O documento discute a importância da seleção sustentável de materiais e componentes para a construção habitacional. Ele apresenta recomendações para avaliar os impactos ambientais, sociais e econômicos dos materiais ao longo de seu ciclo de vida e sugere uma ferramenta para auxiliar projetistas a selecionarem opções de menor impacto.
1. II Congresso Ibero-americano Sobre Habitação Social: ciência e tecnologia:
“Por uma nova abordagem”
O PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE NA SELEÇÃO DE MATERIAIS E COMPONENTES
PARA A HABITAÇÃO
RESUMO:
No setor de projeto e tecnologia da habitação, tem havido uma série de novos debates,
que incluem um questionamento sobre o futuro da construção sob a ótica da sustentabilidade.
Este artigo discute a especificidade de selecionar materiais e componentes, como parte do projeto
de habitações mais sustentáveis.
O tema foi pesquisado para uma dissertação de mestrado, quando foram avaliadas as
implicações ambientais e humanas dos materiais e componentes construtivos, abrangendo
questões relacionadas aos impactos ambientais, sociais e econômicos. A partir da verificação da
diversidade de questões envolvidas, este artigo objetiva traçar algumas recomendações para a
seleção, desde a concepção do estudo e anteprojeto, até a execução da obra. Os resultados
mostram uma discussão sobre este tema pouco explorado. Propõe-se uma ferramenta de auxílio
no processo de seleção de materiais e componentes para a criação de edificações de menor
impacto.
ABSTRACT:
In the sector of project and technology for habitation, there has been a succession of
further discussions, including questions about the future of building from the perspective of
sustainability. This article discusses the specificity of selecting building materials and components
for less impact habitations.
The theme was researched for a dissertation, when environmental and human
implications of building materials and components was evaluated, embracing issues related to
environmental, social and economic impacts. From the verification of the diversity of issues
involved, the complexity and difficulty of evaluating the impacts that building materials and
components can have, this article searches to outline recommendations for a more sustainable
selection of building materials and components. The results show a discussion about the topic. A
tool is proposed to support the selection of building materials and components for the creation of
lower impact buildings.
Promoção: Grupo de Estudos da Habitação – GHab/ARQ e Grupo de Estudos da Habitação em Ambiente Urbano – GEHAU/ECV.
Campus Universitário s/n – Caixa Postal 476 – CEP: 88040-970 – Florianópolis – SC.
www.cthab.ufsc.br
2. II Congresso Ibero-americano Sobre Habitação Social: ciência e tecnologia:
“Por uma nova abordagem”
O PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE NA SELEÇÃO DE MATERIAIS E COMPONENTES
PARA A HABITAÇÃO
Carine Nath de Oliveira, MSc, UFSC. E-mail:carine.nath@gmail.com.
1
Wilson J. da Cunha Silveira , Dr, UFSC. E-mail: wilson@arq.ufsc.br.
1. INTRODUÇÃO
Utilizar materiais e componentes construtivos que abracem preocupações ambientais,
sociais e econômicas, é de fundamental importância para a criação de habitações mais
sustentáveis, em conjunto a muitas outras soluções. Esta preocupação abraça toda uma indústria,
que, hoje, consome de 30% a 50% dos recursos naturais do globo, abrangendo 34% do consumo
de água e 55% do consumo de madeira. Além de gerar 67% da massa total de resíduos sólidos
urbanos (JOHN, 2000; ANAB, 2007).
A complexidade existente em se avaliar todos os impactos existentes em cada
componente de uma edificação, causa dificuldade na hora da seleção dos materiais, parte
inerente do processo de criação de qualquer edificação. Seguindo o pensamento de Yeang
(2006), para uma transformação da forma de planejar edifícios, deve-se administrar energia e
materiais e, em conseqüência, administrar de maneira prudente os recursos naturais. É preciso
que haja maior conhecimento, por parte do projetista, de todas as implicações que suas decisões
podem acarretar sobre o ambiente natural e a saúde dos futuros moradores. Na hora da escolha
em projeto, há uma a diversidade de questões envolvidas e a necessidade de adquirir
conhecimentos em campos diversos e levantar dados que, principalmente no Brasil, são
dispersos. No caso do projeto da HIS, buscar benefícios sociais e econômicos é igualmente
importante, valorar e pesar questões ambientais, sociais e econômicas vem sendo tarefa
complexa no sentido de escolhas mais eficazes. Visto esta constatação, este artigo buscou traçar
recomendações para selecionar materiais e componentes para habitações menos impactantes.
