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ESTUDO DAS FONTES SALESIANAS

Uma leitura histórico-crítica



Introdução

Fonte não pode ser algo que encerra um conteúdo positivo ou negativo ou uma realidade onde
posso abeberar-me, enriquecer-me de conhecimentos, experiências e mensagens de quem viveu
antes de mim. Significa ainda: princípio, causa, testo original de uma obra. Fonte é ainda tudo o
que deu origem, que forma o arcabouço, o patrimônio científico, pedagógico, espiritual de uma
Instituição.

Neste aspecto, ao estudarmos as fontes da Congregação salesiana colocamos em primeiro plano
o fundador da Sociedade, Dom Bosco, com sua vida e seus escritos.Nosso trabalho apresentará
genérica e não exclusivamente as seguintes fontes que formam hoje o patrimônio pedagógico-
espiritual dos Salesianos:

                1. A vida do fundador.

                2. Sua produção escrita.

                3. O patrono da Sociedade: São Francisco de Sales “pastor zeloso e doutor da
                   caridade”.1

                4. Suas Memórias Biográficas.

                5. Os Arquivos, como o Arquivo Central da Casa Geral de Roma, onde se
                   encontram milhões de documentos, recolhidos em todo o mundo sobre a
                   Sociedade Salesiana.

                6. Os salesianos passados e presentes que construíram ou constroem uma memória e
                   uma tradição, à medida que os tempos vão se sucedendo.

                7. Os Monumentos referentes ao fundador ou à história da Fundação.



       1. DOM BOSCO (1815-1888)

Entre as diversas e multiformes fontes, que nos oferecem abundantes e ricos conhecimentos
sobre a história primitiva ou atual da Congregação dos Salesianos/as estão sem dúvida os fatos
ocorridos com o próprio D. Bosco, durante seus setenta e três anos de existência. Por ser um
marco fundamental de sua vida e sua obra falaremos desde logo de três episódios fundamentais
1
    Const. 9.


                                                  1
para o entendimento da vida espiritual e apostólica de Dom Bosco, o sonho dos “nove anos”, o
encontro com Bartolomeu Garelli e a Carta de Roma.



1.1 O sonho dos nove anos2

Na biografia de João Melchior Bosco narram-se uma série de sonhos. O primeiro destes
fenômenos aconteceu quando ele era ainda uma criança. Tinha nove anos e se encontra em meio
a diversos meninos que riam e blasfemavam. Ouvindo as blasfêmias ele parte para a luta corporal
com eles, tentando fazer com que se calassem. Naquele momento aparece um homem bem
vestido e de rosto resplandecente, que ao observar a pancadaria, aproxima-se de Bosco e lhe diz
que não era com pancadas, mas com mansidão e carinho que ele conseguiria conquistar aqueles
jovens para seus amigos.

Há discussões se estes acontecimentos seriam realmente sonhos ou visões. Dom Bosco mesmo
não nos deixou muito clara a idéia de ter compreendido plenamente o valor daqueles eventos.
Não obstante, aquele sonho ficou profundamente gravado em sua mente, durante toda a sua vida.

Não pode deixar de dar-lhes atenção, sobretudo porque em certas ocasiões funcionaram como
premonição chamando atenção sobre a morte próxima de algum aluno ou salesiano.

O carinho, a caridade e a mansidão apresentados pelo homem venerando e de aspecto varonil,
personagem do sonho dos nove anos foi aceito por D. Bosco como um dos tripés da práxis
pedagógica, de seu Sistema Preventivo.

A Senhora majestosa e resplandecente que juntamente com a figura masculina apareceu naquele
sonho-visão tornou-se a conselheira diuturna, a Mãe e Mestra da obra bosquiana em favor dos
jovens. Ela “indicou a Dom Bosco seu campo de ação entre os jovens e constantemente o guiou e
sustentou3, sobretudo na fundação da nossa Sociedade.4


1.2 Bartolomeu Garelli, o Oratório e a Congregação Salesiana

Outro marco indelével e fundamental de sua vida apostólica está no encontro com o jovem
camponês analfabeto, Bartolomeu Garelli. O diálogo aconteceu na sacristia da Igreja de São
Francisco de Sales em Turim, aos oito de dezembro de 1841. Celebrava-se então a festa da
Imaculada Conceição. Naquela data e naquela sacristia nascia o primeiro Oratório Salesiano,
hoje difundido por todo o mundo pelos filhos do amigo dos jovens.

2
  Vide ANEXO II
3
  Const. 8.
4
  Idem.


                                              2
Após a Missa, D. Bosco realizou a primeira reunião de sua futura Sociedade religiosa. Começou
com uma Ave Maria e um jovem que aos 16 anos não sabia ainda fazer o sinal da Cruz.5
Os salesianos consideram o encontro com Garelli como o início da Sociedade. Ali plantava a
pedra fundamental da Congregação dos jovens. Com uma prece à Auxiliadora o santo piemontês
dava início ao «movimento de pessoas que de vários modos trabalhariam para a salvação da
juventude».6
Uma sacristia tornava-se o símbolo da pesca milagrosa das águas da Galiléia. Dois Mestres, o de
Simão e o de Bartolomeu (Garelli). Ambos precisariam de colaboradores. Assim o foi no
episódio das águas do Tiberíades, assim seria na sacristia turinesa, imagem e início do mar
bosquiano.
O Oratório, lugar catequético de D. Bosco, instrumento de salvação da juventude, continua sendo
um abrigo para todos aqueles que hoje, como em 1841, vivem nas ruas, praças, botecos, pontes,
canteiros de obras ou em cárceres.7 É ainda a casa que acolhe, o refúgio daqueles que procuram
uma «sacristia», onde deverão encontrar um padre amigo e não um sacristão violento e mal
humorado.
O Oratório salesiano consolida-se em 1842, acolhendo inicialmente só os jovens mais perigosos,
especialmente os saídos das prisões. Embora existissem entre eles também rapazes de boa
conduta e instruídos. Os trabalhos eu executavam consistia em ajudar na disciplina e na
moralidade, nas leituras e cânticos das funções litúrgicas.8 Chamavam-se os “maestrini”,
pequenos mestres e deveriam mais tarde, integrar o «grupo de estudantes» de onde surgiriam
colaboradores mais preparados. À medida que os freqüentadores do Oratório iam crescendo,
fazia-se necessário criar um corpo de normas administrativas e disciplinares, a fim de que o
grupo não fosse um aglomerado sem ordem, indisciplinado. D. Bosco começou assim a preparar
um Regulamento para aqueles jovens. Consultou diversos outros Regulamentos de Oratórios
como As Regras do Oratório de S. Luís, de Milão e As Regras para os Filhos do Oratório.

5
  João Bosco, Memórias do Oratório:1815-1855, São Paulo, Editora Salesiana, 1982, p. 18ss.
6
  Const. 1 e 5.
7
   As Memórias Biográficas falam das “pescas” de D. Bosco a esses lugares, onde sabia que iria encontrar jovens,
famintos e abandonados. MB XVIII, p, 258. Const. 1.
f
  Alguns Oratórios da época:
Oratório do Anjo da Guarda, fundado em Turim, pelo P. João Cocchi (1813-1895)
O famoso Oratório de Valdocco ou S. Francisco de Sales (ou ainda D. Bosco)
Fundado em 1847, encontramos no Bairro de Porta Nova, O. de S. Luiz Gonzaga.
Ainda em Turim, em 1851, P. Cocchi abre O. de S. Martinho, no bairro de Porta Palazzo. Este Oratório estava a 50
metros do O. de S. Francisco de Sales. P. Cocchi, apadrinhado pela Marquesa Barolo, não se afinava muito com D.
Bosco que jamais quis saber de suas idéias políticas. A insistência de Cocchi em formar uma sociedade com D.
Bosco também não era aceita por este. O local escolhido para a fundação do S. Martinho poderia ser uma
provocação, uma prova de força do grupo de Cocchi. São coisas de nossa Igreja também formada por homens. Deus
deve rir muito de nossas bobagens…
Em Brescia havia o Oratório do Pe. Ludovico Pavoni (1774-1849)
Algumas cidades francesas, como Marselha apresentavam os Oratórios fundados pelo sacerdote Jean-Joseph
Allemand (1772-1836), chamado também “l`apôtre de la jeunesse”.
Os Oratório de Milão. Por130 km de Turim, volta de 1850 eram 15, alguns com mais de um século de fundados
(Cf. Pietro STELLA. Storia della Religiosità Catolica , pg., 106, nota 15).
zendo de tudo, menos coisas louváveis. Lembram-nos ainda aquelas fontes as astúcias, perigos e perseguições de
que várias vezes foi alvo pelo fato de ser amigo dos jovens (Cf. MB III,
52ss e 392ss).
8
  Os primeiros Oratorianos em geral eram escultores, pedreiros, assentadores de ladrilhos, estucadores. Trabalhavam
nas obras de Turim. A partir de 1842, o setor construção começou a apresentar grande surto na cidade.


                                                        3
Um dos cuidados principais era deixar claro o objetivo de seu trabalho educativo com a
juventude.9 Tratava-se do início da sistematização do organismo que iria ser a sua Congregação,
uma “Sociedade que não nasceu de simples projeto humano, mas por iniciativa de Deus”.10

1.3 A Carta de Roma11 (10 de maio de 1884)12

Estamos na Primavera de 1884. Dom Bosco está em Roma preocupado com diversos problemas:
    • A construção da Igreja do Sagrado Coração (próxima à grande Estação Termini) exige
      grandes somas que ele tem que conseguir através de pedidos e doações;
    • O pensamento de conseguir um Estatuto jurídico para sua Congregação não lhe sai da
      mente.
    • Uma de suas grandes preocupações era também o desejo de estabilizar e dar unidade às
      sua obras e concretizar o estilo de educação, próprio de seu sistema preventivo.
    • Todas estas dificuldade parecem aumentar, e ele o sabe e sente, face ao crescente estado
      de debilidade de sua saúde.

É nesta atmosfera que vem a lume a Carta de Roma escrita aos jovens e educadores de
Valdocco, a quem ele chama de Caríssimos filhos em Jesus Cristo.
Figuras de proa da Congregação, como Don Álbera e Pietro Stella referiram-se a este documento
afirmando que é “o comentário mais autêntico do Sistema Preventivo” (Dom Álbera); e P. Stella
escreveu que “o seu conteúdo é de se considerar como um dos mais ricos documentos
pedagógicos de Dom Bosco”.
Ao refletirmos sobre o hino da caridade, composto por S. Paulo13 e a Carta de Roma, creio que
não estaremos equivocados se dissermos como Gianni Ghiglione que Dom Bosco fez quase um
comentário perfeitamente educativo ao hino de S. Paulo. Para Aubry a Carta é como um
testamento. Deve ser encarado com seriedade, pois o que um testamento pede deve ser cumprido.
Pe. Bartolomeu Fascie, quando Conselheiro escolástico, em uma apresentação sobre o texto
escrevia:

                «O senhor nos dê a graça de lê-la com filial e devota atenção para extrair dela aquele fruto de
                verdadeira caridade que é alma e vida do Sistema preventivo».14

        1.3.1 O sentimento de paternidade na Carta de Roma

     Amar e ser amado são dos sentimentos mais nobres do coração do homem: materializados na
     paternidade e na filiação. Não faz muito houve quem tentasse eliminar estas características
     existentes entre filiação e paternidade.
     Freud anunciou “a morte do pai”, procurando anular desautorizar a autoridade:
         • O pai cultural>os professores;
         • O pai político> a coronelança, triste fenômeno ainda hoje encontradiço no Brasil;
         • O pai capitalista> os patrões;
9
  MB III, 86 - 92.
10
   Const. 1
11
   Vide ANEXO I.
12
   Este comentário baseia-se em Don Gianni GHIGLIONE, Lettera da Roma 10 maggio 1884.
13
   1 Cor, 13.
14
   Cf. G. GHIGLIONE, Lettera da Roma..., p. 4.


                                                      4
•    O pai biológico> os genitores;
           •    O pai religioso> os padres;
           •    O Pai de todos os pais>Deus.

A missiva de Dom Bosco trata de um tema que hoje se tenta renovar, reconquistar. E também
neste ponto está sua atualidade. Os nossos tempos procuram redescobrir a figura paterna, sente-
se a necessidade de sua presença, da figura paterna. Muito embora tantos genitores vivam
separados, ou por motivos vários (emprego, viagens de negócio etc.) se encontrem com os filhos
apenas nos finais de semana; não obstante, o pai de nossos dias não é mais visto como alguém a
ser removido do caminho dos filhos e sim uma figura necessário para a formação e educação da
prole. Alguém vizinho ao filho em quem ele confie, imite, tenha como um ídolo.
Não se pode negar que uma das características da personalidade de Dom Bosco era precisamente
a paternidade. Pode-se afirmar que era uma de suas originalidades. Parece até que a perda do pai
aos dois anos veio reforçar este sentimento, tão explícito e notório que a Igreja o chama de Pai e
Mestre dos jovens. Sua bondade paterna não pode ser separada de seu estilo educativo.
O educador dos jovens de Turim soube ser para eles um pai bondoso, terno e ao mesmo tempo
firme. Corrigia-os amando-os com um ilimitado sentido de responsabilidade e dedicação. Não se
cansava de estar com eles, não reclamava. Estava sempre alegre mesmo quando sua enorme
resistência ao trabalho, encontrava-se combalida pela enfermidade. Somente se ausentou
fisicamente dos seus jovens quando por eles deu seu último suspiro. Amou-os até o fim,
seguindo o exemplo do mártir do Gólgota de quem foi perfeito imitador. Basta que sejais jovens
para que eu vos ame.

1.3.2 Chamai-me sempre pai e eu serei feliz

Toda paternidade no céu e na terra vem do Pai.15
A vida de Dom Bosco e sua Carta romana mostram uma sensibilidade que não é simplesmente
uma característica da bondade humana. Sua maneira de ser e agir era fruto do convencimento de
que só através do amor paterno aos jovens ele poderia conquistá-los para o verdadeiro Pai, fonte
de toda paternidade no céu e na terra.
Vejamos o que nos diz o Padre Aubry que intuiu no educador de Valdocco duas paternidades:

                             «Dom Bosco me aparece assim: um padre educador, cujo coração se anima dos
                             sentimentos e das dedicações de um verdadeiro pai de família da terra; mas também dos
                             mesmos sentimentos de Deus Pai. Estamos aqui em um dos pontos mais claros da figura
                             também espiritual de Dom Bosco, talvez ao centro de sua santidade pessoal como
                             também de seu êxito educativo. Nele vida espiritual e método educativo fazem parte de
                             um só e mesmo movimento do coração e da vida. Se esta paternidade ativa é autêntica e
                             plena, só imitando e prolongando a paternidade infinita de Deus, exige que o educador se
                             mantenha em contacto com aquele Pai supremo, que conheça os costumes do seu coração
                             infinitamente paterno e deixe o Coração divino difundir alguma coisa deste amor no seu
                             coração para fazê-lo extravasar os limites. Verdadeiramente não se é pai se não com Deus
                             e como Ele. Exercitar a autêntica paternidade é, portanto unir-se a Deus, é cumprir o seu
                             dever providencial e ao mesmo tempo empenhar-se na vida da santidade».16



15
     Cf. Ef. 3, 15.
16
     Cf. G. GHIGLIONI, op. cit. pp. 7, 8.


                                                           5
A mensagem que Dom Bosco parece querer passar à Igreja e a todos os educadores que exercem
qualquer tipo de paternidade material ou espiritual é que sua riqueza e grandeza devem estar
próximas a Deus. Ambas devem conduzir a Ele. Para G. Ghiglione, o fundador dos Salesianos
assume as duas expressões do Evangelho de João: como o Pai me amou, assim eu também vos
amo (Jo. 15, 9); e como o Pai me enviou eu também vos envio (Jo. 20, 21).
A paternidade vivida por nosso Santo fundador foi a execução prática da paternidade invisível de
Deus Pai. Ele a traduziu no mundo para felicidade de muitos, especialmente dos jovens.Não
compreenderá verdadeiramente Dom Bosco quem não conseguir vê-lo como um pai no meio de
seus filhos.

Podemos observar na Carta de Roma algumas características do amor de Dom Bosco que são as
mesmas do amor do Pai.

1.3.3 Um amor que não espera, mas tem a iniciativa, é preventivo

São João nos avisa que foi Deus quem nos amor por primeiro e não nós e S. Paulo reforça a
afirmação, dizendo que este fato aconteceu antes mesmo da criação do mundo(Ef. 1, 4).
As parábolas da ovelha perdida, do pai que sai de casa para abraçar o filho que retorna da miséria
são entre outras, provas de que Deus na maioria dos casos é quem dá o primeiro passo.
Dom Bosco nos ensina que o amor deve ser preventivo. São sua palavras:

                             «Não esperai que os jovens venham a vós. Ide a eles, daí o primeiro passo. E para serem
                             acolhidos, descei da vossa altura. Colocai-vos no seu nível, do lado deles».

É certamente com tristeza que o santo da juventude relembra, nos tempos de menino e mais tarde
no Seminário de Chieri, fatos acontecidos com alguns reverendos.

                             «Quantas vezes quis falar, pedir-lhes conselhos ou soluções de dúvidas e não podia.
                             Antes, acontecendo que algum superior passasse no meio dos seminaristas, sem saber a
                             razão, cada um fugia precipitadamente para a direita e para a esquerda... Aquilo
                             inflamava sempre mais meu coração para ser logo padre para entreter-me no meio dos
                             jovenzinhos, para atendê-los, para ouvi-los em cada necessidade».

1.3.4 Um amor que se aproxima das pessoas

A vida de Jesus Cristo nos mostra como Ele se fazia próximo, às pessoas, de modo especial
daquelas mais carentes, sofridas, abandonadas. Para o Filho de Deus não há diferenças, nem
distâncias, Ele veio para todos, é o bom Samaritano universal. Ide ao mundo e conquistai-o pelo
amor, ajudando-o, servindo-o. É o que Jesus nos pede, o amor ao próximo é a nossa alforria.
É o que o apóstolo dos jovens fez e nos pede que façamos: aproximar-nos deles, acolhê-los sem
prejulgamentos. Não nos escandalizarmos com seu modo de encarar a vida, com suas limitações
ou falhas, mas desculpá-los17. Assim eles serão conquistados pelo coração, pois educação é coisa
do coração. Amai as coisas que os jovens amam, estejais sempre no meio deles.
Quantos jovens, nós educadores não encontramos em nossa vida e que nos deram a oportunidade
de vivermos com eles esta experiência de nosso fundador. Um deles me dizia: “muito obrigado,
pelo que me disse, não tenho fé, mas reze ao seu Deus por mim. Gostei do senhor”.

17
     Diante da horta arruinada o filho dizia a Mamãe Margarida: “são jovens”.


                                                           6
1.3.5 Um amor personalizado

   Na parábola do Bom Pastor cada ovelha é conhecida pessoalmente pelo seu dono. O bom pastor
   conhece suas ovelhas... as chama pelo nome e elas o seguem, porque conhecem sua voz. Como é
   bonito e como seria maravilhoso se em todos os redis acontecesse essa afirmação do Senhor.
   Contudo, é assim que o Pai celeste age, conhecendo e amando cada uma de suas criaturas
   pessoalmente e pedindo que façamos o mesmo. Chega mesmo a contar os fios de nossos cabelos,
   a saber quantas são as estrelas e o nome de cada uma.
   O amor, sob esta característica é a constância na vida de Jesus, a todos acolheu e ajudou, como o
   sol e a chuva descem também sobre todos.
   O fundador do Oratório de Valdocco conhecia e amava cada um de seus jovens. E eles sabiam e
   gostavam dessa atitude e a retribuíam. Desta maneira educador e educandos realizaram naquele
   bairro de Turim o milagre educativo de transformação de muitos jovens do perfil daqueles do
   Sonho dos nove anos.

   1.3.6 A prática de um amor positivo

   Olhando novamente para o Senhor Jesus, a Fonte de todas as fontes, notamos como ele acredita
   nas pessoas que encontra em seu caminho. Foi assim com os pescadores de Tiberíades, com o
   baixinho e tímido Zaqueo, com a escorregadia Samaritana e tantos outros.
   Cristo confiou nos pequenos, nos simples, nos pobres, porque sabia que eles não fariam objeções
   ao Reino dos Céus; eles seriam os donos daquele Reino.
   O otimismo bosquiano baseia-se nessa fé. Ele sabia e acreditava quer cada um tem um ponto
   positivo, acessível ao bem. Seu mestre S. Francisco de Sales também pensava o mesmo: cada um
   tem pelo menos uma zona positiva dentro de si. O educador, o pastor tem que encontrá-la.
   Dom Bosco era um ingênuo? Ele sabia que tanto o bem como o mal agem no mundo. Não era
   adepto de Rousseau, muito pelo contrário. Sua inabalável confiança em transformar pela
   educação fundava-se em três fontes poderosas que fortificam e conduzem o jovem à casa do Pai.
   Estas riquezas são: a Palavra, a Reconciliação e a Eucaristia. Toda sua vida foi uma contínua
   dedicação à Catequese, à Penitência e ao Sacerdócio. Como se transformava e se sentia feliz,
   como vivia sua paternidade espiritual, quando distribuía o Pão da Vida aos seus meninos. E não
   se cansava de dizer-lhes: meus filhos, todos juntos caminhamos em direção a Deus.

   1.3.7 Uma mensagem para o mundo

   Dom Bosco envia de Roma uma preciosa mensagem a todos os homens e mulheres de boa
   vontade ou não. Ele nos recorda que não há nada mais sublime do que ser pai ou mãe, filho ou
   filha. Duas atitudes devem acompanhar toda a vida de um vocacionado, de quem foi chamado
   para viver eternamente nas mansões celestes, na Casa eterna do Pai comum: a primeira é a de
   viver como filho para com Deus Pai e segunda, a de cultivar uma postura de pai bondoso e
   compreensivo diante dos filhos ou destinatários que forem confiados a cada um.

2. A produção escrita de Dom Bosco

   2.1 “Um grande educador, cujos escritos são procurados em vão”



                                                  7
Em 1926 um jornal italiano publicou uma declaração sobre os escritos de D. Bosco que muito
    incomodou os estudiosos de sua obra, de modo especial os salesianos. A afirmação era de
    Giovanni Gentile, que reconhecia o valor do educador turinês, mas ao mesmo tempo falava da
    impossibilidade de se encontrar suas obras: “grande educador, mas (um) autor do qual seus
    escritos são procurados em vão”.18 A afirmação de Gentile, era no entanto, uma convicção para
    muitos admiradores e pessoas que estudavam os acontecimentos dos anos oitocentos na Itália.
    O ISS (Istituto Storico Salesiano)19 apresenta seis momentos da história da publicação das obras
    de D. Bosco.

    2.2 Setembro de 1898: VIII Capítulo Geral

    Na sessão vespertina foram discutidos 16 artigos com propostas apresentadas pelos sócios, cujo
    tema era: “sente-se cada vez mais a necessidade e o dever que o espírito de D. Bosco se conserve
    intacto e em todos os lugares entre nós seus filhos. Que propostas nos pareceriam mais propícias
    para nos levar a este fim, tão santo e de capital importância para nossa Pia Sociedade”?
    O art. 12 teve a formulação seguinte: “faça-se uma edição completa de todas as obras de D.
    Bosco: destas haja uma biblioteca circulante em cada casa e se incentive a leitura aos irmãos”.
    Ao final da discussão suprimiram-se o artigo 12 e o 15. Possivelmente pelas dificuldades que
    teriam que ser enfrentadas na prática dos mesmos.

