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Roteiro 7: Mulher e Violências
Objetivo: Proporcionar aos
jovens     um     momento       de        Ambientação: A sala deve
sensibilização       frente     as        estar              preparada
violências      sofridas     pelas        anteriormente. No centro,
mulheres em nossa sociedade,              um espaço livre para a
que à luz do evangelho reflitam           encenação dos esquetes
sobre     essas     situações    e        teatrais, nas laterais fileiras
questionem-se         sobre     as        para os “jurados-platéia”.
alterações    necessárias     que
precisamos realizar.

CUIDADOS: Anteriormente devem-se escolher os jovens que farão as cenas
e ensaiar previamente.

   1)Acolhida: O(A) animador(a) do encontro irá explicar que todos os integrantes presentes irão
   participar de uma audiência pública, que deverão se manifestar sobre os acontecimentos e cenas que
   presenciarão no meio da sala após o final de cada história. Se o grupo for grande primeiro acontecerá
   o debate em pequenos grupos e posteriormente um representante fala em nome de todos.

   “Muitos são os tipos de violências e uma ação violenta não tem apenas uma única consequência,
   uma violência física pode desencadear machucados no corpo e também ser uma violência
   moral. Por esse motivo falamos sempre em violências (no plural).”

   2)Dinamizando: Momento VER:
   Cena 1: violência doméstica - física
   A mulher chega em casa do trabalho, tem muitas coisas para fazer ainda como limpar a casa, lavar
   roupa e cuidar das crianças. O homem embriagado chega em casa e reclama que a mulher não fez as
   suas funções em casa. Ela pede para ele colaborar, pois está cheia de tarefas e não está dando conta.
   Ele reclama que é função dela e que ele não vai ajuda-la. Ela diz que o mundo mudou e que ele tem
   que colaborar na família também. Ele sente-se ofendido e bate na mulher. (atores saem de cena)

   Animador(a) lê a informação:
   - Seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica.
   - Machismo (46%) e alcoolismo (31%) são apontados como principais fatores que contribuem para a
   violência.
   ( Pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, realizada pelo Instituto
   Avon / Ipsos entre 31 de janeiro a 10 de fevereiro de 2011.)
   - O parceiro (marido ou namorado) é o responsável por mais 80% dos casos reportados
   A Pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado foi realizada em 2010 pela Fundação
   Perseu Abramo em parceria com o SESI.

   Momento do debate: Cada participante deve fazer alguma reflexão sobre a cena vista.

   Cena 2: Assédio Sexual e Moral
A mulher está parada num ponto de ônibus. Chega um homem e começa a olhar para o corpo dela.
Ela sorri sem graça. Ele começa a conversar com ela, quer saber onde ela vai. Ela responde em poucas
palavras. Ele chega cada vez mais perto, ela sente-se incomodada. Ele passa a mão em seu corpo e diz
palavras (como gostosa, vem ficar comigo). Ela se irrita e chinga-o (o que é isso? O que vocês está
pensando?). Ele diz que é homem e ela está se oferecendo com aquela roupa justinha. Ele a agarra
(agora você vai vir comigo), ela começa a gritar e a debater, escuta-se algum barulho, ele foge.

Animador lê:
O Unicef avalia que uma mulher entre 10 no mundo é vítima de um estupro uma vez na sua vida.
Segundo a maioria dos estudos publicados sobre o tema, as mulheres violentadas o são, na maioria
das vezes, por um homem que elas conhecem.
No ano de 2010, o Disque-Denúncia do Rio de Janeiro registrou 1.432 cadastros de violências contra
mulher. No topo da lista estão as agressões domésticas, que totalizaram 902 denúncias. Os estupros
representam 482 cadastros, seguidos de atentado violento ao pudor (30) e até tráfico de mulheres.

Momento do debate e reações da “plateia”.

Possibilidades Cena 3 (o grupo pode montar a sua cena): Desigualdade salarial entre mulher e
homem; mulher que tem que trabalhar e ainda cuidar da casa e da família; A Jovem que sofre
preconceito pelo seu comportamento afetivo enquanto os meninos são estimulados a ficar com
todas. O apelo midiático de sexualização e banalização da mulher.

3)Iluminação Bíblica: Momento JULGAR:

*Momento de acolhida bíblica – canto de aclamação
*Leitura Bíblica: Jo 4, 1 – 30
       Fazer a leitura algumas vezes, depois em grupo conversar sobre o que entendeu do texto.
       *Algumas questões que podem ajudar na reflexão:
              -Qual a atitude de Jesus com a mulher? Ele agiu como os outros agiam?
              -Qual a reação da mulher com a atitude de Jesus?
              -O que Jesus Cristo oferece para a mulher?
              -O que oferecemos as mulheres hoje?
              -Quais as dificuldades encontradas pela mulher samaritana?
              -Quais as dificuldades encontradas pelas mulheres hoje?
              -Como podemos seguir à atitude de Cristo nas relações com as mulheres?

