1. Jornal
O Bandeirante
Ano XVII - no 200 - JULHO de 2009
Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP
O Bandeirante – 200a Edição!!!
“O trabalho poupa-nos de três grandes males: tédio, vício e necessidade”.
François-Marie Arouet, mais conhecido por Voltaire (1694-1778).
Filósofo, escritor, poeta, dramaturgo e historiador francês.
Helio Begliomini
Médico urologista
Presidente da SOBRAMES-SP (2009-2010).
Este é um mês muito especial para a (1993-1994); Carlos Luiz Campana e
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Hélio Celso Ferraz Najar (1995-1996);
do Estado de São Paulo (Sobrames – SP) Flerts Nebó e Walter Whitton Harris
e, particularmente, para o seu tradicional (1996-2000); Flerts Nebó e Marcos Gime-
órgão oficial de comunicação. Estamos lan- nes Salun (2001 a abril de 2009) e Helio
çando a 200a edição de O Bandeirante!!! Begliomini (maio de 2009-).
Antes dele existiu um informativo que
não tinha um nome específico, apresen- Editoração
tando-se apenas como Sobrames – SP. No que tange à evolução da edito-
Teve 9 edições que vieram a lume com ração de O Bandeirante, poder-se-ia
periodicidade irregular de dezembro de dividi-la em duas nítidas fases: artesanal
1990 a janeiro de 1993. A descontinuida- (1992 a 1996), quando ainda não se dis-
de desse veículo de informação deveu-se cerca de 30 nomes, dos quais nenhum foi punham das facilidades dos microcompu-
a dois fatores: a criação e o sucesso do aproveitado. Após muita troca de ideias tadores, sendo seus editores verdadeiros
boletim O Bandeirante, e ao desânimo e opiniões, os participantes acataram o artistas; e semiprofissional (a partir de
de seus editores e de outros confrades em nome de O Bandeirante por resgatar e 1997), quando não somente houve a
mantê-lo vivo. homenagear um importante movimento ajuda dos recursos da informática, mas,
histórico oriundo nas terras paulistas, e principalmente, agregou-se a experi-
Origem e Propósito que redundou na expansão, ocupação, ência da Legnar Informática & Editora
Em outubro de 1992, já na primeira desenvolvimento e integração de grande (1996-2000), empresa do sócio Marcio
reunião da diretoria de nosso primeiro parte do território brasileiro. Portan- Rangel, que inseriu no número 77 (abril
mandato como presidente (1992-1994), to, O Bandeirante era e é, sem dúvida de 1999) o primeiro anúncio publicitário
tínhamos entre nossas metas criar um alguma, um nome por excelência mais e, a partir de 2001, da expertise do asso-
informativo oficial, de circulação mensal, representativo do Estado de São Paulo ciado e jornalista Marcos Gimenes Salun,
como uma forma de prestação de serviços que a Sobrames – SP tem-se orgulhado que o tornou cada vez mais atraente e
aos associados, destinado não somente em honrar. A sugestão e a aceitação do substancioso, sobremodo em sua versão
a registrar os acontecimentos da vida nome O Bandeirante muito se deveu ao eletrônica divulgada na Internet. Infeliz-
da grei, mas também para divulgá-la e sócio Régis Cavini Ferreira. mente, com a impossibilidade de conti-
fazê-la crescer. A primeira edição de O Bandeirante nuação do trabalho de Marcos Gimenes
A ideia não era original. Fora trazida de circulou em novembro de 1992 – apenas Salun, Helio Begliomini, presidente em
outras entidades que participávamos, tais dois meses do início de nossa gestão – e exercício (2009-2010), após ratificação
como a Academia Brasileira de Médicos constava somente de uma página, seme- da diretoria, assumiu temporariamente,
Escritores (Abrames), Sociedade Brasileira lhante aos moldes de “O Noticioso”, então no início de dezembro de 2009, a função
de Urologia (SBU) – Nacional e SBU – Sec- órgão informativo da Abrames. Flerts de editor, tendo como meta primacial
cional de São Paulo, dentre outras. Nebó, embora não tenha sido o idealiza- resgatar todas as oito edições atrasadas
O informativo tinha como objetivos dor de O Bandeirante, foi o responsável desde maio de 2009.
