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O papel da escola: interface de teóricos e atores
escolares
Eliane de Lourdes Felden*
Maria Isabel Cunha**
Nossas escolas podem ser diferentes de como são? (GI-
MENO SACRISTÁN, 2005, p. 212).
Resumo
O papel da escola vem provocando profundo debate entre os profissionais
da educação, estudiosos e pesquisadores. O presente artigo apresenta resul-
tado de pesquisa realizada no contexto escolar, tendo como objetivo com-
preender como os atores escolares percebem o papel da escola. O trabalho
baseou-se em um conjunto de estudos que aborda a complexidade e ambi-
guidade de funções impostas à escola na contemporaneidade. Trata-se de
uma pesquisa qualitativa, em que foram realizadas entrevistas semiestrutu-
radas com supervisores e diretores de escolas públicas do ensino médio dos
estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, tendo como apoio teórico
autores, como: Charlot (2008); Souza Santos (2009); Morin (1993); Gimeno
Sacristán (1998, 2001, 2005); Anastasiou (2010); Arroyo (2010); Freire (2000,
1977); Pérez Gómez (2001); Canário (2005); Rios (2006), entre outros. A esco-
la, como espaço público, nas considerações dos profissionais entrevistados,
tem como princípios básicos a inserção do sujeito na sociedade, a recons-
trução crítica do conhecimento e a proposição de normas e de padrões de
convivência. Portanto, pensar a instituição escolar, na contemporaneidade, é
um empreendimento difícil, mas necessário.
Palavras-chave: Papel da Escola. Atores escolares. Conhecimento. Sociedade.
1 INTRODUÇÃO
No Brasil, o cenário educacional está demarcado por preocupações
relacionadas à qualidade da educação e ao desempenho das instituições
______________
*
Doutoranda do Programa de Pós-graduação da Universidade do Vale Rio dos Sinos; Profes-
sora Universitária na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Campus
de Santo Ângelo, RS; elianefelden@gmail.com
**
Professora e pesquisadora no Programa de Pós-graduação da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos; São Leopoldo, RS; mabel@unisinos.com
213Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
214
Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
educacionais. Nesse contexto, é possível afirmar que a qualidade da edu-
cação relaciona-se aos compromissos dos estabelecimentos educacionais
com a formação social, humana e profissional dos educandos.
Assim, com a reflexão aqui desenvolvida, intenciona-se focar o pa-
pel da escola,1
embora haja inúmeros trabalhos propositivos nesse sentido.
Essa análise sistemática nasce de uma produção coletiva dos doutorandos,
alunos do Seminário Avançado da Linha de Pesquisa II, no Programa de Pós-
-Graduação em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisi-
nos), No ano de 2010, investigando a respeito da formação de professores,
saberes docentes e mediações pedagógicas, um conjunto de indagações
surgiu, estimulando um estudo empírico à luz das teorias contemporâneas.
Procurou-se analisar questões referentes à gestão escolar, percebendo
o sentido e o significado da escola na contemporaneidade e como ela vem as-
sumindo essa complexidade. E foi com esses questionamentos que se desen-
volveu o estudo envolvendo diretores e supervisores de escolas públicas de
ensino médio dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, tentando
articular os achados com as contribuições teóricas contemporâneas.
O campo teórico foi atravessado pelo diálogo com diferentes áreas
das ciências que embasam a educação2
, como Filosofia, Pedagogia e So-
ciologia, em especial com os autores, Bernard Charlot (2008); Boaventura
S. Santos (2009); Edgar Morin (1993); Gimeno Sacristán (1998, 2001, 2005);
Léa Anastasiou (2010); Miguel Arroyo (2010); Moaci Carneiro (2010); Paulo
Freire (2000), (1977), Pérez Gómes (2001) Alfredo Veiga-Neto (2003); Rui
Canário (2005); Terezinha A. Rios (2006) e Vera Candau (2010).
2 A ESCOLARIZAÇÃO COMO PARTE DE NOSSAS VIDAS
A educação desenvolvida nas instituições escolares integra uma rea-
lidade social, quase natural, que constitui a vida dos sujeitos, ora marcando
e agregando valor e/ou logo se dissipando em nossa consciência.
Nesse sentido, já há algum tempo, Gimeno Sacristán (2001, p. 11)
argumentava:
Ingressar, estar, permanecer por um tempo nas escolas
– em qualquer tipo de instituição escolar – é uma expe-
riência tão natural e cotidiana que nem sequer tomamos
consciência da razão de ser de sua existência, da sua con-
tingência, de sua possível provisoriedade no tempo, das
funções que cumpriu, cumpre ou poderia cumprir, dos
significados que tem na vida das pessoas, nas sociedades
e nas culturas.
215
O papel da escola:
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
Os estudos que têm sido feitos nessa direção mostram que frequen-
tar a escola3
é algo instintivo e normal e, que muitas vezes, passa desper-
cebido pelas pessoas. O fato de pensar, ou de construir uma concepção
de seu papel e do seu sentido, exige uma disposição reflexiva dos sujeitos,
olhando a escola como parte integrante de instituições sociais. Igualmente,
é importante refletir que, sendo o acesso à escola em inúmeros países, se
naturalizam os rituais e as práticas “[...] como algo bom e conveniente para
todos.” (GIMENO SACRISTÁN, 1998, p. 12).
Acredita-se que a escola, além de “boa” e “conveniente”, é um direito
humano universal e precisa ser pensada para que seja oferecida em con-
dições de igualdade, gratuidade e qualidade. Várias são as razões que nos
impelem a investir nesse debate que, aparentemente, não está concluído.
É visível a existência de uma insatisfação geral com a realidade
educacional brasileira, tanto pelos profissionais da educação quanto pe-
los estudantes, pais e comunidade em geral. Entretanto, não há defesas
relativas ao fim da escola, assim como não há argumentos que anunciem
sua substituição. Sua existência parece garantida, mesmo que se apontem
muitas mazelas e desarticulação nas suas práticas.
Se essa é uma condição com uma permanência ainda inquestioná-
vel, cabem esforços de melhor compreender os fenômenos que atingem a
qualidade da escola e um investimento na superação de suas dificuldades.
Assim como Gimeno Sacristán (2001), acredita-se na educação como
um investimento nos sujeitos, capaz de fomentar no indivíduo conheci-
mentos e competências para que possa intervir criticamente na realidade.
3 A ESCOLA: UM POUCO DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Estudar a escola, em tempos de incerteza, impele-nos a pesquisar o
que os teóricos, que tradicionalmente discutem a educação escolarizada,
vêm asseverando. Charlot (2008) investiga o trabalho dos estabelecimen-
tos de ensino e, ao fazer uma breve retrospectiva histórica sobre o tema,
recorda que, até a década de 1950 do século XX, a escola primária assumia,
como funções, essencialmente a alfabetização, a transmissão de conheci-
mentos elementares, além de acreditar que, pela educação escolarizada,
poder-se-ia “moralizar-se” o indivíduo.
Charlot (2008), em seus estudos, afirma que a partir da década de
1960 e 1970 do século XX, em vários países do mundo, a escola foi articu-
lada mais claramente ao desenvolvimento social e econômico. Assegura
que, nesse sentido, houve um esforço para universalizar a escola primária
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Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
e, posteriormente, o ensino fundamental. Nesse contexto, conquistar certo
nível de escolaridade ampliaria significativamente as possibilidades de in-
serção profissional e ascensão social.
Essa configuração histórica, segundo Charlot (2008), é alterada nos
anos 1980 e 1990, tendo em vista a globalização.4
Justifica sua posição ar-
gumentando que isso decorre das lógicas neoliberais, que exigem moderni-
zação econômica e social. Para o pesquisador, essas lógicas estão vinculadas
à globalização, porém fazem parte de fatos mais amplos e exemplifica:
Tornam-se predominantes as exigências de eficácia e
qualidade da ação e da produção social, inclusive quan-
do se trata da educação. [...] essas exigências levam a
considerar o fim do Ensino Médio como o nível desejado
de escolarização para a população, em um país que am-
biciona enfrentar a concorrência internacional e a abrir
portas do Ensino Superior a uma parte maior da juven-
tude. [..] a ideologia neoliberal impõe a ideia de que “lei
do mercado” é o melhor meio e até o único, para alcançar
eficácia e eficiência. [...] desenvolvem-se em ritmo rápi-
do novas tecnologias de informação e comunicação [...]
(CHARLOT, 2008, p. 20).
É possível compreender que, na opinião do autor, todas essas trans-
formações exercem influência no trabalho da escola que, na maioria das
vezes, vê-se desestabilizado pelas exigências crescentes de todas as ordens.
Diante dessa nova realidade educacional, a escola e seus professo-
res5
são desafiados cotidianamente a ressignificar suas práticas pedagó-
gicas, o que implica reconhecer as transformações gerais da sociedade,
articuladas aos avanços tecnológicos e científicos, à reestruturação produ-
tiva, às inovações no processo de trabalho, ao fortalecimento dos meios de
comunicação e aos novos requisitos à requalificação profissional.
Isso significa que é imprescindível avaliar o que efetivamente as ins-
tituições escolares fazem e como se preparam para encarar as exigências
contemporâneas do campo educacional.
