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Pesquisa de manuais

Jogos tradicionais e o desenvolvimento das capacidades motoras na escola.
2ª edição. Instituto do Desporto de Portugal 2004 Jose A. Bragada

Na ficha de inscrição de cada jogo estão mencionadas as capacidades motoras
solicitadas de forma predominante. Para sua determinação tivemos em conta o critério
da “evidência”, pois não há formas objectivas para efectuar essa associação. De qq
forma pareceu-nos importante essa referência, pois o ensino da Educação Física e
Actividade Desportiva estão organizadas em torno do desenvolvimento das capacidades
motoras (condicionais e coordenativas). Se, realmente às primeiras (condicionais) existe
consenso generalizado na terminologia utilizada na sua classificação: força, velocidade
e resistência (Bompa 1994, Manno 1990, Mitra e Mogos 1990, Platonov 1987, Matvéiv
1986, Weineck 1986), o mesmo não acontece com as capacidades coordenativas. Hirtz e
Schileke (1986) propõem uma classificação das capacidades coordenativas em cinco
tipos: equilíbrio, reacção, diferenciação cinestésica, orientação espacial e ritmo; Mano
(1990), tendo por base classificações de outros autores, acrescenta mais dois tipos. Uma
vez que em Portugal é comum aceitar-se a classificação de Hirtz e Schileke (1986)
optámos pela sua utilização neste trabalho.

Jogos tradicionais podem ser entendidos como as actividades lúdicas, recreativoculturais praticadas por crianças, jovens e adultos, transmitidas ao longo de gerações
fundamentalmente pela oralidade, observação e imitação (Bragada, 2001).

J. T / Desporto moderno

Os jogos tradicionais pelas suas características, estão muito mais associados com o Jogo
do que com o Desporto, como se pode observar pelas características do quadro……
Serra 1999,
À unicidade das regras dos desportos, contrapõe-se a diversidade dos jogos tradicionais,
com a variação do tempo e no espaço. Nestes, admite-se, usualmente, a previa discussão
dos regulamentos a adoptar, estabelecendo-se um contrato lúdico que permite, assim, a
participação de pessoas de diferentes idades e capacidades (Serra, 1999).
A primazia do resultado, o rendimento e os elevados valores materiais e de prestígio que
são postos em jogo no terreno desportivo, estão distantes do clima de convívio, ou de
uma realidade simples, em que decorrem (ou decorreriam) os jogos tradicionais (Serra,
1999).
À criatividade, espontaneidade e liberdade presentes nos jogos tradicionais opõe-se o
treino sistematizado, dedicação por vezes exclusiva e a necessidade de atingir o máximo
rendimento possível, por parte dos praticantes desportivos.

Serra M. C. (1999). Jogos Tradicionais em Portugal – as relações entre as práticas
lúdicas e as ocupações agrícolas e pastoris. Tese de Doutoramento. Volume 1. UTAD Vila Real.

O jogo é um fenómeno universal, presente em todas as épocas e civilizações. A
permanência do lúdico em todo o percurso histórico e civilizacional, no mundo das
crianças, dos jovens e dos adultos, é um bom indicador de importância que, na sucessão
dos séculos, milénios, lhe foi reconhecida. (pag. 1)

Definir jogo está longe de ser uma tarefa simples, senão impossível. Extrema
diversidade de práticas e a variabilidade das atitudes do fenómeno lúdico, nas situações,
objectos, causas e consequências que a ele respeitam, a carga simbólica que o jogo
comporta, as suas estreitíssimas conexões com cultura e a sociedade, tornam irrealizável
uma definição concreta e rigorosa.
Huizinga foi, entre os estudiosos do jogo, o que mais profundamente conseguiu chegar
na tentativa de uma definição aceitável de fenómeno lúdico. Todavia, não chegou além
do domínio da forma, isto é, daquilo que é mais exteriormente perceptível, enumerando
deste modo as principais características do jogo:
“(…) é uma acção livre, sentida com fictícia e situada fora da vida corrente, todavia
capaz de absorver totalmente o jogador; uma acção destituída de todo o interesse
material e de toda a utilidade; que se realiza num tempo e num espaço expressamente
circunscritos, se desenvolve com ordem segundo regras dadas, e suscita na vida relações
de grupo rodeando-se voluntariamente de mistério ou acentuando pelo disfarce a sua
estranheza face ao mundo habitual”. (Pág. 39)