Música: Maria Maria (Milton Nascimento)

Maria, Maria                       E não vive, apenas aguenta          Possui a estranha mania
É um dom, uma certa magia          Mas é preciso ter força             De ter fé na vida....
Uma força que nos alerta           É preciso ter raça                  Mas é preciso ter força
Uma mulher que merece              É preciso ter gana sempre           É preciso ter raça
Viver e amar                       Quem traz no corpo a marca          É preciso ter gana sempre
Como outra qualquer                                                    Quem traz no corpo a marca
Do planeta                         Maria, Maria
                                   Mistura a dor e a alegria           Maria, Maria
Maria, Maria                       Mas é preciso ter manha             Mistura a dor e a alegria...
É o som, é a cor, é o suor         É preciso ter graça                 Mas é preciso ter manha
É a dose mais forte e lenta        É preciso ter sonho sempre          É preciso ter graça
De uma gente que rí                Quem traz na pele essa              É preciso ter sonho sempre
Quando deve chorar                 marca
Quem traz na pele essa              É preciso ter gana sempre
  marca                               Quem traz no corpo a marca          Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
  Possui a estranha mania                                                 Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!!
  De ter fé na vida...                Maria, Maria                        Lá Lá Lá Lerererê Lerererê
                                      Mistura a dor e a alegria...        Lá Lá Lá Lerererê Lerererê
  Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!          Mas é preciso ter manha             Hei! Hei! Hei! Hei!
  Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!!         É preciso ter graça                 Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
  Lá Lá Lá Lerererê Lerererê          É preciso ter sonho, sempre         Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
  Lá Lá Lá Lerererê Lerererê          Quem traz na pele essa              Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!
  (repete)                            marca                               Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!...
  Mas é preciso ter força             Possui a estranha mania
  É preciso ter raça                  De ter fé na vida

  5)Assumindo compromisso com a vida: Momento AGIR
  O Dia Nacional da Juventude desse ano traz como tema "Juventude e protagonismo feminino" e lema
  "Jovens mulheres tecendo relações de vida". O DNJ será comemorado no dia 30 de outubro, você sabe
  como seu vicariato e diocese celebrará esse momento? Já pensou como em seu grupo e paróquia pode fazer
  acontecer essa reflexão? Como irão colaborar com o DNJ?

  A proposta é nesse momento fazer a construção de como o grupo irá abordar, colaborar de forma
  prática com o DNJ em sua comunidade e/ou diocese.



                                                        Este roteiro foi produzido por Renata
                                                       Zanella, assessora da PJ do Vicariato de
                                                                        Porto Alegre.


                                MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O DNJ 2011
                                *Blog DNJ 25 anos:
                                http://dnj25anos.redejuventude.org.br/
                                *Site da PJ: http://pj.org.br/