4 A ESCOLA: DAS EXPECTATIVAS ÀS POSSIBILIDADES
Ao tratar das funções e propósitos da escola, Pérez Gómes (2001) afir-
ma que a instituição de ensino tem uma função socializadora, pois ali se
encontram grupos de indivíduos que vivem em meios sociais mais amplos,
com cultura social divergente. Nesse espaço, operam intercâmbios humanos
cotidianos que favorecem a aprendizagem de condutas, valores, posturas,
posicionamentos, comportamento e apropriação de determinadas ideias.
217
O papel da escola:
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
Argumenta ainda ter a escola uma função instrutiva, que se estende
mediante o processo de ensino-aprendizagem, sistemático e intencional,
direcionado para “[...] aperfeiçoar o processo de socialização espontânea,
compensar suas lacunas e deficiências e preparar o capital humano da co-
munidade social.” (PÉREZ GÓMES, 2001, p. 262).
Por outro lado, o autor defende, ainda, que a escola tem uma função
educativa e pressupõe que ela oportuniza o acesso aos conhecimentos
e experiências, de forma que os sujeitos reconstruam seu pensamento e
atuação, mediados por um processo de descentralização e reflexão crítica
a respeito de suas próprias experiências, favorecendo o aperfeiçoamento
das maneiras de pensar, sentir e atuar.
A educação escolarizada também tem sido objeto de estudo de Gi-
meno Sacristán. O autor faz afirmações importantes que auxiliam a com-
preensão do tema:
Queremos que, no plano das intenções, as escolas sejam
ao mesmo tempo lugares protegidos e protetores para
os menores e os jovens, que possam ser espaços onde
passar algum tempo para enriquecimento cultural e pes-
soal, que façam com que os menores e os jovens sintam
que, embora sejam lugares fechados, é possível construir
e desenvolver neles sua vida pessoal, autonomia e liber-
dade. (GIMENO SACRISTÁN, 2005, p. 204).
Os pressupostos defendidos por Gimeno Sacristán (2005) explicitam
que a escola tem o papel de ser uma instituição6
que oportuniza experi-
ências capazes de engrandecer culturamente seu alunado, promovendo,
consequentemente, seu desenvolvimento pessoal.
5 QUE PENSA A ESCOLA SOBRE SI MESMA?
Com base nessas reflexões, desenvolvemos um estudo que se pro-
pôs a refletir mais sistematicamente sobre questões como: Será que a es-
cola reflete sobre sua missão, procurando alguma clareza nessa perspec-
tiva? Essa condição é importante para orientar os processos educativos
cotidianos? Como os atores escolares compreendem o papel da escola?
Para desenvolver o estudo, foram aplicadas entrevistas semiestru-
turadas com professores, com supervisores e diretores de escolas públicas
do Ensino Médio do Estado do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O
principal objetivo era desvendar seus pressupostos teórico-práticos em re-
lação às questões anteriormente descritas.
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Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
Utilizaram-se as entrevistas como uma possibilidade de recolha de
dados direta e possibilidade de obter informações primárias para a inter-
pretação. O roteiro de entrevistas foi organizado pelo próprio grupo de
pesquisadores que tentou contemplar questões provocativas, que estimu-
lassem a participação dos interlocutores. A análise de dados foi realizada
com base na Análise de Conteúdo, que favoreceu a apreensão e interpre-
tação dos significados atribuídos pelos respondentes.
6 OUVINDO O OUTRO: DIÁLOGO COMO POSSIBILIDADE DE
COMPREENSÃO
Ao ouvir os depoimentos dos supervisores e gestores, foi possível
compreender que o filtro, para descrever o papel da escola, é decorrente das
suas múltiplas atribuições. Há uma materialidade prática muito forte que ca-
racteriza o discurso sobre o papel da escola, ainda que apareçam os funda-
mentos teóricos oriundos de suas formações. Nesse sentido, parecem como
variados e polissêmicos os papéis da escola para nossos interlocutores.
Uma das diretoras descreveu a escola como uma instituição que
possibilita o acesso à formação formal, certificadora do conhecimento, que
leva o cidadão a construir uma cidadania plena, que oferta experiências
capazes de ampliar a socialização do aluno e prepará-lo para que tenha
acesso ao mundo do trabalho. Manifesta, igualmente, que a escola tem
de ser fonte de esclarecimento e informação para que o aluno conheça os
projetos sociais e de saúde aos quais todos os cidadãos têm direito.
Ressalta que é importante que a escola paute seu trabalho numa
educação voltada para a formação em direitos humanos. Lembra, como
Candau (2010), que o sujeito que aprende é um sujeito de direito pelo pro-
cesso de educação. Explicita que a educação voltada aos direitos humanos
“[...] tem a ver com metodologia e com conteúdos, com os horizontes que
permeiam a família e a escola, focada numa cultura de direitos humanos,
envolvendo o viver e o relacionar-se com todos, referindo-se à comunica-
ção com a família, com a escola e com sua comunidade.
Preparar o aluno para ingressar no mercado de trabalho também
foi uma preocupação manifestada pela diretora da escola, revelando certa
coerência com os preceitos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
nal, 9.394/96 que, em seu artigo primeiro, faz referência à educação escolar
que precisa estar vinculada ao mundo do trabalho e à prática social.
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O papel da escola:
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
Entretanto, é importante que esse conceito seja bem refletido, pois
há ambiguidades sobre as relações de poder entre um e outro campo,
como afirma Carneiro (2010, p. 40):
Para os educadores é essencial distinguir mundo do tra-
balho de mercado de trabalho. O primeiro é campo por
excelência de realização humana e da construção cole-
tiva da cidadania com qualidade de vida. O segundo é
lugar da empregabilidade, dos postos fixos de ocupação
e, portanto, da profissionalidade. [...] a educação escolar é
a grande porta para a mobilização plena do sujeito.
A posição do autor articula elementos estruturantes, quais sejam:
conhecimento, cidadania e trabalho humano, que precisam estar em per-
manente conexão no espaço escolar, para que a educação, compreendida
como prática social, contribua com o pleno desenvolvimento do educan-
do, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho, como reza a LDB em vigor no Brasil.
Nem sempre foi possível desvendar, por meio das entrevistas, as com-
preensões conceituais das respondentes. Mas os dados foram-se comple-
mentando quando mais pessoas firmaram depoimentos. Foi o caso do diá-
logo com a supervisora da escola, que reforçou alguns aspectos presentes
no depoimento da diretora. Para a supervisora, a escola precisa compreender
que “a meta maior é a vida, educar para a vida, formar cidadãos críticos, dinâ-
micos, bem resolvidos, considerando os aspectos afetivos. Os alunos têm de
ser críticos, a preocupação maior é lá fora, como eles sairão para a sociedade,
para serem bons profissionais.” (informação verbal). Nesse sentido, a ideia de
formação extrapola a condição relacionada ao preparo para um conteúdo ou
ofício, mas inclui uma dimensão política e social mais ampla.
O desafio da escola, na narrativa da educadora, está em desenvolver a
criticidade no aluno, para que seja capaz de refletir sobre a realidade na qual
está inserido. É preciso instrumentalizar os educandos para que possam inter-
vir e transformar a realidade sempre que necessário. Nessa lógica, defende a
professora-supervisora que as aprendizagens que ocorrem no espaço escolar
necessitam preparar o indivíduo para ser um bom cidadão e profissional. Ela
faz um chamamento aos educadores para que trabalhem acreditando na pos-
sibilidade de formar “[...] pessoas críticas, de raciocínio rápido, com sentido de
risco, curiosas, indagadoras”, como diz Freire (2000, p. 100).
Para outra supervisora, “a escola tem o papel social de reguladora,
transmissora do legado cultural de gerações anteriores e de produtora de
novas culturas e novos conhecimentos.” Sente, entretanto, que a sociedade
“contemporânea cobra mais, num “lavar as mãos” sobre as responsabili-
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Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
dades, cobra da escola o papel de educação, formação, organizadora da
sociedade e da saúde pública.”
Há uma queixa contida no depoimento dessa supervisora que vê
uma cobrança descabida sobre as possibilidades da escola, sem um mo-
vimento social mais amplo que assuma parte das responsabilidades para
com as novas gerações. Mesmo entendendo que a escola tem compromis-
so com a cultura e os novos conhecimentos, percebe que a sociedade in-
siste em exigir, cada vez mais, ações e responsabilidades dessa instituição,
desobrigando outras instâncias de assumir parte do encargo de preparar
as novas gerações.
Na continuidade do diálogo com as respondentes, ouvimos de ou-
tra supervisora uma posição muito similar, na qual afirma:
O papel da escola está confuso para todos e até para nós
professores. Somos solicitados a fazer o que sabemos
(ensinar) e o que não sabemos (ser psicólogo, orientador
familiar, levar crianças no médico, e chamar a família a
assumir sua responsabilidade, pois ela se isenta [...]). Po-
rém, essas “tarefas complementares” têm assumido pre-
ponderância, ocupado muito tempo escolar e o ensino
acontece no meio delas, mas já não há um espaço muito
privilegiado para ele.