divulgar, informar, elogiar, noticiar fatos pela sua implantação e solidificação em
da entidade e dos sócios; enfim, mostrar tempos dificílimos. Evolução
que a Sobrames – SP estava viva. Foram muitas e crescentes as mudan-
Não foi fácil convencer aquela dire- Editores ças que O Bandeirante sofreu ao longo
toria da importância desse veículo infor- Ao longo de quase 17 anos de existên- de sua história. Por muito tempo, desde
mativo. O nome foi escolhido democra- cia, os responsáveis pela sua editoração o seu início, seu teor era eminentemente
ticamente. Lembramos nitidamente que foram: Flerts Nebó (1992, duas edições);
trouxemos como sugestão uma seleção de (continua na última página)
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris
2. 2 O BANDEIRANTE - Julho de 2009
Prece ao Senhor
EXPEDIENTE
Acróstico dedicado a minha eterna esposa
Madalena Musetti Nebó
Jornal O Bandeirante
ANO XVII - no 200 - Julho 2009
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos M iríades de estrelas no
Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP .
Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros A lém, no céu rutilam.
- São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editor:
Helio Begliomini. Jornalista Responsável e revisora: Ligia D ando-nos a sensação
Terezinha Pezzuto(MTb 17.671 - SP). Colaboradores desta
edição: Alcione Alcântara Gonçalves, Flerts Nebó, Geovah A gradável e íntima Paz!
Paulo da Cruz, Hélio José Déstro, José Jucovsky, José
Leopoldo Lopes de Oliveira, Lucila Camargo, Luiz Jorge L evantamos nossas orações
Ferreira, Marcos Gimenes Salun e Sergio Perazzo.Tiragem
desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de 1.000 E m preces ao eterno
exemplares PDF enviados por e-mail.
Diretoria - Gestão 2009/2010 - Presidente: Helio
N azareno, que nasceu
Begliomini. Vice-Presidente: Josyanne Rita de Arruda
Franco. Primeiro-Secretário: Ligia Terezinha Pezzuto.
A mém, Aleluia!
Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã.
Primeiro-Tesoureiro: Marcos Gimenes Salun. Segundo-
Tesoureiro: Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal
Efetivos: Flerts Nebó, Carlos Augusto Ferreira Galvão, Luiz
M eus clamores íntimos
Jorge Ferreira. Conselho Fiscal Suplentes: Geovah Paulo
da Cruz; Rodolpho Civile; Helmut Adolf Mataré.
U nindo aos teus;
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus
S obem aos céus.
autores e não representam, necessariamente, a
opinião da Sobrames-SP
I mbuídos de grande amor!
T odos confiantes, disto
Editores de O Bandeirante T emos certeza; mas
Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992 I luminai-nos Senhor!
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994
Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009 N ada neste mundo
Helio Begliomini – maio de 2009 -
E xiste, sem termos
Editor: Helio Begliomini B ondade fé e amor, por isto
Diagramação: Mateus Marins Cardoso
Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica
O ramos com todo o nosso fervor!
PUBLICIDADE Flerts Nebó
Médico aposentado em São Paulo
TABELA DE PREÇOS 2009
(valor do anúncio por edição)
1 módulo horizontal R$ 30,00
2 módulos horizontais R$ 60,00
3 módulos horizontais R$ 90,00 Walter Whitton Harris
2 módulos verticais R$ 60,00 Cirurgia do Pé e Tornozelo
4 módulos R$ 120,00 Ortopedia e Traumatologia Geral
6 módulos R$ 180,00 CRM 18317
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Outros tamanhos sob consulta Rua Luverci Pereira de Souza, 1797 - Sala 3
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Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante Ginecologia
receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF)
Obstetrícia
*Disponível para o público em geral e para não-sócios da SOBRAMES-SP
Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal a SOBRAMES-SP para REDAÇÃO
Mastologia
“O Bandeirante” R. Bias, 234 - Tremembé - CEP 02371-020 - São Paulo - SP
Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega (11) 2215-2951
3. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Julho de 2009 3
É Por Aí
José Leopoldo Lopes de Oliveira
Médico clínico em São Paulo
Improvecto neologismo cujo maior representante é
Sarney, velho desonesto.
De um jardineiro: amo as rosas mas gosto mesmo é
das trepadeiras.
Extrato (com x) social é o sumo do povo.
No velório o único que manteve a compostura foi o
falecido.