               ANEXO - Texto para o aprofundamento bíblico
Encontros e diálogos entre a samaritana e Jesus        em várias direções, tomamos o texto como
Texto extraído do Livro Bíblia e Educção               memória de ações e protagonismos de mulheres,
Popular: encontros de solidariedade e diálogo.         como proposta comunitária que direciona a ação
                                                       missionária para fora dos limites geográficos e
1. Movimentos e aproximações                           como estrutura narrativa que combina forma e
O capítulo 4 do Evangelho de João narra uma            conteúdo, ajudando a explicitar os processos de
discussão teológica entre Jesus e a mulher             construção e produção textual.
samaritana a partir de elementos que constituem        Nesta análise, um dos instrumentais úteis será a
necessidades do cotidiano: pão, fome, água, sede,      construção social dos gêneros masculino e
carência, relação. Com um olhar que se movimenta       feminino. Este instrumental trata da construção a
partir de elementos que constituem necessidades          perto do poço (no imaginário daqueles grupos, o
do cotidiano: pão, fome, água, sede, carência,           poço é um lugar mítico, simbólico da erótica,
relação.                                                 relacionamento amoroso - Gênesis 24 e 29; Êxodo
A partir de alguns momentos que este texto               2,11-22). Sua pertença a um povo resulta em
provoca, queremos motivar para refletir sobre os         problemas para estabelecer relações de amizade e
encontros e os diálogos que acontecem.                   confiança, de ajuda e solidariedade com alguém do
                                                         povo inimigo.
2. Encontros e diálogos que rompem fronteiras            O início da conversa da mulher explicita o conflito.
O encontro acontece na terra da mulher, a Samaria.       Não há intenção de esconder, nem de empurrar o
Jesus é quem se desloca de sua terra, seus limites,      conflito para longe. Apesar das rivalidades, os dois
seu chão e atravessa a terra estrangeira. Ele deixa a    querem conversar. Talvez seja por causa do
Judéia e volta para a Galiléia. Neste trajeto, o texto   conflito que o diálogo acontece.
informa o óbvio para a comunidade que vive               Este encontro abre as fronteiras das concepções
naquela região. É o caminho conhecido, mas o             teológicas que delimitam e excluem pessoas.
texto faz questão de afirmar novamente.                  Encontros são sempre possibilidades a serem
Caminhos, quando já são conhecidos, são trilhados        construídas, ou melhor, possibilidades a serem
mecânica e irrefletidamente. Dizer o óbvio provoca       reconhecidas. As barreiras entre as pessoas
a atenção. Dizer que era necessário passar por           "escolhidas" e as pessoas estrangeiras também
Samaria provoca na pessoa leitora e na ouvinte a         sofrem abalos na postura de Jesus e desta mulher.
possibilidade de pensar por que se está dizendo o        Ver e testemunhar, encontrar e falar da
que já é conhecido e aprendido.                          experiência do encontro           com Jesus são
Neste caso, remonta-se a um conflito antigo entre        características básicas para o discipulado no
pessoas judias e samaritanas. O conflito é de            Evangelho de João, como podemos ver em 1,29-37;
origem étnico-religiosa, com conseqüências sociais       1,40-49. As mulheres no Evangelho de João
e políticas. No Antigo Testamento, recebemos a           percebem e reconhecem Jesus e, a partir daí,
informação histórica sobre as causas do conflito.        testemunham, transmitem e anunciam o
As pessoas samaritanas são remanescentes de um           evangelho. Assumem a tarefa ministerial na igreja
processo de colonização promovido pela                   e missionária no mundo.
dominação assíria, que trazia pessoas de outras
regiões colonizadas e as misturava com os                3. Encontro e diálogos sobre a vida e o
habitantes locais. Tal processo gerou reações de         cotidiano
desprezo e rivalidades entre aquelas pessoas que         "Você tem sede de quê?
se consideram "legítimos filhos de Israel" e aquelas      Você tem fome de quê?
que são "misturadas". Podemos encontrar estes             A gente não quer só comida,
relatos em 2Reis 17,24-31, Eclesiástico 50,26 e           A gente quer comida, diversão e arte.
Esdras 4,2-9.
Esta carga histórica de rivalidade e conflito está       A gente não quer só comida,...
presente na memória das pessoas que guardam o            A gente não quer só comer,
relato do encontro de Jesus com a samaritana             A gente quer comer e quer fazer amor.
como testemunho de sua fé. A afirmação de que            A gente não quer só comer,
Jesus, para chegar até seu destino, precisa passar       A gente quer prazer pra aliviar a dor.
pela Samaria, desencadeia estas lembranças na            A gente não quer só dinheiro,
memória. Repetir o que já é conhecido, em                A gente quer dinheiro e felicidade.
situações conflituosas, pode ter esta função:            A gente não quer só dinheiro,
verbalizar para provocar a reflexão.                     A gente quer inteiro e não pela metade
Neste contexto de conflito, o encontro e o diálogo       Desejo,
entre Jesus e a samaritana rompem barreiras              Necessidade e vontade,
étnico-geográficas. Ela é mulher e é samaritana.         Necessidade e desejo."
Sua condição de gênero impede que converse com
um homem em lugar público e, especialmente,              A música dos Titãs nos provoca a reflexão sobre a
fome e a sede. Você tem fome de quê? Você tem           Bem, o assunto veio à tona porque uma relação de
sede de quê? Comida e desejo se juntam na vida          proximidade e confiança se estabeleceu entre Jesus
diária. Desejo de comida. Necessidade e desejo são      e a mulher. E é a partir deste momento, quando a
situações que se misturam no cotidiano. Os              sua vida pessoal é colocada no centro do diálogo,
encontros que queremos promover deveriam ser            que a mulher toma outra atitude.
motivados pelo desejo e pela fome de satisfazer         A mulher se transforma após este encontro-
nossa vida não pela metade, mas por inteiro, com        diálogo. Sua confissão de fé vem a seguir. Ela
dignidade.                                              reconhece Jesus como profeta e como Messias.
O texto de Jo 4 nos ilumina neste movimento que         Diálogos sempre são transformadores. Sempre são