As recomendações também abrangem aspectos relativos ao projeto e uso correto das
propriedades dos materiais e componentes construtivos, pois, segundo John, Oliveira e Agopyan
(2006, p.01), “a sustentabilidade da solução adotada depende da solução ótima em relação a uma
aplicação específica”. O resultado mostra o início de uma ferramenta de seleção para projetistas.
2. MATERIAIS E COMPONENTES CONSTRUTIVOS PARA A HABITAÇÃO E
SUSTENTABILIDADE
Segundo pesquisas do CENSO, no Brasil, há um grande predomínio de construções
habitacionais em alvenaria2 (80%) e madeira (14%). Em habitações de população de baixa renda,
ainda é possível encontrar soluções em palha, taipa e material reaproveitado. Nas soluções de
1
Professor do departamento de Arquitetura e Urbanismo – UFSC.
2
Bloco cerâmico com argamassa e reboco de areia, cal e cimento.
Promoção: Grupo de Estudos da Habitação – GHab/ARQ e Grupo de Estudos da Habitação em Ambiente Urbano – GEHAU/ECV.
Campus Universitário s/n – Caixa Postal 476 – CEP: 88040-970 – Florianópolis – SC.
www.cthab.ufsc.br
3. II Congresso Ibero-americano Sobre Habitação Social: ciência e tecnologia:
“Por uma nova abordagem”
cobertura, a telha cerâmica é predominante (36%), seguida da laje de concreto (17%), telha de
concreto e de cimento amianto (cuja periculosidade já é comprovada) (SIDRA, 2007). O Brasil é
um país grande e construir com um predomínio tão grande de um sistema construtivo parece
incabível considerando as diferentes culturas, climas e demanda de recursos de cada lugar.
A busca por alternativas tem se mostrado um desafio. Segundo Roaf, Fuentes e Thomas
(2006), as edificações deverão se valer da melhor forma das tradições e materiais de cada região.
Este novo regionalismo baseia-se nos materiais construtivos locais e responsabilidade climática,
econômica e cultural, com soluções adequadas tecnologicamente (como é exemplificada na figura
01 do quadro 01). Já Yeang (2006) defende o alto desenvolvimento tecnológico gerando novos
materiais e sistemas prediais que podem tanto diminuir impactos como também podem promover
um aumento de bem-estar humano e incremento no ecossistema local (figura 02, quadro 01). Há,
também, o conceito da pré-fabricação, com projeto ecológico modular com materiais de baixo
impacto e, muitos deles reciclados ou reaproveitados (figura 03, quadro 01).
Figura 01: Habitação auto Figura 02: Chongqintower. Figura 03: Módulo de moradia miniHome
construída com terra e troncos de Proposta de arranha céu criado pelo Sustain Design Studio no
madeira do próprio terreno, numa sustentável do arquiteto Ken Canadá. A casa chega pronta no local; pode
técnica chamada Cob Wood (ou Yeang Arranha céu ser desmontada e transportada; e ainda tem
cordwood). harmonicamente inserido no projeto flexível podendo receber mais
Fonte: GREEN HOME BUILDING, ambiente local, com integração de cômodos com o tempo. Possui telhado
2007. materiais orgânicos e inorgânicos, jardim, coleta de água de chuva, espaço
minimizando impactos negativos, para produção local de alimentos e sistema
mas fazendo uso de alta de tratamento de efluentes.
tecnologia. Fonte: KEN, 2007. Fonte: SUSTAIN DESIGN STUDIO, 2008.
Quadro 01 – Novas alternativas para a construção habitacional.