Para ela, com tantas atribuições, a escola tende a comprometer os
resultados de sua tarefa principal: ensinar os conteúdos escolares e histori-
camente construídos na relação com a cultura do aluno.7
É possível afirmar que, em geral, há uma compreensão de que a escola
tem um compromisso com o processo de aprendizagem do aluno e que, para
tanto, precisa canalizar esforços no sentido de qualificar a ação de ensinar.
Nesse sentido, Anastasiou (2007) reafirma que ensinar se constitui
em um elemento fundamental do ato educativo, em um aspecto impres-
cindível da missão da escola. Toma, entretanto, essa expressão num senti-
do lato, explicando:
O verbo ensinar, do latim insignare, significa marcar com
um sinal, que deveria ser de vida, busca e despertar para
o conhecimento. Na realidade da sala de aula, pode ocor-
rer a compreensão, ou não, do conteúdo pretendido, a
adesão, ou não, a formas de pensamento mais evoluí-
das, a mobilização, ou não, para outras ações de estudo e
aprendizagem. (ANASTASIOU, 2007, p. 18).
À intenção de ensinar do professor deve corresponder o propósito
de aprender no aluno. Mesmo que ensinar e aprender formem um par
inconfundível, é importante reconhecer que se constituem em dois pro-
cessos particulares e que somente alcançam o objetivo comum quando
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O papel da escola:
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
há esforços, tanto de quem ensina quanto de quem aprende. Entretanto,
sendo o professor aquele que detém os conhecimentos profissionais para
o trato com a educação escolarizada, presume-se que sua mediação seja
mais responsável no processo desencadeado. Nesse caso, o papel do pro-
fessor confunde-se com o papel da escola, ambos direcionados para metas
comuns, referentes ao progresso dos alunos.
Mais um depoimento proporcionou elementos de reflexão e análise
para o estudo desenvolvido. Argumentou outra supervisora:
Num primeiro momento, gostaria de destacar que a es-
cola necessita perceber os aspectos da contemporanei-
dade. Precisa caracterizar a infância e a juventude deste
tempo líquido e fluído. Acompanhar os anseios dos estu-
dantes diante do número de informações e dos diferen-
tes acessos dos meios de comunicação. Portanto, a es-
cola precisa trabalhar com metodologias que propiciem
a sistematização dessas informações, articulando saberes
necessários aos desafios de seu cotidiano. Transformar
essas informações em conhecimento e, cada vez mais
oportunizar a expressão de suas diferentes inteligências,
desenvolvendo competências. Assim, a escola tem o pa-
pel de trabalhar com a inclusão digital e social. Necessi-
ta trabalhar com as questões de gênero, de identidade,
potencializando uma visão sistêmica de nossa cultura. A
escola deve fazer a leitura de mundo junto com seus alu-
nos, tecer a realidade a partir de enfoque teórico e práti-
co das diferentes disciplinas. Educar é vida e se constrói
na complexidade [...] (informação verbal).
Essa narrativa traz densas reflexões. Parece conter certo desabafo
referente ao desejo de uma escola que responda aos anseios de maior
qualidade no seu desempenho. Menciona a questão da cultura como ele-
mento de leitura para práticas escolares eficientes. Aponta a importância
de que essa condição se concretize nas metodologias e na articulação dos
múltiplos saberes que povoam a sala de aula. Aborda o desafio das tec-
nologias e as formas recentes de acesso à informação, que não podem
estar alijadas das práticas escolares. A reflexão da nossa respondente leva
à compreensão da complexidade que a escola precisa dar conta.
Morin (1993), entre outros autores, vem ajudando-nos a entender
o fenômeno da complexidade e nela a relação entre informação e conhe-
cimento. Para ele, o conhecimento é muito mais do que informação; às
vezes, seu estágio inicial. O conhecer implica um segundo estágio, pois
envolve interagir com as informações, classificando-as, examinando-as e
contextualizando-as. Logo depois, exige um terceiro estágio, que se refere
à arte de vincular o conhecimento de maneira útil e pertinente, produzindo
novas formas de desenvolvimento e bem-estar humano. A consciência e
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Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
a sabedoria envolvem reflexão, ou seja, a capacidade de produzir novas
formas de existência, de humanização.
Nas palavras de Morin (1993) observa-se o quanto é importante a es-
cola refletir sobre como transformar a informação em conhecimento e este,
em médio prazo, em sabedoria para que tenha sentido na vida dos aprendizes.
Para tal, é preciso compreender a complexidade das funções da es-
cola, articulada à capacidade de seus profissionais em prever ações, inten-
cioná-las, produzindo um “conhecimento prudente para uma vida decen-
te”, como tão bem orienta Boaventura de Souza Santos (2009, p. 74).
Outra colaboradora da pesquisa chamou a atenção para a importância
de se olhar a dimensão cultural da escola. Para melhor entender a intenção
dessa proposição, encontramos em Arroyo (2010) contribuições que estimu-
lam a olhar a escola nessa perspectiva. Lembra o autor que a repolitização da
cultura vem desse coletivo cultural de história, de valores, de linguagens pró-
prias e não emprestadas. É uma afirmação do direito coletivo de sujeitos cole-
tivos e deve contrapor-se à tentativa de acabar com a cultura, um culturecídio.8
Essa discussão precisa fazer parte da pedagogia moderna. Como mostrar, no
currículo, a cultura? Como mostrar, no currículo, o direito à cultura?
Essas são importantes provocações que, certamente, deverão ter reper-
cussões nos espaços de formação de professores, a fim de que, gradativamen-
te, criem-se condições para que os referenciais culturais, os próprios grupos
culturais e os movimentos sociais estejam presentes no cotidiano das escolas.
Outras considerações a respeito do papel da escola vieram de um
diretor que acredita que, “[...] na contemporaneidade, a escola passa a ser
o espaço de lazer dos alunos e os estudos passam a ser o segundo plano
dos alunos. É o ponto de encontro, das curiosidades sobre o mundo.” (in-
formação verbal). Se, a primeira vista, essa afirmativa pode parecer despro-
positada – pois parece trair a visão conteúdista da escola – num segundo
momento, dá-se a essa opinião um valor substancial. Há muito a escola
vem ocupando um papel essencial na socialização das crianças e jovens. É
nela que eles aprendem a conviver e a respeitar o outro e aprendem sobre
as diferenças. Também é nela que as disputas da sociedade mais amplas se
materializam, como o preconceito e o individualismo. Mesmo assim, essa
é uma função chave da escola e torna-se cada vez mais crucial. A violência
e a crescente necessidade de proteção da infância, que se estende pela
juventude, fazem da escola um dos poucos ambientes de circulação mais
livre para essa geração. Tem razão o diretor depoente ao fazer uma análise
do papel da escola, dizendo acreditar que hoje ela é um lugar de encontro,
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O papel da escola:
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
de entretenimento, de socialização de saberes a respeito do mundo. Os
conteúdos curriculares ficam, muitas vezes, invisíveis na valorização relativa
dos alunos, mas as práticas de convivência alcançam maior permanência.
Gimeno Sacristán (2005) afirma que a escola deveria educar ensinando;
porém, não conteúdos mortos, por mais valiosos que pareçam, mas to-
dos aqueles que somos capazes de expressar aos alunos como preciosos
para viver e entender o mundo. Acredita-se que as escolas foram criadas
para isso, portanto, lazer e estudo podem dividir seguramente o espaço da
escola, ampliando horizontes e tornando as pessoas aptas a assumir um
papel em que acreditam contribuir para o desenvolvimento da sociedade.
Outro depoimento de um diretor explicita que o papel da escola “é
contribuir com a transformação da sociedade. [...] Atualmente, a sociedade
exerce fortíssima influência, ditando a transformação a partir da mídia e
das tecnologias.” (informação verbal).
Mesmo assim, a escola e o sistema educativo ainda ocupam papel im-
portante. Essa posição no pensamento freireano nos alerta no seguinte sentido:
O homem não pode participar ativamente na história, na
sociedade, na transformação da realidade se não for aju-
dado a tomar consciência da realidade e da sua própria
capacidade para transformar [...]. Ninguém luta contra
forças que não entende cuja importância não meça, cujas
formas e contornos não discirna; [...] A realidade não pode
ser modificada senão quando o homem descobre que é
modificável e que ele o pode fazer (FREIRE, 1977, p. 48).
Ou seja, o caminho para a transformação inicia com a formação9
do sujeito que lhe permita conhecer a realidade, compreender os fatos e
construir uma leitura crítica do mundo. Assim, compreende-se que facultar
o acesso ao saber, que de forma contínua se constrói e se acumula histori-
camente e oportunizar experiências de recriação desse saber, é uma traje-
tória importante para constituir cidadãos politizados, críticos e responsá-
veis com o desenvolvimento social, político e econômico da sociedade em
que estão inseridos.
7 PENSAR A ESCOLA E PENSAR A SOCIEDADE: CONSIDERAÇÕES
O presente texto pretendeu contribuir para a reflexão sobre o pa-
pel da escola no mundo10
contemporâneo, possibilitando compreender os
desafios enfrentados por essa instituição no contexto atual. Para tal, pro-
curou dar visibilidade às narrativas de sujeitos que atuam cotidianamente
224
Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
na gestão de espaços escolares, valorizando suas vozes e visibilizando suas
narrativas como sujeitos implicados nesse processo com a educação.