Honduras mostrou ao mundo a qualidade insuperável
Os americanos se impressionaram com o número de
de seus barbeiros, o que se percebe nas fotos do presidente
clones de Michael Jackson surgidos no Brasil, assim que
deposto e dos novos ministros militares que assumiram
o original morreu e dos torneios em julgar quem melhor
onde é patente o apurado tratamento capilar realizado,
o imitava. Pois é, em retribuição quando o cara do Oba-
capaz de fazer inveja a Sarney, Lobão e asseclas.
ma nos deixar, eles porão o mesmo por lá: um concurso
Quando insistentemente abordado por vendedores de para o melhor imitador, acompanhado dum clipe com as
loteria, mega sena, loteca etc. digo que participo só de melhores gafes, com fundo de forró, pé de serra e como
jogos onde nunca perco qual seja, o de jogar a mulher da prêmio viagem a Garanhuns, com direito ainda a entre-
vez do décimo andar. vista com a comunicativa viúva.
Talentos
Alcione Alcântara Gonçalves
Médico psiquiatra em Tupã
A aptidão que adquires é um Talento Talento é intuição, ministrada por Deus,
E disposição natural, para realizar certas coisas. Com o propósito de nos ajudar.
Talento é a exteriorização de uma inteligência extraordinária É a oportunidade, é a porta que se abre
E uma prova de grande capacidade. Para o “Lugar ao Sol”, onde deveremos chegar!
Talento é vontade de acertar o alvo, Talento é saber administrar a vida com mansidão
É o exercício de sua capacidade mental, E, com o domínio próprio dos nossos atos.
É o remexer em todo o seu aprendizado, Talento é a sabedoria que a vida nos dá,
Para a concretização de um ideal. Para seguirmos no bom caminho da evolução.
Talento é desejo de lutar e lutar!
E não desistir, diante de nenhuma adversidade,
Vislumbrando, sempre, a meta desejada,
Com a certeza de que a vitória será alcançada!
Talento, usado antigamente como moeda e peso,
Nas transações comerciais, entre Gregos e Romanos;
Foi o pagamento feito a Judas, um dos discípulos,
Pela sua traição ao Nazareno: O Mestre Jesus!
4. 4 O BANDEIRANTE - Julho de 2009
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Judas
Luiz Jorge Ferreira
Médico clínico em São Paulo
Na quinta-feira ele pacientemente cortava as unhas do pé esquerdo.
Sentado em seu sofá de pano escuro, mais escuro pelos anos de uso.
Quase de bruços por enxergar pouco. Ele quase trazia o pé à boca.
Na sexta-feira fazia pudim de maracujá e punha a
roupa para secar ao prazer do vento defronte da entrada
do prédio em que morava, para o desespero do síndico
e gritaria dos moleques do terceiro andar. Berrando
Judas! Judas!
Enquanto ele subia e descia os quatro vãos de esca-
das, trazendo sobre os ombros um monte de túnicas,
véus e estolas molhadas, deixando escorrer água pelo
corredor. Como sempre, eram dez para a meia noite e o
sonolento porteiro do prédio pouco ligava para aquele
vulto magro de cavanhaque, de unhas longas e enrodi-
lhadas, de compleição frágil, que se trajava como uma
daquelas personagens de filmes bíblicos.
No sábado de manhã, ele subia até a área da caixa
d’água e se expunha ao sol quando este aparecia pleno
em luz e calor.
Cantava, segundo algumas vizinhas curiosas do pré-
dio da frente, dançava segundo outras, e levitava nu em
pleno pelo até a amurada carcomida. Por vezes derru-
bava alguns mosaicos que caíam lá embaixo na calçada,
assustando os cães que vagabundeavam por ali.
Ninguém sabia quem o alimentava, de quem era o
apartamento em que morava. Quem lhe escrevia tantas
cartas que chegavam em pacotes quase diariamente,
vindas do Extremo Oriente, de Oslo, da Criméia, da
Filadélfia, do Congo, de Amsterdã, de Oriximina e mesmo de Passo Fundo.
No Domingo ele pacientemente corta as unhas do pé direito, e come nozes, avelãs e tâmaras que planta num vaso
grande em pequenas árvores anãs, oriundas de múltiplas podas, porém vistosas, vigorosas e muito frutíferas.
Em uma reunião, a moradora do 103 apresenta um abaixo-assinado para retirá-lo do prédio e consegue a assina-
tura de quase todos os proprietários.