- Salienta agora o carácter voluntário e autotélico do jogo, sem no entanto se referir aos
aspectos particulares que a cultura e a sociedade transmitem ás práticas lúdicas. Nesta
definição, Huizinga, além de ser mais comedido quanto à delimitação nítida do jogo no
tempo e no espaço, realça os sentimentos de tensão e alegria que acompanham a
actividade lúdica, entretanto, portanto, no domínio da atitude do jogador. Assim, o jogo
“é uma acção ou uma actividade voluntária, realizada em certos limites de tempo e de
lugar, segundo uma regra livremente consentida mas completamente imperiosa,
provinda de um fim em si, acompanhada de uma sentimento de tensão e de alegria, e de
uma consciência de estar para além da vida habitual”. (Pág.40)

- Um dos traços mais característicos do jogo, nem sempre valorizado pelos autores que
procuraram definir o domínio lúdico da cultura, é a imprevisibilidade. Ela deriva da
contingência dos lances, como sucede mais notoriamente nos jogos de sorte ou azar, da
incerteza das acções realizadas pelos restantes jogadores, companheiros ou oponentes e
da imponderabilidade associada à irregularidade do espaço e rusticidade dos objectos
utilizados. (Pág.41)

- Até ao advento da sociedade industrial, os jogos tradicionais forma praticados
regularmente nos meios rurais, mas também nalguns bairros urbanos habitados pelas
classes populares, sobretudo junto das tabernas. Eles faziam parte integrante do
programa das festas populares, mas eram também incluídos nos festejos da nobreza e
burguesia.
No fim do século XIX, Adolfo Coelho preconizava, tal como Ramalho Ortigão, “(…) o
restabelecimento dos antigos jogos portugueses de adultos, que ainda em parte se jogam
aos Domingos pelas nossas aldeias”, como melhor meio para reabilitar a energia da
nossa população. Para aquele pedagogo e etnógrafo, mais valia incentivar a criação de
clubes e sociedades que promovessem a prática dessas actividades lúdicas tradicionais
nas cidades, “(…) a introduzir entre nós certas coisas que não têm raízes no solo ou a
querer imitar os acrobatas de profissão (…)”. Pág.51

- Se a importação e absorção das novas atividades desportivas, realizadas durante
décadas, abalou os jogos de tradição, foram outros fatores, surgidos posteriormente, que
os enfraqueceram e remeteram a sua prática, quando muito, para datas festivas. E entre
eles destaca-se o aparecimento da televisão, a mecanização do trabalho agrícola e o
surto emigratório das décadas de sessenta e setenta. (Pág.52)

- Teófilo atribui um papel importante na transmissão oral dos costumes aos idosos, dado
que conservam vivos, na memória, os pormenores do passado. Efetivamente, os velhos
são “(…) os depositários do formalismo cerimonial, do respeito pelo passado (laudatour
temporis acti) e os iniciadores junto das novas gerações da tradição doméstica ou
nacional” (Pág. 58)

- Um dos estudos realizados em Portugal em que é notória a preocupação da descrição
dos jogos tradicionais levantados in situ, foi realizado, em 1986, por Tomé Baía de
Sousa. Atividades lúdicas na Serra do Alvão(…) é uma das primeiras (e raras)
investigações sobre jogos tradicionais, baseadas em trabalho de campo, realizadas em
Portugal. O autor verifica que as práticas lúdicas tradicionais vão diminuindo nas
aldeias das abas da Serra do Alvão, pelo que os jogos “se encontram prestes a
desaparecer”. (Pág.64)

- Em muitos jogos tradicionais, além da força, outras qualidades devem ser
evidenciadas, sobretudo a destreza, a agilidade, a precisão no lançamento, o equilíbrio, a
coordenação, a velocidade de reacção, a astúcia e a estratégia. Estas práticas são
exclusiva e predominantemente destinadas aos moços e homens, às raparigas e
mulheres, ou apresentam-se, embora com pouca frequência, como atividades mistas.
(Volume II – Pág.523).Pasta Sem Nome

Os jogos tradicionais são práticas de tradição, transmitidas oralmente de geração em
geração, em sucessivos processos de enculturação – e, também, de aculturação -, muitas
vezes ao longo de séculos e milénios. Estes jogos, que nas suas formas essenciais
podem ser considerados quase universais, soa conhecidos localmente por uma ou mais
denominações, que variam em geral de terra para terra ou de região para região. (pag
48)

Os jogos tradicionais foram e são momentos insubstituíveis de convívio, coesão social e
inserção do indivíduo na comunidade. Eles permitem a identificação do jovem e do
adulto com a cultura local, ajudando-os a sentirem-se membros de pleno direito dessa
micro-sociedade. (pag. 12)

As particularidades específicas dos jogos locais reflectem, afinal, os traços
característicos da cultura e organização social das comunidades no seu todo: as relações
sociais, os valores, as estratégias e opções de vida, as ocupações laborais, as festas, os
mitos, as crenças e as superstições. (pag. 12)