Foi possível verificar que a escola pauta seu trabalho num repertório
de conhecimentos, costumes e práticas que exigem flexibilidade e ajuste
constante, tendo em vista um jogo de tensões existente entre uma cultura
escolar marcada por um trabalho fragmentado e uma cultura contempo-
rânea dominada pelo excesso de estímulos, flexibilidade e transitoriedade.
Ressaltam-se, no próprio discurso dos profissionais entrevistados, a
importância e a necessidade de a escola e seus professores reverem suas
práticas, assumindo uma responsabilidade social diante de crianças, jovens
e adultos que historicamente foram expropriados de seus direitos.
No entanto, ainda se percebe a complexidade da missão escolar em
tempos de mudança e como essa condição se manifesta nos discursos dos
sujeitos da prática. Para exemplificar, ainda não foi possível perceber a
importância que os gestores dão à escola como espaço/lugar de formação
de saberes dos profissionais envolvidos, ou seja, a escola não se reconhece
com autonomia para prover uma formação com mais significado, inves-
tindo e instrumentalizando os professores no intuito de qualificar a práti-
ca pedagógica. Nesse sentido, Connel (2010) deixa uma lição, afirmando
que investir no professor é acreditar que a capacidade produtiva da escola
pode ser ampliada. E, definitivamente, isso repercute no mundo todo, em
especial na competitividade dos índices de desenvolvimento social e eco-
nômico com aumento das taxas positivas na educação.
Portanto, considerar a escola11
como objeto de estudo autoriza dar
visibilidade à dimensão formativa dos contextos institucionais e às condi-
ções de trabalho, abrindo vereda à ressignificação e ao desenvolvimento
de estudos a respeito da formação de professores.
Pensar a instituição escolar na contemporaneidade é um empreen-
dimento difícil, mas necessário. Neste estudo, foram apontados desafios
para os quais não se encontram, ainda, respostas concludentes. No entan-
to, em uma perspectiva emergente, como nos orienta Sousa Santos (2001,
p. 31), “só através de uma criação sistemática, apurada e metódica do pen-
samento crítico independente, da cidadania ativa, de uma luta por uma
transformação emancipatória paradigmática, se justifica a escola e aí, sim,
ela tem toda a legitimidade e deve continuar.”
225
O papel da escola:
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
The paper of the School: interface of theoreticians and pertaining to
school actors
Abstract
The role of the school has provided deep debate amongst education profes-
sionals, scholars and researchers. The present article shows the result of a
research which happened in a school context, with aims to understand how
school actors see the role of the school. The work was based on a set of stu-
dies which approach the complexity and ambiguity of functions imposed on
the school nowadays. It is a qualitative research, in which semi-structured
interviews were carried out with High School supervisors and directors in the
state of Rio Grande do Sul and Santa Catarina, with the theoretical support
of authors like: Charlot (2008); Souza Santos (2009); Morin (1993); Gimeno
Sacristán (1998, 2001, 2005); Anastasiou (2010); Arroyo (2010); Freire (2000,
1977); Pérez Gómez (2001); Canário (2005); Rios (2006) amongst others.
School, as a public space, according to the interviewed professionals, has as
basic principles the insertion of the subject in society, critical reconstruction
of knowledge and the proposition of policies and standards of living. Therefo-
re, thinking of the school institution, nowadays, is a tough endeavor, though
it is necessary.
Keywords: The role of the School, School Actors, Knowledge, Society.
Notas explicativas
1
Não há dúvidas de que estamos na presença de uma invenção histórica, contemporânea da
dupla revolução industrial e liberal que baliza o início da modernidade e que introduziu, como
novidades, o aparecimento de uma instância educativa especializada que separa o aprender
do fazer; a criação de uma relação social inédita, a relação pedagógica no quadro da classe,
superando a relação dual entre o mestre e o aluno; uma nova forma de socialização(escolar)
que progressivamente viria a tornar-se hegemônica. (CANÁRIO, 2005, p. 61).
2
[...] as ciências da educação estudam a questão do homem do triplo ponto de vista da sua
hominização (o tornar-se ser humano), da socialização (o tornar-se membro de uma cidade,
e mesmo de várias) e da sua personalização (o tornar-se um ser singular). Está em causa um
único e mesmo processo, indissociável no seu desenvolvimento. É possível construir objetos
de investigação a partir de uma só dimensão [...] podem, também, construir-se objetos de
investigação que integram estas três dimensões. (CHARLOT, 2001, p. 165).
3
[...] a escola é uma instituição que, a partir de um conjunto de valores estáveis e intrínsecos,
funciona como uma fábrica de cidadãos, desempenhando um papel central na integração so-
cial, na perspectiva durkheimiana de prevenir a anomia e preparar para a inserção na divisão
social do trabalho. Como instituição, a escola desempenha, do ponto de vista histórico, um
papel fundamental de unificação cultural, linguística e política, afirmando-se como um ins-
trumento fundamental da construção dos modernos estados-nação. (CANÁRIO, 2005, p. 62).
4
A globalização é um conceito útil para expressar uma condição do mundo na segunda mo-
dernidade em que nos encontramos e que consiste em que as partes deste – sejam países,
grupos sociais, culturas e atividades das mais diversas – participem de uma grande rede que
condiciona cada peça do todo: suas economias, as políticas que possam adotar, as culturas
226
Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
que ficam deslocadas e expostas a “contágios” das demais, a informação que circula, etc.
(GIMENO SACRISTÁN, 2007, p. 16).
5
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9.394/96, em seu parágrafo 12, define que
os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do sistema de ensino,
terão a incumbência de velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente. Essa
é uma das funções da escola, além de tantas outras enumeradas na LDB.
6
Para sobrevir como agentes difusores de conhecimento, as instituições educativas precisam
entender em que tipo de sociedade vivem, oferecer aos cidadãos possibilidades e capacida-
des para participarem dela, incumbências hoje distantes de suas práticas cotidianas, fruto de
inveteradas tradições. (GIMENO SACRISTÁN, 2007, p. 45). 
7
Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção. Quando entro em sala da aula, devo estar sendo um
ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, às suas inibições; um ser
crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho a de ensinar, e não a de transferir
conhecimento. (FREIRE, 1996, p. 47). 
8
Termo cunhado pelo próprio Miguel Arroyo para explicar uma tentativa de acabar com a
cultura.
9
O ensino da melhor qualidade é aquele que cria condições para a formação de alguém que
sabe ler, escrever e contar. Ler não apenas as cartilhas, mas os sinais do mundo, a cultura de
seu tempo. (RIOS, 2006, p. 138). 
10
Anunciar mudanças no ensino, ou mesmo exigi-las, não mudará o que acontece na sala de
aula e nas escolas se os professores resistem e subvertem estas mudanças. Dado o modelo
autoritário de transmissão de conhecimento que tem sido dominante nas escolas ao redor do
mundo, os professores irão ensinar de uma maneira mais democrática, centrada no aprendiz
se eles tomarem como experiência uma reorientação conceitual fundamental sobre seus pa-
péis e sobre a natureza do ensino e da aprendizagem (ZEICHNER, 2002, p. 29). 
11
Os debates sobre a escola nos últimos trinta anos têm tido um generalizado, e por vezes
difuso, sentimento de insatisfação como pano de fundo, ao qual as múltiplas e repetidas
tentativas de mudança voluntarista e em larga escala (reformas) não têm conseguido dar uma
resposta pertinente. (CANÁRIO, 2005, p. 59).
REFERÊNCIAS
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teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.
