
miúdo aprendia já o lugar do pobre: nos        – É seu filho, pois não?                 bicho em bruto. Era o argumento dela        faz extinguir o mundo.
embaixos do mundo. Junto ao chão, tão          – O diabo que te descarregue!            mas ele, nem querendo saber, subia de
rés e rasteiro que, em morrendo, dispen-       E apontava o filhote: o individuozito    tom:                                        * Retirado de “Na Berma de Nenhuma Estrada”
saria quase o ser enterrado. Uma peúga      interrompia o seu calçado? Pois que,           – Cá se fazem, cá se apagam!              (2ª Edição), Lisboa, Editorial Caminho, 2001




                                                                                                                           Festas Felizes
DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006                                                                                                               NATAL                  7

Natal Chinês
Por Maria Ondina Braga *                        Com um sorriso meio complacente           traduzia em inglês para a senhora Tung,     sim, mas racionalmente, atraindo a von-
                                             meio contrariado, a irmã Chen-Mou            que achava isto enternecedor e gratifi-     tade do homem à da sua companheira e
   A senhora Tung chegava dois dias          desconversava, passando a bandeja dos        cava a velha generosamente.                 exaltando essa atracção. Como o Céu
antes da consoada. Costumava vê-la logo      bolos à superiora, que separava uns tan-        Quando por fim atravessávamos a          alagando a Terra na estação própria.
de manhã, com a irmã jardineira, no          tos para o convento. Os restantes comê-      cerca a caminho de casa, sob uma lua           Retomávamos a marcha em direcção
pátio maior, a admirar as laranjeiras anãs   los-íamos nós, ao fim da Missa do Galo,      branca, espantada, anunciadora do           aos nossos aposentos. Difícil para mim
nos vasos de loiça. Via-a casualmente a      com chocolate quente.                        Inverno para a madrugada, a senhora         responder às dúvidas da senhora Tung,
contemplar, embevecida, o presépio do           O chocolate era a esperada surpresa       Tung abria-se em confidências.              nem ela parecia esperar resposta. Mu-
convento. Encontrava-a por fim à mesa.       da directora. A senhora Tung chamava-           A menina sabia... ? a «menina» era a     dava, rápida, de assunto, aludindo ao
   A senhora Tung viajava todos os anos      lhe, em ar de gracejo, «chá de Paris». No    irmã Chen-Mou, a subdirectora do colé-      tempo, à viagem de regresso, às saboro-
da Formosa para Macau, na época do           fim das três missas vinham outra vez as      gio ?, sabia que ela continuava a vene-     sas guloseimas da criada macaísta.
Natal, a fim de festejar o nascimento de     três freiras ao refeitório do colégio para   rar a Deusa da Fecundidade. Tratava-se         Já em casa, convidava-me a ir ver o
Cristo na companhia da sua primogéni-        trocarem connosco o beijo da paz e nos       de uma pequena divindade, toda nua e        seu presépio. O quarto cheirava forte-
ta, a irmã Chen-Mou.                         oferecerem a tigela fumegante do cho-        toda de oiro. Fora ela quem lhe dera fil-   mente a incenso. Em cima da cómoda,
   Nesses dias, com as meninas em            colate. Vinham e partiam logo (tarde         hos. Estéril durante sete anos, a senhora   entre flores, lá estava o Menino Jesus,
férias, o refeitório do colégio parecia      demais para se demorarem), e Miss Lu,        Tung recorrera à sua intercessão divina     de cabaia de seda encarnada, sapatinhos
maior e mais desconfortável: só eu e         fanática terceira-franciscana, sempre        quando o marido já se preparava para        de veludo preto, feições chinesas.
Miss Lu nos sentávamos à mesa com-           atenta aos passos das monjas, sorvia à       receber nova esposa. Não podia portan-         Depois, timidamente, a senhora Tung
prida das professoras. Daí a presença da     pressa o líquido escaldante, como quem       to deixar de a amar. Toda a felicidade      abria a gaveta... e surgia a deusa.
senhora Tung, que noutra ocasião pas-        cumprisse um dever, e saía atrás delas.      lhe provinha daí, dessa afortunada hora        O Menino Jesus era de marfim. A
saria talvez despercebida (estirada a           Ficávamos, assim, a senhora Tung e        em que a deusa a escutara.                  Deusa da Fecundidade era de oiro. O
sala entre pátios de cimento e plantas       eu, uma em frente da outra. À luz das           Parava a meio do largo átrio enluara-    Menino, de pé, de um palmo de altura,
verdes), se tornar nessa altura notável.                                                                                              trajando ricamente. A deusa, sentada,
   Baixa, seca de carnes, de olhos aten-                                                                                              pequenina, nua.
ciosos, pensativos, a senhora Tung sor-                                                                                                  Os olhos da senhora Tung atentavam
ria constantemente, falava inglês, gosta-                                                                                             nos meus, como se à procura de com-
va de comer, de fumar, de jogar ma-                                                                                                   preensão, mas as suas palavras prontas
jong. As criadas cortejavam-na nos cor-                                                                                               (a deter as minhas?) eram de autocensu-
redores, preparavam-lhe pratos especi-                                                                                                ra. Não, não devia fazer aquilo. A filha
ais, levavam-lhe chá ao quarto. Além de                                                                                               asseverara que o Menino Jesus entriste-
ser mãe da subdirectora, tinha fama de                                                                                                cia, em cima da cómoda, por causa da
rica e distribuía moedas de prata a todo                                                                                              deusa, na gaveta. E quem sabia mais do
o pessoal na noite de festa.                                                                                                          que a filha?
   Nessa noite assistiam três freiras ao                                                                                                 Eu já sentia frio, apesar da aguarden-
nosso jantar (a regra não lhes permitia                                                                                               te de arroz. O Inverno, ali, chegava de
comer connosco): a directora, a subdi-                                                                                                repente. A senhora Tung, no entanto,
rectora e a mestra dos estudos. E muito                                                                                               tinha as mãos quentes e as faces afo-
empertigada, segurando com ambas as                                                                                                   gueadas.
mãos um tabuleiro de laca coberto com                                                                                                    Despedíamo-nos. Eu sempre me ape-
um pano de seda, a senhora Tung rece-                                                                                                 tecia dizer-lhe que estivesse sossegada,
bia-as à porta do refeitório, entregando                                                                                              que de certeza o Menino Jesus não ha-
cerimoniosamente o presente à filha,                                                                                                  via de se entristecer, em cima da cómo-
que por sua vez o oferecia à directora.                                                                                               da, por causa da deusa, na gaveta. Mas
Eram bolos de farinha fina de arroz                                                                                                   nunca lho disse nos três anos que passei
amassada com óleo de sésamo. Toda de                                                                                                  o Natal com ela. Palpitava-me que a
                                              “Adoração dos Magos”
                                              Domingos António de Sequeira, 1768-1837, Colecção Particular
vermelho, de sapatos bordados e gan-                                                                                                  senhora Tung se enervava com o assun-
chos de jade no cabelo, a senhora Tung,                                                                                               to. E que, de qualquer jeito, não me
quando a superiora colocava o tabuleiro      velas olorosas do centro de mesa, os         do, de olhar meditabundo, mãos cruza-       acreditaria.
dos bolos na mesa, dobrava-se quase até      seus olhos eram dois riscos tremulantes.     das no colo. E as palavras saíam-lhe
ao chão. Rezava-se, depois. Para lá dos      Sorríamos. Finalmente, o reposteiro ao       lentas e soltas, como se falasse sozinha.               In “ A China Fica ao Lado”,
pátios, à porta da cozinha, as criadas       fundo da sala apartava-se. Uma das cri-         ... E aquele mistério da virgindade de                    Lisboa, Panorama, 1968
espreitavam, curiosas.                       adas entrava, silenciosa. Servia-se          Nossa Senhora! Virgem e mãe ao
   Nem no primeiro, nem no segundo,          vinho de arroz.                              mesmo tempo... Não se lia no Génesis:
                                                                                                                                      (Maria Ondina Braga nasceu em 1932, em
nem no terceiro Natal que passei em             Creio que o vinho de arroz figurava       «O homem deixará o pai e a mãe para se      Braga. Deixou esta cidade nos anos 50. Em
Macau, a senhora Tung era cristã, mas        entre as bebidas proibidas no colégio e      unir a sua mulher e os dois serão uma só    Paris, cursou a Alliance Française e em Londres
todos os anos se nomeava catecúmena. A       que chegava ali por portas travessas. O      carne?» Não era essa a lei do Senhor?       a Royal Society of Arts. Viajou, aprendeu e ensi-
seguir ao jantar falava-se nisso. A direc-   certo, contudo, é que ambas o bebía-         Por quê então a Mãe de Cristo diferente     nou. Foi professora do ensino secundário em
                                                                                                                                      Luanda, Goa e Macau, desenvolvendo também
tora, uma francesa de mãos engelhadas        mos, a acompanhar os bolos de sésamo,        das outras, num mundo de homens e de
                                                                                                                                      actividade no domínio da tradução. De todas
que noutros tempos frequentara a             no grande e deserto refeitório, na noite     mulheres onde o Filho havia de vir pre-     estas viagens resultaram páginas de escrita onde
Universidade de Pequim, perguntava em        de Natal.                                    gar o amor? A Deusa da Fecundidade,         se combinam memória, conto, novela, romance e
chinês formal quando era o baptizado.           O vinho de arroz queimava-me a gar-       patrona dos lares, operava milagres,        crónica, sem nunca esquecer as raízes minhotas).