    2.3 Dezembro de 1914: Capítulo Superior

    Lê-se nos verbais do mês de Dezembro: “o Secretário encarrega-se de preparar um elenco de
    todas as escritos de D. Bosco e se pede ao senhor Pe. Cerruti que prepare uma edição de todas as
    obras de D. Bosco, também para dar trabalho à Tipografia do Oratório que não o tem, faz tempo,
    com prejuízo não só material, mas moral dos jovens. Para algumas obras, como a História
    Sagrada, colocar oportunas notas, exigidas pelo progresso feito por tal ciência”.

    2.4 Março de 1915: circular e comissão

    Pe. Cerruti com a circular de 18 de março daquele ano comunicava que o Cap. Superior tinha
    aprovado “que se preparasse uma edição autêntica, completa das obras de D. Bosco”. Na mesma
    circular convidavam-se os destinatários para fazerem parte de uma “comissão de Salesianos,
    cada um dos quais tenha o pensamento de tudo que diz respeito à pesquisa, o exame, a
    disposição, à impressão daquela qualidade de trabalho que lhe foi confiado”.

As secções e relativos encargos ficaram assim constituídas:

•   Epistolário                              Angelo Amadeo
•   Escrito marianos                         Augusto Amossi
•   Escritos biográficos e amenos            Giuseppe Binelli
•   Vidas dos Papas                          Giovanni Battista Borino
•   Obras históricas                         Alberto Caviglia
    18
      1926, p. 313.
    19
       Vide ANEXOS.


                                                   8
•   Obras pedagógicas                       Vincenzo Cimatti
•   Obras catequéticas e polêmicas          Sante Garelli
•   Obras religiosas                        Giacomo Mezzacasa
    A Comissão encarregada de acolher os critérios propostos para a edição das Obras e dos Escritos
    de D. Bosco reuniu-se no dia 31 de março. Infelizmente dos fatos vieram por termo à iniciativa:
    o falecimento de Pe. Cerruti e o agravamento dos problemas bélicos da I Guerra Mundial.

    2.5 1928-1933: Pe. Alberto Caviglia

    •   1922 a 1932: após ser encarregado oficialmente pelo Conselho Superior, Pe. Caviglia
        publicou os quatro primeiros volumes da Secção Escritos históricos.
    • 1929: Vol. I/1 História Sagrada. Vol. I/2 História Eclesiástica.
    • 1932: Vol. II/1-2 As vidas dos Papas.
    • 1932: Vol. III A História da Itália.20
    Segundo o documento do ISS, citado anteriormente, o testo crítico da História da Itália não
    corresponde a nenhuma das edições publicadas enquanto D. Bosco vivia, une partes de várias
    edições. Trata-se de uma espécie de coletânea com trechos de várias edições. Lemos ainda
    naquele mesmo estudo:

                              «O valor atribuído à História da Itália é desproporcional com respeito às mais modestas
                              intenções do escritor. Do ponto de vista crítico os resultados foram insatisfatórios, até
                              porque muitas achegas afastaram da intenção original e do que foi prometido pelo título
                              da série: Obras e escritos publicados e inéditos de “Dom Bosco”, novamente publicados e
                              revistos segundo as edições originais e manuscritos supérstites aos cuidados da Pia
                              Sociedade Salesiana».

    As dimensões do projeto foram apresentadas no Boletim Salesiano do mês de abril de 1933.
    Previam-se, em cinco séries, 14 volumes ou tomos, cada um com mais de 500 páginas contendo
    Anexos, Fragmentos e Índices:

   Obras históricas.
   Obras religiosas.
   Obras pedagógicas.
   Escritos morais e amenos.
   Instituição da Obra Salesiana.

    Cada volume viria enriquecido com notas preliminares de caráter documental ou editorial e
    oportunas anotações ou comentários entre as várias edições. O trabalho era enriquecido ainda
    com lembretes de retorno às fontes ou a circunstancias históricas que dissessem respeito à
    composição dos escritos.

    2.6 Trabalhos publicados a partir de 1943

    * 1943: Vol. IV - A vida de Domingos Sávio e o estudo Domingos Sávio e Dom Bosco.
    Trata-se de um trabalho de muito valor, utilizado por muitos.
    20
      Francisco Motto, diretor do ISS, apresentou recentemente um episodio ainda desconhecido sobre a História
    Sagrada de Dom Bosco.


                                                            9
* 1965: Vol. V - O primeiro livro de Dom Bosco: Traços sobre a vida de Luís Comolo e Miguel
Magone. Trata-se de uma experiência pedagógica clássica.
* 1965: Vol. VI – A vida de Francisco Besucco. Texto e estudo (escrito em 1940).

2.7 1963 – 1973: Universidade Pontifícia Salesiana

Na sexta etapa da publicação das Obras de D. Bosco encontramos duas iniciativas, ambas unidas
à Universidade de Roma e à Direção Central dos Salesianos. Durante o reitorado do Pe. Renato
Ziggiotti e com sua aprovação, constituiu-se um grupo redacional21 com a finalidade de publicar
uma edição crítica dos escritos publicados e inéditos de D. Bosco e das testemunhas
contemporâneas. A equipe se encarregaria de escrever sobre a vida e atividade do santo.
Em 1965 o Cap. Geral XIX propôs:

                           «compilar uma antologia de todos os tesouros educativos herdados de D. Bosco e dos
                           primeiros salesianos, mediante a criação de um Centro de estudos históricos salesianos,
                           que ilustre sempre melhor a obra educativa de S. João Bosco, e expresse com precisão as
                           linhas de seu método e do seu espírito».22

O Cap. Geral de 1971 recomendou que se estudassem os meios necessários e mais idôneos para
garantir o desenvolvimento do “Centro de Estudos Don Bosco”. Em 6 de fevereiro de 1973,
fundou-se o Centro sendo confiado “ad experimentum” à Faculdade Salesiana. Uma de suas
atribuições era efetuar uma série de publicação e estudos sobre a história das Missões Salesianas
por ocasião de seu centenário.
Os Atos do Cap. Superior publicava, naquele mesmo ano de 1973, a fundação na Casa Geral de
um “Centro de Estudos para a história da Congregação Salesiana”. No ano seguinte surgiu o
“Centro de Estudos de História das Missões Salesianas”.23

2.8 1978-1982:.. Casa Geral Salesiana – ISS (Istituto Storico Salesiano)

O Capítulo Geral XXI estabelecia:24

«O Conselho Superior, no mais breve tempo possível criará um Instituto Histórico Salesiano, que nas formas ideal e
tecnicamente mais válidas coloque à disposição da Família Salesiana, da Igreja e do mundo da cultura e da ação
social os documentos do rico patrimônio espiritual deixado por D. Bosco e desenvolvido pelos seus continuadores e
promova em todos os níveis o aprofundamento, a ilustração e a difusão. Toda a Congregação concorrerá para a
realização e a vitalidade da importante iniciativa com o pessoal e os meios disponíveis.»25

O Instituto Histórico Salesiano, com sede em Roma, foi criado em 23 de Dezembro de
1891.26Seu grupo de pesquisadores de várias nacionalidades tem realizado uma série importante
de trabalhos, impressos nas mais diversas línguas.

DOM BOSCO: FONTES (seus escritos)

21
    Entre 28 e 29 de Dezembro de 1963.
22
    Atti del Cap. Gen. XIX, Roma 1966, p. 201.
23
   (http://www.ups.urbe.it Settori Centro St. don Bosco).
24
    26 de janeiro de 1978.
25
    Estatuto.
26
    Vide ANEXO IV


                                                            10
1. JOÃO BOSCO
 Constituições da Sociedade de S. Francisco de Sales [1858] – 1875
 Testos críticos aos cuidados de Francesco Motto
 (ISS, Fonti, Serie prima, 1). Roma – LAS 1981.

O responsável pela crítica deste trabalho faz a seguinte observação:

«Entre a notável massa de documentos disponíveis (além dos 40), em sua maior parte manuscritos, o curador para
                 efeito editorial privilegiou 5 documentos do testo e 4 do testo latino, considerando etapas bem
                 individuais e significativa do longo e complexo processo redacional. Desses 8 foram colocados em
                 paralelo...; Uma que apresenta exigências particulares, foi editada à parte. Cada um dos 8 testos é
                 conjugado a um riquíssimo aparato das variantes, que se unem entre si sem solução de
                 continuidade ao texto sucessivo. “ É de se considerar a empresa de significado excepcional e
                 incontestável valor histórico-espiritual”».27

2. JOÃO BOSCO
 Constituições para o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (1872-1825)
 Testos críticos aos cuidados de Cecília Romero
 (ISS, Fonti, Serie prima, 2). ROMA – LAS 1982.

Explicações de Madre Romero a respeito do documento:

«Edição crítico-genética, nas formas costumeiras e felizmente entrelaçadas, do último manuscrito disponível das
                 Constituições das FMA (1872-1885), da qual dependem os primeiros dois testos a serem
                 impressos (1878,1885). O aparado das variantes leva em conta, quer documentos que entram na
                 história redacional do texto, quer separadamente, aqueles paralelos, embora significativos. Na
                 introdução a problemática dos testos constitucionais enquadra-se naquela humana das Filhas da
                 Imaculada contidas em parte no Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora».

3. Francisco MOTTO (ed)
 Lembranças confidenciais aos Diretores
 (Picola Biblioteca dell’ISS, 1). ROMA – LAS 1984.

Neste documento Dom Bosco deixou à Congregação sua grande experiência espiritual e
pedagógica. A carta foi escrita a D. Rua, em Outubro de 1863. Ele que foi, o primeiro diretor de
uma comunidade salesiana educadora, fora de Turim em Mirabello Monferrato. Posteriormente
ampliada, era enviada aos novos Diretores das casas salesianas.

4. Jesus BORREGO (ed)
 Lembranças de Dom Bosco aos primeiros missionários
 Pequena biblioteca do IHS, 2). Roma – LAS 1984.

5. Pedro BRAIDO (ed)
 Carta de Roma (10 de maio de 1884)
 (Piccola Biblioteca dell’ISS, 2). Roma – LAS 1984.



27
     RSS 2, 1983, p. 170).


                                                        11
Trata de um sonho que Dom Bosco teve em Roma em 10 de Maio de 1884. Seu biografo, Pe.
Lemoyne o descreve em duas formas: aos jovens e à comunidade salesiana de Turim – Valdocco.
É um dos documentos mais ricos para se compreender o Sistema educativo de Dom Bosco. A
amorevolezza e o relacionamento educador-jovem são dos temas mais importantes desta Carta,
famosa em toda a Congregação.

6. Francisco MOTTO
 Memórias de 1841 a 1884-5-6 (escritas) pelo Sacerdote João Bosco aos seus filhinhos
                salesianos (Testamento espiritual).
 (Piccola Biblioteca dell’ISS, 4). Roma - LAS 1985.

Transcrevo o comentário ao documento feito pelo diretor do ISS, Dom Motto:

                «Para a compreensão de Dom Bosco e do seu espírito, para o aprofundamento da sua concepção
                pedagógico-religiosa, para o conhecimento de suas ânsias em ordem à salvação da alma e ao
                futuro da sociedade salesiana o documento constitui um dos escritos mais eloqüentes. Trata-se de
                recordações e conselhos escritos em épocas diferentes, para os Salesianos, as Filhas de Maria
                Auxiliadora, para os Cooperadores e Benfeitores das obras salesianas. Numerosas as
                recomendações para quem exerce autoridade nos vários níveis».

7. JOÃO BOSCO
 O Sistema Preventivo na educação da juventude
 Introdução e testos críticos aos cuidados de Pietro Braido
 (Piccola Biblioteca dell’ISS, 5). Roma – LAS 1985.

Don Braido afirma que este pequeno escrito de 1887 tornou-se famosíssimo. Nele encontramos
em síntese o pensamento pedagógico de Dom Bosco. O conjunto das informações, das variantes
e das fontes paralelas são de grande auxílio à compreensão do texto.28

8. JOÃO BOSCO
 Valentim ou a vocação contrariada
 Introdução e texto crítico aos cuidados de Mathew Pulingathil
 (Piccola Biblioteca dell’ISS, 6). Roma – LAS 1987.

Em 1866 as Leituras Católicas publicaram este romance de fundo histórico. Tinha sido
precedido de um manuscrito autografado com correções e achegas. A edição crítica é
interessante e oferece ao leitor aspectos da concepção religioso-pedagógica de Dom Bosco “em
um momento significativo de sua evolução espiritual”.

9. JOÃO BOSCO
 Escritos pedagógicos e espirituais
 Aos cuidados dos historiadores e escritores:Jesús Borrego, Pietro Braido, Antonio da Silva
 Ferreira, Francesco Motto, José Manuel Prellezo.
 (ISS, Fonti, Serie prima, 3). Roma – LAS 1987
 [Ed. esgotada, cf 3ª edição n. 18].


28
     Vide ANEXOS.


                                                     12
10. BRAIDO PIETRO (ed)
 Dom Bosco para os jovens: O “Oratório” uma “Congregação dos Oratórios”. Documentos.
 Piccola Biblioteca dell’ISS, 9). Roma – LASS 1988.

Estes dois documento fazem história, afirma Pe. P. Braido. Pelo momento significativo em que
foram compostos (1854, 1863, 1873/1874), pelo contesto e pela finalidade. E continua o mestre
de nossa história:

               «Se na realidade, Dom Bosco nos deixou vários testemunhos sobre “as origens” de sua obra – a
               mais notável são as “Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales” - nenhuma delas é simples,
               linear, privada de supra-estrutura, interpretações e comentários, interpretações e comentários,
               quanto os dois breves testos aqui assinalados, riquíssimos de informações historicamente
               significativas dos primeiros anos do Oratório. Não se pode prescindir deles.»

11. JOÃO BOSCO
 A Patagônia e as terras austrais do Continente americano
 Introdução e testo crítico de Jesus Borrego
 Piccola Biblioteca dell’ISS, 11). Roma – LASS 1988.

A obra foi encontrada por Ernesto Zsanto na Biblioteca da Pontifícia Universidade Urbaniana de
Roma. Ele a definiu como o “Projeto patagônico de Dom Bosco”. O principal autor é o Pe.
Giulio Barberis, embora Dom Bosco tenha sido o inspirador, revisor e por vezes, tenha corrigido
algumas páginas. O santo lhe deu o seu jeito (impronta) e o assinou em 20 de Agosto de 1876,
assumindo assim a responsabilidade por ele.
Pe. Barberis recolheu tudo o que na época havia em Turim sobre aquelas terras setentrionais da
Argentina. O estudo apresenta cinco partes: Descrição física, História da descoberta da
Patagônia, Os habitantes: caráter e costumes, Religião e Missões.
Na conclusão alude-se ao Presente estado da Patagônia e Novo Projeto para sua evangelização.

12. JOÃO BOSCO
 Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales de 1815 a 1855
 Introdução, notas e testo crítico aos cuidados de Antônio da Silva Ferreira
 ISS, Fonti, Serie prima, 4). ROMA – LAS 1991.

A obra em pauta, surgida possivelmente entre os anos de 1873-1875, é de grande importância
para todos os que se debruçam sobre a história salesiana. No julgamento do historiador Pe.
Antônio Ferreira as Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales constituem

                       «a fonte primaria para a compreensão de sua mentalidade (Dom Bosco) e de seu projeto
                       operativo global: é ao mesmo tempo re-evocação, reflexão e projeção para o futuro.»

O aparato das variantes vem provar sobejamente o que se afirma acima.

13. JOÃO BOSCO
 Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales de 1815 a 1855
 ISS, Fonti, Serie prima, 5). ROMA – LAS 1991.




                                                    13
Edição como a precedente, mas sem o conjunto da crítica testual.

14. JOÃO BOSCO
 Epistolário
 Introdução, testos críticos e notas aos cuidados de Francisco Motto.

Primeiro Volume (1835-1863). Correspondências (cartas): 1-726
(ISS, Fonti, Seria prima, 6). Roma – LAS 1991.

Segundo Volume (1864-1868). Correspondências (cartas): 727-1263).
(ISS, Fonti, Serie prima, 8). Roma – LAS 1996.

Terceiro Volume (1869-1872). Correspondências (cartas): 1264-1714.
(ISS, Fonti, Serie prima, 10). Roma – LAS 1999.

Quarto Volume (1873-1875). Correspondências (cartas) 1715-2243). (ISS, Fonti, ISS, Fonti,
Serie prima, 11). Roma – LAS 2003.

Não seria necessário reforçar que a correspondência epistolar que Dom Bosco manteve, com
inúmeras e variadas pessoas e por dezenas de anos, é de enorme utilidade para seu conhecimento
humano e espiritual. É uma grande riqueza para os estudiosos de sua espiritualidade e de seu
método pedagógico.
Ao lermos estas correspondência, muitas inéditas, descobrimos outro Dom Bosco, um homem
sempre mais coerente com seu projeto de servir aos jovens, até o último respiro.

15. BRAIDO PIETRO (ed)
Dom Bosco educador. Escritos e testemunhas
Aos cuidados de Jesús Borrego, Pietro Braido, Antônio da Silva Ferreira, Francesco Motto,
José Manuel Prellezo
(ISS, Fonti, Serie Prima, 7). Roma-LAS 1992
[Esgotado: 3ª ediz. N.18].


16. PRELLEZO José Manuel
Valdocco nos anos oitocentos, entre real e ideal (1866-1889)
Documentos e testemunhos
(ISS, Fonti, Serie seconda, 3). Roma- LAS 1992.

Prelezzo dividiu o trabalho em quatro partes:

1. O Oratório de Valdocco no “Diário” do Pe. Chiala e Pe. Lazzero (1875-1888 e 1895).
2. O Oratório de Valdocco nas “Reuniões Capitulares’ (1866-1877).
3. O Oratório de Valdocco nos “Encontros do Capítulo da Casa” e nas “Reuniões mensais”
   (1871-1884).
4. Valdocco 1884.




                                                14
Neste capítulo temos as seguintes testemunhas:
   • Tommaso Pentore (1860-1908)
   • Stefano Febraro (1856-)
   • Domenico Canepa (1858-1930)
   • Secondo Marchisio (1857-1914)
   • Serafino Fumagali (1855-1907)
   • Giacomo Ruffino (1850-1913)
   • Giovanni Bonetti (1838-1916)
   • Giovanni Battista Lemoyne (1839-1916).

   Planta do complexo dos edifícios do Oratório de Dom Bosco:1869 – 88).




                                            15
VALDOCCO 2002



    16
17. JOÃO BOSCO
             [Dom Bosco Fundador]. “Aos sócios Salesianos” (1875-1885)
             Introdução e testos críticos os cuidados de Pietro Braido
             (Piccola Biblioteca dell’ISS, 15. Roma- LAS 1995.

             Trata-se de um libreto com 38 paginas dirigidas aos Sócios Salesianos em 1875. É
                uma fonte de suma importância para se conhecer a figura de Dom Bosco
                fundador.

         3. Uma palavra sobre as fontes da doutrina espiritual de Dom Bosco29

             Na Introdução de Scritti Spirituali Aubry faz de imediato dos questionamentos sobre
                os escritos e a espiritualidade de Dom Bosco. Ele mesmo responde, dizendo que
                as duas afirmações contêm ao mesmo tempo a razão de ser e a dificuldade de seu
                trabalho.

                  1. Dom Bosco é um “escritor espiritual”? Certamente que não, responde o autor.
                  2. É um “mestre espiritual”? Certamente que sim.

             3.1 Um mestre espiritual
             Como mestre espiritual, não há dúvidas que Deus enriqueceu sua Igreja com a
                 presença e atuação de Dom Bosco.

                           «Para o imaginário popular, Dom Bosco é aquele padre dinâmico que consagrou sua vida
                           aos jovens mais pobres e fundou para eles a sociedade Salesiana. Para o cristão um pouco
                           mais informado, é o fundador das Filhas de Maria Auxiliadora e dos Cooperadores
                           Salesianos, autor de um método de educação particularmente eficaz, um dos padres do
                           século XIX que viveu da forma mais dolorosa, mas também mais positiva o drama da
                           unidade italiana, enfim, um dos grandes servidores da Igreja no campo missionário».30

         No entanto, sua vida e seus escritos mostram-nos um homem providencial que deu à
            Igreja uma nova fisionomia, um carisma especial, capaz de atrair um numeroso grupo
            de cristãos e cristãs para um novo estilo de vida que leva à santidade. Santidade esta,
            em poucos anos, reconhecida pela Igreja que elevou aos altares como exemplos do
            seguimento evangélico vários homens e mulheres, inclusive jovens adolescentes de
            ambos os sexos. Aí estão o próprio fundador Dom Bosco, santa Maria Domingas
            Mazzarello, São Domingos Sávio, e dezenas de outros santos, beatos e servos de
            Deus.
            Pio XI, por ocasião do decreto para a beatificação de Madre Mazzarello fala de Dom
                Bosco como: “este sapientíssimo doutor em cujo magistério ela foi conduzida até
                ao mais alto vértice da perfeição cristã e religiosa”.31
            Anos mais o Papa Pio XII dirá aos Cooperadores Salesianos:



29
   Cf; Giovanni BOSCO, Scritti spirituali, a cura di Joseph Aubry, pp, 24ss.
30
   Giovanni BOSCO, Scritti…p.11.
31
   Acta Apostolicae Sedis, 30 [agosto, 1938], p 272, apud Aubry, op. cit, p, 13.


                                                         17
«O santo da ação bem proveu a vossa vida interior, ditando-vos nada menos que à sua
                          dúplice família dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora uma regra de vida
                          espiritual, destinada a formar-vos.»32



             Dom Bosco passou em poucos anos a ter uma grande família 33, uma “numerosa
               posteridade”. Não obstante, pode-se dizer que ele em sua humildade não pensava
               em se apresentar como mestre e doutor. Pensava, desejava sim, difundir um
               método de vida cristã. Suas atitudes demonstram que desejava que no conjunto
               sua Família (SDB, Irmãs Salesianas, Cooperadores, alunos das casas salesianas)
               seguissem um só “espírito”. Através de suas convicções pedagógicas e espirituais,
               de sua liderança, de seu fascínio, de seus dons conseguiu que muitos de seus
               colaboradores, onde quer que fossem, seguissem voluntária e afetuosamente suas
               orientação, seu “espírito”.
               Não é comum que os fundadores possam formar ainda em vida seus
               colaboradores, ainda jovens. Isso Dom Bosco o fez, quando viveu no seu Oratório
               de Valdocco. Pe. Rua, seu primeiro sucessor, viveu com ele cerca de 40 anos
               abeberando-se de sua espiritualidade, de seu carisma.34

             3.2 Dom Bosco não é um autor espiritual (Aubry)

                 Dom Bosco, para Aubry, “não tem nada de teólogo especulativo e é avesso à
                 introspecção espiritual). Ao contrário de São F. de Sales não produziu obras
                 comparáveis ao Tratado do amor divino, ou Introdução à vida devota, ou ainda
                 História de uma alma, de Santa Teresinha.
                 Dom Bosco continua um homem de sua terra, camponês do Piemonte. Homem
                 inteligente e prático, deixa a roça e vai para a cidade, agradando-lhe mais a
                 experiência do que as idéias.
                 Em sua trajetória de estudos vêem-se como suas preferências são para as ciências
                 positivas como a Sagrada Escritura ou a história da Igreja. Por outro lado, o
                 apostolado da escrita é um dos principais trabalhos de sua existência. Quando
                 escreve não produz tratados,

                          «mas é para “falar” aos seus jovens, ao povo, aos seus Salesianos e aos Cooperadores e
                          propor-lhes uma doutrina simples, conselhos práticos, exemplos concretos que têm toda a
                          aparência de serem “ordinários”, mas que representam o sinal de suas mais profundas
                          convicções e mais vivas insistências. Sua doutrina espiritual aparece como envolta na sua
                          simplicidade de escritor popular e seus diversos elementos estão dispersos em numerosos
                          opúsculos, sem pretensão especulativa ou literária. E, apenas tenta uma coordenação de
                          princípios, parece perder a inspiração e seus manuscritos se adensam de inumeráveis
                          correções.»35

32
   Discorso 12 sett. 1952. Acta Apost. Sedis, 44 [ottobre 1952], p. 778, apud Aubry, op. cit. p. 13.
33
   Vide ANEXO VII.
34
   Em conversa com Dom Barberis, no dia 17 de maio de 1876, Dom Bosco lhe falava sobre a importância deste seu
trabalho de preparação dos primeiros salesianos, seus sucessores: «Todas as outras Congregações no seu início
tiveram ajudas de pessoas doutas... que se associavam ao fundador. Entre nós, não: são todos ex-alunos de Dom
Bosco. Isso me custou um trabalho duríssimo e contínuo de cerca de trinta anos, porém com a vantagem, tendo sido
todos educados por dom Bosco, têm os mesmos métodos e sistemas.». MB XIII, 221).
35
   Giovanni BOSCO, Scritti…p.15.