CANÁRIO, Rui. O que é a escola? Um “olhar” sociológico. Porto: Porto
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227
O papel da escola:
Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
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Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
Recebido em 26 de julho de 2012
Aceito em 18 de agosto de 2012

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  • 1. O papel da escola: interface de teóricos e atores escolares Eliane de Lourdes Felden* Maria Isabel Cunha** Nossas escolas podem ser diferentes de como são? (GI- MENO SACRISTÁN, 2005, p. 212). Resumo O papel da escola vem provocando profundo debate entre os profissionais da educação, estudiosos e pesquisadores. O presente artigo apresenta resul- tado de pesquisa realizada no contexto escolar, tendo como objetivo com- preender como os atores escolares percebem o papel da escola. O trabalho baseou-se em um conjunto de estudos que aborda a complexidade e ambi- guidade de funções impostas à escola na contemporaneidade. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, em que foram realizadas entrevistas semiestrutu- radas com supervisores e diretores de escolas públicas do ensino médio dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, tendo como apoio teórico autores, como: Charlot (2008); Souza Santos (2009); Morin (1993); Gimeno Sacristán (1998, 2001, 2005); Anastasiou (2010); Arroyo (2010); Freire (2000, 1977); Pérez Gómez (2001); Canário (2005); Rios (2006), entre outros. A esco- la, como espaço público, nas considerações dos profissionais entrevistados, tem como princípios básicos a inserção do sujeito na sociedade, a recons- trução crítica do conhecimento e a proposição de normas e de padrões de convivência. Portanto, pensar a instituição escolar, na contemporaneidade, é um empreendimento difícil, mas necessário. Palavras-chave: Papel da Escola. Atores escolares. Conhecimento. Sociedade. 1 INTRODUÇÃO No Brasil, o cenário educacional está demarcado por preocupações relacionadas à qualidade da educação e ao desempenho das instituições ______________ * Doutoranda do Programa de Pós-graduação da Universidade do Vale Rio dos Sinos; Profes- sora Universitária na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Campus de Santo Ângelo, RS; elianefelden@gmail.com ** Professora e pesquisadora no Programa de Pós-graduação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos; São Leopoldo, RS; mabel@unisinos.com 213Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011
  • 2. 214 Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 educacionais. Nesse contexto, é possível afirmar que a qualidade da edu- cação relaciona-se aos compromissos dos estabelecimentos educacionais com a formação social, humana e profissional dos educandos. Assim, com a reflexão aqui desenvolvida, intenciona-se focar o pa- pel da escola,1 embora haja inúmeros trabalhos propositivos nesse sentido. Essa análise sistemática nasce de uma produção coletiva dos doutorandos, alunos do Seminário Avançado da Linha de Pesquisa II, no Programa de Pós- -Graduação em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisi- nos), No ano de 2010, investigando a respeito da formação de professores, saberes docentes e mediações pedagógicas, um conjunto de indagações surgiu, estimulando um estudo empírico à luz das teorias contemporâneas. Procurou-se analisar questões referentes à gestão escolar, percebendo o sentido e o significado da escola na contemporaneidade e como ela vem as- sumindo essa complexidade. E foi com esses questionamentos que se desen- volveu o estudo envolvendo diretores e supervisores de escolas públicas de ensino médio dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, tentando articular os achados com as contribuições teóricas contemporâneas. O campo teórico foi atravessado pelo diálogo com diferentes áreas das ciências que embasam a educação2 , como Filosofia, Pedagogia e So- ciologia, em especial com os autores, Bernard Charlot (2008); Boaventura S. Santos (2009); Edgar Morin (1993); Gimeno Sacristán (1998, 2001, 2005); Léa Anastasiou (2010); Miguel Arroyo (2010); Moaci Carneiro (2010); Paulo Freire (2000), (1977), Pérez Gómes (2001) Alfredo Veiga-Neto (2003); Rui Canário (2005); Terezinha A. Rios (2006) e Vera Candau (2010). 2 A ESCOLARIZAÇÃO COMO PARTE DE NOSSAS VIDAS A educação desenvolvida nas instituições escolares integra uma rea- lidade social, quase natural, que constitui a vida dos sujeitos, ora marcando e agregando valor e/ou logo se dissipando em nossa consciência. Nesse sentido, já há algum tempo, Gimeno Sacristán (2001, p. 11) argumentava: Ingressar, estar, permanecer por um tempo nas escolas – em qualquer tipo de instituição escolar – é uma expe- riência tão natural e cotidiana que nem sequer tomamos consciência da razão de ser de sua existência, da sua con- tingência, de sua possível provisoriedade no tempo, das funções que cumpriu, cumpre ou poderia cumprir, dos significados que tem na vida das pessoas, nas sociedades e nas culturas.
  • 3. 215 O papel da escola: Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 Os estudos que têm sido feitos nessa direção mostram que frequen- tar a escola3 é algo instintivo e normal e, que muitas vezes, passa desper- cebido pelas pessoas. O fato de pensar, ou de construir uma concepção de seu papel e do seu sentido, exige uma disposição reflexiva dos sujeitos, olhando a escola como parte integrante de instituições sociais. Igualmente, é importante refletir que, sendo o acesso à escola em inúmeros países, se naturalizam os rituais e as práticas “[...] como algo bom e conveniente para todos.” (GIMENO SACRISTÁN, 1998, p. 12). Acredita-se que a escola, além de “boa” e “conveniente”, é um direito humano universal e precisa ser pensada para que seja oferecida em con- dições de igualdade, gratuidade e qualidade. Várias são as razões que nos impelem a investir nesse debate que, aparentemente, não está concluído. É visível a existência de uma insatisfação geral com a realidade educacional brasileira, tanto pelos profissionais da educação quanto pe- los estudantes, pais e comunidade em geral. Entretanto, não há defesas relativas ao fim da escola, assim como não há argumentos que anunciem sua substituição. Sua existência parece garantida, mesmo que se apontem muitas mazelas e desarticulação nas suas práticas. Se essa é uma condição com uma permanência ainda inquestioná- vel, cabem esforços de melhor compreender os fenômenos que atingem a qualidade da escola e um investimento na superação de suas dificuldades. Assim como Gimeno Sacristán (2001), acredita-se na educação como um investimento nos sujeitos, capaz de fomentar no indivíduo conheci- mentos e competências para que possa intervir criticamente na realidade. 3 A ESCOLA: UM POUCO DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA Estudar a escola, em tempos de incerteza, impele-nos a pesquisar o que os teóricos, que tradicionalmente discutem a educação escolarizada, vêm asseverando. Charlot (2008) investiga o trabalho dos estabelecimen- tos de ensino e, ao fazer uma breve retrospectiva histórica sobre o tema, recorda que, até a década de 1950 do século XX, a escola primária assumia, como funções, essencialmente a alfabetização, a transmissão de conheci- mentos elementares, além de acreditar que, pela educação escolarizada, poder-se-ia “moralizar-se” o indivíduo. Charlot (2008), em seus estudos, afirma que a partir da década de 1960 e 1970 do século XX, em vários países do mundo, a escola foi articu- lada mais claramente ao desenvolvimento social e econômico. Assegura que, nesse sentido, houve um esforço para universalizar a escola primária
  • 4. 216 Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 e, posteriormente, o ensino fundamental. Nesse contexto, conquistar certo nível de escolaridade ampliaria significativamente as possibilidades de in- serção profissional e ascensão social. Essa configuração histórica, segundo Charlot (2008), é alterada nos anos 1980 e 1990, tendo em vista a globalização.4 Justifica sua posição ar- gumentando que isso decorre das lógicas neoliberais, que exigem moderni- zação econômica e social. Para o pesquisador, essas lógicas estão vinculadas à globalização, porém fazem parte de fatos mais amplos e exemplifica: Tornam-se predominantes as exigências de eficácia e qualidade da ação e da produção social, inclusive quan- do se trata da educação. [...] essas exigências levam a considerar o fim do Ensino Médio como o nível desejado de escolarização para a população, em um país que am- biciona enfrentar a concorrência internacional e a abrir portas do Ensino Superior a uma parte maior da juven- tude. [..] a ideologia neoliberal impõe a ideia de que “lei do mercado” é o melhor meio e até o único, para alcançar eficácia e eficiência. [...] desenvolvem-se em ritmo rápi- do novas tecnologias de informação e comunicação [...] (CHARLOT, 2008, p. 20). É possível compreender que, na opinião do autor, todas essas trans- formações exercem influência no trabalho da escola que, na maioria das vezes, vê-se desestabilizado pelas exigências crescentes de todas as ordens. Diante dessa nova realidade educacional, a escola e seus professo- res5 são desafiados cotidianamente a ressignificar suas práticas pedagó- gicas, o que implica reconhecer as transformações gerais da sociedade, articuladas aos avanços tecnológicos e científicos, à reestruturação produ- tiva, às inovações no processo de trabalho, ao fortalecimento dos meios de comunicação e aos novos requisitos à requalificação profissional. Isso significa que é imprescindível avaliar o que efetivamente as ins- tituições escolares fazem e como se preparam para encarar as exigências contemporâneas do campo educacional. 4 A ESCOLA: DAS EXPECTATIVAS ÀS POSSIBILIDADES Ao tratar das funções e propósitos da escola, Pérez Gómes (2001) afir- ma que a instituição de ensino tem uma função socializadora, pois ali se encontram grupos de indivíduos que vivem em meios sociais mais amplos, com cultura social divergente. Nesse espaço, operam intercâmbios humanos cotidianos que favorecem a aprendizagem de condutas, valores, posturas, posicionamentos, comportamento e apropriação de determinadas ideias.
  • 5. 217 O papel da escola: Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 Argumenta ainda ter a escola uma função instrutiva, que se estende mediante o processo de ensino-aprendizagem, sistemático e intencional, direcionado para “[...] aperfeiçoar o processo de socialização espontânea, compensar suas lacunas e deficiências e preparar o capital humano da co- munidade social.” (PÉREZ GÓMES, 2001, p. 262). Por outro lado, o autor defende, ainda, que a escola tem uma função educativa e pressupõe que ela oportuniza o acesso aos conhecimentos e experiências, de forma que os sujeitos reconstruam seu pensamento e atuação, mediados por um processo de descentralização e reflexão crítica a respeito de suas próprias experiências, favorecendo o aperfeiçoamento das maneiras de pensar, sentir e atuar. A educação escolarizada também tem sido objeto de estudo de Gi- meno Sacristán. O autor faz afirmações importantes que auxiliam a com- preensão do tema: Queremos que, no plano das intenções, as escolas sejam ao mesmo tempo lugares protegidos e protetores para os menores e os jovens, que possam ser espaços onde passar algum tempo para enriquecimento cultural e pes- soal, que façam com que os menores e os jovens sintam que, embora sejam lugares fechados, é possível construir e desenvolver neles sua vida pessoal, autonomia e liber- dade. (GIMENO SACRISTÁN, 2005, p. 204). Os pressupostos defendidos por Gimeno Sacristán (2005) explicitam que a escola tem o papel de ser uma instituição6 que oportuniza experi- ências capazes de engrandecer culturamente seu alunado, promovendo, consequentemente, seu desenvolvimento pessoal. 5 QUE PENSA A ESCOLA SOBRE SI MESMA? Com base nessas reflexões, desenvolvemos um estudo que se pro- pôs a refletir mais sistematicamente sobre questões como: Será que a es- cola reflete sobre sua missão, procurando alguma clareza nessa perspec- tiva? Essa condição é importante para orientar os processos educativos cotidianos? Como os atores escolares compreendem o papel da escola? Para desenvolver o estudo, foram aplicadas entrevistas semiestru- turadas com professores, com supervisores e diretores de escolas públicas do Ensino Médio do Estado do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O principal objetivo era desvendar seus pressupostos teórico-práticos em re- lação às questões anteriormente descritas.