De forma que, mesmo os inquilinos temporários, apenas moradores eventuais e até ex-moradores também as-
sinaram. Levado à justiça e oficializado o despejo. Foi marcada a data que por coincidência seria numa sexta-feira,
véspera de um grande feriado nacional.
De maneira que avisos de despejo foram enfiados por debaixo da porta, e nem se sabe se ele leu algum. Esta semana
ele não desceu para estender roupa em nenhuma ocasião. Nem subiu à laje da caixa d’água para cânticos e danças.
O síndico deixou os empregados do prédio de dezesseis andares de sobreaviso. “Caso ele saia me avise depressa”.
Nesta semana anterior ao despejo (Insônia geral).
No dia anterior ao dia do despejo, chuva e sol. Na noite do despejo, as horas voaram e logo chegou o sábado.
Neste dia ele cortou a garganta. E as unhas continuaram crescendo nos dois pés. Na terça-feira as do pé direito. E
na quinta-feira as do pé esquerdo. O corpo separado da cabeça olhava alheio. E os ouvidos escutavam o barulho da
polícia batendo à porta.
No domingo era Páscoa. As alpercatas desceram pelo elevador.
5. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Julho de 2009 5
Alegóricas Tragédias
José Jucovsky
Médico aposentado em São Paulo
O inebriante mistério da mente
Do ser tudo e não ser nada Paciência
Sobressai na fantasia ambivalente:
Ter o poder dos deuses e o dom das fadas.
Marcos Gimenes Salun
Orfeu canta entre lágrimas e lamentos
Jornalista em São Paulo
Sofrida dor pela esposa perdida...
Implorando o alívio do último alento
Busca solitária morte, sua dor em vida...
Plantar uma semente
Édipo carrega enorme fardo E sentar-se ao lado
Assassino do pai, com a mãe casado... Esperando pela sombra.
Desgraçado assim como o bardo
Só ao fenecer fica liberado...
Dante Alighieri em alegórica história
Memorável em dantescas descrições
Traça o destino da humana trajetória
Das trevas à luz em imortais reflexões!
O túmulo da trágica rivalidade medieval,
Do amor de dois jovens em Verona,
Tornou-se atração turística mundial
Dramatizada na famosa peça shakespeariana.
O místico impulsivo desejado
Etérea rima em metáfora se torna...
Na luz do conhecimento alcançado
Fausto em Mefistófeles se transforma.
Em todos os tempos aconteceram
Tragédias causadas por conflitos e traições
Dramatizando personagens que viveram
Despertando mitos, piedade e paixões!
Cio no Frio
Geovah Paulo da Cruz
Médico oftalmologista em São Paulo
Chegou o frio de esfriar. Chegou o frio de esfriar,
Chegou o frio de esquentar. Nosso clima vai esquentar.
Um queijo fundindo na grelha Um amplexo bem colante
Um vinho rubro, uma face vermelha Um cheiro de cio morno inebriante
Um coração e uma centelha Um desejo latejando pulsante
Um fungado ao pé da orelha Um impulso penetrante
Um tapete de pele de ovelha Um roçar gozoso excitante
Um vendo chão, outro vendo telha Um edredom e uma amante
Dois na fogosa parelha Dois orgasmos no mesmo instante
Lá fora pode gear. O frio chegou pra nos abrasar.
6. 6 O BANDEIRANTE - Julho de 2009
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Domingo
Sergio Perazzo “Delírios e Sombras”
Médico psiquiatra em São Paulo
No fundo do frasco dos dias, a última gota de domingo. Hélio José Déstro
A tentativa de prolongar as horas que adiem ao máximo Dentista aposentado em São Paulo
o alvorecer de segunda.
Talvez seja essa aquela certa melancolia, ia dizer
desalegria, indefinível, fátua, fantasmática, que naco O inventor da vida e o reinventar
passa com arnica, com chá de boldo, com cataplasma,
com ventosas, com bolsa de gelo, com toda essa medicina Na estrada de dentro de nós.
caseira, essa farmacologia improvisada, essa enfermagem Rodando nos tesouros de nós mesmos.
doméstica, essa panaceia confortadora e comovente a que Na virada do gira mundo.
recorremos hipocondríacos, como a uma irreconhecível No destino. Sombras e delírios.
benzedeira, só para manter colorido o nosso resto de Batedores em corações.
domingo. De um frustrado sonhador.