Difícil afirmar qual dessas soluções estariam próximas ao ideal, até mesmo porque o
ideal não pode ser generalizado, visto a diversidade de situações das populações (diferentes
culturas, climas, capacitação, recursos) e dificuldade em entender suas necessidades agora e
futuramente. Mas entender as implicações ambientais e humanas que os materiais e
componentes podem ter, erradicando os materiais prejudiciais e procurando explorar da melhor
forma os materiais menos impactantes, pode ser o caminho inicial para encontrar soluções.
Promoção: Grupo de Estudos da Habitação – GHab/ARQ e Grupo de Estudos da Habitação em Ambiente Urbano – GEHAU/ECV.
Campus Universitário s/n – Caixa Postal 476 – CEP: 88040-970 – Florianópolis – SC.
www.cthab.ufsc.br
4. II Congresso Ibero-americano Sobre Habitação Social: ciência e tecnologia:
“Por uma nova abordagem”
Dentro deste novo pagadigma, tem havido um fomento na indústria da construção que
vem buscando aprimoramento, novos requisitos para os materiais e componentes construtivos
aparecem, dentro do pensamento da ecoeficiência3: menor consumo de água e energia desde a
produção até o fim do ciclo de vida; controle de emissões e resíduos gerados na produção,
construção e descarte; emprego de materiais naturais, reciclados, locais e saudáveis; utilização
dos recursos biológicos e naturais (terra, sol, vento, plantas); vida útil longa e de baixa
manutenção; entre outras questões.
2.1 Avaliação das implicações ambientais:
As primeiras avaliações de materiais e componentes consideravam apenas a energia
embutida4 (vide tabela 01) destes ou a emissão de CO2 de seu ciclo de vida. Porém, esta
avaliação é muito limitada, sendo preciso considerar uma gama mais ampla de requisitos, como a
qualidade da matéria-prima, outras emissões de efeito estufa ou perigos do fim do ciclo de vida.
Tabela 1 - Comparação do custo energético embutido em materiais de construção
Energia embutida em alguns materiais de
construção
180,0
160,0
140,0
120,0
GJ/ton
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
et
o
ei
ra o
dr
o o do io os
cr
ic
Vi Aç la ín ic
ad râ m ic m st
on c
Al
u á
C M ce re Pl
o io
oc ín
Bl um
Al
Materiais
Fonte: Yeang, 2006. p. 376.
Para John (2000), a melhor forma de se avaliar as cargas ambientais de um material ou
componente construtivo é pela análise total de seu ciclo de vida, desde a retirada da matéria-
prima da natureza, até o descarte, ou reuso, ou reciclagem. Yeang (2006) sugere que os impactos
ambientais sejam avaliados de forma sistêmica, qualificando, quantificando e avaliando-se as
entradas (recursos, energia e água) e saídas (emissões, resíduos, qualidade de produtos e
subprodutos) existentes em todo ciclo de vida dos materiais e componentes construtivos. Ainda
3
Para Silva (2003), a eficiência sustentável nas indústrias é buscar mais valor, poluir menos, ajudar no uso sustentado
dos recursos, e, principalmente responder mais efetivamente às partes interessadas, melhorando a qualidade de vida
presente, sem comprometer as gerações futuras.
4
Energia gasta durante todo o ciclo de vida do produto, da fonte ao descarte final.
Promoção: Grupo de Estudos da Habitação – GHab/ARQ e Grupo de Estudos da Habitação em Ambiente Urbano – GEHAU/ECV.
Campus Universitário s/n – Caixa Postal 476 – CEP: 88040-970 – Florianópolis – SC.
www.cthab.ufsc.br
5. II Congresso Ibero-americano Sobre Habitação Social: ciência e tecnologia:
“Por uma nova abordagem”
entram no processo os impactos do transporte e embalagem de mercadorias, por isso a
necessidade de uma análise mais complexa.
Os dados devem ser, por fim, comparados em uma matriz, gerando uma análise mais
sistêmica das implicações. Já existem algumas metodologias desenvolvidas para comparar
impactos e bancos de dados do ciclo de vida de muitos materiais de construção5 com seus
impactos já calculados e analisados, mas estes métodos ainda utilizam dados internacionais e
generalistas, que podem pouco refletir a realidade brasileira. No Brasil, principalmente com
relação à HIS, é preciso que se considere as questões sócio-econômicas, igualmente.