                                                       18
No entanto, este homem de Deus, tornou-se um dos maiores carismáticos da Igreja. Sendo que o
   lugar por excelência de sua doutrina é justamente sua vida, sua experiência espiritual,
   extremamente rica.



BRAIDO Pietro (ed)

Dom Bosco educador. Escritos e testemunhas
Uma nova terceira edição aumentada. Colaboraram: Antônio da Silva Ferreira, Francesco
  Motto, José Manuel Prellezo.
(ISS, Fonti, Serie prima, 9). Roma- LAS 1996.


O trabalho recolhe escritos e documentos relacionados com as experiências e as idéias
    pedagógico-espirituais de Dom Bosco.
                                 «Aos documentos fragmentários do primeiro decênio de trabalho educatico em Turim-
                                 Valdocco (1845-1854) juntam-se os de pedagogia narrativa [entre eles Cenno storico
                                 (nota breve, explicação) e Cenni storici: 1854-1862] e os escritos normativos e
                                 programáticos (Lembrança aos diretores, Dialogo com o mestre Francisco Bodrato,
                                 Lembrança aos missionários, Sistema preventivo na educação da juventude, Artigos
                                 gerais do “Regulamento para as Casas”, Sistema preventivo aplicado entre os jovens
                                 abandonados (pericolanti):1863-1878). A coleção conclue-se com os conselhos e as
                                 lembranças da ancianidade: a longa carta sobre os castigos de 1883, as duas cartas de
                                 Roma de 1884, o “Testamento espiritual” e três cartas aos salesianos da América
                                 (1885)».36




   3      O projeto de um santo

                                 «D. Bosco era um gigante que despontava entre os educadores católicos do `800.
                                 “Promotor de uma educação completa, sobretudo porque aparecia em contraposição
                                 àquela que se baseava no adestramento físico e no mito da força conquistadora, coisas
                                 que levavam ao encontro violento de povos e a uma nova e desumana conflagração
                                 mundial».37



   36
        Alguns destes testos foram publicados na Piccola Biblioteca do Instituto Histórico Salesiano nn, 1-5 e 9.
   37
        Mario MIDALI (a cura di), Don Bosco nella storia. Roma, LAS 1990, p. 22. n. 6.


                                                               19
O século XIX, também chamado de século da pedagogia, trouxe para a Europa e em especial
para a Itália uma série de movimentos políticos,38 sócio - religiosos que muito viriam influir no
Continente e além mar.
A nova problemática atingiu de cheio sobretudo a juventude.O jovem Bosco observando a
situação começou a angustiar-se. Quanta tristeza não sentia ao observar tantos jovens destruídos
física e moralmente, já nos primeiros anos de idade. A existência degradante e aviltante daqueles
moços atingiria profundamente os sentimentos e o coração do novel sacerdote. De tal modo lhe
impressionaram as cenas que via todos os dias, que resolveu dedicar toda sua vida ao bem da
juventude necessitada. Seu relacionamento de amizade com os moços basear-se-ia na
aproximação, no diálogo e na amizade, tentando fazer com que eles descobrissem que eram
pessoas humanas e amadas por Deus. Tinham uma dignidade e deveriam dar um sentido
humano-cristão às suas vidas.
D. Bosco muito se preocupava com as crescentes transformações e materialização do mundo,
com as novas exigências, com a Igreja e os jovens dentro do novo contexto da sociedade. O
mundo do seu tempo queria ver o clero trabalhar, fundar obras de instrução e educação da
juventude pobre, abandonada. Os padres deveriam abrir colégios, obras de caridade, escolas
profissionais. A sociedade para ser cristianizada deveria começar com a instrução religiosa da
juventude.
   O Pe. João Batista Lemoyne cita as categorias de garotos que na época perambulavam nas
imediações de Porta Palazzo, um dos bairros da Capital do Reino piemontês. Ali se
acotovelavam camelôs ambulantes, vendedores de fósforos, engraxates, limpa-chaminés, moços
encarregados de cocheiras, distribuidores de volantes, carregadores, todos pobres meninos que
sobreviviam daqueles magros negócios. Como o profeta da Galiléia, o santo de Turim também se
compadecia daquelas multidões.
O ajuntamento de rapazes e trabalhadores dos mais diferentes lugares gerava nas cidades o
problema demográfico das massas humanas, impulsionadas pelo início da industrialização, o
novo motor da história que viria transformar com sua tecnologia revolucionária o ritmo da
sociedade universal. Famílias inteiras do Piemonte, da Lombardia e alhures procuravam a
Capital piemontesa desestruturada e sem condições edilícias e sociais para atendê-las.39
O jovem sacerdote, cada vez mais tinha consciência de ter sido chamado por Deus para cumprir
uma missão especial no meio da juventude. Sua vida era dominada pela presença insistente do
38
   Apenas lembramos entre outros fatos o ofuscamento definitivo e inexorável da estrela napoleônica em Waterloo.
As mutações drásticas impostas pelo Congresso de Viena, em se tratando da geopolítica européia. Os diversos
movimentos revolucionários nacionalistas que transformaram o velho Continente.
39
   O recenseamento de 1838 revelou na cidade a presença de 117.072 habitantes. Em 1848 eram 136.849. As
habitações de 2.615 passaram para 3.289. As famílias eram em 1838, 26.351, (10,08 pessoas por casa); em 1848
eram 33.040 (10,45 por habitação). A média familiar em 1838 era de 4,44 indivíduos, enquanto que 10 anos mais
tarde, de 4,14.
Em 10 anos a população havia aumentado de 19.777, exatamente 16,89 por cento. (G. MELANO. La popolazione di
Torino e del Piemonte nel secolo XI, Torino 1961, p.73, apud Pietro STELLA, Don Bosco nella Storia della
Religiosità Cattolica, Vol. I p.103.


                                                      20
divino. «Nele era profunda e constante a consciência de ser instrumento do Senhor para uma
missão singularíssima».40
No início das Memórias do Oratório, interrogando-se sobre a finalidade daquele manual, DB
afirma que servirá como norma para se superar as dificuldades futuras, a fim de que se aprenda
as lições do passado. Demonstrará como Deus tenha dirigido cada coisa a seu tempo. Servirá
para que seus filhos se entretenham, quando lerem os fatos dos quais seu pai foi protagonista.
As Constituições Salesianas no seu primeiro artigo lembram que a Sociedade de S. Francisco de
Sales não nasceu de um simples projeto humano. Nossa Sociedade é obra de uma iniciativa de
Deus, em favor da salvação da juventude «a porção mais delicada e preciosa da sociedade
humana».41 O artigo constitucional reforça ainda a idéia de que a intervenção de Maria, fez com
que o Espírito Santo, suscitasse D. Bosco para um apostolado específico. Não se cansava de
afirmar que na execução de seu projeto Nossa Senhora havia realizado tudo. Ela tinha sido a Mãe
e a Mestra que sempre o acompanhara no desenrolar de sua obra. Certa vez, ao visitar em Turim
a Casa da Divina Providência, seu amigo Cotolengo fez-lhe um prognóstico, cuja realização foi
realmente uma constante em sua vida. Ao despedir-se, apertando entre as mãos as mangas da sua
batina, o colega também santo, fixou-o vaticinando:


                          «Sua batina é muito tênue e fina. Arranje uma de tecido muito mais forte e consistente, a
                          fim de que os jovens não possam rompê-la. Virá um tempo em que será puxada por muita
                          gente».42



Um dos jovens Domingos Bosso, no momento próximo aos dois santos, escutara a profecia.
Mais tarde, sacerdote e sucessor do Cotolengo, não esquecia o episódio. A história irá mostrar na
prática aquela profecia, o que ocorrerá ali mesmo naquela Casa de Caridade.
A vida de D. Bosco foi realmente uma total doação aos jovens. Seu propósito de consumir-se por
eles foi cumpriu inexoravelmente até o fim de seus dias. Nos últimos anos tornava-se para ele
muito difícil confessar, dado o cansaço que o acometia, a falta de forças que toda uma vida de
esforços constantes lhe consumira. Uma ocasião em 1886, seu médico sugeriu ao Pe. Viglietti
que lhe dissesse que parasse um pouco. Ele, rindo responde: «Êh, meu caro, se ao menos não



40
   P. STELLA, Don Bosco nella storia, Vol. II, Mentalità Religiosa e Spiritualità. Zürich, PAZ VERLAG, 1969, p.
32 [Giovanni BOSCO], Memorie dell’Oratorio di San Francesco di Sales, (a cura di) Antônio Ferreira, LAS, 1992,
p.5, n.4.
41
   MB II, 45.
42
   Em diversas ocasiões D. Bosco teve dificuldades com sua a “veste”. Foi roubada (MB III, 80). Certa feita,
enquanto dava aulas de catecismo no coro da Capela de S. F. de Sales, recebe um tiro que lhe estraçalha a batina
sobre o peito e na manga esquerda. (MB III, 300). É distribuída com as pessoas (MB V, 617; VI, 112-113. Torna-se
puída e imprestável (III, 24); é cortada em pedacinhos para ser ofertada como relíquia (XVI 58,118. Hoje em uma
das passagens do pórtico, onde se localiza a veneranda Capelinha, outrora local da Tetóia Pinardi, observa-se uma
placa, mostrando o local do atentado. (172-193).


                                                       21
confesso os jovens, que farei então? Prometi a Deus que até o meu último respiro seria para meus
pobres jovens».43


4    São Francisco de Sales (1567 – 1622) (vide Anexo V)


Achamos importante, por diversas razões colocar Francisco de Sales entre as Fontes Salesianas,
logo após o fundador da Congregação. Entre outros motivos porque ele é o protótipo de nossa
espiritualidade. Como salesianos devemos estudá-lo sempre mais, para imitá-lo cada vez mais e
assim nos tornarmos a cada dia salesianos mais próximos de Dom Bosco. É nesta intenção que
ousamos apresentar também alguns delineamentos histórico-espirituais sobre a figura do santo
do Chablais.44
Monsenhor Francis Vincent45 em uma de suas conferencias sobre a espiritualidade de S. F. de
Sales começa afirmando que para se compreendê-la e defini-la, deve-se primeiro perguntar o que
o santo pensava sobre Deus e o homem.46
Sabe-se que na época do santo havia concepções diferentes sobre a vida religiosa em relação a
Deus. Para uns, como Monsenhor de Saint-Cyran, Deus era um Mestre terrível. Santa Teresinha
do Menino Jesus se dirigia a Ele como um Pai amável, bondoso. Sobre o homem, Pascal dizia
que é um anjo e não uma besta, um animal. Nossa concepção religiosa irá ser diferente, se
tendermos para o que conhecemos como teologia do otimismo ou do pessimismo. Diante dessas
duas correntes não há dúvida que pela vida e atuação de nosso santo ele estava muito longe de
ser um pessimista.


                         «São Francisco de Sales era decididamente otimista em teologia. Ele era
                         impressionadíssimo com a abundancia dos meios de salvação...Nada poderia ser mais
                         contrário ao sentimento (tremor, medo) que Monsenhor de Saint-Cyran experimentava e
                         inspirava.»47



Vejamos o que pensava o santo a respeito de Deus.
Aos dezoito anos e após sua famosa crise que chamou de tentação ele tornou-se definitivamente
um otimista. Não foi fácil. As lutas que teve antes de se decidir entre as diferentes teodicéias,

43
   MB XVIII, pg, 258. Const. 1.
44
   Cidade ao Sul do lago de Genebra (Suíça) na Sabóia, onde o santo trabalhou incansavelmente, durante os cinco
primeiros anos de sacerdote, para converter os Calvinistas.
45
   Reitor emérito das Faculdades Católicas do Oeste (França?).
46
   THE SPIRITUALITY OF SAINT FRANCIS OF SALES by Mgr Francis ... spirituality of Saint Francis of
Sales we must first ask what the Saint thought of God and man. ...
www.ewtn.com/library/SPIRIT/SALESPIR.TXT - 85k - Cached
47
   Francis VINCENT, The Spirituality of Saint Francis of Sales (Conferência).


                                                        22
quase o levaram às raias do desespero, quando na Universidade de Paris, ele estava no meio dos
grandes debates sobre a predestinação.


4.1 Predestinação e pré-conhecimento (pré-monição)
Na época duas correntes teológicas opunham-se fortemente. Uma afirmava que Deus predestinou
para a salvação aqueles aos quais Ele tinha decretado dar a salvação e os meios necessários para
alcançá-la. Isto significava que Deus predestina à salvação, os que Ele predestina para a salvação
e não os que ele vê, através de sua pré-cognição que corresponderão à sua graça. O assunto era
muito sério e preocupante: a predestinação não se basearia no pré-conhecimento, mas era o
contrário, a pré-cognição estava baseada na predestinação. Deus sabe quem vai se salvar, porque
Ele já decretou sua salvação. A conclusão é que se Deus não salvou a todos, aqueles que se
condenam, não o fazem porque não corresponderam com a graça, ou pela conseqüência de sua
própria recusa, mas porque o próprio Deus os recusou. Estes que assim pensavam seguiam nada
mais, nada menos que Santo Agostinho e Santo Tomás.
O jovem estudante descobriu que os Jesuítas, seus professores, não seguiam o mesmo parecer,
discordavam de Agostinho e Tomás. Eles seguiam os ensinamentos de Santo Ambrósio, São
João Crisóstomo e os Padres Gregos. Substancialmente a doutrina destes santos tinha a seguinte
exposição:


                      «Em Deus o decreto da predestinação à glória baseia-se primeiramente, se assim
                      podemos falar, não no simples prazer divino, mas, na previsão dos méritos e santidade do
                      eleito. “Deus prevê seus méritos e segundo o resultado desta previsão, Ele o predestina
                      para a salvação.»



4.2 Um Deus de amor e misericordioso
Francisco não podia entender um Deus que não fosse um Deus de amor que quisesse salvar todos
os homens. Sua mente e seu coração refutaram espontaneamente a predestinação, embora a dupla
autoridade de Agostinho e Tomás pesassem fortemente em seu espírito. Antes de decidir-se
viveu cinco ou seis longas semanas de incertezas (e) angústia mental, minando suas forças
física. Atormentava-o atrozmente o pensamento se ele estaria “a priori” incluído no misterioso
decreto da predestinação.
Sua escolha foi realizada, após uma oração fervorosa e sofrida aos pés de Nossa Senhora.
Naquela ocasião ele ouviu uma voz que lhe dizia: Eu não sou Aquele que condena. Meu nome é
Jesus.




                                                   23
Separando-se de Tomás e Agostinho, a quem pediu perdão, Francisco a abraçou, até ao final de
sua vida, a doutrina, denominada Molinismo48. Para ele Deus é “Alguém que não deseja
condenar”. Conseqüentemente dá a todos as graças suficientes para se salvarem. Francisco
ensina que o mecanismo dos atos divino-humanos, quando coordenados, se o quisermos, nos
levam diretamente ao Céu. O próprio Deus, após o pecado de Adão desejou verdadeiramente que
todos os homens fossem salvos.
A decisão de Deus sobre cada um de nós, só é tomada depois de Ele ter visto como é que nós
vamos nos comportar. Os homens se condenam não por falta da graça, mas porque eles não
aceitam a graça, não porque a graça lhes falte, mas porque eles faltam à graça. São Francisco
estava tão convencido da munificência da graça de Deus, que seu convencimento era que Deus
jamais abandona um pecador. Ele pensava que Já condenação de Judas aconteceu somente por
causa de sua obstinação e frieza. Mesmo após sua ação criminosa Deus ainda esperou por ele,
ainda lhe ofereceu sua graça. “Ó homem infeliz, ele não sabia bem que nosso Senhor... era o
Salvador e que Ele tem a salvação em suas mãos?”49
Esta certeza de que Deus não abandona o pecador levava nosso santo a jamais anatematizar,
mesmo o mais obstinado dos pecadores. Eis o que ele chegou a afirmar:


                             «Quando pecadores se tornam tão empedernidos, endurecidos em seus pecados, de tal
                             modo que vivam como se não existisse nem Deus, nem céu, nem inferno, então é quando
                             Deus faz com que eles conheçam sua piedade e a doçura de sua graça».50



No Tratado sobre a graça encontramos afirmações como estas:


                             «Quando Ele (Deus) vê que a alma mergulha profundamente na iniqüidade é seu costume
                             oferecer sua ajuda e com incomparável graça Ele escancara a porta de seu coração.»51



Freqüentemente o pessimismo tem escurecido a mente dos homens. Arnauld e Saint-Cyran
acreditavam que chegaria um momento em que Deus se afastaria do pecador e suspenderia sua
graça, deixando-o viver em sua impiedade e perdição. Foi assim que Port-Royal tratou Pascal e
Racine. Porque eles abandonaram Deus, este por sua vez também se afastou deles. Este, porém,
não é o Deus de São Francisco. O Deus da vida não nos abandonou. O profeta Ezequiel já nos
dizia que Ele não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (Ez. 18, 32).

48
     Molinismo é a doutrina criada pelo jesuíta Luis Molina (1547-1551). O teólogo espanhol procura conciliar a idéia
de livre-arbítrio à graça e onisciência divina, as teses dos reformadores com o Concílio de Trento.
49
   Sermon of March 22, 1622.
50
   Idem, ibidem.
51
   Book 3, chapter 3.


                                                          24
A confiança do Bispo de Genebra em Deus é paralela à sua confiança na bondade natural do
homem. Seu otimismo envolve a ambas. Esta atitude está, no entanto longe do otimismo frio e
absoluto de J. Jacques Rousseau e do mesmo modo distante da posição dos Jansenistas que
ensinavam que o homem é radicalmente corrupto.
Neste aspecto entre o pensamento Salesiano (de São Francisco de Sales) e o dos Calvinistas há
também um enorme fosso. Para nosso Bispo o ponto de partida é o amor de Deus, enquanto para
o pensamento calvinista é o forte sentimento de afastamento da parte de Deus.
Francisco não deixa de ensinar que a tendência natural que existe no homem de amar a Deus não
pode durar muito tempo se não é fortificada pela graça. Afirma ainda que esta graça encontra no
homem um aliado e não um inimigo, como acreditam seus opositores. E é através desta graça
que Deus quer salvar todos os homens, pois Ele é sempre Aquele que não deseja condenar
ninguém e que oferece a todos as graças suficientes para que não se percam. A concepção
otimista da divindade fez com que tudo que o santo do Chablais escreveu se baseasse na
concepção otimista da graça, da salvação


4.3. O centro de sua espiritualidade: o amor, a caridade, a doçura
Nosso amor para com Deus que nos ama é tudo aquilo que devemos desejar e procurar praticar.
“Tudo na santa Igreja é por amor, no amor, para o amor e do amor”, afirma nas primeiras
páginas do Tratado sobre o amor divino. Não se trata apenas de um ideal que buscamos
intensamente, mas é o princípio e a fonte deste ideal. No amor estão todas as virtudes. É a
linguagem do Apostolo São João repetida e vivida por outro santo.
No livro Histoire du sentiment religieux aux XVIIe siecle M. Strowsky afirma que São F. de
Sales efetuou uma “verdadeira revolução” no asceticismo.


                         «Ele é o grande mestre e técnico da espiritualidade do amor. Houve homens antes dele
                         que praticaram o asceticismo, homens que o viveram, nós diríamos hoje. Mas quem o
                         formulou numa teoria ou o reduziu em um sistema?»52



Não são poucos os santos que escreveram e viveram o amor: São Paulo, Agostinho, Boaventura,
Santa Teresa, São João da Cruz. O bispo saboiense reuniu suas próprias experiências,
estabeleceu uma doutrina coordenada, uma arquitetura da vida espiritual baseada no amor.
Para ele a doçura era uma virtude mais rara do que a perfeita castidade é, a flor da caridade.
A uma jovem superiora de um Mosteiro “recomendava sobretudo o espírito de doçura que
esquenta os coração e conquista as almas”. 53

52
  Francis VINCENT, The Spirituality of Saint Francis of Sales (Conferência).
53
  François de Sales a Madama Bourgeois, 3 maggio 1604, in Oeuvres XII 272, apud F. Desramaut: Spiritualità
Salesiana, Cento parole chiave, verbete Dolcezza, p. 241.


                                                      25
O que acima dissemos sobre a mansidão que não é fraqueza, nem covardia, afirmamos
semelhantemente a respeito da doçura que não é melifluosidade, afetação, debilidade.
Dom Bosco era afável, amigável, mas firme quando precisava sê-lo. São Paulo nos lembra que
os frutos do Espírito são doçura e domínio de si.54
A filosofia grega fala do domínio de si, da vontade sobre as paixões. Neste sentido a doçura
cristã é diferente e distante de tudo o que possa dar a impressão de moleza. Pelo contrário ela
libera a pessoa da escravidão de si e a conduz á mliberdade.


4.4 Ama (Deum) et fac quod vis55
A famosa frase de Santo Agostinho “ama e faze o que quiseres” jamais foi tão vivida na prática
como na vida de Francisco de Sales. Ele demonstrou como alguém pode realmente amar a Deus
no mais íntimo e no mais acessível de sua alma, como fazer de cada momento de seu dia, o que é
melhor e mais justo, precisamente aquilo que Deus deseja que se faça.


4.5 O amor, princípio e fim de toda sua espiritualidade
Estabelecer e desenvolver nos corações a caridade eis o Alfa e Ómega de toda sua pregação.
Muitos santos desde São Paulo intuíram o eminente papel do amor na santidade, sua importância
fundamental. Não obstante, eles jamais o colocaram como objeto de uma demonstração
metódica.
São Jerônimo parece ter escolhido a castidade como o fundamento de seu asceticismo; Francisco
de Assis dialogava com a irmã pobreza; São Bernardo escolheu a mortificação; São Benedito foi
o homem da liturgia.
Não há dúvidas que estes santos tinham na caridade a fonte de toda a santidade e jamais negaram
o seu papel. Talvez se, eles fossem diretamente questionados, respondessem que essa verdade
estava implícita, não era necessário que se dissesse. A esta resposta, São Francisco de Sales teria
respondido: “mas, é melhor que seja dita”. Assim ele o fez com uma insistência inigualável.
Santo Inácio, a quem Sales muito cultuou, também não insistiu tanto no valor da caridade em sua
estratégia para a conquista da perfeição. O jesuíta, Pe. Brou observa inteligentemente:


                          «Todo autor tem suas fórmulas (sinais) favoritas que aparecem constantemente e
                          informam as preocupações de sua alma... para Santo Inácio estas fórmulas testemunham,
                          mostram a autoridade de Deus sobre as criaturas.»56



54
   Gal. 5, 23.
55
   Ama (Deus) e faze o que quiseres.
56
   Francis VINCENT, The Spirituality of Saint Francis of Sales (Conferência).