  • 6. 218 Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 Utilizaram-se as entrevistas como uma possibilidade de recolha de dados direta e possibilidade de obter informações primárias para a inter- pretação. O roteiro de entrevistas foi organizado pelo próprio grupo de pesquisadores que tentou contemplar questões provocativas, que estimu- lassem a participação dos interlocutores. A análise de dados foi realizada com base na Análise de Conteúdo, que favoreceu a apreensão e interpre- tação dos significados atribuídos pelos respondentes. 6 OUVINDO O OUTRO: DIÁLOGO COMO POSSIBILIDADE DE COMPREENSÃO Ao ouvir os depoimentos dos supervisores e gestores, foi possível compreender que o filtro, para descrever o papel da escola, é decorrente das suas múltiplas atribuições. Há uma materialidade prática muito forte que ca- racteriza o discurso sobre o papel da escola, ainda que apareçam os funda- mentos teóricos oriundos de suas formações. Nesse sentido, parecem como variados e polissêmicos os papéis da escola para nossos interlocutores. Uma das diretoras descreveu a escola como uma instituição que possibilita o acesso à formação formal, certificadora do conhecimento, que leva o cidadão a construir uma cidadania plena, que oferta experiências capazes de ampliar a socialização do aluno e prepará-lo para que tenha acesso ao mundo do trabalho. Manifesta, igualmente, que a escola tem de ser fonte de esclarecimento e informação para que o aluno conheça os projetos sociais e de saúde aos quais todos os cidadãos têm direito. Ressalta que é importante que a escola paute seu trabalho numa educação voltada para a formação em direitos humanos. Lembra, como Candau (2010), que o sujeito que aprende é um sujeito de direito pelo pro- cesso de educação. Explicita que a educação voltada aos direitos humanos “[...] tem a ver com metodologia e com conteúdos, com os horizontes que permeiam a família e a escola, focada numa cultura de direitos humanos, envolvendo o viver e o relacionar-se com todos, referindo-se à comunica- ção com a família, com a escola e com sua comunidade. Preparar o aluno para ingressar no mercado de trabalho também foi uma preocupação manifestada pela diretora da escola, revelando certa coerência com os preceitos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- nal, 9.394/96 que, em seu artigo primeiro, faz referência à educação escolar que precisa estar vinculada ao mundo do trabalho e à prática social.
  • 7. 219 O papel da escola: Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 Entretanto, é importante que esse conceito seja bem refletido, pois há ambiguidades sobre as relações de poder entre um e outro campo, como afirma Carneiro (2010, p. 40): Para os educadores é essencial distinguir mundo do tra- balho de mercado de trabalho. O primeiro é campo por excelência de realização humana e da construção cole- tiva da cidadania com qualidade de vida. O segundo é lugar da empregabilidade, dos postos fixos de ocupação e, portanto, da profissionalidade. [...] a educação escolar é a grande porta para a mobilização plena do sujeito. A posição do autor articula elementos estruturantes, quais sejam: conhecimento, cidadania e trabalho humano, que precisam estar em per- manente conexão no espaço escolar, para que a educação, compreendida como prática social, contribua com o pleno desenvolvimento do educan- do, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, como reza a LDB em vigor no Brasil. Nem sempre foi possível desvendar, por meio das entrevistas, as com- preensões conceituais das respondentes. Mas os dados foram-se comple- mentando quando mais pessoas firmaram depoimentos. Foi o caso do diá- logo com a supervisora da escola, que reforçou alguns aspectos presentes no depoimento da diretora. Para a supervisora, a escola precisa compreender que “a meta maior é a vida, educar para a vida, formar cidadãos críticos, dinâ- micos, bem resolvidos, considerando os aspectos afetivos. Os alunos têm de ser críticos, a preocupação maior é lá fora, como eles sairão para a sociedade, para serem bons profissionais.” (informação verbal). Nesse sentido, a ideia de formação extrapola a condição relacionada ao preparo para um conteúdo ou ofício, mas inclui uma dimensão política e social mais ampla. O desafio da escola, na narrativa da educadora, está em desenvolver a criticidade no aluno, para que seja capaz de refletir sobre a realidade na qual está inserido. É preciso instrumentalizar os educandos para que possam inter- vir e transformar a realidade sempre que necessário. Nessa lógica, defende a professora-supervisora que as aprendizagens que ocorrem no espaço escolar necessitam preparar o indivíduo para ser um bom cidadão e profissional. Ela faz um chamamento aos educadores para que trabalhem acreditando na pos- sibilidade de formar “[...] pessoas críticas, de raciocínio rápido, com sentido de risco, curiosas, indagadoras”, como diz Freire (2000, p. 100). Para outra supervisora, “a escola tem o papel social de reguladora, transmissora do legado cultural de gerações anteriores e de produtora de novas culturas e novos conhecimentos.” Sente, entretanto, que a sociedade “contemporânea cobra mais, num “lavar as mãos” sobre as responsabili-
  • 8. 220 Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 dades, cobra da escola o papel de educação, formação, organizadora da sociedade e da saúde pública.” Há uma queixa contida no depoimento dessa supervisora que vê uma cobrança descabida sobre as possibilidades da escola, sem um mo- vimento social mais amplo que assuma parte das responsabilidades para com as novas gerações. Mesmo entendendo que a escola tem compromis- so com a cultura e os novos conhecimentos, percebe que a sociedade in- siste em exigir, cada vez mais, ações e responsabilidades dessa instituição, desobrigando outras instâncias de assumir parte do encargo de preparar as novas gerações. Na continuidade do diálogo com as respondentes, ouvimos de ou- tra supervisora uma posição muito similar, na qual afirma: O papel da escola está confuso para todos e até para nós professores. Somos solicitados a fazer o que sabemos (ensinar) e o que não sabemos (ser psicólogo, orientador familiar, levar crianças no médico, e chamar a família a assumir sua responsabilidade, pois ela se isenta [...]). Po- rém, essas “tarefas complementares” têm assumido pre- ponderância, ocupado muito tempo escolar e o ensino acontece no meio delas, mas já não há um espaço muito privilegiado para ele. Para ela, com tantas atribuições, a escola tende a comprometer os resultados de sua tarefa principal: ensinar os conteúdos escolares e histori- camente construídos na relação com a cultura do aluno.7 É possível afirmar que, em geral, há uma compreensão de que a escola tem um compromisso com o processo de aprendizagem do aluno e que, para tanto, precisa canalizar esforços no sentido de qualificar a ação de ensinar. Nesse sentido, Anastasiou (2007) reafirma que ensinar se constitui em um elemento fundamental do ato educativo, em um aspecto impres- cindível da missão da escola. Toma, entretanto, essa expressão num senti- do lato, explicando: O verbo ensinar, do latim insignare, significa marcar com um sinal, que deveria ser de vida, busca e despertar para o conhecimento. Na realidade da sala de aula, pode ocor- rer a compreensão, ou não, do conteúdo pretendido, a adesão, ou não, a formas de pensamento mais evoluí- das, a mobilização, ou não, para outras ações de estudo e aprendizagem. (ANASTASIOU, 2007, p. 18). À intenção de ensinar do professor deve corresponder o propósito de aprender no aluno. Mesmo que ensinar e aprender formem um par inconfundível, é importante reconhecer que se constituem em dois pro- cessos particulares e que somente alcançam o objetivo comum quando
  • 9. 221 O papel da escola: Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 há esforços, tanto de quem ensina quanto de quem aprende. Entretanto, sendo o professor aquele que detém os conhecimentos profissionais para o trato com a educação escolarizada, presume-se que sua mediação seja mais responsável no processo desencadeado. Nesse caso, o papel do pro- fessor confunde-se com o papel da escola, ambos direcionados para metas comuns, referentes ao progresso dos alunos. Mais um depoimento proporcionou elementos de reflexão e análise para o estudo desenvolvido. Argumentou outra supervisora: Num primeiro momento, gostaria de destacar que a es- cola necessita perceber os aspectos da contemporanei- dade. Precisa caracterizar a infância e a juventude deste tempo líquido e fluído. Acompanhar os anseios dos estu- dantes diante do número de informações e dos diferen- tes acessos dos meios de comunicação. Portanto, a es- cola precisa trabalhar com metodologias que propiciem a sistematização dessas informações, articulando saberes necessários aos desafios de seu cotidiano. Transformar essas informações em conhecimento e, cada vez mais oportunizar a expressão de suas diferentes inteligências, desenvolvendo competências. Assim, a escola tem o pa- pel de trabalhar com a inclusão digital e social. Necessi- ta trabalhar com as questões de gênero, de identidade, potencializando uma visão sistêmica de nossa cultura. A