2.2 Avaliação das implicações sócio-econômicas:
Para John, Oliveira e Agopyan (2006), a inclusão de aspectos sócio-econômicos na
avaliação de materiais de construção é obrigatória visto que a habitação é o bem mais primordial
de todos, o setor é grande gerador de empregos, de impostos e abrange questões como o acesso
à moradia, além das culturas e tradições da arte de construir. Atualmente a indústria da
construção movimenta quase 14% do PIB brasileiro (Produto Interno Bruto).
Os principais tópicos levantados que devem ser considerados com relação às
implicações sócio-econômicas dos materiais e componentes construtivos são:
Formalidade e conformidade técnica: é preciso combater a informalidade e a falta de
qualidade dos materiais construtivos, os problemas relacionados ao déficit habitacional no Brasil,
não se restringem à falta de moradia, mas também inadequação dessa moradia;
Viabilidade econômica: os materiais de construção devem ter preços acessíveis à maioria
da população, o que não é realidade entre aqueles que possuem selos verdes ou são
considerados “sustentáveis”. Materiais e componentes mais acessíveis economicamente também
podem ter um índice muito alto de não-conformidade às normas e falta de qualidade;
Políticas sociais e respeito ao trabalhador: fazem-se necessárias a inserção de princípios
de responsabilidade social como o respeito aos direitos humanos dos trabalhadores, promoção de
políticas que melhorem a sua saúde, segurança e condições de trabalho, além de apoio a grupos
sociais específicos. A indústria da construção pode servir como alavanca econômica e social para
um local ou região;
Transferência tecnológica: para John (2000), as novas técnicas devem ser acessíveis,
efetivas e passíveis de ser reproduzidas. A capacidade de transferência de um sistema construído
é um ponto crucial para se alcançar alguma mudança dos paradigmas atuais.
5
Sugere-se: Eco-Indicator :www.pre.nl/eco-indicator99; TRACI: www.epa.gov/nrmrl/std/sab/traci/; BEES:
www.bfrl.nist.gov/oae/software/bees/; ATHENA™ : www.athenasmi.ca/tools/impactEstimator/index.
Promoção: Grupo de Estudos da Habitação – GHab/ARQ e Grupo de Estudos da Habitação em Ambiente Urbano – GEHAU/ECV.
Campus Universitário s/n – Caixa Postal 476 – CEP: 88040-970 – Florianópolis – SC.
www.cthab.ufsc.br
6. II Congresso Ibero-americano Sobre Habitação Social: ciência e tecnologia:
“Por uma nova abordagem”
3. RECOMENDAÇÕES PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS E COMPONENTES DENTRO
DO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE:
Num primeiro momento, para minimizar o impacto da edificação através da seleção de
materiais e componentes, o que se recomenda é um levantamento dos recursos e mão-de-obra
disponíveis localmente. Isto é fundamental, visto a diminuição de transporte de mercadorias, além
de ser socialmente e economicamente melhor e mais viável. Durante este processo pode-se
verificar a possibilidade de aproveitamento de estruturas ou matéria-prima existentes no local de
implantação; ou de incorporar materiais de demolições da região (sem valor histórico).