Os jogos tradicionais são extremamente variareis ao nível dos pormenores, diferindo de
comunidade para comunidade e de região para região (pag 18)

O jogo, defende Piaget, é o primado da assimilação sobre a acomodação. Segundo estes
autores, Bruner e Liublinskaia, o prazer da atividade lúdica provêm da possibilidade de
projetar o eu sobre o mundo, de criar e transformar a realidade. (pag 45)

Dos jogos de lançamento em precisão, a malha é o que tem uma prática mais
generalizada no nosso país, mantendo-se, na maioria dos meios rurais, como um
divertimento exclusivo de homens. Essas malhas são lançadas a pinos distantes quinze
metros entre si, colocados numa cama de areia. O objetivo do jogo é aproximar o mais
possível a malha do pino, tendo obrigatoriamente de bater na cama de areia (pag 525).
A aceitação generalizada deste jogo reside, nas suas características simétricas – jogo a
pares, dois pinos opostos, troca de campos – na facilidade da sua prática em termos
materiais e simultaneamente, nas exigências que coloca aos executantes nos domínios
técnico e tático. De facto, a sua prática requer concentração, equilíbrio, coordenação
visuomotora e, muitas vezes, força e resistência. (pag 526). A prática da malha, além de
proporcionar um convívio agradável entre companheiros do mesmo grupo e oponentes,
constitui uma fuga à rotina, exigindo a aplicação das capacidades técnicas e saberes bem
distintos dos solicitados nas ocupações do dia a dia. (pag.527).

Pesquisa de dia 9 de Maio

Serra, M. C. (1999). Os jogos tradicionais em Portugal - as relações entre as práticas
lúdicas e as ocupações agrícolas e pastoris. Volume I. Dissertação do Doutoramento
apresentada Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real

Serra M. C. (2001). O Jogo e o Trabalho – episódios lúdico-festivos das antigas
ocupações agrícolas e pastoris colectivas. Edições Colibri/Inatel. Lisboa
Pasta Sem Nome
- Os jogos e outras manifestações lúdicas integravam-se no conjunto das acções de
intervenção que mobilizavam as comunidades para o conhecimento mais profundo de
suas raízes culturais, tendo em vista sustentar os projectos de desenvolvimento regional.
(Pág. 9 – linha 5 a 8)

- Pelo contrário, o jogo devia ser interpretado enquanto resultado de conhecimentos que
transcendiam os limites do mundo material e se ligavam a representações particulares da
cultura. Também, assumindo a sua condição de pedagogo dominado por espírito critico
e vigilante em relação à sua atitude científica, Cameira Serra tinha consciência de que a
necessidade de os indivíduos e grupos encontrarem formas de acção susceptíveis de se
institucionalizarem não podia comprometer a experiência de inovação e criatividade
requerida pelo respeito devido ao património cultural. (Pág.10 – linha 9 a 16)
- Na verdade, a explicação e compreensão dos jogos não se torna possível isolando-os e
descrevendo-os em si mesmos. O conhecimento de uma grande quantidade e variedade
de jogos nada acrescenta de significativo ao conhecimento da realidade em causa,
tornando-se indispensável, pelo contrário, situá-los nos contextos favoráveis ao domínio
da sua complexidade, integrando-os num equipamento lúdico específico, transmitido de
geração em geração, estruturado e reestruturado por atitudes mentais, conhecimentos e
habilidades do meio em causa, nada disto se desligando de uma visão do mundo que,
finalmente, dá sentido às práticas lúdicas. (Pág.10 – linha 29 a 35 e Pág.11 – linha 1 a 3)

- Os jogos são elementos de um conjunto de fenómenos homogéneo, no quadro do qual
se verifica a permeabilidade de múltiplos aspectos (artes, festas, organização do tempo e
do espaço, actividades agrícolas e pastorais, etc.), entre os quais circulam e se reforçam
ideias, sempre na perspectiva do equilíbrio da sociedade. (Pág.11 – linha 7 a 11)

- As particularidades específicas dos jogos locais reflectem, afinal, os traços
característicos da cultura e organização social das comunidades no seu todo: as relações
sociais, as estratégias e opções de vida, os mitos e superstições. Assim, na perspectiva
defendida por Durkheim (1973), os jogos devem ser observados não como um elemento
separado do todo cultural, mas antes como “factos sociais totais”. A este respeito são
bem elucidativas as seguintes palavras de Jorge Crespo (1991:59): “ O jogo não é
constituído por elementos separados (morfológicos, económicos, sociais, religiosos,
etc.) mas integra aspectos muito diversificados que só podem compreender-se no quadro
de realidades alargadas, na perspectiva do fenómeno social total. Assim, o que interessa
analisar é a combinação especifica dos elementos que o compõem, as relações que se
estabelecem entre os componentes da totalidade, o carácter dinâmico dos processos em
causa, o movimento do todo, não só dos elementos mais directamente observáveis mas,
também, das suas dimensões escondidas, enfim, de todos os seus aspectos
contraditórios.” (Pág. 23 – último parágrafo com continuação na pág.24)