escola deve fazer a leitura de mundo junto com seus alu- nos, tecer a realidade a partir de enfoque teórico e práti- co das diferentes disciplinas. Educar é vida e se constrói na complexidade [...] (informação verbal). Essa narrativa traz densas reflexões. Parece conter certo desabafo referente ao desejo de uma escola que responda aos anseios de maior qualidade no seu desempenho. Menciona a questão da cultura como ele- mento de leitura para práticas escolares eficientes. Aponta a importância de que essa condição se concretize nas metodologias e na articulação dos múltiplos saberes que povoam a sala de aula. Aborda o desafio das tec- nologias e as formas recentes de acesso à informação, que não podem estar alijadas das práticas escolares. A reflexão da nossa respondente leva à compreensão da complexidade que a escola precisa dar conta. Morin (1993), entre outros autores, vem ajudando-nos a entender o fenômeno da complexidade e nela a relação entre informação e conhe- cimento. Para ele, o conhecimento é muito mais do que informação; às vezes, seu estágio inicial. O conhecer implica um segundo estágio, pois envolve interagir com as informações, classificando-as, examinando-as e contextualizando-as. Logo depois, exige um terceiro estágio, que se refere à arte de vincular o conhecimento de maneira útil e pertinente, produzindo novas formas de desenvolvimento e bem-estar humano. A consciência e
  • 10. 222 Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 a sabedoria envolvem reflexão, ou seja, a capacidade de produzir novas formas de existência, de humanização. Nas palavras de Morin (1993) observa-se o quanto é importante a es- cola refletir sobre como transformar a informação em conhecimento e este, em médio prazo, em sabedoria para que tenha sentido na vida dos aprendizes. Para tal, é preciso compreender a complexidade das funções da es- cola, articulada à capacidade de seus profissionais em prever ações, inten- cioná-las, produzindo um “conhecimento prudente para uma vida decen- te”, como tão bem orienta Boaventura de Souza Santos (2009, p. 74). Outra colaboradora da pesquisa chamou a atenção para a importância de se olhar a dimensão cultural da escola. Para melhor entender a intenção dessa proposição, encontramos em Arroyo (2010) contribuições que estimu- lam a olhar a escola nessa perspectiva. Lembra o autor que a repolitização da cultura vem desse coletivo cultural de história, de valores, de linguagens pró- prias e não emprestadas. É uma afirmação do direito coletivo de sujeitos cole- tivos e deve contrapor-se à tentativa de acabar com a cultura, um culturecídio.8 Essa discussão precisa fazer parte da pedagogia moderna. Como mostrar, no currículo, a cultura? Como mostrar, no currículo, o direito à cultura? Essas são importantes provocações que, certamente, deverão ter reper- cussões nos espaços de formação de professores, a fim de que, gradativamen- te, criem-se condições para que os referenciais culturais, os próprios grupos culturais e os movimentos sociais estejam presentes no cotidiano das escolas. Outras considerações a respeito do papel da escola vieram de um diretor que acredita que, “[...] na contemporaneidade, a escola passa a ser o espaço de lazer dos alunos e os estudos passam a ser o segundo plano dos alunos. É o ponto de encontro, das curiosidades sobre o mundo.” (in- formação verbal). Se, a primeira vista, essa afirmativa pode parecer despro- positada – pois parece trair a visão conteúdista da escola – num segundo momento, dá-se a essa opinião um valor substancial. Há muito a escola vem ocupando um papel essencial na socialização das crianças e jovens. É nela que eles aprendem a conviver e a respeitar o outro e aprendem sobre as diferenças. Também é nela que as disputas da sociedade mais amplas se materializam, como o preconceito e o individualismo. Mesmo assim, essa é uma função chave da escola e torna-se cada vez mais crucial. A violência e a crescente necessidade de proteção da infância, que se estende pela juventude, fazem da escola um dos poucos ambientes de circulação mais livre para essa geração. Tem razão o diretor depoente ao fazer uma análise do papel da escola, dizendo acreditar que hoje ela é um lugar de encontro,
  • 11. 223 O papel da escola: Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 de entretenimento, de socialização de saberes a respeito do mundo. Os conteúdos curriculares ficam, muitas vezes, invisíveis na valorização relativa dos alunos, mas as práticas de convivência alcançam maior permanência. Gimeno Sacristán (2005) afirma que a escola deveria educar ensinando; porém, não conteúdos mortos, por mais valiosos que pareçam, mas to- dos aqueles que somos capazes de expressar aos alunos como preciosos para viver e entender o mundo. Acredita-se que as escolas foram criadas para isso, portanto, lazer e estudo podem dividir seguramente o espaço da escola, ampliando horizontes e tornando as pessoas aptas a assumir um papel em que acreditam contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Outro depoimento de um diretor explicita que o papel da escola “é contribuir com a transformação da sociedade. [...] Atualmente, a sociedade exerce fortíssima influência, ditando a transformação a partir da mídia e das tecnologias.” (informação verbal). Mesmo assim, a escola e o sistema educativo ainda ocupam papel im- portante. Essa posição no pensamento freireano nos alerta no seguinte sentido: O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade se não for aju- dado a tomar consciência da realidade e da sua própria capacidade para transformar [...]. Ninguém luta contra forças que não entende cuja importância não meça, cujas formas e contornos não discirna; [...] A realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre que é modificável e que ele o pode fazer (FREIRE, 1977, p. 48). Ou seja, o caminho para a transformação inicia com a formação9 do sujeito que lhe permita conhecer a realidade, compreender os fatos e construir uma leitura crítica do mundo. Assim, compreende-se que facultar o acesso ao saber, que de forma contínua se constrói e se acumula histori- camente e oportunizar experiências de recriação desse saber, é uma traje- tória importante para constituir cidadãos politizados, críticos e responsá- veis com o desenvolvimento social, político e econômico da sociedade em que estão inseridos. 7 PENSAR A ESCOLA E PENSAR A SOCIEDADE: CONSIDERAÇÕES O presente texto pretendeu contribuir para a reflexão sobre o pa- pel da escola no mundo10 contemporâneo, possibilitando compreender os desafios enfrentados por essa instituição no contexto atual. Para tal, pro- curou dar visibilidade às narrativas de sujeitos que atuam cotidianamente
  • 12. 224 Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 na gestão de espaços escolares, valorizando suas vozes e visibilizando suas narrativas como sujeitos implicados nesse processo com a educação. Foi possível verificar que a escola pauta seu trabalho num repertório de conhecimentos, costumes e práticas que exigem flexibilidade e ajuste constante, tendo em vista um jogo de tensões existente entre uma cultura escolar marcada por um trabalho fragmentado e uma cultura contempo- rânea dominada pelo excesso de estímulos, flexibilidade e transitoriedade. Ressaltam-se, no próprio discurso dos profissionais entrevistados, a importância e a necessidade de a escola e seus professores reverem suas práticas, assumindo uma responsabilidade social diante de crianças, jovens e adultos que historicamente foram expropriados de seus direitos. No entanto, ainda se percebe a complexidade da missão escolar em tempos de mudança e como essa condição se manifesta nos discursos dos sujeitos da prática. Para exemplificar, ainda não foi possível perceber a importância que os gestores dão à escola como espaço/lugar de formação de saberes dos profissionais envolvidos, ou seja, a escola não se reconhece com autonomia para prover uma formação com mais significado, inves- tindo e instrumentalizando os professores no intuito de qualificar a práti- ca pedagógica. Nesse sentido, Connel (2010) deixa uma lição, afirmando que investir no professor é acreditar que a capacidade produtiva da escola pode ser ampliada. E, definitivamente, isso repercute no mundo todo, em especial na competitividade dos índices de desenvolvimento social e eco- nômico com aumento das taxas positivas na educação. Portanto, considerar a escola11 como objeto de estudo autoriza dar visibilidade à dimensão formativa dos contextos institucionais e às condi- ções de trabalho, abrindo vereda à ressignificação e ao desenvolvimento de estudos a respeito da formação de professores. Pensar a instituição escolar na contemporaneidade é um empreen- dimento difícil, mas necessário. Neste estudo, foram apontados desafios para os quais não se encontram, ainda, respostas concludentes. No entan- to, em uma perspectiva emergente, como nos orienta Sousa Santos (2001, p. 31), “só através de uma criação sistemática, apurada e metódica do pen- samento crítico independente, da cidadania ativa, de uma luta por uma transformação emancipatória paradigmática, se justifica a escola e aí, sim, ela tem toda a legitimidade e deve continuar.”