A partir dos recursos e materiais pré-selecionados, deve-se buscar as informações
técnicas sobre eles, das opções de construir com o material; especificações de desempenho; e,
tanto quanto possível, avaliar o material baseando-se em critérios de sustentabilidade. Conhecer a
fundo os materiais a serem utilizados na obra é uma das bases para o melhor uso do material na
construção, o conhecimento de suas propriedades físicas e mecânicas é essencial para que seu
uso seja feito da melhor forma, com o devido fim e detalhamento. Para a avaliação ambiental,
uma ampla gama de informações deve ser considerada. Para facilitar o processo de avaliação dos
materiais e componentes sob a ótica da sustentabilidade, são indicadas sete categorias relativas
às implicações ambientais e humanas da construção de edifícios que visam o menor impacto
ambiental e social:
CATEGORIA A: Água – selecionar materiais e componentes que contribuam para o uso
racional de água, ou que não comprometam os recursos hídricos;
CATEGORIA MP: Matéria-prima – selecionar materiais e componentes com matéria-
prima local, natural, com longa vida útil, de fonte certificada, com extração sem impactos,
reciclada ou de reuso, de fonte renovável, sem componentes poluentes;
CATEGORIA EN: Energia – selecionar materiais e componentes que contribuam para o
uso racional de energia, que priorizem o uso de energia de fontes renováveis;
CATEGORIA EM: Emissões – selecionar materiais e componentes que possuam baixa
emissão de gases de efeito estufa, gases tóxicos ou perigosos, principalmente VOC;
CATEGORIA RE: Resíduos – selecionar materiais e componentes cujos resíduos são
atóxicos, sem POP, recicláveis, recuperados pelo fabricante, reutilizáveis ou biodegradáveis;
CATEGORIA T: Transporte – selecionar materiais locais, diminuindo transporte de
mercadorias, ou usar materiais transportados por meios de baixo impacto;
CATEGORIA SE: Aspectos sócio-econômicos – selecionar materiais que possuam
viabilidade econômica; contribuam para um ambiente saudável e seguro; possuam boa
transferência tecnológica, viabilidade de industrialização e comercialização; sejam produzidos com
Promoção: Grupo de Estudos da Habitação – GHab/ARQ e Grupo de Estudos da Habitação em Ambiente Urbano – GEHAU/ECV.
Campus Universitário s/n – Caixa Postal 476 – CEP: 88040-970 – Florianópolis – SC.
www.cthab.ufsc.br
7. II Congresso Ibero-americano Sobre Habitação Social: ciência e tecnologia:
“Por uma nova abordagem”
respeito às condições humanas, com políticas empresariais de ações sociais; e que dão ênfase à
economia local.
O ideal, para uma seleção visando o menor impacto da edificação, é que se busque os
dados quantitativos sobre os impactos dos materiais e componentes, para isso foi desenvolvido
um quadro (2, a seguir), que resume todos estes dados relativos a cada categoria apresentada
acima. Visto que cada edificação está envolvida por uma diferente situação social, econômica e
ambiental, e que a indústria da construção é dispersa e sem padrão de produção no país, este
quadro deverá ser completado, na medida do possível, em cada caso, não sendo possível gerar
um quadro generalista. Muitos dados quantitativos ainda não podem ser lançados, já que
dependem de mais pesquisa de análise de ciclo de vida dos materiais. Os dados mais subjetivos e
que não podem ser quantificados, como são os sociais, deverão receber pesos de importância,
que também variam de acordo com a localidade e a população em foco.
Água Matéria- Energia Emissões Resíduos Transporte Aspectos
prima embutida gerados sócio-
econômicos
Porcentage Disponibilida Energia Quantidade Quantidade de Distância Custo
m de água de de embutida em de CO2 resíduos transportada Importância ou
economizad recursos todo o ciclo embutido em tóxicos ou (em Km). aceitação
a na naturais (se de vida em todo o ciclo perigosos, tais cultural (valor
produção. é alta ou GJ/Kg. de vida como POP ou subjetivo)
baixa). (CO2/Kg). metais
pesados.
Material ou componente e seus impactos
Conteúdo de
substâncias Emissão de Vida útil Conformidade
6
tóxicas ou outros gases adequada do técnica do
perigosas de efeito material (em material (em
(se há ou estufa na anos). porcentagem)
não). produção
Embalagem: Capacitação
(se há ou
se é reciclável, profissional
não).
biodegradável necessária
ou retornável. para seu uso.
Porcentage Porcentage Energia Emissão de Porcentagem Emissões do Transferência
m de água m de fonte embutida poluentes do que pode ser transporte. tecnológica.
economizad reciclada. por metro ar interno reciclado ou
a no uso. quadrado (qualificar e reutilizado.
construído quantificar).
Capacidade
com o
de
material ou
renovação
componente
do recurso Políticas
(GJ/m²).