Inclinando a cabeça para o peito, a          ganta e fazia-me vir lágrimas aos olhos.
senhora Tung balbuciava, indicando a         Quanto à senhora Tung, saboreava-o
irmã Chen-Mou. A filha... a filha sabia.     devagar, molhando nele o bolo, e, como
Talvez se pudesse chamar cristã pelo         mal provara o «chá de Paris», bebia
espírito, mas o coração atraiçoava-a. O      dois cálices.
coração continuava apegado a antigas            Entretanto, Aldegundes, a criada
devoções... Todavia, vestira-se de gala      macaense mais antiga do colégio, apa-
para a festividade da meia-noite, tinha no   recia com as especialidades da terra:                                  Deseja-lhe Festas Felizes
quarto o Menino Jesus cercado de flores,     aluares, fartes e coscorões, dizendo que
e a alma transbordava-lhe de alegria         aluá era o colchão do Minino Jesus,
como se cristã verdadeiramente fosse.        farte almofada, coscorão lençol. E eu
8      NATAL                                                                                                                 DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006




Ao Menino Deus
em metáfora
                                                O Natal
                                                Eça de Queirós *                            douradas, ondei-
                                                                                            am os dísticos
de doce                                                                                     tradicionais –
Romance                                            O Natal, a grande festa doméstica da     Merry Chris-
                                                Inglaterra, foi este ano triste – dessa     tmas! Mer-
  – Quem quer fruta doce?
  – Mostre lá! Que é isso?                      tristeza particular que oferece, por um     ry Christ-
  – É doce coberto;                             dia de calma ardente, a praça deserta de    mas! alegre
  É manjar divino.                              uma vila pobre...                           natal! ale-
  – Vejamos o doce;                                O que nos estragou o Natal, não          gre natal! e
  Compraremos todo,                             foram decerto as preocupações políti-       o mesmo
  Se for todo rico.                             cas, apesar da sua negrura de borrasca.     grito se re-
  – Venha ao portal logo;                       Nem a rebelião do Transval em que os        pete nos
  Verá que não minto,                           Boers debutaram por exterminar o 94         shake-hands
  Pois de várias sortes                         de linha, um dos mais experimentados e      que se dão ao
  É doce infinito.                              gloriosos regimentos da Inglaterra e que    hóspede.
  – Desculpa, minha alma.                       ameaça ensanguentar toda a África do           Sob a cha-
  Mas ah! Que diviso?!                                                                      miné estala e dança
                                                Sul numa guerra de raças; nem a situa-
  Envolto em mantilhas,
                                                ção da Irlanda, que já não é governada      a grande fogueira
  Um Infante lindo!
  – Pois de que se admira,                      pela Inglaterra, mas pelo comité revolu-    do Natal: a sua luz
  Quando este Menino                            cionário da Liga Agrária – seriam inqui-    rica faz parecer de ouro os cabelos
  É doce coberto,                               etações suficientes para tirar o sabor      louros, e de prata as barbas brancas.
  É manjar divino?                              tradicional ao, plum-pudding do Natal.         Tudo está enfeitado como numa
  – Diga o como é doce,                         As desgraças públicas nunca impedem         Páscoa sagrada: dos retratos dos avós
  Que ignoro o prodígio.                        que os cidadãos jantem com apetite: e       pendem ramos de flores de Inverno,
  – Não sabe o mistério?                        misérias da pátria, enquanto não são        as flores da neve, e todas as pratas da
                                                                                                                                                                    “Santo Claus”
  Ora vá ouvindo:                               tangíveis e senão apresentam, sob a         casa cintilam sobre os aparadores,
                                                                                                                                                                    de acordo com

  Muito antes de Santa Ana,                     forma flamejante de obuses rebentando,      numa solenidade patriarcal. Dos
                                                                                                                                                                    o Harper’s Bazar

  Teve este doce princípio,                     inuma cidade sitiada, não tirarão jamais    grandes lustres balança-
                                                                                                                                                                    de Dezembro

  Porque já do Salvador
                                                                                                                                                                    de1867
                                                o sono ao patriota.                         se o ramo simbólico do
  Se davam muitos indícios.
                                                   Não; o que estragou o Natal, foi sim-    mistletoe, o ramo do amor
  Mas na Anunciada dizem
                                                plesmente a falta de neve. Um Natal         doméstico: e ai das se-
  Que houve mais expresso aviso,
  E logo na Encarnação                          como este que passámos, com um sol de       nhoras que um momento pa-
  Se entrou por modo divino.                    uma palidez de convalescente, deslizan-     rarem sob a sua ramagem! Quem assim
  Esteve pois na Esperança                      do timidamente sobre uma imensa peça        as surpreender tem direito a beijá-las           Mas destas personagens que aparecem
  Muitos tempos escondido;                      de seda azul desbotada, um Natal sem        num grande abraço! Também, que vol-           pelas consoadas, o meu predilecto é Father
  Saiu da Madre de Deus,                        neve, um Natal sem casacos de peles,        tas sábias, que estratégia complicada,        Christmas – o papá Natal.
  depois às Claras foi visto.                   parece tão insípido e tão desconsolado      para evitar o ramo fatídico! Mas, pobres         Esse, porém, só pode ser admirado em
  Fazem dele estimação                          como seria em Portugal a noite de S.        anjos! ou se enganam ou se assustam, e        toda a sua glória, quando se abre a sala da
  As freiras com tal capricho,                  João, noite de fogueiras e descantes, se    a cada momento é sob o mistletoe um           ceia: então lá está sobre o seu pedestal, ao
  Que apuram para este doce                     houvesse no chão três palmos de neve e      grito, um beijo, dois abraços que pren-       centro da mesa – que lhe põe em torno,
  Todos os cinco sentidos.                      caísse por cima o granizo até de madru-     dem uma cinta fugitiva...                     com os cristais e os pratos, um amável bri-
  Afirmam que no Calvário                       gada! Um desapontamento nacional!              E o piano não se cala nestas noites! É     lho da auréola caseira. Bem-vindo, papá
  Terá seu termo finito,
                                                   Para compreender bem o encanto da        alguma velha canção inglesa, em que se        Natal! Boas noites, papá Natal!
  Sendo que no Sacramento
                                                neve deste famoso Natal inglês, basta       fala de torneios e cavaleiros, ou uma            O respeitável ancião, com o seu capuz
  Há-de ter novo artifício.
  Que seja doce este Infante,                   examinar alguma das pinturas, gravuras      dança da Escócia, que se baila, com o         até aos olhos, todo salpicado de neve, as
  A razão o está pedindo,                       ou oleografias, que o têm popularizado.     gentil cerimonial do passado.                 mãos escondidas nas largas mangas de
  Porque é certo que é morgado,                    O assunto não varia na paisagem re-         E por corredores e salas, as crianças,     frade, o olho maganão e jovial, esgarça a
  Sendo unigénito Filho!                        petida: é sempre a mesma entrada dum        os bebés, com os cabelos ao vento, vesti-     boca num riso de felicidade sem-fim, e as
  Exposto ao rigor do tempo,                    parque, de aparência feudal, por véspe-     dos de branco e cor-de-rosa, correm, can-     suas enormes barbas de algodão pendem-
  Quando tirita nuzinho,                        ras do Natal, antes da meia-noite; o céu    tam, riem, vão a cada momento espreitar       lhe até aos pés.
  Um caramelo parece                            pesado de neve suspensa parece uma,         os ponteiros do relógio monumental, por-         Todas as crianças o querem abraçar, e
  Pelo branco e pelo frio.                      gaza suja: e a perder de vista tudo está    que à meia-noite chega Santo Claus, o         ele não se recusa, porque é indulgente.
  Tão doce é que, porque farte                  coberto da neve caída, uma neve bran-       venerável Santo Claus que tem três mil           E quanto mais a ceia se anima, mais o
  Ao pecador mais faminto,                      ca, fofa, alta, que faz nos campos um       anos de idade e um coração de pomba, e        seu patriarcal riso se escancara; as boche-
  Será de pão com espécies,                     grande silêncio. Junto à grade do par-      que já a essa hora vem caminhando pela        chas reluzem-lhe de escarlates, as barbas
  Substancial doce divino.
                                                que, uma mulher e duas crianças, ataba-     neve da estrada, rindo com os seus velhos     parecem crescer-lhe, e ali está, bonacheirão
  É manjar tão soberano,
                                                fadas nos seus farrapos, com lampiões       botões, apoiado ao seu cajado, e com os       e venerável, com a importância de um
  Regalo tão peregrino,
  Que os espíritos levanta,                     na mão, vão cantando as loas; e ao          alforges cheios de bonecos. Amável            Deus tutelar e amado, como a encarnação
  Tornando aos mortos vivos.                    fundo, entre as ramagens despidas,          Santo Claus! Por um tempo tão frio,           sacramental da alegria doméstica.