Você me parece tantas vezes uma ilha cercada de Pra ver a vida bem clara.
incidentes e acidentes domésticos por todos os lados, que Nós nos perdemos. Em nós mesmos.
só você com sua história tumultuada. Inumeráveis. Vai ver Caminhos para o destino levar.
alguém enterrou um galo preto e uma farofa amarela no
seu jardim de cimento. No círculo do mundo.
Na essência da vida. Vultos.
Nós nos perdemos na paixão.
Que existe em nós mesmos.
Restam fantasmas e sombras
Tudo porque o resto do resto já findou.
Dos alguéns que andaram sem rumo.
Em delírios. Em sonhos.
Em buscas e procuras.
O ter sido o que deveria ser.
Sabendo que o tudo e o nada.
Não serão para sempre.
Nas emoções do viver.
Nas alegrias de feriados.
Nos dias a dias apressados.
Presos nas teias do coração.
O que eu não sei, nem nunca vou descobrir, é de onde e Estão as saudades do que foi feito.
de como você faz viver tanta alegria, tanto sol, tanta poeira E a tristeza dos não realizados.
de luz, tantos acordes harmônicos, tanto som melódico. Dos delírios inacabados.
Você, a própria melodia. Dos sonhos não sonhados.
Basta olhar, quando você chega, e aquela aura que vem Sombras + sombras e vultos.
junto dissipa qualquer mau olhado, qualquer ziquizira. Em Do tempo que passou.
você o amanhã será outro dia deixa de ser lugar-comum E que não voltam nunca mais.
para se tornar de fato amanhã será outro dia. Se existe uma
fé, a fé é essa. A sua fé. E o dia se torna outro dia. Outro
credo. A hora, outra hora. O segundo, outro segundo.
E é por isso que faço questão de abrir a porta e esperar
você chegar. Para que eu partilhe da sua reserva eterna de
alegria, que está sempre ali no seu rosto, redesenhando
cada vez um sorriso diferente, mesmo que pareça o mesmo
sorriso de todo o dia.
Então me acalmo. Então espero. Então me alegro.
Neste fio que resta de domingo e que não vou deixar,
com você, que nenhuma segunda-feira obscureça numa
cortina de fumaça.
7. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Julho de 2009 7
Crônica Sobre Berlim*
Lucila Camargo
Médica
Morar por algum tempo em ou- Que bom! Meus pais estavam sim, que tinha evitado a situação,
tro país pode ser uma experiência para me visitar e, com certeza, preferindo as latas que já vêm
muito interessante, enriquecedora minha mãe Macgyver (o do se- com um puxador, ou produtos na
e prazerosa. Hoje, por exemplo, riado antigo de TV) do jeito que caixinha. Mas o atum só encontrei
voltando do laboratório, pude é, me ensinaria a abrir a lata. Ela neste tipo de lata que me obrigava
observar um coelho, daqueles também perdeu a luta. Confesso mais uma vez a encarar o abridor
marrons, correndo num dos vários que no fundo me senti menos com respeito.
jardins dos parques de Berlim. Até incapaz, e neste sentido foi muito Comi atum SIM! Com a ajuda
tirei foto. Puxa! Quando poderia confortante, mas continuava sem de um garfo, ele teve que passar
ter esta surpresa em São Paulo? conseguir resolver meu problema por uma fresta da lata que abri
Que delícia! prático. com muito custo. Assim que der,
Ao mesmo tempo, podemos vi- Hoje foi o terceiro round. Co- procuro o chinês na feira com o
ver momentos muito estressantes. mecei reforçando minha auto- abridor em mãos para maiores
Vou explicar melhor: comprei um estima: sim, conseguiria abrir instruções.
abridor de latas que simplesmente a lata de atum, bastava calma.