(em anos) e empresariais
Emissão de Qualidade do
capacidade com ações
óxidos de material com
de sociais (se há
nitrogênio e relação à
biodegradaç ou não).
enxofre. diminuição de
ão
desperdício e
resíduos
(porcentagem).
Quadro 2: Dados quantitativos para cada categoria de impacto dos materiais e componentes para edificações
6
Vida útil adequada é aquela em o material tem não só alta durabilidade, mas durabilidade suficiente para não
sofrer obsolescência tecnológica ou estética.
Promoção: Grupo de Estudos da Habitação – GHab/ARQ e Grupo de Estudos da Habitação em Ambiente Urbano – GEHAU/ECV.
Campus Universitário s/n – Caixa Postal 476 – CEP: 88040-970 – Florianópolis – SC.
www.cthab.ufsc.br
8. II Congresso Ibero-americano Sobre Habitação Social: ciência e tecnologia:
“Por uma nova abordagem”
Na hora da seleção, cada caso será diferente, dependendo de localização, cultura,
modos de produção industrial e diferentes recursos de água, matéria-prima e energia disponíveis.
Os fatores sociais e econômicos também podem ser diferentes, a aceitação do material pela
população é algo relevante, mostrando que não há solução pronta e, sim, a mais adequada
dependendo de uma série de variáveis.
3.1 RECOMENDAÇÕES DE PROJETO:
O correto projeto, detalhamento e a gestão dos materiais na obra também são
imprescindíveis, não bastando somente uma seleção baseada em impactos. A seleção deve
complementar as estratégias traçadas e as soluções encontradas no projeto de arquitetura. A
seleção dos materiais e componentes para construções geralmente fez parte das etapas finais do
projeto, porém muitas soluções arquitetônicas iniciais podem surgir a partir dos materiais, de suas
possibilidades estéticas e tecnológicas. Portanto, a seleção de materiais e o projeto devem estar
em um caminho concomitante. Antes de se iniciar o estudo preliminar, alguns materiais básicos já
devem ser selecionados, que estejam adequados climaticamente, socialmente, economicamente
e, claro, ambientalmente. Com as definições de anteprojeto traçadas, parte-se para o projeto
executivo e detalhamento, quando o uso dos materiais deve ser mais bem explorado, assim como
a interface com os diversos componentes.
Algumas recomendações de projeto, que têm relação direta com a escolha de materiais e
componentes foram traçadas:
a. Projetar com soluções bioclimáticas: de nada adianta escolher um material de baixo
impacto, se seu uso não for aliado a boas estratégias bioclimáticas. As soluções bioclimáticas
também interferem no conforto do usuário, na durabilidade da edificação como na diminuição de
ilhas de calor nas cidades, pela diminuição do uso de ar condicionado e diminuição de absortância
térmica do envoltório construído. Deve-se aproveitar as qualidades inerentes de cada material,
como baixa transmissão térmica (U), por exemplo. O conforto interno do edifício dependerá, além
das soluções arquitetônicas (direcionamento da construção, posicionamento e detalhamento das
aberturas, entre outros), dos materiais utilizados, de sua capacidade de reter ou transferir calor, de
suas propriedades acústicas, até mesmo da emissividade de substâncias, que pode afetar a
qualidade do ar no interior do edifício;
b. Projetar de forma flexível: projetar de forma a prever as futuras reformas e ampliações
e aliar o projeto a seleção de materiais que permitam o desmonte facilitado;
c. Aliar o melhor material para o uso solicitado em projeto: não é válido selecionar um
material de baixo impacto, se, para o que ele está sendo solicitado, ele não for eficiente. O
material selecionado, para seu melhor uso, deve estar muito alinhado com as propriedades físicas
e mecânicas solicitadas;
Promoção: Grupo de Estudos da Habitação – GHab/ARQ e Grupo de Estudos da Habitação em Ambiente Urbano – GEHAU/ECV.