  Tão delicioso bocado                          ergue-se o maciço castelo, com as jane-     naquela idade deixar a cabana de algodão         E no entanto fora, na neve, as pobres cri-
  Será de gosto infinito,                       las flamejando, abrasadas da grande luz     que ele habita no país da Legenda, e vir      anças cantam as loas: e com vigor as can-
  Manjar real, verdadeiro,                      de dentro e da alegria que as habita.       por sobre ondas do mar e ramagens de          tam! É que elas sabem que não serão
  Manjar branco, parecido!                         E toda a poesia do Natal está justa-     florestas trazer a estes bebés o seu natal!   esquecidas: e que daqui a pouco a grade se
  Que é manjar dos Anjos, dizem                 mente nessas janelas resplandecendo na         Também, como eles o adoram, o bom          abrirá, e virá um criado, vergando ao peso
  Talentos mui fidedignos,                      noite nevada.                               Claus! E apenas ele chegar, como corre-       de toda a sorte de coisas boas, peças de
  Por ser pão de ló, que aos Anjos                 Felizes aqueles para quem essas por-     rão todos, em triunfo, a puxá-lo para o       carne, empadas, vinho, queijos – e mesmo
  Foi em figura oferecido                       tas difíceis se abrem! Logo ao entrar na    pé do lume, a esfregar-lhe as decrépitas      bonecas para os pequenos; porque Santo
                         Jerónimo Baía          antecâmara os tectos, as ombreiras, os      mãos regeladas, e oferecer-lhe uma taça       Claus é um democrata, e, se enche os seus
               (Frade beneditino e professor,   espaldares das cadeiras, os troféus de      de prata cheia de hidromel quente - que       alforges para os ricos, gosta sobretudo de
               nascido em Coimbra em 1620       caça, aparecem adornados das verduras       ele bebe dum trago, o glutão! Depois          os ver esvaziados no regaço dos pobres.
   e falecido em Viana do Castelo em 1688,      do Natal, das ramagens sagradas do car-     abrem-se-lhe os alforges. Quantas                Tudo isto é encantador. Mas tire-se-lhe a
         pregador na corte de D. Afonso VI)
                                                valho céltico; e pelas paredes, em letras   maravilhas!...                                neve, e fica estragado. O Natal com uma
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O Centro - n.º 16 – 13.12.2006

  • 1. Inscreva-se em: Atelier de Pintura Iniciação em Artes Plásticas Conferências de Anatomia Artística Mais de 250 obras de arte em catálogo Visite-nos em www.aelima.com ou Rua Gil Vicente, 86-A – Coimbra Exposição de fotografia de João Igor e de pintura de Luís Sargento até 21 de Dezembro Telefone: 239 781 486 – Telemóvel: 917 766 093 Santos da Casa DIRECTOR J O R G E C A S T I L H O João Araújo, D.O. de: Maria Luíza Fernandes OSTEOPATA Comércio Guarda – Consultas à 2.ª feira de Artigos Religiosos Marcações pelo telefone: 271 237 039 | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Telef. 239 83 62 83 Autorizado a circular em invólucro Rua da Sofia, 94 A - 3000-389 Coimbra de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO I N.º 16 (II série) De 13 a 26 de Dezembro de 2006 € 1 euro (iva incluído) Natal Origens Contos Tradições Poemas “Natividade” Josefa de Óbidos PÁGINAS 4 A 12 (1630 – 1684) INICIATIVA DO CONSERVATÓRIO DE COIMBRA Música vai invadir a cidade Quinta-feira na Baixa Sexta-feira no “Dolce Vita” Perspectiva do futuro Conservatório PÁGINA 11 UMA PRENDA NATALÍCIA SÓ UMA ESCOLA NO PAÍS OPINIÃO Ofereça ORIGINAL uma assinatura Cães-guia Quem do “Centro” mudam se lembra e ganhe uma obra de arte vida de da deficientes Académica? PÁG. 2 e 3 PÁG. 18 PÁG. 15
  • 2. 2 ENTREVISTA DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006 CONFIRMANDO A OPINIÃO DE D. ALBINO CLETO EM ENTREVISTA AO “CENTRO” Cardeal de São Paulo admite que a Igreja reconsidere celibato dos padres Na anterior edição do “Centro” publicá- Reiterando o que D. Albino Cleto referi- apresentou a demissão por motivos de mos uma desenvolvida entrevista com o ra ao “Centro”, o cardeal brasileiro salien- idade. Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, onde o tou na entrevista que existem alguns padres Com a recente nomeação, Hummes questionámos sobre o celibato dos padres casados e que a proibição do matrimónio passa a ser o brasileiro com maior influên- (relativamente ao qual ele manifestou con- só foi adoptada depois da instituição do cia no Vaticano e aumentará as suas possi- cordância) e sobre o alegado conservado- sacerdócio. bilidades de se tornar Papa se houver outro rismo do novo Papa, de que ele discordou. Cláudio Hummes, que chegou a ser conclave antes de completar 80 anos, limi- Para sustentar que o Papa Bento XVI não é considerado um dos prováveis sucessores te para a participação dos cardeais na esco- conservador, D. Albino Cleto aludiu mes- de João Paulo II no conclave que elegeu lha papal. mo ao facto de ele ter acabado de nomear Bento XVI, disse que a Igreja Católica não Filho de imigrantes alemães, nascido como responsável pela Congregação para é “estacionária, sim uma instituição que em 1934 na cidade de Montenegro, no Es- o Clero o cardeal brasileiro Cláudio muda quando deve mudar”. tado do Rio Grande Sul, Cláudio Hummes Hummes, que é conhecido pelas suas posi- Instado a comentar os recentes escânda- foi bispo na cidade de Santo André, na ções progressistas. los de pedofilia, Cláudio Hummes referiu região metropolitana de São Paulo, entre Ora sucede que apenas três dias depois que o tema preocupa a Igreja. 1975 a 1996. da edição do “Centro”, o jornal “O Estado “Ainda que se trate de um só caso – fri- D. Cláudio Hummes é considerado um de São Paulo” publicava uma entrevista sou – já seria uma grande preocupação, cardeal progressista em relação às questões com o referido cardeal Cláudio Hummes, principalmente por causa das vítimas”. sociais, embora alguns o achem um tanto confirmando a opinião que nos fora dada “É injusto e hipócrita generalizar os conservador no que se refere à doutrina da por D. Albino Cleto. escândalos de pedofilia, pois mais de 99 Igreja. Assim, nessa entrevista o cardeal por cento dos sacerdotes não têm nada a No final da década de 70 apoiou as pri- Hummes afirma que a Igreja poderá rever ver com isso”, salientou. meiras greves operárias contra o regime o celibato para admitir sacerdotes casados. Segundo o cardeal, a pedofilia é um pro- militar de então (1964-1985), acolheu líde- “Apesar de o celibato fazer parte da his- blema de toda a sociedade, uma vez que res perseguidos, entre eles Lula da Silva, e Cláudio Hummes tória e da cultura católicas, a Igreja pode entrevista ainda no Brasil, antes de partir existem casos de abuso sexual de crianças autorizou a realização de reuniões secretas rever esta questão, pois o celibato não é um para o Vaticano (onde foi assumir o rele- nas suas próprias famílias. nas igrejas da diocese. dogma, sim uma norma disciplinar”, disse vante cargo que o torna como responsável Dom Cláudio Hummes, de 72 anos, Depois de passar dois anos em For- o cardeal. pelos assuntos relativos a 400 mil padres substitui no cargo o cardeal colombiano taleza, capital do Estado do Ceará, Cláudio Dom Cláudio Hummes concedeu esta espalhados por todo o mundo). Dario Castrillón Hoyos, de 77 anos, que Hummes substituiu, em 1998, D. Paulo Evaristo Arns, um dos mais destacados re- IGREJAS SEPARADAS HÁ MAIS DE 800 ANOS ligiosos progressistas do Brasil, na Ar- quidiocese de São Paulo. Papa recebe hoje em Roma o Primaz ortodoxo grego Ao contrário de seu antecessor em São Paulo, manteve sempre distância em rela- O chefe da igreja ortodoxa grega, mon- duas igrejas estiveram também no centro “O facto de os cristãos latinos nele ção à Teologia da Libertação, uma corren- senhor Christodoulos, inicia hoje (quar- dos encontros, no final de Novembro, em terem participado enche os católicos de te da Igreja, nomeadamente na América ta-feira, dia 13) uma visita histórica ao Istambul, entre Bento XVI e o Patriarca um profundo arrependimento”, subli- Latina, que adaptou conceitos marxistas à Vaticano, durante a qual se encontrará ecuménico ortodoxo Bartolomeu I, no nhou o Pontífice. doutrina católica. com o Papa Bento XVI, anunciou a ar- âmbito da visita do Papa à Turquia. A igreja grega, uma das mais conser- Seguidor das orientações de João Paulo quidiocese de Atenas. Tradicionalmente anti-papista, a igre- vadoras no seio da Igreja Ortodoxa, re- II, o arcebispo de São Paulo é contra a Trata-se do primeiro encontro oficial ja da Grécia melhorou no entanto as suas clamara insistentemente um arrependi- eutanásia, os métodos contraceptivos, as em Roma entre um Primaz da Igreja relações com a Santa Sé depois de uma mento do Vaticano pelas “crueldades que investigações científicas com células esta- Ortodoxa grega e um Papa. visita de João Paulo II a Atenas, em Maio os seus fiéis infligiram aos ortodoxos minais e a ordenação de mulheres. Numa entrevista ao jornal grego “Na- de 2001, em que manifestou o arrependi- durante a Quarta Cruzada”. O cardeal brasileiro fala cinco idiomas e tional Herald”, Christodoulos afirmou mento da Igreja Católica pelos erros Durante a visita do chefe da Igreja ocupa actualmente 12 cargos em organis- que este encontro com o Papa acontece cometidos contra os ortodoxos. Ortodoxa grega ao Vaticano, que termina mos do Vaticano, o que o faz passar, em no âmbito dos esforços de aproximação Na altura, o Papa evocou a “pilhagem sábado, o Papa deverá oferecer a Chris- média, uma semana por mês em Roma, entre as Igrejas Católica e Ortodoxa, dramática da cidade imperial de Constan- todoulos dois pedaços da corrente que com destaque para a participação no separadas desde 1054. tinopla, que era um bastião da Cristandade terá mantido prisioneiro o apóstolo Paulo Conselho do Diálogo Inter-religioso na As tentativas de reconciliação entre as no Oriente”, pelos cruzados em 1.204. antes da sua execução em Roma. Cúria Romana. Ofereça livros no Natal com 10% de desconto Director: Jorge Castilho No sentido de proporcionar mais alguns Mas este desconto não se cinge aos li- bastará ir ao site www.livrosnet.com e fazer benefícios aos assinantes deste jornal, o vros, antes abrange todos os produtos congé- o seu registo e a respectiva encomenda, que (Carteira Profissional n.º 99) Propriedade: Audimprensa “Centro” estabeleceu um acordo com a li- neres que estão à disposição na livraria on lhe será entregue directamente. Nif: 501 863 109 vraria on line “livrosnet.com”. line “livrosnet.com”. São apenas 20 euros por uma assinatura Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho Para além do desconto de 10%, o assinan- Aproveite esta oportunidade, se já é assi- anual – uma importância que certamente Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930 te do “Centro” pode ainda fazer a encomen- nante do “Centro”. recuperará logo na primeira encomenda de da dos livros de forma muito cómoda, sem Caso ainda não seja, preencha o boletim livros. Composição e montagem: Audimprensa sair de casa, e nada terá a pagar de custos de que publicamos na página seguinte e envie-o E, para além disso, como ao lado se indi- – Rua da Sofia, 95, 3.º 3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150 envio dos livros encomendados. para a morada que se indica. ca, receberá ainda, de forma automática e Fax: 239 854 154 Numa altura em que se aproxima o Natal, Se não quiser ter esse trabalho, bastará completamente gratuita, uma valiosa obra de e em que os livros são sempre uma excelente ligar para o 239 854 150 para fazer a sua arte de Zé Penicheiro – trabalho original e-mail: centro.jornal@gmail.com Impressão: CIC - CORAZE oferta para gente de todas as idades, este assinatura, ou solicitá-la através do e-mail simbolizando os seis distritos da Região Oliveira de Azeméis Depósito legal n.º 250930/06 desconto que proporcionamos aos assinantes centro.jornal@gmail.com. Centro, especialmente concebido para este Tiragem: 10.000 exemplares do “Centro” assume especial significado. Depois, para encomendar os seus livros, jornal pelo consagrado artista.