                                                        26
Sales entende que estas fórmulas provam o amor de Deus pelas suas criaturas e são meios para
provocar da alma uma resposta de amor. Brou nos diz que Santo Inácio fala nas “Constituições”
259 vezes sobre a Maior Glória de Deus. Para São Francisco de Sales pode-se afirmar que ele
substituiu “Caridade” por “Maior Glória de Deus”.
Sempre foi o grande apaixonado: “quando estava em Pádua estudava Direito para agradar a meu
pai e para me agradar estudava Teologia. Sua maior paixão foi ser o grande enamorado de Deus.


4.6 Não escolher, mas deixar que Deus escolha
Neste particular São Francisco de Sales colocava o dever como sinal incontestável da vontade
Deus. Dom Bosco insistia muito sobre este aspecto da vida religiosa, com Domingos Sávio e
com todos os jovens por ele dirigidos espiritualmente. Aceitar a obrigação como algo que vem da
vontade de Deus, faz-nos indiferentes a tudo o mais. Às vezes cumprir uma obediência, pelo
menos inicialmente, é como correr sobre brasas.


4.7 Indiferença
A obediência vista na ótica de São Francisco e podemos dizer na de Dom Bosco pode conduzir a
uma heróica indiferença.


                            «Se amo somente o meu Salvador, porque do mesmo modo não amarei o Calvário e o
                            Tabor, dado que é sempre Ele que se encontra, tanto em um como no outro? E por que
                            não deverei dizer com igual amor, tanto no Calvário como no Tabor: é bom estarmos
                            aqui?»

Não fica por aqui a típica indiferença de Francisco:


                            «Se desejo somente água pura, que me importa que me seja entregue em uma taça de
                            ouro, ou em um copo se, de qualquer modo quero somente água? “Pelo contrário,
                            preferirei num copo, porque não tem outra cor senão aquela da água que, em tal caso,
                            vejo também melhor.»57



4.8 Ser você mesmo
Este é outro ponto de insistência da espiritualidade franciscana. Devemos ser aquilo que Deus
quer que sejamos. Como Dom Bosco os santos de nossos dias procuram seguir os passos de São
Francisco. Vejamos os que nos dizem dois Papas que conhecemos:
João XXIII, grande devoto de São Francisco de Sales, escreveu durante um retiro espiritual:
hoje, não devo desejar o aquilo não sou, mas de ser muito bem o que sou. E em outro discurso:
57
     Carta III a Bassura.


                                                        27
«Se devesse ser como ele, não me aconteceria nada, mesmo quando me fizessem Papa...
                              “Minha vida, o Senhor me diz, deve ser uma cópia perfeita da de São Francisco de Sales,
                              se quer ser fecunda em alguma coisa boa.»58



Outro Pontífice de muita intimidade e familiaridade com a doutrina do Sales foi João Paulo I.
Inspirou-se e moldou sua ação pastoral nos escritos e discursos.


                              «Se os políticos vos escutassem! Eles medem a própria ação pelo sucesso. Conseguem?
                              Tudo bem. Para vós, a ação deve valer também se não chegou a ter sucesso, se feita por
                              amor de Deus. O mérito da cruz carrega, não é o seu peso, mas o modo pelo qual é
                              carregada.»



4.9 Descomplicador do caminho espiritual
Deixar-se guiar pelo amor, este é o segredo de Francisco. Tudo então se simplifica. Não gostava
de problemáticas complicadas e por vezes inúteis. Olhava com certa compaixão para as almas
que se deixavam enredar por semelhantes caminhos. Coitados! Angustiam-se procurando a arte
de amar a Deus e não sabem que não há outra, senão a de amá-Lo. Falando desta problemática,
chega a ser até um tanto satírico: Torturam-se tanto, pensando como fazê-lo que não têm mais
tempo de fazer nada.
J. Auman
Antes de morrer deixou às suas irmãs um convite em sete palavras que podem ser o resumo de
toda sua espiritualidade: Fazei tudo por amor e não por obrigação.
No Oratório de São Francisco de Sales, em Valdocco, a santidade consistia na alegria, em
viverem sempre alegres. Havia até a mesmo a Sociedade da Alegria, fundada por Dom Bosco e
seus colegas seminaristas, quando estudavam no Seminário de Chieri.


4.10 O Tratado do amor de Deus (Teótimo)


Um dos livros mais lidos em seu tempo e que teve inúmeras edições. Nos primeiros anos uma
por ano. Na obra ele fala do fogo que lhe queima por dentro. Muito recatado, por vezes recorre a
artimanhas literárias, evitando falar de si mesmo. Eis um exemplo:




5
58
     Il giornale dell’anima


                                                           28
«Vimos uma alma agarrada fortemente ao seu Deus, todavia tinha o intelecto e a
                          memória tão livres de qualquer ocupação interior, que percebia muito claramente o que se
                          dizia ao seu redor e lembrasse completamente, embora lhe fosse impossível responder e
                          separar-se de Deus, ao qual estava unida por adesão de sua vontade. De tal modo unida,
                          digo, que não podia ser tolhida daquela doce ocupação, sem experimentar uma grande
                          dor que provocava lamentos, ainda mais intensos se vinha ininterrupta no ápice de sua
                          consolação e quietude».

Em sua simplicidade e ao mesmo tempo sabedoria considera esta sua obra de tal modo acessível
a todos que seria, segundo ele, como uma carta enviada aos amigos.
Eis os termos com que escreve ao amigo duque Roger de Bellegarde:


                          «Mando-lhe o livro do Amor de Deus, ninguém o viu ainda. Se em algum momento a
                          consideração que tem por mim, dá-lhe vontade de receber uma minha carta, tome este
                          tratado e leia um capítulo.»59




                 5. Dom Bosco, São Francisco de Sales e ( a Família Salesiana) os Salesianos


A figura e a obra de um grande teólogo espiritual contemplada por Dom Bosco em São Francisco
de Sales impressionaram menos que a vida cotidiana do apóstolo, plena de caridade e bondade.
Foi esta faceta do santo saboiano que conquistou o santo piemontês e fez com que ele decidisse
seguir os seus passos.
Na primeira Missa do filho de Margarida ele formulou dez propósitos. No quarto ele escrevia: a ,
a caridade, a bondade e a doçura de São Francisco de Sales guiem-me em tudo. O sonho de
188360, traz uma sugestão para o missionários: com a doçura de São Francisco de Sales, os
salesianos atrairão a Jesus Cristo os povos da América.
Entre as oito bem-aventuranças da Família Salesiana de Dom Bosco uma nos diz que sejamos
dóceis, mansos: bem-aventurados os mansos. É através desta virtude que conquistaremos os
corações e os educaremos. Educação, obra que nasce no coração.
Por que o pregador de Nazaré conquistou e continua conquistando tantos corações nos quatro
quadrantes do orbe? Porque era manso e humilde de coração (Cfr. Mt. 11, 29).

59
  16 de Agosto de 1616.
60
  É o ano em que os Salesianos chegaram ao Brasil e fundaram sua primeira Comunidade em nossa terra, o Colégio
Santa Rosa, na cidade de Niterói, em 14 de julho de 1883. O primeiro diretor foi o Pe. Miguel Borghino. Certamente
Dom Bosco, então com 60 anos, estava preocupado com o êxito daquela missão e pedia ao santo da bondade que
intercedesse pelos seus missionários do Brasil.


                                                       29
A mansidão, a doçura não pode ser confundida com fraqueza ou covardia. É coragem, firmeza
capazes de enfrentar as violências e truculências de um mundo hostil e insensível. Sem iras nem
rancores, mas com modos pacíficos, com benignidade e amabilidade. Desde o sonho dos nove
anos que Dom Bosco assumiu esta atitude, aceitando o conselho da Senhora que lhe apareceu
naquela noite: não com maus tratos, mas com caridade, com amor deverás conquistar estes teus
amigos. A violência é a mãe da violência. A amabilidade, a doçura vence a maldade. Só assim se
construirá no mundo uma civilização do amor.
Não se pense que a doçura era um dom natural de Dom Bosco. No sonho dos nove anos ele nos
diz que acordou com os punhos doloridos pelos murros que deu nos jovens blasfemadores. Em
Chieri, nos primeiros anos de seminarista era tido como o mais colérico dos alunos.61
Paulatinamente e com muita vontade iniciou um árduo trabalho de renovação. Nesta conversão
muito ajudaram as pregações que no Seminário ouvia sobre S. Francisco de Sales, sobretudo as
do dia 29 de janeiro de cada ano, quando da celebração da festa do Santo saboiano. Já falamos
sobre seu propósito no dia da ordenação, quando escreveu que a caridade e a doçura de São
Francisco de Sales deveriam orientá-lo em todas as suas atitudes. Nota-se este seu
comportamento, de modo especial ao tratar com os jovens.
Dom Bosco nas Memórias do Oratório fez questão de explicar porque preferiu que São
Francisco de Sales fosse patrono e modelo de sua obra. No incipiente e humilde Oratório de
1884 seus meninos se reuniam diante de um quadro de São Francisco de Sales. A primeira
Capela do Oratório e posteriormente o próprio Oratório receberam o título de São Francisco de
Sales.
Dom Bosco apresenta ainda outro motivo para esta sua escolha:


                            «Por causa do nosso ministério, exigindo grande calma e mansidão, colocamo-nos sobre
                            a proteção deste grande Santo, a fim de que nos obtivesse de Deus a graça de poder imitá-
                            lo na sua extraordinária mansidão e na conquista das almas.»



Mais tarde62, possivelmente com os problemas pastorais criados pela atuação dos protestantes
valdenses e com reflexos perigosos para a fé popular, Dom Bosco acrescenta mais uma razão
para seguir o apóstolo de Chablai. A atuação firme e ao mesmo tempo fraterna e bondosa de
Francisco de Sales no combate à heresia valdense motivou ainda mais Dom Bosco a imitar o
santo em seu trabalho apostólico de Turim.




61
     Cf. F. Desramaut, Don Bosco em son temps, 120.
62
     Possivelmente entre 1848 e 1850.


                                                         30
«Outra razão era a de colocar-me sob a proteção deste santo, a fim de que do céu nos
                        ajudasse no combate aos erros contra a religião especialmente o protestantismo, que
                        insidioso, começava a insinuar-se nas nossas vilas e especialmente na cidade de Turim.»63



Os títulos de São Francisco de Sales ou Salesianos, Salesianas, através de Dom Bosco haveriam
eternizasse-iam pelo mundo afora através de Dom Bosco, dos Salesianos e suas obras:
      •   Sua primeira obra, o Oratório chamou-se de São Francisco de Sales;
      •   O Oratório de Valdocco, Casa Mãe em Turim, levou o nome de São Francisco de Sales;
      •   Em 1859, a sociedade religiosa fundada por Dom Bosco é denominada Sociedade de São
          Francisco de Sales;
      •   O patrono da Congregação de Dom Bosco é São Francisco de Sales;
      •   Os religiosos da Sociedade de São Francisco de Sales serão chamados Salesianos, em
          homenagem a Francisco de Sales, e, não Bosquianos, de João Bosco;
      •   As religiosas da segunda Congregação fundada por Dom Bosco e Madre Mazzarello, as
          Filhas de Maria Auxiliadora, são também conhecidas por Salesianas;
      •   Ao correr do tempo foram surgindo os vários grupos que formam a Família Salesiana de
          Dom Bosco (Salesianos Cooperadores, Cooperadoras Salesianas, Salesianos externos,
          Associação das Damas Salesianas);
      •   Nossos ex-alunos ou ex-alunas são: ex-alunos salesianos, ex-alunas salesianas.
Hoje todos esses grupos continuam a encontrar e imitar em São Francisco de Sales uma
espiritualidade do quotidiano, da alegria e do otimismo. Uma casa salesiana sem estes
componentes: alegria, bondade, otimismo não é verdadeiramente uma casa salesiana.
O Capítulo Geral XXIV estabelece que “o Conselho Geral promova e apóie outras...experiências
e escolas para a formação de formadores...Seja dada atenção particular à espiritualidade de
Francisco de Sales”. 64
Por que esta preocupação da Assembléia Geral da Congregação Salesiana? Os padres capitulares
bem sabiam que foi a espiritualidade do missionário da Sabóia que delineou o coração de Dom
Bosco, através da tradução prática que ele fez daquela espiritualidade e que posteriormente
alimentou nossa formação. As nossas Constituição nos lembram:


                        «O salesiano, inspirando-se no humanismo de São Francisco de Sales acredita nas
                        riquezas materiais e sobrenaturais do homem, embora não lhe ignorando a fraqueza.»




63
     MO 133.
64
     N. 148.


                                                     31
O patrimônio típico do salesiano é, portanto a bondade, a doçura e o otimismo. Diz-se que S. F.
   de Sales era tão bom que causava admiração em quem dele se aproximava. Certa feita, alguém
   que o conheceu exclamou: se um homem é tão bom, como não será a bondade de Deus!


5.1 Amizade cultivada por S. F. de Sales, uma prática constante em Valdocco
   Como vimos, a caridade foi uma das características mais apreciadas e mais cultivadas pelo santo
   do Chablay, durante toda a sua vida.
   O sistema posto em prática por Dom Bosco no Oratório tem a amizade como ponto essencial:
   sou teu amigo, considera-me sempre um teu amigo, dizia aos seus jovens.
5.2 A bondade
   Ele a via como uma espécie de primado entre as demais virtudes. Eis o que escreveu a respeito:


                           «É um fato real: não existe ninguém no mundo, pelo menos penso, que goste mais
                           cordialmente, mais ternamente e com um amor maior que o meu. E foi Deus que me deu
                           um coração assim.»



   Vemos este primado da bondade em relação aos jovens também em Dom Bosco. Suas palavras
   são quase as mesmas ditas por S. Francisco. “Podeis encontrar alguém mais inteligente que eu,
   mas não encontrareis ninguém que vos ame mais que eu”.
   Nota-se esta atitude de São Francisco também com relação ao mundo. Sua intenção é conquistá-
   lo com a bondade. Preocupado com a situação em seu tempo escrevia em 1620:



                   «O mundo está se tornando tão delicado, que daqui para frente, não se ousará tocá-lo a não ser
                   com luvas de veludo e suas chagas não poderão ser curadas senão com delicadeza. Mas, que
                   importa, para que os homens sejam curados e por fim salvos!»



   Pe. Pascoal Liberatore, ex-procurador salesiano das causas de nossos santos, comentando este
   trecho diz: “quanta sensibilidade hoderna e quanto espirito ecumênico nesta sua postura! É toda
   uma bondade dirigida para Deus, com a finalidade de se fazer com que Ele seja amado e nao de
   uma maneira comum, mas de um amor dirigido à santidade”.



   5.2 Santidade




                                                         32
São Francisco de Sales, como todos os santos fundadores de uma nova espiritualidade, traçou seu
caminho próprio de santidade. Dom Bosco o assumiu e deu-lhe novos contornos, determinados
traços. Um dos elementos adotados pelo santo piemontês, embora muito conhecido por nós, vale
ser recordado. Neste capítulo colocaremos alguns trabalhos e seus autores, considerados como
fontes enriquecedoras de contribuição para nossa Sociedade



                   6. Outras fontes


                       1. Francis Desramaut

a) Les Memorie I (Étude d’um ouvrage fondamental sur La jeunesse de Saint Jean Bosco).

De Giovanni Battista Lemoyne. Maison D’Étude Sanint-Jean – BOSCO

47. chemin de Fontanières LYON (5e), 1962.

Este trabalho, segundo o próprio autor, é de fundamental importância para se conhecer a
juventude de São João Bosco.

O estudante curioso e amante da história, ao entrar em uma biblioteca de nossas comunidades
salesianas, logo é atraído para os volumosos testos intitulados: Memórias biográficas de Dom
Bosco. E se ele se tornar salesiano esses tomos irão lhe acompanhar por toda sua vida.

O estudo de Desramaut intitula-se: As Memórias I. precisamente este era o titulo do primeiro
tomo que se transformou nos volumes atuais, durante a evolução das causas de beatificação e
canonização.



O conjunto da obra

1 - As Memórias I.

Título do primeiro tomo: Memorie Biografiche di Don Giovanni Bosco raccolte dal Sac.
Salelsiao Giovanni Battista Lemoyne, vol. I, San Bennigno Canavese, 1898.

Com a evolução das causas da beatificação e canonização de Dom Bosco este primeiro tomo se
transformou nos 19 volumes atuais,

As Memórias Biográficas têm precisamente 16.121 páginas, sem contarmos com o Índice
analítico, o vol. XX com mais 620.65
65
     Cf. Lês Memorie I de Giovanni Battista Lemoyne, par Francis DESRAMAUT, S.D.B, p, 1 nota 2.


                                                       33
Vejamos como ficou a modificação do titulo primitivo, durante a evolução da causa de
canonização de Dom Bosco.

   1. Memorie Biografiche Del Venerabile Servo di Dio Don Giovanni Bosco..., vo.l VI, 1907.

   2. Memorie Biografiche del Venerable Don Giovanni Bosco..., vo.l VII, 1909.

   3. Memorie Biografiche del Beato Giovanni Bosco..., vol. XI, 1930.

   4. Memorie Biografiche di San Giovanni Bosco, vol. XVI, 1935.

Em 1939, veio a lume o X volume. Três autores: João Batista Lemoyne, A. Amadei e E. Foglio
assumiram a tarefa de narrar por partes, a vida de Dom Bosco, através dos anos.

          G. B. Lemoyne         I         1815 - 1841, S. Benigno, 1898, XXIV
                 532 p.

          •         id              II       1841 – 1847, S. Benigno, 1901, XII         594 p.

          •         id              III      1847 – 1850, S. Benigno, 1903, VIII        661 p.

          •         id              IV       1850 – 1853, S. Benigno, 1904,             766 p.

          •         id              V        1854 – 1857, S. Benigno, 1905,             953 p.

          •         id              VI       1858 – 1861, S. Benigno, 1907,            1102 p.

          •         id              VII      1862 – 1864, S. Benigno, 1909,             931 p.

          •         id              VIII     1865 – 1867, Turim,      1912,            1110 p.

          •         id              IX       1869 – 1871, Turim,      1917,            1032 p.

          G. B. Lemoyne, A. Amadei, E. Ceria

          •         id              X        1871 – 1874, Turim,        1939,     VI    1384
              p.

          •         id              XI       1875.         Turim,       1930,              623
              p.

          •         id              XII      1876          Turim         1931,             711
              p.

          •        id               XIII     1877 – 1878     Turim        1932,         1018
              p.

          •        id               XIV      1879 – 1880      Turim       1933,            855
              p.


                                               34
•          id                  XV       1881 – 1882.........Turim           1934,                871
                 p.

             •          id                  XVI      1883                   Turim        1935,                731
                 p.

             •          id                  XVII 1884 – 1885                 Turim       1936,                967
                 p.

             •          id                  XVIII 1886 – 1888                Turim       1937,                884
                 p.

             •          id                  XIX      1888 – 1938              Turim      1939,                456
                 p.

Em 1948, saiu em Turim o XX volume com 620 páginas, preparado por E. Foglio.66



b) Don Bosco e la vita Spirituale.67 (Francis Desramaux, incaricato presso le Facoltà cattoliche di
Lione).

O autor nas primeiras linhas da introdução esclarece que o livro “nasceu do desejo de esclarecer
e ambientar o pensamento religioso de um santo do século XIX, santo quase nosso
contemporâneo”. O trabalho se inicia com a descrição das convicções fundamentais de Dom
Bosco sobre no campo espiritual. Divide-se em sete capítulos e uma conclusão.



Capítulo I – Dom Bosco no seu século68



      •    A formação clerical em um ambiente antes rigorista, depois ligoriano

     O jovem Bosco inicialmente pensou entrar nos Franciscanos, chegando mesmo a ser
     postulante na Ordem. Convencido de que não era seu caminho, em Novembro de 1835
     ingressa no Seminário de Chieri. Ali dominava o espírito do séc. XVIII, rigorista ou mesmo
     jansenista orientado mais à piedade do que à ciência. Reinava a mentalidade probabiliorista,
     sob a influência da Universidade de Turim, de orientação tomística.


66
   Idem, op. cit. p. 19,20.
67
   Título original: Don Bosco et la vie spirituelle. Beauchesne,Paris, 1967. Tradução: Luigi Motatto – Dino
Donadoni a cura del CENTRO CATECHISTICO SALESIANO di Torino-Leuman.
68
   De cada título apresento apenas alguns sub-títulos que julguei mais pertinentes.


                                                        35
Em 1817, o teólogo Luiz Guala funda em Turim o Convitto, cuja finalidade era a formação
     pastoral do jovem clero. Sua atuação era bem diferente do que reinava em Chieri, o
     benignismo substituía o rigorismo. Os jesuítas com o teólogo Guala à frente, difundiam o
     espírito que reinava então na Itália: «a ascética inaciana, luta aberta contra o jansenismo e o
     regalismo, devoção sincera e terna ao Sagrado Coração, a Nossa Senhora e ao Papa,
     freqüência aos Sacramentos»69 O Convitto moldou Dom Bosco nos seus três primeiros anos
     de sacerdócio (ordenado em 5 de junho de 1841). Ali “aprendeu a ser padre”, o que não
     aconteceu suficientemente no Seminário de Chieri, segundo ele.

      •    O apostolado citadino entre os jovens abandonados

     Ao concluir os estudos estava com 29 anos. Conservará em sua vida certas características ded
     sua doutrina e s eu espírito.



                        «Ele será sempre liguoriano (...) sem renegar completamente o Deus severo da sua
                        juventude. Combinará o humanismo, que lhe era conatural, com o sentido da fraqueza
                        extrema da criatura, do domínio de Satanás sobre o mundo e da atração da concupiscência
                        sobre o homem»70



     Não obstante, a vida e as experiências pessoais lhe trarão mudanças, o sentido de Igreja, se
     afirmará sua confiança na ação santificadora, sua piedade sacramental.

      •    A luta contra os Valdenses.

     Os Valdenses conquistavam muitos adeptos, sobretudo no meio popular71. Suas ações eram
     facilitadas pela igualdade de direitos e pela liberdade de imprensa.

     Dom Bosco contra atacou em 1850, com Avisos aos Católicos. A aceitação foi muito boa.
     Em dois meses foram divulgados mais de duzentos mil exemplares.72 Em 1853 a ofensiva foi
     realizada através das Leituras Católicas, que eram uma resposta às publicações dos Valdeses
     Leituras Evangélicas. Dom Bosco foi visitado, ameaçado, provocado pelos adversários,
     sofreu atentados. Não cedeu, pelo contrário, contra atacou.

      •    As fontes de Dom Bosco.

     Dom Bosco, muito embora fosse um homem de ação, tinha uma biblioteca bastante boa.
69
   Cf. Fancis DESRAMAUT, Don Bosco e la vita spirituale. Elle Di Ci, Torino-Leuman, p.21.
70
   Idem. Don Bosco e la vita... p. 23.
71
   De acordo com as estatísticas em 1848 dois quintos dos turineses não sabiam ler nem escrever (MO, 241).
72
   MO, 241.