- As duas características fundamentais dos jogos de tradição são a constância temporal e
a grande variabilidade, consoante os locais. Por um lado, estas práticas lúdicas e
corporais permanecem no tempo, dado que se mantiveram, em cada local, indiferentes
às mudanças da história, transmitidas oral e anonimamente de geração em geração,
conservando um núcleo inalterado de características, referentes à gestão dos objectos,
do corpo, do espaço e do tempo. Por outro lado, os jogos tradicionais são extremamente
variáveis ao nível dos pormenores, diferindo de comunidade para comunidade e de
região para região. Deste modo, não é possível o entendimento das práticas lúdicas
tradicionais sem descrever os aspectos singulares da sua realização in situ, desde a
denominação do jogo e dos lances, aos objectos, aos locais, à época do ano em que
acontece, ao tipo de pontuação, à gíria utilizada e, no caso particular do nosso estudo, à
sua possível relação com as fainas agrícolas e pecuárias. (Pág. 27 – 2.º parágrafo
completo).

- A televisão, não obstante ser um riquíssimo meio de informação, divide, isola, amarra
e aprisiona, desligando o homem rural dos costumes e tradições da sua aldeia e
encaminhando-o para o fantástico, o moderno e o maravilhoso, acontecido nas grandes
urbes de todos os continentes. (Pág. 27 – último parágrafo)

- Deste modo, o homem do campo vai desvalorizando o que é autóctone, genuíno e
tradicional, por senti-lo desprezado e depreciado pelos canis televisivos. Efectivamente,
confrontado com a visão economicista da sociedade de consumo, o homem rural
começa a acreditar cada vez mais que apenas tem interesse e valor o que é promovido e
repromovido quotidianamente pela máquina dominadora da publicidade. (Pág.28 – linha
5 a 11)

- Ora, enquanto os velhos jogos eram organizados, tal como os trabalhos agrícolas, na
base da ajuda, da cooperação e da participação alargada da população, sem grande
distinção de idades ou estatutos, o novo modelo desportivo é mais selectivo, afastando a
maioria da população da sua prática e convertendo-a em mera espectadora das
habilidades dos jovens sobredotados. No domínio da prática desportiva, dificilmente há
lugar para os inaptos e desajeitados, seja por não terem sido bafejados pelo dom da
força e da habilidade, seja por serem muito novos ou já demasiado velhos. (Pág.28 – 2.º
parágrafo).

- A importância dos antigos jogos não pode ser posta em causa, dado constituírem
genuínas afirmações da cultura local, instrumentos de reforço dos elos comunitários e
espelho da vida social, apesar de alguns, como referimos, permanecerem apenas na
memória colectiva. O seu desaparecimento progressivo – e, em muitos casos, quase
completo – é explicável em parte, dado que muitas destas práticas envolviam
instrumentos de trabalho há muito em desuso (a relha, o cântaro de barro…), exigiam
um esforço físico exagerado (levantamento de pesos, barra de pedra pesada) ou tinham
um desenvolvimento demasiado anárquico, com episódios grotescos ou aspectos
achincalhantes. Por outro lado, muitos divertimentos associados aos trabalhos colectivos
já não se realizam, tal como estes. Referimo-nos especialmente aos costumes lúdicos da
monda, da ceifa e da malha, feitas manualmente, da vindima e da pisa do vinho à moda
antiga ou da apanha da azeitona. Os folguedos e a animação dos serões de trabalho
chegaram ao fim, com o surgimento das novas máquinas e o término de culturas
agrícolas outrora tão marcantes na economia familiar rural, como a do linho. (Pág. 29 –
2.º parágrafo)
Carlos N. (2003). Jogo e Desenvolvimento da Criança – Edições Faculdade de
Motricidade Humana. Cruz Quebrada.