  • 3. DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006 3 EDITORIAL NA SOCIEDADE PORTUGUESA DE AUTORES São hoje entregues Espírito natalício os Prémios Pen Clube Os Prémios do PEN Clube Português relativos a obras publicadas em 2005 nas modalidades de poesia, ensaio, narrativa, Quero especialmente aludir às atitudes o milagre de assim descobrir, no seu ínti- primeira obra e tradução vão ser entre- Jorge Castilho de reconciliação e, sobretudo, aos gestos mo, o espírito natalício, que será a mais gues hoje (quarta-feira, dia 13) na de presença que há muito andam ausentes reconfortante de todas as prendas – para Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), jorge.castilho@zmail.pt Se fôssemos analisar as causas, certa- – entre familiares, na maioria das situa- si e para os que lhe sentiam a falta… em Lisboa. mente chegaríamos a conclusões decep- ções, mas igualmente entre amigos. Os vencedores da edição 2005 foram cionantes. Mesmo os que não se identificam *** António Ramos Rosa, na Poesia (“Géne- A verdade, porém, é que, neste caso e com uma religião são crentes, no senti- se”), Pedro Eiras, no Ensaio (“Esquecer nesta altura, mais importantes que as do de acreditarem na bondade do seu Esta edição do “CENTRO” assinala a Fausto”), Fiama Hasse Pais Brandão e causas são as consequências. próximo – às vezes, ostensivamente, tão quadra festiva, procurando fazê-lo com a Hélder Macedo, na Ficção (“Contos da Estou a referir-me ao chamado “espí- distante… possível originalidade. Daí que tenhamos Imagem” e “Sem nome”, respectivamen- rito natalício” e às coisas positivas que Por isso, seria bom que o Natal por seleccionado alguns poemas alusivos ao te) e Ana Cristina Oliveira, na primeira podem encontrar-se entre a multiplici- todos fosse assinalado – através de uma Natal, dois contos muito interessantes obra (“Continentes Negros”). dade de fenómenos que se manifestam a mensagem, de um telefonema, de uma (um de Mia Couto, num comovente José Bento e Miguel Serras Pereira par- propósito do Natal. visita… “Natal” africano, outro de Maria Ondina tilham o Grande Prémio da Tradução, pe- Que importa se a dádiva a quem pre- Não tenho dúvidas que para muitos, Braga, numa tocante vivência asiática). E las suas versões da obra magna da novelís- cisa não é feita com propósito verdadei- sobretudo para os que habitualmente es- ainda uma crónica de Eça de Queirós, tica espanhola, “Dom Quixote”, de Miguel ramente solidário, antes com o intuito tão mais sós, essa oferta provocará muito sobre o Natal londrino por ele testemu- de Cervantes. de cumprir obrigação anual, como se se mais alegria do que qualquer objecto nhado em fins do séc- XIX. À excepção do destinado à primeira tratasse do pagamento de um imposto? valioso. Para além disso, reproduzimos pintu- obra, no valor de 2.500 euros, os prémios Relevante é que ela se concretize! Por isso aqui deixo um veemente ras de alguns dos nossos mais reputados têm todos uma dotação de 5 mil euros. E não estou a referir-me às prendas, apelo: roube algum tempo aos embrulhos artistas que mostram a forma como eles, O Presidente da República, Cavaco às coisas materiais, já que essas assumi- e utilize-o a visitar (ou a escrever, a tele- em épocas bem distintas, sentiram o Silva, e o Director do Instituto Português ram, na maior parte dos casos, uma ver- fonar, a enviar um e-mail ou sms..) àque- Natal. do Livro e das Bibliotecas (IPLB), Jorge tente que tem muito mais a ver com o les que gostam de si e de quem tem anda- Desta forma singela, a todos os nossos Manuel Martins, deverão assistir à cerimó- consumismo do que com a religião – ou do afastado! Leitores, Assinantes e Anunciantes dese- nia de entrega dos prémios, marcada para mesmo com a fraternidade. Vai ver que custa pouco. E pode dar-se jamos um Natal com saúde e muito feliz! as 18h30. EXCELENTE PRENDA DE NATAL POR APENAS 20 EUROS Jornal “Centro” Rua da Sofia. 95 - 3.º 3000–390 COIMBRA Ofereça uma assinatura do “Centro” Poderá também dirigir-nos o seu pedido de e ganhe valiosa obra de arte assinatura através de: telefone 239 854 156 O jornal “Centro” tem uma aliciante pro- tónico, de deslumbrantes paisagens (desde as sempre bem informado sobre o que de mais fax 239 854 154 posta para si. praias magníficas até às serras verdejantes) e, importante vai acontecendo nesta Região, no ou para o seguinte endereço de e-mail: De facto, basta subscrever uma assinatura ainda, de gente hospitaleira e trabalhadora. País e no Mundo. centro.jornal@gmail.com anual, por apenas 20 euros, para automatica- Não perca, pois, a oportunidade de receber Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, por mente ganharem uma valiosa obra de arte. já, GRATUITAMENTE, esta magnífica obra APENAS 20 EUROS! Para além da obra de arte que desde já lhe ofe- Trata-se de um belíssimo trabalho da auto- de arte, que está reproduzida na primeira pági- Não perca esta campanha promocional, e recemos, estamos a preparar muitas outras regali- ria de Zé Penicheiro, expressamente concebi- na, mas que tem dimensões bem maiores do ASSINE JÁ o “Centro”. as para os nossos assinantes, pelo que os 20 euros do para o jornal “Centro”, com o cunho bem que aquelas que ali apresenta (mais exacta- Para tanto, basta cortar e preencher o da assinatura serão um excelente investimento. característico deste artista plástico – um dos mente 50 cm x 34 cm). cupão que abaixo publicamos, e enviá-lo, O seu apoio é imprescindível para que o mais prestigiados pintores portugueses, com Para além desta oferta, passará a receber acompanhado do valor de 20 euros (de prefe- “Centro” cresça e se desenvolva, dando voz a reconhecimento mesmo a nível internacional, directamente em sua casa (ou no local que nos rência em cheque passado em nome de esta Região. estando representado em colecções espalha- indicar), o jornal “Centro”, que o manterá AUDIMPRENSA), para a seguinte morada: CONTAMOS CONSIGO! das por vários pontos do Mundo. Neste trabalho, Zé Penicheiro, com o seu traço peculiar e a inconfundível utilização de uma invulgar paleta de cores, criou uma obra Desejo receber uma assinatura do jornal CENTRO (26 edições). que alia grande qualidade artística a um pro- fundo simbolismo. Para tal envio: cheque vale de correio no valor de 20 euros. De facto, o artista, para representar a Re- gião Centro, concebeu uma flor, composta pelos seis distritos que integram esta zona do Nome: País: Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Morada: Guarda, Leiria e Viseu. Cada um destes distritos é representado Localidade: Cód. Postal: Telefone: por um elemento (remetendo para respecti- vo património histórico, arquitectónico ou Profissão: e-mail: natural). A flor, assim composta desta forma tão ori- Desejo receber recibo na volta do correio N.º de contribuinte: ginal, está a desabrochar, simbolizando o crescente desenvolvimento desta Região Cen- Assinatura: tro de Portugal, tão rica de potencialidades, de História, de Cultura, de património arquitec-
  • 4. 4 NATAL DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006 Natal: origem e O Natal surge como o aniversário tes, que são dados pelo Pai Natal ou O nascimento de Jesus começou a ser burro e feno, e colocou na gruta as ima- do nascimento de Jesus Cristo, pelo Menino Jesus, dependendo da tra- celebrado no século III, data das primei- gens do Menino Jesus, da Virgem Maria Filho de Deus, sendo dição de cada país. ras peregrinações a Belém, para se visi- e de S. José. Com isto, pretendeu tornar actualmente uma das festas tar o local onde Jesus nasceu. mais acessível e clara a celebração do católicas mais importantes. No século IV começaram a surgir Natal, para que as pessoas pudessem representações do nascimento de Jesus visualizar o que se terá passado em PRESÉPIO Inicialmente, a Igreja Católica não comemorava o Natal. A palavra “presépio” significa “um em pinturas, relevos ou frescos. Belém durante o nascimento de Jesus. lugar onde se recolhe o gado, curral, es- Passados nove séculos, mais precisa- Nos finais do século XV, graças a um Foi em meados do século IV d. C. tábulo”. Contudo, esta também é a mente no ano de 1223, S. desejo crescente de fazer reconstruções que se começou a festejar designação dada à representação Francisco de Assis decidiu plásticas da Natividade, as figuras