2.
Gêneros Literários
Lírico Épico Dramático
Soneto Epopeia Tragédia
Elegia Cordel Comédia
Ode Novela Drama
Haikai Romance Auto
Crônica
Conto
Fábula
3.
Soneto
A Perfeição, de Cruz e Souza
A Perfeição é a celeste ciência
Da cristalização de almos encantos,
De abandonar os mórbidos quebrantos
E viver de uma oculta florescência.
Noss’alma fica da clarividência
Dos astros e dos anjos e dos santos,
Fica lavada na lustral dos prantos,
É dos prantos divina e pura essência.
Noss’alma fica como o ser que às lutas
As mãos conserva limpas, impolutas,
Sem as manchas do sangue mau da guerra.
A Perfeição é a alma estar sonhando
Em soluços, soluços, soluçando
As agonias que encontrou na Terra!
4.
Haikai
História de algumas vidas, de Guilherme de Almeida
Noite. Um silvo no ar,
Ninguém na estação. E o trem
Passa sem parar.
5.
Epopeia
Épico de Gilgamesh, Autor Desconhecido (trecho)
Quando os deuses criaram Gilgamesh, deram-lhe um corpo perfeito. Shamash, o glorioso sol,
dotou-o de grande beleza; Adad, o rei da tempestade, deu-lhe coragem; os grandes deuses
tornaram sua beleza perfeita, superior à de todos os outros seres, terrível como um enorme
touro selvagem. Eles o fizeram dois terços deus e um terço homem.
Em Uruk ele construiu muralhas, grandes baluartes, e o abençoado templo de Eanna,
consagrado a Anu, o deus do firmamento, e a Ishtar, a deusa do amor. Olhai-o ainda hoje: a
parte exterior, por onde corre a cornija, tem o brilho do cobre; sua parte interior não conhece
rival. Tocai a soleira, ela é antiga. Aproximai-vos de Eanna, a morada de Ishtar, nossa
senhora do amor e da guerra: é inigualável, não há homem ou rei que possa construir algo
que se equipare. Subi as muralhas de Uruk; digo, caminhai por cima delas; observai
atentamente o terraço da fundação, examinai o trabalho de alvenaria: não é feito com tijolos
cozidos, e bem feito? Os sete sábios lançaram suas fundações.
6.
Romance
Senhora, de José de Alencar (trecho)
A moça, com o talhe languidamente recostado no espaldar da cadeira, a fronte reclinada, os
olhos coalhados em uma ternura maviosa, escutava as falas de seu marido; toda ela se
embebia dos eflúvios de amor, de que ele a repassava com a palavra ardente, o olhar rendido
e o gesto apaixonado.
- É então verdade que me ama?
- Pois duvida, Aurélia?
- E amou-me sempre, desde o primeiro dia que nos vimos?
- Não lho disse já?
- Então nunca amou a outra?
- Eu lhe juro, Aurélia. Estes lábios nunca tocaram a face de outra mulher, que não fosse
minha mãe. O meu primeiro beijo de amor, guardei-o para minha esposa, para ti...
Soerguendo-se para alcançar-lhe a face, não viu Seixas a súbita mutação que se havia
operado na fisionomia de sua noiva.
Aurélia estava lívida e a sua beleza, radiante há pouco, se marmorizara.
- Ou para outra mais rica!... disse ela, retraindo-se para fugir ao beijo do marido e afastando-
o com a ponta dos dedos.
7.
Conto
A causa secreta, de Machado de Assis (trecho)
E com um sorriso único, reflexo de alma satisfeita, alguma coisa que traduzia a
delícia íntima das sensações supremas, Fortunato cortou a terceira pata ao rato, e
fez pela terceira vez o mesmo movimento até a chama. O miserável estorcia-se,
guinchando, ensanguentado, chamuscado, e não acabava de morrer. Garcia
desviou os olhos, depois voltou-os novamente, e estendeu a mão para impedir que
o suplício continuasse, mas não chegou a fazê-lo, porque o diabo do homem
impunha medo, com toda aquela serenidade radiosa da fisionomia. Faltava cortar a
última pata; Fortunato cortou-a muito devagar, acompanhando a tesoura com os
olhos; a pata caiu, e ele ficou olhando para o rato meio cadáver. Ao descê-lo pela
quarta vez, até a chama, deu ainda mais rapidez ao gesto, para salvar, se pudesse,
alguns farrapos de vida.