                                                       36
«Poder-se-ia discutir bastante sobre sua cultura bíblica – que não se pode esquecer, até
                           porque escreveu uma História Sagrada -, patrística – obtida sempre em segunda mão,
                           parece, - ou histórica – Causa os Acta sanctorum e os Annales do Barônio.»73


               Seguindo Desramaut citemos apenas alguma obra ou mestres de espírito que
               influenciaram nosso fundador na formação de seu pensamento e elaboração de sua obra:
           •    Imitação de Cristo. Don Céria nos diz que Dom Bosco meditava alguns de seus
                versículos antes de repousar à noite.
           •    São Felipe Néri, São Francisco de Sales, Santo Inácio, embora indiretamente, através
                dos jesuítas da Itália. Uma de suas leituras no Seminário era o livro o Cristão
                prevenido de Paulo Segneri (1624-1694), jesuíta. A tradição espiritual de Diessbach,
                jesuíta, deixou-lhe fortes marcas na formação de seu pensamento. O superior da casa
                dos Jesuítas em Turim, Pe. Secondo Franco (1817-1893) “devia fornecer-lhe três títulos
                das suas Leituras Católicas”. Ceria relata que o Pe. Secondo participava e usava da
                palavra nas reuniões plenárias do primeiro Capítulo dos salesianos. A vida de São Luiz
                Gonzaga, resumida e comentada por Dom Bosco seria o canal para o contato com a
                espiritualidade de Santo Inácio.
           •    Na lista dos que influenciam nosso santo estão ainda São Carlos Borromeu (1538-1584)
                e São Vicente de Paulo (1518-1660). Muito importante é a influencia espiritual de
                Santo Alfonso de Liguori, explicado pelo professor Cafasso enquanto Dom Bosco
                estudava no Convitto.


           •    Dom Bosco no novo Estado Italiano.

       Hábil diplomata Dom Bosco fio um elo de valor entre o Governo italiano e a Santa Sé.Em
       dois momentos sobretudo ele exerceu sua atividade: na nomeação dos Bispos para as Sedes
       vacantes e nas provisões dos bens temporais das mesmas.



       Capítulo II – O Caminho da Vida
       •       Uma antropologia muito simples até porque não era um teólogo.

       Os problemas mais importantes em matéria espiritual Dom Bosco os abordava do modo mais
       simples. Escrevendo um livro também de espiritualidade para os jovens, O jovem instruído
       ele fala de Deus, do homem e do seu destino.
       •       A maravilhosa natureza humana.