de o nascimento do Menino Jesus, artística do nascimento do celebrar a missa da véspera Natal libertam-se das paredes das igre- tendo o Papa Júlio I fixado Menino Jesus num estábulo, de Natal com os cidadãos de jas, surgindo em pequenas figuras, o a data no dia 25 de Dezembro, acompanhado pela Virgem Ma- Assis de forma diferente. que permite criar cenas diferentes. já que se desconhece a verdadeira ria, S. José e uma vaca e Assim, esta missa, em Surgem, assim, os presépios. data do seu nascimento. um jumento – a que muitas vez de ser celebrada no A criação do cenário que hoje é Uma das explicações para vezes se acrescentam outras interior de uma igreja, conhecido como presépio, provavel- a escolha do dia 25 de Dezembro figuras, como pastores, foi celebrada numa mente, deu-se já no século XVI. como sendo o dia de Natal ovelhas, anjos, os Reis gruta, que se situava Segundo o inventário do Castelo de prende-se como facto de esta data Magos. na floresta de Grécio, Piccolomini em Celano, o primeiro pre- coincidir com a Saturnália perto da cida- sépio criado num lar particular surgiu dos romanos e com as festas de. S. Francis- em 1567, na casa da Duquesa de germânicas e célticas do Solstício co transportou Amalfi, Constanza Piccolomini. de Inverno. Sendo todas estas para essa No século XVIII, a recriação da cena festividades pagãs, a Igreja viu gruta um do nascimento de Jesus estava comple- aqui uma oportunidade boi e um tamente inserida nas tradições de Nápoles e da Península Ibérica, incluin- de cristianizar a data, colocando do Portugal. em segundo plano a sua conotação Aliás, há quem considere que no pagã. Algumas zonas optaram nosso País foram feitos alguns dos mais por festejar o acontecimento belos presépios de todo o mundo, sendo em 6 de Janeiro, mas gradualmente de destacar os realizados pelos esculto- esta data foi sendo associada res e barristas Machada de Castro e à chegada dos Reis Magos e não António Ferreira, no século XVIII. ao nascimento de Jesus Cristo. O Natal é, assim, dedicado pelos cristãos a Cristo, ÁRVORE DE NATAL que é o verdadeiro Sol de Justiça A Árvore de Natal é um pi- (Mateus 17,2; Apocalipse 1,16), nheiro ou abeto, enfeitado e ilu- e transformou-se numa minado, especialmente nas casas das festividades centrais particulares, na noite de Natal. da Igreja, equiparada A tradição da Árvore de Natal desde cedo à Páscoa. tem raízes muito mais longínquas Apesar de ser uma festa cristã, do que o próprio Natal. o Natal, com o passar Os romanos enfeitavam árvo- do tempo, converteu-se res em honra de Saturno, deus da agricultura, mais ou menos na numa festa familiar mesma época em que hoje com tradições pagãs, preparamos a Ár- em parte germâni- vore de Natal. Os cas e em parte egípcios traziam ga- romanas. lhos verdes de pal- meiras para dentro Sob influência francis- de suas casa no dia cana, espalhou-se, a mais curto do ano partir de 1233, o cos- (que é em Dezem- tume de, em toda a bro), como símbo- cristandade, se cons- lo de triunfo da truírem presépios, já vida sobre a que estes reconstituí- morte. Nas cul- am a cena do nasci- turas célticas, mento de Jesus. os druídas tin- A árvore de Natal sur- ham o costume de ge no século XVI, sendo decorar velhos carva- enfeitada com luzes sím- lhos com maçãs doura- bolo de Cristo, Luz do das para festividades Mundo. Uma outra tradição também celebradas na de Natal é a troca de presen- mesma época do ano.
  • 5. DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006 NATAL 5 simbologia A primeira referência a uma “Árvore de Belchior e Gaspar). O rei da Judeia, tolos, traiu Jesus por 30 dinheiros. Depois Quanto ao número e nomes dos Reis Natal” surgiu no século XVI e foi nesta Herodes, sabendo que chegada do Messias de ter celebrado a última ceia e instituído a Magos são tudo suposições sem base altura que ela se vulgarizou na Europa era anunciada para essa época pelos anti- Eucaristia, Cristo teve de comparecer histórica, aliás algumas pinturas dos pri- Central, há notícias de árvores de Natal na gos profetas, ordenou que todos os recém- perante o sumo-sacerdote dos Judeus, meiros séculos mostram 2, 4 e até Lituânia em 1510. nascidos fossem assassinados. Perante isto, Caifás, e em seguida perante a justiça mesmo 12 Reis Magos adorando Jesus. Diz-se que foi Lutero (1483-1546), José (pai adoptivo de Jesus) e Maria deci- romana, representada por Pôncio Pilatos. Foi uma tradição posterior aos Evan- autor da reforma protestante, que após um diram fugir para o Egipto, para salvarem a Condenado pelo primeiro, abandonado gelhos que lhes deu o nome de Baltasar, passeio, pela floresta no Inverno, numa Gaspar e Belchior (ou Melchior), tendo- noite de céu limpo e de estrelas brilhantes se também atribuído a cada um caracte- trouxe essa imagem à família sob a forma rísticas próprias. de Árvore de Natal, com uma estrela bri- Belchior (ou Melchior) seria o represen- lhante no topo e decorada com velas, isto tante da raça branca (europeia) e descende- porque para ele o céu devia ter estado ria de Jafé; Gaspar representaria a raça assim no dia do nascimento do Menino amarela (asiática) e seria descendente de Jesus. Sem; por fim, Baltasar representaria todos O costume começou a enraizar-se. Na os de raça negra (africana) e descenderia de Alemanha, as famílias, ricas e pobres, Cam. Estavam assim representadas todas decoravam as suas árvores com frutos, as raças bíblicas (e as únicas conhecidas na doces e flores de papel (as flores vermelhas altura: os semitas, os jafetitas e camitas. representavam o conhecimento e as bran- Pode então dizer-se que a adoração dos cas representavam a inocência). Isto per- Reis Magos ao Menino Jesus simboliza a mitiu que surgisse uma indústria de deco- homenagem de todos os homens na Terra rações de Natal, em que a Turíngia se espe- ao Rei dos reis, mesmo os representantes cializou. do tronos, senhores da Terra, curvam-se No início do século XVII, a Grã- perante Cristo, reconhecendo assim a sua Bretanha começou a importar da Ale- divina realeza. manha a tradição da Árvore de Natal O dia de Reis celebra-se a 6 de Janeiro, pelas mãos dos monarcas de Hannover. partindo-se do princípio que foi neste dia Contudo a tradição só se consolidou nas que os Reis Magos chegaram finalmente Ilhas Britânicas após a publicação pela junto ao Menino Jesus. Em alguns países é “Illustrated London News”, de uma no dia 6 de Janeiro que se entregam os pre- imagem da Rainha Vitória e Alberto sentes. com os seus filhos, junto à Árvore de Ao chegarem ao seu destino, os Reis Natal no castelo de Windsor, no Natal Magos deram como presentes ao Menino de 1846. Jesus: Ouro (oferecido por Belchior), para Esta tradição espalhou-se por toda a representar a Sua nobreza; incenso (ofere- Europa e chegou aos EUA aquando da cido por Gaspar), que representa a divinda- guerra da independência pelas mãos dos de de Jesus; e Mirra (oferecido por soldados alemães. A tradição não se conso- Baltasar), simbolizando o sofrimento que lidou uniformemente dada a divergência Cristo enfrentaria na Terra (a mirra é uma erva amarga). “Presépio” Gregório Lopes, c.1490-1550, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa de povos e culturas. Contudo, em 1856, a Casa Branca foi enfeitada com uma árvore Assim, os Reis Magos homenagearam de Natal e a tradição mantém-se desde vida de Jesus. Só depois da morte de He- pelo segundo, coberto de ultrajes pelo povo Jesus como rei (ouro), como deus (incen- 1923. rodes, esta família voltou para Nazaré, na subiu ao Calvário, onde morreu crucifica- so) e como homem (mirra). Como o uso da árvore de Natal tem ori- Galileia. Aqui Jesus cresceu, ajudando seu do entre dois ladrões. Ressuscitou ao 3.