A Obsessão por Justa Causa - – A Paixão, o Ciúme, a Traição e a obsessão - TEXTO
O Cavaleiro
1. O CAVALEIRO, ANDANTE...
Coisas da minha terra.
Data e hora, como se houvesse uma obrigação a cumprir, ele saia
de casa. Lembro-me bem ainda daquela figura apressada, quase
sempre nos mesmos horários, como alguém que tendo uma tarefa
delegada pelos céus dela fazia o sacro ritual. E lá estava ele a
desfilar sua triste imagem alta e magra pelas ruas de Itabira. Ia a
passos largos como se estivesse medindo a distância a percorrer.
Ao sair pelos portais do seu castelo olhava à esquerda e para o
alto, mirando o palácio da rainha protetora da boa saúde. Ele se
benzia e fazia uma ligeira reverência tocando a máscara que havia
na imaginação. E se benzia dos pés à cabeça. Depois olhava para
direita e, esticando seu magro braço, apontava-o em riste como se
estivesse apontando uma lança e definia por onde seguiria
cavalgando. Só lhe faltava para completar sua indumentária,
armadura, espada, lança e escudo. Quem sabe, somente ele se
reconhecia, como se os estivesse trajando constantemente nas
suas andanças.
Nem mesmo o valoroso cavalo Rocinante e o gordo e inseparável
amigo Sancho caminhavam consigo. Ele os deixara de lado, pois,
viviam querendo demovê-lo da ideia de lutar contra os fantasmas
que povoavam sua mente. Onde ele via monstros que se ocultavam
sobre as mais distintas formas de moinhos de vento, quiçá, eram
escavadeiras/dragões que viviam comendo as montanhas de minas
e rodeadas por tratores/cupins gigantes e outras máquinas que
faziam o ritual satânico dos monstros comedores de paisagens. Os
devoradores das matas e das águas, ele precisava derrotar, antes
que a enorme serpente de ferro abastecida pelos celeiros reais
engolisse e transportasse morro abaixo, até o nível do mar, toda
matéria que havia no reino da sua Itabira do Mato-Dentro. A
serpente regurgitaria o ouro e outros produtos que comera dentro
dos monstros metálicos que navegariam para Além Mar.
Quem sabe ele, no afã de percorrer os tortuosos caminhos e
ladeiras da Rua Santana e Penha, buscava encontrar sua amada a
bela... Dulcinéia da Rua Santa Maria. Ninguém sabe ou se lembra
se o misterioso cavaleiro recebera seu título de “protetor” das mãos
do gordo Cardeal que nas suas vistosas e ricas vestimentas,
2. visitava estas terras. Naquelas horas o Cardeal batizava com água,
óleo e sal os súditos do reino que, dependendo das origens e
escudadas pelo brasão imperial, seriam reconhecidos dentro da
tradição, família e propriedade. E mais tarde quando tivessem altura
e porte real, tornar-se-iam menestréis, cavaleiros, ou bruxos que
subiriam ou não as colinas de ferro, para o embate do dia a dia nas
batalhas inglórias contra o dragão da maldade que seguia
devastando todo o reino.
Da sua infância nada sei até onde consigo lembra-me, parece que
já nascera homem feito, também não sei quando sumiu de Itabira.
Acho que ele virou paisagem.
Itabira-05/02/2010
CLAUDIONOR PINHEIRO