  • 13. 225 O papel da escola: Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 The paper of the School: interface of theoreticians and pertaining to school actors Abstract The role of the school has provided deep debate amongst education profes- sionals, scholars and researchers. The present article shows the result of a research which happened in a school context, with aims to understand how school actors see the role of the school. The work was based on a set of stu- dies which approach the complexity and ambiguity of functions imposed on the school nowadays. It is a qualitative research, in which semi-structured interviews were carried out with High School supervisors and directors in the state of Rio Grande do Sul and Santa Catarina, with the theoretical support of authors like: Charlot (2008); Souza Santos (2009); Morin (1993); Gimeno Sacristán (1998, 2001, 2005); Anastasiou (2010); Arroyo (2010); Freire (2000, 1977); Pérez Gómez (2001); Canário (2005); Rios (2006) amongst others. School, as a public space, according to the interviewed professionals, has as basic principles the insertion of the subject in society, critical reconstruction of knowledge and the proposition of policies and standards of living. Therefo- re, thinking of the school institution, nowadays, is a tough endeavor, though it is necessary. Keywords: The role of the School, School Actors, Knowledge, Society. Notas explicativas 1 Não há dúvidas de que estamos na presença de uma invenção histórica, contemporânea da dupla revolução industrial e liberal que baliza o início da modernidade e que introduziu, como novidades, o aparecimento de uma instância educativa especializada que separa o aprender do fazer; a criação de uma relação social inédita, a relação pedagógica no quadro da classe, superando a relação dual entre o mestre e o aluno; uma nova forma de socialização(escolar) que progressivamente viria a tornar-se hegemônica. (CANÁRIO, 2005, p. 61). 2 [...] as ciências da educação estudam a questão do homem do triplo ponto de vista da sua hominização (o tornar-se ser humano), da socialização (o tornar-se membro de uma cidade, e mesmo de várias) e da sua personalização (o tornar-se um ser singular). Está em causa um único e mesmo processo, indissociável no seu desenvolvimento. É possível construir objetos de investigação a partir de uma só dimensão [...] podem, também, construir-se objetos de investigação que integram estas três dimensões. (CHARLOT, 2001, p. 165). 3 [...] a escola é uma instituição que, a partir de um conjunto de valores estáveis e intrínsecos, funciona como uma fábrica de cidadãos, desempenhando um papel central na integração so- cial, na perspectiva durkheimiana de prevenir a anomia e preparar para a inserção na divisão social do trabalho. Como instituição, a escola desempenha, do ponto de vista histórico, um papel fundamental de unificação cultural, linguística e política, afirmando-se como um ins- trumento fundamental da construção dos modernos estados-nação. (CANÁRIO, 2005, p. 62). 4 A globalização é um conceito útil para expressar uma condição do mundo na segunda mo- dernidade em que nos encontramos e que consiste em que as partes deste – sejam países, grupos sociais, culturas e atividades das mais diversas – participem de uma grande rede que condiciona cada peça do todo: suas economias, as políticas que possam adotar, as culturas
  • 14. 226 Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 que ficam deslocadas e expostas a “contágios” das demais, a informação que circula, etc. (GIMENO SACRISTÁN, 2007, p. 16). 5 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9.394/96, em seu parágrafo 12, define que os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do sistema de ensino, terão a incumbência de velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente. Essa é uma das funções da escola, além de tantas outras enumeradas na LDB. 6 Para sobrevir como agentes difusores de conhecimento, as instituições educativas precisam entender em que tipo de sociedade vivem, oferecer aos cidadãos possibilidades e capacida- des para participarem dela, incumbências hoje distantes de suas práticas cotidianas, fruto de inveteradas tradições. (GIMENO SACRISTÁN, 2007, p. 45).  7 Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em sala da aula, devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, às suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho a de ensinar, e não a de transferir conhecimento. (FREIRE, 1996, p. 47).  8 Termo cunhado pelo próprio Miguel Arroyo para explicar uma tentativa de acabar com a cultura. 9 O ensino da melhor qualidade é aquele que cria condições para a formação de alguém que sabe ler, escrever e contar. Ler não apenas as cartilhas, mas os sinais do mundo, a cultura de seu tempo. (RIOS, 2006, p. 138).  10 Anunciar mudanças no ensino, ou mesmo exigi-las, não mudará o que acontece na sala de aula e nas escolas se os professores resistem e subvertem estas mudanças. Dado o modelo autoritário de transmissão de conhecimento que tem sido dominante nas escolas ao redor do mundo, os professores irão ensinar de uma maneira mais democrática, centrada no aprendiz se eles tomarem como experiência uma reorientação conceitual fundamental sobre seus pa- péis e sobre a natureza do ensino e da aprendizagem (ZEICHNER, 2002, p. 29).  11 Os debates sobre a escola nos últimos trinta anos têm tido um generalizado, e por vezes difuso, sentimento de insatisfação como pano de fundo, ao qual as múltiplas e repetidas tentativas de mudança voluntarista e em larga escala (reformas) não têm conseguido dar uma resposta pertinente. (CANÁRIO, 2005, p. 59). REFERÊNCIAS ANASTASIOU, L. das G. C. Ensinar, Aprender, Apreender e Processos de Ensinagem. In: ANASTASIOU, L. das G. C. (Org.); ALVES, L. P. Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de traba- lho em aula. 7. ed. Joinville: Ed. da Univille, 2007. ARROYO, Miguel. Culturas e Formação de Professores. In: Jornadas Tran- sandinas de Aprendizagem: Ensinar e Aprender no Mundo Complexo e Intercultural, 13., 2010. Anais... Frederico Westphalen: URI, 2010. BOGDAN, R. Investigação Qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994. CANÁRIO, Rui. O que é a escola? Um “olhar” sociológico. Porto: Porto Editora. 2005.
  • 15. 227 O papel da escola: Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 CANDAU, Vera Maria. (PUC-Rio). Educação em Direitos Humanos: Concep- ções, Estratégias Pedagógicas e Desafios Atuais. (Fala). GT 04 DE DIDÁTICA. Educação em Direitos Humanos e Práticas pedagógicas. Promoção. (Mini- -curso). In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED – Associação Nacional de Pós-gra- duação e Pesquisa em Educação. 33., Caxambu – Minas Gerais, 2010. CARNEIRO, Moaci Alves. LDB Fácil: Leitura crítico-compreensiva artigo a artigo. 17. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. CHARLOT, Bernard. O professor na sociedade contemporânea: um traba- lhador da contradição. Revista da FAEEBA, Educação e Contemporanei- dade, Salvador, v. 17, n. 30, p. 17-31, jul./dez. 2008. CHARLOT, Bernard. Les sciences de I’education em France: une discipli- ne apaisée, une culture commune, um front de recherche incertain. In: HAOFSTETTER, R.; e S CHVNEUWLY, B. (Ed.). Le pari des sciences de I’éducation. Bruxelles: De Boeck Université, 2008. COSTA, Marisa Vorraber. A escola tem futuro? Rio de Janeiro: DP&A, 2003. FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3. ed. atual. Curitiba: Positivo, 2004. FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia. O Cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986a. FREIRE, Paulo. Cartas a Guiné-bissau: registro de uma experiência em processo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. ______. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Ed. da UNESP, 2000. GIMENO SACRISTÁN, J. A educação obrigatória seu sentido educativo e social. Porto Alegre: Artmed, 2001. ______. O aluno como invenção. Porto Alegre: Artmed, 2005. ______. Poderes instáveis em Educação. São Paulo: Artmed, 1998. GIMENO SÁCRISTAN, J.; PÉREZ GÓMEZ, A. Compreender e transformar o ensino. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
  • 16. 228 Eliane de Lourdes Felden, Maria Isabel Cunha Visão Global, Joaçaba, v. 14, n. 2, p. 213-228, jul./dez. 2011 MORIN, Edgar. Tofler e Morin debatem a sociedade pós-industrial. Folha de S. Paulo, São Paulo, World Media, 12 dez. 1993. PÉREZ GÓMEZ A. Os processos de ensino-aprendizagem: análise didática das principais teorias da aprendizagem. In: GIMENO SÁCRISTAN, J.; PÉREZ GÓMEZ, A . Compreender e transformar o ensino. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. ______. A cultura escolar na sociedade neoliberal. Porto Alegre: Artmed, 2001. RIOS, T. A. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor quali- dade. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2006. SANTOS, Boaventura Souza. Para um novo senso comum: a ciência, o di- reito e a política na transição paradigmática. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009. (A Crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência, v. 1). ______. Dilemas do nosso tempo: globalização, multiculturalismo e conhe- cimento. Educação & Realidade, v. 26, n. 1, p. 13-32, jan./jul. 2001. STRECK, Danilo R.; REDIN, Euclides; ZITKOSKI, José (Org.). Dicionário Pau- lo Freire. 2. ed. rev. ampl. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. PÉREZ GÓMEZ. A. I. A Cultura Escolar na Sociedade Neoliberal. Porto Alegre: Artmed, 2001. PIMENTA, S. G. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005. ZEICHNER, K. M. Formando Professores Reflexivos para uma Educação centrada no aprendiz: possibilidades e contradições. In: ESTEBAN, M. T.; ZACCUR, E. (Org.). Professora-pesquisadora: uma práxis em construção. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. Recebido em 26 de julho de 2012 Aceito em 18 de agosto de 2012