º Coloca-se a questão de saber como é gem pagã, este predomina nos países nór- pai adoptivo no trabalho de carpinteiro. dia e apareceu a muitos dos seus discípu- que os Reis Magos associaram o apareci- dicos e no mundo anglo-saxónico. Nos Aos 30 anos, Jesus começou a sua missão, los, encarregando-os de espalhar a sua dou- mento da Estrela com o nascimento de países católicos, como Portugal, a tradição sendo baptizado por seu primo S. João trina pelo mundo inteiro. Quarenta dias Jesus. A verdade é que existem várias teo- da árvore de Natal foi surgindo pouco a Baptista, nas águas do Jordão. Em seguida, depois da sua ressurreição, subiu aos céus rias, mas não há como saber qual delas é a pouco ao lado dos já tradicionais presépios. dirigiu-se para o deserto onde permaneceu na presença dos seus discípulos. correcta. Uma dessas teorias considera que durante 40 dias em jejum e onde resistiu às os Reis Magos descobriram a relação entre tentações de Satanás. Começou por pregar o novo astro e o nascimento de Cristo. o Evangelho ou a “boa nova” na Galileia, MENINO JESUS REIS MAGOS Jesus, em hebreu, Jehoshua, abreviado depois dirigiu-se para Jerusalém, lugar Os Reis Magos teriam vindo do Oriente, Mais explicações sobre esta questão e em Jeshua, que quer dizer “Javé, é a salva- onde se deparou com uma hostilidade cres- guiados por uma estrela, para adorar o outras relacionadas com os Reis Magos ção”, o filho de Deus, segundo o cente por parte dos fariseus. Na sua missão, Deus Menino, em Belém são dadas através de textos apócrifos, isto Evangelho, e o Messias anunciado pelos Jesus foi acompanhado pelos seus discípu- A designação “Mago” era dada, entre é, textos não reconhecidos pela Igreja. profetas. Nasceu em Belém da Virgem los, os doze apóstolos, com estes percorreu os Orientais, à classe dos sábios ou erudi- Contudo estes textos foram, de um Maria, em 25 de Dezembro do ano de 749 as cidades da Judeia e da Galileia, pregan- tos, contudo esta palavra também era modo geral, escritos nos séculos II e III da de Roma, embora o cálculo feito no século do a caridade, o amor de Deus e do próxi- usada para designar os astrólogo. Isto fez era cristã, para preencherem lacunas VI pelo frade Dionísio, e que serve de cro- mo e realizando inúmeros milagres. As com que, inicialmente, se pensasse que sobre a vida de Jesus e de outras persona- nologia da era cristã, colocou o nascimen- ideias defendidas por Jesus Cristo fizeram estes magos eram sábios astrólogos, mem- gens do Novo Testamento, assim objecti- to, erradamente, no ano de 754. Jesus mor- enfurecer os fariseus e os sacerdotes bros da classe sacerdotal de alguns povos vo destes era saciar a curiosidade religio- reu crucificado, no ano 33 da era moderna. judeus, que acusaram-no perante o gover- orientais. sa, transformando o vago em concreto, Segundo os Evangelhos, o presépio que nador romano, Pôncio Pilatos, de se dizer Posteriormente, a Igreja atribuiu-lhes o independentemente da veracidade dos fac- serviu de berço ao Menino Jesus foi visita- Rei dos Judeus e de querer derrubar o apelido de “Reis”, em virtude da aplicação tos, daí não estarem incluídos nos chama- do pelos Reis Magos do Oriente (Baltasar, governo estabelecido. Judas, um dos após- liberal que se lhes fez do Salmo 71,10. dos Livros Canónicos.
  • 6. 6 NATAL DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006 O menino no sapatinho Mia Couto * desirmanada lhe fazia de cobertor. O sendo aqueles seus exclusivos e únicos O marido azedava e começou a ame- frio estreitasse e a mulher se levantava sapatos, ele se despromoveria para um açar: se era para lhe desalojar o definiti- Era uma vez o menino pequenito, tão de noite para repuxar a trança dos ataca- chinelado? vo pé, então, o melhor seria desfaze- minimozito que todos seus dedos eram dores. Assim lhe calçava um aconche- – Sim – respondeu a mulher. – Eu já rem-se do vindouro. A mãe, estarrecida, mindinhos. Dito assim, fino modo, ele, go. Todas as manhãs, de prevenção, ela lhe dei os meus chinelos. fosse o fim de todos os mundos: quando nasceu, nem foi dado à luz mas avisava os demais e demasiados: Mas não dava jeito naqueles areais – Vai o quê fazer? a uma simples fresta de claridade. – Cuidado, já dentrei o menino no do bairro. Ela devia saber. A pessoa – Vou é desfazer. De tão miserenta, a mãe se alegrou sapato. pisa o chão e não sabe se há mais Ela prometia-lhe um tempo, na espe- com o destamanho do rebento – assim ra que o bebé graudasse. Mas o assunto pediria apenas os menores alimentos. A azedava e até degenerou em soco, pun- mulher, em si, deu graças: que é bom a hos ciscando o escuro. Os olhos dela, criança nascer assim desprovida de amendoídos ainda, continuaram esprei- peso que é para não chamar os maus tando o improvisado berço. Ela sabia espíritos. E suspirava, enquanto con- que os anjos da guarda estão a preços templava a diminuta criatura. que os pobres nem ousam. Olhar de mãe, quem mais pode apa- Até que o ano findou, esgotada a últi- gar as feiuras e defeitos nos viventes? ma folha do calendário. Vinda da igreja, Ao menino nem se lhe ouvia o choro. a mãe descobriu-se do véu e anunciou Sabia-se de sua tristeza pelas lágrimas. que iria compor a árvore de Natal. Sem Mas estas, de tão leves, nem lhe des- despesa nem sobrepeso. Tirou à lenha ciam pelo rosto. As lagriminhas subiam um tosco arbusto. Os enfeites eram tam- pelo ar e vogavam suspensas. Depois, pinhas de cerveja, sobras da bebedeira se fixavam no tecto e ali se grutavam, do homem. Junto à árvore ela rezou missangas tremeluzentes. com devoção de Eva antes de haver a Ela pegava no menino, com uma só macieira. Pediu a Deus que fosse dado mão. E falava, mansinho, para essa con- ao seu menino o tamanho que lhe era cha. devido. Só isso, mais nada. Talvez, Na realidade, não falava: assobiava, depois, um adequado berço. Ou quem feita uma ave. Dizia que o filho não sabe, um calçado novo para o seu tinha entendimento para palavra. Só lín- homem. Que aquele sapato já espreitava gua de pássaro lhe tocaria o reduzido pelo umbigo, o buraco na frente autori- coração. Quem podia entender? Ele há zando o frio. dessas coisas tão subtis, incapazes Na sagrada antenoite, a mulher fez mesmo de existir. Como essas estrelas como aprendera dos brancos: deixou o que chegam até nós mesmo depois de sapatinho na árvore para uma qualquer terem morrido. A senhora não se impor- improbabilíssima oferta que lhe miracu- tava com os dizquedizeres. lasse o lar. Ela mesmo tinha aprendido a ser de No escuro dessa noite, a mãe não outra dimensão, florindo como o capim: dormiu, seus ouvidos não esmoreceram. sem cor nem cheiro. Despontavam as primeiras horas A mãe só tinha fala na igreja. No quando lhe pareceu escutar passos na resto, pouco falava. O marido, descren- sala. E depois, o silêncio. Tão espesso te de tudo, nem tinha tempo para ser que tudo se afundou e a mãe foi engoli- desempregado. O homem era um fiorra- da pelo cansaço. po, despacha-gargalos, entorna-fundos. “Adoração dos Magos” Acordou cedo e foi directa ao arbus- Vasco Fernandes (Grão Vasco), activo entre 1501 e 1540 Do bar para o quarto, de casa para a cer- to de Natal. Dentro do sapato, porém, só vejaria. o vago vazio, a redonda concavidade do Pois, aconteceu o seguinte: dadas as Que ninguém, por descuido, o calças- areia em baixo que em cima do pé. nada. O filho desaparecera? Não para os dimensões de sua vida e não havendo se. Muito-muito, o marido quando vol- – Além disso, eu é que paguei os tais olhos da mãe. Que ele tinha sido levado berço à medida, a mãe colocou o meni- tava bêbado e queria sair uma vez mais, sapatos. por Jesus, rumo aos céus, onde há um ninho num sapato. E cujo era o esquer- desnoitado, sem distinguir o mais Palavras. Porque a mãe respondia mundo apto para crianças. Descida em do do único par, o do marido. De então esquerdo do menos esquerdo. A mulher com sentimentos: seus joelhos, agradeceu a bondade divi- em diante, o homem passou a calçar de não deixava que o berço fugisse da vis- – Veja o seu filho, parece o Jesuzinho na. De relance, ainda notou que lá no um só pé. Só na ida isso o incomodava. lembrança dela. Porque o marido já se empalhado, todo embrulhadinho nos tecto já não brilhavam as lágrimas do Na volta, ele nem se apercebia de ter outorgava, cheio de queixa: bichos de cabedal. seu menino. Mas ela desviou o olhar, pés, dois na mesma direcção. – Então, ando para aqui improvisar Ainda o filho estava melhor que que essa é a competência de mãe: o não Em casa, na quentura da palmilha, o um coxinho? Cristo – ao menos um sapato já não é enxergar nunca a curva onde o escuro miúdo aprendia já o lugar do pobre: nos – É seu filho, pois não? bicho em bruto. Era o argumento dela faz extinguir o mundo. embaixos do mundo. Junto ao chão, tão – O diabo que te descarregue! mas ele, nem querendo saber, subia de rés e rasteiro que, em morrendo, dispen- E apontava o filhote: o individuozito tom: * Retirado de “Na Berma de Nenhuma Estrada” saria quase o ser enterrado. Uma peúga interrompia o seu calçado? Pois que, – Cá se fazem, cá se apagam! (2ª Edição), Lisboa, Editorial Caminho, 2001 Festas Felizes