não sei usar. Foi o primeiro e único Lembrei-me do dia em que feliz
modelo que encontrei. Era dife- voltei pra casa com meu abridor
rente do que estava acostumada,
mas nunca poderia imaginar que
novo. Comprei-o de um chinês na
feira e lembro que ele me disse
REVISÃO
de textos em geral
uma guerra começava. se tratar de um produto muito
Na primeira tentativa, estava bom. Ele, o abridor, tem gravado Ligia Pezzuto
igualmente curiosa e estimulada “Made in Germany” e abre garrafa Especialista em Língua Portuguesa
já que poderia incrementar meu também. Não parece um abridor (11) 3864-4494 ou 8546-1725
cardápio. Tentei várias maneiras, vagabundo qualquer e até agora
esforcei-me para lembrar as aulas se mostrou muito resistente em-
de mecânica do colégio, procurei bora eu nem sempre tenha tido
ROBERTO CAETANO MIRAGLIA
simular a alavanca do abridor que delicadeza ao manipulá-lo. Fiz ADVOGADO - OAB-SP 51.532
já conheço e nada. Acabei abrindo rapidamente as contas na cabeça:
a lata no murro com uma faca, já quase dois meses na Alemanha, ADVOCACIA – ADMINISTRAÇÃO DE BENS
NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS – LOCAÇÃO
irritada nesta primeira batalha. comprei o abridor na segunda ou
COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS
Ok, melhor aguardar alguns dias. terceira semana e até o momento ASSESSORIA E CONSULTORIA JURÍDICA
Na segunda tentativa, a irritação não conseguira abrir uma lata, TELEFONES: (11) 3277-1192 – 3207-9224
chegou mais cedo e o resultado foi uma latinha! Ponderei que não
o mesmo: 2 X 0 pro abridor. tinham sido tantas tentativas as-
Nota: crônica lida pelo seu pai, o clínico José Leopoldo Lopes de Oliveira.
* Terminou de
escrever seu
livro? Então
publique!
Nesta hora importante, não deixe de
consultar a RUMO EDITORIAL.
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8. 8 O BANDEIRANTE - Julho de 2009
SUPLEMENTO LITERÁRIO
O Bandeirante – 200a Edição!!!
(continuação da primeira página)
informativo. Em abril de 1997, começa- da a duras penas pelas diversas diretorias janeiro de 2009, a publicação das matérias
ram a ser editadas as Páginas Sobrâmicas que se sucederam e, particularmente, pelo conforme o Novo Acordo Ortográfico da
como seu suplemento literário. Tratava-se brio e responsabilidade de seus editores. Língua Portuguesa, equiparando nosso
de um encarte de quatro páginas onde se Ao que nos ocorre, a única exceção foi a boletim aos mais destacados periódicos e
destinava exclusivamente à publicação de edição do Ano III – número 37, de 1995, revistas brasileiros.
trabalhos literários, quer em poesia quer que compreendeu os meses de novembro Tais mudanças não somente têm
em prosa, em substituição à coluna “Can- e dezembro. projetado a entidade como também seus
to Literário” do boletim. A última edição Em virtude da inoportuna e inconse- associados e, particularmente, seus articu-
das Páginas Sobrâmicas foi a de no 46 (ja- quente crise provocada por um sócio da listas, o que tem ocasionado um salutar con-
neiro de 2001) – Ano IV, pois, doravante Sobrames paulista, no início do segundo gestionamento em sua concorrida pauta
o conteúdo desse suplemento literário foi trimestre de 2005, que, com inverdades editorial. A fim de minimizar essa demanda
incorporado em O Bandeirante. atingiu imerecida e gravemente Marcos e valorizar os sócios que contribuem com a
Gimenes Salun, responsável pela edito- entidade, a diretoria decidiu desde 2007,
Tiragem ração de O Bandeirante, esse veículo teve publicar apenas trabalhos de seus membros
A tiragem de O Bandeirante em em sua edição no 151, de junho de 2005, adimplentes. A esses, as oportunidades de
fevereiro de 1995 era de 155 exempla- apenas uma folha. Essa edição deveu-se publicação são dadas, tradicionalmente,
res, passando para 250 em julho; 310 exclusivamente a Flerts Nebó que, com em sistema de rodízio de autores, a fim de
em agosto; 350 em setembro; 180 na denodo e grande esforço, apesar da aba- contemplar a todos indistintamente.
