O documento é uma meditação mariana sobre Maria como co-protagonista da história da salvação. Ele descreve como Maria deu seu consentimento humildemente para conceber Jesus, abrindo assim as portas para a redenção. Sua contemplação do rosto de Jesus foi o modelo supremo, desde a Anunciação até Pentecostes. Sua resposta de "Eis a escrava do Senhor" decidiu toda a história humana, trazendo-nos a graça do batismo, a eucaristia e o perdão.
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DA CARTA APOSTÓLICA ROSARIUM VIRGINIS MARIAE DO BEATO JOÃO PAULO II,
PAPA
RVM 10
MEDITAÇÃO
ORAÇÃO
Deus, Pai santo, que na vossa benigna providência quisestes que o vosso Verbo assumisse verdadeira carne
humana no seio da Virgem Maria, concedei-nos que, celebrando o nosso Redentor como verdadeiro Deus e ver-
dadeiro homem, mereçamos também participar da sua natureza divina.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
A contemplação de Cristo tem em Maria o seu modelo insuperável. O rosto do Filho pertence-lhe sob
um título especial. Foi no seu ventre que Se plasmou, recebendo d'Ela também uma semelhança
humana que evoca uma intimidade espiritual certamente ainda maior. À contemplação do rosto de
Cristo, ninguém se dedicou com a mesma assiduidade de Maria. Os olhos do seu coração concentram-
se de algum modo sobre Ele já na Anunciação, quando O concebe por obra do Espírito Santo; nos
meses seguintes, começa a sentir sua presença e a pressagiar os contornos. Quando finalmente O dá à
luz em Belém, também os seus olhos de carne podem fixar-se com ternura no rosto do Filho, que
envolveu em panos e recostou numa manjedoura (cf. Lc 2, 7).
Desde então o seu olhar, cheio sempre de reverente estupor, não se separará mais d'Ele. Algumas
vezes será um olhar interrogativo, como no episódio da perda no templo: « Filho, porque nos fizeste
isto? » (Lc 2, 48); em todo o caso será um olhar penetrante, capaz de ler no íntimo de Jesus, a ponto de
perceber os seus sentimentos escondidos e adivinhar suas decisões, como em Caná (cf. Jo 2, 5); outras
vezes, será um olhar doloroso, sobretudo aos pés da cruz, onde haverá ainda, de certa forma, o olhar
da parturiente, pois Maria não se limitará a compartilhar a paixão e a morte do Unigénito, mas acolhe-
rá o novo filho a Ela entregue na pessoa do discípulo predilecto (cf. Jo 19, 26-27); na manhã da Páscoa,
será um olhar radioso pela alegria da ressurreição e, enfim, um olhar ardoroso pela efusão do Espírito
no dia de Pentecostes (cf. Act 1,14).
Deparada com a Mensagem do Anjo, a gloriosa Virgem Maria apenas se sente capaz de balbuciar uma
pergunta, não por falta de fé mas por uma questão prática: como pode uma virgem conceber? Como é
possível a uma jovem mulher ser, simultaneamente, agraciada com o dom da Maternidade, conservan-
do o grande tesouro da Virgindade?
Depois surge a resposta: a sombra do Omnipotente te cobrirá, ó Mãe, de modo a que, o que em ti
aconteceu, seja obra singular do Espírito. Sem macular o teu imaculado seio, será nele depositado o
Filho de Deus, ultrapassando toda a lógica humana, todos os limites do entendimento.
Eis, então a frase que todo o Universo, em suspenso, aguardava: “Ecce ancilla Domini.” - Eis a escrava
do Senhor. Eis o sim que abre a porta à Redenção! Eis o sim que abre as portas do Céu! Eis o sim que
nos trouxe o Salvador! Esta humilde disposição da Santíssima Virgem decide toda a história humana.
Graças a Ti, ó Mãe, podemos hoje viver seguros pela graça Baptismal! Graças a Ti chega-nos o conforto
da Eucarístia! Graças a Ti vem-nos o perdão da Penitência.
Por tudo isto e mais, te louvamos, Mãe…
Avé Maria...