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O IDEÁRIO DA PAZ EM UM MUNDO CONFLITUOSO


- O idealismo pode ser interpretado como um
conjunto de princípios universais que defende a
necessidade de estruturar o mundo buscando o
entendimento, através de condutas pacifistas,
onde a confiança e a boa vontade sejam os
motores que movimentam a História.
- Um dos grandes momentos da história da
humanidade, o fim da Primeira Guerra Mundial,
foi marcado profundamente pela assinatura do
Tratado de Versailles e mais quatro: Tratado de
Saint-Germain (1919), Tratado de Neuilly
(1919), Tratado de Trianon (1920), Tratado de
Sèvres(1920), revisado pelo Tratado de
Lausanne (1923).

- Cada um deles foi assinado pelos Aliados da 1ª
Grande Guerra e impuseram medidas que
posteriormente - se não no ato - se mostraram
catastróficas aos Estados que a elas estavam
sujeitos. Foi um conjunto de tratados que
providenciou a fragmentação do Império
Austro-Húngaro, Bulgária, Áustria e Hungria em
vários Estados menores. A Hungria, por
exemplo, perdeu mais de 60% da sua
população     de     húngaros     étnicos.    As
consequências econômicas, políticas e sociais
para a Bulgária culminaram na conhecida
Segunda Catástrofe Nacional por seus cidadãos.
LIGA DAS NAÇÕES

- Resultado direto do fim da Primeira Guerra
Mundial, a Carta da Liga das Nações, desde o
início, não espelhava verdadeiramente a
igualdade entre todos os membros.

- No momento de sua criação já houve
discórdias quanto à melhor forma de pensar a
instituição, se provida ou não de mecanismos
repressores.

- Enquanto a França (mais cética quanto ao
funcionamento de uma Liga desmilitarizada)
apresentou projeto contemplando uma
entidade com capacidade militar, a visão
vencedora foi a defendida por Grã-Bretanha e
EUA (Liga não-militarizada).
- Acreditava-se na boa vontade e no espírito de
cooperação      de    todos    os    governos.
Rapidamente a realidade se encarregou de
apontar o contrário.

   i) O Brasil abandonou a entidade em 12 de
   junho de 1926 quando viu restringidas suas
   aspirações de alçar-se à categoria de
   membro permanente do CS.

   ii) EUA: tiveram sua participação vetada
   pelo Congresso.

   iii) A Alemanha entrou na Liga somente em
   1926, retirando-se em 1933.


Críticas à capacidade de ação da Liga:
- Foi incapaz de resolver o conflito em 1931,
quando o Japão invadiu a China (Manchúria e
grande parte do nordeste).

- As constantes invasões de outros territórios,
pouco depois do desfecho da Primeira Guerra,
por parte da Alemanha e do Japão, a existência
de países colonialistas fortes, como a França e o
Reino Unido, e a própria recusa norte-
americana em participar do que seria a
primeira tentativa de organização do mundo,
apontava com muita nitidez para o
distanciamento observado entre propósito e
ações.


- Ao se comportarem assim, os governos nada
mais têm feito do que traçar as linhas de
condutas para seus países, apoiados em
políticas de poder, nem sempre considerado o
Estado vizinho como amigo, mas apenas como
aliado, enquanto seus interesses coincidirem.
- Funcionou até 1947, quando seu espólio foi
incorporado pela ONU.

O posicionamento adotado pelas grandes
potências fez com que o realismo adquirisse
força considerável enquanto se esvaziava a
corrente idealista.

Afinal, raciocinavam os formuladores de
políticas externas, por que acreditar nas boas
intenções e no respeito ao Direito
Internacional se se vive em um período
conturbado, de incertezas?




 • O idealismo não poderia ter sucesso nos
   anos 20 e 30.
• Os defensores das políticas pragmáticas
  demonstravam a eficácia em analisar as
  relações entre os Estados não sob prismas
  éticos, mas sim baseados em fatos
  palpáveis, comparando poderes e recursos
  como territórios, populações, forças
  armadas, tecnologia, etc.