edição de novembro-dezembro desse lada saúde de sua esposa e de si mesmo, Temos certeza de que O Bandeirante é
ano, e 210 na edição de janeiro de 1996. tudo fez para que a heroica “sequência não um órgão informativo que muitas entida-
Desde o ano 2000, a tiragem do boletim fosse quebrada”. des médicas e culturais mais tradicionais,
estabilizou-se em 300 exemplares. Essa crise teve desdobramentos ao lon- afamadas, glamorosas e financeiramente
Em maio de 2006, com apoio cul- go dos meses subsequentes, culminando mais aquinhoadas gostariam de ter e não
tural do laboratório Apsen, houve uma com o pedido de demissão, em outubro o possuem. Em contrapartida, sabemos
tiragem recorde de 10.000 exemplares! de 2005, da presidente e do 1o tesoureiro. também que ele está muito além do
Desse montante, 9.500 foram entregues Em consequência, o espaço editorial do que comporta o número de seus mem-
à Apsen para distribuição através de seus presidente em O Bandeirante, que já tinha bros adimplentes e, consequentemente
propagandistas e de sua mala-direta. Os destaque desde as mudanças no layout de do irrisório orçamento que a entidade
demais foram distribuídos pela Sobrames fevereiro de 2001, foi ocupado até setem- possui. Isso só se tem tornado possível
– SP através de sua mala-direta. bro de 2006, em regime de rodízio, por graças ao trabalho abnegado de diversas
vários membros da entidade, a convite de diretorias que se têm sucedido e, mui
Nova Mudança no Layout seus editores, Flerts Nebó e Marcos Gime- particularmente, da dedicação graciosa
O Bandeirante teve mudança signifi- nes Salun. A partir de outubro de 2006, dos jornalistas Marcos Gimenes Salun e
cativa em seu formato e conteúdo a partir Helio Begliomini, presidente eleito para o Ligia Terezinha Pezzuto.
do número 99, em fevereiro de 2001. O biênio 2007-2008, a convite dos editores, A fim de que O Bandeirante possa
tamanho da folha aumentou, totalizando começou a ocupar esse espaço. continuar crescendo, faz-se mister que
oito páginas, eventualmente 12. No ca- os números de anunciantes cresça, assim
beçalho observou-se, ao centro, o nome Publicidade como assinantes não pertencentes à enti-
bem destacado do boletim. Inseriu-se, Desde a primeira publicidade da Leg- dade. Neste particular, campanhas entre
à sua esquerda, o símbolo da Sobrames nar Informática & Editora, em abril de os membros têm dado algum retorno.
e, à sua direita, uma ilustração de um 1999, O Bandeirante passou a contar com Em contrapartida, temos tentado debal-
bandeirante. As Páginas Sobrâmicas um número crescente de anunciadores, de há quase três anos contratar um(a)
como dito acima foram incorporadas ao atingindo desde 2007 uma quantidade por promotor(a) de vendas de anúncios.
conteúdo do boletim, constituindo-se no edição sem precedentes. Dezenove dife- Ademais, é imprescindível que o número
seu Suplemento Literário. rentes anunciadores, entre pessoas físicas de membros adimplentes também cresça
Os espaços para o editorial do presi- e jurídicas, colaboraram com a entidade e de forma exponencial. Esse é um traba-
dente e dos editores ganharam destaques, nesses últimos dez anos. lho que transcende uma diretoria e um
assim como a coluna do expediente. A mandato, mas se atém a todos aqueles que
diagramação tornou-se mais dinâmica, Presente e Futuro amam e se orgulham da entidade.
sem perder sua sobriedade e seu conjunto Desde janeiro de 2007, além da tira- Quando isso acontecer, podemos dizer
mais harmônico e ilustrativo, o que o gem de 300 exemplares, O Bandeirante que O Bandeirante entrará na terceira
tem distinguido ao longo dos anos. Essas tem sido também divulgado em cores pela fase: a profissional. Com certeza ela não
modificações deveram-se à esmerada Internet a um universo de mais de mil perderá o encanto de sua tradição, a força
atuação do sócio e jornalista Marcos endereços, tanto para pessoas quanto para de sua saga histórica, nem o brilho de seus
Gimenes Salun. entidades. Ademais, desde essa época, tem protagonistas, mas servirá para gratificar
contado com o esmerado serviço de revi- o justo trabalho daqueles que nele se
Reflexos da Crise de 2005 são ortográfica da jornalista e associada Li- dedicam, e dará – com certeza – maior
O Bandeirante sempre teve britanica- gia Terezinha Pezzuto, contribuindo assim visibilidade aos seus articulistas, além
mente uma edição mensal, tal qual fora para torná-lo ainda mais sério e respeita- de proporcionar maior independência e
concebido. Essa periodicidade foi manti- do. Aliás, deve-se também à Ligia, desde projeção à entidade.