promove encontros. Comida e água se misturam no         motivadores de novas temáticas. Importa que as
diálogo cotidiano-teológico de Jesus e da mulher.       posturas sejam provocadoras de diálogo, de
São elementos do cotidiano. Jesus tem sede, mas,        abertura, de acolhida para que as temáticas que
ao desenvolver sua fala, articula o seu discurso        britam a realidade encontrem lugar de reflexão em
sobre a água usando uma linguagem metafórica.           nossos grupos.
A mulher lida com a água a partir de sua
experiência prática. Sua linguagem se desenvolve        4. Encontros e desencontros
em nível de preocupações diárias concretas. No          Os desencontros e as situações conflituosas são
imaginário da mulher, a água serve para matar a         parte constitutiva de nossas reações. Importa
sede. São duas relações diferenciadas com as            tomá-las em conta, enfrentá-las sem medo, com
concepções e construções do simbólico e do              coragem e disposição.
imaginário.                                             Os conflitos devem ser encarados num processo
Necessidade e desejo aqui se desencontram. Jesus        pedagógico, como momentos de crise que
tem sede e a mulher explicita o conflito, a barreira    proporcionam as paradas necessárias para as
que há entre ambos para a prática da                    mudanças. No entanto, sabemos que não somos
solidariedade. Necessidade e vontade se                 educadas e educados para enfrentar conflitos.
desencontram no corpo de Jesus. Ele senta para          Somos ensinadas e ensinados a harmonizar, a
descansar. Está cansado e com sede. Mas a mulher        pacificar. Mas, sabemos também que esta
quer falar do conflito, antes de tudo. Seu cansaço e    pacificação só será efetiva na medida em que
sua sede precisam esperar pela sede de fala da          situações conflituosas possam ser debatidas
mulher. E Jesus aceita o desafio proposto por ela.      abertamente, sem medo de represálias ou
Tudo isso acontece na hora sexta. Não é qualquer        exclusões.
momento, nem,qualquer lugar. É a mesma hora em          Aprendemos deste encontro-diálogo como lidar
que o condenam à morte em outro momento (João           com os desencontros. Os discípulos querem que
19,14).                                                 Jesus coma e vão buscar comida. Ele, porém, tem
Outro tema que surge da experiência cotidiana           sede e quer água. Quando eles voltam, admiram-se,
desta mulher é a sua vida matrimonial. Das águas,       porque ele está falando com uma mulher. E parece
a conversa toma o rumo dos maridos. Quando              que o autor (autores/as) do texto do Evangelho de
estabelecem um acordo no diálogo, Jesus muda de         João também se admira da "inversão de
assunto de novo. "Vai, chama teu marido e vem cá!"      ministérios". Quem deveria anunciar a Jesus foi à
(v. 16). Ela não tem marido atualmente, mas cinco       cidade para buscar satisfazer simplesmente as
já tivera. Como lidar com este assunto? Ela pode        necessidades do próprio corpo e do próprio grupo.
ter sido divorciada. Os maridos podem ter pedido o      E o texto apresenta (e elogia), ao final, esta mulher
divórcio, já que isso era possível e provável, se ela   que gasta tempo com Jesus, dialoga em pé de
fosse estéril. Ou ela pode ser viúva, como foi          igualdade com ele e depois, transformada pela
Tamar, em Gn 38. Enfim, o tema dos cinco maridos        relação estabelecida, vai à cidade anunciar o
é algo que tem preocupado os exegetas, mas, de          mestre e as coisas que ele havia falado. Ela vai para
acordo com o texto, foi algo que não preocupou          além dela. Os discípulos não conseguem seguir o
Jesus, pois ele não deu continuidade ao assunto, e      mesmo caminho: em espírito e verdade.
tampouco o levantou desde uma perspectiva               Também no diálogo entre a mulher e Jesus, há um
moral.                                                  desencontro. Parece, contudo, que é preciso haver
este desencontro para haver o encontro. A mulher        diálogo entre ambos. Mas, enquanto, no capítulo 3,
verbaliza esse desencontro e, a partir daí, ele e ela   a conversa parece ter um corte de forma brusca, o
estabelecem uma linguagem comum.                        texto de Jo 4 vai mais adiante: Jesus aceita o
                                                        convite da mulher e de seus compatriotas e fica ali
5. Para gerar novos encontros                           por dois dias (4,40). Exatamente o oposto do que
A narrativa do encontro desenvolve uma liturgia. A      lemos em Jo 1,11: "Veio para o que era seu, mas os
memória registrada por escrito pode servir como         seus não o acolheram".
elemento renovador da espiritualidade. Acontece a       Uma mulher tem a iniciativa de deixar o cântaro
acolhida, uma confissão, o louvor, a conversão e o      aos pés de Jesus e ir à cidade, falar de sua
testemunho. A trajetória percorrida neste               experiência. Faz uso da mesma frase que Jesus
encontro-diálogo pode nos esquentar o coração,          tinha usado em Jo 1,39. Ele disse para os
renovar nossas forças e sustentar nossas utopias.       discípulos, ela para a sua gente, seus conterrâneos:
A tradição coloca a evangelização de Samaria nas        "Vinde e vede!"
mãos de Filipe (At 8,5), com a confirmação dos
apóstolos (At 8,14-17). Talvez assim possamos           * Elaine Neuenfeldt é assessora e ex-diretora
entender o que Jesus diz em Jo 4,37: "Um é o que        nacional CEBI. É pastora da Igreja Evangélica de
semeia e outro é o que colhe". Entretanto, mais         Confissão Luterana no Brasil - IECLB e atualmente
adiante, na chamada oração sacerdotal,                  contribui na Federação Luterana Mundial, em
Jesus retoma o testemunho da mulher samaritana          Genebra.
"Não rogo somente por eles, mas pelos que, por          Veja outros livros da mesma autora.
meio da sua palavra, vierem a crer em mim" (Jo
17,20). Por meio da palavra da mulher, como             Sites:
lemos em Jo 4,39-42, muitas pessoas acreditaram.        http://www.violenciamulher.org.br/
Não é por acaso que em 4,38 é usado o verbo             http://www.disquedenuncia.org.br/?p=692
apostollein.                                            http://mulheresemmarcha.blogspot.com/
É interessante ainda recordar que, no capítulo
anterior do mesmo evangelho, Nicodemos também
havia estranhado a fala de Jesus (Jo 3,3-5), no