- A importância de um envolvimento de jogo e actividade física associado a hábitos
saudáveis de vida, tem vindo a ser demonstrado em trabalhos de investigação
relacionados com a saúde. O significado destas actividades na criação de estilos de vida
activa nas crianças e famílias, demonstram uma elevada correlação com a saúde física,
psicológica e emocional. Os resultados revelam efeitos positivos do jogo e da actividade
física no melhoramento da percepção de si próprio, eficácia pessoal, auto-estima,
interacção social e bem-estar psicológico. (Pág.19 – Parte do 2.º parágrafo)
- Jogo e qualidade de vida necessitam de ser descobertos e reinventados. (Pág. 19 –
Parte do último parágrafo)

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  • 1. Pesquisa de manuais Jogos tradicionais e o desenvolvimento das capacidades motoras na escola. 2ª edição. Instituto do Desporto de Portugal 2004 Jose A. Bragada Na ficha de inscrição de cada jogo estão mencionadas as capacidades motoras solicitadas de forma predominante. Para sua determinação tivemos em conta o critério da “evidência”, pois não há formas objectivas para efectuar essa associação. De qq forma pareceu-nos importante essa referência, pois o ensino da Educação Física e Actividade Desportiva estão organizadas em torno do desenvolvimento das capacidades motoras (condicionais e coordenativas). Se, realmente às primeiras (condicionais) existe consenso generalizado na terminologia utilizada na sua classificação: força, velocidade e resistência (Bompa 1994, Manno 1990, Mitra e Mogos 1990, Platonov 1987, Matvéiv 1986, Weineck 1986), o mesmo não acontece com as capacidades coordenativas. Hirtz e Schileke (1986) propõem uma classificação das capacidades coordenativas em cinco tipos: equilíbrio, reacção, diferenciação cinestésica, orientação espacial e ritmo; Mano (1990), tendo por base classificações de outros autores, acrescenta mais dois tipos. Uma vez que em Portugal é comum aceitar-se a classificação de Hirtz e Schileke (1986) optámos pela sua utilização neste trabalho. Jogos tradicionais podem ser entendidos como as actividades lúdicas, recreativoculturais praticadas por crianças, jovens e adultos, transmitidas ao longo de gerações fundamentalmente pela oralidade, observação e imitação (Bragada, 2001). J. T / Desporto moderno Os jogos tradicionais pelas suas características, estão muito mais associados com o Jogo do que com o Desporto, como se pode observar pelas características do quadro…… Serra 1999, À unicidade das regras dos desportos, contrapõe-se a diversidade dos jogos tradicionais, com a variação do tempo e no espaço. Nestes, admite-se, usualmente, a previa discussão
  • 2. dos regulamentos a adoptar, estabelecendo-se um contrato lúdico que permite, assim, a participação de pessoas de diferentes idades e capacidades (Serra, 1999). A primazia do resultado, o rendimento e os elevados valores materiais e de prestígio que são postos em jogo no terreno desportivo, estão distantes do clima de convívio, ou de uma realidade simples, em que decorrem (ou decorreriam) os jogos tradicionais (Serra, 1999). À criatividade, espontaneidade e liberdade presentes nos jogos tradicionais opõe-se o treino sistematizado, dedicação por vezes exclusiva e a necessidade de atingir o máximo rendimento possível, por parte dos praticantes desportivos. Serra M. C. (1999). Jogos Tradicionais em Portugal – as relações entre as práticas lúdicas e as ocupações agrícolas e pastoris. Tese de Doutoramento. Volume 1. UTAD Vila Real. O jogo é um fenómeno universal, presente em todas as épocas e civilizações. A permanência do lúdico em todo o percurso histórico e civilizacional, no mundo das crianças, dos jovens e dos adultos, é um bom indicador de importância que, na sucessão dos séculos, milénios, lhe foi reconhecida. (pag. 1) Definir jogo está longe de ser uma tarefa simples, senão impossível. Extrema diversidade de práticas e a variabilidade das atitudes do fenómeno lúdico, nas situações, objectos, causas e consequências que a ele respeitam, a carga simbólica que o jogo comporta, as suas estreitíssimas conexões com cultura e a sociedade, tornam irrealizável uma definição concreta e rigorosa. Huizinga foi, entre os estudiosos do jogo, o que mais profundamente conseguiu chegar na tentativa de uma definição aceitável de fenómeno lúdico. Todavia, não chegou além do domínio da forma, isto é, daquilo que é mais exteriormente perceptível, enumerando deste modo as principais características do jogo:
  • 3. “(…) é uma acção livre, sentida com fictícia e situada fora da vida corrente, todavia capaz de absorver totalmente o jogador; uma acção destituída de todo o interesse material e de toda a utilidade; que se realiza num tempo e num espaço expressamente circunscritos, se desenvolve com ordem segundo regras dadas, e suscita na vida relações de grupo rodeando-se voluntariamente de mistério ou acentuando pelo disfarce a sua estranheza face ao mundo habitual”. (Pág. 39) - Salienta agora o carácter voluntário e autotélico do jogo, sem no entanto se referir aos aspectos particulares que a cultura e a sociedade transmitem ás práticas lúdicas. Nesta definição, Huizinga, além de ser mais comedido quanto à delimitação nítida do jogo no tempo e no espaço, realça os sentimentos de tensão e alegria que acompanham a actividade lúdica, entretanto, portanto, no domínio da atitude do jogador. Assim, o jogo “é uma acção ou uma actividade voluntária, realizada em certos limites de tempo e de lugar, segundo uma regra livremente consentida mas completamente imperiosa, provinda de um fim em si, acompanhada de uma sentimento de tensão e de alegria, e de uma consciência de estar para além da vida habitual”. (Pág.40) - Um dos traços mais característicos do jogo, nem sempre valorizado pelos autores que procuraram definir o domínio lúdico da cultura, é a imprevisibilidade. Ela deriva da contingência dos lances, como sucede mais notoriamente nos jogos de sorte ou azar, da incerteza das acções realizadas pelos restantes jogadores, companheiros ou oponentes e da imponderabilidade associada à irregularidade do espaço e rusticidade dos objectos utilizados. (Pág.41) - Até ao advento da sociedade industrial, os jogos tradicionais forma praticados regularmente nos meios rurais, mas também nalguns bairros urbanos habitados pelas classes populares, sobretudo junto das tabernas. Eles faziam parte integrante do programa das festas populares, mas eram também incluídos nos festejos da nobreza e burguesia. No fim do século XIX, Adolfo Coelho preconizava, tal como Ramalho Ortigão, “(…) o restabelecimento dos antigos jogos portugueses de adultos, que ainda em parte se jogam aos Domingos pelas nossas aldeias”, como melhor meio para reabilitar a energia da nossa população. Para aquele pedagogo e etnógrafo, mais valia incentivar a criação de clubes e sociedades que promovessem a prática dessas actividades lúdicas tradicionais
  • 4. nas cidades, “(…) a introduzir entre nós certas coisas que não têm raízes no solo ou a querer imitar os acrobatas de profissão (…)”. Pág.51 - Se a importação e absorção das novas atividades desportivas, realizadas durante décadas, abalou os jogos de tradição, foram outros fatores, surgidos posteriormente, que os enfraqueceram e remeteram a sua prática, quando muito, para datas festivas. E entre eles destaca-se o aparecimento da televisão, a mecanização do trabalho agrícola e o surto emigratório das décadas de sessenta e setenta. (Pág.52) - Teófilo atribui um papel importante na transmissão oral dos costumes aos idosos, dado que conservam vivos, na memória, os pormenores do passado. Efetivamente, os velhos são “(…) os depositários do formalismo cerimonial, do respeito pelo passado (laudatour temporis acti) e os iniciadores junto das novas gerações da tradição doméstica ou nacional” (Pág. 58) - Um dos estudos realizados em Portugal em que é notória a preocupação da descrição dos jogos tradicionais levantados in situ, foi realizado, em 1986, por Tomé Baía de Sousa. Atividades lúdicas na Serra do Alvão(…) é uma das primeiras (e raras) investigações sobre jogos tradicionais, baseadas em trabalho de campo, realizadas em Portugal. O autor verifica que as práticas lúdicas tradicionais vão diminuindo nas aldeias das abas da Serra do Alvão, pelo que os jogos “se encontram prestes a desaparecer”. (Pág.64) - Em muitos jogos tradicionais, além da força, outras qualidades devem ser evidenciadas, sobretudo a destreza, a agilidade, a precisão no lançamento, o equilíbrio, a coordenação, a velocidade de reacção, a astúcia e a estratégia. Estas práticas são exclusiva e predominantemente destinadas aos moços e homens, às raparigas e mulheres, ou apresentam-se, embora com pouca frequência, como atividades mistas. (Volume II – Pág.523).Pasta Sem Nome Os jogos tradicionais são práticas de tradição, transmitidas oralmente de geração em geração, em sucessivos processos de enculturação – e, também, de aculturação -, muitas vezes ao longo de séculos e milénios. Estes jogos, que nas suas formas essenciais podem ser considerados quase universais, soa conhecidos localmente por uma ou mais