73
     F. DESRAMAUT. Don Bosco e ..., p. 34.


                                                           37
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Salesian founts2 2

  • 1. ESTUDO DAS FONTES SALESIANAS Uma leitura histórico-crítica Introdução Fonte não pode ser algo que encerra um conteúdo positivo ou negativo ou uma realidade onde posso abeberar-me, enriquecer-me de conhecimentos, experiências e mensagens de quem viveu antes de mim. Significa ainda: princípio, causa, testo original de uma obra. Fonte é ainda tudo o que deu origem, que forma o arcabouço, o patrimônio científico, pedagógico, espiritual de uma Instituição. Neste aspecto, ao estudarmos as fontes da Congregação salesiana colocamos em primeiro plano o fundador da Sociedade, Dom Bosco, com sua vida e seus escritos.Nosso trabalho apresentará genérica e não exclusivamente as seguintes fontes que formam hoje o patrimônio pedagógico- espiritual dos Salesianos: 1. A vida do fundador. 2. Sua produção escrita. 3. O patrono da Sociedade: São Francisco de Sales “pastor zeloso e doutor da caridade”.1 4. Suas Memórias Biográficas. 5. Os Arquivos, como o Arquivo Central da Casa Geral de Roma, onde se encontram milhões de documentos, recolhidos em todo o mundo sobre a Sociedade Salesiana. 6. Os salesianos passados e presentes que construíram ou constroem uma memória e uma tradição, à medida que os tempos vão se sucedendo. 7. Os Monumentos referentes ao fundador ou à história da Fundação. 1. DOM BOSCO (1815-1888) Entre as diversas e multiformes fontes, que nos oferecem abundantes e ricos conhecimentos sobre a história primitiva ou atual da Congregação dos Salesianos/as estão sem dúvida os fatos ocorridos com o próprio D. Bosco, durante seus setenta e três anos de existência. Por ser um marco fundamental de sua vida e sua obra falaremos desde logo de três episódios fundamentais 1 Const. 9. 1
  • 2. para o entendimento da vida espiritual e apostólica de Dom Bosco, o sonho dos “nove anos”, o encontro com Bartolomeu Garelli e a Carta de Roma. 1.1 O sonho dos nove anos2 Na biografia de João Melchior Bosco narram-se uma série de sonhos. O primeiro destes fenômenos aconteceu quando ele era ainda uma criança. Tinha nove anos e se encontra em meio a diversos meninos que riam e blasfemavam. Ouvindo as blasfêmias ele parte para a luta corporal com eles, tentando fazer com que se calassem. Naquele momento aparece um homem bem vestido e de rosto resplandecente, que ao observar a pancadaria, aproxima-se de Bosco e lhe diz que não era com pancadas, mas com mansidão e carinho que ele conseguiria conquistar aqueles jovens para seus amigos. Há discussões se estes acontecimentos seriam realmente sonhos ou visões. Dom Bosco mesmo não nos deixou muito clara a idéia de ter compreendido plenamente o valor daqueles eventos. Não obstante, aquele sonho ficou profundamente gravado em sua mente, durante toda a sua vida. Não pode deixar de dar-lhes atenção, sobretudo porque em certas ocasiões funcionaram como premonição chamando atenção sobre a morte próxima de algum aluno ou salesiano. O carinho, a caridade e a mansidão apresentados pelo homem venerando e de aspecto varonil, personagem do sonho dos nove anos foi aceito por D. Bosco como um dos tripés da práxis pedagógica, de seu Sistema Preventivo. A Senhora majestosa e resplandecente que juntamente com a figura masculina apareceu naquele sonho-visão tornou-se a conselheira diuturna, a Mãe e Mestra da obra bosquiana em favor dos jovens. Ela “indicou a Dom Bosco seu campo de ação entre os jovens e constantemente o guiou e sustentou3, sobretudo na fundação da nossa Sociedade.4 1.2 Bartolomeu Garelli, o Oratório e a Congregação Salesiana Outro marco indelével e fundamental de sua vida apostólica está no encontro com o jovem camponês analfabeto, Bartolomeu Garelli. O diálogo aconteceu na sacristia da Igreja de São Francisco de Sales em Turim, aos oito de dezembro de 1841. Celebrava-se então a festa da Imaculada Conceição. Naquela data e naquela sacristia nascia o primeiro Oratório Salesiano, hoje difundido por todo o mundo pelos filhos do amigo dos jovens. 2 Vide ANEXO II 3 Const. 8. 4 Idem. 2
  • 3. Após a Missa, D. Bosco realizou a primeira reunião de sua futura Sociedade religiosa. Começou com uma Ave Maria e um jovem que aos 16 anos não sabia ainda fazer o sinal da Cruz.5 Os salesianos consideram o encontro com Garelli como o início da Sociedade. Ali plantava a pedra fundamental da Congregação dos jovens. Com uma prece à Auxiliadora o santo piemontês dava início ao «movimento de pessoas que de vários modos trabalhariam para a salvação da juventude».6 Uma sacristia tornava-se o símbolo da pesca milagrosa das águas da Galiléia. Dois Mestres, o de Simão e o de Bartolomeu (Garelli). Ambos precisariam de colaboradores. Assim o foi no episódio das águas do Tiberíades, assim seria na sacristia turinesa, imagem e início do mar bosquiano. O Oratório, lugar catequético de D. Bosco, instrumento de salvação da juventude, continua sendo um abrigo para todos aqueles que hoje, como em 1841, vivem nas ruas, praças, botecos, pontes, canteiros de obras ou em cárceres.7 É ainda a casa que acolhe, o refúgio daqueles que procuram uma «sacristia», onde deverão encontrar um padre amigo e não um sacristão violento e mal humorado. O Oratório salesiano consolida-se em 1842, acolhendo inicialmente só os jovens mais perigosos, especialmente os saídos das prisões. Embora existissem entre eles também rapazes de boa conduta e instruídos. Os trabalhos eu executavam consistia em ajudar na disciplina e na moralidade, nas leituras e cânticos das funções litúrgicas.8 Chamavam-se os “maestrini”, pequenos mestres e deveriam mais tarde, integrar o «grupo de estudantes» de onde surgiriam colaboradores mais preparados. À medida que os freqüentadores do Oratório iam crescendo, fazia-se necessário criar um corpo de normas administrativas e disciplinares, a fim de que o grupo não fosse um aglomerado sem ordem, indisciplinado. D. Bosco começou assim a preparar um Regulamento para aqueles jovens. Consultou diversos outros Regulamentos de Oratórios como As Regras do Oratório de S. Luís, de Milão e As Regras para os Filhos do Oratório. 5 João Bosco, Memórias do Oratório:1815-1855, São Paulo, Editora Salesiana, 1982, p. 18ss. 6 Const. 1 e 5. 7 As Memórias Biográficas falam das “pescas” de D. Bosco a esses lugares, onde sabia que iria encontrar jovens, famintos e abandonados. MB XVIII, p, 258. Const. 1. f Alguns Oratórios da época: Oratório do Anjo da Guarda, fundado em Turim, pelo P. João Cocchi (1813-1895) O famoso Oratório de Valdocco ou S. Francisco de Sales (ou ainda D. Bosco) Fundado em 1847, encontramos no Bairro de Porta Nova, O. de S. Luiz Gonzaga. Ainda em Turim, em 1851, P. Cocchi abre O. de S. Martinho, no bairro de Porta Palazzo. Este Oratório estava a 50 metros do O. de S. Francisco de Sales. P. Cocchi, apadrinhado pela Marquesa Barolo, não se afinava muito com D. Bosco que jamais quis saber de suas idéias políticas. A insistência de Cocchi em formar uma sociedade com D. Bosco também não era aceita por este. O local escolhido para a fundação do S. Martinho poderia ser uma provocação, uma prova de força do grupo de Cocchi. São coisas de nossa Igreja também formada por homens. Deus deve rir muito de nossas bobagens… Em Brescia havia o Oratório do Pe. Ludovico Pavoni (1774-1849) Algumas cidades francesas, como Marselha apresentavam os Oratórios fundados pelo sacerdote Jean-Joseph Allemand (1772-1836), chamado também “l`apôtre de la jeunesse”. Os Oratório de Milão. Por130 km de Turim, volta de 1850 eram 15, alguns com mais de um século de fundados (Cf. Pietro STELLA. Storia della Religiosità Catolica , pg., 106, nota 15). zendo de tudo, menos coisas louváveis. Lembram-nos ainda aquelas fontes as astúcias, perigos e perseguições de que várias vezes foi alvo pelo fato de ser amigo dos jovens (Cf. MB III, 52ss e 392ss). 8 Os primeiros Oratorianos em geral eram escultores, pedreiros, assentadores de ladrilhos, estucadores. Trabalhavam nas obras de Turim. A partir de 1842, o setor construção começou a apresentar grande surto na cidade. 3
  • 4. Um dos cuidados principais era deixar claro o objetivo de seu trabalho educativo com a juventude.9 Tratava-se do início da sistematização do organismo que iria ser a sua Congregação, uma “Sociedade que não nasceu de simples projeto humano, mas por iniciativa de Deus”.10 1.3 A Carta de Roma11 (10 de maio de 1884)12 Estamos na Primavera de 1884. Dom Bosco está em Roma preocupado com diversos problemas: • A construção da Igreja do Sagrado Coração (próxima à grande Estação Termini) exige grandes somas que ele tem que conseguir através de pedidos e doações; • O pensamento de conseguir um Estatuto jurídico para sua Congregação não lhe sai da mente. • Uma de suas grandes preocupações era também o desejo de estabilizar e dar unidade às sua obras e concretizar o estilo de educação, próprio de seu sistema preventivo. • Todas estas dificuldade parecem aumentar, e ele o sabe e sente, face ao crescente estado de debilidade de sua saúde. É nesta atmosfera que vem a lume a Carta de Roma escrita aos jovens e educadores de Valdocco, a quem ele chama de Caríssimos filhos em Jesus Cristo. Figuras de proa da Congregação, como Don Álbera e Pietro Stella referiram-se a este documento afirmando que é “o comentário mais autêntico do Sistema Preventivo” (Dom Álbera); e P. Stella escreveu que “o seu conteúdo é de se considerar como um dos mais ricos documentos pedagógicos de Dom Bosco”. Ao refletirmos sobre o hino da caridade, composto por S. Paulo13 e a Carta de Roma, creio que não estaremos equivocados se dissermos como Gianni Ghiglione que Dom Bosco fez quase um comentário perfeitamente educativo ao hino de S. Paulo. Para Aubry a Carta é como um testamento. Deve ser encarado com seriedade, pois o que um testamento pede deve ser cumprido. Pe. Bartolomeu Fascie, quando Conselheiro escolástico, em uma apresentação sobre o texto escrevia: «O senhor nos dê a graça de lê-la com filial e devota atenção para extrair dela aquele fruto de verdadeira caridade que é alma e vida do Sistema preventivo».14 1.3.1 O sentimento de paternidade na Carta de Roma Amar e ser amado são dos sentimentos mais nobres do coração do homem: materializados na paternidade e na filiação. Não faz muito houve quem tentasse eliminar estas características existentes entre filiação e paternidade. Freud anunciou “a morte do pai”, procurando anular desautorizar a autoridade: • O pai cultural>os professores; • O pai político> a coronelança, triste fenômeno ainda hoje encontradiço no Brasil; • O pai capitalista> os patrões; 9 MB III, 86 - 92. 10 Const. 1 11 Vide ANEXO I. 12 Este comentário baseia-se em Don Gianni GHIGLIONE, Lettera da Roma 10 maggio 1884. 13 1 Cor, 13. 14 Cf. G. GHIGLIONE, Lettera da Roma..., p. 4. 4
  • 5. O pai biológico> os genitores; • O pai religioso> os padres; • O Pai de todos os pais>Deus. A missiva de Dom Bosco trata de um tema que hoje se tenta renovar, reconquistar. E também neste ponto está sua atualidade. Os nossos tempos procuram redescobrir a figura paterna, sente- se a necessidade de sua presença, da figura paterna. Muito embora tantos genitores vivam separados, ou por motivos vários (emprego, viagens de negócio etc.) se encontrem com os filhos apenas nos finais de semana; não obstante, o pai de nossos dias não é mais visto como alguém a ser removido do caminho dos filhos e sim uma figura necessário para a formação e educação da prole. Alguém vizinho ao filho em quem ele confie, imite, tenha como um ídolo. Não se pode negar que uma das características da personalidade de Dom Bosco era precisamente a paternidade. Pode-se afirmar que era uma de suas originalidades. Parece até que a perda do pai aos dois anos veio reforçar este sentimento, tão explícito e notório que a Igreja o chama de Pai e Mestre dos jovens. Sua bondade paterna não pode ser separada de seu estilo educativo. O educador dos jovens de Turim soube ser para eles um pai bondoso, terno e ao mesmo tempo firme. Corrigia-os amando-os com um ilimitado sentido de responsabilidade e dedicação. Não se cansava de estar com eles, não reclamava. Estava sempre alegre mesmo quando sua enorme resistência ao trabalho, encontrava-se combalida pela enfermidade. Somente se ausentou fisicamente dos seus jovens quando por eles deu seu último suspiro. Amou-os até o fim, seguindo o exemplo do mártir do Gólgota de quem foi perfeito imitador. Basta que sejais jovens para que eu vos ame. 1.3.2 Chamai-me sempre pai e eu serei feliz Toda paternidade no céu e na terra vem do Pai.15 A vida de Dom Bosco e sua Carta romana mostram uma sensibilidade que não é simplesmente uma característica da bondade humana. Sua maneira de ser e agir era fruto do convencimento de que só através do amor paterno aos jovens ele poderia conquistá-los para o verdadeiro Pai, fonte de toda paternidade no céu e na terra. Vejamos o que nos diz o Padre Aubry que intuiu no educador de Valdocco duas paternidades: «Dom Bosco me aparece assim: um padre educador, cujo coração se anima dos sentimentos e das dedicações de um verdadeiro pai de família da terra; mas também dos mesmos sentimentos de Deus Pai. Estamos aqui em um dos pontos mais claros da figura também espiritual de Dom Bosco, talvez ao centro de sua santidade pessoal como também de seu êxito educativo. Nele vida espiritual e método educativo fazem parte de um só e mesmo movimento do coração e da vida. Se esta paternidade ativa é autêntica e plena, só imitando e prolongando a paternidade infinita de Deus, exige que o educador se mantenha em contacto com aquele Pai supremo, que conheça os costumes do seu coração infinitamente paterno e deixe o Coração divino difundir alguma coisa deste amor no seu coração para fazê-lo extravasar os limites. Verdadeiramente não se é pai se não com Deus e como Ele. Exercitar a autêntica paternidade é, portanto unir-se a Deus, é cumprir o seu dever providencial e ao mesmo tempo empenhar-se na vida da santidade».16 15 Cf. Ef. 3, 15. 16 Cf. G. GHIGLIONI, op. cit. pp. 7, 8. 5
  • 6. A mensagem que Dom Bosco parece querer passar à Igreja e a todos os educadores que exercem qualquer tipo de paternidade material ou espiritual é que sua riqueza e grandeza devem estar próximas a Deus. Ambas devem conduzir a Ele. Para G. Ghiglione, o fundador dos Salesianos assume as duas expressões do Evangelho de João: como o Pai me amou, assim eu também vos amo (Jo. 15, 9); e como o Pai me enviou eu também vos envio (Jo. 20, 21). A paternidade vivida por nosso Santo fundador foi a execução prática da paternidade invisível de Deus Pai. Ele a traduziu no mundo para felicidade de muitos, especialmente dos jovens.Não compreenderá verdadeiramente Dom Bosco quem não conseguir vê-lo como um pai no meio de seus filhos. Podemos observar na Carta de Roma algumas características do amor de Dom Bosco que são as mesmas do amor do Pai. 1.3.3 Um amor que não espera, mas tem a iniciativa, é preventivo São João nos avisa que foi Deus quem nos amor por primeiro e não nós e S. Paulo reforça a afirmação, dizendo que este fato aconteceu antes mesmo da criação do mundo(Ef. 1, 4). As parábolas da ovelha perdida, do pai que sai de casa para abraçar o filho que retorna da miséria são entre outras, provas de que Deus na maioria dos casos é quem dá o primeiro passo. Dom Bosco nos ensina que o amor deve ser preventivo. São sua palavras: «Não esperai que os jovens venham a vós. Ide a eles, daí o primeiro passo. E para serem acolhidos, descei da vossa altura. Colocai-vos no seu nível, do lado deles». É certamente com tristeza que o santo da juventude relembra, nos tempos de menino e mais tarde no Seminário de Chieri, fatos acontecidos com alguns reverendos. «Quantas vezes quis falar, pedir-lhes conselhos ou soluções de dúvidas e não podia. Antes, acontecendo que algum superior passasse no meio dos seminaristas, sem saber a razão, cada um fugia precipitadamente para a direita e para a esquerda... Aquilo inflamava sempre mais meu coração para ser logo padre para entreter-me no meio dos jovenzinhos, para atendê-los, para ouvi-los em cada necessidade». 1.3.4 Um amor que se aproxima das pessoas A vida de Jesus Cristo nos mostra como Ele se fazia próximo, às pessoas, de modo especial daquelas mais carentes, sofridas, abandonadas. Para o Filho de Deus não há diferenças, nem distâncias, Ele veio para todos, é o bom Samaritano universal. Ide ao mundo e conquistai-o pelo amor, ajudando-o, servindo-o. É o que Jesus nos pede, o amor ao próximo é a nossa alforria. É o que o apóstolo dos jovens fez e nos pede que façamos: aproximar-nos deles, acolhê-los sem prejulgamentos. Não nos escandalizarmos com seu modo de encarar a vida, com suas limitações ou falhas, mas desculpá-los17. Assim eles serão conquistados pelo coração, pois educação é coisa do coração. Amai as coisas que os jovens amam, estejais sempre no meio deles. Quantos jovens, nós educadores não encontramos em nossa vida e que nos deram a oportunidade de vivermos com eles esta experiência de nosso fundador. Um deles me dizia: “muito obrigado, pelo que me disse, não tenho fé, mas reze ao seu Deus por mim. Gostei do senhor”. 17 Diante da horta arruinada o filho dizia a Mamãe Margarida: “são jovens”. 6
  • 7. 1.3.5 Um amor personalizado Na parábola do Bom Pastor cada ovelha é conhecida pessoalmente pelo seu dono. O bom pastor conhece suas ovelhas... as chama pelo nome e elas o seguem, porque conhecem sua voz. Como é bonito e como seria maravilhoso se em todos os redis acontecesse essa afirmação do Senhor. Contudo, é assim que o Pai celeste age, conhecendo e amando cada uma de suas criaturas pessoalmente e pedindo que façamos o mesmo. Chega mesmo a contar os fios de nossos cabelos, a saber quantas são as estrelas e o nome de cada uma. O amor, sob esta característica é a constância na vida de Jesus, a todos acolheu e ajudou, como o sol e a chuva descem também sobre todos. O fundador do Oratório de Valdocco conhecia e amava cada um de seus jovens. E eles sabiam e gostavam dessa atitude e a retribuíam. Desta maneira educador e educandos realizaram naquele bairro de Turim o milagre educativo de transformação de muitos jovens do perfil daqueles do Sonho dos nove anos. 1.3.6 A prática de um amor positivo Olhando novamente para o Senhor Jesus, a Fonte de todas as fontes, notamos como ele acredita nas pessoas que encontra em seu caminho. Foi assim com os pescadores de Tiberíades, com o baixinho e tímido Zaqueo, com a escorregadia Samaritana e tantos outros. Cristo confiou nos pequenos, nos simples, nos pobres, porque sabia que eles não fariam objeções ao Reino dos Céus; eles seriam os donos daquele Reino. O otimismo bosquiano baseia-se nessa fé. Ele sabia e acreditava quer cada um tem um ponto positivo, acessível ao bem. Seu mestre S. Francisco de Sales também pensava o mesmo: cada um tem pelo menos uma zona positiva dentro de si. O educador, o pastor tem que encontrá-la. Dom Bosco era um ingênuo? Ele sabia que tanto o bem como o mal agem no mundo. Não era adepto de Rousseau, muito pelo contrário. Sua inabalável confiança em transformar pela educação fundava-se em três fontes poderosas que fortificam e conduzem o jovem à casa do Pai. Estas riquezas são: a Palavra, a Reconciliação e a Eucaristia. Toda sua vida foi uma contínua dedicação à Catequese, à Penitência e ao Sacerdócio. Como se transformava e se sentia feliz, como vivia sua paternidade espiritual, quando distribuía o Pão da Vida aos seus meninos. E não se cansava de dizer-lhes: meus filhos, todos juntos caminhamos em direção a Deus. 1.3.7 Uma mensagem para o mundo Dom Bosco envia de Roma uma preciosa mensagem a todos os homens e mulheres de boa vontade ou não. Ele nos recorda que não há nada mais sublime do que ser pai ou mãe, filho ou filha. Duas atitudes devem acompanhar toda a vida de um vocacionado, de quem foi chamado para viver eternamente nas mansões celestes, na Casa eterna do Pai comum: a primeira é a de viver como filho para com Deus Pai e segunda, a de cultivar uma postura de pai bondoso e compreensivo diante dos filhos ou destinatários que forem confiados a cada um. 2. A produção escrita de Dom Bosco 2.1 “Um grande educador, cujos escritos são procurados em vão” 7
  • 8. Em 1926 um jornal italiano publicou uma declaração sobre os escritos de D. Bosco que muito incomodou os estudiosos de sua obra, de modo especial os salesianos. A afirmação era de Giovanni Gentile, que reconhecia o valor do educador turinês, mas ao mesmo tempo falava da impossibilidade de se encontrar suas obras: “grande educador, mas (um) autor do qual seus escritos são procurados em vão”.18 A afirmação de Gentile, era no entanto, uma convicção para muitos admiradores e pessoas que estudavam os acontecimentos dos anos oitocentos na Itália. O ISS (Istituto Storico Salesiano)19 apresenta seis momentos da história da publicação das obras de D. Bosco. 2.2 Setembro de 1898: VIII Capítulo Geral Na sessão vespertina foram discutidos 16 artigos com propostas apresentadas pelos sócios, cujo tema era: “sente-se cada vez mais a necessidade e o dever que o espírito de D. Bosco se conserve intacto e em todos os lugares entre nós seus filhos. Que propostas nos pareceriam mais propícias para nos levar a este fim, tão santo e de capital importância para nossa Pia Sociedade”? O art. 12 teve a formulação seguinte: “faça-se uma edição completa de todas as obras de D. Bosco: destas haja uma biblioteca circulante em cada casa e se incentive a leitura aos irmãos”. Ao final da discussão suprimiram-se o artigo 12 e o 15. Possivelmente pelas dificuldades que teriam que ser enfrentadas na prática dos mesmos. 2.3 Dezembro de 1914: Capítulo Superior Lê-se nos verbais do mês de Dezembro: “o Secretário encarrega-se de preparar um elenco de todas as escritos de D. Bosco e se pede ao senhor Pe. Cerruti que prepare uma edição de todas as obras de D. Bosco, também para dar trabalho à Tipografia do Oratório que não o tem, faz tempo, com prejuízo não só material, mas moral dos jovens. Para algumas obras, como a História Sagrada, colocar oportunas notas, exigidas pelo progresso feito por tal ciência”. 2.4 Março de 1915: circular e comissão Pe. Cerruti com a circular de 18 de março daquele ano comunicava que o Cap. Superior tinha aprovado “que se preparasse uma edição autêntica, completa das obras de D. Bosco”. Na mesma circular convidavam-se os destinatários para fazerem parte de uma “comissão de Salesianos, cada um dos quais tenha o pensamento de tudo que diz respeito à pesquisa, o exame, a disposição, à impressão daquela qualidade de trabalho que lhe foi confiado”. As secções e relativos encargos ficaram assim constituídas: • Epistolário Angelo Amadeo • Escrito marianos Augusto Amossi • Escritos biográficos e amenos Giuseppe Binelli • Vidas dos Papas Giovanni Battista Borino • Obras históricas Alberto Caviglia 18 1926, p. 313. 19 Vide ANEXOS. 8
  • 9. Obras pedagógicas Vincenzo Cimatti • Obras catequéticas e polêmicas Sante Garelli • Obras religiosas Giacomo Mezzacasa A Comissão encarregada de acolher os critérios propostos para a edição das Obras e dos Escritos de D. Bosco reuniu-se no dia 31 de março. Infelizmente dos fatos vieram por termo à iniciativa: o falecimento de Pe. Cerruti e o agravamento dos problemas bélicos da I Guerra Mundial. 2.5 1928-1933: Pe. Alberto Caviglia • 1922 a 1932: após ser encarregado oficialmente pelo Conselho Superior, Pe. Caviglia publicou os quatro primeiros volumes da Secção Escritos históricos. • 1929: Vol. I/1 História Sagrada. Vol. I/2 História Eclesiástica. • 1932: Vol. II/1-2 As vidas dos Papas. • 1932: Vol. III A História da Itália.20 Segundo o documento do ISS, citado anteriormente, o testo crítico da História da Itália não corresponde a nenhuma das edições publicadas enquanto D. Bosco vivia, une partes de várias edições. Trata-se de uma espécie de coletânea com trechos de várias edições. Lemos ainda naquele mesmo estudo: «O valor atribuído à História da Itália é desproporcional com respeito às mais modestas intenções do escritor. Do ponto de vista crítico os resultados foram insatisfatórios, até porque muitas achegas afastaram da intenção original e do que foi prometido pelo título da série: Obras e escritos publicados e inéditos de “Dom Bosco”, novamente publicados e revistos segundo as edições originais e manuscritos supérstites aos cuidados da Pia Sociedade Salesiana». As dimensões do projeto foram apresentadas no Boletim Salesiano do mês de abril de 1933. Previam-se, em cinco séries, 14 volumes ou tomos, cada um com mais de 500 páginas contendo Anexos, Fragmentos e Índices:  Obras históricas.  Obras religiosas.  Obras pedagógicas.  Escritos morais e amenos.  Instituição da Obra Salesiana. Cada volume viria enriquecido com notas preliminares de caráter documental ou editorial e oportunas anotações ou comentários entre as várias edições. O trabalho era enriquecido ainda com lembretes de retorno às fontes ou a circunstancias históricas que dissessem respeito à composição dos escritos. 2.6 Trabalhos publicados a partir de 1943 * 1943: Vol. IV - A vida de Domingos Sávio e o estudo Domingos Sávio e Dom Bosco. Trata-se de um trabalho de muito valor, utilizado por muitos. 20 Francisco Motto, diretor do ISS, apresentou recentemente um episodio ainda desconhecido sobre a História Sagrada de Dom Bosco. 9
  • 10. * 1965: Vol. V - O primeiro livro de Dom Bosco: Traços sobre a vida de Luís Comolo e Miguel Magone. Trata-se de uma experiência pedagógica clássica. * 1965: Vol. VI – A vida de Francisco Besucco. Texto e estudo (escrito em 1940). 2.7 1963 – 1973: Universidade Pontifícia Salesiana Na sexta etapa da publicação das Obras de D. Bosco encontramos duas iniciativas, ambas unidas à Universidade de Roma e à Direção Central dos Salesianos. Durante o reitorado do Pe. Renato Ziggiotti e com sua aprovação, constituiu-se um grupo redacional21 com a finalidade de publicar uma edição crítica dos escritos publicados e inéditos de D. Bosco e das testemunhas contemporâneas. A equipe se encarregaria de escrever sobre a vida e atividade do santo. Em 1965 o Cap. Geral XIX propôs: «compilar uma antologia de todos os tesouros educativos herdados de D. Bosco e dos primeiros salesianos, mediante a criação de um Centro de estudos históricos salesianos, que ilustre sempre melhor a obra educativa de S. João Bosco, e expresse com precisão as linhas de seu método e do seu espírito».22 O Cap. Geral de 1971 recomendou que se estudassem os meios necessários e mais idôneos para garantir o desenvolvimento do “Centro de Estudos Don Bosco”. Em 6 de fevereiro de 1973, fundou-se o Centro sendo confiado “ad experimentum” à Faculdade Salesiana. Uma de suas atribuições era efetuar uma série de publicação e estudos sobre a história das Missões Salesianas por ocasião de seu centenário. Os Atos do Cap. Superior publicava, naquele mesmo ano de 1973, a fundação na Casa Geral de um “Centro de Estudos para a história da Congregação Salesiana”. No ano seguinte surgiu o “Centro de Estudos de História das Missões Salesianas”.23 2.8 1978-1982:.. Casa Geral Salesiana – ISS (Istituto Storico Salesiano) O Capítulo Geral XXI estabelecia:24 «O Conselho Superior, no mais breve tempo possível criará um Instituto Histórico Salesiano, que nas formas ideal e tecnicamente mais válidas coloque à disposição da Família Salesiana, da Igreja e do mundo da cultura e da ação social os documentos do rico patrimônio espiritual deixado por D. Bosco e desenvolvido pelos seus continuadores e promova em todos os níveis o aprofundamento, a ilustração e a difusão. Toda a Congregação concorrerá para a realização e a vitalidade da importante iniciativa com o pessoal e os meios disponíveis.»25 O Instituto Histórico Salesiano, com sede em Roma, foi criado em 23 de Dezembro de 1891.26Seu grupo de pesquisadores de várias nacionalidades tem realizado uma série importante de trabalhos, impressos nas mais diversas línguas. DOM BOSCO: FONTES (seus escritos) 21 Entre 28 e 29 de Dezembro de 1963. 22 Atti del Cap. Gen. XIX, Roma 1966, p. 201. 23 (http://www.ups.urbe.it Settori Centro St. don Bosco). 24 26 de janeiro de 1978. 25 Estatuto. 26 Vide ANEXO IV 10