                 COMITÊ ESTADUAL DO RS
                 juventudecontraviolencia@gmail.com
                 www.juventudecontraviolencia.blogspot.com

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Roteiro 7 - Outubro - Mulher e violências

  • 1. Roteiro 7: Mulher e Violências Objetivo: Proporcionar aos jovens um momento de Ambientação: A sala deve sensibilização frente as estar preparada violências sofridas pelas anteriormente. No centro, mulheres em nossa sociedade, um espaço livre para a que à luz do evangelho reflitam encenação dos esquetes sobre essas situações e teatrais, nas laterais fileiras questionem-se sobre as para os “jurados-platéia”. alterações necessárias que precisamos realizar. CUIDADOS: Anteriormente devem-se escolher os jovens que farão as cenas e ensaiar previamente. 1)Acolhida: O(A) animador(a) do encontro irá explicar que todos os integrantes presentes irão participar de uma audiência pública, que deverão se manifestar sobre os acontecimentos e cenas que presenciarão no meio da sala após o final de cada história. Se o grupo for grande primeiro acontecerá o debate em pequenos grupos e posteriormente um representante fala em nome de todos. “Muitos são os tipos de violências e uma ação violenta não tem apenas uma única consequência, uma violência física pode desencadear machucados no corpo e também ser uma violência moral. Por esse motivo falamos sempre em violências (no plural).” 2)Dinamizando: Momento VER: Cena 1: violência doméstica - física A mulher chega em casa do trabalho, tem muitas coisas para fazer ainda como limpar a casa, lavar roupa e cuidar das crianças. O homem embriagado chega em casa e reclama que a mulher não fez as suas funções em casa. Ela pede para ele colaborar, pois está cheia de tarefas e não está dando conta. Ele reclama que é função dela e que ele não vai ajuda-la. Ela diz que o mundo mudou e que ele tem que colaborar na família também. Ele sente-se ofendido e bate na mulher. (atores saem de cena) Animador(a) lê a informação: - Seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica. - Machismo (46%) e alcoolismo (31%) são apontados como principais fatores que contribuem para a violência. ( Pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, realizada pelo Instituto Avon / Ipsos entre 31 de janeiro a 10 de fevereiro de 2011.) - O parceiro (marido ou namorado) é o responsável por mais 80% dos casos reportados A Pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado foi realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESI. Momento do debate: Cada participante deve fazer alguma reflexão sobre a cena vista. Cena 2: Assédio Sexual e Moral
  • 2. A mulher está parada num ponto de ônibus. Chega um homem e começa a olhar para o corpo dela. Ela sorri sem graça. Ele começa a conversar com ela, quer saber onde ela vai. Ela responde em poucas palavras. Ele chega cada vez mais perto, ela sente-se incomodada. Ele passa a mão em seu corpo e diz palavras (como gostosa, vem ficar comigo). Ela se irrita e chinga-o (o que é isso? O que vocês está pensando?). Ele diz que é homem e ela está se oferecendo com aquela roupa justinha. Ele a agarra (agora você vai vir comigo), ela começa a gritar e a debater, escuta-se algum barulho, ele foge. Animador lê: O Unicef avalia que uma mulher entre 10 no mundo é vítima de um estupro uma vez na sua vida. Segundo a maioria dos estudos publicados sobre o tema, as mulheres violentadas o são, na maioria das vezes, por um homem que elas conhecem. No ano de 2010, o Disque-Denúncia do Rio de Janeiro registrou 1.432 cadastros de violências contra mulher. No topo da lista estão as agressões domésticas, que totalizaram 902 denúncias. Os estupros representam 482 cadastros, seguidos de atentado violento ao pudor (30) e até tráfico de mulheres. Momento do debate e reações da “plateia”. Possibilidades Cena 3 (o grupo pode montar a sua cena): Desigualdade salarial entre mulher e homem; mulher que tem que trabalhar e ainda cuidar da casa e da família; A Jovem que sofre preconceito pelo seu comportamento afetivo enquanto os meninos são estimulados a ficar com todas. O apelo midiático de sexualização e banalização da mulher. 