  • 7. DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006 NATAL 7 Natal Chinês Por Maria Ondina Braga * Com um sorriso meio complacente traduzia em inglês para a senhora Tung, sim, mas racionalmente, atraindo a von- meio contrariado, a irmã Chen-Mou que achava isto enternecedor e gratifi- tade do homem à da sua companheira e A senhora Tung chegava dois dias desconversava, passando a bandeja dos cava a velha generosamente. exaltando essa atracção. Como o Céu antes da consoada. Costumava vê-la logo bolos à superiora, que separava uns tan- Quando por fim atravessávamos a alagando a Terra na estação própria. de manhã, com a irmã jardineira, no tos para o convento. Os restantes comê- cerca a caminho de casa, sob uma lua Retomávamos a marcha em direcção pátio maior, a admirar as laranjeiras anãs los-íamos nós, ao fim da Missa do Galo, branca, espantada, anunciadora do aos nossos aposentos. Difícil para mim nos vasos de loiça. Via-a casualmente a com chocolate quente. Inverno para a madrugada, a senhora responder às dúvidas da senhora Tung, contemplar, embevecida, o presépio do O chocolate era a esperada surpresa Tung abria-se em confidências. nem ela parecia esperar resposta. Mu- convento. Encontrava-a por fim à mesa. da directora. A senhora Tung chamava- A menina sabia... ? a «menina» era a dava, rápida, de assunto, aludindo ao A senhora Tung viajava todos os anos lhe, em ar de gracejo, «chá de Paris». No irmã Chen-Mou, a subdirectora do colé- tempo, à viagem de regresso, às saboro- da Formosa para Macau, na época do fim das três missas vinham outra vez as gio ?, sabia que ela continuava a vene- sas guloseimas da criada macaísta. Natal, a fim de festejar o nascimento de três freiras ao refeitório do colégio para rar a Deusa da Fecundidade. Tratava-se Já em casa, convidava-me a ir ver o Cristo na companhia da sua primogéni- trocarem connosco o beijo da paz e nos de uma pequena divindade, toda nua e seu presépio. O quarto cheirava forte- ta, a irmã Chen-Mou. oferecerem a tigela fumegante do cho- toda de oiro. Fora ela quem lhe dera fil- mente a incenso. Em cima da cómoda, Nesses dias, com as meninas em colate. Vinham e partiam logo (tarde hos. Estéril durante sete anos, a senhora entre flores, lá estava o Menino Jesus, férias, o refeitório do colégio parecia demais para se demorarem), e Miss Lu, Tung recorrera à sua intercessão divina de cabaia de seda encarnada, sapatinhos maior e mais desconfortável: só eu e fanática terceira-franciscana, sempre quando o marido já se preparava para de veludo preto, feições chinesas. Miss Lu nos sentávamos à mesa com- atenta aos passos das monjas, sorvia à receber nova esposa. Não podia portan- Depois, timidamente, a senhora Tung prida das professoras. Daí a presença da pressa o líquido escaldante, como quem to deixar de a amar. Toda a felicidade abria a gaveta... e surgia a deusa. senhora Tung, que noutra ocasião pas- cumprisse um dever, e saía atrás delas. lhe provinha daí, dessa afortunada hora O Menino Jesus era de marfim. A saria talvez despercebida (estirada a Ficávamos, assim, a senhora Tung e em que a deusa a escutara. Deusa da Fecundidade era de oiro. O sala entre pátios de cimento e plantas eu, uma em frente da outra. À luz das Parava a meio do largo átrio enluara- Menino, de pé, de um palmo de altura, verdes), se tornar nessa altura notável. trajando ricamente. A deusa, sentada, Baixa, seca de carnes, de olhos aten- pequenina, nua. ciosos, pensativos, a senhora Tung sor- Os olhos da senhora Tung atentavam ria constantemente, falava inglês, gosta- nos meus, como se à procura de com- va de comer, de fumar, de jogar ma- preensão, mas as suas palavras prontas jong. As criadas cortejavam-na nos cor- (a deter as minhas?) eram de autocensu- redores, preparavam-lhe pratos especi- ra. Não, não devia fazer aquilo. A filha ais, levavam-lhe chá ao quarto. Além de asseverara que o Menino Jesus entriste- ser mãe da subdirectora, tinha fama de cia, em cima da cómoda, por causa da rica e distribuía moedas de prata a todo deusa, na gaveta. E quem sabia mais do o pessoal na noite de festa. que a filha? Nessa noite assistiam três freiras ao Eu já sentia frio, apesar da aguarden- nosso jantar (a regra não lhes permitia te de arroz. O Inverno, ali, chegava de comer connosco): a directora, a subdi- repente. A senhora Tung, no entanto, rectora e a mestra dos estudos. E muito tinha as mãos quentes e as faces afo- empertigada, segurando com ambas as gueadas. mãos um tabuleiro de laca coberto com Despedíamo-nos. Eu sempre me ape- um pano de seda, a senhora Tung rece- tecia dizer-lhe que estivesse sossegada, bia-as à porta do refeitório, entregando que de certeza o Menino Jesus não ha- cerimoniosamente o presente à filha, via de se entristecer, em cima da cómo- que por sua vez o oferecia à directora. da, por causa da deusa, na gaveta. Mas Eram bolos de farinha fina de arroz nunca lho disse nos três anos que passei amassada com óleo de sésamo. Toda de o Natal com ela. Palpitava-me que a “Adoração dos Magos” Domingos António de Sequeira, 1768-1837, Colecção Particular vermelho, de sapatos bordados e gan- senhora Tung se enervava com o assun- chos de jade no cabelo, a senhora Tung, to. E que, de qualquer jeito, não me quando a superiora colocava o tabuleiro velas olorosas do centro de mesa, os do, de olhar meditabundo, mãos cruza- acreditaria. dos bolos na mesa, dobrava-se quase até seus olhos eram dois riscos tremulantes. das no colo. E as palavras saíam-lhe ao chão. Rezava-se, depois. Para lá dos Sorríamos. Finalmente, o reposteiro ao lentas e soltas, como se falasse sozinha. In “ A China Fica ao Lado”, pátios, à porta da cozinha, as criadas fundo da sala apartava-se. Uma das cri- ... E aquele mistério da virgindade de Lisboa, Panorama, 1968 espreitavam, curiosas. adas entrava, silenciosa. Servia-se Nossa Senhora! Virgem e mãe ao Nem no primeiro, nem no segundo, vinho de arroz. mesmo tempo... Não se lia no Génesis: (Maria Ondina Braga nasceu em 1932, em nem no terceiro Natal que passei em Creio que o vinho de arroz figurava «O homem deixará o pai e a mãe para se Braga. Deixou esta cidade nos anos 50. Em Macau, a senhora Tung era cristã, mas entre as bebidas proibidas no colégio e unir a sua mulher e os dois serão uma só Paris, cursou a Alliance Française e em Londres todos os anos se nomeava catecúmena. A que chegava ali por portas travessas. O carne?» Não era essa a lei do Senhor? a Royal Society of Arts. Viajou, aprendeu e ensi- seguir ao jantar falava-se nisso. A direc- certo, contudo, é que ambas o bebía- Por quê então a Mãe de Cristo diferente nou. Foi professora do ensino secundário em Luanda, Goa e Macau, desenvolvendo também tora, uma francesa de mãos engelhadas mos, a acompanhar os bolos de sésamo, das outras, num mundo de homens e de actividade no domínio da tradução. De todas que noutros tempos frequentara a no grande e deserto refeitório, na noite mulheres onde o Filho havia de vir pre- estas viagens resultaram páginas de escrita onde Universidade de Pequim, perguntava em de Natal. gar o amor? A Deusa da Fecundidade, se combinam memória, conto, novela, romance e chinês formal quando era o baptizado. O vinho de arroz queimava-me a gar- patrona dos lares, operava milagres, crónica, sem nunca esquecer as raízes minhotas). Inclinando a cabeça para o peito, a ganta e fazia-me vir lágrimas aos olhos. senhora Tung balbuciava, indicando a Quanto à senhora Tung, saboreava-o irmã Chen-Mou. A filha... a filha sabia. devagar, molhando nele o bolo, e, como Talvez se pudesse chamar cristã pelo mal provara o «chá de Paris», bebia espírito, mas o coração atraiçoava-a. O dois cálices. coração continuava apegado a antigas Entretanto, Aldegundes, a criada devoções... Todavia, vestira-se de gala macaense mais antiga do colégio, apa- para a festividade da meia-noite, tinha no recia com as especialidades da terra: Deseja-lhe Festas Felizes quarto o Menino Jesus cercado de flores, aluares, fartes e coscorões, dizendo que e a alma transbordava-lhe de alegria aluá era o colchão do Minino Jesus, como se cristã verdadeiramente fosse. farte almofada, coscorão lençol. E eu