  • 5. denominações, que variam em geral de terra para terra ou de região para região. (pag 48) Os jogos tradicionais foram e são momentos insubstituíveis de convívio, coesão social e inserção do indivíduo na comunidade. Eles permitem a identificação do jovem e do adulto com a cultura local, ajudando-os a sentirem-se membros de pleno direito dessa micro-sociedade. (pag. 12) As particularidades específicas dos jogos locais reflectem, afinal, os traços característicos da cultura e organização social das comunidades no seu todo: as relações sociais, os valores, as estratégias e opções de vida, as ocupações laborais, as festas, os mitos, as crenças e as superstições. (pag. 12) Os jogos tradicionais são extremamente variareis ao nível dos pormenores, diferindo de comunidade para comunidade e de região para região (pag 18) O jogo, defende Piaget, é o primado da assimilação sobre a acomodação. Segundo estes autores, Bruner e Liublinskaia, o prazer da atividade lúdica provêm da possibilidade de projetar o eu sobre o mundo, de criar e transformar a realidade. (pag 45) Dos jogos de lançamento em precisão, a malha é o que tem uma prática mais generalizada no nosso país, mantendo-se, na maioria dos meios rurais, como um divertimento exclusivo de homens. Essas malhas são lançadas a pinos distantes quinze metros entre si, colocados numa cama de areia. O objetivo do jogo é aproximar o mais possível a malha do pino, tendo obrigatoriamente de bater na cama de areia (pag 525). A aceitação generalizada deste jogo reside, nas suas características simétricas – jogo a pares, dois pinos opostos, troca de campos – na facilidade da sua prática em termos materiais e simultaneamente, nas exigências que coloca aos executantes nos domínios técnico e tático. De facto, a sua prática requer concentração, equilíbrio, coordenação visuomotora e, muitas vezes, força e resistência. (pag 526). A prática da malha, além de proporcionar um convívio agradável entre companheiros do mesmo grupo e oponentes,
  • 6. constitui uma fuga à rotina, exigindo a aplicação das capacidades técnicas e saberes bem distintos dos solicitados nas ocupações do dia a dia. (pag.527). Pesquisa de dia 9 de Maio Serra, M. C. (1999). Os jogos tradicionais em Portugal - as relações entre as práticas lúdicas e as ocupações agrícolas e pastoris. Volume I. Dissertação do Doutoramento apresentada Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real Serra M. C. (2001). O Jogo e o Trabalho – episódios lúdico-festivos das antigas ocupações agrícolas e pastoris colectivas. Edições Colibri/Inatel. Lisboa Pasta Sem Nome - Os jogos e outras manifestações lúdicas integravam-se no conjunto das acções de intervenção que mobilizavam as comunidades para o conhecimento mais profundo de suas raízes culturais, tendo em vista sustentar os projectos de desenvolvimento regional. (Pág. 9 – linha 5 a 8) - Pelo contrário, o jogo devia ser interpretado enquanto resultado de conhecimentos que transcendiam os limites do mundo material e se ligavam a representações particulares da cultura. Também, assumindo a sua condição de pedagogo dominado por espírito critico e vigilante em relação à sua atitude científica, Cameira Serra tinha consciência de que a necessidade de os indivíduos e grupos encontrarem formas de acção susceptíveis de se institucionalizarem não podia comprometer a experiência de inovação e criatividade requerida pelo respeito devido ao património cultural. (Pág.10 – linha 9 a 16)
  • 7. - Na verdade, a explicação e compreensão dos jogos não se torna possível isolando-os e descrevendo-os em si mesmos. O conhecimento de uma grande quantidade e variedade de jogos nada acrescenta de significativo ao conhecimento da realidade em causa, tornando-se indispensável, pelo contrário, situá-los nos contextos favoráveis ao domínio da sua complexidade, integrando-os num equipamento lúdico específico, transmitido de geração em geração, estruturado e reestruturado por atitudes mentais, conhecimentos e habilidades do meio em causa, nada disto se desligando de uma visão do mundo que, finalmente, dá sentido às práticas lúdicas. (Pág.10 – linha 29 a 35 e Pág.11 – linha 1 a 3) - Os jogos são elementos de um conjunto de fenómenos homogéneo, no quadro do qual se verifica a permeabilidade de múltiplos aspectos (artes, festas, organização do tempo e do espaço, actividades agrícolas e pastorais, etc.), entre os quais circulam e se reforçam ideias, sempre na perspectiva do equilíbrio da sociedade. (Pág.11 – linha 7 a 11) - As particularidades específicas dos jogos locais reflectem, afinal, os traços característicos da cultura e organização social das comunidades no seu todo: as relações sociais, as estratégias e opções de vida, os mitos e superstições. Assim, na perspectiva defendida por Durkheim (1973), os jogos devem ser observados não como um elemento separado do todo cultural, mas antes como “factos sociais totais”. A este respeito são bem elucidativas as seguintes palavras de Jorge Crespo (1991:59): “ O jogo não é constituído por elementos separados (morfológicos, económicos, sociais, religiosos, etc.) mas integra aspectos muito diversificados que só podem compreender-se no quadro de realidades alargadas, na perspectiva do fenómeno