3)Iluminação Bíblica: Momento JULGAR: *Momento de acolhida bíblica – canto de aclamação *Leitura Bíblica: Jo 4, 1 – 30 Fazer a leitura algumas vezes, depois em grupo conversar sobre o que entendeu do texto. *Algumas questões que podem ajudar na reflexão: -Qual a atitude de Jesus com a mulher? Ele agiu como os outros agiam? -Qual a reação da mulher com a atitude de Jesus? -O que Jesus Cristo oferece para a mulher? -O que oferecemos as mulheres hoje? -Quais as dificuldades encontradas pela mulher samaritana? -Quais as dificuldades encontradas pelas mulheres hoje? -Como podemos seguir à atitude de Cristo nas relações com as mulheres? Música: Maria Maria (Milton Nascimento) Maria, Maria E não vive, apenas aguenta Possui a estranha mania É um dom, uma certa magia Mas é preciso ter força De ter fé na vida.... Uma força que nos alerta É preciso ter raça Mas é preciso ter força Uma mulher que merece É preciso ter gana sempre É preciso ter raça Viver e amar Quem traz no corpo a marca É preciso ter gana sempre Como outra qualquer Quem traz no corpo a marca Do planeta Maria, Maria Mistura a dor e a alegria Maria, Maria Maria, Maria Mas é preciso ter manha Mistura a dor e a alegria... É o som, é a cor, é o suor É preciso ter graça Mas é preciso ter manha É a dose mais forte e lenta É preciso ter sonho sempre É preciso ter graça De uma gente que rí Quem traz na pele essa É preciso ter sonho sempre Quando deve chorar marca
  • 3. Quem traz na pele essa É preciso ter gana sempre marca Quem traz no corpo a marca Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Possui a estranha mania Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!! De ter fé na vida... Maria, Maria Lá Lá Lá Lerererê Lerererê Mistura a dor e a alegria... Lá Lá Lá Lerererê Lerererê Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Mas é preciso ter manha Hei! Hei! Hei! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!! É preciso ter graça Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Lá Lá Lá Lerererê Lerererê É preciso ter sonho, sempre Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Lá Lá Lá Lerererê Lerererê Quem traz na pele essa Lá Lá Lá Lerererê Lerererê! (repete) marca Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!... Mas é preciso ter força Possui a estranha mania É preciso ter raça De ter fé na vida 5)Assumindo compromisso com a vida: Momento AGIR O Dia Nacional da Juventude desse ano traz como tema "Juventude e protagonismo feminino" e lema "Jovens mulheres tecendo relações de vida". O DNJ será comemorado no dia 30 de outubro, você sabe como seu vicariato e diocese celebrará esse momento? Já pensou como em seu grupo e paróquia pode fazer acontecer essa reflexão? Como irão colaborar com o DNJ? A proposta é nesse momento fazer a construção de como o grupo irá abordar, colaborar de forma prática com o DNJ em sua comunidade e/ou diocese. Este roteiro foi produzido por Renata Zanella, assessora da PJ do Vicariato de Porto Alegre. MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O DNJ 2011 *Blog DNJ 25 anos: http://dnj25anos.redejuventude.org.br/ *Site da PJ: http://pj.org.br/ ANEXO - Texto para o aprofundamento bíblico Encontros e diálogos entre a samaritana e Jesus em várias direções, tomamos o texto como Texto extraído do Livro Bíblia e Educção memória de ações e protagonismos de mulheres, Popular: encontros de solidariedade e diálogo. como proposta comunitária que direciona a ação missionária para fora dos limites geográficos e 1. Movimentos e aproximações como estrutura narrativa que combina forma e O capítulo 4 do Evangelho de João narra uma conteúdo, ajudando a explicitar os processos de discussão teológica entre Jesus e a mulher construção e produção textual. samaritana a partir de elementos que constituem Nesta análise, um dos instrumentais úteis será a necessidades do cotidiano: pão, fome, água, sede, construção social dos gêneros masculino e carência, relação. Com um olhar que se movimenta feminino. Este instrumental trata da construção a
  • 4. partir de elementos que constituem necessidades perto do poço (no imaginário daqueles grupos, o do cotidiano: pão, fome, água, sede, carência, poço é um lugar mítico, simbólico da erótica, relação. relacionamento amoroso - Gênesis 24 e 29; Êxodo A partir de alguns momentos que este texto 2,11-22). Sua pertença a um povo resulta em provoca, queremos motivar para refletir sobre os problemas para estabelecer relações de amizade e encontros e os diálogos que acontecem. confiança, de ajuda e solidariedade com alguém do povo inimigo. 