Campus Universitário s/n – Caixa Postal 476 – CEP: 88040-970 – Florianópolis – SC.
www.cthab.ufsc.br
9. II Congresso Ibero-americano Sobre Habitação Social: ciência e tecnologia:
“Por uma nova abordagem”
d. Projetar de forma a multiplicar os usos dos componentes e sistemas construtivos: aliar
usos a um componente, por exemplo: vedação vertical na qual pode ser acoplado o uso de
armário; vedação vertical e horizontal em um só sistema, como no caso de aproveitamento da
inclinação de um telhado para inserção de mezanino. Quando se multiplica o uso de um
componente construtivo está se diminuindo de forma considerável o Input de materiais e,
consequentemente o gasto energético, a geração de resíduos, entre outros impactos;
e. Projetar de forma a facilitar e diminuir a manutenção e substituição de peças: um
exemplo de alternativa de projeto que diminui a manutenção são os beirais largos que protegem
componentes construtivos evitando que intempéries provoquem seu desgaste. Com relação à
diminuição da substituição das peças, o que pode ser feito é: projetar de forma a evitar a
obsolescência estética e tecnológica; usar artifícios para facilitar a substituição das peças, como
no caso de projetos de elementos encaixados e modulados, diminui a quantidade de material e
energia utilizados para fazer a manutenção, assim como a quantidade de lixo e entulho gerado;
f. Projetar de forma padronizada e racional: com o material já escolhido, pode-se
readaptar o projeto modulando-o de acordo com as dimensões do material. Criando-se
coordenação dimensional e modular, para facilitar o processo repetitivo, diminui-se a quantidade
de lixo, calcula-se de forma mais precisa a quantidade de material e gera-se aperfeiçoamento
contínuo do processo e da qualidade final das obras;
g. Projetar com bom detalhamento: facilita o alcance dos objetivos, já que melhora o
entendimento da obra pela mão-de-obra que faz uso dos materiais em sua melhor forma.
3.2 RECOMENDAÇÕES PARA A OBRA:
Os materiais e componentes também devem passar por cuidados na obra, com
implantação de sistemas de gestão de obra e limpeza e organização no canteiro, para diminuir
desperdícios e impactos. Algumas diretrizes precisam estar conjuntas à seleção de materiais e
componentes:
a. Uso racional de água na obra, com uso de água de chuva ou seleção de dispositivos
economizadores nas torneiras da obra; evitar vazamentos e desperdício;
b. Uso racional de materiais, com correto cálculo quantitativo e eliminação de
desperdício. Os materiais na obra devem ser corretamente armazenados e utilizados, com
construção de baias e com correto empilhamento, para evitar desperdício, ou que quebrem,
apodreçam ou estraguem;
c. Uso racional de energia, evitando seu desperdício nas tarefas cotidianas, utilizando
equipamentos em bom estado e de com boa eficiência energética;
d. Separação dos resíduos, pelo uso de compartimentos separados para materiais que
podem ser coletados e enviados para reciclagem.
Promoção: Grupo de Estudos da Habitação – GHab/ARQ e Grupo de Estudos da Habitação em Ambiente Urbano – GEHAU/ECV.
Campus Universitário s/n – Caixa Postal 476 – CEP: 88040-970 – Florianópolis – SC.
www.cthab.ufsc.br
10. II Congresso Ibero-americano Sobre Habitação Social: ciência e tecnologia:
“Por uma nova abordagem”
4. DISCUSSÃO
A seleção de materiais e componentes para habitação mais sustentável é algo complexo
e que envolve conhecimento especializado sobre todas as fases do ciclo de vida das edificações:
desde considerações sobre a matéria-prima e modo de produção; até o modo de projetar fazendo
o melhor uso; a forma de construir com menor impacto e desperdício; e futuro desmonte ou
reciclagem. O processo de projeto da habitação deverá passar por mudanças, que passe a
considerar melhor todos os impactos correlacionados, mas cada caso deverá ser pensado e
avaliado separadamente, necessitando, cada vez mais, a especialização e multidisciplinaridade
dos profissionais.
Pela falta de conhecimento geral, as construções habitacionais têm sido construídas com
materiais convencionais, de forma pouco criativa e personalizada, que podem gerar grande
impacto ambiental e social futuramente. O uso consagrado da “casa de material” gera uma cultura
construtiva que está leva a uma total falta de conhecimento de outras possibilidades construtivas.