Garcia, defronte, conseguia dominar a repugnância do espetáculo para fixar a cara
do homem. Nem raiva, nem ódio; tão-somente um vasto prazer, quieto e profundo,
como daria a outro a audição de uma bela sonata ou a vista de uma estátua divina,
alguma coisa parecida com a pura sensação estética.
8.
Fábula
O jabuti e a peúva, de Monteiro Lobato
Brigaram certa vez o jabuti e a peúva.
- Deixa estar! – disse esta furiosa – deixa estar que te curo, meu malandro!
Prego-te uma peça das boas, verás…
E ficou de sobreaviso, com os olhos no astucioso bichinho que lá se ria
dela sacudindo os ombros. O tempo foi correndo… o jabuti esqueceu-se
do caso; e um belo dia, distraidamente, passou ao alcance da peúva. A
árvore incontinenti torceu-se, estalou e caiu em cima dela.
- Toma! Quero ver agora como te arrumas. Estás entalado e, como sabes,
sou pau que dura para cem anos…
O jabuti não se deu por vencido.
Encorujou-se dentro da casca, cerrou os olhos como para dormir e disse
filosoficamente:
- Pois como eu durmo mais de cem, esperarei que apodreças…
Moral: A paciência dá conta dos maiores obstáculos.
9.
Tragédia
Édipo Rei, de Sófocles (Trecho)
ÉDIPO
Que rumores? Eu estimaria conhecer tudo o que então se acreditava.
CORIFEU
Diziam que Laio foi morto por uns viajantes.
ÉDIPO
Também isso ouvi dizer; mas não apareceu uma só testemunha ocular.
CORIFEU
Por muito pouco sensível que o assassino seja ao temor, quando souber da maldição terrível que proferiste,
não resistirá!
ÉDIPO
Quem não receou cometer um crime tal, não se deixará impressionar por simples palavras.
O CORO
Acaba de chegar quem tudo nos vai descobrir! Trazem aqui o divino profeta, o único, entre todos os homens,
que sabe desvendar a verdade!
Entra TIRÉSIAS, velho e cego, guiado por um menino. Escoltam-no dois servidores de ÉDIPO.
10.
Auto
Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente (Trecho)
Vem um Frade com üa Moça pela mão, e um broquel e üa espada na outra, e um casco debaixo
do capelo; e, ele mesmo fazendo a baixa, começou de dançar, dizendo:
FRADE Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã; ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã: tã-tã; ta-ri-rim-rim-rã. Huhá!
DIABO Que é isso, padre?! Que vai lá?
FRADE Deo gratias! Som cortesão.
DIABO Sabês também o tordião?
FRADE Porque não? Como ora sei!
DIABO Pois entrai! Eu tangerei e faremos um serão. Essa dama é ela vossa?
FRADE Por minha la tenho eu, e sempre a tive de meu,
DIABO Fezestes bem, que é fermosa! E não vos punham lá grosa no vosso convento santo?
FRADE E eles fazem outro tanto!
DIABO Que cousa tão preciosa... Entrai, padre reverendo!
11.
Canções Náuticas
Marujo Borracho, de Vários Autores (trecho)
O que faremos com um marujo borracho? (x3)
No início da manhã!
(Refrão) Way, hay, e de pé ela está (x3)
No início da manhã!
Depile a pança dele com uma navalha velha (x3)
No início da manhã!
(Refrão)
Deixe ele no escaler até ficar sóbrio (x3)
No início da manhã!
(Refrão)