2. Encontros e diálogos que rompem fronteiras O início da conversa da mulher explicita o conflito. O encontro acontece na terra da mulher, a Samaria. Não há intenção de esconder, nem de empurrar o Jesus é quem se desloca de sua terra, seus limites, conflito para longe. Apesar das rivalidades, os dois seu chão e atravessa a terra estrangeira. Ele deixa a querem conversar. Talvez seja por causa do Judéia e volta para a Galiléia. Neste trajeto, o texto conflito que o diálogo acontece. informa o óbvio para a comunidade que vive Este encontro abre as fronteiras das concepções naquela região. É o caminho conhecido, mas o teológicas que delimitam e excluem pessoas. texto faz questão de afirmar novamente. Encontros são sempre possibilidades a serem Caminhos, quando já são conhecidos, são trilhados construídas, ou melhor, possibilidades a serem mecânica e irrefletidamente. Dizer o óbvio provoca reconhecidas. As barreiras entre as pessoas a atenção. Dizer que era necessário passar por "escolhidas" e as pessoas estrangeiras também Samaria provoca na pessoa leitora e na ouvinte a sofrem abalos na postura de Jesus e desta mulher. possibilidade de pensar por que se está dizendo o Ver e testemunhar, encontrar e falar da que já é conhecido e aprendido. experiência do encontro com Jesus são Neste caso, remonta-se a um conflito antigo entre características básicas para o discipulado no pessoas judias e samaritanas. O conflito é de Evangelho de João, como podemos ver em 1,29-37; origem étnico-religiosa, com conseqüências sociais 1,40-49. As mulheres no Evangelho de João e políticas. No Antigo Testamento, recebemos a percebem e reconhecem Jesus e, a partir daí, informação histórica sobre as causas do conflito. testemunham, transmitem e anunciam o As pessoas samaritanas são remanescentes de um evangelho. Assumem a tarefa ministerial na igreja processo de colonização promovido pela e missionária no mundo. dominação assíria, que trazia pessoas de outras regiões colonizadas e as misturava com os 3. Encontro e diálogos sobre a vida e o habitantes locais. Tal processo gerou reações de cotidiano desprezo e rivalidades entre aquelas pessoas que "Você tem sede de quê? se consideram "legítimos filhos de Israel" e aquelas Você tem fome de quê? que são "misturadas". Podemos encontrar estes A gente não quer só comida, relatos em 2Reis 17,24-31, Eclesiástico 50,26 e A gente quer comida, diversão e arte. Esdras 4,2-9. Esta carga histórica de rivalidade e conflito está A gente não quer só comida,... presente na memória das pessoas que guardam o A gente não quer só comer, relato do encontro de Jesus com a samaritana A gente quer comer e quer fazer amor. como testemunho de sua fé. A afirmação de que A gente não quer só comer, Jesus, para chegar até seu destino, precisa passar A gente quer prazer pra aliviar a dor. pela Samaria, desencadeia estas lembranças na A gente não quer só dinheiro, memória. Repetir o que já é conhecido, em A gente quer dinheiro e felicidade. situações conflituosas, pode ter esta função: A gente não quer só dinheiro, verbalizar para provocar a reflexão. A gente quer inteiro e não pela metade Neste contexto de conflito, o encontro e o diálogo Desejo, entre Jesus e a samaritana rompem barreiras Necessidade e vontade, étnico-geográficas. Ela é mulher e é samaritana. Necessidade e desejo." Sua condição de gênero impede que converse com um homem em lugar público e, especialmente, A música dos Titãs nos provoca a reflexão sobre a
  • 5. fome e a sede. Você tem fome de quê? Você tem Bem, o assunto veio à tona porque uma relação de sede de quê? Comida e desejo se juntam na vida proximidade e confiança se estabeleceu entre Jesus diária. Desejo de comida. Necessidade e desejo são e a mulher. E é a partir deste momento, quando a situações que se misturam no cotidiano. Os sua vida pessoal é colocada no centro do diálogo, encontros que queremos promover deveriam ser que a mulher toma outra atitude. motivados pelo desejo e pela fome de satisfazer A mulher se transforma após este encontro- nossa vida não pela metade, mas por inteiro, com diálogo. Sua confissão de fé vem a seguir. Ela dignidade. reconhece Jesus como profeta e como Messias. O texto de Jo 4 nos ilumina neste movimento que Diálogos sempre são transformadores. Sempre são promove encontros. Comida e água se misturam no motivadores de novas temáticas. Importa que as diálogo cotidiano-teológico de Jesus e da mulher. posturas sejam provocadoras de diálogo, de São elementos do cotidiano. Jesus tem sede, mas, abertura, de acolhida para que as temáticas que ao desenvolver sua fala, articula o seu discurso britam a realidade encontrem lugar de reflexão em sobre a água usando uma linguagem metafórica. nossos grupos. A mulher lida com a água a partir de sua experiência prática. Sua linguagem se desenvolve 4. Encontros e desencontros em nível de preocupações diárias concretas. No Os desencontros e as situações conflituosas são imaginário da mulher, a água serve para matar a parte constitutiva de nossas reações. Importa sede. São duas relações diferenciadas com as tomá-las em conta, enfrentá-las sem medo, com concepções e construções do simbólico e do coragem e disposição. imaginário. Os conflitos devem ser encarados num processo Necessidade e desejo aqui se desencontram. Jesus pedagógico, como momentos de crise que tem sede e a mulher explicita o conflito, a barreira