  • 11. 1. JOÃO BOSCO Constituições da Sociedade de S. Francisco de Sales [1858] – 1875 Testos críticos aos cuidados de Francesco Motto (ISS, Fonti, Serie prima, 1). Roma – LAS 1981. O responsável pela crítica deste trabalho faz a seguinte observação: «Entre a notável massa de documentos disponíveis (além dos 40), em sua maior parte manuscritos, o curador para efeito editorial privilegiou 5 documentos do testo e 4 do testo latino, considerando etapas bem individuais e significativa do longo e complexo processo redacional. Desses 8 foram colocados em paralelo...; Uma que apresenta exigências particulares, foi editada à parte. Cada um dos 8 testos é conjugado a um riquíssimo aparato das variantes, que se unem entre si sem solução de continuidade ao texto sucessivo. “ É de se considerar a empresa de significado excepcional e incontestável valor histórico-espiritual”».27 2. JOÃO BOSCO Constituições para o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (1872-1825) Testos críticos aos cuidados de Cecília Romero (ISS, Fonti, Serie prima, 2). ROMA – LAS 1982. Explicações de Madre Romero a respeito do documento: «Edição crítico-genética, nas formas costumeiras e felizmente entrelaçadas, do último manuscrito disponível das Constituições das FMA (1872-1885), da qual dependem os primeiros dois testos a serem impressos (1878,1885). O aparado das variantes leva em conta, quer documentos que entram na história redacional do texto, quer separadamente, aqueles paralelos, embora significativos. Na introdução a problemática dos testos constitucionais enquadra-se naquela humana das Filhas da Imaculada contidas em parte no Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora». 3. Francisco MOTTO (ed) Lembranças confidenciais aos Diretores (Picola Biblioteca dell’ISS, 1). ROMA – LAS 1984. Neste documento Dom Bosco deixou à Congregação sua grande experiência espiritual e pedagógica. A carta foi escrita a D. Rua, em Outubro de 1863. Ele que foi, o primeiro diretor de uma comunidade salesiana educadora, fora de Turim em Mirabello Monferrato. Posteriormente ampliada, era enviada aos novos Diretores das casas salesianas. 4. Jesus BORREGO (ed) Lembranças de Dom Bosco aos primeiros missionários Pequena biblioteca do IHS, 2). Roma – LAS 1984. 5. Pedro BRAIDO (ed) Carta de Roma (10 de maio de 1884) (Piccola Biblioteca dell’ISS, 2). Roma – LAS 1984. 27 RSS 2, 1983, p. 170). 11
  • 12. Trata de um sonho que Dom Bosco teve em Roma em 10 de Maio de 1884. Seu biografo, Pe. Lemoyne o descreve em duas formas: aos jovens e à comunidade salesiana de Turim – Valdocco. É um dos documentos mais ricos para se compreender o Sistema educativo de Dom Bosco. A amorevolezza e o relacionamento educador-jovem são dos temas mais importantes desta Carta, famosa em toda a Congregação. 6. Francisco MOTTO Memórias de 1841 a 1884-5-6 (escritas) pelo Sacerdote João Bosco aos seus filhinhos salesianos (Testamento espiritual). (Piccola Biblioteca dell’ISS, 4). Roma - LAS 1985. Transcrevo o comentário ao documento feito pelo diretor do ISS, Dom Motto: «Para a compreensão de Dom Bosco e do seu espírito, para o aprofundamento da sua concepção pedagógico-religiosa, para o conhecimento de suas ânsias em ordem à salvação da alma e ao futuro da sociedade salesiana o documento constitui um dos escritos mais eloqüentes. Trata-se de recordações e conselhos escritos em épocas diferentes, para os Salesianos, as Filhas de Maria Auxiliadora, para os Cooperadores e Benfeitores das obras salesianas. Numerosas as recomendações para quem exerce autoridade nos vários níveis». 7. JOÃO BOSCO O Sistema Preventivo na educação da juventude Introdução e testos críticos aos cuidados de Pietro Braido (Piccola Biblioteca dell’ISS, 5). Roma – LAS 1985. Don Braido afirma que este pequeno escrito de 1887 tornou-se famosíssimo. Nele encontramos em síntese o pensamento pedagógico de Dom Bosco. O conjunto das informações, das variantes e das fontes paralelas são de grande auxílio à compreensão do texto.28 8. JOÃO BOSCO Valentim ou a vocação contrariada Introdução e texto crítico aos cuidados de Mathew Pulingathil (Piccola Biblioteca dell’ISS, 6). Roma – LAS 1987. Em 1866 as Leituras Católicas publicaram este romance de fundo histórico. Tinha sido precedido de um manuscrito autografado com correções e achegas. A edição crítica é interessante e oferece ao leitor aspectos da concepção religioso-pedagógica de Dom Bosco “em um momento significativo de sua evolução espiritual”. 9. JOÃO BOSCO Escritos pedagógicos e espirituais Aos cuidados dos historiadores e escritores:Jesús Borrego, Pietro Braido, Antonio da Silva Ferreira, Francesco Motto, José Manuel Prellezo. (ISS, Fonti, Serie prima, 3). Roma – LAS 1987 [Ed. esgotada, cf 3ª edição n. 18]. 28 Vide ANEXOS. 12
  • 13. 10. BRAIDO PIETRO (ed) Dom Bosco para os jovens: O “Oratório” uma “Congregação dos Oratórios”. Documentos. Piccola Biblioteca dell’ISS, 9). Roma – LASS 1988. Estes dois documento fazem história, afirma Pe. P. Braido. Pelo momento significativo em que foram compostos (1854, 1863, 1873/1874), pelo contesto e pela finalidade. E continua o mestre de nossa história: «Se na realidade, Dom Bosco nos deixou vários testemunhos sobre “as origens” de sua obra – a mais notável são as “Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales” - nenhuma delas é simples, linear, privada de supra-estrutura, interpretações e comentários, interpretações e comentários, quanto os dois breves testos aqui assinalados, riquíssimos de informações historicamente significativas dos primeiros anos do Oratório. Não se pode prescindir deles.» 11. JOÃO BOSCO A Patagônia e as terras austrais do Continente americano Introdução e testo crítico de Jesus Borrego Piccola Biblioteca dell’ISS, 11). Roma – LASS 1988. A obra foi encontrada por Ernesto Zsanto na Biblioteca da Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma. Ele a definiu como o “Projeto patagônico de Dom Bosco”. O principal autor é o Pe. Giulio Barberis, embora Dom Bosco tenha sido o inspirador, revisor e por vezes, tenha corrigido algumas páginas. O santo lhe deu o seu jeito (impronta) e o assinou em 20 de Agosto de 1876, assumindo assim a responsabilidade por ele. Pe. Barberis recolheu tudo o que na época havia em Turim sobre aquelas terras setentrionais da Argentina. O estudo apresenta cinco partes: Descrição física, História da descoberta da Patagônia, Os habitantes: caráter e costumes, Religião e Missões. Na conclusão alude-se ao Presente estado da Patagônia e Novo Projeto para sua evangelização. 12. JOÃO BOSCO Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales de 1815 a 1855 Introdução, notas e testo crítico aos cuidados de Antônio da Silva Ferreira ISS, Fonti, Serie prima, 4). ROMA – LAS 1991. A obra em pauta, surgida possivelmente entre os anos de 1873-1875, é de grande importância para todos os que se debruçam sobre a história salesiana. No julgamento do historiador Pe. Antônio Ferreira as Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales constituem «a fonte primaria para a compreensão de sua mentalidade (Dom Bosco) e de seu projeto operativo global: é ao mesmo tempo re-evocação, reflexão e projeção para o futuro.» O aparato das variantes vem provar sobejamente o que se afirma acima. 13. JOÃO BOSCO Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales de 1815 a 1855 ISS, Fonti, Serie prima, 5). ROMA – LAS 1991. 13
  • 14. Edição como a precedente, mas sem o conjunto da crítica testual. 14. JOÃO BOSCO Epistolário Introdução, testos críticos e notas aos cuidados de Francisco Motto. Primeiro Volume (1835-1863). Correspondências (cartas): 1-726 (ISS, Fonti, Seria prima, 6). Roma – LAS 1991. Segundo Volume (1864-1868). Correspondências (cartas): 727-1263). (ISS, Fonti, Serie prima, 8). Roma – LAS 1996. Terceiro Volume (1869-1872). Correspondências (cartas): 1264-1714. (ISS, Fonti, Serie prima, 10). Roma – LAS 1999. Quarto Volume (1873-1875). Correspondências (cartas) 1715-2243). (ISS, Fonti, ISS, Fonti, Serie prima, 11). Roma – LAS 2003. Não seria necessário reforçar que a correspondência epistolar que Dom Bosco manteve, com inúmeras e variadas pessoas e por dezenas de anos, é de enorme utilidade para seu conhecimento humano e espiritual. É uma grande riqueza para os estudiosos de sua espiritualidade e de seu método pedagógico. Ao lermos estas correspondência, muitas inéditas, descobrimos outro Dom Bosco, um homem sempre mais coerente com seu projeto de servir aos jovens, até o último respiro. 15. BRAIDO PIETRO (ed) Dom Bosco educador. Escritos e testemunhas Aos cuidados de Jesús Borrego, Pietro Braido, Antônio da Silva Ferreira, Francesco Motto, José Manuel Prellezo (ISS, Fonti, Serie Prima, 7). Roma-LAS 1992 [Esgotado: 3ª ediz. N.18]. 16. PRELLEZO José Manuel Valdocco nos anos oitocentos, entre real e ideal (1866-1889) Documentos e testemunhos (ISS, Fonti, Serie seconda, 3). Roma- LAS 1992. Prelezzo dividiu o trabalho em quatro partes: 1. O Oratório de Valdocco no “Diário” do Pe. Chiala e Pe. Lazzero (1875-1888 e 1895). 2. O Oratório de Valdocco nas “Reuniões Capitulares’ (1866-1877). 3. O Oratório de Valdocco nos “Encontros do Capítulo da Casa” e nas “Reuniões mensais” (1871-1884). 4. Valdocco 1884. 14
  • 15. Neste capítulo temos as seguintes testemunhas: • Tommaso Pentore (1860-1908) • Stefano Febraro (1856-) • Domenico Canepa (1858-1930) • Secondo Marchisio (1857-1914) • Serafino Fumagali (1855-1907) • Giacomo Ruffino (1850-1913) • Giovanni Bonetti (1838-1916) • Giovanni Battista Lemoyne (1839-1916). Planta do complexo dos edifícios do Oratório de Dom Bosco:1869 – 88). 15
  • 17. 17. JOÃO BOSCO [Dom Bosco Fundador]. “Aos sócios Salesianos” (1875-1885) Introdução e testos críticos os cuidados de Pietro Braido (Piccola Biblioteca dell’ISS, 15. Roma- LAS 1995. Trata-se de um libreto com 38 paginas dirigidas aos Sócios Salesianos em 1875. É uma fonte de suma importância para se conhecer a figura de Dom Bosco fundador. 3. Uma palavra sobre as fontes da doutrina espiritual de Dom Bosco29 Na Introdução de Scritti Spirituali Aubry faz de imediato dos questionamentos sobre os escritos e a espiritualidade de Dom Bosco. Ele mesmo responde, dizendo que as duas afirmações contêm ao mesmo tempo a razão de ser e a dificuldade de seu trabalho. 1. Dom Bosco é um “escritor espiritual”? Certamente que não, responde o autor. 2. É um “mestre espiritual”? Certamente que sim. 3.1 Um mestre espiritual Como mestre espiritual, não há dúvidas que Deus enriqueceu sua Igreja com a presença e atuação de Dom Bosco. «Para o imaginário popular, Dom Bosco é aquele padre dinâmico que consagrou sua vida aos jovens mais pobres e fundou para eles a sociedade Salesiana. Para o cristão um pouco mais informado, é o fundador das Filhas de Maria Auxiliadora e dos Cooperadores Salesianos, autor de um método de educação particularmente eficaz, um dos padres do século XIX que viveu da forma mais dolorosa, mas também mais positiva o drama da unidade italiana, enfim, um dos grandes servidores da Igreja no campo missionário».30 No entanto, sua vida e seus escritos mostram-nos um homem providencial que deu à Igreja uma nova fisionomia, um carisma especial, capaz de atrair um numeroso grupo de cristãos e cristãs para um novo estilo de vida que leva à santidade. Santidade esta, em poucos anos, reconhecida pela Igreja que elevou aos altares como exemplos do seguimento evangélico vários homens e mulheres, inclusive jovens adolescentes de ambos os sexos. Aí estão o próprio fundador Dom Bosco, santa Maria Domingas Mazzarello, São Domingos Sávio, e dezenas de outros santos, beatos e servos de Deus. Pio XI, por ocasião do decreto para a beatificação de Madre Mazzarello fala de Dom Bosco como: “este sapientíssimo doutor em cujo magistério ela foi conduzida até ao mais alto vértice da perfeição cristã e religiosa”.31 Anos mais o Papa Pio XII dirá aos Cooperadores Salesianos: 29 Cf; Giovanni BOSCO, Scritti spirituali, a cura di Joseph Aubry, pp, 24ss. 30 Giovanni BOSCO, Scritti…p.11. 31 Acta Apostolicae Sedis, 30 [agosto, 1938], p 272, apud Aubry, op. cit, p, 13. 17
  • 18. «O santo da ação bem proveu a vossa vida interior, ditando-vos nada menos que à sua dúplice família dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora uma regra de vida espiritual, destinada a formar-vos.»32 Dom Bosco passou em poucos anos a ter uma grande família 33, uma “numerosa posteridade”. Não obstante, pode-se dizer que ele em sua humildade não pensava em se apresentar como mestre e doutor. Pensava, desejava sim, difundir um método de vida cristã. Suas atitudes demonstram que desejava que no conjunto sua Família (SDB, Irmãs Salesianas, Cooperadores, alunos das casas salesianas) seguissem um só “espírito”. Através de suas convicções pedagógicas e espirituais, de sua liderança, de seu fascínio, de seus dons conseguiu que muitos de seus colaboradores, onde quer que fossem, seguissem voluntária e afetuosamente suas orientação, seu “espírito”. Não é comum que os fundadores possam formar ainda em vida seus colaboradores, ainda jovens. Isso Dom Bosco o fez, quando viveu no seu Oratório de Valdocco. Pe. Rua, seu primeiro sucessor, viveu com ele cerca de 40 anos abeberando-se de sua espiritualidade, de seu carisma.34 3.2 Dom Bosco não é um autor espiritual (Aubry) Dom Bosco, para Aubry, “não tem nada de teólogo especulativo e é avesso à introspecção espiritual). Ao contrário de São F. de Sales não produziu obras comparáveis ao Tratado do amor divino, ou Introdução à vida devota, ou ainda História de uma alma, de Santa Teresinha. Dom Bosco continua um homem de sua terra, camponês do Piemonte. Homem inteligente e prático, deixa a roça e vai para a cidade, agradando-lhe mais a experiência do que as idéias. Em sua trajetória de estudos vêem-se como suas preferências são para as ciências positivas como a Sagrada Escritura ou a história da Igreja. Por outro lado, o apostolado da escrita é um dos principais trabalhos de sua existência. Quando escreve não produz tratados, «mas é para “falar” aos seus jovens, ao povo, aos seus Salesianos e aos Cooperadores e propor-lhes uma doutrina simples, conselhos práticos, exemplos concretos que têm toda a aparência de serem “ordinários”, mas que representam o sinal de suas mais profundas convicções e mais vivas insistências. Sua doutrina espiritual aparece como envolta na sua simplicidade de escritor popular e seus diversos elementos estão dispersos em numerosos opúsculos, sem pretensão especulativa ou literária. E, apenas tenta uma coordenação de princípios, parece perder a inspiração e seus manuscritos se adensam de inumeráveis correções.»35 32 Discorso 12 sett. 1952. Acta Apost. Sedis, 44 [ottobre 1952], p. 778, apud Aubry, op. cit. p. 13. 33 Vide ANEXO VII. 34 Em conversa com Dom Barberis, no dia 17 de maio de 1876, Dom Bosco lhe falava sobre a importância deste seu trabalho de preparação dos primeiros salesianos, seus sucessores: «Todas as outras Congregações no seu início tiveram ajudas de pessoas doutas... que se associavam ao fundador. Entre nós, não: são todos ex-alunos de Dom Bosco. Isso me custou um trabalho duríssimo e contínuo de cerca de trinta anos, porém com a vantagem, tendo sido todos educados por dom Bosco, têm os mesmos métodos e sistemas.». MB XIII, 221). 35 Giovanni BOSCO, Scritti…p.15. 18
  • 19. No entanto, este homem de Deus, tornou-se um dos maiores carismáticos da Igreja. Sendo que o lugar por excelência de sua doutrina é justamente sua vida, sua experiência espiritual, extremamente rica. BRAIDO Pietro (ed) Dom Bosco educador. Escritos e testemunhas Uma nova terceira edição aumentada. Colaboraram: Antônio da Silva Ferreira, Francesco Motto, José Manuel Prellezo. (ISS, Fonti, Serie prima, 9). Roma- LAS 1996. O trabalho recolhe escritos e documentos relacionados com as experiências e as idéias pedagógico-espirituais de Dom Bosco. «Aos documentos fragmentários do primeiro decênio de trabalho educatico em Turim- Valdocco (1845-1854) juntam-se os de pedagogia narrativa [entre eles Cenno storico (nota breve, explicação) e Cenni storici: 1854-1862] e os escritos normativos e programáticos (Lembrança aos diretores, Dialogo com o mestre Francisco Bodrato, Lembrança aos missionários, Sistema preventivo na educação da juventude, Artigos gerais do “Regulamento para as Casas”, Sistema preventivo aplicado entre os jovens abandonados (pericolanti):1863-1878). A coleção conclue-se com os conselhos e as lembranças da ancianidade: a longa carta sobre os castigos de 1883, as duas cartas de Roma de 1884, o “Testamento espiritual” e três cartas aos salesianos da América (1885)».36 3 O projeto de um santo «D. Bosco era um gigante que despontava entre os educadores católicos do `800. “Promotor de uma educação completa, sobretudo porque aparecia em contraposição àquela que se baseava no adestramento físico e no mito da força conquistadora, coisas que levavam ao encontro violento de povos e a uma nova e desumana conflagração mundial».37 36 Alguns destes testos foram publicados na Piccola Biblioteca do Instituto Histórico Salesiano nn, 1-5 e 9. 37 Mario MIDALI (a cura di), Don Bosco nella storia. Roma, LAS 1990, p. 22. n. 6. 19
  • 20. O século XIX, também chamado de século da pedagogia, trouxe para a Europa e em especial para a Itália uma série de movimentos políticos,38 sócio - religiosos que muito viriam influir no Continente e além mar. A nova problemática atingiu de cheio sobretudo a juventude.O jovem Bosco observando a situação começou a angustiar-se. Quanta tristeza não sentia ao observar tantos jovens destruídos física e moralmente, já nos primeiros anos de idade. A existência degradante e aviltante daqueles moços atingiria profundamente os sentimentos e o coração do novel sacerdote. De tal modo lhe impressionaram as cenas que via todos os dias, que resolveu dedicar toda sua vida ao bem da juventude necessitada. Seu relacionamento de amizade com os moços basear-se-ia na aproximação, no diálogo e na amizade, tentando fazer com que eles descobrissem que eram pessoas humanas e amadas por Deus. Tinham uma dignidade e deveriam dar um sentido humano-cristão às suas vidas. D. Bosco muito se preocupava com as crescentes transformações e materialização do mundo, com as novas exigências, com a Igreja e os jovens dentro do novo contexto da sociedade. O mundo do seu tempo queria ver o clero trabalhar, fundar obras de instrução e educação da juventude pobre, abandonada. Os padres deveriam abrir colégios, obras de caridade, escolas profissionais. A sociedade para ser cristianizada deveria começar com a instrução religiosa da juventude. O Pe. João Batista Lemoyne cita as categorias de garotos que na época perambulavam nas imediações de Porta Palazzo, um dos bairros da Capital do Reino piemontês. Ali se acotovelavam camelôs ambulantes, vendedores de fósforos, engraxates, limpa-chaminés, moços encarregados de cocheiras, distribuidores de volantes, carregadores, todos pobres meninos que sobreviviam daqueles magros negócios. Como o profeta da Galiléia, o santo de Turim também se compadecia daquelas multidões. O ajuntamento de rapazes e trabalhadores dos mais diferentes lugares gerava nas cidades o problema demográfico das massas humanas, impulsionadas pelo início da industrialização, o novo motor da história que viria transformar com sua tecnologia revolucionária o ritmo da sociedade universal. Famílias inteiras do Piemonte, da Lombardia e alhures procuravam a Capital piemontesa desestruturada e sem condições edilícias e sociais para atendê-las.39 O jovem sacerdote, cada vez mais tinha consciência de ter sido chamado por Deus para cumprir uma missão especial no meio da juventude. Sua vida era dominada pela presença insistente do 38 Apenas lembramos entre outros fatos o ofuscamento definitivo e inexorável da estrela napoleônica em Waterloo. As mutações drásticas impostas pelo Congresso de Viena, em se tratando da geopolítica européia. Os diversos movimentos revolucionários nacionalistas que transformaram o velho Continente. 39 O recenseamento de 1838 revelou na cidade a presença de 117.072 habitantes. Em 1848 eram 136.849. As habitações de 2.615 passaram para 3.289. As famílias eram em 1838, 26.351, (10,08 pessoas por casa); em 1848 eram 33.040 (10,45 por habitação). A média familiar em 1838 era de 4,44 indivíduos, enquanto que 10 anos mais tarde, de 4,14. Em 10 anos a população havia aumentado de 19.777, exatamente 16,89 por cento. (G. MELANO. La popolazione di Torino e del Piemonte nel secolo XI, Torino 1961, p.73, apud Pietro STELLA, Don Bosco nella Storia della Religiosità Cattolica, Vol. I p.103. 20
  • 21. divino. «Nele era profunda e constante a consciência de ser instrumento do Senhor para uma missão singularíssima».40 No início das Memórias do Oratório, interrogando-se sobre a finalidade daquele manual, DB afirma que servirá como norma para se superar as dificuldades futuras, a fim de que se aprenda as lições do passado. Demonstrará como Deus tenha dirigido cada coisa a seu tempo. Servirá para que seus filhos se entretenham, quando lerem os fatos dos quais seu pai foi protagonista. As Constituições Salesianas no seu primeiro artigo lembram que a Sociedade de S. Francisco de Sales não nasceu de um simples projeto humano. Nossa Sociedade é obra de uma iniciativa de Deus, em favor da salvação da juventude «a porção mais delicada e preciosa da sociedade humana».41 O artigo constitucional reforça ainda a idéia de que a intervenção de Maria, fez com que o Espírito Santo, suscitasse D. Bosco para um apostolado específico. Não se cansava de afirmar que na execução de seu projeto Nossa Senhora havia realizado tudo. Ela tinha sido a Mãe e a Mestra que sempre o acompanhara no desenrolar de sua obra. Certa vez, ao visitar em Turim a Casa da Divina Providência, seu amigo Cotolengo fez-lhe um prognóstico, cuja realização foi realmente uma constante em sua vida. Ao despedir-se, apertando entre as mãos as mangas da sua batina, o colega também santo, fixou-o vaticinando: «Sua batina é muito tênue e fina. Arranje uma de tecido muito mais forte e consistente, a fim de que os jovens não possam rompê-la. Virá um tempo em que será puxada por muita gente».42 Um dos jovens Domingos Bosso, no momento próximo aos dois santos, escutara a profecia. Mais tarde, sacerdote e sucessor do Cotolengo, não esquecia o episódio. A história irá mostrar na prática aquela profecia, o que ocorrerá ali mesmo naquela Casa de Caridade. A vida de D. Bosco foi realmente uma total doação aos jovens. Seu propósito de consumir-se por eles foi cumpriu inexoravelmente até o fim de seus dias. Nos últimos anos tornava-se para ele muito difícil confessar, dado o cansaço que o acometia, a falta de forças que toda uma vida de esforços constantes lhe consumira. Uma ocasião em 1886, seu médico sugeriu ao Pe. Viglietti que lhe dissesse que parasse um pouco. Ele, rindo responde: «Êh, meu caro, se ao menos não 40 P. STELLA, Don Bosco nella storia, Vol. II, Mentalità Religiosa e Spiritualità. Zürich, PAZ VERLAG, 1969, p. 32 [Giovanni BOSCO], Memorie dell’Oratorio di San Francesco di Sales, (a cura di) Antônio Ferreira, LAS, 1992, p.5, n.4. 41 MB II, 45. 42 Em diversas ocasiões D. Bosco teve dificuldades com sua a “veste”. Foi roubada (MB III, 80). Certa feita, enquanto dava aulas de catecismo no coro da Capela de S. F. de Sales, recebe um tiro que lhe estraçalha a batina sobre o peito e na manga esquerda. (MB III, 300). É distribuída com as pessoas (MB V, 617; VI, 112-113. Torna-se puída e imprestável (III, 24); é cortada em pedacinhos para ser ofertada como relíquia (XVI 58,118. Hoje em uma das passagens do pórtico, onde se localiza a veneranda Capelinha, outrora local da Tetóia Pinardi, observa-se uma placa, mostrando o local do atentado. (172-193). 21
  • 22. confesso os jovens, que farei então? Prometi a Deus que até o meu último respiro seria para meus pobres jovens».43 4 São Francisco de Sales (1567 – 1622) (vide Anexo V) Achamos importante, por diversas razões colocar Francisco de Sales entre as Fontes Salesianas, logo após o fundador da Congregação. Entre outros motivos porque ele é o protótipo de nossa espiritualidade. Como salesianos devemos estudá-lo sempre mais, para imitá-lo cada vez mais e assim nos tornarmos a cada dia salesianos mais próximos de Dom Bosco. É nesta intenção que ousamos apresentar também alguns delineamentos histórico-espirituais sobre a figura do santo do Chablais.44 Monsenhor Francis Vincent45 em uma de suas conferencias sobre a espiritualidade de S. F. de Sales começa afirmando que para se compreendê-la e defini-la, deve-se primeiro perguntar o que o santo pensava sobre Deus e o homem.46 Sabe-se que na época do santo havia concepções diferentes sobre a vida religiosa em relação a Deus. Para uns, como Monsenhor de Saint-Cyran, Deus era um Mestre terrível. Santa Teresinha do Menino Jesus se dirigia a Ele como um Pai amável, bondoso. Sobre o homem, Pascal dizia que é um anjo e não uma besta, um animal. Nossa concepção religiosa irá ser diferente, se tendermos para o que conhecemos como teologia do otimismo ou do pessimismo. Diante dessas duas correntes não há dúvida que pela vida e atuação de nosso santo ele estava muito longe de ser um pessimista. «São Francisco de Sales era decididamente otimista em teologia. Ele era impressionadíssimo com a abundancia dos meios de salvação...Nada poderia ser mais contrário ao sentimento (tremor, medo) que Monsenhor de Saint-Cyran experimentava e inspirava.»47 Vejamos o que pensava o santo a respeito de Deus. Aos dezoito anos e após sua famosa crise que chamou de tentação ele tornou-se definitivamente um otimista. Não foi fácil. As lutas que teve antes de se decidir entre as diferentes teodicéias, 43 MB XVIII, pg, 258. Const. 1. 44 Cidade ao Sul do lago de Genebra (Suíça) na Sabóia, onde o santo trabalhou incansavelmente, durante os cinco primeiros anos de sacerdote, para converter os Calvinistas. 45 Reitor emérito das Faculdades Católicas do Oeste (França?). 46 THE SPIRITUALITY OF SAINT FRANCIS OF SALES by Mgr Francis ... spirituality of Saint Francis of Sales we must first ask what the Saint thought of God and man. ... www.ewtn.com/library/SPIRIT/SALESPIR.TXT - 85k - Cached 47 Francis VINCENT, The Spirituality of Saint Francis of Sales (Conferência). 22
  • 23. quase o levaram às raias do desespero, quando na Universidade de Paris, ele estava no meio dos grandes debates sobre a predestinação. 4.1 Predestinação e pré-conhecimento (pré-monição) Na época duas correntes teológicas opunham-se fortemente. Uma afirmava que Deus predestinou para a salvação aqueles aos quais Ele tinha decretado dar a salvação e os meios necessários para alcançá-la. Isto significava que Deus predestina à salvação, os que Ele predestina para a salvação e não os que ele vê, através de sua pré-cognição que corresponderão à sua graça. O assunto era muito sério e preocupante: a predestinação não se basearia no pré-conhecimento, mas era o contrário, a pré-cognição estava baseada na predestinação. Deus sabe quem vai se salvar, porque Ele já decretou sua salvação. A conclusão é que se Deus não salvou a todos, aqueles que se condenam, não o fazem porque não corresponderam com a graça, ou pela conseqüência de sua própria recusa, mas porque o próprio Deus os recusou. Estes que assim pensavam seguiam nada mais, nada menos que Santo Agostinho e Santo Tomás. O jovem estudante descobriu que os Jesuítas, seus professores, não seguiam o mesmo parecer, discordavam de Agostinho e Tomás. Eles seguiam os ensinamentos de Santo Ambrósio, São João Crisóstomo e os Padres Gregos. Substancialmente a doutrina destes santos tinha a seguinte exposição: «Em Deus o decreto da predestinação à glória baseia-se primeiramente, se assim podemos falar, não no simples prazer divino, mas, na previsão dos méritos e santidade do eleito. “Deus prevê seus méritos e segundo o resultado desta previsão, Ele o predestina para a salvação.» 4.2 Um Deus de amor e misericordioso Francisco não podia entender um Deus que não fosse um Deus de amor que quisesse salvar todos os homens. Sua mente e seu coração refutaram espontaneamente a predestinação, embora a dupla autoridade de Agostinho e Tomás pesassem fortemente em seu espírito. Antes de decidir-se viveu cinco ou seis longas semanas de incertezas (e) angústia mental, minando suas forças física. Atormentava-o atrozmente o pensamento se ele estaria “a priori” incluído no misterioso decreto da predestinação. Sua escolha foi realizada, após uma oração fervorosa e sofrida aos pés de Nossa Senhora. Naquela ocasião ele ouviu uma voz que lhe dizia: Eu não sou Aquele que condena. Meu nome é Jesus. 23