  • 8. 8 NATAL DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006 Ao Menino Deus em metáfora O Natal Eça de Queirós * douradas, ondei- am os dísticos de doce tradicionais – Romance O Natal, a grande festa doméstica da Merry Chris- Inglaterra, foi este ano triste – dessa tmas! Mer- – Quem quer fruta doce? – Mostre lá! Que é isso? tristeza particular que oferece, por um ry Christ- – É doce coberto; dia de calma ardente, a praça deserta de mas! alegre É manjar divino. uma vila pobre... natal! ale- – Vejamos o doce; O que nos estragou o Natal, não gre natal! e Compraremos todo, foram decerto as preocupações políti- o mesmo Se for todo rico. cas, apesar da sua negrura de borrasca. grito se re- – Venha ao portal logo; Nem a rebelião do Transval em que os pete nos Verá que não minto, Boers debutaram por exterminar o 94 shake-hands Pois de várias sortes de linha, um dos mais experimentados e que se dão ao É doce infinito. gloriosos regimentos da Inglaterra e que hóspede. – Desculpa, minha alma. ameaça ensanguentar toda a África do Sob a cha- Mas ah! Que diviso?! miné estala e dança Sul numa guerra de raças; nem a situa- Envolto em mantilhas, ção da Irlanda, que já não é governada a grande fogueira Um Infante lindo! – Pois de que se admira, pela Inglaterra, mas pelo comité revolu- do Natal: a sua luz Quando este Menino cionário da Liga Agrária – seriam inqui- rica faz parecer de ouro os cabelos É doce coberto, etações suficientes para tirar o sabor louros, e de prata as barbas brancas. É manjar divino? tradicional ao, plum-pudding do Natal. Tudo está enfeitado como numa – Diga o como é doce, As desgraças públicas nunca impedem Páscoa sagrada: dos retratos dos avós Que ignoro o prodígio. que os cidadãos jantem com apetite: e pendem ramos de flores de Inverno, – Não sabe o mistério? misérias da pátria, enquanto não são as flores da neve, e todas as pratas da “Santo Claus” Ora vá ouvindo: tangíveis e senão apresentam, sob a casa cintilam sobre os aparadores, de acordo com Muito antes de Santa Ana, forma flamejante de obuses rebentando, numa solenidade patriarcal. Dos o Harper’s Bazar Teve este doce princípio, inuma cidade sitiada, não tirarão jamais grandes lustres balança- de Dezembro Porque já do Salvador de1867 o sono ao patriota. se o ramo simbólico do Se davam muitos indícios. Não; o que estragou o Natal, foi sim- mistletoe, o ramo do amor Mas na Anunciada dizem plesmente a falta de neve. Um Natal doméstico: e ai das se- Que houve mais expresso aviso, E logo na Encarnação como este que passámos, com um sol de nhoras que um momento pa- Se entrou por modo divino. uma palidez de convalescente, deslizan- rarem sob a sua ramagem! Quem assim Esteve pois na Esperança do timidamente sobre uma imensa peça as surpreender tem direito a beijá-las Mas destas personagens que aparecem Muitos tempos escondido; de seda azul desbotada, um Natal sem num grande abraço! Também, que vol- pelas consoadas, o meu predilecto é Father Saiu da Madre de Deus, neve, um Natal sem casacos de peles, tas sábias, que estratégia complicada, Christmas – o papá Natal. depois às Claras foi visto. parece tão insípido e tão desconsolado para evitar o ramo fatídico! Mas, pobres Esse, porém, só pode ser admirado em Fazem dele estimação como seria em Portugal a noite de S. anjos! ou se enganam ou se assustam, e toda a sua glória, quando se abre a sala da As freiras com tal capricho, João, noite de fogueiras e descantes, se a cada momento é sob o mistletoe um ceia: então lá está sobre o seu pedestal, ao Que apuram para este doce houvesse no chão três palmos de neve e grito, um beijo, dois abraços que pren- centro da mesa – que lhe põe em torno, Todos os cinco sentidos. caísse por cima o granizo até de madru- dem uma cinta fugitiva... com os cristais e os pratos, um amável bri- Afirmam que no Calvário gada! Um desapontamento nacional! E o piano não se cala nestas noites! É lho da auréola caseira. Bem-vindo, papá Terá seu termo finito, Para compreender bem o encanto da alguma velha canção inglesa, em que se Natal! Boas noites, papá Natal! Sendo que no Sacramento neve deste famoso Natal inglês, basta fala de torneios e cavaleiros, ou uma O respeitável ancião, com o seu capuz Há-de ter novo artifício. Que seja doce este Infante, examinar alguma das pinturas, gravuras dança da Escócia, que se baila, com o até aos olhos, todo salpicado de neve, as A razão o está pedindo, ou oleografias, que o têm popularizado. gentil cerimonial do passado. mãos escondidas nas largas mangas de Porque é certo que é morgado, O assunto não varia na paisagem re- E por corredores e salas, as crianças, frade, o olho maganão e jovial, esgarça a Sendo unigénito Filho! petida: é sempre a mesma entrada dum os bebés, com os cabelos ao vento, vesti- boca num riso de felicidade sem-fim, e as Exposto ao rigor do tempo, parque, de aparência feudal, por véspe- dos de branco e cor-de-rosa, correm, can- suas enormes barbas de algodão pendem- Quando tirita nuzinho, ras do Natal, antes da meia-noite; o céu tam, riem, vão a cada momento espreitar lhe até aos pés. Um caramelo parece pesado de neve suspensa parece uma, os ponteiros do relógio monumental, por- Todas as crianças o querem abraçar, e Pelo branco e pelo frio. gaza suja: e a perder de vista tudo está que à meia-noite chega Santo Claus, o ele não se recusa, porque é indulgente. Tão doce é que, porque farte coberto da neve caída, uma neve bran- venerável Santo Claus que tem três mil E quanto mais a ceia se anima, mais o Ao pecador mais faminto, ca, fofa, alta, que faz nos campos um anos de idade e um coração de pomba, e seu patriarcal riso se escancara; as boche- Será de pão com espécies, grande silêncio. Junto à grade do par- que já a essa hora vem caminhando pela chas reluzem-lhe de escarlates, as barbas Substancial doce divino. que, uma mulher e duas crianças, ataba- neve da estrada, rindo com os seus velhos parecem crescer-lhe, e ali está, bonacheirão É manjar tão soberano, fadas nos seus farrapos, com lampiões botões, apoiado ao seu cajado, e com os e venerável, com a importância de um Regalo tão peregrino, Que os espíritos levanta, na mão, vão cantando as loas; e ao alforges cheios de bonecos. Amável Deus tutelar e amado, como a encarnação Tornando aos mortos vivos. fundo, entre as ramagens despidas, Santo Claus! Por um tempo tão frio, sacramental da alegria doméstica. Tão delicioso bocado ergue-se o maciço castelo, com as jane- naquela idade deixar a cabana de algodão E no entanto fora, na neve, as pobres cri- Será de gosto infinito, las flamejando, abrasadas da grande luz que ele habita no país da Legenda, e vir anças cantam as loas: e com vigor as can- Manjar real, verdadeiro, de dentro e da alegria que as habita. por sobre ondas do mar e ramagens de tam! É que elas sabem que não serão Manjar branco, parecido! E toda a poesia do Natal está justa- florestas trazer a estes bebés o seu natal! esquecidas: e que daqui a pouco a grade se Que é manjar dos Anjos, dizem mente nessas janelas resplandecendo na Também, como eles o adoram, o bom abrirá, e virá um criado, vergando ao peso Talentos mui fidedignos, noite nevada. Claus! E apenas ele chegar, como corre- de toda a sorte de coisas boas, peças de Por ser pão de ló, que aos Anjos Felizes aqueles para quem essas por- rão todos, em triunfo, a puxá-lo para o carne, empadas, vinho, queijos – e mesmo Foi em figura oferecido tas difíceis se abrem! Logo ao entrar na pé do lume, a esfregar-lhe as decrépitas bonecas para os pequenos; porque Santo Jerónimo Baía antecâmara os tectos, as ombreiras, os mãos regeladas, e oferecer-lhe uma taça Claus é um democrata, e, se enche os seus (Frade beneditino e professor, espaldares das cadeiras, os troféus de de prata cheia de hidromel quente - que alforges para os ricos, gosta sobretudo de nascido em Coimbra em 1620 caça, aparecem adornados das verduras ele bebe dum trago, o glutão! Depois os ver esvaziados no regaço dos pobres. e falecido em Viana do Castelo em 1688, do Natal, das ramagens sagradas do car- abrem-se-lhe os alforges. Quantas Tudo isto é encantador. Mas tire-se-lhe a pregador na corte de D. Afonso VI) valho céltico; e pelas paredes, em letras maravilhas!... neve, e fica estragado. O Natal com uma