proporcionam as paradas necessárias para as que há entre ambos para a prática da mudanças. No entanto, sabemos que não somos solidariedade. Necessidade e vontade se educadas e educados para enfrentar conflitos. desencontram no corpo de Jesus. Ele senta para Somos ensinadas e ensinados a harmonizar, a descansar. Está cansado e com sede. Mas a mulher pacificar. Mas, sabemos também que esta quer falar do conflito, antes de tudo. Seu cansaço e pacificação só será efetiva na medida em que sua sede precisam esperar pela sede de fala da situações conflituosas possam ser debatidas mulher. E Jesus aceita o desafio proposto por ela. abertamente, sem medo de represálias ou Tudo isso acontece na hora sexta. Não é qualquer exclusões. momento, nem,qualquer lugar. É a mesma hora em Aprendemos deste encontro-diálogo como lidar que o condenam à morte em outro momento (João com os desencontros. Os discípulos querem que 19,14). Jesus coma e vão buscar comida. Ele, porém, tem Outro tema que surge da experiência cotidiana sede e quer água. Quando eles voltam, admiram-se, desta mulher é a sua vida matrimonial. Das águas, porque ele está falando com uma mulher. E parece a conversa toma o rumo dos maridos. Quando que o autor (autores/as) do texto do Evangelho de estabelecem um acordo no diálogo, Jesus muda de João também se admira da "inversão de assunto de novo. "Vai, chama teu marido e vem cá!" ministérios". Quem deveria anunciar a Jesus foi à (v. 16). Ela não tem marido atualmente, mas cinco cidade para buscar satisfazer simplesmente as já tivera. Como lidar com este assunto? Ela pode necessidades do próprio corpo e do próprio grupo. ter sido divorciada. Os maridos podem ter pedido o E o texto apresenta (e elogia), ao final, esta mulher divórcio, já que isso era possível e provável, se ela que gasta tempo com Jesus, dialoga em pé de fosse estéril. Ou ela pode ser viúva, como foi igualdade com ele e depois, transformada pela Tamar, em Gn 38. Enfim, o tema dos cinco maridos relação estabelecida, vai à cidade anunciar o é algo que tem preocupado os exegetas, mas, de mestre e as coisas que ele havia falado. Ela vai para acordo com o texto, foi algo que não preocupou além dela. Os discípulos não conseguem seguir o Jesus, pois ele não deu continuidade ao assunto, e mesmo caminho: em espírito e verdade. tampouco o levantou desde uma perspectiva Também no diálogo entre a mulher e Jesus, há um moral. desencontro. Parece, contudo, que é preciso haver
  • 6. este desencontro para haver o encontro. A mulher diálogo entre ambos. Mas, enquanto, no capítulo 3, verbaliza esse desencontro e, a partir daí, ele e ela a conversa parece ter um corte de forma brusca, o estabelecem uma linguagem comum. texto de Jo 4 vai mais adiante: Jesus aceita o convite da mulher e de seus compatriotas e fica ali 5. Para gerar novos encontros por dois dias (4,40). Exatamente o oposto do que A narrativa do encontro desenvolve uma liturgia. A lemos em Jo 1,11: "Veio para o que era seu, mas os memória registrada por escrito pode servir como seus não o acolheram". elemento renovador da espiritualidade. Acontece a Uma mulher tem a iniciativa de deixar o cântaro acolhida, uma confissão, o louvor, a conversão e o aos pés de Jesus e ir à cidade, falar de sua testemunho. A trajetória percorrida neste experiência. Faz uso da mesma frase que Jesus encontro-diálogo pode nos esquentar o coração, tinha usado em Jo 1,39. Ele disse para os renovar nossas forças e sustentar nossas utopias. discípulos, ela para a sua gente, seus conterrâneos: A tradição coloca a evangelização de Samaria nas "Vinde e vede!" mãos de Filipe (At 8,5), com a confirmação dos apóstolos (At 8,14-17). Talvez assim possamos * Elaine Neuenfeldt é assessora e ex-diretora entender o que Jesus diz em Jo 4,37: "Um é o que nacional CEBI. É pastora da Igreja Evangélica de semeia e outro é o que colhe". Entretanto, mais Confissão Luterana no Brasil - IECLB e atualmente adiante, na chamada oração sacerdotal, contribui na Federação Luterana Mundial, em Jesus retoma o testemunho da mulher samaritana Genebra. "Não rogo somente por eles, mas pelos que, por Veja outros livros da mesma autora. meio da sua palavra, vierem a crer em mim" (Jo 17,20). Por meio da palavra da mulher, como Sites: lemos em Jo 4,39-42, muitas pessoas acreditaram. http://www.violenciamulher.org.br/ Não é por acaso que em 4,38 é usado o verbo http://www.disquedenuncia.org.br/?p=692 apostollein. http://mulheresemmarcha.blogspot.com/ É interessante ainda recordar que, no capítulo anterior do mesmo evangelho, Nicodemos também havia estranhado a fala de Jesus (Jo 3,3-5), no COMITÊ ESTADUAL DO RS juventudecontraviolencia@gmail.com www.juventudecontraviolencia.blogspot.com