  • 24. Separando-se de Tomás e Agostinho, a quem pediu perdão, Francisco a abraçou, até ao final de sua vida, a doutrina, denominada Molinismo48. Para ele Deus é “Alguém que não deseja condenar”. Conseqüentemente dá a todos as graças suficientes para se salvarem. Francisco ensina que o mecanismo dos atos divino-humanos, quando coordenados, se o quisermos, nos levam diretamente ao Céu. O próprio Deus, após o pecado de Adão desejou verdadeiramente que todos os homens fossem salvos. A decisão de Deus sobre cada um de nós, só é tomada depois de Ele ter visto como é que nós vamos nos comportar. Os homens se condenam não por falta da graça, mas porque eles não aceitam a graça, não porque a graça lhes falte, mas porque eles faltam à graça. São Francisco estava tão convencido da munificência da graça de Deus, que seu convencimento era que Deus jamais abandona um pecador. Ele pensava que Já condenação de Judas aconteceu somente por causa de sua obstinação e frieza. Mesmo após sua ação criminosa Deus ainda esperou por ele, ainda lhe ofereceu sua graça. “Ó homem infeliz, ele não sabia bem que nosso Senhor... era o Salvador e que Ele tem a salvação em suas mãos?”49 Esta certeza de que Deus não abandona o pecador levava nosso santo a jamais anatematizar, mesmo o mais obstinado dos pecadores. Eis o que ele chegou a afirmar: «Quando pecadores se tornam tão empedernidos, endurecidos em seus pecados, de tal modo que vivam como se não existisse nem Deus, nem céu, nem inferno, então é quando Deus faz com que eles conheçam sua piedade e a doçura de sua graça».50 No Tratado sobre a graça encontramos afirmações como estas: «Quando Ele (Deus) vê que a alma mergulha profundamente na iniqüidade é seu costume oferecer sua ajuda e com incomparável graça Ele escancara a porta de seu coração.»51 Freqüentemente o pessimismo tem escurecido a mente dos homens. Arnauld e Saint-Cyran acreditavam que chegaria um momento em que Deus se afastaria do pecador e suspenderia sua graça, deixando-o viver em sua impiedade e perdição. Foi assim que Port-Royal tratou Pascal e Racine. Porque eles abandonaram Deus, este por sua vez também se afastou deles. Este, porém, não é o Deus de São Francisco. O Deus da vida não nos abandonou. O profeta Ezequiel já nos dizia que Ele não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (Ez. 18, 32). 48 Molinismo é a doutrina criada pelo jesuíta Luis Molina (1547-1551). O teólogo espanhol procura conciliar a idéia de livre-arbítrio à graça e onisciência divina, as teses dos reformadores com o Concílio de Trento. 49 Sermon of March 22, 1622. 50 Idem, ibidem. 51 Book 3, chapter 3. 24
  • 25. A confiança do Bispo de Genebra em Deus é paralela à sua confiança na bondade natural do homem. Seu otimismo envolve a ambas. Esta atitude está, no entanto longe do otimismo frio e absoluto de J. Jacques Rousseau e do mesmo modo distante da posição dos Jansenistas que ensinavam que o homem é radicalmente corrupto. Neste aspecto entre o pensamento Salesiano (de São Francisco de Sales) e o dos Calvinistas há também um enorme fosso. Para nosso Bispo o ponto de partida é o amor de Deus, enquanto para o pensamento calvinista é o forte sentimento de afastamento da parte de Deus. Francisco não deixa de ensinar que a tendência natural que existe no homem de amar a Deus não pode durar muito tempo se não é fortificada pela graça. Afirma ainda que esta graça encontra no homem um aliado e não um inimigo, como acreditam seus opositores. E é através desta graça que Deus quer salvar todos os homens, pois Ele é sempre Aquele que não deseja condenar ninguém e que oferece a todos as graças suficientes para que não se percam. A concepção otimista da divindade fez com que tudo que o santo do Chablais escreveu se baseasse na concepção otimista da graça, da salvação 4.3. O centro de sua espiritualidade: o amor, a caridade, a doçura Nosso amor para com Deus que nos ama é tudo aquilo que devemos desejar e procurar praticar. “Tudo na santa Igreja é por amor, no amor, para o amor e do amor”, afirma nas primeiras páginas do Tratado sobre o amor divino. Não se trata apenas de um ideal que buscamos intensamente, mas é o princípio e a fonte deste ideal. No amor estão todas as virtudes. É a linguagem do Apostolo São João repetida e vivida por outro santo. No livro Histoire du sentiment religieux aux XVIIe siecle M. Strowsky afirma que São F. de Sales efetuou uma “verdadeira revolução” no asceticismo. «Ele é o grande mestre e técnico da espiritualidade do amor. Houve homens antes dele que praticaram o asceticismo, homens que o viveram, nós diríamos hoje. Mas quem o formulou numa teoria ou o reduziu em um sistema?»52 Não são poucos os santos que escreveram e viveram o amor: São Paulo, Agostinho, Boaventura, Santa Teresa, São João da Cruz. O bispo saboiense reuniu suas próprias experiências, estabeleceu uma doutrina coordenada, uma arquitetura da vida espiritual baseada no amor. Para ele a doçura era uma virtude mais rara do que a perfeita castidade é, a flor da caridade. A uma jovem superiora de um Mosteiro “recomendava sobretudo o espírito de doçura que esquenta os coração e conquista as almas”. 53 52 Francis VINCENT, The Spirituality of Saint Francis of Sales (Conferência). 53 François de Sales a Madama Bourgeois, 3 maggio 1604, in Oeuvres XII 272, apud F. Desramaut: Spiritualità Salesiana, Cento parole chiave, verbete Dolcezza, p. 241. 25
  • 26. O que acima dissemos sobre a mansidão que não é fraqueza, nem covardia, afirmamos semelhantemente a respeito da doçura que não é melifluosidade, afetação, debilidade. Dom Bosco era afável, amigável, mas firme quando precisava sê-lo. São Paulo nos lembra que os frutos do Espírito são doçura e domínio de si.54 A filosofia grega fala do domínio de si, da vontade sobre as paixões. Neste sentido a doçura cristã é diferente e distante de tudo o que possa dar a impressão de moleza. Pelo contrário ela libera a pessoa da escravidão de si e a conduz á mliberdade. 4.4 Ama (Deum) et fac quod vis55 A famosa frase de Santo Agostinho “ama e faze o que quiseres” jamais foi tão vivida na prática como na vida de Francisco de Sales. Ele demonstrou como alguém pode realmente amar a Deus no mais íntimo e no mais acessível de sua alma, como fazer de cada momento de seu dia, o que é melhor e mais justo, precisamente aquilo que Deus deseja que se faça. 4.5 O amor, princípio e fim de toda sua espiritualidade Estabelecer e desenvolver nos corações a caridade eis o Alfa e Ómega de toda sua pregação. Muitos santos desde São Paulo intuíram o eminente papel do amor na santidade, sua importância fundamental. Não obstante, eles jamais o colocaram como objeto de uma demonstração metódica. São Jerônimo parece ter escolhido a castidade como o fundamento de seu asceticismo; Francisco de Assis dialogava com a irmã pobreza; São Bernardo escolheu a mortificação; São Benedito foi o homem da liturgia. Não há dúvidas que estes santos tinham na caridade a fonte de toda a santidade e jamais negaram o seu papel. Talvez se, eles fossem diretamente questionados, respondessem que essa verdade estava implícita, não era necessário que se dissesse. A esta resposta, São Francisco de Sales teria respondido: “mas, é melhor que seja dita”. Assim ele o fez com uma insistência inigualável. Santo Inácio, a quem Sales muito cultuou, também não insistiu tanto no valor da caridade em sua estratégia para a conquista da perfeição. O jesuíta, Pe. Brou observa inteligentemente: «Todo autor tem suas fórmulas (sinais) favoritas que aparecem constantemente e informam as preocupações de sua alma... para Santo Inácio estas fórmulas testemunham, mostram a autoridade de Deus sobre as criaturas.»56 54 Gal. 5, 23. 55 Ama (Deus) e faze o que quiseres. 56 Francis VINCENT, The Spirituality of Saint Francis of Sales (Conferência). 26
  • 27. Sales entende que estas fórmulas provam o amor de Deus pelas suas criaturas e são meios para provocar da alma uma resposta de amor. Brou nos diz que Santo Inácio fala nas “Constituições” 259 vezes sobre a Maior Glória de Deus. Para São Francisco de Sales pode-se afirmar que ele substituiu “Caridade” por “Maior Glória de Deus”. Sempre foi o grande apaixonado: “quando estava em Pádua estudava Direito para agradar a meu pai e para me agradar estudava Teologia. Sua maior paixão foi ser o grande enamorado de Deus. 4.6 Não escolher, mas deixar que Deus escolha Neste particular São Francisco de Sales colocava o dever como sinal incontestável da vontade Deus. Dom Bosco insistia muito sobre este aspecto da vida religiosa, com Domingos Sávio e com todos os jovens por ele dirigidos espiritualmente. Aceitar a obrigação como algo que vem da vontade de Deus, faz-nos indiferentes a tudo o mais. Às vezes cumprir uma obediência, pelo menos inicialmente, é como correr sobre brasas. 4.7 Indiferença A obediência vista na ótica de São Francisco e podemos dizer na de Dom Bosco pode conduzir a uma heróica indiferença. «Se amo somente o meu Salvador, porque do mesmo modo não amarei o Calvário e o Tabor, dado que é sempre Ele que se encontra, tanto em um como no outro? E por que não deverei dizer com igual amor, tanto no Calvário como no Tabor: é bom estarmos aqui?» Não fica por aqui a típica indiferença de Francisco: «Se desejo somente água pura, que me importa que me seja entregue em uma taça de ouro, ou em um copo se, de qualquer modo quero somente água? “Pelo contrário, preferirei num copo, porque não tem outra cor senão aquela da água que, em tal caso, vejo também melhor.»57 4.8 Ser você mesmo Este é outro ponto de insistência da espiritualidade franciscana. Devemos ser aquilo que Deus quer que sejamos. Como Dom Bosco os santos de nossos dias procuram seguir os passos de São Francisco. Vejamos os que nos dizem dois Papas que conhecemos: João XXIII, grande devoto de São Francisco de Sales, escreveu durante um retiro espiritual: hoje, não devo desejar o aquilo não sou, mas de ser muito bem o que sou. E em outro discurso: 57 Carta III a Bassura. 27
  • 28. «Se devesse ser como ele, não me aconteceria nada, mesmo quando me fizessem Papa... “Minha vida, o Senhor me diz, deve ser uma cópia perfeita da de São Francisco de Sales, se quer ser fecunda em alguma coisa boa.»58 Outro Pontífice de muita intimidade e familiaridade com a doutrina do Sales foi João Paulo I. Inspirou-se e moldou sua ação pastoral nos escritos e discursos. «Se os políticos vos escutassem! Eles medem a própria ação pelo sucesso. Conseguem? Tudo bem. Para vós, a ação deve valer também se não chegou a ter sucesso, se feita por amor de Deus. O mérito da cruz carrega, não é o seu peso, mas o modo pelo qual é carregada.» 4.9 Descomplicador do caminho espiritual Deixar-se guiar pelo amor, este é o segredo de Francisco. Tudo então se simplifica. Não gostava de problemáticas complicadas e por vezes inúteis. Olhava com certa compaixão para as almas que se deixavam enredar por semelhantes caminhos. Coitados! Angustiam-se procurando a arte de amar a Deus e não sabem que não há outra, senão a de amá-Lo. Falando desta problemática, chega a ser até um tanto satírico: Torturam-se tanto, pensando como fazê-lo que não têm mais tempo de fazer nada. J. Auman Antes de morrer deixou às suas irmãs um convite em sete palavras que podem ser o resumo de toda sua espiritualidade: Fazei tudo por amor e não por obrigação. No Oratório de São Francisco de Sales, em Valdocco, a santidade consistia na alegria, em viverem sempre alegres. Havia até a mesmo a Sociedade da Alegria, fundada por Dom Bosco e seus colegas seminaristas, quando estudavam no Seminário de Chieri. 4.10 O Tratado do amor de Deus (Teótimo) Um dos livros mais lidos em seu tempo e que teve inúmeras edições. Nos primeiros anos uma por ano. Na obra ele fala do fogo que lhe queima por dentro. Muito recatado, por vezes recorre a artimanhas literárias, evitando falar de si mesmo. Eis um exemplo: 5 58 Il giornale dell’anima 28
  • 29. «Vimos uma alma agarrada fortemente ao seu Deus, todavia tinha o intelecto e a memória tão livres de qualquer ocupação interior, que percebia muito claramente o que se dizia ao seu redor e lembrasse completamente, embora lhe fosse impossível responder e separar-se de Deus, ao qual estava unida por adesão de sua vontade. De tal modo unida, digo, que não podia ser tolhida daquela doce ocupação, sem experimentar uma grande dor que provocava lamentos, ainda mais intensos se vinha ininterrupta no ápice de sua consolação e quietude». Em sua simplicidade e ao mesmo tempo sabedoria considera esta sua obra de tal modo acessível a todos que seria, segundo ele, como uma carta enviada aos amigos. Eis os termos com que escreve ao amigo duque Roger de Bellegarde: «Mando-lhe o livro do Amor de Deus, ninguém o viu ainda. Se em algum momento a consideração que tem por mim, dá-lhe vontade de receber uma minha carta, tome este tratado e leia um capítulo.»59 5. Dom Bosco, São Francisco de Sales e ( a Família Salesiana) os Salesianos A figura e a obra de um grande teólogo espiritual contemplada por Dom Bosco em São Francisco de Sales impressionaram menos que a vida cotidiana do apóstolo, plena de caridade e bondade. Foi esta faceta do santo saboiano que conquistou o santo piemontês e fez com que ele decidisse seguir os seus passos. Na primeira Missa do filho de Margarida ele formulou dez propósitos. No quarto ele escrevia: a , a caridade, a bondade e a doçura de São Francisco de Sales guiem-me em tudo. O sonho de 188360, traz uma sugestão para o missionários: com a doçura de São Francisco de Sales, os salesianos atrairão a Jesus Cristo os povos da América. Entre as oito bem-aventuranças da Família Salesiana de Dom Bosco uma nos diz que sejamos dóceis, mansos: bem-aventurados os mansos. É através desta virtude que conquistaremos os corações e os educaremos. Educação, obra que nasce no coração. Por que o pregador de Nazaré conquistou e continua conquistando tantos corações nos quatro quadrantes do orbe? Porque era manso e humilde de coração (Cfr. Mt. 11, 29). 59 16 de Agosto de 1616. 60 É o ano em que os Salesianos chegaram ao Brasil e fundaram sua primeira Comunidade em nossa terra, o Colégio Santa Rosa, na cidade de Niterói, em 14 de julho de 1883. O primeiro diretor foi o Pe. Miguel Borghino. Certamente Dom Bosco, então com 60 anos, estava preocupado com o êxito daquela missão e pedia ao santo da bondade que intercedesse pelos seus missionários do Brasil. 29
  • 30. A mansidão, a doçura não pode ser confundida com fraqueza ou covardia. É coragem, firmeza capazes de enfrentar as violências e truculências de um mundo hostil e insensível. Sem iras nem rancores, mas com modos pacíficos, com benignidade e amabilidade. Desde o sonho dos nove anos que Dom Bosco assumiu esta atitude, aceitando o conselho da Senhora que lhe apareceu naquela noite: não com maus tratos, mas com caridade, com amor deverás conquistar estes teus amigos. A violência é a mãe da violência. A amabilidade, a doçura vence a maldade. Só assim se construirá no mundo uma civilização do amor. Não se pense que a doçura era um dom natural de Dom Bosco. No sonho dos nove anos ele nos diz que acordou com os punhos doloridos pelos murros que deu nos jovens blasfemadores. Em Chieri, nos primeiros anos de seminarista era tido como o mais colérico dos alunos.61 Paulatinamente e com muita vontade iniciou um árduo trabalho de renovação. Nesta conversão muito ajudaram as pregações que no Seminário ouvia sobre S. Francisco de Sales, sobretudo as do dia 29 de janeiro de cada ano, quando da celebração da festa do Santo saboiano. Já falamos sobre seu propósito no dia da ordenação, quando escreveu que a caridade e a doçura de São Francisco de Sales deveriam orientá-lo em todas as suas atitudes. Nota-se este seu comportamento, de modo especial ao tratar com os jovens. Dom Bosco nas Memórias do Oratório fez questão de explicar porque preferiu que São Francisco de Sales fosse patrono e modelo de sua obra. No incipiente e humilde Oratório de 1884 seus meninos se reuniam diante de um quadro de São Francisco de Sales. A primeira Capela do Oratório e posteriormente o próprio Oratório receberam o título de São Francisco de Sales. Dom Bosco apresenta ainda outro motivo para esta sua escolha: «Por causa do nosso ministério, exigindo grande calma e mansidão, colocamo-nos sobre a proteção deste grande Santo, a fim de que nos obtivesse de Deus a graça de poder imitá- lo na sua extraordinária mansidão e na conquista das almas.» Mais tarde62, possivelmente com os problemas pastorais criados pela atuação dos protestantes valdenses e com reflexos perigosos para a fé popular, Dom Bosco acrescenta mais uma razão para seguir o apóstolo de Chablai. A atuação firme e ao mesmo tempo fraterna e bondosa de Francisco de Sales no combate à heresia valdense motivou ainda mais Dom Bosco a imitar o santo em seu trabalho apostólico de Turim. 61 Cf. F. Desramaut, Don Bosco em son temps, 120. 62 Possivelmente entre 1848 e 1850. 30
  • 31. «Outra razão era a de colocar-me sob a proteção deste santo, a fim de que do céu nos ajudasse no combate aos erros contra a religião especialmente o protestantismo, que insidioso, começava a insinuar-se nas nossas vilas e especialmente na cidade de Turim.»63 Os títulos de São Francisco de Sales ou Salesianos, Salesianas, através de Dom Bosco haveriam eternizasse-iam pelo mundo afora através de Dom Bosco, dos Salesianos e suas obras: • Sua primeira obra, o Oratório chamou-se de São Francisco de Sales; • O Oratório de Valdocco, Casa Mãe em Turim, levou o nome de São Francisco de Sales; • Em 1859, a sociedade religiosa fundada por Dom Bosco é denominada Sociedade de São Francisco de Sales; • O patrono da Congregação de Dom Bosco é São Francisco de Sales; • Os religiosos da Sociedade de São Francisco de Sales serão chamados Salesianos, em homenagem a Francisco de Sales, e, não Bosquianos, de João Bosco; • As religiosas da segunda Congregação fundada por Dom Bosco e Madre Mazzarello, as Filhas de Maria Auxiliadora, são também conhecidas por Salesianas; • Ao correr do tempo foram surgindo os vários grupos que formam a Família Salesiana de Dom Bosco (Salesianos Cooperadores, Cooperadoras Salesianas, Salesianos externos, Associação das Damas Salesianas); • Nossos ex-alunos ou ex-alunas são: ex-alunos salesianos, ex-alunas salesianas. Hoje todos esses grupos continuam a encontrar e imitar em São Francisco de Sales uma espiritualidade do quotidiano, da alegria e do otimismo. Uma casa salesiana sem estes componentes: alegria, bondade, otimismo não é verdadeiramente uma casa salesiana. O Capítulo Geral XXIV estabelece que “o Conselho Geral promova e apóie outras...experiências e escolas para a formação de formadores...Seja dada atenção particular à espiritualidade de Francisco de Sales”. 64 Por que esta preocupação da Assembléia Geral da Congregação Salesiana? Os padres capitulares bem sabiam que foi a espiritualidade do missionário da Sabóia que delineou o coração de Dom Bosco, através da tradução prática que ele fez daquela espiritualidade e que posteriormente alimentou nossa formação. As nossas Constituição nos lembram: «O salesiano, inspirando-se no humanismo de São Francisco de Sales acredita nas riquezas materiais e sobrenaturais do homem, embora não lhe ignorando a fraqueza.» 63 MO 133. 64 N. 148. 31
  • 32. O patrimônio típico do salesiano é, portanto a bondade, a doçura e o otimismo. Diz-se que S. F. de Sales era tão bom que causava admiração em quem dele se aproximava. Certa feita, alguém que o conheceu exclamou: se um homem é tão bom, como não será a bondade de Deus! 5.1 Amizade cultivada por S. F. de Sales, uma prática constante em Valdocco Como vimos, a caridade foi uma das características mais apreciadas e mais cultivadas pelo santo do Chablay, durante toda a sua vida. O sistema posto em prática por Dom Bosco no Oratório tem a amizade como ponto essencial: sou teu amigo, considera-me sempre um teu amigo, dizia aos seus jovens. 5.2 A bondade Ele a via como uma espécie de primado entre as demais virtudes. Eis o que escreveu a respeito: «É um fato real: não existe ninguém no mundo, pelo menos penso, que goste mais cordialmente, mais ternamente e com um amor maior que o meu. E foi Deus que me deu um coração assim.» Vemos este primado da bondade em relação aos jovens também em Dom Bosco. Suas palavras são quase as mesmas ditas por S. Francisco. “Podeis encontrar alguém mais inteligente que eu, mas não encontrareis ninguém que vos ame mais que eu”. Nota-se esta atitude de São Francisco também com relação ao mundo. Sua intenção é conquistá- lo com a bondade. Preocupado com a situação em seu tempo escrevia em 1620: «O mundo está se tornando tão delicado, que daqui para frente, não se ousará tocá-lo a não ser com luvas de veludo e suas chagas não poderão ser curadas senão com delicadeza. Mas, que importa, para que os homens sejam curados e por fim salvos!» Pe. Pascoal Liberatore, ex-procurador salesiano das causas de nossos santos, comentando este trecho diz: “quanta sensibilidade hoderna e quanto espirito ecumênico nesta sua postura! É toda uma bondade dirigida para Deus, com a finalidade de se fazer com que Ele seja amado e nao de uma maneira comum, mas de um amor dirigido à santidade”. 5.2 Santidade 32
  • 33. São Francisco de Sales, como todos os santos fundadores de uma nova espiritualidade, traçou seu caminho próprio de santidade. Dom Bosco o assumiu e deu-lhe novos contornos, determinados traços. Um dos elementos adotados pelo santo piemontês, embora muito conhecido por nós, vale ser recordado. Neste capítulo colocaremos alguns trabalhos e seus autores, considerados como fontes enriquecedoras de contribuição para nossa Sociedade 6. Outras fontes 1. Francis Desramaut a) Les Memorie I (Étude d’um ouvrage fondamental sur La jeunesse de Saint Jean Bosco). De Giovanni Battista Lemoyne. Maison D’Étude Sanint-Jean – BOSCO 47. chemin de Fontanières LYON (5e), 1962. Este trabalho, segundo o próprio autor, é de fundamental importância para se conhecer a juventude de São João Bosco. O estudante curioso e amante da história, ao entrar em uma biblioteca de nossas comunidades salesianas, logo é atraído para os volumosos testos intitulados: Memórias biográficas de Dom Bosco. E se ele se tornar salesiano esses tomos irão lhe acompanhar por toda sua vida. O estudo de Desramaut intitula-se: As Memórias I. precisamente este era o titulo do primeiro tomo que se transformou nos volumes atuais, durante a evolução das causas de beatificação e canonização. O conjunto da obra 1 - As Memórias I. Título do primeiro tomo: Memorie Biografiche di Don Giovanni Bosco raccolte dal Sac. Salelsiao Giovanni Battista Lemoyne, vol. I, San Bennigno Canavese, 1898. Com a evolução das causas da beatificação e canonização de Dom Bosco este primeiro tomo se transformou nos 19 volumes atuais, As Memórias Biográficas têm precisamente 16.121 páginas, sem contarmos com o Índice analítico, o vol. XX com mais 620.65 65 Cf. Lês Memorie I de Giovanni Battista Lemoyne, par Francis DESRAMAUT, S.D.B, p, 1 nota 2. 33
  • 34. Vejamos como ficou a modificação do titulo primitivo, durante a evolução da causa de canonização de Dom Bosco. 1. Memorie Biografiche Del Venerabile Servo di Dio Don Giovanni Bosco..., vo.l VI, 1907. 2. Memorie Biografiche del Venerable Don Giovanni Bosco..., vo.l VII, 1909. 3. Memorie Biografiche del Beato Giovanni Bosco..., vol. XI, 1930. 4. Memorie Biografiche di San Giovanni Bosco, vol. XVI, 1935. Em 1939, veio a lume o X volume. Três autores: João Batista Lemoyne, A. Amadei e E. Foglio assumiram a tarefa de narrar por partes, a vida de Dom Bosco, através dos anos. G. B. Lemoyne I 1815 - 1841, S. Benigno, 1898, XXIV 532 p. • id II 1841 – 1847, S. Benigno, 1901, XII 594 p. • id III 1847 – 1850, S. Benigno, 1903, VIII 661 p. • id IV 1850 – 1853, S. Benigno, 1904, 766 p. • id V 1854 – 1857, S. Benigno, 1905, 953 p. • id VI 1858 – 1861, S. Benigno, 1907, 1102 p. • id VII 1862 – 1864, S. Benigno, 1909, 931 p. • id VIII 1865 – 1867, Turim, 1912, 1110 p. • id IX 1869 – 1871, Turim, 1917, 1032 p. G. B. Lemoyne, A. Amadei, E. Ceria • id X 1871 – 1874, Turim, 1939, VI 1384 p. • id XI 1875. Turim, 1930, 623 p. • id XII 1876 Turim 1931, 711 p. • id XIII 1877 – 1878 Turim 1932, 1018 p. • id XIV 1879 – 1880 Turim 1933, 855 p. 34
  • 35. id XV 1881 – 1882.........Turim 1934, 871 p. • id XVI 1883 Turim 1935, 731 p. • id XVII 1884 – 1885 Turim 1936, 967 p. • id XVIII 1886 – 1888 Turim 1937, 884 p. • id XIX 1888 – 1938 Turim 1939, 456 p. Em 1948, saiu em Turim o XX volume com 620 páginas, preparado por E. Foglio.66 b) Don Bosco e la vita Spirituale.67 (Francis Desramaux, incaricato presso le Facoltà cattoliche di Lione). O autor nas primeiras linhas da introdução esclarece que o livro “nasceu do desejo de esclarecer e ambientar o pensamento religioso de um santo do século XIX, santo quase nosso contemporâneo”. O trabalho se inicia com a descrição das convicções fundamentais de Dom Bosco sobre no campo espiritual. Divide-se em sete capítulos e uma conclusão. Capítulo I – Dom Bosco no seu século68 • A formação clerical em um ambiente antes rigorista, depois ligoriano O jovem Bosco inicialmente pensou entrar nos Franciscanos, chegando mesmo a ser postulante na Ordem. Convencido de que não era seu caminho, em Novembro de 1835 ingressa no Seminário de Chieri. Ali dominava o espírito do séc. XVIII, rigorista ou mesmo jansenista orientado mais à piedade do que à ciência. Reinava a mentalidade probabiliorista, sob a influência da Universidade de Turim, de orientação tomística. 66 Idem, op. cit. p. 19,20. 67 Título original: Don Bosco et la vie spirituelle. Beauchesne,Paris, 1967. Tradução: Luigi Motatto – Dino Donadoni a cura del CENTRO CATECHISTICO SALESIANO di Torino-Leuman. 68 De cada título apresento apenas alguns sub-títulos que julguei mais pertinentes. 35
  • 36. Em 1817, o teólogo Luiz Guala funda em Turim o Convitto, cuja finalidade era a formação pastoral do jovem clero. Sua atuação era bem diferente do que reinava em Chieri, o benignismo substituía o rigorismo. Os jesuítas com o teólogo Guala à frente, difundiam o espírito que reinava então na Itália: «a ascética inaciana, luta aberta contra o jansenismo e o regalismo, devoção sincera e terna ao Sagrado Coração, a Nossa Senhora e ao Papa, freqüência aos Sacramentos»69 O Convitto moldou Dom Bosco nos seus três primeiros anos de sacerdócio (ordenado em 5 de junho de 1841). Ali “aprendeu a ser padre”, o que não aconteceu suficientemente no Seminário de Chieri, segundo ele. • O apostolado citadino entre os jovens abandonados Ao concluir os estudos estava com 29 anos. Conservará em sua vida certas características ded sua doutrina e s eu espírito. «Ele será sempre liguoriano (...) sem renegar completamente o Deus severo da sua juventude. Combinará o humanismo, que lhe era conatural, com o sentido da fraqueza extrema da criatura, do domínio de Satanás sobre o mundo e da atração da concupiscência sobre o homem»70 Não obstante, a vida e as experiências pessoais lhe trarão mudanças, o sentido de Igreja, se afirmará sua confiança na ação santificadora, sua piedade sacramental. • A luta contra os Valdenses. Os Valdenses conquistavam muitos adeptos, sobretudo no meio popular71. Suas ações eram facilitadas pela igualdade de direitos e pela liberdade de imprensa. Dom Bosco contra atacou em 1850, com Avisos aos Católicos. A aceitação foi muito boa. Em dois meses foram divulgados mais de duzentos mil exemplares.72 Em 1853 a ofensiva foi realizada através das Leituras Católicas, que eram uma resposta às publicações dos Valdeses Leituras Evangélicas. Dom Bosco foi visitado, ameaçado, provocado pelos adversários, sofreu atentados. Não cedeu, pelo contrário, contra atacou. • As fontes de Dom Bosco. Dom Bosco, muito embora fosse um homem de ação, tinha uma biblioteca bastante boa. 69 Cf. Fancis DESRAMAUT, Don Bosco e la vita spirituale. Elle Di Ci, Torino-Leuman, p.21. 70 Idem. Don Bosco e la vita... p. 23. 71 De acordo com as estatísticas em 1848 dois quintos dos turineses não sabiam ler nem escrever (MO, 241). 72 MO, 241. 36
  • 37. «Poder-se-ia discutir bastante sobre sua cultura bíblica – que não se pode esquecer, até porque escreveu uma História Sagrada -, patrística – obtida sempre em segunda mão, parece, - ou histórica – Causa os Acta sanctorum e os Annales do Barônio.»73 Seguindo Desramaut citemos apenas alguma obra ou mestres de espírito que influenciaram nosso fundador na formação de seu pensamento e elaboração de sua obra: • Imitação de Cristo. Don Céria nos diz que Dom Bosco meditava alguns de seus versículos antes de repousar à noite. • São Felipe Néri, São Francisco de Sales, Santo Inácio, embora indiretamente, através dos jesuítas da Itália. Uma de suas leituras no Seminário era o livro o Cristão prevenido de Paulo Segneri (1624-1694), jesuíta. A tradição espiritual de Diessbach, jesuíta, deixou-lhe fortes marcas na formação de seu pensamento. O superior da casa dos Jesuítas em Turim, Pe. Secondo Franco (1817-1893) “devia fornecer-lhe três títulos das suas Leituras Católicas”. Ceria relata que o Pe. Secondo participava e usava da palavra nas reuniões plenárias do primeiro Capítulo dos salesianos. A vida de São Luiz Gonzaga, resumida e comentada por Dom Bosco seria o canal para o contato com a espiritualidade de Santo Inácio. • Na lista dos que influenciam nosso santo estão ainda São Carlos Borromeu (1538-1584) e São Vicente de Paulo (1518-1660). Muito importante é a influencia espiritual de Santo Alfonso de Liguori, explicado pelo professor Cafasso enquanto Dom Bosco estudava no Convitto. • Dom Bosco no novo Estado Italiano. Hábil diplomata Dom Bosco fio um elo de valor entre o Governo italiano e a Santa Sé.Em dois momentos sobretudo ele exerceu sua atividade: na nomeação dos Bispos para as Sedes vacantes e nas provisões dos bens temporais das mesmas. Capítulo II – O Caminho da Vida • Uma antropologia muito simples até porque não era um teólogo. Os problemas mais importantes em matéria espiritual Dom Bosco os abordava do modo mais simples. Escrevendo um livro também de espiritualidade para os jovens, O jovem instruído ele fala de Deus, do homem e do seu destino. • A maravilhosa natureza humana. 73 F. DESRAMAUT. Don Bosco e ..., p. 34. 37