social total. Assim, o que interessa analisar é a combinação especifica dos elementos que o compõem, as relações que se estabelecem entre os componentes da totalidade, o carácter dinâmico dos processos em causa, o movimento do todo, não só dos elementos mais directamente observáveis mas, também, das suas dimensões escondidas, enfim, de todos os seus aspectos contraditórios.” (Pág. 23 – último parágrafo com continuação na pág.24) - As duas características fundamentais dos jogos de tradição são a constância temporal e a grande variabilidade, consoante os locais. Por um lado, estas práticas lúdicas e corporais permanecem no tempo, dado que se mantiveram, em cada local, indiferentes às mudanças da história, transmitidas oral e anonimamente de geração em geração, conservando um núcleo inalterado de características, referentes à gestão dos objectos,
  • 8. do corpo, do espaço e do tempo. Por outro lado, os jogos tradicionais são extremamente variáveis ao nível dos pormenores, diferindo de comunidade para comunidade e de região para região. Deste modo, não é possível o entendimento das práticas lúdicas tradicionais sem descrever os aspectos singulares da sua realização in situ, desde a denominação do jogo e dos lances, aos objectos, aos locais, à época do ano em que acontece, ao tipo de pontuação, à gíria utilizada e, no caso particular do nosso estudo, à sua possível relação com as fainas agrícolas e pecuárias. (Pág. 27 – 2.º parágrafo completo). - A televisão, não obstante ser um riquíssimo meio de informação, divide, isola, amarra e aprisiona, desligando o homem rural dos costumes e tradições da sua aldeia e encaminhando-o para o fantástico, o moderno e o maravilhoso, acontecido nas grandes urbes de todos os continentes. (Pág. 27 – último parágrafo) - Deste modo, o homem do campo vai desvalorizando o que é autóctone, genuíno e tradicional, por senti-lo desprezado e depreciado pelos canis televisivos. Efectivamente, confrontado com a visão economicista da sociedade de consumo, o homem rural começa a acreditar cada vez mais que apenas tem interesse e valor o que é promovido e repromovido quotidianamente pela máquina dominadora da publicidade. (Pág.28 – linha 5 a 11) - Ora, enquanto os velhos jogos eram organizados, tal como os trabalhos agrícolas, na base da ajuda, da cooperação e da participação alargada da população, sem grande distinção de idades ou estatutos, o novo modelo desportivo é mais selectivo, afastando a maioria da população da sua prática e convertendo-a em mera espectadora das habilidades dos jovens sobredotados. No domínio da prática desportiva, dificilmente há lugar para os inaptos e desajeitados, seja por não terem sido bafejados pelo dom da força e da habilidade, seja por serem muito novos ou já demasiado velhos. (Pág.28 – 2.º parágrafo). - A importância dos antigos jogos não pode ser posta em causa, dado constituírem genuínas afirmações da cultura local, instrumentos de reforço dos elos comunitários e espelho da vida social, apesar de alguns, como referimos, permanecerem apenas na memória colectiva. O seu desaparecimento progressivo – e, em muitos casos, quase
  • 9. completo – é explicável em parte, dado que muitas destas práticas envolviam instrumentos de trabalho há muito em desuso (a relha, o cântaro de barro…), exigiam um esforço físico exagerado (levantamento de pesos, barra de pedra pesada) ou tinham um desenvolvimento demasiado anárquico, com episódios grotescos ou aspectos achincalhantes. Por outro lado, muitos divertimentos associados aos trabalhos colectivos já não se realizam, tal como estes. Referimo-nos especialmente aos costumes lúdicos da monda, da ceifa e da malha, feitas manualmente, da vindima e da pisa do vinho à moda antiga ou da apanha da azeitona. Os folguedos e a animação dos serões de trabalho chegaram ao fim, com o surgimento das novas máquinas e o término de culturas agrícolas outrora tão marcantes na economia familiar rural, como a do linho. (Pág. 29 – 2.º parágrafo) Carlos N. (2003). Jogo e Desenvolvimento da Criança – Edições Faculdade de Motricidade Humana. Cruz Quebrada. - A importância de um envolvimento de jogo e actividade física associado a hábitos saudáveis de vida, tem vindo a ser demonstrado em trabalhos de investigação relacionados com a saúde. O significado destas actividades na criação de estilos de vida activa nas crianças e famílias, demonstram uma elevada correlação com a saúde física, psicológica e emocional. Os resultados revelam efeitos positivos do jogo e da actividade física no melhoramento da percepção de si próprio, eficácia pessoal, auto-estima, interacção social e bem-estar psicológico. (Pág.19 – Parte do 2.º parágrafo) - Jogo e qualidade de vida necessitam de ser descobertos e reinventados. (Pág. 19 – Parte do último parágrafo)