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PROFº GEÓGRAFO ESP. ED. AMBIENTAL
LUIZ CARVALHEIRA JUNIOR
E.E.E.F.M. PROFª ONEIDE DE SOUZA TAVARES
8ª SÉRIE/9º ANO
A implantação do regime republicano no Pará,
reponta num momento em que o Estado vivia a "belle
epoque". É a fase do esplendor da borracha, refletindo-
se na rápida urbanização, em que o social e o comercial
evidenciam o fortalecimento do poder político de uma
classe que já dispunha de mecanismos de dominação,
no regime anterior, os proprietários de terras.
 Esta classe, que se manteve dominante até aproximadamente
meados do século XX, era descendente de militares, funcionários
e colonos que haviam sido contemplados com sesmarias, no
período colonial. Uma crise interna havia fraturado a hegemonia
desse bloco no período cabano.
 Entre as formas de reprodução social que a classe privilegiada
procurou desenvolver para reaver certas perdas advindas com a
abolição, estão as alianças matrimoniais realizadas entre famílias
abastadas, representando um dos papéis mais importantes na
retomada do poder.
 Com o desenvolvimento do comércio e integração maior à
economia mercantil, as alianças matrimoniais do século XIX vão
depender menos da propriedade fundiária, como acontecia no
Brasil Colônia, entretanto, vão ter papel de grande peso na
formação da classe socialmente dominante no período seguinte.
O fortalecimento do setor agro-exportador gomífero a partir da
segunda metade do século XIX, fez emergir uma classe com
funções específicas dessa economia, com os donos de seringais,
os "aviadores", os varejistas, os exportadores, os importadores
(na sua maioria, de nacionalidade estrangeira), além dos
empresários do tráfego fluvial, ou seja, os armadores. Neste
período, a posse da terra passou a ser conflituosa entre os
seringalistas e os latifundiários. Os proprietários de terras
permaneceram no domínio da estrutura econômica, que
dividem, agora, com os novos agentes sociais, os "aviadores" de
prestígio incorporado devido à importância do seu papel no setor
terciário, num período (1899 a 1910) em que as cotações da
borracha apresentavam-se, na fase de aceleração com o rápido
crescimento dos preços do produto, embora sujeitos a fortes
flutuações, "as mais pronunciadas de toda a série".
A elite paraense, nesse período mantém as bases na
estrutura fundiária, diversificada entre os
latifundiários seringalistas e os fazendeiros. A fração
de classe que emerge com a economia gomífera é
representada pelo comércio, quer dos citados
"aviadores" quer dos varejistas. Há ainda outros
elementos que se associam aos interesses dessa classe,
a burocracia local, ou seja, os funcionários
alfandegários - uma categoria que realçou
principalmente no período de aceleração da produção
gomífera. Há ainda os armadores e os altos
representantes dos bancos e de casas seguradoras.
Com esses setores tendo interesses específicos e
particulares, pode-se deduzir daí o que representou,
nesse período, a criação de partidos políticos que
afinassem organicamente com cada grupo. O
federalismo possibilitava a autonomia do Estado e o
quadro partidário que se organizasse teria base local.
Com a dominação econômica nas mãos dos
proprietários de terras e dos comerciantes, a
hegemonia política do novo sistema seria realizada por
estes grupos que se intitulavam "classe conservadora".
Há outro grupo que se alinha aos demais, nesta
primeira fase republicana: os militares,
responsabilizados pela fratura da hegemonia do bloco
monárquico. É de supor que os ligados às Forças
Armadas são representantes de uma classe média
intelectualizada, alguns bacharéis (Lauro Sodré,
Inocêncio Serzedelo Corrêa, Virgílio Henrique
Muller). Os militares da Armada (Arthur Índio do
Brasil) e da Guarda Nacional seriam originários da
elite, alguns exercendo atividades no comércio local no
ramo das profissões liberais ou como proprietários de
terras.

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Pará republicano

  • 1. PROFº GEÓGRAFO ESP. ED. AMBIENTAL LUIZ CARVALHEIRA JUNIOR E.E.E.F.M. PROFª ONEIDE DE SOUZA TAVARES 8ª SÉRIE/9º ANO
  • 2. A implantação do regime republicano no Pará, reponta num momento em que o Estado vivia a "belle epoque". É a fase do esplendor da borracha, refletindo- se na rápida urbanização, em que o social e o comercial evidenciam o fortalecimento do poder político de uma classe que já dispunha de mecanismos de dominação, no regime anterior, os proprietários de terras.
  • 3.  Esta classe, que se manteve dominante até aproximadamente meados do século XX, era descendente de militares, funcionários e colonos que haviam sido contemplados com sesmarias, no período colonial. Uma crise interna havia fraturado a hegemonia desse bloco no período cabano.  Entre as formas de reprodução social que a classe privilegiada procurou desenvolver para reaver certas perdas advindas com a abolição, estão as alianças matrimoniais realizadas entre famílias abastadas, representando um dos papéis mais importantes na retomada do poder.  Com o desenvolvimento do comércio e integração maior à economia mercantil, as alianças matrimoniais do século XIX vão depender menos da propriedade fundiária, como acontecia no Brasil Colônia, entretanto, vão ter papel de grande peso na formação da classe socialmente dominante no período seguinte.
  • 4. O fortalecimento do setor agro-exportador gomífero a partir da segunda metade do século XIX, fez emergir uma classe com funções específicas dessa economia, com os donos de seringais, os "aviadores", os varejistas, os exportadores, os importadores (na sua maioria, de nacionalidade estrangeira), além dos empresários do tráfego fluvial, ou seja, os armadores. Neste período, a posse da terra passou a ser conflituosa entre os seringalistas e os latifundiários. Os proprietários de terras permaneceram no domínio da estrutura econômica, que dividem, agora, com os novos agentes sociais, os "aviadores" de prestígio incorporado devido à importância do seu papel no setor terciário, num período (1899 a 1910) em que as cotações da borracha apresentavam-se, na fase de aceleração com o rápido crescimento dos preços do produto, embora sujeitos a fortes flutuações, "as mais pronunciadas de toda a série".
  • 5. A elite paraense, nesse período mantém as bases na estrutura fundiária, diversificada entre os latifundiários seringalistas e os fazendeiros. A fração de classe que emerge com a economia gomífera é representada pelo comércio, quer dos citados "aviadores" quer dos varejistas. Há ainda outros elementos que se associam aos interesses dessa classe, a burocracia local, ou seja, os funcionários alfandegários - uma categoria que realçou principalmente no período de aceleração da produção gomífera. Há ainda os armadores e os altos representantes dos bancos e de casas seguradoras.
  • 6. Com esses setores tendo interesses específicos e particulares, pode-se deduzir daí o que representou, nesse período, a criação de partidos políticos que afinassem organicamente com cada grupo. O federalismo possibilitava a autonomia do Estado e o quadro partidário que se organizasse teria base local. Com a dominação econômica nas mãos dos proprietários de terras e dos comerciantes, a hegemonia política do novo sistema seria realizada por estes grupos que se intitulavam "classe conservadora".
  • 7. Há outro grupo que se alinha aos demais, nesta primeira fase republicana: os militares, responsabilizados pela fratura da hegemonia do bloco monárquico. É de supor que os ligados às Forças Armadas são representantes de uma classe média intelectualizada, alguns bacharéis (Lauro Sodré, Inocêncio Serzedelo Corrêa, Virgílio Henrique Muller). Os militares da Armada (Arthur Índio do Brasil) e da Guarda Nacional seriam originários da elite, alguns exercendo atividades no comércio local no ramo das profissões liberais ou como proprietários de terras.