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  • 1. O IDEÁRIO DA PAZ EM UM MUNDO CONFLITUOSO - O idealismo pode ser interpretado como um conjunto de princípios universais que defende a necessidade de estruturar o mundo buscando o entendimento, através de condutas pacifistas, onde a confiança e a boa vontade sejam os motores que movimentam a História.
  • 2. - Um dos grandes momentos da história da humanidade, o fim da Primeira Guerra Mundial, foi marcado profundamente pela assinatura do Tratado de Versailles e mais quatro: Tratado de Saint-Germain (1919), Tratado de Neuilly (1919), Tratado de Trianon (1920), Tratado de Sèvres(1920), revisado pelo Tratado de Lausanne (1923). - Cada um deles foi assinado pelos Aliados da 1ª Grande Guerra e impuseram medidas que posteriormente - se não no ato - se mostraram catastróficas aos Estados que a elas estavam sujeitos. Foi um conjunto de tratados que providenciou a fragmentação do Império Austro-Húngaro, Bulgária, Áustria e Hungria em vários Estados menores. A Hungria, por exemplo, perdeu mais de 60% da sua população de húngaros étnicos. As consequências econômicas, políticas e sociais para a Bulgária culminaram na conhecida Segunda Catástrofe Nacional por seus cidadãos.
  • 3. LIGA DAS NAÇÕES - Resultado direto do fim da Primeira Guerra Mundial, a Carta da Liga das Nações, desde o início, não espelhava verdadeiramente a igualdade entre todos os membros. - No momento de sua criação já houve discórdias quanto à melhor forma de pensar a instituição, se provida ou não de mecanismos repressores. - Enquanto a França (mais cética quanto ao funcionamento de uma Liga desmilitarizada) apresentou projeto contemplando uma entidade com capacidade militar, a visão vencedora foi a defendida por Grã-Bretanha e EUA (Liga não-militarizada).
  • 4. - Acreditava-se na boa vontade e no espírito de cooperação de todos os governos. Rapidamente a realidade se encarregou de apontar o contrário. i) O Brasil abandonou a entidade em 12 de junho de 1926 quando viu restringidas suas aspirações de alçar-se à categoria de membro permanente do CS. ii) EUA: tiveram sua participação vetada pelo Congresso. iii) A Alemanha entrou na Liga somente em 1926, retirando-se em 1933. Críticas à capacidade de ação da Liga:
  • 5. - Foi incapaz de resolver o conflito em 1931, quando o Japão invadiu a China (Manchúria e grande parte do nordeste). - As constantes invasões de outros territórios, pouco depois do desfecho da Primeira Guerra, por parte da Alemanha e do Japão, a existência de países colonialistas fortes, como a França e o Reino Unido, e a própria recusa norte- americana em participar do que seria a primeira tentativa de organização do mundo, apontava com muita nitidez para o distanciamento observado entre propósito e ações. - Ao se comportarem assim, os governos nada mais têm feito do que traçar as linhas de condutas para seus países, apoiados em políticas de poder, nem sempre considerado o Estado vizinho como amigo, mas apenas como aliado, enquanto seus interesses coincidirem.
  • 6. - Funcionou até 1947, quando seu espólio foi incorporado pela ONU. O posicionamento adotado pelas grandes potências fez com que o realismo adquirisse força considerável enquanto se esvaziava a corrente idealista. Afinal, raciocinavam os formuladores de políticas externas, por que acreditar nas boas intenções e no respeito ao Direito Internacional se se vive em um período conturbado, de incertezas? • O idealismo não poderia ter sucesso nos anos 20 e 30.
  • 7. • Os defensores das políticas pragmáticas demonstravam a eficácia em analisar as relações entre os Estados não sob prismas éticos, mas sim baseados em fatos palpáveis, comparando poderes e recursos como territórios, populações, forças armadas, tecnologia, etc.