Novas alternativas devem ser pensadas, porém a complexidade de se avaliar os impactos é um
grande entrave, o que mostra a necessidade de maior pesquisa e desenvolvimento tecnológico
neste campo.
As futuras soluções construtivas para a habitação terão um grande desafio. O uso de
materiais não convencionais ou de soluções “alternativas”, quando são feitas in loco, em regime
de mutirão ou autoconstrução, podem ter baixa aceitação pela população, dificuldade em se ter
padronização da técnica e dificuldade de execução pela mão-de-obra, necessitando maior
qualificação. Quando são industrializadas, as soluções são materiais ditos “ecológicos” que, pelo
grande apelo comercial, possuem custo muito alto ficando inviáveis para a população de baixa
renda. Além disso, com a inexistência de uma rotulagem ambiental brasileira, este tipo de
marketing pode ser, muitas vezes, enganoso.
Tanto o processo projetual, como a indústria da construção devem ainda passar por
transformações, voltando seu modo de produção para tecnologias mais limpas, para os ciclos
fechados, o desmonte, o reaproveitamento e a reciclagem de peças, para a releitura de técnicas
vernaculares consagradas e tecnologias eficientes ambientalmente.
REFERÊNCIAS
ANAB. Arquitetura Bioecológica: construções inteligentes, modernas e viáveis para o país.
Disponível em: www.anabbrasil.org. Acesso em: 28 dez. 2007.
GREEN HOME BUILDING. CordWood. Disponível em:
http://www.greenhomebuilding.com/cordwood.html. Acesso em: 28 out. 2007.
Promoção: Grupo de Estudos da Habitação – GHab/ARQ e Grupo de Estudos da Habitação em Ambiente Urbano – GEHAU/ECV.
Campus Universitário s/n – Caixa Postal 476 – CEP: 88040-970 – Florianópolis – SC.
www.cthab.ufsc.br
11. II Congresso Ibero-americano Sobre Habitação Social: ciência e tecnologia:
“Por uma nova abordagem”
JOHN, Vanderley M. Reciclagem de Resíduos na Construção Civil: Contribuição à metodologia de
pesquisa e desenvolvimento. 2000. 113 f. Tese (Doutorado) - Departamento de Engenharia de
Construção Civil, Usp, São Paulo, 2000.
_____________; OLIVEIRA, Daniel Pinho de; AGOPYAN, Vahan. Critérios de sustentabilidade
para seleção de materiais e componentes: uma perspectiva de países em desenvolvimento.
Puc, 2006. Disponível em:
http://pcc2540.pcc.usp.br/Material%202006/VMJOHN_AGOPYAN_OLIVEIRA_05_v4_TRADU__O
.pdf. Acesso em: 10 nov 2007.
KEN Yeang: Exploring His Vision. CNN, Hong Kong. 20 jul. 2007. Disponível em:
<http://www.cnn.com/2007/TECH/science/07/18/yeang.vision/>. Acesso em: 20 nov. 2007.
KRONKA, Roberta C. Arquitetura de Baixo Impacto Humano e Ambiental. São Paulo, 2003.
Tese (Doutorado) – USP.
ROAF, Sue; FUENTES, Manuel; THOMAS, Stephanie. Ecohouse: A Casa Ambientalmente
Sustentável. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. 408 p.
SIDRA. Censo Demográfico 2000. Disponível em: www.sidra.ibge.gov.br. Acesso em: 20 nov
2007.
SILVA, Vanessa G. Avaliação da sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros: diretrizes e base
metodológica. São Paulo, 2003. Tese (Doutorado). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
SUSTAIN DESIGN STUDIO (Canadá). MiniHome. Disponível em: <www.sustain.ca/specs>.
Acesso em: 21 jan. 2008.
YEANG, Ken. Ecodesign: a manual for ecological design. Londres: Willey Academy, 2006.
Promoção: Grupo de Estudos da Habitação – GHab/ARQ e Grupo de Estudos da Habitação em Ambiente Urbano – GEHAU/ECV.
Campus Universitário s/n – Caixa Postal 476 – CEP: 88040-970 – Florianópolis – SC.
www.cthab.ufsc.br